Museu da Pessoa

Programas e qualidade, muita qualidade!

autoria: Museu da Pessoa personagem: Renata Souto Malizia

P/1 – Bom, primeiro eu gostaria de agradecer sua disponibilidade de dar essa entrevista aqui pra gente, muito obrigada, e queria que você começasse contando pra gente, nome, local, data de nascimento, um pouco sobre a sua família, os seus pais...

R – Meu nome é Renata, Renata Souto Malizia, meu nome completo, sou aqui do Rio de Janeiro, moro em Bento Ribeiro, subúrbio do Rio. Geralmente, quando eu falo Bento Ribeiro, as pessoas nem sempre identificam rapidamente onde é que fica, então, eu costumo dizer que passando de Madureira, segunda estação depois, é Bento Ribeiro. É Madureira, Osvaldo Cruz, Bento Ribeiro que é conhecida como a rota do samba. Eu nasci no Rio de Janeiro e fui criada em Bento Ribeiro, fiquei lá até os 14 anos de idade. Meu pai era militar do exército e minha mãe sempre foi dona de casa. Eu vivia com os meus pais e os meus irmãos. Eu sou a mais velha de três irmãos, tem um rapaz que é o filho do meio que mora em Friburgo (RJ) hoje em dia, e minha irmã que também mora em Bento Ribeiro hoje em dia.

P/1 – E os seus avós, você lembra? Nome?

R – Lembro, lembro, a minha vó por parte ainda é viva, tá com uma idade bastante avançada, tá com 92 anos, mas tá bem, tá lúcida. Meus avós por parte de mãe faleceram já. Minha vó faleceu bem nova, com a idade que eu tô hoje 42 anos e meu avô faleceu, eu já era adolescente, e meu avô por parte de pai era italiano, veio aos oito anos de idade para o Brasil, faleceu também há alguns anos, eu era adolescente ainda, na fase de adolescente pra fase adulta.

P/1 – A sua infância, morou onde? Como era a sua casa, de que você brincava, você ficava com seus irmãos?

R – Sim, bastante. A infância no subúrbio é uma infância bastante movimentada, uma infância interessante, brincadeiras que hoje em dia a gente quase não vê mais, brincava muito na rua, brincava de queimada, gostava de jogar futebol também, que o meu irmão jogava muito futebol, jogava futebol na rua. Meu pai tinha como hobby ser técnico de futebol nos finais de semana, ele tinha a vida de militarismo no exército que era próximo de casa em Deodoro, mas a paixão dele era treinar meninos no futebol. Eu gostava muito, meu irmão treinava nessas equipes e eu meio que tentava me meter ali, porque eu também adorava futebol e achava aquela brincadeira o maior barato. Eu não gostava tanto de brincar de boneca, eu ganhava as bonecas e deixava meio que no cantinho lá, nunca fui fã de boneca, mas futebol eu adorava. De vez em quando, tinha uma oportunidade meu pai colocava a minha irmã e eu também pra jogar junto com os meninos, só pra gente poder sentir um pouquinho daquele, do gostinho daquela atividade. Porque a gente ficava assistindo, porque era uma equipe de meninos e as meninas não poderiam jogar junto, então quando surgia uma oportunidade ele falava: “Ah, faltam cinco minutos pra acabar então vocês podem jogar um pouquinho” e aí a gente adorava, né! Brincava muito de pular amarelinha, elástico, muitas brincadeiras assim que você não precisava de muitos recursos, pular corda, isso a gente fazia bastante. E hoje eu vejo que quase criança nenhuma, mesmo no subúrbio, já não tem mais essa prática, futebol ainda é bastante presente na rotina dos meninos, mas as outras brincadeiras praticamente a gente já não vê mais. Minha filha até se queixa muito disso, que hoje em dia, ela já não brinca mais na rua, como eu brincava na minha infância, hoje é de casa pra escola, da escola pra casa e a vida meio que se resume a isso e as atividades de inglês, idiomas, mas brincadeira mesmo com outras pessoas na rua, eu acho que a gente aprende muito, se desenvolve bastante, faz amizade, aprende a se relacionar com as pessoas e hoje eu não vejo isso acontecer com tanta frequência, infelizmente.

P/1 – E quais são as suas primeiras lembranças escolares, na sua escola, qual foi a sua primeira escola, tem algum caso legal pra contar?

R – Olha, eu sempre fui muito estudiosa, sempre gostei muito de estudar, fui pra escola muito cedo, eu acho que eu devia ter uns três anos de idade, uma escolinha simplezinha que era uma casa perto de onde eu morava, que tinha umas professoras ali, uma coisa bem caseira e não gostava, chorava todas as vezes que tinha que ir, mas depois fui crescendo e fui tomando gosto pela rotina escolar. Estudei muitos anos numa escola que até hoje minha filha estuda que é o Colégio Santa Mônica em Bento Ribeiro. Estudei ali durante muitos anos, só saí do Santa Mônica porque meu pai, como era militar, foi transferido pro interior da Bahia, numa cidade chamada Serrinha, e naquela época eu nunca tinha ouvido falar. Fiz 14 anos, aí meu pais foi transferido, veio com essa novidade pra dentro de casa: “Fui transferido, a gente vai precisar mudar completamente de vida”, ou seja, saímos do Rio de Janeiro pra morar numa cidade de interior da Bahia, uma cidade muito pequena, mas a princípio a família não ficou muito feliz com a ideia, mas não tinha solução, teríamos que tentar esse novo estilo de vida. E aí mudamos pra Serrinha, na Bahia, e aí foi meio que aquele choque: você sai de uma realidade do Rio de Janeiro para uma cidade do interior, que a escola era pequenininha, saí de uma escola muito grande pra uma escola muito pequena, a escola pequenininha, poucos alunos, e eu que gostava muito de estudar, senti uma diferença enorme, porque eu que saí de uma escola que eu considerava puxada pra uma escola que não me exigia tanto. Achei que ia me dificultar o futuro, então pra mim foi um drama, ainda mais naquela fase de entrando na adolescência e tinha uma certa rejeição àquela mudança, mas depois eu vi como aquela mudança me fez bem, como eu aprendi, com tudo isso que aconteceu na minha vida. Depois passamos um ano e pouco em Serrinha, mudamos pra Feira de Santana que era uma cidade próxima, em torno de uma hora, de uma hora e meia de Serrinha, e ficamos em Feira de Santana também por mais de um ano. Lá, eu já estudei em um colégio maior, bem mais estruturado, que é o Colégio Santo Antônio, um colégio de freiras e foi uma experiência muito positiva. Feira de Santana já é uma cidade maior também, de médio porte, a segunda maior cidade da Bahia, depois de Salvador era Feira de Santana. Foi uma experiência muito enriquecedora também, completamente diferente como se estivesse fazendo intercâmbio dentro do próprio país. Meus irmãos eram menores, acho que eles conseguiram lidar melhor com todas aquelas mudanças. Eu acho que eu tive mais dificuldade, tive mais digamos, o choque cultural dessa mudança.

P/1 – Você disse que era bastante estudiosa e tudo mais, quais atividades ou matérias, disciplinas que você gostava mais? Assim que mais se destacava pra você?

R – Ah, eu sempre gostei mais de tudo que era relacionado a humanas, teve uma época que eu gostava muito também estudar ciências, eu queria saber cada vez mais, achava que até ia seguir na área médica, mas isso depois não se confirmou não. Acabei mesmo me interessando, adorava estudar Português, porque eu achava que Português era uma coisa extremamente importante na vida de qualquer brasileiro porque se a gente tá aqui, a gente precisa estudar bem o Português, se desenvolver no idioma. Eu gostava muito de Literatura, Geografia, História, também era uma delas que me atraíam e, por outro lado, apesar de ser estudiosa, tinha pavor de Matemática, Física, Química, que era uma coisa, meu Deus do céu, que tortura! “Eu preciso terminar o Ensino Médio pra fazer uma outra coisa que eu me livre dessas matérias, né?” E aí foi, na verdade eu tentei Nutrição muito influenciada por uma pessoa da família que fez Nutrição e eu admirava muito essa pessoa e aquilo me influenciou a escolher Nutrição. Aí comecei estudar Nutrição na UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro], mas aí me deparei com a Química que não me largava, porque a Química era o tempo todo no primeiro período, eu falei: “Não, com certeza escolhi, fiz a escolha errada”. Decidi trancar, terminei o primeiro período, tranquei, fiquei um semestre ainda que pensando no que eu faria, aí decidi fazer Serviço Social. Olha daí, no primeiro dia de aula, falei: “Pronto, acertei” e aí me formei na UERJ [Universidade Estadual do Rio de Janeiro], fiz cinco anos, naquela época tinha acabado de mudar, eram quatro anos, aí mudou para cinco anos, e aí eu passei cinco anos frequentando a UERJ à noite, o curso era noturno. Trabalhava de dia e frequentava a UERJ à noite e aí terminei e apesar de eu nunca ter atuado na área como assistente social, acho que o que eu aprendi na faculdade sempre me ajudou muito na minha vida profissional, então com certeza foi uma escolha que me trouxe felicidade, enfim, acho que foi a escolha certa.

P/1 – Ah que bom!

P/2 – E nesse período, como é que foi pra você, você gostava de Feira de Santana? Como você passou sua juventude, como foi?

R – É eu passei um pouco em cada lugar, eu fui com 14 anos pra Serinha, foi um ano difícil, que eu até inclusive emagreci bastante porque não me adaptei com a comida, porque era bastante diferente, era muito temperada. Na Bahia usa-se muito tempero, usa pimenta, então tive muita dificuldade de me adaptar à alimentação e acabei perdendo muito peso de início e depois fui pra Feira de Santana que aí sim a vida social passou a ficar mais interessante, porque em Serrinha você praticamente não tinha nada pra fazer a não ser ir pra pracinha, conversar com as pessoas, fazer um lanche, não tinha muitas opções. Já em Feira de Santana, você tinha mais opções, podia ir ao cinema, tinha um teatro. A vida social era um pouquinho mais interessante, então eu comecei a fazer mais amigos, sair um pouco mais, lá a gente morava numa vila de militares. Os militares que serviam em Feira de Santana moravam numa vila bem do lado do quartel e ali eu tinha contato com os filhos e filhas de militares também, então, uma grande quantidade de amigos da minha idade. Tinha uma piscina que era dentro da vila, a gente frequentava todos os finais de semana, então ali e realmente comecei a viver de uma forma mais interessante a minha adolescência, coisa que em Serrinha durante um ano eu meio que me fechei porque não tava satisfeita ali com aquele estilo de vida. Depois com 16 anos, quando eu tinha terminado o Ensino Médio, ia terminar o Ensino Médio, ia pro último ano, eu falei: “Acho que eu preciso buscar...”. Eu sempre fui muito preocupada com essa questão de onde é que eu vou estudar, que que eu vou ser no futuro, acho que aqui nessa escola talvez eu não tenha muitas possibilidades de passar no vestibular no Rio de Janeiro, porque o plano era voltar pro Rio de Janeiro, então acho que eu preciso me dedicar mais aos estudos. Conversei com meus pais e aí quando eu fiz 16 anos eles me mandaram para o Rio de Janeiro, para morar com uma tia minha aqui no Rio, pra poder estudar numa escola mais puxada, digamos, pra assim eu poder fazer o vestibular. E aí vim passar um ano sem eles. Aí morei primeiro ali em Engenho de Dentro, com a tinha minha e fiquei alguns meses com ela e depois optei por morar com uma outra tia, com quem eu tinha mais afinidade em Bento Ribeiro, daí fiquei com ela, fiquei um ano no Rio, estudava muito. Ia pra escola de manhã, de tarde, estudava demais. Assim, não fiz nenhum cursinho pré-vestibular mas consegui passar em todas as provas que eu fiz na época. Na época eu não tinha o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio], se aplicava o teste na universidade e se fazia as provas. Em todas que eu fiz, eu passei e aí comecei a cursar Nutrição no ano seguinte, na UFRJ.

P/2 – Você continuou morando sozinha no período da faculdade?

R – Não. Nesse primeiro semestre que eu fiz na UFRJ eu estava morando com a minha tia em Bento Ribeiro e depois de um tempo meus pais voltaram pro Rio e aí eu voltei a morar com eles. Teve um período que eu morei, não digo totalmente sozinha, porque era uma casa que era do lado da casa da minha tia, que era a casa dos meus pais, que tava vazia porque eles não estavam aqui, e aí depois eu fui morar nessa casa com uma amiga que veio de Friburgo pra morar comigo. Nós ficamos morando algum período ali, só as duas, tentando tocar a vida de estudantes no Rio de Janeiro, foi um período também de bastante aprendizado. De repente, você não tem mais ninguém que possa cuidar das suas coisas, fazer a sua comida, então, foi um período interessante de aprender a ser um pouco mais independente e ter que tomar suas próprias decisões. Foi um período bacana também.

P/2 – Legal. Qual foi o seu primeiro emprego, como foi esse processo de saída da universidade?

R – É o meu primeiro emprego foi numa agência de correios, quer dizer não tinha nada a ver, se bem que eu ainda estava estudando na universidade, era algo pra eu poder me manter. Então, eu comecei a trabalhar numa agência de correios em Copacabana, um trabalho bastante puxado que era de segunda a sábado, no horário comercial, era bastante coisa, uma experiência bastante intensa, mas que eu aprendi muita coisa, só que aquilo: sempre pensando no que eu poderia fazer pra melhorar aquela minha condição de vida e o salário era muito baixo, era uma salário mínimo na época. Bom, eu tenho que procurar outro tipo de trabalho, tentar crescer profissionalmente e sempre buscando outras possibilidades. Mas fiquei nessa agência durante um tempo, depois saí, fiquei um tempo sem trabalhar, só estudando, e meu pai me ajudando, nessa época. Depois fui trabalhar como professora de Inglês que era uma coisa que me trazia uma flexibilidade de horário, então podia trabalhar e estudar. Eu gostava muito de dar aula, dei aula em três lugares diferentes, dei aula no CCAA [Centro Cultural Anglo-Americana], no Yázigi e no CNA [Cultural Norte Americano], então, procurava fazer meus horários, trabalhava sábado também mas tinha semanas que eu não trabalhava no sábado, tinha dias que eu só trabalhava à tarde, ou só de manhã, então eu consegui estudar e conciliar bem trabalho e estudo. Depois desse período dando aula, eu pensava, eu gosto muito de dar aula, mas não é isso que eu quero fazer, tanto é que não é pra isso que tô estudando, também era uma forma de eu conseguir me sustentar. Então depois parei de dar aula e fui trabalhar na Waldir Lima Editora que é ligada ao grupo CCAA, fui trabalhar como revisora de material didático, revisão de todos aqueles livros que são fornecidos pros cursos, eu fazia a revisão daquele material. Fiquei um ano nesse trabalho, só que era um trabalho muito solitário, você não tinha contato com pessoas, aquilo me angustiava um pouco. Era só o tempo todo ali papel, às vezes ouvindo um áudio pra ver se tava tudo ok, se apresentava ruído, mas eu pensava poxa sinto falta de gente, de lidar com pessoas: “Poxa, não é isso que eu quero!”, passar minha vida lidando só com papel, aí eu pensei: “Vamo lá, então! Vamo” começar, buscar outra oportunidade” e aí foi que surgiu a oportunidade, uma colega me chamou pra trabalhar com ela num hotel em Copacabana, chamado Le Meridian que hoje em dia não existe mais, mas era um hotel muito conhecido na época, dirigido por franceses. E fui trabalhar no Le Meridian, tinha muito contato com pessoas, só que numa rotina também intensa de trabalho, você trabalha sábado, domingo, feriado, Natal, Ano Novo, Carnaval, só de falar a gente já fica cansado porque é muito trabalho mesmo. Então, fiquei lá, mas gostava muito porque tava sempre em contato com pessoas, eram todas pessoas que trabalhavam no hotel, que eram muitas pessoas e com os hóspedes também, então volta e meia ia alguém famoso pro hotel e aí a gente muitas vezes tinha contato com essa pessoa e eu achava que era o maior barato. Quando hospedou o Gianecchini, eu falei: “Meu Deus, o Gianecchini tá aqui no hotel, eu preciso dar um jeito de encontrar com ele!”, poxa ele vai entrar aqui, vai embora, e eu não vou encontrar o Gianecchini? Só que não era nem meu papel entregar as coisas no quarto só que eu dei um jeito de entregar alguma coisa pra ele. Por sorte ele ligou, eu trabalhava na governança, aí ele ligou e eu atendi, poxa já foi um barato ouvir a voz, e eu falei bom agora eu tenho que dar um jeito de ir até lá, aí ele ligou, pediu pra passar uma blusa, eu falei: “Huum, tá, só falta eu conseguir agora entregar essa blusa, né?, aí uma camareira foi buscar a blusa pra moça passar que fica perto do escritório que eu ficava, ela passou, aí eu falei, olha quando terminar de passar, não chama a camareira que eu mesma vou entregar, mas daí ela falou: “Como você vai entregar, você nunca entrega!”, mas daí eu falei: “Hoje quero fazer uma coisa diferente”. Ela terminou de passar a blusa, me entregou e fui lá, entregar a blusa pra ele, só assim que eu vou conseguir ver o Gianecchini e vou poder contar pra todo mundo. E outro dia até tava contando essa história pra minha filha e ela riu muito, porque ela assistiu a pouco tempo o Gianecchini dando uma entrevista e ela falou: “ai mãe, como ele é bonito, né?”, e eu falei: “Ele já foi mais bonito ainda há dez anos”, mais de dez anos. E foi assim uma pessoa extremamente simpática, eu fui entregar a blusa, ele me recebeu com um sorrisão, agradeceu. Eu acho que eu não consegui falar nada, fui, entreguei a blusa e vim embora feliz da vida porque eu tinha visto o Gianecchini. Então, o hotel era sempre muito movimentado, muitas histórias interessantes, e eu só saí porque era uma rotina extremamente cansativa. Ás vezes, Reveillon, meia-noite, ainda tava ali dentro do hotel, até porque a ocupação era a mais alta do ano, então não conseguia sair, passava a meia-noite dentro do hotel, todo mundo comemorando o Reveillon e eu tinha que ficar lá, cuidadndo do serviço pra que tudo funcionasse direitinho. Então falei: “Não!”, fiquei dois anos e cinco meses até, fiquei acho que bastante, eu trabalhava no setor mais agitado que era a governança e depois saí de lá, foi quando começou minha história com o AFS. Eu falei bom, preciso buscar alguma oportunidade diferente e aí vi um anúncio no jornal, na época, porque hoje em dia praticamente ninguém procura emprego em jornal, mas naquela época era uma prática bastante comum. Eu vivia com o jornal debaixo do braço procurando alguma oportunidade. Aí um belo dia comprei o jornal, abri, e tinha lá uma notinha assim no ladinho, falando: “Organização de intercâmbio cultural procura assistente de monitoramento” e dava uma breve descrição do cargo, quando li, falei: “Poxa que coisa interessante, acho que eu gostaria de fazer isso”, falei: “Ah, vou tentar saber um pouquinho mais”. Não conhecia, nunca tinha ouvido falar do AFS, infelizmente, porque acho que se eu tivesse conhecimento, eu poderia ter me candidatado a uma bolsa de estudos que era meu grande sonho na adolescência fazer intercâmbio e não conseguia até por condições financeiras, que na época era muito caro e eu não conhecia as bolsas, essa oportunidade que o AFS naquela época já proporcionava. Vi e tinha que mandar o currículo por correios, porque já faz algum tempo, então botei meu currículo no envelope, botei o endereço do AFS, que naquela época era no centro ali, no centro da cidade, mas na Travessa do Ouvidor. Mandei pra lá e aguardei. Depois de um tempo, me chamaram pra uma entrevista, nessa entrevista acho que tinha em torno de umas 30 pessoas, 30 candidatos, acho que todas mulheres, não sei o porquê, acho que só mulheres se sentiram atraídas pela vaga, mas eu achei que era bastante gente pra uma vaga, mas falei: “Bom, vamos tentar, né?”. Aí participei de todo o processo, o processo foi longo, foram entrevistas, dinâmicas de grupo, teste de perfil, eu só sei que eu tive que ir umas cinco vezes até o escritório pra fazer alguma atividade relacionada ao processo seletivo e isso fiquei levando acho que quase um mês de seleção. E aí no final, quando já tava chegando no finalzinho, só tínhamos eu e mais uma candidata, ou seja, daqueles 30 inicialmente selecionados na primeira etapa, ficamos eu e mais uma candidata. Eu falei: “Poxa, que bacana, consegui chegar na etapa final, faltava só ali, o resultado mesmo, né?”. E aí foi quando a [Ann’]Andreza, que hoje é diretora nacional do AFS me ligou pra dar a notícia que eu não havia sido selecionada. Aí eu chorei o dia inteiro, mas eu chorei muito, porque só de vir, só de frequentar aquele ambiente ali, nas entrevistas, nas dinâmicas, eu já tinha me encantado pela organização. Eu falei: “Caramba! É isso que eu quero fazer, quero trabalhar nesse lugar!”. E aí fiquei com aquela coisa na cabeça, com aquela expectativa e tudo mais, quando ela me ligou aí já o coração já bateu mais forte né, mas a notícia não era a que eu queria ouvir. Então, ela desligou o telefone e eu só chorava, fui trabalhar ninguém entendia nada, eu tava chorando o dia inteiro, acharam que, na época eu era casada, eu tinha brigado com o meu marido, que era um problema familiar, e eu não podia falar o que tava acontecendo, não podia dizer que eu tinha acabado de perder uma oportunidade de emprego, porque eu tava no meu trabalho, então era uma situação um pouco delicada, mas eu chorava muito. A minha cara toda inchada, o dia todo, aí no dia seguinte consegui me recompor, tocar a vida, umas duas semanas depois entrei de férias – tirei 30 dias de férias –, no finalzinho das minhas férias, acho que na última semana que eu viajei pra Petrópolis (RJ) tava muito desligada desse processo todo que eu tinha passado, tava tentando descansar, me preparar até pra voltar ao trabalho e aí quando eu recebo um telefonema da Andreza, aí achei estranho, falei: “Ué”. E ela: “ai Renata, pode falar agora?”, e eu: “Tô” de férias, não tô trabalhando no momento, posso falar sim”. E ela: “Você ainda tem interesse na vaga?” Aí eu pronto, né? Já gelei, falei: “Caramba, claro, claro que tenho!”, e ela: “Você não quer vir aqui conversar comigo tal dia?”, aí eu falei: “Vou vou sim, sem dúvidas, já tô aí!” E ela: “ai que bom, que ótimo, vem aqui que a gente conversa, que eu te explico direitinho”. Caramba, aí fui, eu chegava tremer, minha mão chegava a tremer, eu falei: “Meu Deus do céu, não tô acreditando!” Aí fui conversei com a Andreza e ela falou: “Olha Renata, realmente a gente vai precisar de mais uma pessoa, abriu mais uma vaga e eu queria saber se você está interessada?” E eu falei: “Não precisa nem perguntar duas vezes, tô sim, vou lá no outro emprego pedir o desligamento e já começo a trabalhar aqui na hora que você determinar!” E foi isso que aconteceu, cheguei no hotel, solicitei o desligamento e entrei no AFS na época como assistente de monitoramento. E comecei a trabalhar, inclusive, por um salário menor do que eu ganhava na época, mas eu falei: “Eu quero, eu vou, quem sabe as coisas melhoram e eu consiga fazer uma carreira ali”, porque eu falei: “Poxa, é ali que eu quero ficar, quero fazer trabalho”. Aceitei o salário menor, mas sem a menor preocupação e nessas tô aqui até hoje né. São 13 anos desde que isso tudo aconteceu e, de fato, consegui construir uma carreira dentro do AFS, comecei como assistente de monitoramento que hoje já não existe mais esse termo a gente não usa mais. Monitoramento mudou pra suporte e, hoje, a gente não chama mais de assistente, consultor de suporte, ou consultora de suporte. E aí fiquei um tempo nessa função de assistente, fiquei em torno de um ano. Logo em seguida, a Andreza que era minha chefe, era coordenadora de monitoramento na época, ela me convidou, quando eu estava de licença maternidade a assumir a posição dela porque ela estava saindo do AFS pra trabalhar na comissão Fulbright e aceitou essa oportunidade que surgiu durante a minha licença maternidade e ela conversou com o gerente na época e eles decidiram me promover ao cargo de coordenadora, então acabei meio que alterando meus planos de voltar um pouquinho mais tarde quando minha filha tivesse um pouquinho mais, pelo menos quatro ou cinco meses, mas eu acabei voltando e ela não tinha nem completado quatro meses. Com três meses e meio, eu voltei ao trabalho pra assumir uma nova posição. E aí foi aquela correria, eu morava em Nova Iguaçu na época, eu tinha que vir pro centro da cidade, com uma filha bebê em casa, assumindo um novo cargo, que eu não sabia praticamente nada, porque ela saiu e não teve tempo de me treinar. Então eu voltei de licença assumindo um novo cargo e fiquei como coordenadora, durante algum tempo, dois anos e pouco, e depois de coordenadora eu passei a gerente da área de suporte e fiquei como gerente de suporte também, durante alguns anos, dois anos e meio aproximadamente, ou três. Depois desse tempo, a Andreza retornou ao AFS, ela retornou em setembro, se não me engano, de 2012 e, ao retornar pro AFS, poucos meses depois, ela me promoveu a gerente de programas e qualidade, na verdade eu não chamaria de promoção, mas eu comecei a assumir mais um departamento, ainda no cargo de gerência, que é o cargo que eu tô ainda hoje né, gerente de programas e qualidade.

P/2 – Antes da gente prosseguir você poderia contar um pouco mais do seu primeiro cargo que foi extinto, quais eram as atribuições, que que esse cargo, que a pessoa fazia?

R – Certo, para o assistente de monitoramento, na verdade, houve só uma mudança de nomenclatura, né? Hoje o que o consultor de suporte faz é a mesma coisa que o assistente de monitoramento fazia naquela época, então foi só um ajuste de nomenclatura porque acharam que consultor de suporte era mais adequado às funções exercidas nesse cargo. Dentro do suporte, o assistente, ele cuida de todas as demandas relacionadas ao intercambista, seja o intercambista estrangeiro ou intercambista brasileiro. Tudo que surja ao logo do intercâmbio, é o assistente, e hoje o consultor, que vai dar encaminhamento, desde os problemas mais simples como a falta de uma documentação, qualquer questão bem fácil de resolver, ou até as questões mais complexas, um acidente, uma doença grave, ou seja, tudo aquilo que se possa imaginar, que pode acontecer com um adolescente durante o intercâmbio, é a área de suporte que vai cuidar. Aí tem o assistente, o coordenador e o gerente, todos cuidando da experiência de intercâmbio em si, só que com níveis de responsabilidades diferentes, é isso.

P/1 – Você contou pra gente que passou por assistente, coordenação, gerente, quais foram os principais desafios dessa época que eram as principais questões, assim que você enfrentou nesse momento?

R – Bom, eu costumo dizer que o principal desafio é cuidar do filho dos outros, porque não é tarefa fácil, os pais tem muitas expectativas em relação ao intercâmbio, é um momento de muita alegria, mas também de muita tensão pros pais que vão enviar um filho pro exterior, seja por seis meses ou um ano, por mais que o pai tenha confiança na organização que ele escolheu, que ele esteja seguro que o filho está preparado pra viver a experiência, ele vai ter uma preocupação muito grande, e qualquer problema que aconteça, esse pai, ele vai querer ações rápidas, ele vai querer respostas muito rápidas, então a gente lida com um público que é bastante exigente, bastante preocupado, e que depende muito da gente pra poder se tranquilizar e confiar na organização e querer continuar contando conosco. A gente tem que entregar um trabalho muito bem feito, um trabalho de qualidade, porque senão a gente coloca tudo a perder. A gente basicamente lida com um público que é bastante exigente e tem uma expectativa muito alta em relação àquela responsabilidade que ele tá delegando pra aquela gente durante seis meses, um ano, ou seja, é o bem mais precioso de fato, como os próprios pais costumam colocar: “Olha, tô colocando meu bem mais precioso nas mão de vocês”, então é muita responsabilidade. E muitas coisas acontecem com adolescente, quem lida com adolescente seja em casa, na família. Claro que existem muitas questões que preocupam mesmo e a gente nunca sabe o que vai acontecer, eu costumo dizer que na área de suporte, a gente não tem muito como planejar o dia, a gente até tenta planejar, mas a gente chega e tem uma emergência qualquer, como já tivemos várias, se eu fosse contar aqui todas as situações que a gente já teve na área de suporte, nossa, vai dar um livro, né! Porque algumas são engraçadas, outras são tristes, mas a gente tem de tudo, imagina, no meu caso são 13 anos lidando com isso, então é muita história pra contar, né?

P/2 – Conta umazinha pra gente?

R – (risos) Bom, eu acho que posso contar até porque não vou comprometer ninguém, não vou citar nomes, né? Não sei se vou lembrar... Eu gostaria de contar uma engraçada, mas a gente nessas horas acaba lembrando mais as trágicas, não sei, acho que eu vou deixar pra tentar lembrar uma até o final da entrevista pra poder contar pra vocês, porque as trágicas vem sempre rápido na minha cabeça, mas assim as mais engraçadas, ou talvez não sejam tão engraçadas (risos), porque a gente acaba rindo só pra poder relaxar um pouco o dia a dia porque é estressante, porque tudo impacta na experiência de intercâmbio, até hoje mesmo as questões que a gente acompanha, a crise dos refugiados na Europa, isso tem impacto no programa de intercâmbio. A questão do terrorismo que é uma preocupação atual, isso também tem impacto, então tudo isso a gente também tá muito atento porque que tá acontecendo no mundo. E pra trabalhar com os pais, também junto ao AFS Internacional, pra poder avaliar os riscos que isso poderia causar pro jovem no exterior. Então a gente tem muito essa preocupação por aquilo que acontece naquele âmbito local, na vida do estudante, escola, família, a responsabilidade de acompanhar isso mais a conjuntura nacional e internacional é o que a gente está sempre monitorando, sempre acompanhando. Às vezes, um desastre natural por exemplo, se tivéssemos alguém em Mariana (MG), a gente teria que agir muito rápido pra poder fazer com que aquele estudante ali pudesse ser retirado do local, não pudesse sofrer nenhum dano, então a gente tem eu fazer esse trabalho, por isso que a gente tá sempre de sobre aviso, nunca tá totalmente desligado do que tá acontecendo no mundo porque esse é o nosso papel, no meu papel de gerente eu tenho que acompanhar tudo isso muito de perto.

P/1 – Você tá há 13 anos aqui né? Eu gostaria que você falasse como era o AFS nessa época que você entrou, contar um pouquinho pra gente sobre o cotidiano, as mudanças ao longo desse período...

R – Quando eu entrei no AFS o escritório era na Travessa do Ouvidor, logo depois, nós mudamos apenas de um andar pro outro, não tínhamos muitas pessoas trabalhando, acho que a mesma quantidade de pessoas que nós temos hoje no escritório, em torno de 20 pessoas, talvez um pouquinho mesmo. Quando eu entrei, a maior diferença é que naquela época a gente não tinha tanto acesso a e-mail, os pais, muitos, não tinham acesso a e-mail, não recebiam correio eletrônico, era tudo por carta. A gente, às vezes, tinha bolos e bolos de cartas pra mandar, às vezes, passava o dia inteiro só mandando cartas pros pais. Até hoje, a gente tem essa prática de comunicar aos pais de como tá caminhando a experiência de intercâmbio, o ciclo do estudo do estudante, então, a cada dois meses, a gente costuma ter essa comunicação com os pais, que hoje é por e-mail, porque todos os pais hoje em dia utilizam e-mail, a gente praticamente não tem ninguém que não utilize e-mail. Na verdade, o e-mail até tá deixando de ser uma ferramenta utilizada, pelo menos pelos jovens, os intercambistas já não usam tanto e-mail, eles querem usar o Facebook e Whatsapp mas os pais ainda usam bastante o e-mail, então a gente manda essas circulares por e-mail, os pais dão retorno, é um meio fácil de comunicação com os pais. Naquela época, era a carta, e a carta é aquilo, a gente manda, muitas vezes não sabe se chega, e se chega, dificilmente, a gente tinha um retorno daquilo, dificilmente os pais escreviam uma carta de volta, dizer: “Olha meu filho tá bem, o meu filho não está bem”. Hoje, a coisa é bem imediata, o pai recebe e-mail, lê, na mesma hora já responde pra gente. Talvez, na área de Programas que é onde eu atuo, a grande revolução, digamos assim, foi na comunicação. Naquela época que eu entrei não tinha nem Facebook, era o Orkut, na época, só que muita gente também não tinha, não utilizava. Todas as fichas dos estudantes eram todas impressas, poxa, muitas vezes no final do ano a gente tinha que pegar toda aquela papelada, descartar aquilo tudo, botar naquele triturador de papel, porque senão você não tinha nem mais onde colocar tanto papel. Hoje, a gente ganhou espaço, porque não precisa ficar armazenando tanta coisa e a comunicação é muito mais ágil, e sempre existe dentro do AFS uma recomendação para que os estudantes evitem ao longo do intercâmbio manter contato com o seu país de origem, seja com os pais, com a família de um modo geral, os amigos, namorada, namorado, porque isso acaba meio que criando uma barreira pra imersão cultural deles num outro país, então sempre tivemos essa recomendação, em todas as orientações, a gente enfatizava isso. Hoje em dia, a gente fala isso e as pessoas olham pra gente com certo estranhamento, como assim não vai contar como tá, você tem o Facebook, Whatsapp, tudo ali imediato, não adianta dizer pra um pra ele: “Ah, não faça contato com seu filho”, quem sabe uma vez por mês, ou uma vez por mês por e-mail ou a cada semana por telefone ou Skype, nenhum pai segue isso. Então, a gente teve que mudar também um pouco a nossa cabeça, a nossa mentalidade, pra essa nova realidade, né? Porque não tem como dizer pra um jovem: “Olha, deixa seu celular de lado”, hoje em dia é meio que parte do corpo dele, já vem no kit. Isso pra gente foi uma mudança de paradigma, não adianta bater nessa tecla porque não vai acontecer. Então como é que a gente pode lidar com essa realidade de uma forma diferente? O jovem de hoje não é aquele jovem de dez anos atrás, então hoje as coisas mudam muito rapidamente. Acho que se vocês me perguntarem: “Qual foi o maior impacto que você sentiu?” Acho que sem dúvida nenhuma foi nessa questão da comunicação e do avanço tecnológico que isso trouxe pro nosso dia a dia, pra agilidade no trabalho e pra agilidade na comunicação. Antes, eu conseguia chegar antes da informação chegar pros pais, eu conseguia ter o contato com os pais antes de ele saber o que é que tinha acontecido com o filho dele, e conseguia trabalhar aquilo de uma forma muito mais tranquila, porque eu ligava, pro pai, pra mãe, conversava, e explicava, olha o seu filho tá passando por determinadas dificuldades: “Vamos ver como é que a gente pode fazer pra ajuda-lo”, então já chegava na frente, me sentia privilegiada por isso, porque o parceiro, vamos supor no AFS Alemanha, AFS França, me procurava e passava a informação pra mim, e eu passava pros pais. Hoje em dia, eu sempre chego atrasada, quando eu ligo pro pai, pra mãe, eles dizem: “Ah, o meu filho já me contou”, e eu falo: “Já?”, e eles: “A gente tem contato constantemente pelo Whatsapp, Facebook, então já sei de tudo”, eu falo: “Ah, sim!”, então já chego atrasada, às vezes eu fico um pouco frustrada né? Estou crente que eu vou contar uma novidade e já não é mais novidade, mas essa é a realidade que a gente lida hoje, e não tem como fugir disso, né?

P/1 – Verdade! E quem foram as pessoas que mais te ajudaram assim no início?

R – Olha, eu destacaria a Andreza foi quem me contratou e era minha chefe direta. Na época, quando ela me contratou, ela era coordenadora, e eu entrei como assistente, então ela que me ensinou o trabalho e ela que me ajudava no dia a dia, até que eu conseguisse ter uma certa independência, autonomia no dia a dia do trabalho. Então foi a pessoa que mais me ajudou no início e depois quando ela saiu, muita coisa tive que aprender sozinha, e eu costumo dizer que alguns puxões de orelha que eu levei na época me ajudaram bastante também. Então eu agradeço ao meu gerente na época que era o Marcos Sodré, que me deu alguns puxões de orelha e que me ajudaram a refletir e a crescer profissionalmente, e na época também o Eduardo Assedi que era o diretor nacional, que era, era não, é, um grande gestor, continua na organização, mas já no AFS Internacional, que também me deu muitos conselhos, alguns puxõezinhos de orelha também, pra que eu pudesse crescer profissionalmente. Claro que elogio é muito bom mas, às vezes, eu acho que uma crítica bem colocada ajuda muito a gente crescer, claro, uma crítica nem sempre é fácil da gente digerir, mas se a gente tem maturidade pra isso acho que a gente acaba aprendendo muito, e acho que eu aprendi muito com as críticas construtivas que eu recebi dos dois.

P/2 – Você pode contar um pouco mais desse período que você foi promovida, (... não entendi nada) licença maternidade, filho pequeno, novo cargo, nova vida, como que foi esse momento? Qual o seu cargo, quais eram as suas funções, durante esse período?

R – É, foi um período bem difícil porque como eu falei, eu morava em Nova Iguaçu, às vezes, eu levava três horas pra chegar no trabalho, porque eu vinha pela Dutra, Avenida Brasil, sempre engarrafada, então deixava minha filha, bebezinho, em casa, com uma pessoa que eu tinha acabado de contratar, mas que foi uma pessoa maravilhosa na minha vida, porque me ajudou demais e ficava com a Bianca, enquanto eu estava no trabalho. Minha sogra, na época, me ajudou muito também, só que no início foi muito difícil, primeiro foi difícil a separação da minha filha, porque eu cheguei a considerar não voltar pro trabalho, primeiro que eu tava tão envolvida ali naquela questão da maternidade, aquela experiência nova, eu tava tão apaixonada pela minha família, que eu falei: “Poxa, não vou deixar minha filha em casa pra ir trabalhar não, aqui tá muito bom, é aqui que eu vou ficar”, mas depois vem a realidade: “Como é que faz pra pagar as contas? Como é que fica a vida a partir daí?”, eu acho que eu gostaria de dar um tempo, parar de trabalhar e me dedicar a ela e, ao mesmo tempo, eu percebi: “Não tem como!” Eu tenho muita responsabilidade, tenho a minha vida pra tocar claro, na época, eu estava casada, mas o que o meu marido ganhava não era o suficiente pra sustentar toda a família. Eu falei: “Eu preciso voltar a trabalhar”, então eu botei aquilo na minha cabeça, só que eu imaginei, bom vou voltar a trabalhar pra função que eu tinha antes, só que nesse meio tempo surgiu a oportunidade de promoção e quando a Andreza me ligou fazendo essa proposta, eu sempre pensava assim, eu sempre via a Andreza tão envolvida com os problemas do dia a dia do suporte: estudante que sofria um acidente, ou pulava da piscina e batia com a cabeça, sabe aquelas confusões do dia a dia, e ela tava sempre ali tão envolvida com muito trabalho, eu pensava assim: “Não, eu não quero isso pra mim não, deixa eu ficar aqui como assistente, acho que esse papel de coordenadora eu nunca ia querer pra mim, acho que a Andreza faz isso muito bem, acho que isso é a cara dela, mas eu não quero isso na minha vida não...” Só que aí eu me afastei com a licença, um dia ela me ligou, eu tava super enrolada em casa, entre fralda, choro de bebê, ela falou: “Renata, tô saindo” e eu: “Como assim?” Ela me explicou e eu entendi mais ou menos assim porque eu não consegui dar muita atenção a ela na conversa, e ela: “Você não quer voltar no meu lugar? Tô te ligando pra te fazer essa oferta de promoção pro cargo de coordenadora, você quer?” Eu falei: “Ah quero, quero sim, gostei, quero sim!” Depois que eu desliguei, eu falei gente, aí que eu me toquei no que é que eu tinha feito, mas até pouco tempo eu falei que eu não ia ser coordenadora de jeito nenhum, eu falei: “Bom, agora eu já dei ok, mas tudo bem, depois eu penso nisso” porque eu tava tão envolvida com outras coisas que eu falei, depois eu penso nisso. E a ficha foi caindo aos poucos, e eu pensei: “Será que eu tomei a decisão certa, né?” Até liguei pra ela depois, e ela: “Agora não tem volta, agora você vem”, e eu falei: “Não, eu não pensei em voltar não, eu tô um pouco receosa né?”, mas ela falou: “Vem aqui que eu vou te treinar”, só que o treinamento foi de um dia, na verdade, uma tarde, que a gente conversou, e foi o meu treinamento e, logo em seguida voltei de licença, ela não estava mais. Eu acredito que eu passei umas duas semanas que eu chorava bastante, chorava de saudade da minha filha, chorava porque eu falei assim: “Ah meu Deus, eu não tô entendendo nada desse trabalho, não sei por onde é que eu começo...”, mas assim eu falei: “Bom, agora eu preciso aceitar esse desafio, e fazer com que dê certo!” Mas no início foi muito, muito difícil, eu não cheguei assim a pensar em desistir, mas acho que quase, porque eu falei: “Eu não vou dar conta disso!”, mas dei conta e depois de um tempo já tinha ido a cargos de gerência que eu também falei: “Não, nunca quero ser gerente na minha vida, porque ser gerente é maior roubada”, eu falei: “Não, não quero isso não, deixa eu ficar aqui no meu cargo de coordenadora”, mas daí veio, o gerente acabou saindo, e aí veio a proposta pra ser gerente de suporte. Eu falei: “Huuum, ah, vamos tentar porque não, né?” Assim com um certo receio, também não tive treinamento nenhum, fui me adaptando aos poucos a função. Mas eu sempre penso nisso, eu entrei no AFS e sempre disse: “Não, eu não quero ser coordenadora”, e passei a ser coordenadora, depois eu dizia: “Jamais quero ser gerente”, passei a ser gerente, aí teve uma época que eu falei assim: “Bom, pelo menos, eu paro por aqui, nunca vou ser diretora nacional, isso não, pelo amor de Deus!”, aí uma época o diretor nacional foi demitido, me chamaram pra assumir o lugar dele, eu falei, bom se pelo menos for interinamente, eu aceito, e ele falou: “É interinamente”, aí passei a ser diretora nacional por quatro meses, até que contratassem alguém, aí foi aquela loucura, meu Deus! Eu tive que me virar em mil, mas assim quatro meses, eu dei conta, mas se fosse mais tempo, realmente, eu não sei se conseguiria, mas tive muito apoio, mas pra quem sempre pensou que de assistente e não ia passar, eu fui longe! De vez em quando, eu dou risada dessa história, mas foi muito bom, hoje em dia dizem que eu sou o oráculo do AFS porque eu já passei por tudo quanto é função, já tô aqui há 13 anos, sou a pessoa, a funcionária mais antiga na organização, todo mundo acha engraçado: “Tá com dúvida? Pergunte à Renata porque ela deve saber”, e realmente é uma história longa e de ter tido oportunidade de atuar em funções diferentes. O que foi muito bacana, hoje eu me sinto muito confortável de trabalhar no AFS porque realmente eu me sinto em casa. Afinal de contas são muitos anos e acho que eu aprendi muita coisa aqui.

P/1 – E como foi esse período de quatro meses que passou como diretora nacional?

R – Foi um período extremamente intenso, digamos assim, porque aconteceu de uma hora pra outra. Em 48 horas, tudo tinha mudado, o conselho diretor na época decidiu pela demissão do diretor nacional e entraram em contato comigo perguntando se eu não poderia assumir até que eles conseguissem ter alguém pra substituí-lo e, claro, eu fiquei assustada, eu falei: “Bom, eu já enfrentei tantos desafios aqui, acho que esse é só mais um”, eu me senti um pouco mais encorajada pelo fato de ser por pouco tempo, se bem que os quatro meses pareciam quase quatro anos, porque, realmente foram meses bastante conturbados, muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, tinha uma convenção nacional pra acontecer logo em seguida, se não me engano foi início de setembro, eu assumi em final de abril e setembro já tinha uma convenção enorme pra acontecer e eu nunca tinha organizado uma convenção nacional, e ao mesmo tempo eu tinha que cuidar da minha função, na época que era gerente de suporte, eu não coloquei ninguém no meu lugar, continuei cuidando da minha função mas ao mesmo tempo cuidando de todo o escritório. Foi um período bastante puxado de trabalho, de responsabilidade, mas acho que foi mais uma experiência positiva, gratificante, que me ajudou a crescer profissionalmente. Foi bacana, foi um período que eu tive muito mais contato com voluntários da organização que eu quase não tinha contato naquela época, com o próprio conselho diretor e depois a Andreza entrou, se não me engano, início de setembro, ela entrou e participou da convenção nacional, que foi logo em seguida, na mesma semana. Depois, então, eu voltei pro meu cargo que era o de gerente, quer dizer, passei a cuidar dele integralmente que eu tava cuidando meio período, e aí passei a minha função anterior.

P/2 – Você citou que ao longo desses 13 anos mais ou menos, vocês tiveram a internet e os meios de comunicação como um grande marco que agilizou todo o processo, dos intercambistas, das famílias, integrou o AFS Brasil com o mundo, facilitando o trabalho de vocês. Mas eu gostaria de saber, porque eu imagino que durante esses 13 anos você tenha vivido alguns momentos críticos, alguns momentos de ruptura, dos divisores de água, que você tenha visto que a partir de tal decisão ou a partir de tal programa, tenha tido uma modificação significativa na AFS. Se você se lembra de alguma?

R – Eu me lembro, acho que de um momento de ruptura, talvez o primeiro que eu tenha vivido aqui no AFS, foi a saída do diretor nacional que foi o Eduardo, que até ali estava tudo muito estável, e ele saiu no início do ano de 2007, e até ali tudo parecia muito tranquilo, a organização parecia caminhar muito bem, financeiramente estável, com bom volume de programas, com qualidade nos seus serviços, tudo ia bem e a gente tava todo mundo feliz, era tranquilo de trabalhar ali. E ele então comunicou a saída dele, ficou por alguns meses, até que ocorresse a transição, mas surgiu aquela preocupação: “Será que a pessoa que vai entrar vai continuar esse trabalho que ele desenvolveu?”, sempre tem essa preocupação com a pessoa nova que chega, se vai conseguir manter o mesmo ritmo de trabalho, e aí eu acho que foi o grande momento de fato de ruptura que eu vivi porque, as coisas depois não caminharam tão bem. O AFS passou por um momento um tanto quanto conturbado, a nova diretora que assumiu não conseguiu manter o ritmo de trabalho, e aí começou um período difícil, acho que o relacionamento entre os funcionários e os voluntários passou por um período de crise, de desconfiança, de falta de credibilidade, e as coisas começaram a declinar. Ocorreram algumas demissões dentro da Secretaria Executiva, o diretor financeiro na época foi demitido por essa nova diretora, o gerente na época, que era gerente de programas, meu chefe direto, acabou sendo demitido também, então ela fez algumas mudanças de estrutura, na organização internamente, no organograma da Secretaria Executiva e essas mudanças não se mostraram felizes, não foram bem sucedidas. Dali realmente a gente teve um período de declínio, e eu acho que a gente só começou a recuperar a autoestima da organização, aquele período anterior que a gente tinha vivido com o Eduardo de estabilidade e tranquilidade, prazer de trabalhar dentro do AFS, bastante tempo depois que foi quando a Andreza voltou pra organização no cargo de diretora nacional em 2012 que aí as coisas começaram a voltar né, o ritmo de antes. Nesse meio tempo entre a saída do Eduardo e

chegada da Andreza, o AFS passou por muitas situações difíceis, essa diretora nacional ficou durante um tempo, acho que uns dois anos, depois, ela foi demitida, um outro diretor assumiu, e também não foi bem sucedido na sua gestão na organização, e a gente teve um período também de interinidade que foi a Rita Santos que era gerente de programas na época, assumiu como interina, ficou mais de um ano como interina, foi uma interinidade bastante longa que a princípio não se planejou isso mas acabou acontecendo dessa forma. As coisas começaram a desandar um pouco. A organização passou por um período muito grande, o clima organizacional não era bom, não era positivo, e a gente trabalha muito em parceria com o voluntário e quando existe clima de desconfiança, quando o voluntário começa a ver que as coisas não estão indo bem dentro da organização, do escritório, a tendência é que as coisas não fluam bem, e foi o que aconteceu. A gente demorou um bom tempo até que as coisas voltassem ao ritmo mais tranquilo.

P/1 – E como a AFS superou essas dificuldades, esses momentos?

R – Na verdade, eu acho que o AFS só começou a recuperar, talvez de uns dois anos pra cá e aí foi uma questão de gestão mesmo, do próprio conselho diretor junto com a Andreza. Acho que perceberam que as coisas não iam bem, e que precisávamos dar uma outra cara pro AFS, um novo ritmo de trabalho, trabalhar mais próximo aos voluntários, valorizar mais o papel do voluntário dentro da organização e acho que a partir daí que as coisas começaram a mudar e hoje acho que a gente tem uma cara completamente do que nós tínhamos há cinco, seis anos. Hoje, as pessoas têm o prazer de trabalhar aqui, acho que o voluntário se sente orgulhoso de fazer parte do AFS e acho que todo mundo trabalha muito bem junto. Hoje em dia, a gente tem essa parceria, antes a gente sentia que era o funcionário meio que contra o voluntário e o voluntário contra o funcionário, ficava esse clima meio de guerra entre a gente, numa organização que prega a paz, né? A gente falou: “Tem alguma coisa errada aí”, e hoje não, todo mundo trabalha bem em parceria, acho que o voluntário vem aqui e se sente à vontade, a gente tem um clima muito ameno, muito tranquilo, somos amigos e saímos juntos. Então o AFS hoje, tem a cara que ele deveria ter tido sempre.

P/1 – E conta um pouquinho pra gente sobre o cargo que você ocupa hoje, quais são as funções, as demandas, as responsabilidades...

R – É, hoje, eu ocupo o cargo de Gerente de Programas e Qualidade, já tô nesse cargo há dois anos e pouco, dois anos e três meses, e eu sou gerente de uma área que a gente chama de área chave da organização porque é a área que trabalha todos os programas de intercâmbio e desde o início do processo, desde quando o candidato demonstra interesse pelo intercâmbio, ou seja, ele tá tendo o primeiro contato com a organização, nem se inscreveu ainda, até ele passar por toda a experiência de intercâmbio e voltar, porque a gente costuma sempre reforçar isso, que essa experiência de intercâmbio não termina quando ele chega de volta ao Brasil, ao contrário, os efeitos ainda vão ter um longo tempo, ainda, pra ser trabalhado na cabeça daquele estudante, por isso a orientação depois que ele volta. O AFS então não termina sua tarefa só porque o estudante já botou os pés aqui de volta ao Brasil. Então, o nosso trabalho é contínuo e a gente tenta envolver esses estudantes também num trabalho voluntário no interesse deles. A gente trabalha a experiência de intercâmbio durante muito tempo. Então, a área de Programas e Qualidade tem essa característica e ela é esse departamento, essa área chave da organização porque é ela que capta candidatos, que prepara esses candidatos, ela apoia esses candidatos durante o intercâmbio, não só os candidatos, mas como os pais, os próprios voluntários envolvidos né, em recrutar, em treinar, em selecionar famílias. Então é a área que faz com que tudo aconteça e a gente conta com todas as outras áreas para nos apoiarem nesse processo: a área Financeira que trabalha muito próxima, com os envios de contratos, os pagamentos que devem ser realizados, então a área Financeira nos dá muito apoio e trabalha muito próxima da gente; a área de Desenvolvimento Organizacional que treina os voluntários, está sempre muito próxima a eles, fazendo com que eles possam desempenhar bem o seu papel que vai ser extremamente útil para a área de Programas; a área de Marketing que faz toda a divulgação dos programas que são oferecidos. Nós trabalhamos muito próximos a todas as áreas porque a gente precisa de todas elas e elas precisam que a área de programas trabalhe muito bem captando candidatos para que o AFS possa sobreviver financeiramente e ter um maior alcance da sua missão.

P/1 – A gente já está direcionando para o final agora e queríamos fazer algumas perguntinhas antes. Queria saber como é sua rotina, se você é casada? Como são seus filhos? Quais são as coisas para você?

R – Não, não sou casada. Eu me separei em 2010, tem cinco anos já e não casei de novo. O que não quer dizer que eu não queira casar de novo é que eu não casei ainda. Tenho uma filha de 11 anos que vive ainda me pedindo um irmãozinho eu só não sei se vou conseguir atender o pedido dela e ela vai fazer primeira comunhão nesse domingo, ou seja, amanhã. Ela está super ansiosa e é um momento especial para toda a família, eu sou católica, meus pais não são mas sempre me apoiaram muito porque meus pais são espíritas cardecistas e eu sempre fui católica desde criancinha. O que era interessante porque eu ia para a Igreja sozinha, voltava sozinha. Mas na minha primeira comunhão estava todo mundo lá me apoiando e isso eu achei muito bacana e minha filha acabou seguindo esse caminho e amanhã, depois de dois anos frequentando a catequese, será o grande dia! Hoje eu estive com ela na Igreja para o ensaio geral e depois eu vim pra cá. Então amanhã é um dia especial para a família toda, a gente vai reunir todo mundo para o almoço depois da primeira comunhão e é isso. Durante o final de semana, eu gosto de ir ao cinema com ela, a gente passeia, vai a restaurante. Durante a semana, de segunda a sexta, a rotina de trabalho é intensa e, como eu moro um pouquinho distante, Bento Ribeiro fica distante do centro mas eu sempre venho de trem porque facilita então eu saio de casa logo depois que eu faco hidroginástica – eu faço hidroginástica três vezes por semana: segunda, quarta e sexta – coloco minha filha para a escola, ela sai 20 pras 7 e em seguida eu vou para a hidroginástica. Aí, eu vou para a hidroginástica segunda, quarta e sexta, depois vou pra casa, tomo um bano, me arrumo e venho para o trabalho, eu moro relativamente perto da estação de trem, o que facilita e que é a forma mais tranquila de chegar aqui. Eu desço na Central do Brasil e venho caminhando até aqui dá uns 15 minutos quando eu estou com mais disposição, uns 20 minutos quando eu estou mais cansada. Terça e quinta, eu procuro caminhar. Eu caminho com a minha tia e ela tem 75 anos mas é uma pessoa extremamente ativa. É ela quem me liga: “Vamos caminhar!”, aí eu: “Vamos embora!”, aí estou super cansada mas se minha tia tem 75 anos e vai caminhar, eu preciso caminhar com ela, eu não posso deixar esse furo, então, eu vou lá com ela e ela toda animadda, com roupa de ginástica e tal e ainda me critica: “Essa roupa não está boa, não. Você deveria comprar umas roupinhas melhores para caminhar”, “Tia, eu vou comprar umas roupinhas melhores!” e aí a gente caminha. Toda terça e quinta, geralmente. Aí é a mesma coisa: eu volto pra casa, me arrumo e venho para o trabalho. Geralmente, eu chego 9h30, às vezes até um pouquinho mais cedo e eu fico geralmente até às 7 horas da noite que aí eu vou embora, faço o meu caminho de volta, vou andando até a Central do Brasil, pego o meu trem de volta e basicamente a rotina tem sido essa. Eu estudo com a minha filha toda vez que eu chego em casa e ela tem uma dúvida: “Eu vou tirar uma dúvida”, aquelas coisas porque sou eu que cuido dela sozinha, moramos nós duas. Acaba meio que eu que tenho que cuidar, além do sustento da casa, dessa parte de também dar o suporte que ela precisa. Então, apesar de eu ser péssima em Matemática, volta e meia, eu tenho que dar uma estudadinha em Matemática para poder ajuda-la mas adoro fazer isso porque é uma forma de eu estar mais próxima dela também.

P/1 – Quais são seus sonhos, seus desejos, desafios pessoais?

R – Olha, meu sonho hoje em dia é ter a minha casa própria porque depois que eu me separei, algumas coisas aconteceram e eu acabei perdendo a casa, então, hoje eu moro de aluguel então almejo comprar uma casinha. Mas eu gosto muito de viajar, por isso o AFS me atraiu muito, essa coisa da viagem, do intercâmbio, de conhecer outras culturas, então, eu sonho em pegar a minha filha – ela é tão novinha, ela está um ano adiantada na escola – acho que vou pegar ela um ano e viajar com ela muito porque ela vai voltar e não vai se atrasar na escola e acho que ela toparia numa boa porque ela também ama viajar. O sonho dela é viajar e se puder, todo mês, para um lugar diferente mas nem sempre isso tudo permite, né? Mas a gente planeja fazer uma viagem nas próximas férias, de passar um mes viajando e é o que eu mais gosto de fazer e ela também.

P/2 – Ela participa como voluntária do AFS?

R – Ainda não, ela não participa porque, como ela tem 11 anos – ela até pergunta: “Mãe, eu posso ser voluntária com 11 anos?” – mas eu nunca vi uma voluntária com essa idade eu vejo filhos de voluntários acompanhando as atividades mas não que eles sejam voluntários de fato eles não tem o termo de adesão assinado. Eu falei: “Com certeza, você poderá mais pra frente ser voluntária sim e ajudar as atividades”, porque é uma coisa que ela gosta e que ela pensa bastante nisso e é claro o intercambio, né? Ela não pensa em outra coisa a não ser em fazer intercambio, aí ainda tem um caminhozinho, ela está com 11, em cinco anos, quem sabe? (risos)

P/1 – Como o AFS mudou a sua vida?

R – Cara, no AFS, boa parte da minha vida eu passei aqui dentro. Muito do que eu aprendi, do que eu sou hoje, do que eu tenho hoje, eu digo que eu devo ao AFS. Eu acho que o AFS me ensinou muita coisa, eu me desenvolvi muito aqui. Acho que quando eu entrei no AFS, nossa!, eu entrei tão crua de tudo, acho, e hoje eu cosigo contar para tantas pessoas tudo o que eu vivi aqui dentro, as viagens que eu fiz: “Nossa, eu viajei muito!”, oportunidades que eu não teria se não fosse o AFS. Eu venho de uma família que não tem essa tradição de viajar, de conhecer outros países, muito pelas dificuldades financeiras mesmo e por, talvez, uma certa falta de interesse pessoal mesmo mas eu sempre tive isso dentro de mim. EU falei: “Eu quero conhecer outras culturas, eu quero viajar, eu quero poder estar em contato com outras pessoas”. E o AFS me proporciou isso. Talvez, se não fosse o AFS, eu não teria tido essa oportunidade na minha vida e, às vezes, quando eu paro para conversar com alguém e conto das viagens que eu fiz, eu sempre penso: “Essas viagens todas eu fiz a tarbalho” mas, ao memos tempo, eu tive essa oportunidade. Todo trabalho que eu fiz no exterior, eu sempre tive a oportunidade de passear um pouco, pegar, dois ou três dias e passear um pouco e conhecer aquele lugar que eu estava. Eu já fui para muitos lugares, conheci muita gente e nesse processo não tem como você não aprender coisas novas, não crescer profissional e pessoalmente. Então, eu sou muito grata por tudo que o AFS me proporcionou e eu acho que também proporcionei bastante para o AFS pela minha dedicação e amor à organização porque quem esta aqui mesmo é porque se identifica e gosta do que faz, gosta do que a organização promove, então é uma ocisa muito positiva na minha vida, onde eu pude construir uma carreira que é o que me acrescentou muito. Quando eu pensei em sair eu penso: “que bom que eu optei por voltar ao trabalho!”, claro que o meu coração apertou, eu queria ficar com a minha filha mas que bom que eu refleti e falei: “Eu vou voltar ao trabalho” e voltei e pude construir uma carreira e sei quem eu sou hoje graças a oportunidade que eu tive aqui dentro.

P/1 – E o que você acha desse projeto do AFS de fazer as entrevistas?

R – Cara, eu achei muito bacana porque quando a Andreza e a Ana Paula me contaram, nossa, mais que ideia bacana. Como ninguém pensou nisso antes? Poxa, que legal! E estou super curiosa para saber o resultado final e sei que vai demorar um pouquinho, enfim, não estou ansiosa mais a expectativa é grande porque eu tenho certeza que em 60 anos de organização aqui no Brasil, fizemos 100 anos no mundo no ano passado, então o AFS tem muita história para contar. E o AFS é gente, é formado por pessoas, e pessoas que viveram muitas histórias, desde quando conheceu o AFS pela primeira vez, depois quando passou pelo processo seletivo e viajou pela organização ou ganhou a bolsa que transformou a vida daquela pessoa que jamais teria tido a oportunidade de viajar se não fosse a bolsa, depois se tornou voluntário, enfim, vocês vão ouvir muitas histórias bacanas aí dos nossos voluntários porque é muita história!

P/1 – E como foi contar a sua história?

R – Ah, foi bacana porque quando falaram que eu ia ficar uma hora e meia, duas horas eu falei: “Gente, é muita coisa para falar, eu não vou ter tanto assunto assim, né?”, mas, a gente ficaria mais se desse. (risos) Então, eu é que agradeço a oportunidade. Você começou me agradecendo mas sou eu que agradeço pela oportunidade.

P/1 – O que é isso! Obrigada!