Museu da Pessoa

Por onde passei minhas férias

autoria: Museu da Pessoa personagem: Thirley Reink de Vasconcelos

Mestres do Brasil: Suas memórias, saberes e histórias
Depoimento de Thirley Reinke
Entrevistada por Julia Basso e Winny Choe
Rio de Janeiro, 24/09/2008
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: OFMB_HV020
Transcrito por Michelle de Oliveira Alencar
Revisado por Luiza Gallo Favareto


P/1 – Thirley, pra começar eu quero que você me fale o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.

R – É Thirley Reinke de Vasconcelos. Eu nasci em Nova Iguaçu, aqui no Rio. Tenho 31 anos, nasci dia trinta de janeiro de 1977.

P/1 – E os seus pais, como eles chamam?

R – Meu pai é Severino Ramos Batista de Vasconcelos e a minha mãe Nilza Luz Reinke de Vasconcelos.

P/1 – E onde eles nasceram?

R – Meu pai nasceu na Paraíba, meu pai é paraibano. E a minha mãe nasceu aqui, no Rio de Janeiro, é carioca.

P/1 – E quando que ele veio aqui pro Rio?

R – Meu pai veio pro Rio acho que com dezesseis anos. Até porque quando ele serviu ao exército ele serviu aqui no Rio, ele já morava.

P/1 – E ele te contava por que ele veio?

R – Não, ele veio porque eu acho que devia ter alguma dificuldade de família, porque quando ele veio, logo depois os outros irmãos dele vieram pra cá. Como eles eram três filhos homens, lá não, há muito tempo atrás a gente sabe que não tinha muita opção de emprego, trabalho, essas coisas, então eles vieram todos para o Rio, quem ficou lá foi a minha avó e o meu avô, depois que o meu avô faleceu a minha avó veio pra cá também. Aí que passou todo mundo a morar aqui no Rio. Lá ele só tem primos, parentes mais distantes agora.

P/1 – E quando ele chegou aqui no Rio você sabe o que ele começou a fazer? Ele foi trabalhar no quê?

R – Quando ele chegou, ele ficou fazendo, se eu não me engano, biscate, trabalhar em casa, lavoura, essas coisas que ainda tinha aqui rural, porque ele era acostumado a trabalhar lá. E depois que ele serviu ao exército que ele saiu, ele começou a trabalhar de garçom, o meu pai trabalhou de garçom a vida toda e se aposentou nessa profissão.

P/1 – Ele devia ter histórias várias de garçom?

R – Muitas, muitas, ele trabalhou no antigo Iate Clube do Rio de Janeiro, no Jóquei Clube, muitos lugares assim. Ele tem muitas histórias, ele conta até hoje várias histórias. Com o tempo também ele abriu casa de show, lanchonete, bares, essas coisas porque sempre dá aquele vínculo, já tem o costume de trabalhar. Tinha bares que ele abria com os irmãos, porque todos os dois irmãos dele também, que vieram depois, pegaram a profissão de garçom. Meu tio ainda trabalha até hoje, o meu tio mais novo ele trabalha até hoje como garçom, quando senta os três pra conversar, pra contar as histórias, porque eles trabalhavam no mesmo lugar, já trabalharam. É muito legal, tem muitas histórias.

P/1 – Você lembra alguma história?

R – (risos) Não lembro muito, não. Ele conheceu muito artista, ele fala muito de artistas famosos que iam pra lá, eram muitos gentis com ele. Ele gostava muito, o Iate Clube principalmente, porque ele dizia que só ia gente muito famosa, bebia uísque, essas coisas pra gente, pra ele que veio de um estado mais... Eram coisas diferentes. São muitas coisas que ele conta.

P/1 – E quando você era criança, você morava em Nova Iguaçu?

R – Não. Eu acho, eu tenho quase certeza que eu sempre morei na Baixada, mas em São João de Meriti, não em Nova Iguaçu. Mas foram os três primeiros filhos da minha mãe, nasceram todos em Nova Iguaçu, que era o mais próximo e tinha mais recursos de atendimento médico. Nós três nascemos em Nova Iguaçu, minha irmã mais nova nasceu em Nilópolis, mas a gente sempre morou em São João.

P/1 – E como que era na sua infância? Você morava com os seus pais?

R – Eu sempre morei com os meus pais, nossa casa era grande. Minha infância, tudo pra mim só era brincadeira, porque eu sempre brinquei muito em brincadeiras de rua. Meus amigos eram amigos de rua mesmo, a colega vizinha do outro lado. Minha mãe, na época, quando era pequena ela tinha um bazarzinho, ela ficava o dia inteiro fora, o meu pai era garçom, ele chegava de madrugada, vamos dizer cinco, seis horas da manhã, ele dormia até às onze, meio dia pra poder descansar pra trabalhar, porque ele trabalhava todos os dias, o único dia de folga dele era segunda-feira. A gente ficava muito com empregada da casa, não era babá, era empregada da casa que fazia todas as tarefas. A gente ficava muito solta, brincava o dia inteiro na rua de casinha, de pique, muito mais de casinha porque o quintal da minha casa era grande. As colegas vinham pra minha casa a gente montava aquelas cozinhas, antigamente a gente brincava muito de panelinha, de comidinha, de cortar mato, fazer de comidinha. A gente brincava muito assim. O que eu mais me lembro da minha infância mesmo é isso, são brincadeiras. Depois de certa idade a gente começou, o meu pai, depois de se acostumar com alguns serviços, ele começou a pegar período de férias, então o que a gente fazia? A gente acampava, passava um mês, janeiro todinho que era o mês de férias da gente, acampando. Eu me lembro muito que, às vezes, começava as aulas e eu estava acampando, o meu pai não tinha nem feito matrícula. Quando eu voltava era aquele desespero: “Vai estudar onde? Como é que vai conseguir a vaga pra poder estudar?” Muitas vezes era o amigo, os conhecidos que conseguiam a vaga pra eu poder voltar a estudar, porque nesse ponto sempre foi muito. Mas o mais divertido de tudo era isso, eram as brincadeiras e os acampamentos que a gente fazia, eram muito legais.

P/2 – Pra onde vocês iam quando vocês acampavam?

R – Pra você ter uma noção, nós íamos pra praias, uma das primeiras praias que a gente acampou foi aqui em Itacuruçá, porque na época era liberado o acampamento, o camping era feito em praia. Eu nunca acampei em locais de sítios, terrenos de camping, não, era só em praia. Uma das primeiras praias que eu acampei foi aqui, eu tinha o quê? Eu tinha por volta de seis anos, sete anos, acampei aqui até aos treze anos. Depois proibiram o camping aqui, a gente foi pra outra praia, mas tudo aqui na Costa Verde. Fomos para outra praia chamada Itacurubitiba, acampei lá dos treze aos dezesseis anos. Proibiram lá também. Foi acabando, a gente foi ficando mais velho também, tinha aquele negócio de começar o estudo mais normal, porque eu fiz Normal pra segundo grau, era mais difícil, tinha que ir mesmo, tinha aquele período certo que não podia deixar de fazer matrícula, igual era antigamente. A gente começou a cortar, começou a cortar até que o meu pai acabou. O que aconteceu? Quando ele terminou esse negócio de camping ele construiu a casa, a gente veio morar, morar não, a gente teve casa de veraneio que foi aqui em Itacuruçá, voltamos pra cá. Aí a gente parou de acampar, vinha final de ano, férias, a gente vinha pra cá pra praia.

P/1 – A casa que você mora hoje aqui em Itacuruçá, é essa casa?

R – Não. Eu já morei aqui até quatro anos atrás, eu morei nessa casa, porque quando eu vim trabalhar aqui ficaria mais perto pra mim. Eu morei quatro anos nessa casa. Agora não, eu construí a minha casa, moro em Coroa Grande que é uma praia próxima, é a primeira praia próxima daqui, só que já é outro município. Agora eu moro lá, tem quatro anos que eu estou morando na minha casa, saí da casa do papai e fui morar na minha casa.

P/1 – Na sua casa. E quando você era criança, você começou aprender a ler em casa ou você foi pra escola?

R – Eu me lembro, eu acho engraçado isso hoje que eu vejo até com o meu filho. Eu me lembro que quando eu era bem pequena, devia ter uns quatro anos, cinco anos, minha mãe, todo mundo que chegava em casa, pegava jornal pra mostrar: “Olha como que ela já sabe ler”. Aí eu lia. Mas eu acho que depois disso eu dei uma parada, eu desaprendi, você desaprendeu. Eu não me lembro direito o que aconteceu, eu sei que foi, nessa época a minha mãe ficava toda entusiasmada: “Olha lá, ela já sabe ler isso e aquilo”. Mas eu não estudava em escola, estudava numa casa de uma pessoa próxima que tinha um monte de criança, eu acho a mãe botava lá pra não ficar dentro de casa e ela ensinava letrinhas, recortes, a gente ficava fazendo aquela bagunça. E depois eu comecei, eu me lembro do meu CA, eu me lembro de tudo. Eu me lembro que eu comecei a ler, pegava cartilha e já sabia ler. Mas eu não me lembro exatamente se naquela época de três anos, quatro anos, eu já sabia ler ou só identificava algumas palavras. Eu me lembro disso.

P/1 – E mais pra frente quando você começou a ficar jovem, onde você estudava?

R – Eu estudei em muitos lugares por causa desse problema de acampamento, de não ter, eu estudava numa escola, no outro ano eu passava pra outra, estudava em outra. Eu até a oitava série, ao completar o ensino fundamental todo, se eu não me engano, eu estudei em quatro ou cinco escolas diferentes, ia pulando, passava um ano, dois anos em uma, e dois anos em outra, em dois anos em outra. A escola que eu fiquei mais tempo foi a última onde eu completei a oitava série, eu fiquei a sexta, a sétima e a oitava, três anos. Era muito pulando, muito de um galho pro outro, tive ensinos totalmente diferentes, professores totalmente diferentes, tamanhos de escolas diferentes.
P/1 – E como foi isso pra você? O que você acha que isso influenciou na sua vida?

R – Difícil pra mim só era a adaptação, porque como eu ia pulando de escola em escola. Na primeira escola, eu me lembro que eu fiz o CA, era próximo de casa, era fácil, mas também não me dava muitas, eu não tinha muitos amigos, porque os meus amigos não estudavam na mesma escola, e os amigos dessa escola vinham de outros lugares diferentes, a gente só tinha contato dentro da sala de aula. Não vou dizer: “ah, tinha amizade, isso aquilo”, não tinha, tinha amizade de sala de aula, do horário do recreio. Quando eu estudei a segunda série até a terceira série, eu estudei numa outra escola mais próxima de casa, eu tinha amigos ali que estudavam comigo e que moravam perto de mim, a gente brincava, tinha uma vida mais perto, mais próxima. Foi legal. Só que a minha escola, essa escola tinha beliscões; puxões de orelha; palmatória; “vai ficar de castigo no milho”. Ainda peguei isso porque a dona da escola, que era professora da escola, era muito antiga, ela era assim. E as salas não eram salas divididas, eram salas, a segunda série virada pra lá pra aquele quadro, a primeira série virada pra aquele, e a terceira série virada. Era todo mundo junto, era uma bagunça só, a verdade era essa, era uma bagunça só, mas a gente se dava bem porque todo mundo era próximo. Não foi uma aprendizagem muito boa, mas a amizade, as coisas foram melhores. Nessa mesma escola a minha irmã mais nova estudou, por ser próxima de casa, ficou mais fácil, a minha irmã já estudou. Depois eu passei pra uma escola maior, mais distante da minha casa, uma escola grande, particular, onde era uma diferença muito grande, aquele monte de sala, três andares de prédio, você fica totalmente perdida. Não tem amizade nenhuma, não fiz amizade nenhuma dentro dessa escola, que eu possa dizer: “Ah, fui um dia na casa de fulano”, porque meu pai ia me buscar de bicicleta, porque nossa situação não era muito boa, ele pagava a escola porque a minha irmã trabalhava nessa escola e conseguiu uma bolsa pra mim, na época ela trabalhava em ônibus escolar, ela ficava responsável dentro do ônibus pra levar os alunos em casa. Mas meu pai não tinha dinheiro pra pagar o ônibus, ele pagava a mensalidade e ele ia me buscar de bicicleta. A maioria dos alunos ali eram filhinhos de papai, tinham mais condições, ou iam embora de ônibus ou o pai e a mãe iam buscar de carro. Não tinha muita amizade, a gente não tinha um contato maior porque eu era diferente, era uma classe diferente, uma classe social que, graças a Deus hoje em dia eu vejo uma diferença, uma distinção menor, uma discriminação menor, mas antigamente ainda se tinha muito essa discriminação de: “Ah, fulano é rico, fulano tem condições, fulano não é, filho de garçom” e eu sempre fui filha de garçom. Então, eu não fiz amizade nenhuma. Quando eu passei pra essa outra escola que eu fiz a sexta, a sétima e a oitava série foi uma coisa totalmente diferente pra mim, porque não era mais grande, era uma escola razoável, tinham dois andares o prédio, mas não era muito grande e os amigos, as pessoas ali eram parecidas, todo mundo na mesma história, a mesma coisa, nós fizemos uma amizade muito grande porque eu tenho amigos até hoje que eu estudei até a oitava série. Eu acho que foi a escola que eu mais me adaptei, mais fiz amigos, mais participei, mais fiz passeios juntos, saímos juntos, dormíamos uma na casa da outra. As amigas vinham para o acampamento junto comigo, pra praia, depois vieram pra casa de praia do meu pai que ele fez. Onde eu fiz mais amigos foi desse período de três anos no final do ensino fundamental.

P/1 – E o que mais vocês faziam pra se divertir na juventude? Vocês iam à festas?

R – Não, nessa idade não. A minha família, a minha mãe teve uma criação muito legal. A gente só podia sair depois de quinze anos (risos). Então, namorar, sair, depois de quinze anos, ou a não ser que uma irmã mais velha minha levasse a gente pra algum lugar com ela. Só que uma irmã mais velha minha tinha quinze anos, era quinze anos mais velha do que eu e a outra era treze anos mais velha do que eu. Elas não queriam sair com uma menininha, porque na época elas tinham namorado. Muito pouco eu saí até aos quinze anos de idade, muito pouco.

P/1 – Quinze foi um marco então?

R – Foi (risos), foi o primeiro namorado. Podia falar: “Não, tô namorando” beijar, ir ao baile, foi bem, bem legal, soltou, soltou. Mas sempre fui muito comportada nesse ponto, não sei se porque eu fiquei presa, também não fui de esbanjar porque fiz quinze anos e saí não. Mesmo porque quando eu fiz quinze anos eu estava fazendo o Normal, eu estudava a noite, nunca fui de faltar à aula pra sair, pra ir. Então prendeu também mais um pouquinho, e logo depois eu comecei a trabalhar, fazer estágios remunerados pra poder compensar as horas de estágio que eu tinha pra cumprir na formação de professores e pra poder ganhar um dinheirinho extra também, porque você está mocinha, o meu pai não tinha muita condição, eu precisava, pra você comprar uma roupa, você sair, pra ir ao baile, mesmo que antigamente as damas não pagassem, mas você queria tomar um refrigerante, um negócio e você tem que ter o seu dinheiro, passagem, essas coisas. Eu comecei a trabalhar com dezesseis anos.

P/1 – Onde você trabalhava?

R – Eu trabalhei, na primeira escola que eu trabalhei, numa escolinha pequenininha. Porque aqui, aqui não, aqui nós não temos, mas lá pro Rio você tem muitas aquelas escolinhas jardim escola, casinha feliz, jardim escola fulaninho, tal. Eu comecei a trabalhar no Jardim Escola Casinha Feliz (risos), uma casinha feliz. Depois eu passei pro, meu Deus, esqueci, fugiu o nome, também era um nomezinho assim pequenininha, essas coisinhas, casinha alegre, casinha feliz.

P/1 – E, Thirley, fala uma coisa: como você decidiu ser professora? Você decidiu?

R – Eu decidi, eu decidi. Minhas irmãs fizeram enfermagem, nunca foram enfermeiras na vida (risos). Eu achava legal, eu sempre achei legal, eu gosto de lidar com crianças, sempre gostei. Eu me lembro que na oitava série, antes de eu terminar, eu já falava que eu ia fazer formação de professores, meus amigos queriam fazer administração, porque na época administração estava uma coisa, muitos poucos iam fazer informática e estavam começando a ter. Eu sempre disse que eu queria ser professora. Eu me lembro que uma vez o coordenador dessa última escola que eu estudei até falou assim: “Você vai ser professora? Você é tão devagar. Um dia vai sair um anúncio no jornal assim dizendo: ‘Professora encontrada pendurada no ventilador da sala de aula’.” (risos) Eu falei: “Gente, será que vai ser assim? Será que os alunos vão fazer isso de mim?” Mas eu consegui, tanto que eu sempre estudei em escola particular, no segundo grau, na época ainda era segundo grau, hoje ensino médio. O meu pai foi tentar achar uma vaga numa escola particular que tivesse formação de professores e lá na área era muito difícil escola particular ainda ter formação de professores, geralmente era enfermagem, administração, informática, estava começando. Ele conseguiu já era pra lá de fevereiro uma escola, mas umas amigas minhas que moravam na rua foram fazer numa escola pública e conseguiram uma vaga pra mim. Aí eu falei: “Pai, até pro senhor não pagar, porque tem a minha outra irmã também que o senhor ainda está pagando os estudos dela, eu posso fazer, não tem problema nenhum”. Só que eu acabei perdendo, porque se eu fosse fazer minha particular eu faria em três anos, como eu fui fazer na pública eu fiz em quatro, e fui estudar à noite, porque eu poderia estar estudando de manhã, à tarde, fui estudar à noite. Mas eu fiz em quatro anos a formação de professores à noite em uma escola pública em Nova Iguaçu, na época era Nova Iguaçu, hoje em dia é Mesquita que emancipou, a escola onde eu estudava ficou em Mesquita, mas na época era Nova Iguaçu.



P/1 – E quando você terminou você começou a trabalhar?

R – Quando eu terminei eu já trabalhava.

P/1 – Ah, já trabalhava.

R – Já trabalhava nessa tal Casinha Feliz. Depois que eu terminei, eu saí da Casinha Feliz passei pra outra escola pequena também, só pra crianças, educação básica, só jardim, eu trabalhei mais um ano. Depois eu acho que eu parei um pouco de trabalhar, eu devo ter ficado um ano, dois anos parada até que eu vim pra cá. Eu entrei aqui como contratada, contrato com a prefeitura, e depois eu fiz o concurso público e entrei.

P/1 – E, Thirley, me fala uma coisa, você é casada hoje em dia?

R – Eu sou, eu não sou casada legalmente, mas eu moro com o meu marido já tem dez anos, tenho um filho. A gente não é casado no papel, mas a gente já mora há bastante tempo juntos.

P/1 – E como foi isso? Como você o conheceu?

R – Nossa, como eu conheci ele, a história bem, meu marido é bombeiro.

Hoje em dia ele está aposentado, mas ele é bombeiro. Ele, na época, ainda era bombeiro e fazia bicos, ele dirigia Kombis. Fazia o trajeto de Itacuraçá–Itaguaí, aqui no município é tudo muito precário, eu não vou dizer, não é um estado degradativo não, mas precário porque não tem mesmo muitos recursos, nós não temos supermercados; nós não temos shopping; transporte; nós só temos uma linha de ônibus que corre dentro do município, é tudo muito precário. As Kombis, as lotadas eram freqüentes aqui, não agora, não tanto quanto era antigamente. Ele fazia uma dessas lotadas, a gente se conheceu assim: ele dirigindo, ele dirigindo Kombi, a gente se conheceu. Ele conhecia a minha irmã, depois eu conheci ele, eu falei: “Poxa, conheço”, ela: “Ele é legal, ele é bombeiro”, eu falei: “Ele é bombeiro? Não sabia! Pra mim ele só dirigia Kombi”. “Não, ele é bombeiro”. Depois a gente ficou um ano juntos, ele até parou de dirigir Kombi, porque ele não podia nem estar fazendo esse tipo de... Porque, por ele ser militar ele não. Mas ele parou e a gente continuou juntos, e estamos até hoje, estamos juntos até hoje.

P/1 – E o seu filhote?

R – Meu filho tem quatro anos, nasceu há pouco tempo, é pequenininho, amor da mamãe, meu primeiro filho, então...

P/1 – Como ele se chama?

R – Gabriel.

P/1 – Olha só!

R – É um santo, um anjo (risos), um anjo como o nome dele diz: anjo Gabriel, nossa, muito levado!

P/1 – E foi programado?

R – Foi. Ele foi, ele foi. A gente queria mesmo. Ele pediu pra mim pra que eu ficasse grávida, porque eu também estava no começo, tinha acabado de passar em concurso. Claro, eu não ia, já tinha passado no concurso, não tinha medo de ficar desempregada, mas a gente tem sempre aquele negócio: está no começo de uma coisa, de um trabalho, de uma coisa, você: “Será que vai dar certo? Será que não vai?” Mas a gente pensou bastante antes de ter, ele veio com tudo certinho.

P/1 – E aqui no Caetano, o que você faz?

R – Eu aqui no Caetano eu estou trabalhando agora, eu sou lotada como professora. Eu sou professora, se pintar algum galho eu vou pra sala de aula na boa, dou aula sem problema nenhum. Mas eu estou aqui no laboratório de informática, estou trabalhando como FML [Formadores Mediadores Locais] no caso, porque a gente trabalha aqui com o projeto da Oi, da Oi Futuro, e eu estou trabalhando como FML, ajudando nesse projeto.

P/1 – E como usam esse espaço aqui?

R – Bem, aqui nós usamos os espaços de acordo com as necessidades dos alunos, dos professores. Eles programam aulas, pesquisas, às vezes até bate-papo com alguns outros projetos que sejam via internet, eles usam essa área pra bate-papo. Os professores desenvolvem aulas utilizando computadores, quadro digital que a gente tem na escola, várias coisas. E a gente utiliza também com a comunidade, junto com a comunidade desenvolvendo trabalhos, ajudando em alguns, resolver alguns problemas do cotidiano das pessoas da comunidade. E a gente consegue ir caminhando.

P/1 – Você estava me falando dos impactos, as mudanças que tiveram na comunidade pelo uso da sala de informática. Eu queria que você me falasse mais um pouco disso. O que mudou?

R – Nossa, como eu falei antes, o nosso município aqui é meio precário de algumas coisas. Então a internet, nossa! Nós não temos Velox que o pessoal do Rio, internet a cabo, essas coisas nós não temos, TV a cabo, nada disso aqui.

Você chegar com a internet é uma coisa que abala um pouquinho: “Nossa, como é que é? Como é que funciona, isso, aquilo”. Os alunos aqui, muitos não têm condições de ter um computador dentro de casa, muito menos com acesso à internet, à rede.

Quer dizer, foi muito interessante ver as pessoas, às vezes até de idade, porque como eu falei, tem EJA aqui, o Ensino de Jovens e Adultos na escola, e muitas pessoas de idade que não frequentaram o normal estão fazendo agora o EJA pra poder tirar um diploma. E eles não conheciam o computador, muito menos o que era internet, pra eles era um mundo diferente e eles puderam ter o contato e ver que realmente não era aquela coisa tão diferente, mas que era bom pra eles, eles ficavam com os olhinhos brilhando. Uma pessoa de idade você ver aqueles olhinhos empolgados com o que estava aprendendo, que mexer numa tecla ou mexer num mouse e apertar alguma coisa não vai destruir o computador, nada vai explodir. Eles acham muito interessante. Até hoje tem alguns outros projetos dentro do município com a internet, aqui dentro da escola você vê muitas pessoas que não sabiam, não sabem, não sabem mexer, não sabem usar os programas básicos do computador. Eu acho que a carência maior ainda é essa, porque muito se fala da internet, mas você vê poucas pessoas que sabem usar as funções básicas do computador como: digitar alguma coisa; imprimir; usar uma impressora; escanear alguma coisa; usar uma imagem; fazer alguma coisa. Você vê muita dificuldade ainda nisso, mesmo trabalhando, tendo mais uma área aberta, você vê ainda muita dificuldade nisso. Muito mais fácil eles usarem internet hoje em dia do que usarem a própria máquina. Ligar e desligar pra eles ainda é um bicho de sete cabeças.

P/1 – Entendi. Aliás, aqui ao lado da sala de informática tem dois mimeógrafos.

R – O que acontece? Época de prova a gente imprime a prova na matricial. O professor traz, às vezes, disquete que nem abre mais no computador, a gente: “Poxa, não dá pra trazer um cd ou então um pen drivezinho, porque às vezes disquete implica”. A gente imprime a prova no estêncil, aquela “folhona” de estêncil, o professor vai lá e tchum tchum tchum, roda, às vezes, quarenta, cinquenta folhinhas de prova, se for mais de uma folha, então vai sessenta, setenta, roda ali no mimeógrafo. Nós agora, graças a Deus, a escola conseguiu comprar uma xerox. A partir de agora do último bimestre, do último período agora que eles vão ver se conseguem fazer as provas todas xerocadas, bonitinhas. Vamos ver como é que vai funcionar.

P/1 – Você estava contando uma história engraçada sobre uma professora, como foi?

R – Isso foi outra história, ela chegou, abriu o mimeógrafo, olhou, olhou de um lado, olhou pro outro. Todo mundo sentado na sala dos professores, o mimeógrafo geralmente fica na sala dos professores pra ter acesso a todos os professores. Aí ela pegou aquela massaroca de folha grande, a gente ficou olhando, estranho. Você no mimeógrafo, você tem que colocar um “álcoolzinho” pra poder molhar o estêncil. Ela não fez nada disso, ela pegou aquela massaroca de folha, botou e foi enfiando dentro do mimeógrafo. A gente olhou: “Amor, o que você está fazendo?” Ela: “Não, eu vou rodar umas folhas”. “Não, a gente está vendo, mas você que está botando tanta folha...” “Ué, mas não é assim? É assim que a gente bota na xerox”. “Ah tá, na escola onde você trabalhou tinha xerox, aqui não é assim, não. Espera aí que a gente vai te ensinar”. E fomos lá, tiramos as folhas que tem que botar de uma em uma, rodamos e ela: “Ah é?” A gente: “É, e tem que botar álcool aqui, senão não sai, não vai rodando o estêncil, não vai sair nada na sua prova”. Ela ficou toda, quer dizer, ela retrocedeu no que ela já sabia no que ela já tinha passado.

P/1 – Ela achou que era como máquina de xerox que puxava?

R – Ela ia puxar as folhas automaticamente (risos). Foi muito engraçado esse dia.

P/1 – E aqui na escola? Quem são os alunos que vem pra cá que você convive?

R – Eu convivo por causa do meu horário de trabalho, porque eu não trabalho o dia inteiro, eu tenho um horário de trabalho. No meu horário de trabalho eu convivo com os alunos do segundo segmento do ensino fundamental, que são alunos de quinta a oitava série, agora nem de quinta, são do sexto ano ao nono ano e o ensino médio que são os alunos. Aqui nós só temos formação geral, então são os alunos de formação geral do ensino médio.

P/1 – E o pessoal da Ilha que você falou. Como foi essa história?

R – Isso, nós temos, agora este ano nós estamos acho que com um ou dois só, porque passou a ter o ensino médio lá este ano na Ilha, por causa desse problema de horário, de eles ficarem muito tempo ociosos, eles viriam pra cá da Ilha da Marambaia num barco da Marinha, barco da Marinha saía muito cedo de lá, saía seis horas. Tinha alunos que moravam do outro lado da Ilha, eles tinham que sair de casa por volta de quatro horas da manhã, andar uma trilha no meio da Ilha, numa trilha de mato fechado pra pegar o barco da Marinha no porto da Marinha. Era muito cansativo pra eles, alguns dormiam dentro da sala de aula. A verdade era que os alunos, às vezes, dormiam, dependendo da aula que eles estavam tendo eles dormiam. Isso nunca foi nem muito cobrado deles porque a gente sabia da dificuldade que eles passavam pra poder estar completando o ensino médio. E graças a Deus a maioria completou no ano passado, eles terminaram o ensino médio, conseguiram se formar, uma grande luta que eles tiveram pra poder fazer isso. Como eles ficavam na escola até o período de meio dia e quinze, quinze pra uma, eles, depois que saíam da escola, tinham que ficar esperando o barco da Marinha também pra ir embora, até às seis horas da tarde que é horário que o barco da Marinha entrava pra Ilha da Marambaia. Muitos desses alunos ficavam sentados pela praça, rodando em pontos de ônibus, às vezes até no cais, no próprio cais, sem eira nem beira, sem alimentação porque muitos não tinham dinheiro pra ficar pagando almoço, lanche, fora da escola. Há dois anos atrás nós fizemos um projeto aqui dentro da escola com eles, com a ajuda da direção, foi um apoio da direção também, pra que eles ficassem dentro da escola trabalhando no laboratório de informática, fazendo cursozinho pra serem alunos monitores, eles passaram um ano, depois que eles conseguiram fazer o curso ficaram um ano aqui dentro como alunos monitores, ajudando as turmas no horário da tarde, porque eles estudavam de manhã, no horário da tarde eles ajudavam os alunos menores do primeiro segmento a utilizar o computador, mexer nas letrinhas, entrar na internet, fazer desenhos. Eles ficavam na escola, a escola cedia pra eles o almoço, o lanche da tarde, eles ficavam alimentados e evitava que eles ficassem na rua. Mesmo porque ficando na rua, eles estavam uniformizados, qualquer coisa que acontecesse com eles era responsabilidade da escola, mesmo eles não estando em horário de aula, por eles estarem uniformizados. Isso foi muito bom pra eles, eu acho que ajudou com que eles tivessem continuidade no ensino médio pra poder se formar. E eles tiveram o apoio da escola em tudo que eles precisaram até o final.

P/1 – E são alunos de comunidades quilombolas?

R – São. Eles são remanescentes dos quilombolas, eles lá, eles têm uma comunidade, que são comunidades remanescentes dos quilombolas. Eles têm projetos, eles desenvolvem a cultura dos quilombolas lá dentro da comunidade deles. São todos negros, negros, não tem aquela miscigenação ainda, são negros, negros mesmo.

P/1 – E como a escola se relaciona com isso? Isso tem algum impacto?

R – Na época nós tivemos projetos trabalhando nisso, porque estava havendo um recadastramento das comunidades, e eles estavam tendo dificuldades de assumir a comunidade deles como remanescentes. Então, a gente entrou num projeto com eles. Eles fizeram um projeto – saiu até em algumas rádios, alguns meios de comunicação – sobre essa comunidade deles, foi muito interessante. Tanto que hoje todo mundo que você chegar aqui na escola e perguntar, eles vão falar: “Nossa, tem a Ilha da Marambaia que tem uns remanescentes quilombolas lá”. Ficou uma coisa muito boa, muito legal, muito bem trabalhada.

P/1 – E nesse projeto com eles tem alguma história que você se lembre?

R – Eles eram muito, muito divertidos. Eu me lembro de uma vez que eles foram dar uma entrevista justamente por causa desse projeto, o pessoal chegou aqui, eles ficaram meio: câmera, luz, “nossa, o que é isso? Nós vamos precisar tirar foto mesmo? Tem que falar na frente do microfone?” A menina, pra deixar eles mais: “Vamos fazer o seguinte: vamos lá pra praia, vamos lá tirar onde vocês pegam o barco”. Aí fomos pro cais lá. Nossa, lá eles se largaram: eles deitaram no chão, tiraram foto, levaram o teclado do computador, tiravam foto com o teclado, ficou muito legal. Eles se soltaram, porque eles estavam com uma tensão tão grande aqui dentro, eles viravam pra mim: “Tia!”. Tinha outro menino também que trabalhava aqui: “Jaede, a gente não quer falar nada não, Jaede. A gente não conhece, a gente vai aparecer onde? No computador?” (risos). A gente: “É, também, só que vai ser uma reportagem”. “Mas a gente não sabe falar assim, não”. “Calma, vocês vão ver, ela vai conversar com vocês normalmente, não é coisa difícil, não”. Mas foi muito divertido. Depois, quando foram tirar as fotos então, parecia que eles eram artistas, tiraram foto rindo, brincando. Quando começaram a brincar saiu muito legal, a gente não pensou que ia sair tão legal e saiu muito legal.

P/1 – E, Thirley, o que você tem agora como projeto? Qual seu sonho, expectativa?

R – Pra mim, em minha vida eu pretendo agora terminar a minha faculdade que eu estou fazendo, uma luta danada. O meu sonho agora é terminar a minha faculdade. Depois eu posso fazer um mestrado, uma pós, alguma coisa assim. Mas na minha dificuldade, o meu sonho maior agora é terminar a minha faculdade, conseguir conciliar ela com o meu filho pequeno que vai começar agora em escola. Pra mim a situação é bem…

P/1 – E o que você estuda?

R – Eu estou fazendo Pedagogia. Eu não quero sair da área da educação infantil. Então eu não optei por nenhuma outra faculdade, assim: Letras, Biologia, nada disso, porque eu nunca, eu nunca pretendi, sempre quando, desde que eu sonhei ser professora sempre sonhei em ser professora de criança, educação infantil. Pra mim a Pedagogia é o que eu preciso, necessito e vem enriquecer talvez a minha história na educação.

P/1 – E como é dar aula pra criança pequenininha?

R – É muito engraçado. Pra mim é melhor ainda, porque eu fico igual a eles, eu sento no chão, eu sou assim, eu sou, gosto de pintar, desenhar. Em casa quem faz os desenhos pro meu filho sou eu, a gente assiste alguma coisa: “Vamos fazer?” “Vamos”. Então eu sento com ele, vamos fazer, recortar. Às vezes ele fica olhando como quem diz: “’Pô, mãe, não vai deixar eu fazer nada não?” (risos) então eu faço. E com as crianças eu sempre trabalhei com jardim, com primeiro segmento, sempre gostei de fazer muito trabalhos manuais, pesquisas, trabalho em grupo, porque eu acho que isso engrandece, enriquece a aula, enriquece, engrandece a criança. Você trabalhar em grupo, em sociedade, em conjunto, acho isso muito interessante, sempre gostei, sempre fui assim.

P/1 – Que bacana! Tem mais alguma coisa que você gostaria de contar que passou pela sua cabeça e a gente não tocou, mas que você lembrou?

R – Não, não. Até acho que colocamos bastante coisas interessantes, assim tudo.

P/1 – Várias histórias, não é? (risos)

R – Várias histórias. Muito longe de uma coisa pra outra, ficou bem. Acho que tudo. Se você puxar de repente eu lembro alguma coisa, mas lembrar de coisas muito, muito, muito não.

P/1 – Eu fiquei pensando no acampamento. Como era? Vocês iam de barraca?

R – De barraca, aquelas barracas assim...

P/1 – De lona?

R - De lona com ferro, umas ferragens grandes, todo mundo montava. Tinha quartos individuais; tinha barraca de dois quartos; tinha barraca de três quartos. Dormia as crianças num quarto, meu pai e a minha mãe num outro quarto. Levava muitos amigos, era uma bagunça danada. Não tinha luz, então a gente ficava só até certa hora acordado, depois tinha que dormir. Não tinha televisão; não tinha geladeira; não tinha nada disso. Era muito legal. Ficava à noite, às vezes fazia luau na beira da praia, porque geralmente onde a gente ficava tinha praia, então a gente fazia um luauzinho. Ficava fazendo brincadeiras, a gente adorava fazer brincadeiras, detetive, que tinha muito antigamente, a gente fazia uma brincadeira chamada Volta ao Mundo também, Lá vai o Ganso, eram muitas brincadeiras que a gente fazia sentada na areia da praia, várias pessoas, não só que estavam comigo, mas amigos que a gente tinha conhecido no acampamento. A gente acampava muito em época de Carnaval, a gente gostava de fazer fantasias, usava muito folhagem, matos ou bolsas, sacolas plásticas, fazia aquelas roupas recortadas, fazia desfile no Carnaval. Era muito legal.

P/1 – E o que vocês comiam?

R – Bem, olha, aqui em Itacuruçá a gente comia comida normal, apesar do que o meu pai, ele sempre gostou de acampar em praia porque o meu pai pesca, meu pai adora pescar. Uma coisa que ele faz, adora pescar. Ele gosta de fazer, ele faz frutos do mar, ele faz muito bem. O prato chefe do meu pai é a sopa de siri, toda vez que o meu pai chega a gente tem que arrumar um siri pra fazer uma sopa de siri. O meu pai gostava muito de pescar, então nós comíamos muito frutos do mar: sopa de siri, à noite, geralmente era sopa de siri. O meu pai acabava de pescar, passava arrastão a gente já catava os siris, botava pra cozinhar e fazia a sopa. Arraia, meu pai pegava muito arraia, a gente gostava, adorava comer filé de arraia, nossa, era muito gostoso. Camarão, a gente adorava comer camarão. Quando a gente saiu daqui de Itacuruçá e fomos acampar em outro lugar, lá tinha cachoeira, nós pegávamos muito pitu, não sei se vocês já ouviram falar em pitu que é um camarão de água doce, só que ele tem umas garras assim, e nós pegávamos muito pitu, nossa! Nós fazíamos pitu frito. Comíamos fruta-pão, não sei se vocês já ouviram falar também, lá tinha muito pé de fruta-pão, a minha mãe fazia bolinho de fruta-pão; nhoque de fruta-pão; purê de fruta-pão; a gente comia muitas coisas de lá. E banana, banana então, Nossa Senhora, era muita banana, aquele local era banana e você olhava o morro era bananeira pra todo lado, a gente comia muita. Hoje em dia eu como banana, mas nem tanto, perto da minha casa também tem muita bananeira, mas nem tanta como eu comia quando era pequena nesses acampamentos que a gente fazia. Ficavam cachos e cachos encostados dentro da barraca cobertos pra amadurecer e a gente poder comer a banana. Era muito legal. Parte de alimentação era um fast food danado.

P/1 – Um festival, não é?

R – Nossa, muito bom! Tanto de frutos do mar quanto dessas coisas que a gente… Muito legal.

P/1 – Bacana. E o que você achou de falar um pouco pra gente disso? De relembrar?

R – Eu sou de falar muito com as pessoas, mas diferente você estar falando, sabendo que mais pessoas depois vão ver você estar falando só com uma pessoa. Mas é legal você relembrar, dá uma felicidade na gente lembrar coisas boas, é muito legal.

P/1 – Ah, então eu quero agradecer por você ter compartilhado isso com a gente, um pouquinho da sua vida. Obrigada.

R – De nada. Pode contar, se precisar a gente está aí.(risos).

P/1 – Legal!