Museu da Pessoa

O umbuzeiro guarda a sua riqueza para os momentos de dificuldade

autoria: Museu da Pessoa personagem: Dailson Andrade Santos

Projeto: Mercado Livre - Biomas que Transformam
Entrevista de Dailson Andrade Santos
Entrevistado por Grazielle Pellicel
Local: São Paulo (SP) e Tucano (BA)
Data: 07/06/2022
Realização: Museu da Pessoa
Código da entrevista: PCSH_HV1210
Transcrito por Monica Alves
Revisado por Grazielle Pellicel

00:00:19
P/1 - Oi Dailson, tudo bem com você?
R - Tudo bem!
P/1 - Que bom. Para começar, eu gostaria que você falasse o seu nome completo, a sua data e local de nascimento, por favor.
R - Dailson Andrade Santos, local de nascimento [é] Tucano (BA) [e] a data [é] 27 de abril de 1987.

00:00:46
P/1 - Sua família por acaso te contou como é que foi o dia do seu nascimento?
R - Sei que foi um dia traumático. Eu sou gêmeo, minha irmã nasceu primeiro, e eu demorei mais ou menos uma hora para nascer depois de ser puxado à força.

00:01:11
P/1 - E aí não teve nenhum problema por causa disso?
R - Não teve trauma nenhum, foi sossegado.

00:01:20
P/1 - Qual é o nome da sua mãe?
R - O nome da minha mãe é Maria Andrade Santos.

00:01:28
P/1 - Fala pra gente um pouquinho sobre a parte da família dela.
R - Minha mãe é filha de Judite Maria da Conceição, que não se encontra mais aqui também. Minha mãe faleceu na semana passada, filha de Joaquim Vitório [e] era uma trabalhadora rural, agricultora familiar, que sempre lidou com o campo, com as lavouras, os labores do dia de casa. [Também] era uma mãe dedicada, filha dedicada. Não concluiu os estudos, estudou até o ensino fundamental, [que ficou] incompleto. [Ela] era batalhadora.

00:02:15
P/1 - E o nome do seu pai, como é?
R - O nome do meu pai é João Ferreira Santos, também é lavrador, assentado da reforma agrária. Filho de Moacir e de Albertina, tem mais catorze irmãos. Sempre lutou muito, viveu no centro do campo, e sempre trabalhou na zona rural.

00:02:73
P/1 - E desses catorze irmãos do seu pai, você tem algum tio favorito, tia?
R - Tem esse meu tio Miguel. Acho que ainda está vivo hoje. É um tio que conviveu muito com a gente, criou a gente por um período ainda, mais ou menos uns cinco anos. Ele que ajudou a [nos] criar quando meu pai se ausentava, ele é quem dava suporte à família.

00:03:09
P/1 - E você tem irmãos?
R - Sim, tenho mais quatro irmãos: minha irmã gêmea, eu sou gêmeo com uma irmã, Daiane; tenho uma irmã mais nova que se chama Gilmara; tenho um irmão mais velho, que é o Joaldo; e o do meio, que é o Davi Andrade.

00:03:28
P/1 - E como é a relação de vocês?
R - Somos uma família muito unida, todos nós. Somos uma família que veio de muita dificuldade, já passamos por muita dificuldade, sempre trabalhamos muito a união, uma família que conversa bastante, [que] um apoia o outro. Cada um foi para uma carreira profissional: um é professor, o outro exerceu mandato político, vereador, o outro já foi secretário, a outra é contadora, e a outra é técnica de radiologia. Sempre fomos uma família unida, conversamos sobre todos os assuntos, brigamos muito também, mas sentamos à mesa, conversamos, e sempre chegamos a um denominador comum.

00:04:22
P/1 - E seus pais, você sabe como eles se conheceram?
R - Não, era muita história antigamente.

00:04:36
P/1 - Existe algum costume especial na sua família, algum tipo de comemoração que vocês fazem?
R - Sim, nós costumamos comemorar o São João, até porque o nome do meu pai é João, em homenagem a São João. Eu e minha irmã somos da matriz católica, somos gêmeos, então a gente sempre comemora o dia de Cosme e Damião. São datas que a família se junta para comemorar; fazemos devoção à Cosme e Damião.

00:05:13
P/1 - E tem algum São João ou Cosme e Damião que te marcou, que você lembra?
R - Todos são especiais, é o momento que a gente se junta. E Cosme e Damião, o último foi do ano passado, que foi o último que nossa mãe estava presente, e não estará mais a partir de agora.

00:05:40
P/1 - A sua família te contava histórias quando você era criança?
R - Contava as histórias. Minha mãe também, na infância, sofreu muito, sempre trabalhando, sem ter oportunidade para estudar. Meu pai também não teve oportunidade de estudar, então geralmente eles contavam muita história de sofrimento daquela época, da dificuldade de uma região como a nossa, do sertão, o quanto era difícil. A fome não era um talvez, era certeza; a água não era talvez, era que não teria água. Eles contavam muito essas coisas da dificuldade. A gente escutava aquilo e assimilava que a gente queria buscar um caminho diferente desse de dificuldades, mas sempre valorizando essas lutas que foram empreitadas por eles.

00:06:35
P/1 - E eles eram também de Tucano, na Bahia, ou eles eram de outra origem?
R - Minha mãe vem de outro município chamado Banzaê, e meu pai vem de um município chamado Euclides da Cunha. São cidades próximas até, que naquela época as cidades eram muito distantes. Eles vêm dessas raízes.

00:07:00
P/1 - Você lembra da casa da sua infância? Consegue descrevê-la?
R - Sim. A primeira casa, a gente teve uma casa que foi incendiada, o botijão de gás incendiou a casa. Inclusive, em um dia de caruru. Era uma casa que tinha dois quartos: tinha o quarto do meu pai e [da] minha mãe… Não tinha banheiro [dentro de casa], o banheiro era lá fora, de taipa. Dormia todo mundo junto, em um colchão, às vezes até no chão mesmo, porque não tinha onde dormir. [Era] pouca opção de louça para comer, a comida era muito rara, comer carne era uma beldade, era a mesma coisa que comer caviar nos dias de hoje. Mas, era uma casa muito pequena. A segunda casa já era maior. Foi uma casa [em] que todos os filhos se juntaram, resolvemos, fizemos esforços, trabalhamos para dar uma casa melhor para minha mãe. Já era uma casa que tinha mais quartos, um piso melhor, tinha geladeira. Foi nos anos 2005, 2006.

00:08:12
P/1 - Como é que aconteceu o incêndio na primeira casa?
R - Eu era muito novo. Minha mãe contou que estava preparando o caruru e, de repente, uma panela de pressão estourou, o botijão também explodiu e pegou fogo na casa toda. A gente era menor, muito novinho, fomos retirados às pressas, e perdemos a casa inteira.

00:08:38
P/1 - E você lembra desse momento?
R - Não, eu tinha três anos de idade.

00:08:46
P/1 - Você, seus pais, seus irmãos, tinham costume de se reunir para ouvir rádio, assistir TV?
R - Televisão, sim. A gente foi conhecer a televisão em 1999. Existia uma TV comunitária na comunidade rural onde a gente mora: então, a televisão [era ligada] todos os dias à noite, às vinte horas. Era a diversão da comunidade. Não tinha energia, a televisão funcionava em um gerador a combustível. Então toda família ia lá para assistir porque não tinha [outro tipo de] entretenimento.

00:09:23
P/1 - A televisão ficava na praça da cidade? Como era?
R - Era uma casa [de] como se fosse um administrador do povoado, porque a prefeitura bancava essa televisão para a população do povoado.

00:09:41
P/1 - E quando criança, você tinha alguma brincadeira favorita? Muitos amigos?
R - Tinha muito amigo, tenho até hoje. Brincadeiras normais de criança, de quem não tinha condições de comprar brinquedo, inventava os nossos próprios brinquedos, muito futebol, as coisas que a própria natureza disponibilizava, embalagens velhas. Fazia brinquedo com tudo que achava.

00:10:10
P/1 - E seus amigos, você falou que tem amigos que vão até hoje?
R - Sim, alguns se foram na adolescência, mas muitos se mantêm hoje, principalmente na comunidade, que a comunidade é rural. Vive cerca de quatrocentas pessoas [lá], não tem como todo mundo não se conhecer. Muitos deles ainda estão vivos.

00:10:35
P/1 - Tem alguma comida da sua infância que te marcou, que você lembra do sabor até hoje?
R - A primeira vez que eu comi uma carne na minha vida, eu lembro muito, foi uma carne de boi que a minha avó

comprou quando se aposentou. Nós fomos apresentados à carne [quando] eu tinha nove anos de idade, então me marcou muito aquele dia.

00:11:03
P/1 - E o sabor era como você esperava que fosse?
R - Não tinha como mensurar, eu não sabia como era o sabor de carne, não tinha como fazer um parâmetro. Sei que era algo muito bom, um sabor bom. Era diferente. A gente só comia animais da caatinga, ovos, era o que tinha, e na maioria das vezes não tinha carne, era só feijão e farinha.

00:11:36
P/1 - Quais são os animais da caatinga que vocês comiam?
R - Naquela época, tinha muito tatu, peba, essas caças que eram muito ofertadas naquela região, tinha muito. Meu era caçador, ele ia caçar, ficava rodando as regiões para vender essa caça no dia da feira livre, para comprar alguma coisa pra casa. Acabava que essa caça que vinha, a gente usava para comer também.

00:12:14
P/1 - E criança, você tinha algum sonho do que você queria ser quando crescesse?
R - O sonho sempre foi ajudar a família, dar uma condição de vida melhor para minha mãe, para a minha avó. Sempre foi esse o sonho.

00:12:32
P/1 - Você lembra da sua primeira escola?
R - Lembro que eu bagunçava muito, era muito danado. Eu ia para a escola e ficava brincando com os brinquedos. A minha professora tinha um filho, tinha muito brinquedo, trator de plástico, coisa que a gente não tinha condições de comprar, então, ao invés de ficar assistindo aula, eu ficava brincando com os brinquedos do filho da professora. Chegava em casa e tomava bronca da minha mãe, da minha avó, porque não estava estudando. Mas, para mim, era uma forma de ficar feliz, porque eu não tinha aqueles brinquedos. A primeira escola foi isso, a que marca muito.

00:13:20
P/1 - Você tem algum professor que te marcou, tanto da primeira escola ou depois?
R - Tem dois. A primeira, a segunda professora da infância, a Dona Cleusa - ainda está viva -, professora da antiga cartilha que a gente estudava, e tem a professora Firmino que eu conheci no ensino médio, professora de literatura, que hoje virou uma amiga também, a gente sempre conversa. Ela diz que é mais uma admiradora minha, não sei porquê, mas ela diz.

00:13:56
P/1 - E quais eram suas matérias favoritas?
R - Sempre a área de exatas, foi a área que eu sempre me dei bem, e as aulas de história.

00:14:10
P/1 - Tem algum momento da escola que te marcou e você nunca esqueceu?
R - Sim, no ensino fundamental. Eu tenho três fases. No ensino fundamental, da quinta à oitava série, eu era um aluno muito bagunçado. Eu tinha dois colegas, que não estão mais presentes, a gente era muito traquina, não estudava. Era um colégio religioso, [então] todo dia tinha que chegar e rezar para depois entrar na sala; a gente nunca rezou, a gente sempre foi para bagunçar. Mas o que marcou nesse período do colégio religioso é que eu passei direto. Então, eu pegava as matérias, não assistia aula a semana inteira, mas no final de semana eu pegava o caderno das colegas, aprendia as coisas facilmente, ia fazer a prova e passava. A professora, chegou um momento que no final do ano queria me reprovar por falta, mas [por causa] da nota, não tinha como reprovar. Foi esse momento.

00:15:16
P/1 - Então você faltava bastante?
R - Da quinta à oitava série sim, muito.

00:15:25
P/1 -

Por que você faltava?
R - Diversão, tinha amizade, a gente só queria saber de curtir. Era um colégio religioso, tinha um pomar imenso, a gente só ia para a escola para ficar brincando, tirando sarro das pessoas.

00:15:45
P/1 - E quando você esteve na escola, você já tinha alguma ideia do que ia fazer depois?
R - Sim. Quando eu terminei a escola, já estava em um projeto social, no ensino médio, em um projeto de formação de lideranças juvenis, já tinha uma cabeça bem informada, passado por um longo processo de formação social, política. Então, na verdade, descobri que na escola eu tinha perdido muito tempo. Era uma escola que não ensinava a nossa cultura, não ensinava o que a gente queria. Então sempre foi ter a graduação e transformar a sociedade, esse era o [meu] objetivo.

00:16:28
P/1 - E como é que você entrou em contato com essa formação?
R - Foi através de um projeto do Sindicato dos trabalhadores rurais da cidade, que chamou para um seminário com os jovens, que o objetivo era discutir políticas públicas para a juventude. A gente conheceu esse projeto, entramos no projeto com outros jovens do município, e começamos a participar de uma série de formações e capacitações em direitos na sociedade, conhecimento político. Foi a partir disso.

00:17:10
P/1 - E isso mudou bastante… Você falou que mudou bastante a sua cabeça, mas você começou a ajudar a sua comunidade? Como foi?
R - Sim, isso mudou bastante. A gente acabou mudando a nossa forma de pensar, de atuar na sociedade. Então, a partir do projeto a [nossa] cabeça muda, a gente começou a ter uma nova concepção. Na escola, a gente sempre ouvia: “Você tem que estudar, porque aqui na zona rural não tem nada”, sempre essa ideia de que não era possível viver. A partir da formação que nós passamos, a gente entendeu que não, era o contrário: era possível viver sim na nossa região; que, na verdade, esse discurso era para expulsar a gente e para negar direitos. A gente começou a se envolver com a associação, fazer movimentações, assumir cargos na associação da comunidade. Depois, naturalmente, isso aparece politicamente, a gente foi para política, meu irmão virou vereador - tudo fruto dos jovens desse movimento -, tivemos cargos em cooperativas. No próprio sindicato, a gente assumiu cargo, até na igreja a gente mexeu nas estruturas. Então, é o sentimento de revolução, de mudar, de não se conformar com aquela realidade. Na escola também refletiu muito, muitas vezes a gente chamou a escola para discutir qual era o papel dela, se ela realmente estava formando a gente ou expulsando da nossa realidade, provocando debate revolucionário mesmo: qual era a escola que nós queríamos, se era aquela escola. Eu lembro muito de um episódio, nos cinquenta anos da escola, no ensino médio, eu fui convidado para falar, dar um depoimento, e eu falei que os três anos na escola foram os três anos perdidos da minha história, porque tudo o que eu aprendi fora da escola foi muito mais importante do que o letramento, conhecer a ciência que estava nos livros, que a escola não ensinava o que estava fora dos livros. Foi um constrangimento danado. Enfim, eu costumo dizer que a partir 2004 eu era uma pessoa, de 2004 para cá, eu entendi que era outra pessoa. Me descobri através desse movimento de jovens, que não é só uma formação social e política, foi enquanto pessoa. A gente se descobriu. Eu era uma pessoa muito tímida para falar, [e] a partir das formações fui entendendo como se expressar. Todos nós que passamos por esse projeto falamos que somos um a partir dele. É claro que nem todo mundo se transformou, tem gente que ficou pior, mas a grande maioria hoje tem a cabeça diferente; a gente também entendeu. Lembro muito de um episódio que a gente conheceu um sociólogo boliviano chamado Bernardo Toro, que falava sobre os sete códigos da modernidade, e um dos códigos que a gente sempre lembrou foi a capacidade de ler e interpretar o que está escrito, ler e saber o que está por trás do que está escrito, essa capacidade da autocrítica. Foi um fato marcante, e isso foi para a escola. Então, escolher fazer foi uma consequência. A gente não foi por modismo, por uma onda, não, a gente escolhia aquilo que se encaixava dentro do projeto pessoal de vida, a partir dessas formações.

00:21:00
P/1 - Nesse momento, você já pensava em fazer alguma faculdade? Via que era possível fazer uma faculdade?
R - Sim, já pensava em fazer faculdade. Inicialmente, era fazer na área das ciências políticas, mas depois veio a área de exatas, e a gente entrou na área de exatas. Surgiu as políticas públicas no governo Lula, destinadas à formação universitária; eu fiz uma universidade paga, eu não acessei o Prouni. Eu paguei a universidade, trabalhava em uma cooperativa de crédito, mas muitos colegas meus fizeram universidade a partir do Prouni, do Enem, do Sisu. Então é uma geração… A gente lembra muito da foto. Quando a gente começou, em 2004, uma turma de noventa jovens, três tinham o ensino superior; em 2012, essa mesma turma tinha 48 [pessoas] com ensino superior. Então todo mundo foi para área que se identificou: psicologia, teve gente que foi para medicina, foi para o direito. E desses três que tinham ensino superior, nenhum era mestrado; desses quarenta, 21 eram mestrando e três, doutorando, dessa turma de jovens. Então a gente entendeu o que era universidade, a gente entendeu [que] você tem que ter um título. Cada um foi indo para aquilo que se identificava com a sua formação. Então a universidade foi uma necessidade que a gente entendeu, que precisava ter a questão da formação superior. E até muito mais: eles vão ter que engolir que tem gente pobre lá dentro, vai ter que engolir a gente com canudo. Então a gente foi muito mais com ousadia.

00:22:55
P/1 - Como é que foi para a sua família e para você também, [ser] a primeira geração que foi para uma faculdade?
R - Onde eu moro, nós somos a primeira família em que todo mundo tem o curso superior: os cinco irmãos têm ensino superior. Naturalmente, se torna orgulho para a família. Tanto o meu pai [quanto] a minha mãe sempre defenderam que o que eles não tiveram, a gente não poderia deixar de ter, que o acesso aos estudos sempre foi prioridade, mesmo na dificuldade. Nunca faltou estímulo para estudar, que meu pai sempre dizia: “Eu não consigo… Todo mundo pode tirar tudo de vocês, agora, o conhecimento ninguém vai conseguir tirar. O que eu não tive, eu quero que vocês tenham”. Tem esse orgulho até hoje, a gente acaba estimulando muitos jovens a se espelhar na gente. Por mais que passamos muitas dificuldades, as dificuldades não foram motivo para desanimar, e [é] o orgulho da família. Muitas vezes, a gente vê nosso pai conversando com alguns amigos e falando tudo o que a gente já fez. Tem esse orgulho.

00:24:12
P/1 - Tem algum momento marcante desse período da faculdade que você não esquece?
R - Me arrependi de ter feito a faculdade que eu fiz. Não era para ter feito aquela, era para ter feito uma presencial. Eu fiz uma a distância. Acho que faltou muita coisa para aprender, depois eu tive que correr atrás para compensar. Então o arrependimento foi esse. A turma não era muito boa, era muita gente de várias cidades, cada um com cabeças diferentes. Eu fui para uma turma sozinho, não tinha turma que era do projeto, mas o arrependimento maior é esse de não ter feito uma universidade pública e presencial.

00:24:58
P/1 - E seu primeiro trabalho foi quando?
R - Eu comecei o meu primeiro trabalho em uma cooperativa de crédito. Foi em uma ONG primeiro, essa mesma ONG que era coordenadora do projeto; depois eu virei um colaborador dela por um período. De lá, eu saí para uma cooperativa de crédito, para ser dirigente; com vinte e poucos anos, eu já era dirigente de uma cooperativa de crédito que movimentava seis milhões e meio [de reais] por mês. Já assumi um cargo de diretor operacional, tinha que cuidar de todo esse patrimônio. Fiquei lá durante oito anos, depois eu saí da cooperativa e de lá eu fui para ser secretário de governo da minha cidade, fui o secretário mais novo da história da cidade, para além da estrutura de poder, como um todo. De lá, eu saí para a Coopercuc (Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá), que foi a cooperativa que participou do Mercado Livre. Foi essa a trajetória.

00:26:06
P/1 - Essa primeira cooperativa que você trabalhou te influenciou a gerir a atual?
R - Sim, porque a gente aprendeu muita coisa, principalmente que não tomar uma decisão é mais caro do que tomar. Às vezes, quando você não toma uma decisão, é mais caro do que você tomar, porque quando você toma, avalia o que acertou e o que errou. Quando você não toma, não tem elementos para julgar nada, porque simplesmente você não tomou. Então foi uma questão muito forte que a gente aprendeu, que todo dia tinha que decidir. A gente tinha que comprar dinheiro e vender dinheiro constantemente. Esse é um aprendizado que eu trago até hoje para formação profissional, essa coisa de decidir as coisas rápido; no mundo financeiro, você não pode esperar. Não tem muito o que esperar, tem que decidir.

00:27:08
P/1 - Como é que você se tornou secretário?
R - Pelas correlações de força. A partir do projeto, a gente já era bastante conhecido politicamente, as coisas foram indo, a gente foi assumindo posições nos partidos políticos, ajudamos a eleger o prefeito. Quando eu saí da cooperativa, chegou esse convite para assumir esse cargo importante para lá no município. Meu irmão já era vereador. Então hoje, dentro da política do município, a gente é um dos atores que ajuda [a] decidir, enfrentar o sistema político que existe. Hoje, nós estamos na fileira da oposição ao governo atual. Então, em 2004, a gente era só zoadores, era revolucionário. Hoje, nós somos lideranças que já passou pelo governo, deixou coisas boas e também ruins, porque não tem como não deixar, mas que as pessoas escutam. Então nós somos vozes que somos escutadas; era o que a gente desejava em 2004. A partir da gente, o futuro da cidade passa… O que a gente sempre desejou em 2004, a gente questionava porque a cidade passa por essas cabeças; [e] hoje passa pelas nossas também. A forma que a gente pensa o município, o desenvolvimento, as pessoas estão dispostas a ouvir o que a gente pensa. Eu entendo que a minha fala hoje tem um poder forte sobre a tomada de decisões da cidade, as pessoas querem saber as nossas opiniões, é evidente que a gente vai ser julgado, de bom de ruim, vai ter muita gente que vai bater. A gente já apanhou muito, na própria mídia, na sociedade como um todo, mas sempre preservando essa coisa da simplicidade. Então, eu era secretário que andava no carro sem ar condicionado; era irreal aquilo em uma cidade como a nossa, que todo mundo que virava secretário comprava logo um carrão Não, a gente andava no carro sem ar condicionado, a gente não mudou a nossa forma de ser por estar no governo. A gente entendia que o governo era uma das etapas, então a gente tinha que implementar aquilo que a gente aprendeu na formação política. Conseguimos fazer um orçamento participativo em uma cidade de quase duzentos anos, a gente conseguiu movimentar a sociedade para fazer o orçamento participativo, porque foi assim que a gente foi formado e acredita até hoje que essa é a forma correta de gerir os recursos públicos. A gente tentou colocar na prefeitura tudo isso, mas entendendo que uma hora isso ia acabar e a gente ia continuar do mesmo jeito. O poder é transitório, é passageiro, não é eterno.

00:30:08
P/1 - E atualmente você participa de alguma forma na sua cidade politicamente?
R - Sim. Sou filiado a partido político, sou dirigente do partido, participo de vários conselhos gestores. Hoje [participo] muito menos por conta de estar na Coopercuc, acaba que a agenda de trabalho acaba consumindo, mas temos deputados que fazem campanha. Enfim, a gente faz política 24 horas, não está afastado da política: faz política dentro de casa, na igreja, no sindicato. Faz política em tudo.

00:30:42
P/1 - E a Coopercuc, como é que você entrou? Você que fundou ela ou não?
R - Não. Na Coopercuc, eu entrei em 2019, a partir de um projeto do governo do estado, um projeto que tem como foco a geração, o acesso das famílias da agricultura familiar à empresas do mercado privado. É um projeto que o governo apoiou por um período nessas cooperativas, para contratar profissionais da área de mercado para trabalhar nelas. Eu passei em uma seleção: a cooperativa abriu um edital, eu inscrevi meu currículo. A partir do currículo, eu fui selecionado e entrei em abril de 2019 na Coopercuc.

00:31:30
P/1 - E quais são as principais atividades da Coopercuc?
R - A Coopercuc é uma cooperativa que trabalha com o beneficiamento de frutas da caatinga, visa valorizar o bioma da caatinga. [Ela] tem muito como filosofia que aqui não se combate a seca, se convive com ela, e transforma isso em produtos; tem como personalidade de sua marca. A gente tem como filosofia que não [se] vende produto, nós vendemos histórias de superação de mulheres que lá na década de noventa decidiram criar uma cooperativa, para trabalhar com umbu, que é uma fruta típica de nossa região, que não tinha valorização. A Coopercuc trabalha com o beneficiamento dessas frutas, trabalha com uma linha de produtos orgânicos. É a única cooperativa do mundo que produz umbu orgânico. Em nenhum outro lugar do planeta terra vai existir esse tipo de produto. E tem como foco a geração de renda no semear, a convivência com o semear. A gente sempre costuma dizer que a Coopercuc é o resultado dessa convivência: essa convivência com o semear é possível, é viável, é real e existe; e a gente mostra a cada dia com isso, levando os produtos da caatinga para o mundo. [É] uma cooperativa que exporta, já exportou para vários países, mas hoje só exporta para Alemanha. Vende no Brasil inteiro, em redes de supermercado. Então quando eu decidi vir para a Coopercuc foi com essa experiência: preciso chegar nela com tudo isso que ela tem, sabendo dos desafios que ela tem; trazer essa experiência que tinha na cooperativa de crédito para uma cooperativa agropecuária de pequenos produtores.

00:33:32
P/1 - Você pode falar um pouquinho sobre essa cooperativa das mulheres? Do umbu, que você comentou.
R - É a Coopercuc [mesmo]. Hoje ela é formada setenta porcento por mulheres. Foram as mulheres que na década de noventa decidiram, que organizaram a cooperativa. Tem homens também: ela foi fundada por 44 cooperados; dos 44, 24 eram mulheres, o restante eram homens. Hoje, ela tem 272 cooperados: 170 são mulheres, o restante é homem. E trabalha com uma diversa gama de produtos da agricultura familiar: doces, geléias, cervejas artesanais, licores, cachaça, picolés, temperos, queijo. Ela trabalha com uma diversidade de produtos, sempre nesse foco, do bioma, caatinga, orgânico, agroecológico e do semear.

00:34:23
P/1 - Essas matérias primas são todas da caatinga? Só existe na caatinga?
R - São todas da caatinga. Hoje, a gente trabalha com umbu e maracujá da caatinga, que é um maracujá típico da nossa região, e também trabalha com as outras frutas, mas as matrizes são essas duas. A gente também trabalha com acerola, com a manga, com a goiaba, também orgânicas, de áreas desses produtores. O umbu é extrativista, está na caatinga. Os produtores, a gente tem aqui comunidades tradicionais de fundo de pastas, que são comunidades, áreas coletivas que preservam a caatinga. Toda nossa filosofia é na preservação ambiental.

00:35:04
P/1 - E esse trabalho exige alguma técnica tradicional?
R - Essas comunidades são tradicionais, elas têm isso de gerações em gerações, essa preservação. O umbuzeiro, para a gente, é uma coisa muito da ancestralidade, dos índios, que já vem de muito tempo - o umbuzeiro -, com outras coisas que tinham na caatinga que ao longo do tempo foram se perdendo, mas o umbuzeiro resiste. O umbuzeiro é aquela planta que no meio do sertão, nos momentos mais críticos de estiagem, é a única planta que está verde, porque ele tem um armazenamento de água em sua raízes, [que se] chama batata do umbuzeiro. Ele consegue armazenar até trezentos litros de água, ele guarda a água. Ele é muito a simbologia do semear que a gente começou a aprender: ele guarda a sua riqueza para os momentos de dificuldade que é a estiagem; é um pouco disso, o umbuzeiro.

00:36:15
P/1 - Como é que vocês fazem para contribuir com o bioma de maneira… Por exemplo, vocês replantam, essas coisas?
R - A gente começou ao longo dos anos a fazer um trabalho de replantio dessas áreas de umbuzeiro para preservar, mas também para encurtar processos de produção. O umbuzeiro demora em média de dez a doze anos para estar pronto para dar frutos. A gente já tem vários projetos aqui na Coopercuc, que com cinco anos a gente está conseguindo encurtar esse tempo de produção dos umbuzeiros, em consórcios com a caatinga, mas são experiências ainda pequenas. Tem alguns produtores que são, a gente chama de áreas de teste, mas a gente tem feito vários estudos para encurtar esse tempo de produção, encurtar esses dez, doze anos para cinco, seis anos, e ir preservando essas áreas, convivendo o umbuzeiro com o bode, com a cabra, que é muito típico também na nossa região.

00:37:22
P/1 - Vocês tiveram alguma parceria para capacitação, ou para melhorar os recursos para atingir mais pessoas, como vocês vendem nessas histórias?
R - Sim, nós tivemos muito durante esse período. A Coopercuc tem dezoito anos, completa dezoito anos na semana que vem [e] teve muita formação da União europeia, de muitas organizações sociais aqui da região, desde como ensinar a fazer uma geléia na década de noventa: essas geléias eram feita embaixo do pé de umbuzeiro, em um fogão a lenha. Vejo hoje várias organizações orientarem a cooperativa desde o processo de gestão, profissionalização da gestão, boas práticas de fabricação, até porque a gente sempre se incomodou com essa coisa, que é da agricultura familiar: "Pode ser feio, pode ser mal feito", a gente nunca se contentou com isso. A gente entende como filosofia que a gente vai ter o melhor produto do mundo, e [o] mais lindo do mundo. A gente sempre trouxe isso e muita gente contribuiu nessa trajetória, são várias, não tem como mensurar a quantidade de organizações que apoiou essa história.

00:38:37
P/1 - Você comentou antes que vocês exportam para a Alemanha, tem algum outro lugar que o produto chegou e vocês nunca imaginaram que chegaria?
R - Sim, o pessoal relata. Eu não estava na época, mas em 2006 foi enviado um contêiner para a Áustria de doces de umbu. Foi um fato marcante na história da cooperativa. Acredito que até no nosso site tem uma dessas fotos que mostra o caminhão chegando na antiga sede da cooperativa, esses caminhão contêiner levando os produtos do umbu. Aquilo provocou um alvoroço muito grande na cidade, a cidade de Uauá (BA), a cidade da cooperativa, uma cidade que naquela época tinha catorze mil habitantes, todo mundo pobre. O umbu era uma coisa desorganizada e saiu uma carreta. Realmente foi uma festa na cidade, teve foguetório, carro de som, porque era um feito inimaginável para a população local. Essa venda para a Áustria foi que marcou muito, depois disso a gente foi aprendendo a como fazer.

00:39:46
P/1 - Existe alguma receita, alguma coisa que vocês comem com umbu?
R - A gente costuma dizer que o umbu dá tudo, então a gente consegue fazer, a partir do umbu, 32 produtos. Nenhuma fruta, a gente conhece fruta no Brasil hoje, que consegue de uma fruta gerar tantos produtos como o umbu gera. Umbu é muito típico da nossa região, a gente come com tudo: come umbu com ele do pé chupando com sal, toma suco, toma umbuzada, que é o umbu amassado com leite, ele vira como se fosse um mingau que é muito forte. Naquela época, servia como alimento. Você não tinha comida… A umbuzada é muito forte, umbu é muito rico em vitamina c, o melhor fruto de vitamina c. Você pode botar lá no chão que ele não vai chegar a [ter] acidez, que um umbu… O umbu representa a nossa cultura. Muitas vezes a gente, em casa, onde eu moro que não é uma região muito produtora de umbu, mas tem um pé de umbuzeiro [e] o pé era um ponto de encontro, lá era meio de sobrevivência. Enfim, o umbu é parte da nossa cultura.



00:41:15
P/1 - Você considera que a cooperativa gera impacto positivo para a comunidade?
R - Quando faz essa pergunta, eu sempre devolvo com uma pergunta. Imagina que em 1999, as famílias iam para a beira da estrada vender saco de umbu de cinquenta quilos a dez centavos para não passar fome, e hoje, imagina que muitas dessas famílias levam uma cooperativa que paga cinquenta reais em uma saca. Mudou, [né]? Eu sempre devolvo com essa pergunta, porque eu acho que isso explica tudo. Sendo que em 1999 quem ia para a pista vender umbu, era sinal de que estava passando fome, era o último estágio, você não tinha mais o que fazer. É um pouco disso.

00:42:19
P/1 - Você tem como descrever como é o umbu, como é o sabor para as pessoas que são de fora da caatinga e não conhecem?
R - O umbu é da família das tuberosas, então ele é próximo da caja, da cajarana, do umbu caja. Ele é dessa família das esponjas, com um diferencial: o umbu consegue ter um nível de potássio maior, de acidez maior, tem o brix maior, e ele é muito mais marcante, ele consegue ser mais marcante. Você pode misturar umbu com qualquer outra fruta, dificilmente aquela fruta vai superar o gosto do umbu. Geralmente quando a gente faz blend de frutas, sempre uma vai até ficar igual, mas com o umbu não consegue. A gente fala que o umbu é a raiz do sertanejo nordestino, que mesmo na dificuldade, ele consegue se sobressair, ele consegue ser destaque mesmo com todas as coisas contrárias que tem a ele. De característica do umbu, é isso. Você vai chupar ele… Muita gente vai odiar, porque ele tem um nível de acidez muito alto, mas muita gente vai gostar porque não vai encontrar essa acidez em nenhuma outra fruta, você vai procurar semelhanças e não vai existir essa acidez que você encontra no umbu. Tem muita gente que não está acostumada com esse nível de acidez tão elevado, então vai estranhar em um primeiro momento.

00:43:52
P/1 - Voltando um pouco, porque a gente estava falando da parte pessoal. Você é casado?
R - Sim, eu sou noivo há quinze anos.

00:44:00
P/1 - Eu queria que você contasse pra gente, como que Tucano mudou desde que você era criança até agora?
R - Tucano é uma cidade de quase duzentos anos, uma cidade que já foi vila imperial. É uma cidade muito rica, tem um lençol freático muito grande, abastece muitas cidades da Bahia. É uma cidade que tem muitas instâncias hidrominerais, águas termais. Tinha muitos brejos que eram reservas de água, minadores de água, que ao longo do tempo, com o progresso, que a gente tanto diz, foi sendo destruído. Já foi muito produtor de feijão, hoje não é mais; o desmatamento minou isso. Tucano, hoje, é um município muito forte na arte da pintura; da abelha com ferrão: é o 5º produtor de mel da Bahia, está entre os trinta no Brasil; é muito forte na criação de pequenos animais, principalmente ovelhas. Agricultura ainda resiste um pouco, mas não tanto. É uma cidade dependente de políticas do governo municipal, tem 54% da sua população na faixa da extrema pobreza, que sobrevive do bolsa família e da aposentadoria rural, dos programas sociais. É um município com o IDH intermediário. Tem essas coisas ruins, mas é um município que tem na parte da educação elevados índices, tem um dos melhores (Idévis?) da Bahia, bastante elevado. Tem muita gente que está na universidade, que foi para o ramo da educação. A gente consegue ver muita gente de Tucano sendo servidores de várias prefeituras nas regiões, passar em concurso, a gente vê promotor, juiz, delegado, que vieram dessa geração. É uma cidade muito propícia para a educação, as pessoas gostam de estudar muito. É uma cidade pacata, mas que as drogas chegaram muito forte. Existe muita disputa de tráfico, que é uma realidade das pequenas cidades brasileiras, mas é uma cidade que tem um povo muito forte, muito empreendedor, que se reinventa a cada dia.

00:46:45
P/1 - Qual você acha que vai ser o seu legado para as próximas gerações?
R - O fato de se indignar com o que não é indignável, ou seja, você não se conformar com aquilo que está dado, que [é] uma realidade que está dada, ela foi dada. Às vezes um problema pra gente, está sendo uma solução para alguém. Então, o problema da fome, alguém está se dando bem. A gente entender quem está se dando bem, quem está se dando mal, e equilibrar essas coisas. É sempre isso. Ou seja, quando eu não estiver mais aqui, ter esse legado, o legado da indignação, uma coisa que a gente sempre teve na formação, colocar o dedo na história, contar a história e um pedaço da história, como vocês são o Museu da história, ter um dedo da nossa história nessa história toda que está sendo contada. Isso é um pouco da filosofia que eu carrego.

00:47:47
P/1 - Você tem algum sonho que ainda não realizou?
R - Eu tive que adiar o meu mestrado em Portugal por mais dois anos. Meu maior sonho é não ter intolerância de cor, raça, de escolha sexual, de religião, a fome só ficar nos livros de história como algo que a gente conseguiu superar. Só sabe o que é a fome quem viveu. Às vezes você pode passar fome um dia, [agora], você passar fome vários anos não é experiência boa. Eu carrego isso como uma filosofia: que a gente consiga tirar a fome do sentimento vivo, e ela ficar nos livros de história. A gente aprender e ser aquela coisa pétrea mesmo, a gente não pode repetir isso. Eu acho que já estaria feliz se isso tudo acontecesse.

00:48:46
P/1 - Por fim, o que você achou de contar um pouco da sua história?
R - Achei bacana. A gente exercita pouco contar história. Às vezes a gente faz muita coisa e acaba não mensurando. Foi interessante.

00:49:04
P/1 - Dailson, muito obrigada em meu nome [e] em nome do Museu da Pessoa. A gente agradece muito!
R - Eu fico feliz, espero que eu tenha contribuído com mais uma história para o Museu.