Museu da Pessoa

O inventor da bicicleta foi o Junqueira

autoria: Museu da Pessoa personagem: Arthur Visconti

Projeto A gente na Copa – História de gente que faz o país do futebol
Depoimento de Arthur Visconti
Entrevistado por Lucas Lara e Ricardo Micheli
São Paulo, 17/12/2013
Realização Museu da Pessoa
PCSH_HV437_ Arthur Visconti

P/1 – Bom seu Arthur, primeiramente eu queria agradecer a presença do senhor aqui, ter aceitado vir dar seu depoimento para gente. E para começar, eu gostaria que o senhor falasse o seu nome completo, o local e a cidade em que o senhor nasceu.

R – Arthur Visconti. São Paulo, capital.

P/1 – E o ano?

R – 1918.

P/1 – E qual é o nome dos seus pais, senhor Arthur?

R – Marcos Visconti e Josefina Sapia Visconti.

P/1 – E o que é que eles faziam? Qual era a profissão dos seus pais?

R – Meu pai era um vendedor ambulante e minha mãe fazia costura para lojas.

P/1 – E eles nasceram aqui no Brasil?

R – Não senhor, os dois calabreses, da Itália.

P/1 – E o senhor sabe por que eles vieram para cá? Quando eles vieram?

R – Porque vieram fazer vida aqui. E fizeram, formaram a família, uma bela família, dez filhos. Um só morreu novo, os nove vingaram.

P/1 – E como é o senhor nessa escadinha de dez filhos? O senhor é o mais velho, o mais novo? Como é que é?

R – Eu sou o penúltimo.

P/1 – E como era essa casa com tantos filhos, com tanta gente?

R – Bem, dávamos um jeito. Vivíamos, depois foram casando, casando. E os pais ficaram comigo como o último a casar.

P/1 – E como é que era a casa do senhor? Em que bairro o senhor morava aqui em São Paulo?

R – Morei no Bixiga, morei no centro da cidade, morei no Ipiranga, casado já. E agora moro em Moema.

P/1 – Diz para gente como era o Bixiga na época da sua infância?

R – Bom, para falar a verdade, eu nunca voltei para lá, não posso fazer uma comparação.

P/1 – E a sua família, seu Arthur, torcia para algum time? Como é que era?

R – Eu só tinha um irmão que era são-paulino, o resto todos palmeirenses.

P/1 – E o senhor se lembra por que escolheu torcer para o Palmeiras?

R – Italianos, Palestra Itália. Torcedor do Palmeiras. Eu e meus irmãos torcedores do Palmeiras. Só ficou um irmão que era são-paulino.

P/1 – E como é que vocês acompanhavam o futebol lá na sua casa?

R – Pelo rádio. Naquele tempo não existia televisão.

P/1 – E o senhor lembra de algum locutor que vocês escutavam? Alguma rádio? Como é que era?

R – Para falar a verdade, lembrar do nome, não. Mas era geralmente quase que o mesmo narrador. Não sei o nome, não me lembro.

P/1 – E nos dias de jogo, seu Arthur, a família se reunia em volta do rádio, como é que era?

R – Não, não, não era assim também tão fanática.

P/1 – E como é que era o senhor criança? Do que o senhor gostava de brincar, o senhor brincava na rua ou não?

R – Não, não, não. Nunca fui de brincar na rua, não.

P/1 – E o senhor gostava de jogar bola?

R – Não, nunca joguei. Só de brincadeira uma vez ou outra.

P/2 – Senhor Arthur, por que o seu irmão torceu para outro time diferente?

R – Não sei, não sei. Tendência.

P/2 – Era só ele que torcia?

R – Só ele, só ele.

P/2 – E como que era isso na família? Gerava alguma brincadeira? Algum problema?

R – Não, muito unida, não tinha divergência, nada disso, muito unida.

P/1 – Senhor Arthur, quando o senhor era pequeno, criança, tinha algum jogador do Palmeiras que era o seu ídolo ou aquele jogador que era famoso? Qual era o principal jogador?

R – Bom, quando era pequeno, pequeno não frequentava. Mesmo porque naquele tempo havia muito cuidado com os filhos, não é como agora que ele vai para rua e tal. A gente vivia muito em casa. Isso aí começou quando eu já era mais ou menos adulto.

P/1 – E qual era o jogador que o senhor gostava?

R – Bom, eu gostava do time. Tinha mais recentes, mais antigos. Eu me lembro sempre do Romeu, que era o Romeu Peliciari que era o centroavente, tinha jeito característico de atuar, ele ia passar uma bola, ficava meio inclinado e tal, jogava com um gorrinho, era um belo jogador. Tinha lá aqueles jogadores antigos, de alguns eu me lembro.

P/1 – Quais que o senhor se lembra além desse?

R – Bom, me lembro do Romeu, o Edu, Leivinha, César, o Gabardo. Enfim de muitos deles, Imparato, tinha muitos. E durante esse tempo todo que eu torci foram subindo os degraus.

P/1 – E o senhor ia muito ao estádio?

R – Não.

P/1 – Não?

R – De vez em quando eu ia, mas não era frequentador assíduo, nada.

P/1 – O senhor se lembra da primeira vez em que foi ao estádio?

R – Não, não me lembro, não.

P/1 – O senhor sentia que tinha alguma diferença torcer no estádio ou torcer ouvindo rádio, ou acompanhar pela TV? Qual era a diferença para o senhor? O senhor via alguma diferença? Algum era melhor, era mais legal?

R – Eu preferia porque estava em casa com minha mãe, meu pai, eu fui o último a casar, então eu ouvia pelo rádio. Frequentei relativamente pouco o campo de futebol, fui várias vezes. Houve depois uma fase que eu ia mais, porque tinha companheiros de trabalho que iam também. Então a gente ia. Ultimamente não vou mais.

P/1 – E quando vocês iam, vocês iam como? De carro, de ônibus? O senhor lembra, mais ou menos, o trajeto?

R – Ia de bonde, porque eu ia lá no campo do Palmeiras na Água Branca, eu ia assistir lá, então eu ia de bonde. Ia geralmente com dois irmãos que também frequentavam, íamos assistir lá. Isso era de vez em quando.

P/1 – E nessas vezes que o senhor foi ao estádio, o senhor ia de que forma? Ia com algum uniforme?

R – Não, não. Nada de uniforme. Nunca usei uniforme, nada disso.

P/1 – E como é que era essa relação, senhor Arthur, a torcida do Palmeiras e a torcida de outro time? Se nenhum dos dois usava uniforme, como é que era? Ficava todo mundo misturado ou separavam as torcidas? Como acontecia?

R – Não tinha separação. Era misturado mesmo, sabe?

P/1 – E qual é o primeiro título ou o mais antigo que o senhor se lembra de ter visto o Palmeiras ganhar?

R – Não me lembro não, remotamente, é coisa muito antiga. Ele ganhou... Vamos dizer, quando eu era menino, já ganhava, não sei dizer qual é o primeiro nem o último.

P/1 – Mas teve algum que marcou o senhor, que o senhor se lembra muito forte na memória?

R – Tinha times mais fortes, mais fracos. Tinha times bem bom mesmo, compreende? Eu tenho às vezes na memória um time ou outro, mas é isso aí.

P/2 – Senhor Arthur, o senhor se lembra como que era o estádio? Como que era a arquibancada quando o senhor ia?

R – Bom, o campo do Palmeiras tinha o apelido que era o Jardim Suspenso porque ele ficava mais alto, sabe? Esse campo que tinha lá ficava mais alto. Então lá que eu ia assistir, ficava geralmente na arquibancada. Eu tinha um irmão que frequentava muito a sede do Palmeiras, então ia com ele lá. Tinha mais irmãos chegados que ia junto, nunca ia sozinho. Ia de bonde, num bondinho que nos levava lá no Parque Antártica. Mais recentemente ia com o companheiro da empresa que eu trabalhava, palmeirense também.

P/2 – E essas arquibancadas já eram de cimento?

R – Cimento. Não, tinha cadeiras. Tinha cadeiras e a arquibancada era de cimento. Agora a gente ia às vezes quando tinha cadeira, mas muitas vezes no cimento levava jornal até para por.

P/2 – O pessoal levava bandeira? Tinha bandeira?

R – Não, nada disso. Nada de fanatismo, usar uniforme, nada disso.

P/2 – E como as pessoas se comportavam ali na torcida?

R – Como uma torcida. Ficava lá torcendo, gritando quando fazia um gol, reclamando quando uma jogada assim, assado. Vi várias coisas lá. Tinha um ponta esquerda chamado Imparato, ele se machucou, começou a sair sangue, tiraram ele, mas tiraram à força, ele não queria sair do campo, queria ficar. Mas tiraram ele à força para sair, era assim, amor! E naquele tempo não tinha grandes ganhos para o jogador, ganhava uma pouca coisa. E jogadores célebres não tinham uma vida, nada. Naquele tempo era duro mesmo para o jogador, não ficava rico nem nada, não havia substituição, não ficava reserva. Se o jogador se machucasse o time ficava com essa falta. Então, era duro mesmo. E dificilmente o jogador trocava de clube, porque ele era do Palmeiras, era do Palmeiras, era do Corinthians, era do Corinthians, ia até o fim. O clube era dono do jogador, não é como hoje. Tinha jogador que quando parava, saía já com muitos anos depois ele morria praticamente na miséria. Tinha gente que era ajudado, porque estava passando fome e tal. Jogador célebre. Tinha, porque não tinha lá ganhos enormes, nada disso, como é hoje. Então, hoje dificilmente você põe um quadro igual aquele que jogou no domingo passado. Era aquele time e aquele time ia até o fim. A gente guardava bem a escalação, tudo.

P/2 – E como o senhor acompanhava o campeonato, sabendo quando ia jogar?

R – Tinha jornal, tinha rádio, às vezes eu ouvia pelo rádio.

P/1 – E seu Arthur, deixa eu perguntar uma curiosidade para o senhor. Como era a bola de futebol naquela época?

R – Hoje é toda enfeitada, naquela época era de couro, cor cinza. Agora não, virou uma coisa gozada, tem quatro, cinco cores. Ainda estava observando isso outro dia, engraçado. Era uma cor só.

P/1 – E os uniformes do time, o senhor lembra de muitas mudanças na camisa do Palmeiras?

R – Não, era sempre a mesma coisa.

P/1 – E o mascote? O que o senhor achou da mudança do periquito para o porco?

R – É que um jogador imitou, acabou um dia, imitando um porco. E até foi um jogador, parece que o Viola, que depois foi jogar no Palmeiras. Ele marcou porco lá. Então, como chamava de porco, a torcida resolveu acolher para acabar com a gozação, a própria torcida dizia que era: “Porco, porco”. Ainda hoje fazem isso. Era o periquito. O emblema do Palmeiras era periquito, acabou virando porco. E o Viola se arrastou um dia lá imitando o porco. E depois de uns tempos o Palmeiras contratou ele para jogar no Palmeiras, que o pessoal achou ruim por causa disso.

P/1 – E o que o senhor achou da mudança do nome do time, de Palestra Itália para Palmeiras?

R – Bom, eu fiquei muito aborrecido. Foi uma mudança imposta de uma maneira muito baixa, porque o Palmeiras ficou numa situação inferior, porque era o time dos italianos, e a Itália estava lutando junto com a Alemanha e tal. Então, aproveitaram para que o Palmeiras mudasse de nome. Então, o Palmeiras disse: "Vamos tirar o Itália, fica Palestra."; "Não, senhor. Nem Palestra”. Era uma perseguição em cima do Palmeiras, era uma pequena inveja sobre o trabalho do Palmeiras, sabe? Então, mudou para Palmeiras. Eu achava que depois que acabou a guerra, tudo, podia mudar de novo, podia tirar o Itália, mas ficou Palmeiras. Foi imposto. Foi uma pressão que fizeram.

P/1 – E senhor Arthur, o senhor tem alguma história engraçada, alguma coisa curiosa que o senhor passou torcendo para o time do Palmeiras? Algum jogo, algum momento torcendo em família, alguma coisa curiosa que o senhor tenha para contar?

R – Sempre, sempre teria, o Palmeiras, engraçado. Teria muito, mas agora no momento eu não sei dizer. Eu já falei do caso do Imparato que se machucou, tiraram ele a força do campo, e ele: “Não, quero ficar”. Teve jogadores excepcionais, inclusive alguns estrangeiros. O Palmeiras tinha uma, agora ruim de falar isso, ele não usava jogador de cor, sabe? Não contratava. E depois acabou com isso, o Og Moreira foi o primeiro de cor, belo jogador. Então, daí para frente como, por exemplo, o Corinthians não contratava jogador estrangeiro, só brasileiro. Os outros times contratavam, o Corinthians não. Depois resolveram também. São coisas que não tem nada, preto e branco é tudo. E quantos jogadores de cor o Palmeiras teve e tem e que fizeram bonito. É isso aí.

P/1 – E com relação à rivalidade? Qual para o senhor é o maior rival do Palmeiras?

R – São Paulo. São Paulo trabalhou muito contra o Palmeiras. Esse negócio do nome do Palmeiras, tudo, trabalhou muito. Eu não gosto do São Paulo.

P/1 – E o Corinthians?

R – Não tenho nada contra o Corinthians, não tenho nada contra o Santos, eu tenho contra o São Paulo, que trabalhou muito em prejuízo do Palmeiras.

P/1 – E tem algum jogo contra o São Paulo que o senhor se lembra, que tenha te marcado? Alguma vitória?

R – Quando o Palmeiras mudou de nome, o próximo jogo era um jogo contra o São Paulo, se não me engano. O Palmeiras tinha mudado de nome e ele entrou com a bandeira do Brasil deitada, os jogadores segurando. E na frente tinha um soldado do Exército, palmeirense, que vinha na frente. Isso tudo está escrito. E entrou no campo. Ganhou, se não me engano foi esse jogo que o Palmeiras ganhava do São Paulo por 3 a 1, já era disputa final do campeonato e o juíz apitou um pênalti contra o São Paulo, eles abandonaram o jogo e foram para o vestiário. Se não me engano foi esse jogo aí. E tem muitas coisas.

P/1 – Falando na bandeira do Brasil, o senhor se lembra do jogo que o Palmeiras entrou com a camisa da seleção, jogou com a camisa brasileira?

R – Jogou. Uma vez o Palmeiras estava jogando bem e tinha um jogo para fazer da seleção, resolveram por o time inteiro do Palmeiras e o Palmeiras ganhou, se não me engano, de 1 a 0, mas ganhou, se saiu bem. Foi, representou a seleção brasileira, com o uniforme da seleção, o time do Palmeiras. Foi bonito aquilo.

P/1 – E o senhor, como torcedor, tinha ou ainda tem alguma mania quando está acompanhando o seu time? Alguma mania, alguma coisa que o senhor sempre faz quando tem jogo do Palmeiras?

R – Não, não. Eu sou profundamente palmeirense, mas não é aquele fanatismo de brigar, nada disso. Eu torço pelo Palmeiras, mas normalmente.

P/2 – E o senhor tem algum objeto do Palmeiras, uma flâmula ou uma camisa?

R – Não, eu ganhei há pouco tempo um periquito que está lá na minha estante (risos), que é o emblema do Palmeiras. Antigamente era o periquito e depois virou porco, não sei porque.

P/1 – Senhor Arthur, o senhor lembra quando o Palmeiras ganhou um título mundial? O senhor se lembra dessa época na década de 50 que ele jogou contra equipes do Brasil e equipes estrangeiras?

R – Não lembro, não. Não lembro.

P/1 – E algum outro campeonato importante, o senhor lembra?

R – Bom, campeonato, todo ele é importante. Os times fazem força para ser campeão. E foi campeão várias vezes. Dos grandes times o Santos tinha o time do Pelé, era uma máquina! Porque não era só o Pelé, mas tinha um belo time e ganhando o campeonato. A sequência era cortada pelo Palmeiras, que de vez quando ganhava. Porque senão o Santos seria uma carreira sem fim e o Palmeiras era o time que de vez em quando cortava a série do Santos.

P/2 – O senhor assistiu no estádio algum jogo desse contra o Santos?

R – Eu fico na memória um jogo que nós perdemos de 6 a 5 do Santos. Fazia um gol, eles repetiam. Foi 6 a 5.

P/2 – O senhor estava lá assistindo esse dia?

R – Estava lá. Inclusive eu fui com um amigo que ia comigo lá da empresa que eu trabalhava. Tinha a torcida enorme lá e nós ficamos assistindo embaixo, encostado na rede divisória, sabe? Assistindo o jogo lá. Seis a 5.

P/1 – E o senhor lembra de quem foram os gols? Algum desses gols?

R – Não, eu não me lembro. Não me lembro. Eu me lembro, por exemplo, de uma jogada que hoje tem a bicicleta. Gol de bicicleta. Nós tínhamos um beque chamado Junqueira, Carneiro e Junqueira. E o Junqueira era um belíssimo jogador, deve ter uma estátua dele lá no Palmeiras. Um dia jogaram uma bola aérea que encobriu o nosso goleiro, ia indo para o gol e o Junqueira saiu correndo lá, quando ela ia entrar ele deu uma puxada, uma bicicleta. Para mim ele é o inventor da bicicleta, porque ele deu uma bicicleta na bola! Mandou ela para cá. Gravei bem. O inventor da bicicleta foi o Junqueira.

P/1 – Seu Arthur, o senhor é sócio do Palmeiras?

R – Não, eu fui sócio do Palmeiras, fui. Durante uma temporada eu fui.

P/1 – E o senhor frequentava o clube?

R – Não, o clube não. Eu ia ao jogo de futebol e até recentemente. Eles, inclusive, fica aquela fila de soldados lá para ver se alguém está levando arma, tudo, então o sujeito disse: “O senhor eu não vou revistar”, por causa da idade e tal. Mas já faz muito tempo que eu não vou assistir. Como agora tem a televisão eu assisto sempre pela televisão. Mesmo quando é pay per view, meu filho tem, meu genro que está aí, o Rui, a gente assiste juntos. No campo não vou mais.

P/1 – E o senhor acompanha ainda os jogos do Palmeiras com frequência?

R – Ah sim, lógico, lógico. Meus filhos são palmeirenses, então conversamos. Eu tenho um filho homem e quatro mulheres, e esse filho conversa muito sobre futebol comigo, assiste junto comigo. Ele tem pay per view e eu vou na casa dele que é pertinho da minha, assistimos juntos.

P/1 – E senhor Arthur, agora eu quero perguntar um pouquinho sobre as suas lembranças de Copa do Mundo. Qual é a primeira Copa do Mundo que o senhor se lembra de ter acompanhado?

R – Não sei dizer para você. São muitas, viu?

P/1 – E o senhor lembra de ter visto o Pelé jogar na seleção?

R – Sim! Pelé, nossa senhora! Eu vi grandes jogadores. No Palmeiras mesmo, Palmeiras teve até jogadores estrangeiros. Teve jogadores bons mesmo. Tinha time bom. O Dudu e Ademir da Guia. Ademir da Guia é um emblema do Palmeiras, todo mundo fala do Ademir da Guia. Têm grandes jogadores, eu assisti ele jogando, os grandes jogadores.

P/1 – E qual era a sensação para o senhor de ver um jogador do Palmeiras na seleção?

R – Bom, eu ficava contente de ver ele na seleção, e às vezes eu ficava aborrecido, porque ele não estava na seleção. Chamou fulano e não chamou aquele do Palmeiras e tal, mas não tem nada. Sempre torci pela seleção, nunca, jamais contra, porque é o Brasil.

P/1 – E como era o ambiente na sua casa quando tinha Copa do Mundo? O pessoal ficava mais animado, todo mundo se juntava para ver por que era Copa ou não?

R – Não. Eu assistia lá em casa com o meu filho, porque minha mãe, minhas irmãs não eram assim muito de futebol, então era eu e meu filho. Sempre assistimos, torcemos.

P/1 – E tem alguma Copa que mais marcou o senhor? Que o senhor lembra na cabeça que essa é a Copa que mais te marcou?

R – É, tem, mas eu estou esquecendo, sabe?

P/1 – Alguma que o Brasil ganhou, ou que o Brasil perdeu?

R – Bom, que o Brasil perdeu foi aquele de 1950. O Palmeiras depois de 1950, em 51 foi considerado o time das Cinco Coroas, ganhou cinco campeonatos em 51. É bom você anotar aí! O time das Cinco Coroas, em 1951. Depois de termos perdido o campeonato de 1950.

P/1 – E o senhor lembra desse campeonato de 50?

R – Sim, lembro, lembro. Estou falando para você.

P/1 – O senhor lembra da final? De assistir a final?

R – Eu assistia desde mocinho.

P/1 – O senhor já disse que acompanha o futebol, mas o que ele significa para você hoje? O que o futebol significa na sua vida?

R – Significa uma distração boa ainda, me distrai bem. Eu, por exemplo, leio jornal todo dia e leio a seção de esportes, do Palmeiras. Porque não me interessa o que fala do São Paulo, do Corinthians, eu leio a do Palmeiras.

P/1 – E o senhor ainda vai ao estádio?

R – Não, não tenho ido mais. Mas continuo torcendo da mesma maneira.

P/1 – E o senhor já passou por algum constrangimento por ser torcedor do Palmeiras? Alguma brincadeira, alguma coisa que fizeram com o senhor por ser torcedor do Palmeiras?

R – Não, não. Eu nunca procurei, sempre me portei com educação, procurei não ofender, porque de repente na torcida você pega um cara... Nunca, nunca.

P/1 – O senhor teria como dizer para gente qual é a identidade do torcedor do Palmeiras hoje? O senhor consegue dizer se tem um torcedor típico do Palmeiras hoje?

R – Tem sim. Tem, lógico. Não, tem... É arraigado, já faz parte da pessoa. É Palmeiras, é Palmeiras até o fim. Não tenho sabido de algum que mudou de time, nada disso. É Palmeiras.

P/1 – E o que o senhor espera do time do Palmeiras aí para o futuro?

R – Eu espero que ele me dê só alegrias. É isso que eu espero (risos).

P/1 – E senhor Arthur, uma última pergunta. Eu queria que o senhor dissesse para gente como foi contar a sua história aqui para o Museu? O que o senhor achou de ter dado essa entrevista falando um pouquinho da história do Palmeiras?

R – Eu achei que vocês esmiuçaram muito e não entendi porque. O Rui não me deu a impressão certa. Vocês me desnudaram, eu não sei porque. Estou na mão de vocês, contei a minha vida para vocês não sei porque.

P/1 – Para ajudar a gente a contar a história do Palmeiras.

R – É, mas a história do Palmeiras não tem nada a ver com a minha vida.

P/1 – Tem sim, tem muito a ver.

R – Porque se você disser, como fez aí agora, fez umas consultas do Palmeiras, fez muita pergunta particularíssima que eu não entendi por que. Tá bom.

P/2 – É a construção de uma história, a História do Torcedor, aquele que não está escrito ainda, que nós estamos tentando escrever. E o senhor colaborou muito, senhor Arthur.

R – Você poderia fazer como fez aqui, falar de futebol, falar do Palmeiras. Agora vocês esmiuçaram a minha vida toda, não sei porque. Está bom?

P/1 – Está bom então, seu Arthur.

P/2 – Muito obrigado.

R – Nada.