Museu da Pessoa

O generoso sempre prosperará

autoria: Museu da Pessoa personagem: Wellington Trindade Vitorino

São Paulo, 23 de agosto de 2021
Programa Conte Sua História
Entrevista de Wellington Trindade Vitorino
Entrevistado por Rosana Miziara
Entrevista PCSH_HV_1255
Transcrita por Selma Paiva

(00:43) P1 – Wellington, bom dia! Obrigado por ter aceitado nosso convite. É uma honra ter sua história no acervo do Museu da Pessoa. Hoje nós temos cerca de vinte mil histórias de vida, cerca de sessenta mil imagens, que contam a história do Brasil, dos dois últimos séculos. Então, a sua história estará lá, ajudando a contar essa história e você disseminando sua experiência e sua história pra milhares de pessoas. Então, muito obrigada!

R1 – Fico muito feliz pelo convite!

(01:16) P1 – Wellington, eu vou começar de uma maneira bem clássica e simples. Você pode falar seu nome completo, local e data de nascimento?

R1 – Wellington Trindade Vitorino, sou nascido em Niterói, mas cresci em São Gonçalo. Nasci no dia 14 de agosto de 1994.

(01:37) P1 – E seus pais, também nasceram no Rio de Janeiro?

R1 – Meus pais são do Rio de Janeiro. A minha mãe nasceu em São Gonçalo e meu pai nasceu em Rio Bonito, são cidades aqui próximas ao Rio, né?

(01:52) P1 – Como que é o nome do seu pai e da sua mãe?

R1 – Valdete José Vitorino, nome do meu pai e da minha mãe é Regina de Mendonça Trindade Vitorino.

(02:03) P1 – Wellington, vamos falar primeiro, contar um pouquinho o que você sabe da família do seu pai e da sua mãe. Seu pai, você conheceu seus avós paternos?

R1 – Eu conheci minha avó paterna.

(02:16) P1 – Como que é o nome dela?

R1 – Esmeralda Vitorino.
(02:22) P1 – Ela é do Rio de Janeiro também?

R1 – Não, ela é de Rio Bonito. Do estado do Rio, mas, Rio Bonito, que é o que a gente chama aqui de região dos lagos. Normalmente, quando as pessoas vão pra Búzios, passam pela entrada de Rio Bonito. Que a ordem, normalmente, é a Ponte Rio-Niterói; aí tem Niterói, que é metropolitana e São Gonçalo e depois começam a vir outras cidades como Itaboraí, Tanguá, Rio Bonito, dentre outras, subindo até chegar no Espírito Santo, normalmente. A família inteira do meu pai é de Rio Bonito e a família inteira da minha mãe, da minha avó materna também é de Rio Bonito.

(03:08) P1 – Seu avô e sua avó moravam juntos? O que eles faziam?

R1 – Minha vó era babá, então ela foi babá de muita gente na cidade, né? Algumas famílias que tinham poder aquisitivo até bastante alto. E meu avô paterno - isso da minha família dos meus pais, né? Do meu pai, no caso - trabalhava na roça. Meu avô trabalhava na roça e minha avó era babá. Era uma espécie de faz tudo, ajudava em tudo, acho que até parteira ela chegou a ser e ajudar também lá, na época, na cidade.

(03:48) P1 – Você chegou a conviver com eles?

R1 – Não. Eu nasci em Niterói, mas cresci em São Gonçalo, embora fosse próximo, a gente se via periodicamente, né? Eu cheguei a conhecer a minha avó, meu avô paterno já havia falecido, mas eu cheguei a conhecer minha avó e tive algumas interações na vida, antes dela falecer. Isso paterno, né? Materna, minha avó está dois cômodos pra cá, e tal. Ela... aqui o quintal é bem grande, né? A casa de trás é a casa dela, o quintal é dela, em si, a casa de trás é dela e a minha mãe, quando casou, passou a morar, aproveitou o espaço e passou a morar no mesmo quintal, na parte da frente. Então, eu cresci nessa casa aqui que eu estou e minha avó, por uma questão de saúde, né, e como aqui a gente consegue estar mais próximo dela, está dormindo a alguns metros do quarto dela. Ela está dormindo onde eu dormia, na minha cama e tudo mais, que assim minha mãe consegue dar um suporte mais próximo. Minha tia também mora aqui, meu tio, a casa dela era atrás, mas aqui a mobilidade da casa é muito melhor, é muito mais favorável pra ela se locomover. Ela faz noventa anos esse ano.

(05:15) P1 – Beleza! Wellington, que histórias o seu pai conta? Como é que seu avô era com eles, com ele, com seu pai? Ele conta alguma história da infância dele, de como foi?

R1 – Meu pai conta que meu avô era muito rígido, né? Uma pessoa muito rígida. Então, os filhos cresceram trabalhando muito na roça, um trabalho muito, muito pesado. E o meu avô, por ser muito rígido e gostar das coisas muito do jeito dele, passou isso muito pros filhos, às vezes de uma maneira um pouco mais agressiva do que o normal. Incisiva, né, do que o normal e agressiva em alguns casos, mas era uma pessoa que trabalhava muito. Meu pai teve aí quase dez irmãos, então era uma família muito grande e, pra sustentar todo mundo, as pessoas precisavam começar a trabalhar também na roça, ajudar em casa, então meu pai cresceu com isso. Meu pai se desvincula ali da casa, né? E pra começar a buscar a trajetória dele, quando ele entra no Exército e vai servir o Exército. E aí, dentro do Exército ele começa a aprender a cozinhar, porque tinha que cozinhar pra muita gente e a daí surge a profissão do meu pai, porque depois ele começou a aprender a fazer pão e meu pai é padeiro, até hoje. Então, foi essa linha. Ele aprende a cozinhar e se aprimora muito, cozinhando muito no Exército, onde ele aprendeu a cozinhar muito bem e o irmão dele já trabalhava numa padaria e, como ele sabia cozinhar, tinha uma facilidade, foi assim que ele se introduziu, nesse meio.

(07:08) P1 – Que lembranças você tem da sua avó? Algum episódio que tenha marcado…

R1 – A família, depois, foi crescendo e a situação foi melhorando, né? Melhorando até bastante, nesse sentido, não de ficar rico ou ter muitas condições financeiras, mas pelo que meu pai falava da pobreza que eles viviam, os filhos foram crescendo, meu pai foi só até a sétima série, mas meu pai tem irmãs que conseguiram estudar mais, eram também mais aplicadas, segundo ele e tudo mais, então eu lembro de uma festa de 15 anos, né? Clara, assim, numa quadra de futebol e, por minha avó ter sido babá de um dos políticos mais conhecidos da região, então eu lembro de uma quadra de futebol, muita gente. Pra você ter ideia, a família do meu pai elege um vereador, praticamente, na cidade. É muita gente, é muita gente, é muita gente. E nenhum deles - também teve isso - trocou o título de eleitor. Então, em época de eleição, todo mundo se encontra. Eu tenho uma visão, um pouco, de um outro momento eleitoral, que todo mundo se encontra, então a gente acabou indo pra lá também, acho que em outro momento e um outro momento, uma festa de 15 anos de uma prima minha, que parou a cidade e tal, porque conhecia todo mundo. Então, a gente via desde o prefeito lá, até todo mundo. A gente, a família do meu pai, acaba até hoje tendo uma certa... vou chamar de uma influência política, mas no sentido de trabalhar muito próxima de algumas pessoas ligadas à política, porque minha avó, lá atrás, foi babá e aí acabou que as pessoas que acabaram se formando, algumas prestaram concurso, outras, como elege um vereador, sempre tem alguém ligado que sai como político. Então, foi assim, essas são as memórias que eu tenho, né? Eu tenho muito mais memórias, na verdade, todas as minhas memórias até os 17 anos envolvem minha avó materna e meu avô por parte de mãe, né?

(09:41) P1 – E fala um pouco, então, da sua mãe, como foi a criação dela, dos seus avós maternos...

R1 – Não tão diferente, uma família muito simples, muito humilde. Minha avó sempre trabalhou como faxineira, né? Sempre trabalhou, então trabalhou como auxiliar de serviços gerais, faxineira da FGV aqui no Rio em Botafogo, trabalhou em alguns lugares bastante conhecidos e meu avô era mestre de obras, né? Ele trabalhava com obra e era muito bom no ofício dele também, nesse sentido. Eram seis filhos, três faleceram e os outros três que é minha tia, que é a mais velha; meu tio, que é o do meio; e a minha mãe, que é a mais nova, meu tio e minha tia não tiveram filhos, então os únicos netos sou eu e meu irmão, o Anderson, que a minha mãe teve. Meus pais são separados desde que eu tinha quatro anos de idade, então, isso criou uma relação muito forte minha com meu avô, quando eu era pequeno, né? Meu pai sempre foi muito presente, só em um outro momento foi um pouco menos presente, mas sempre esteve bastante presente na minha educação. Não precisou colocar na Justiça por questões relacionadas a pensão, sempre deu todo o suporte nesse sentido e o momento aí que ele foi um pouco mais ausente, meu tio, na época, tinha um bom emprego, a família ajudou muito, né? Então, eu tinha como referência muito paterna também o meu avô, que faleceu em 2006, quando eu tinha 12 pra 13 anos de idade. Isso foi muito bom, porque meu avô sempre dava um nível de atenção pra gente, pra mim e pro meu irmão, muito grande. Ele faleceu de câncer de próstata. E a minha avó sempre foi a pessoa que... a minha mãe e meu pai sempre me incentivaram muito, mas em alguns momentos, a minha avó foi a pessoa que mais acreditou que dava pra fazer algumas coisas que até meus pais, por questões financeiras mesmo, não queriam embarcar um pouco nas minhas aventuras. Eu ganhei uma vez uma bolsa de 50% numa escola, eu tinha 14 anos, nessa época eu já trabalhava, eu já tinha meu dinheiro, já não dependia, mas eu precisava de uma pessoa pra ser representante financeiro meu. Minha mãe, com medo que de repente acontecesse alguma coisa nos meus trabalhos e eu não conseguisse arcar e ela não teria condições, minha avó foi ser minha responsável financeira. Então, minha avó, no final do dia, foi a grande matriarca da família aí, que conectava os pontos e ajudou a criar a gente. Minha mãe faz o acordo com meu pai ali e tal, que até eu ter dez anos de idade e meu irmão doze, ela não trabalhou, depois ela volta a trabalhar e minha tia assume um papel muito forte na nossa vida, de acompanhar ali os estudos, de maneira muito próxima, aproveitando que ela morava na casa de trás. Sempre foi feito o acordo aqui de não precisar fazer comida na nossa casa, sempre fazer na casa da minha avó, até porque minha mãe não é tão boa, assim, de cozinhar, quanto a minha avó. Difícil bater a minha avó nessa questão da cozinha. E minha mãe também não é uma pessoa que gosta tanto assim da cozinha, nesse sentido de cozinhar. Eu acredito que eu gosto mais de cozinhar do que minha mãe, mas sempre teve essa questão. Acho que a minha mãe teve um papel muito forte de trabalhar a minha mentalidade, a mentalidade do meu irmão, passar valores e princípios. Minha tia, depois que ela começou a trabalhar, fez um papel meio de sargentona, meio de inspetora ali. Horário de sair pra ir pra escola, de tomar o banho, se já almoçou, aquele papel ali que talvez seja um papel um pouco mais chato, de sair da frente da televisão pra fazer essas coisas, tem que fazer os exercícios e minha avó foi vó, né? Normalmente a avó (risos) faz aquilo que os netos querem. Então, quando meu avô, falece a minha avó começa a ser pensionista pelo meu avô, aí ela também é aposentada. A gente, acho que... não vou falar que surfou na onda, porque parece que era um negócio fantástico, mas a gente sim, foi beneficiado com a ascensão da classe D indo pra classe C. Na época do último governo, na época do governo Lula, é inquestionável o que foi feito pelos mais humildes. A gente nunca recebeu Bolsa-Família, nem outros tipos de auxílios governamentais, mas eu tenho certeza que o crescimento do Brasil e algumas políticas que foram feitas no governo passado, beneficiou muita gente. Assim como se a gente olhar lá pra trás, tenho certeza que minha mãe também vai falar que a estabilização da moeda na época do governo Fernando Henrique Cardoso também foi algo que a ajudou muito naquela época e a família, porque o aumento dos preços era algo absurdo. Então, a gente viu uma certa crescente, né? Então, e minha avó sempre muito presente, em todos os momentos. Pra vocês terem uma ideia, a minha avó foi a pessoa que, quando meu irmão ganhou um computador do meu pai, quando ele tinha ali por volta de dez, onze anos de idade, meu pai recebe uma indenização e compra o computador e coloca a minha mãe e meu irmão pra fazer um primeiro curso, com meu irmão acompanhando. Então, minha mãe aprendeu ali sobre informática, meu irmão é da área de tecnologia. Depois, meu irmão queria fazer outros cursos, minha mãe já não podia mais, porque não conseguia levá-lo. Então, a minha avó era a pessoa que levava o meu irmão. Meu irmão passou na escola, pra estudar numa escola que mais à frente seria uma escola técnica, né, que ele entrou por sorteio na quinta série, minha vó saía todos os dias, atravessava, ia pra outra cidade, o levava, voltava e tal, depois voltava pra poder buscá-lo e tal. Então, assim, minha vó foi uma pessoa que acompanhou a gente ali de forma muito próxima, em uma fase muito importante, por isso que a gente tem um carinho e respeito muito grande. Uma das coisas que eu aprendi dentro de casa, muito forte, é respeitar as pessoas mais velhas, né? Depois eu fui, me tornei vendedor de picolé num batalhão de polícia e tem uma questão de autoridade muito forte, respeito à hierarquia, chamar as pessoas de senhor, de senhora, uma questão de respeito muito forte. Eu acredito que eu aprimorei muito isso e se tem eu acho que um ponto positivo que eu tenho muito forte, é que eu tendo ser mais educado que a média das pessoas. Dificilmente eu não vou falar com você no Whatsapp, não dar um bom dia, uma boa tarde, uma boa noite, perguntar como você está, de maneira genuína, se preocupar. Dificilmente você vai me dar alguma coisa e eu não vou agradecer, dificilmente vai acontecer alguma coisa e, se eu estiver errado, não vou pedir desculpa, enfim. Acho que são valores de dentro de casa, eu acho que eu fui beneficiado nesse sentido. Embora eu não nasci numa família estruturada financeiramente, mas nasci numa família estruturada emocionalmente. E, de certa forma, depois de um certo estágio da vida, eu tive três mães, aí, dentro de casa: a minha vó, minha tia e minha mãe, mesmo e dois pais: meu avô aí, muito presente, até ele ficar acamado e depois vir a falecer e meu pai também que, embora é separado, sempre esteve muito presente na nossa vida.

(16:59) P1 – Você sabe como seu pai e sua mãe se conheceram?

R1 – Sei. Minha mãe era caixa de supermercado e meu pai trabalhava no supermercado, então, eles se conheceram assim. O supermercado, se eu não estou enganado, era em Niterói e foi assim que eles se conheceram. Casaram em 91, não lembro exatamente o ano que eles se conheceram, mas acho que foi em 1989, 1988, não lembro exatamente, casaram em 1991, tiveram meu irmão em 1992, né? Casaram em 1990, 1991 e aí, meu irmão nasce em 1992. É, foi isso. E aí, em 1994, eu nasci.

(17:43) P1 – Quanto tempo eles ficaram casados?

R1 – Eu não sei a data que eles casaram, se foi em 1990, ou 1991, perdão, mas eles ficaram casados, eu tinha quatro anos na época e tal, até 1997, 1998. Ficaram casados, mais ou menos, uns sete, oito anos.

(17:59) P1 – Você tem lembranças deles casados?

R1 – Sendo muito sincero, eu tenho lembrança de pouquíssimos momentos, eu tinha quatro anos na época. Eu tenho lembrança do dia que meu pai saiu de casa, né? Que minha mãe expulsa meu pai de casa.

(18:18) P1 – Como foi?

R1 – Acho que ele mijou fora do pinico e minha mãe é uma pessoa muito straight to the point, né? Muito direta. Eu gosto isso nela, sempre foi assim. E eu não via tantas discussões assim, até aquele dia, mas acho que foi uma discussão pra virar a página aí nesse sentido e, basicamente, a cena que eu tenho é a minha mãe jogando as coisas do meu pai pra fora de casa. E aí meu pai pedia pra gente ir lá, a gente pegava, jogando no quintal, né, pegava e a gente voltava. Aí teve uma hora que a minha mãe falou assim: “Você quer ir com ele?” (risos). É óbvio, né? Eu não queria ir com ele, aí eu fiquei do lado da minha mãe e foi assim. Eu falo isso de uma forma rindo, assim, porque todo mundo que conhece meus pais fica admirado de como eles se dão bem, todo mundo.

(19:16) P1 – E, na época, o que você sentiu, quando você vivenciou isso? Como você se sentiu?

R1 – Eu já entendi o que estava acontecendo, né, num sentido e tal, eu acho que eu não consigo falar. Excelente pergunta, mas eu nunca parei pra pensar nisso. Acho que eu não senti tanto, sabe? Acho que eu sabia o que estava acontecendo, mas, ao mesmo tempo, também não sabia o que estava acontecendo. Acho que meu irmão sentiu mais. Ele já tinha sete anos de idade, tal e também, eu não sei, acho que minha válvula de escape, naquele momento, eu não senti nada, não fiquei mal, nem nada, mas a gente tinha meu avô, então eu acho que teve um negócio de uma atenção muito grande do meu avô e de todo mundo da família e, querendo ou não, a gente via meu pai sempre. Na época as condições eram infinitamente menores do que a gente tem hoje, mas eu o via sempre. Tinha ali suas discussões entre o meu pai e minha mãe, tinha essas questões, mas eu acho que, ao longo do tempo, eles foram amadurecendo, mas isso foi muito rápido, sabe? Então, a gente não sentiu e meu pai tem um negócio de brio muito forte, né? Tipo: “Eu sou pai, eu sou pai de verdade”, sabe? Não é essa história de porque me separei e tal. Tanto que até hoje eles não se divorciaram no papel, pra você ter ideia. Meu pai já deve ter pedido pra voltar pra minha mãe, pelo menos umas cinco, seis vezes. (risos) Então, assim: eu, particularmente, acho que não senti tanto, mas acho que meu irmão sentiu mais. Acho que meu irmão já tinha idade pra entender, já tinha um apego muito mais forte, tal. Eu sempre tive festas de aniversários, até mais ou menos, talvez, os meus 14 anos de idade. E as minhas festas pareciam festas de gente rica porque, como meu pai produz tudo e os amigos dele vinham pra trabalhar de garçons, o gasto que a gente tinha era com salão de festa e ornamentação e mesmo assim a família vinha, pra ajudar a ornamentar e tal. Então, eu lembro muitas e muitas vezes dos meus pais e tal. E o meu pai era o seguinte: ele vinha pra fazer os salgadinhos aqui em casa e era assim, a gente sempre tinha que ajudar, então desde pequeno a gente tinha que ajudar. Então, era o seguinte: “Ah, mas você faz dez coxinhas e eu só consigo fazer duas, mas duas que você faz são menos duas que eu preciso fazer e a gente vai terminar mais rápido”. Então, sempre teve um negócio muito forte de tentar ensinar pra gente o valor do trabalho, o valor do dinheiro. Se você tem essa camisa, você tem que preservar essa camisa, porque isso custou, sabe? Você tem que valorizar as coisas pequenas e tal. Tinha uma questão de valorização muito grande da educação, um incentivo muito forte, né? “Eu não estudei, mas vocês têm que estudar”. Minha mãe, muito, minha mãe é umas das pessoas que tem mais inteligência emocional que eu conheci nessa vida. Ela não estudou tanto, mas ela tem um negócio ali, muito forte e eu tenho certeza também que tem uma conexão muito forte com a espiritualidade que ela desenvolveu ao longo do tempo, com a fé em Deus. Então, isso eu acho que ajudou muito a gente a passar pelos altos e baixos nesse sentido, sem aprender a reclamar da vida, porque a gente acaba aprendendo a reclamar da vida, né? Por mais que você tenha, ou por muito, ou por pouco. Então, eu tenho boas memórias, sabe? Pra falar a verdade eu acho que nem consigo ver meus pais casados, enxergar como seria, sabe?

(22:49) P1 – Você lembra de algum aniversário desses, que tenha te marcado…

R1 – Todos!

(22:53) P1 – ... alguma coisa que aconteceu? Conta um pouco.

R1 – Acho que dos quatro pros cinco anos de idade, eu lembro dos 101 Dálmatas. A gente parou a escola. Foi um aniversário que até hoje as pessoas lembram e tal. Foi uma festa surreal. Meu pai gosta de festa, né? Mas como ele não teve muita festa na vida dele, se ele poderia fazer pros filhos, ele estava fazendo. E não era festa que a gente se endividava, não tinha nada disso. Era literalmente porque, você trabalhar com serviços alimentícios é interessante, porque a margem tende a ser alta e você não tem _______ (23:36), você não tem estrutura. Então, o que é mais caro, quando a gente encomenda um cento de um salgadinho ou docinho, não é insumo pra comprar, é a mão de obra que você está pagando. Então, como meu pai fazia o bolo, fazia torta salgada, fazia todos os salgadinhos, minha tia fazia os docinhos. Então, tudo, cachorro-quente, tudo que tinha que ser feito era tipo: a gente que faz. Juntava a família e tal. Então, era um negócio, assim, muito grande, sempre, sabe? O meu pai gostava de muita gente, sempre fomos pessoas que, ao longo do tempo, cultivamos boas pessoas na nossa vida, então a gente conhecia muita gente. Então, era sempre histórico, sabe? Eu tenho…

(24:10) P1 – E como foi essa do Dálmata?

R1 – Essa eu lembro que estava a escola inteira, acho que poucas pessoas a gente não chamou. Quer dizer: era muita gente, era muita gente, era muita gente, era muita gente. Eu sou apaixonado até hoje pelos Dálmatas e os Dálmatas é daquele filme da Disney, os 101 Dálmatas e tal. Então, eu queria muito e as festas eram temáticas. Então, eu tive festa do Rei Leão, da Arca de Noé, eu tive festa dos 101 Dálmatas, eu tinha festas, assim, realmente, muito… meu irmão teve menos, porque ele gostava, acho, que menos, mas também, se quisesse era feito e era incrível, né? Se eu chegasse no meu pai e pedisse cem reais de festa, corria o risco do meu pai não me dar cem reais, mas se eu falasse pra fazer uma festa que, na época, custaria, sei lá, quinhentos reais, mil reais, não sei, meu pai ia fazer a festa acontecer, sabe? (risos). Então, minha mãe brincava: “Não pede nunca dinheiro, pede a festa, que teu pai vai fazer”. E meu pai era o tipo de pessoa que servia na festa, sabe? A diversão dele não era curtir a festa, ele botava a roupa de garçom… tanto que uma das coisas que eu mais gosto de fazer, assim e não tenho vergonha nenhuma de falar isso, garçom é um trabalho que eu acho muito incrível, sabe? Você está ali, em contato com as pessoas. Tem as festas meio chatas, né? As pessoas perturbam um pouquinho, nada é perfeito, mas é um trabalho de você servir as pessoas e é muito bom. Há duas semanas eu estava na casa de um rapaz que trabalha no meu time e foi aniversário dele, né? E aí, a gente foi lá pra Minas, trabalhar de lá, era aniversário dele e eu tinha feito uma promessa pra mãe dele, que a gente iria lá, antes de viajar. Fui lá pra São João Evangelista, pra uma cidade de 15 mil pessoas, longe de tudo, ali em Minas. A cinco horas de BH, três horas de Valadares, um lugar ali de difícil acesso, inclusive. Aí teve um churrasco, eu comecei a servir, a ajudar e tal, aí você vai conhecendo as pessoas, vai conversando e tal, eu acho que tem uma inteligência que você desenvolve: “Eu já passei nesse lugar, não pode faltar aqui e tal” Então, teve um negócio… aí, chegou uma hora da festa que eu já tinha servido muito, que eu peguei: “Ó, tô subindo”. Subi, arrumei minhas coisas e: “Vou dormir” Que eu sabia que ia ficar até mais tarde, estava meio cansado e aí ninguém entendeu nada, falaram: “Pô, será que aconteceu alguma coisa?” Eu falei: “Não, eu me senti útil ajudando e agora (risos) eu vou descansar um pouco e tal”. Porque o servir ali do garçom é um negócio interessante porque, eu fico feliz quando o Wellington consegue se sentir útil, né? Então, teve alguns aniversários de amigos meus, de irmãs de amigos meus de 15 anos, que juntava todos os amigos, a gente botava roupa de garçom e ia ajudar a servir as pessoas e tal. E todo mundo achava que a gente era garçom contratado. Eu não vejo nenhum problema nisso, tal. Óbvio que a vida vai passando e vai ficando mais difícil você fazer esse tipo de coisa, mas se eu tiver um sábado à noite, aqui em São Gonçalo, visitando e for necessário pra uma irmã mais nova de um amigo e tal, tiver 15 anos, precisar botar uma roupa de garçom, eu vou fazer com o maior prazer e vou contribuir e ajudar com o maior prazer. “Ah, mas você tem o dinheiro pra poder pagar”. Sim, tem lá a diária do garçom, sei lá, cem, cento e cinquenta reais, talvez seja mais prático ir lá ajudar, mas se juntar a galera: “Pô, vamos fazer”, a gente vai fazer. Acho que é uma das coisas que eu não quero perder ao longo da vida, não, sabe?

(27:59) P1 – Wellington, e quais eram suas brincadeiras de infância? Com quem você brincava, como é que era, assim?

R1 – Eu tenho irmão mais velho, né, sempre foi um espelho pra minha educação. Então, tinha um irmão mais velho e quem tem um irmão mais velho, isso ajuda muito na questão da brincadeira, de briga também, de irmão, né? “Pô, pegou minha bolinha de gude”. A gente jogava muito bolinha de gude e meu irmão sempre foi mais alto, então, um palmo dele, não sei, você pode, tipo: você está com a bolinha aqui e você pode dar um palmo, pra poder jogá-la. Então, meu irmão sempre teve a mão muito maior, né, grande, então ele dava um palmo e ele tendia a ganhar. Os vizinhos aqui também, né? Cresci numa rua que, na época, não tinha asfalto, então a gente jogava muito golzinho de praia, que é o futebol, você bota uma bola, dois de um lado e dois do outro, aí você vai tocando a bola, vai jogando ali o futebol, até passar pelas duas sandálias, né? Tem duas sandálias de dedo, então você tem que fazer a bola passar. Então, o nosso gol, a nossa trave eram as duas sandálias. Então, eu joguei muito golzinho de praia, mas muito, muita bolinha de gude. Minha mãe sempre muito: “Ah, não quero deixar filho na rua”. Como o quintal era grande, a gente chamava pra jogar bolinha de gude dentro do nosso próprio quintal, mas o divertido era jogar na rua, que tinha mais espaço ainda, né? Embora tenha aqui, lá atrás é muito grande. Cresci também, não subindo em pé, em pés de frutas, né, mas eu cresci na casa aqui com pé de manga, cajá, abacate, graviola, acerola, goiaba, café, uva, depois, mais à frente banana, então, tudo no quintal da minha vó. Então, isso foi excelente. Nesse sentido, foi excelente, porque sempre a gente estava ali em contato com a natureza, de certa forma. Tinha ali uma questão muito forte, nesse ponto. Gostava muito de andar de bicicleta e sonhava ali ter uma boa bicicleta, tal. Então, encontrava um aro de uma bicicleta na rua, que alguém descartava, a gente pegava e tal. Então, tinha uma diversão ali em tentar montar uma boa bicicleta, nesse sentido. Colocar aquele, tem um nome que se dá…

(30:37) P1 – Guidão?

R1 – ... lá atrás, pra você poder se pendurar na outra pessoa, esqueci o nome agora.

(30:46) P1 – Garupa?

R1 – Não. Tem a garupa, que você bota atrás, mas tem como se fossem duas… uma estrutura metálica de ferro redonda, que você coloca nas rodas de trás, você pode pegar e ir em pé, segurando nos ombros de quem está pedalando, e tal. Então, isso foi muito divertido. Isso ali até meus oito a doze anos de idade e tal, fiz muito isso. Vendia muita coisa aqui na porta, eu costumo falar que, dos oito aos doze, eu fiz quase tudo que vocês possam imaginar. Embora minha primeira experiência de trabalho foi com oito anos de idade, vendendo água e refrigerante na praia de Saquarema, junto com meu pai, né? A gente sempre ia pra lá, Saquarema fica um pouco depois de Rio Bonito, às vezes a gente parava em Rio Bonito, visitava rapidamente os parentes do meu pai, parava numa cidade chamada Bacaxá, comprava os produtos, meu pai montava a barraca e ele ia vendendo, junto com os outros vendedores da barraca e tal. E teve um ano que a gente ia sempre, pra poder brincar, minha mãe ali próxima e tal, olhando a gente. Praia bate um pouco forte, então minha mãe sempre ali, muito próxima, aí ele oferece, perguntando se a gente queria ajudar nas vendas e o que nós vendêssemos, a lucratividade era nossa. Foi assim que eu comecei a vender junto com meu irmão, a gente vendeu rápido e eu falei pro meu irmão: “Vamos comprar mais produtos, pra gente vender mais”. Aí, meu irmão falava de uma maneira um pouco mais insegura, um pouco mais conservadora: “Não, cara, a gente já vendeu muito e tal”. Eu vou e volto, vou e volto, faço duas levas sem o meu irmão e lucro três vezes mais que ele. E meu pai era daquele tipo: “Se eu investir cinquenta reais em vocês... uma coisa é eu dar, outra coisa é eu investir pra vocês trabalharem aí, já que vocês querem”. O acordo era a gente só ficar na barraca, porque ficar na barraca é mais fácil, né? Ficar na barraca é saber atender, ser educado no atendimento, entender o produto que o cliente quer e depois devolver o troco. Então, isso era fácil. Óbvio, era cansativo, você ia de um lado pro outro, sol, barraca meio grande, aquele negócio todo, estava ali. Também não estava lá brincando, vendo as outras crianças brincarem, mas a gente escolheu, ninguém obrigou. Mas eu fui, voltei, fui voltei, então, sei lá, se meu pai investiu cinquenta reais pra gente no início e a gente faturou cem, meu pai pegava cinquenta reais, a gente dava os cinquenta reais pro meu pai, que era a compra dos materiais e a gente tinha os nossos cinquenta e tinha que investir. E, se era cinquenta nosso, era 25 pra mim e pro meu irmão. Então, com os meus 25 eu fui lá, comprei mais produtos e voltei, lucrei três vezes mais que o meu irmão e eu volto pra casa querendo ______ (33:25) a minha mãe, né? Ali eu descobri o que eu gostava de fazer e dos oito aos doze eu fiz um pouco de quase tudo que você possa imaginar: eu catava latinha, papelão, garrafa de óleo, cobre, pra poder vender no ferro velho, era quadra de coleta seletiva a duas quadras aqui do meu bairro e também vendia bolinha de gude, na porta de casa, picolé, sacolé, pros meus amigos daqui. Então, tem uma infância divertida também da gente lucrando, de certa forma, de maneira positiva e todo esse dinheiro ia pra uma caixinha que, ao final do mês, mais ou menos, era dividido entre duas partes, entre eu e meu irmão. Aí a gente tirava o que a gente precisava reinvestir e o restante da lucratividade, minha mãe não deixava a gente - era a única instrução dela - pegar o dinheiro e ficar gastando logo, senão no final do mês a gente nunca saberia quanto dinheiro nós tínhamos ganhado. Então, até os doze anos foi muito disso, né? Então, tenho boas memórias nesse sentido. Aí, quando eu tinha doze e o meu irmão já catorze, meu irmão já tinha computador, meu pai tinha um negócio na cabeça ali, uma mentalidade muito, não vou falar tradicional, mas uma mentalidade muito rígida, no sentido de dar jogos pros filhos, então ele nunca comprou um videogame, por mais que depois de um tempo ela tinha condição, dizendo que iria atrapalhar nossos estudos. E, olhando hoje, pra trás, já faz um tempo que eu tenho essa reflexão, eu não tiro a razão dele. Era um jeito que ele entendia, eu acho que tem que ter uma questão de respeito. Hoje eu vejo criança, sei lá, com menos de dez, oito anos de idade, que os pais dão celular na mão pra poder a criança parar de chorar, gritar, espernear, pra ela ficar ali concentrada. Então, meus pais tinham uma preocupação muito grande da gente se concentrar muito nisso e não estudar. Então, ele não deu o videogame, mas não sabia ele que, no computador, dava pra guardar os jogos, né? Mas ali, naquela fase, a gente já era bom de estudo. Já entendia que era muito importante a gente estudar. Acho que quando você dá muito novinho, a criança talvez deturpe um pouco que ela pode brincar e tal, que ela tem que se divertir e eu acho que a gente brincou e se divertiu da melhor maneira que a gente poderia. Então, a gente brincava de pique-pega, tal. Eu lembro que tinha, tem até hoje uma varanda, na casa da minha mãe tem uma varanda alta, grande, então a gente vinha correndo da rua, entrava no quintal, subia na varanda, pulava a varanda. Quando a gente fazia isso, ninguém entendia nada, porque não dava tempo do cara que estava em cima, subindo junto na escada, ele achava que ia pegar a gente, não dava tempo e tal. Porque, quando a gente pulava e voltava, assim, não dava tempo dele voltar. Então, eu tinha excelentes memórias nesse sentido, de pique-pega, pique-esconde, polícia e ladrão e tal. Brincar de taco, pegar o taco e você, pô, a bolinha e não era golfe não, era taco mesmo. Carrinho de rolimã a gente nunca brincou tanto, só no dos outros. Minha mãe não gostava muito, que era perigoso. Pô, descer de um morro, né? Ir lá em cima de um morro e descer com quele negócio, sem controle nenhum. Tinha caso de criança que brincou e se machucou toda, mas de vez em quando a gente brincava um pouquinho rápido, assim. Mas tinha um negócio de muita obediência, quando minha mãe gritava e falava: “Entra”, às vezes a gente esperneava, mas não tinha como, tinha que entrar. Então, era muito mais seguro, sabe? Eu sinto que, depois que pacificaram as UPP´s no Rio de Janeiro, eu não vejo ninguém de fuzil na minha porta, aqui na porta da minha mãe, não vejo ninguém vendendo ponto de drogas, mas eu sinto que ficou um pouco mais perigoso, se você for pra um bairro depois do nosso e tal, já tem lugar ali que tem barricada. Aqui, como é paralela com a rua principal, é mais difícil de você instalar esse tipo de coisa e tal. Mas, na minha época, tem um negócio, né? Não tinha asfalto, mas era muito mais seguro. Depois que colocaram asfalto eu sinto que, não sei, você vê menos crianças brincando na rua. O mundo vai mudando, aí pacificou lá, se torna uma rota mais favorável de carro passar. Não carros errados, mas passar muito mais rápido, porque ficou asfaltado. Então, assim, o progresso também traz essas consequências. Mas eu sou a favor do progresso, sabe? Eu prefiro ver hoje asfaltado, hoje não ver esgoto a céu aberto, mas eu peguei uma fase muito favorável pra poder brincar na rua, pra poder fazer esse tipo de coisa. E tinha uma galera bacana, também e tal, isso era muito bom. Mas tinha um negócio dentro de casa que sempre tive que ficar entre os melhores, na escola. Entre os três melhores, por exemplo.

(37:57) P1 – Wellington, você teve alguma formação religiosa?

R1 – Sim, cresci na igreja sempre. Isso foi muito bom, acho que traz valores e princípios que eu acredito que é fundamental pra qualquer ser humano. Acho que hoje, quando a gente fala de religião, a gente… e pessoas muito religiosas, às vezes as pessoas deturpam um pouco as coisas. Mas o fato, por exemplo, de eu hoje ser uma pessoa que me considero generosa, uma pessoa que contribui, uma pessoa que entendeu que poderia dedicar uma parte da vida pra poder contribuir com a sociedade, por meio hoje do ProLíder e do Instituto Four, pra outros jovens, vem muito disso, né? O fato, também, de eu acreditar bastante em Deus, crer em Cristo, então, eu sigo realmente, de uma maneira clara, os mandamentos, nesse sentido. Então, amar a Deus sobre todas as coisas. Realmente, tudo que eu faço coloco Deus na frente, eu acredito que é muito difícil viver nessa vida, nessa terra, na vida que Deus dá oportunidade pra gente, sem acreditar numa força maior e essa força maior, pro Wellington, se chama Deus, pra outras pessoas se chamam outras coisas, eu respeito e tal. Honrar pai e mãe, para que seus dias sejam prolongados, então tem um respeito, uma questão de honrar pai e mãe, muito forte, né? Eu sinto que as pessoas da minha idade, fiz 27 agora, têm muito negócio ali: “Ah, eu quero viver minha vida, sem meus pais”. Eu não vejo dessa forma. Hoje eu quero, quanto mais eu puder, contribuir dentro de casa, eu quero fazer isso, quero ajudar, quero contribuir, que eles já fizeram muito por mim, nesse sentido. Outro ponto que é muito importante que as pessoas acham, que isso daí deturpam muito: amar o próximo como a ti mesmo. Hoje se fala muito de diversidade, mas se você olhar em 2016 pouco era falado de diversidade e a gente começa o ProLíder, que é hoje o maior programa de formação de lideranças do país, falando de diversidade. Porque eu não queria ser o único negro, não queria ser a única pessoa de classe mais baixa, a única pessoa, de repente, de outro credo participando. Então, no ProLíder tem preto, pobre, rico, branco, diversidade de raça, gênero, classe, ideologia, orientação sexual, credo. Então, enfim, a gente tem uma mistura realmente do que é o Brasil, aí as pessoas: “Pô, mas algumas religiões, algumas linhas protestantes, algumas coisas, não falam que algumas coisas, esse tipo de gente, perfil e tal?” Só que Cristo falou duas coisas que eu acredito, superimportantes: uma é não fazer _____ (40:52) de pessoas e o outro ponto é amar o próximo como a ti mesmo, né? Mas essa é uma das coisas mais difíceis da gente conseguir praticar, porque a tendência do ser humano é a gente conseguir olhar pra gente, pra nossa família, pro nosso entorno, ali, pros mais próximos, mas é muito fácil honrar, ou então ajudar quem está próximo. O difícil é você conseguir ter empatia de se colocar no lugar do outro e tentar melhorar a vida do outro que não está próximo, então fazer pra pessoa que trabalha na sua casa e pra família dela, ela está próxima, né? Mas já tem um certo grau aí de relevância, nobreza, é bacana, né? Mas é difícil você conseguir dar atenção e contribuir pras pessoas que não estão ali ao seu redor. Então, acho que isso, de forma positiva, foi bom.

(41:43) P1 – Mas como é que ia? Você ia na igreja? Como é que era o cotidiano que você vivia essa formação, lá atrás, na sua infância? Como que isso aconteceu, como é que você foi entendendo?

R1 – Basicamente foi simples, a gente sempre foi na igreja e tinha ali uma escola bíblica infantil e foi assim.

(42:06) P1 – E você gostava de ir? Como era, pra você? Que memória você tem, daquele período?

R1 – São memórias positivas, acho que são memórias positivas e eu sempre tenho uma correlação muito forte com as coisas que eu conquistei e saber colocar o exercício da minha fé, entendeu? Colocar a minha fé em ação. Então, acho que o que eu aprendi muito for ter uma maior comunhão com Deus, nesse sentido, desenvolvendo minha espiritualidade e saber colocar a minha fé em ação e entender que, confiando em Deus e em mim, barreiras iam surgir, problemas iam surgir, preconceitos iam surgir, mas eu conseguia ter uma força ali, pra superar esses obstáculos.

(43:01) P1 – Com quantos anos você entrou na escola?

R1 – Entrei na escola novo, com três anos de idade. Até os meus onze anos de idade... é, eu entrei com três, até meus onze anos de idade eu estudei em escola privada. Escola privada de bairro, meu pai praticamente trocava dinheiro, nesse sentido, tinha sempre um desconto muito grande. Mas a primeira escola que eu estudei, dos meus três anos até mais ou menos os meus oito anos de idade, foi uma escola excelente, porque a diretora tinha uma mentalidade de educação muito forte. Até se inspirava um pouco em alguns modelos americanos de participação muito ativa dos pais. Então, por mais que o valor da escola era muito irrisório, muito pequeno, né, principalmente pra gente, a gente ia lá e conversava com a diretora, dentro das nossas condições, mas tinha, sei lá, festa junina, vai ter a comemoração e do lado da escola tinha um terreno baldio, que ao longo do ano o mato ia crescendo e tudo mais, então os pais se juntavam pra capinar, pra montar estrutura, pra montar as barracas. Então, tinha uma participação muito ativa das famílias, nas atividades da escola, extracurriculares, as atividades e a diretora tinha ali boas professoras, boas pessoas educando. Então, eu diria que a escola que eu estudei no início da minha vida, até mais ou menos meus oito anos de idade, não perde em nada pra uma escola da elite brasileira hoje em dia, sabe, que tenta colocar uma série de atividades extracurriculares pra desenvolvimento. Então, tinha muitos trabalhos em grupo, Dia do Índio, enfim. Tinha várias coisas nesse sentido, tanto de atividades culturais, musicais, tinha uma preocupação muito grande no desenvolvimento dos alunos. Então, isso me ajudou muito e ajudou muito meu irmão. Depois eu troco de escola e meu irmão teve que trocar de escola, porque não tinha mais série pra ele, pra poder estudar lá, que lá era só o fundamental, até a quarta série, que é o atual quinto ano, né?

(45:05) P1 – E como é que seu pai arrumava essa bolsa? Como é que ele conseguia?

R1 – Nem era bolsa, era conversar. Acho que as pessoas… a gente dá nomes muito bonitos e estruturados e tal. Quando você cresce num bairro de subúrbio e tal, é você ir lá conversar com o diretor e falar: “Eu tenho condições de pagar X, dá pra dar desconto? São dois filhos e tal”. E a gente tinha aquele negócio que atrasava um pouquinho, porque às vezes o salário do meu pai atrasava e aí ia lá, conversava. Mas tinha ali uma relação muito próxima das pessoas. Não tinha uma bolsa, não era bolsa, era um desconto, que era dado não só pra gente, sabe? Eram vários. Óbvio, não tinha uma questão atrelada ao desempenho, embora minha mãe sempre falava que a gente tinha que ser bom aluno, mas não era nem necessariamente por causa do desconto, era porque a minha mãe queria, porque queria… tinha uma máxima que basicamente é o seguinte: as pessoas geralmente não lembram de quem está no meio, Rosana, elas se lembram de quem se destaca positivamente ou negativamente. Então, minha mãe sempre trabalhou muito, né, ali muito próxima, pra gente se destacar positivamente, a gente precisava estar entre os melhores e tinha gente que se destacava negativamente, mas o meio, eu acho que a grande sombra que eu corro da vida, é a mediocridade, né? E medíocre é uma palavra meio forte, mas a gente, na sua grande maioria, vive num país que, quando as pessoas não conseguem trabalhar muito ou fazer muita coisa, a gente vive num país de produtividade medíocre, perante a outros países. De uma economia que acaba sendo grande, mas poderia ser melhor, então medíocre, na média. E é muito difícil, né? Em todos os momentos, a gente já teve momentos medíocres. O Wellington já teve momentos medíocres e tal. Mas eu acho que a grande sombra que a gente sempre tem que ficar olhando, o problema está na mediocridade, sabe? E na mediocridade o problema é que às vezes você não está aprendendo nada, né? Às vezes é melhor acontecer uma coisa ruim e tal e aí você olha praquilo, aprende com aquilo dali, entende, aí supera aquele obstáculo, do que ficar morno ali, na mediocridade, não se desafiando e deixando a vida te levar. Então, eu aprendi isso muito com a minha mãe e isso foi bom. Acho que uma força, aliada a essa questão da minha fé, era isso, sabe? A gente precisa trabalhar muito, estudar muito, entender as coisas…

(47:33) P1 – Qual que era a proporção de outros pretos no grupo? Era maioria, minoria na escola?

R1 – Tinha um equilíbrio muito forte. Na primeira escola que eu estudei tinha um equilíbrio muito forte. Na segunda, privada, menos. Até chegar na quinta série, eu fiz a quinta série na outra, na segunda escola privada que eu estudei, não essa, com essa diretora, chamada... essa primeira escola chamava Educandário Elimar, depois mudou pra Centro Educacional Silveira e Silva. Depois eu fui estudar numa escola chamada Colégio Trindade que, por coincidência, tem o meu nome, mas a minha família não é dona. E eu também moro, morei, cresci no bairro da Trindade, né? Então, é Wellington Trindade Vitorino, cresci na Trindade, no bairro da Trindade, estudando no Colégio Trindade. Era engraçado isso, daí falam: “Ah, sua família”. Não tinha relação, não. Se tinha, tinha lá no passado e a gente nunca identificou. Então, era bem equilibrado, bem equilibrado mesmo, sabe? Bem equilibrado mesmo.

(48:45) P1 – Você lembra, nesse período, de ter sofrido alguma situação de preconceito?

R1 – Nunca. Mas, criança é criança, né? Tinha ali suas brincadeiras e tal, mas preconceito não, sabe?

(49:02) P1 – Quais eram as brincadeiras, assim?

R1 – Ah, eu sempre fui chamado… isso um pouco depois, nessa época, tal, tinha lá, aquele rapaz, o Jacaré, que dançava no É o Tchan, então me chamavam de Jacaré, mas eu ficava feliz, sabe? Eu gosto de dançar até hoje. Particularmente, isso eu faço bem. Dançar e cozinhar são duas coisas aí, fora o trabalho, que eu faço muito bem. Então, tinha um negócio ali muito forte de chamar de Jacaré, mas eu não via isso de maneira pejorativa, sabe? Tem amigos meus hoje que me chamam de negão e tudo bem, sabe? Eu não vejo problema nesse sentido, não. Pras pessoas que têm liberdade, pras pessoas que são próximas e você entende também quando é um preconceito e quando não é, então, eu acho que fica muito claro.

(50:01) P1 – Você lembra do seu primeiro dia na escola, no primário, de professores?

R1 – Não lembro. Eu lembro de um caso muito bacana, que eu fui adiantando de série, né, eu fui adiantado de série. Então, eu saí de uma turma e fui pra outra. Na outra turma eu não me adaptei muito bem, porque as crianças eram um pouco maiores. Então, as crianças me viam antes na outra sala, agora eu fui, do nada, pra outra sala, mas como a gente aprendeu a ler antes das outras crianças, a gente aprendeu a fazer algumas coisas antes que as outras crianças, tinha um negócio de saber tabuada, de saber fazer conta e tal, então, eu fui adiantado um ano, né, eu era mais novo. Isso foi muito bom. Tive uma dificuldade de adaptação, mas depois consegui me enturmar muito bem lá, com o pessoal. Então, fui adiantado, a diretora conversou: “Nossa, ele tem capacidade e tal, pra poder adiantar ele em uma série”. Então, foi assim que aconteceu. Esse dia eu lembro bem, pela troca de uma sala pra outra e tal. Era do tipo que eu estava no meu segundo período e eu fui adiantado pro terceiro período. Tô falando aí que eu tinha quatro anos e fui pra uma turma que as crianças já tinham cinco anos. Era mais ou menos assim. Eu tinha ali, um pouco, dentro de casa, o negócio ali da leitura, tinha um negócio ali de saber fazer já contas, algumas coisas que me favoreceram, né?

(51:32) P1 – Alguma professora que tenha te marcado?

R1 – Professora Flávia. Inclusive, morou muito tempo perto aqui da nossa casa e sempre foi muito atenciosa. Os professores eram muito atenciosos, eram muito próximos, acompanhavam muito bem o aluno. Porque é fácil você chegar na frente da sala de aula e ministrar um conteúdo e tal. O difícil é você conseguir acompanhar o desempenho, a evolução, as dificuldades, ajudar mesmo as pessoas, realmente, os alunos ali, as crianças, a se superarem e tal. E eu lembro de uma forma muito positiva, então ela foi minha principal professora e uma outra professora também, a tia Fátima, essa era, inclusive, uma das sócias da escola. A irmã dela era professora, a irmã dela era diretora da escola, então isso foi muito bom também, mas a tia Flávia marcou muito. Eu lembro que uma vez a tia Flávia me repreendeu, né? E aí eu respondi a ela e eu fiquei de castigo. Naquela época, eu nem sei hoje mais, eu dou palestra em escola, mas nunca mais ouvi falar nesse termo, ficar de castigo na escola, ali, sem você poder fazer alguma coisa. E aí minha mãe chega lá e a minha mãe, naquele momento, ali, agiu de uma maneira muito firme, né? “Tem que pedir desculpas pra tia Flávia. Ela é sua autoridade ali, está dando o melhor, pra poder te ensinar e tal”. Depois daquilo dali eu nunca mais respondi pra professor nenhum na minha vida. Então, isso foi um negócio muito marcante, sabe? Eu era novinho, mas foi muito marcante. Minha mãe falando ali e tal, foi muito marcante. Essa é uma memória que eu lembro ali, bem novinho também. Talvez com quatro anos de idade.

(53:24) P1 – O seu irmão também estudava na mesma escola que você?

R1 – Mesma escola. Meu irmão sempre foi o melhor aluno, né? Sempre foi, até o ensino médio, foi o melhor aluno. Sempre. E tinha a pressão de você ser o irmão do melhor aluno, né? (risos) Que às vezes não é bom, né, porque tem uma cobrança muito grande, não necessariamente dentro de casa, embora é impossível você ter mais de um filho e não fazer comparações. Eu não conheço ninguém que fez isso na vida. É impossível. É natural o ser humano fazer comparações e tal, mas tinha ali uma questão, acho que talvez algumas pessoas convertam isso pro lado ruim, talvez inveja, incômodo; eu converti aquilo pro lado bom, de ter uma pessoa que era muito boa do meu lado, sabe? Não do meu lado ali, a todo momento, mas de saber que era uma pessoa muito boa. Eu tinha orgulho disso. Então, foi assim que foi nossa relação, quando a gente estudava na mesma escola, né?

(54:31) P1 – Porque que vocês saíram dessa escola e foram, você, seu irmão não sei se foi junto, pra Escola Parque?

R1 – É, na verdade a história é muito grande e tal, até lá.
(54:43) P1 – Mas conta! (risos)

R1 – Legal. Na verdade, o grosso da Escola Parque é o final, ali, da história e tal. Basicamente foi o seguinte: com doze anos de idade eu começo a vender picolé dentro da _______ (54:58) da Polícia Militar, com o acordo com os coronéis que eu deveria mostrar meu boletim, ao final de cada bimestre. Os coronéis, inclusive, a última coisa que eu vou fazer antes de pegar o voo, vai ter o encontro de alguns coronéis, de alguns militares e tal, de maneira segura, num restaurante aqui no Rio de Janeiro. Eu mantenho contato com essas pessoas até hoje. Foi a melhor fase da minha vida, dos doze aos quinze anos de idade.

(55:20) P1 – Ah, como é que é esse período?

R1 – Era basicamente o seguinte: talvez eu vou falar um pouco mais rápido, então, se eu estiver falando muito rápido, você pode me cortar.

(55:31) P1 – Não, fala mais devagar. (risos) Pode falar, que a gente está gravando.

R1 – Mas é um rápido que as pessoas normalmente entendem e tal. É o seguinte: meu pai… eu saio dessa escola pequena e vou pra uma outra escola, o Colégio Trindade, então são duas escolas e meu irmão vai. Meu irmão passa no colégio técnico, por meio do sorteio. No ensino médio era prova; na quinta série, quando você entrava, era sorteio. E aí eu pego, vou estudar nessa escola, meu irmão pega e sai e eu vou estudar lá o atual quarto ano, quinto ano e sexto ano, né? Que era a antiga terceira série, quarta série e quinta série. E aí, chega no final daquele ano, que é o ano de 2005 pra 2006, eu vou ter uma experiência de trabalho na padaria do meu pai. Meu pai abre uma padaria e tal, nesse sentido… não, perdão! Eu saio de 2005 pra 2006 da escola privada e vou pra uma escola pública, meu pai já não tinha mais a condição ali, de pagar aquele valor, por mais que era pequeno. Não era aquela escola lá atrás, de educação lá, que eu estudava, muito diferenciada. Já era o Colégio Trindade, que era também uma escola, regionalmente, razoável, boa e tal. E aí vou estudar nessa escola. Meu irmão vai estudar na escola técnica, entra lá por meio de sorteio e eu continuo e aí meu pai chega, quando eu tô na quinta série, não tem mais condições de pagar. E aí eu vou estudar numa escola pública, que é uma das maiores escolas. Ali eu saio de uma escola, talvez, de quatrocentas, seiscentas pessoas, pra uma escola de quatro mil, onde era muito próxima de um lugar chamada Chumbada e tal, que era um lugar que originalmente tem uma relação muito forte a questões relacionadas ao tráfico de drogas e tudo mais. Então, eu vou estudar numa escola muito grande, vindo de uma realidade muito diferente. O ano de 2006 foi um ano muito complicado, por questões relacionadas a greve, né? Teve uma greve muito forte nesse sentido e aí, no final do ano, meu pai se ergue um pouquinho e abre uma padaria. Então, de 2005 pra 2006 eu vou estudar numa escola pública, que meu pai não tinha condições e, no final do ano, meu pai se ergue um pouquinho e abre uma padaria pra ele e a gente vai trabalhar, eu numa semana e meu irmão na outra. Era assim que funcionava. Quando eu trabalhava uma semana, meu irmão não trabalhava; quando meu irmão trabalhava, eu não trabalhava na outra. Então, a gente ia intercalando. Final das férias eu peço e chamo meus pais, que eu queria continuar trabalhando na padaria do meu pai e eu queria passar pra de manhã na escola e trabalhar à tarde, até o início da noite. Minha mãe e meu pai não deixam, porque tinha uma questão ali muito forte de valorização da educação, de estudar e tal e nas férias tinha uma questão de: “Pô, vocês podem trabalhar, sim, nas férias” e podendo trabalhar assim nas férias, sempre quando voltavam as aulas, a gente não podia trabalhar. Foi quando, num belo dia, eu saio pra poder vender picolé, porque nas semanas que eu não trabalhava, que era a escala do meu irmão, eu vendia picolé pra um amigo meu chamado Pedro e o Pedro vendia picolé no salão de cabeleireiro da mãe dele e também nos salões próximos ali, nas lojas próximas. O Pedro sempre foi um cara muito envergonhado. Eu chamo o Pedro pra ser meu sócio e passar pra de manhã na escola, pra gente poder trabalhar junto. A mãe dele não deixa, porque ele tinha dificuldade de acordar de manhã e ela ia ter muito stress. E o Pedro continua à tarde na escola e eu passo pra de manhã e um belo dia eu penso o seguinte: “Pô, já que não deu certo essa sociedade com o Pedro, eu vou sair pra poder vender sozinho”. Nesse dia eu saio do batalhão, do local que eu estava vendendo picolé, me locomovo um pouquinho e tal, a mais ou menos, menos de dez metros, três caras estão descendo, era o Major Alípio, na época, Capitão Brasileiro e o Capitão Ângelo e perguntam: “Ei, menino, você tem picolé de quê?” “Coco, morango, abacaxi, milho verde, leite condensado, açaí, graviola, acerola, limão”. E aí, bacana, eles começam a chupar o picolé, um chupa e tal e resumo da história: tinham vinte picolés na caixa, cada um chupou uns quatro picolés, sobraram ali uns oito picolés, quatro vezes três, doze, foram uns oito. Talvez sobraram alguns picolés que, bota um na caixa de acerola, um na caixa, sei lá, de graviola, esses sabores geralmente que as pessoas gostam mais de coco, milho verde, chocolate, esses eram os sabores que mais eram vendidos e tal. Amendoim também vendia direitinho e aí eles perguntam: “Menino, tem mais picolé aí?” Estava muito calor no Rio de Janeiro, março de 2007 isso. Resumo da história, eu pego e falo: “Pô, preciso receber e tal, já que vocês compraram o picolé e já que não tem mais nenhum sabor que vocês querem” “Pô, estamos sem dinheiro aqui, como é que faz?” e tal e aí me chamam pra ir lá no batalhão, falaram: “Chega aí, que lá a gente te paga” - aquela brincadeira: “Se tiver dinheiro a gente paga, se não tiver dinheiro não paga”, brincaram assim. “Não, a gente vai te pagar e lá você vai vender muito”. E foi assim que eu comecei a vender picolé dentro do 7º Batalhão da Polícia Militar, no início eu só vendia no pátio do batalhão, que era a parte debaixo, depois eu passei a ter acesso a todas as seções. Um mês troca o comandante, o comandante quando eu entrei lá era o Rogério Lira, depois muda e entra um coronel chamado Ricardo Quemento Lobasso. Infelizmente o Coronel Rogério Lira faleceu alguns meses atrás, de Covid e o Coronel Ricardo Quemento Lobasso entra junto com o subcomandante dele, que é o Coronel Mendes, né? E eles me perguntam: “E aí, meu filho, tudo bem? Me falaram aí, posso te chamar de Pelezinho?” “Pode chamar”. Já tinham me apelidado no batalhão de Pelezinho e ele perguntou: “Você vende picolé aqui, né? Eu falei: “É, vendo picolé aqui, sim, coronel” “Ah, eu tô assumindo o comando” “Fiquei sabendo, coronel” “Os oficiais pediram pra você continuar vendendo picolé aqui, que você é muito educado, trabalhador e tal, bacana. Mas você estuda?” Falei: “Estudo, coronel, claro que eu estudo”. Aí ele perguntou: “Mas você gosta de estudar?” Todo mundo falava que eu era louco, mas não era bobo, né? Eu sabia onde o coronel estava querendo chegar com essa história de “se você gosta de estudar”. “Gosto de estudar, coronel”. Ele: “Então, tá bom, vamos fazer um combinado? Ao final de cada bimestre, pra continuar vendendo picolé aqui, você tem que mostrar o teu boletim pra mim”. Eu falo que foi um combinado, mas na verdade foi uma imposição, né? “Pelezinho, se você quiser continuar vendendo picolé aqui, você tem que mostrar seu boletim. Se não mostrar, você não vai mais vender picolé aqui”. Só que, pra falar que não tem história triste, Rosana, era muito lucrativo, porque eu comprava o picolé a 45 centavos e vendia a um real, ganhava 55 centavos por picolé, vezes 95, 52 reais e pouco, arredondando pra baixo, cinquenta reais. E vezes cinco, duzentos e cinquenta, vezes quatro, mil reais. Na época o salário-mínimo era 380 reais. Então, eu tirava dois salários-mínimos e meio, passei a ganhar mais que minha mãe e passei a me bancar financeiramente, desde os 12 anos de idade. E com o dinheiro que eu ganhava dos picolés, comecei a investir na produção de doces, como brigadeiro, beijinho de coco, cajuzinho, casadinho, doces grandes, que normalmente a gente vê em cima dos balcões das padarias do Rio de Janeiro e aí eu comecei a fornecer vinte doces pra cantina de uma igreja. Em um ano e meio tinha 22, 23 pontos de venda, uma média de oitocentos e cinquenta a mil doces por semana, depois que eu descobri que o que dava mais dinheiro era festa infantil e bufê, fornecia pra festa infantil e bufê. Eu não precisava alavancar meu fluxo de caixa, porque as pessoas me davam 50% pra eu poder produzir e os outros 50%, quando eu entregava, elas me davam, mas com os primeiros 50% eu conseguia comprar os materiais e já lucrava, que a margem era muito alta. Depois que eu descobri, depois de um tempo, que se eu pegasse os mesmos docinhos e colocasse numa caixa, colocasse de uma forma diferente, cada fileira com um docinho diferente e colocasse um laço nessa caixa, a disposição a pagar, de vocês, das pessoas, era três vezes mais. Aí eu fiz grana. Então, era isso com os meus doces, mas eu comecei a trabalhar muito, muito. Eu vendia picolé no batalhão, fazia as operações, tive que aprender a fazer os doces, minha tia fazia, tinha às vezes uma moça que ajudava como freelancer, ajudou em alguns aspectos e tal e, além disso, um amigo que às vezes ajudava nas entregas. Então, era uma produção muito intensa, minha mãe passou a não ter mais cozinha, mas como eu falei anteriormente, ela não cozinhava aqui, tudo era feito lá atrás, então o centro de produção era a cozinha da minha mãe, que tem um espaço razoavelmente grande, né, então dava pra fazer muito tranquilo. Então, era muito bom! Então, esse foi meu primeiro empreendimento, graças a Deus deu certo e eu mantive isso durante cinco anos e meio. Não é que eu fiz um dia e vendi. Eu fazia uma pequena operação, uma pequena fábrica e fazia pra produzir pros lugares, pra eles venderem, não fazia pra eu vender e tal. Até vendia lá no batalhão também, era muito bom! Então, eu estudava de manhã, depois de um tempo eu passei a almoçar no rancho do batalhão, que era uma espécie de refeitório. Almoçava no batalhão e depois vendia. Chegava no batalhão, botava os picolés no congelador do coronel, da antessala dele, onde ficava a ordenança, que é como se fosse uma secretária, colocava lá, arrumadinho, pegava, ia almoçar, dava atenção aos policiais, comia mais rápido que eles, ia lá, pegava os picolés. O batalhão fica, o 7º Batalhão da Polícia Militar, em Alcântara e os fundos do batalhão, que é a parte de costas do batalhão, a parte de trás do batalhão, fica pro meu bairro aqui, que chama Trindade. Então, era muito bom e eles praticamente me adotaram, mas não adotaram no sentido de dar comida pro Wellington, de dar as coisas pro Wellington, que eu tinha uma família e não precisava eu trabalhar dessa maneira. Tanto que, no início, meus pais não eram a favor. Achavam que eu estava fazendo coisa errada, não coisa errada de coisa ilícita, mas errado de não dar atenção pra escola e esse tempo eu poderia estar fazendo outras coisas. Então, teve alguns pequenos embates em casa, porque o batalhão pode ser um ambiente inseguro e tal e você está vendendo picolé lá dentro e você não precisa disso, sempre foi pouco, mas nunca faltou. Mas eu tinha um entendimento ali, na minha intuição, né, que aquilo era muito bom e que aqueles policiais realmente eram pessoas que gostavam muito de mim. Então, essa foi a primeira vez que eu desobedeci de verdade a minha mãe, de continuar indo frequentar o batalhão. Ela ia trabalhar, eu voltava da escola e passava lá, passava e vendia o picolé. Então, era assim que era feito. E era muita lucratividade, era muito bom. E aí, final do ano, fiquei lá durante três anos, era presente pro Pelezinho, meu aniversário era festa surpresa pro Pelezinho, eu passei a gostar de orquestra sinfônica e banda sinfônica porque, dentro do ambiente militar, tem esse tipo de arte e me levavam, pra poder assistir. Quase todo dia eu ia embora de viatura à paisana, que a placa é branca e eles me deixavam na esquina da minha casa. Eu terminava de vender picolé às duas e meia, no máximo três horas da tarde e ficava até às cinco horas da tarde ajudando, levando os ofícios de um lado pro outro e tal, fazendo as coisas. Uma vez eu tirei 5.5 em redação e a média do estado, naquela época estudava em escola pública, era cinco e aí o coronel: “Pô, Pelezinho, mas porque que essa nota está muito mais baixa do que as outras?” “Não, coronel, mas está acima da média, veja bem” “Veja bem, nada, Pelezinho, me diz uma coisa: o que você faz aí até as cinco horas da tarde? Que horas você termina de vender picolé?” “Duas e meia, no máximo, três horas da tarde, coronel” “E o que você faz até as cinco?” “Ah, coronel, eu sou quase um policial, né? Fico aí ajudando, tal” (risos) “Pô, bacana, Pelezinho, então, vamos fazer um combinado aí, de novo?” Olha o combinado do coronel de novo, ele falou: “Por tempo indeterminado, todos os dias, quando você terminar de vender picolé, você vai ter que escrever uma redação diferente e eu vou corrigir, até você melhorar a sua escrita e tal”. Foram as três semanas mais infernais da minha vida, na época do batalhão, porque ele fazia questão de olhar, fez questão do batalhão inteiro saber que realmente o Pelezinho estava melhorando, todo mundo me perguntava: “Qual é a nota que você tirou na redação de ontem? O coronel está sendo muito benevolente”. Enfim, tinha uma questão educacional muito forte. Depois você pega lá na frente, eu tiro mil na redação do Enem, né? Era a nota máxima. De três, quatro milhões de pessoas fazendo Enem, naquela época, menos de trezentas, quatrocentas pessoas tiraram mil na redação. Eu aprendi a escrever, ou melhor dizendo, tomei mais gosto de escrever, muito pela relação do coronel. Depois eu fiz Kumon de Português, tinha feito de Matemática e fiz de Português, isso me ajudou muito, interpretação de texto tinha algumas coisas que eu tinha uma certa dificuldade, nesse sentido. Mas, sem sombra de dúvida, aquela faísca e aquela preocupação ali com uma nota muito menor do que as outras, nesse sentido, fez diferença, fez uma diferença muito grande na minha vida. E foi assim, eu realmente tive um ambiente muito frutífero, internamente, com aqueles policiais. Normalmente, nas férias, eu trabalhava no batalhão, ficava lá o dia inteiro, ia de manhã e ficava até o final do dia, era muito bom. Eu conheci vários filhos dos policiais, então, quando tinha, sei lá, festa do Dia das Crianças pros filhos dos policiais, o Pelezinho estava ajudando a organizar. A minha primeira visão de gestão que eu tive, na vida, foi dentro do batalhão. Minha primeira visão de começar a entender corporações, entender estruturas, entender realmente como as coisas funcionavam, foi dentro do batalhão e isso foi excelente, né? Porque, no batalhão, eu tive que aprender a ser uma pessoa discreta, né? Não que eu não fosse, mas no batalhão você tinha numa seção as pessoas falando mal do coronel, na outra seção as pessoas falando bem do coronel e daqui a pouco eu estava na frente do coronel e o coronel: “E aí, Pelezinho, como que estão as coisas? O que você tem escutado aí? Como é que estão aí as coisas no batalhão?” Então, assim, eu tive que aprender a ser uma pessoa discreta e as pessoas hoje me perguntam: “Porque você não tem medo de falar, sei lá, com o homem mais rico do Brasil, com fulano, com ciclano?” Porque lá eu aprendi muito claro sobre relações de poder, nesse sentido. Acho que não tem nenhum lugar, talvez, com maiores relações de poder e respeitando hierarquia, né, nesse sentido, do que um ambiente militar. Ali foi minha grande escola da vida, né? Ali eu comecei a pensar de forma estratégica, ali eu comecei a focar, a ter mais foco, mais disciplina, a planejar as coisas. Nada do que aconteceu na minha vida, ou 95% das coisas que aconteceram na minha vida, não foram ao acaso. Eu não acredito em acaso, não acredito em sorte. Eu acredito em Deus, em mim e nas pessoas que estão do meu lado, ali, acreditando também. Foi planejado. Então, estudar no MIT foi planejado, quase tudo foi planejado, nesse sentido. Não foi ao acaso. Então, aquilo dali eu aprendi no batalhão, porque lá eu sabia exatamente quais eram as comunidades que…

(01:10:30) P1 – Mas no batalhão você já tinha na sua cabeça que você ia pra MIT?

R1 – No batalhão, não. Mas antes de entrar na graduação, eu já sabia que eu queria fazer MBA numa top university, já conhecia as principais faculdades dos Estados Unidos, que eram a Harvard, Stanford e MIT e depois eu decidi que eu queria fazer desse lado da costa. Ficaram duas, a Harvard e a MIT, ou Oxford na Inglaterra, a minha primeira bolsa de estudos. Então, eu já tinha clareza ali, mas ali no batalhão ____ (01:10:57). Eu já tinha clareza que eu queria fazer MBA fora, com 17 anos de idade. E tô indo dez anos depois, né? Que normalmente a média de idade é 28 anos, tem lugar que, pra internacional, chega a 29, tô um pouco, às vezes, abaixo. Então, o batalhão me ensinou isso. E, naquela época, meu grande sonho era ser Comandante Geral da Polícia Militar, chegar a Secretário de Segurança Pública. Então, o batalhão me estimula muito a ter uma visão muito grande de sociedade. Então, hoje, quando eu falo pro ProLíder, que é o maior programa de formação de lideranças do país, um fato, de que a missão do instituto é formar gente pra atuar dentro do ambiente público/político e dentro do ambiente empreendedor brasileiro, essa minha contribuição que eu quero continuar dando pra sociedade, dando oportunidade pra outras pessoas, de multiplicar o impacto daquilo que eu construí, vem muito dessa visão que eu construí lá no batalhão, de como é que a gente consegue, realmente, dar oportunidade pras pessoas, como a gente consegue agir na sociedade de maneira ativa. E tinha um tema lá no batalhão, que eu acredito muito, que é “Servir e Proteger”, né? Um negócio muito grande de servir, então, essa questão de você servir a nação. É certo que a polícia militar do Rio de Janeiro tem inúmeros problemas, e tal, desde corrupção, desde outras coisas, mas o que eu posso te afirmar é que tem muito mais gente realmente querendo fazer coisas boas, do que gente corrupta. Tem muita gente séria arriscando suas vidas, saindo todo dia pra tentar salvar, ou tentar amenizar e proteger as pessoas, né? Eu conheci o outro lado, então, muito do que eu faço hoje tem influência direta lá e eu queria retribuir pra sociedade. Eu conheci o termo “give back”, devolver para, mas eu queria retribuir, queria fazer com que as pessoas tivessem boas oportunidades, que nem eu estava tendo, nesse sentido. Você vai ver que, ao longo da minha história inteira, eu vou contar como uma narrativa literalmente de otimismo e é assim que eu vejo a vida, né? Então, o tema hoje do Instituto Four, do ProLíder, é ‘reclamar, não muda’. Porque eu aprendi, na vida, a não reclamar, porque se reclamar só toma energia minha e de quem está ao meu redor. No final do dia, só reclamar não muda, né? O problema é que tem gente que às vezes reclama muito e se esconde, né, os mais intelectuais, atrás de uma questão, que é: “Eu sou crítico, eu sou crítica”. Então, continua. Deixa que enquanto eles reclamam, a gente vai trabalhando, vai fazendo a nossa parte, pra tentar mudar, né? Porque eu respeito muito as pessoas que estão fazendo. É muito fácil apresentar uma crítica e não estar fazendo nada, é confortável demais.

(01:13:32) P1 – Wellington, e aí, como é que você sai, essa passagem de lá e vai pra Escola Parque?

R1 – Tá longe ainda também, tá?

(01:13:40) P1 – Ah, então continua. Não, vamos contando a história. Que eu quero trazer pra história a sua experiência, entendeu? Como que você foi…

R1 – A história da Escola Parque eu resumo em um, dois minutos, no máximo, porque foi um turning point na minha vida, mas não foi o momento mais importante. Tudo que eu faço hoje é muito pautado no que aprendi ali, até meus dezesseis, dezessete anos, com minhas experiências empreendedoras. Não é à toa que eu quero ir pra MIT continuar empreendendo, não é à toa que hoje eu empreendo, não é à toa que hoje eu devolvo pra sociedade e tal e aí eu saio do batalhão… na verdade, antes de sair do batalhão, eu consegui uma bolsa de 50%, que os militares conseguiram. Eu estudava numa escola pública e fiquei seis meses sem professor de Português, seis meses sem professor de Matemática, bato na porta do coronel, as pessoas falavam que eu era filho do coronel, então, bati na porta lá do coronel, pra ver se ele conseguiria uma bolsa, sabia que ele tinha uma influência. Tinha a possibilidade da gente conseguir 100% na melhor escola, na época, em São Gonçalo, mas era muito longe do batalhão e aí, resumo da história, eu pergunto pro coronel se não podia ser na esquina ali do batalhão, que era a terceira/quarta melhor em São Gonçalo. Aí ele fala: “Pô, Pelezinho, você quer a bolsa e ainda quer escolher o local?” Falei: “Coronel, mas eu quero continuar vendendo aqui”. Ele falou: “Escolhe uma viatura aí, eu vou redigir um ofício, escolhe um oficial pra ir lá com você, em meu nome, pra ver se a gente consegue essa bolsa nessa escola”. Resumo da história: eu consigo uma bolsa de 50% pra estudar à tarde, na época, eu vou lá e depois eu converso com a diretoria, pra eu conseguir estudar de manhã, porque estudar à tarde me prejudicava na venda, com os picolés no batalhão. Isso foi ótimo. E os outros 50% eu pagava no meu bolso. Então, com 14 anos de idade eu tinha uma mensalidade numa escola que não era barata, pra poder pagar. Mas eu tinha dinheiro pra isso e não aceitei que ninguém me ajudasse, no sentido que os policiais pagassem a outra porcentagem. Isso foi muito bom. Aí, eu estudo nessa escola, no meio do ano eu tive descolamento do ápice da cabeça femoral.



(01:15:44) P1 – Você estava com 14 anos?

R1 – Como?

(01:15:47) P1 – Você estava com 14 anos?

R1 – Quatorze anos de idade. Eu tive deslocamento do ápice da cabeça femoral e eu sempre acredito que nada acontece por acaso, né? Deus escreve certo por linhas certas. E eu precisava fazer uma cirurgia rápida e colocar um parafuso. Tenho um parafuso de sete centímetros de titânio, prendendo a minha bacia do meu fêmur. Basicamente é isso. Resumo da história: a escola arca com os dez mil reais da cirurgia, seguro escolar. Então, a minha passagem aquele um ano pra escola foi, literalmente, pra eu poder fazer aquela cirurgia e eu fico cinquenta dias sem pôr o pé no chão. Eu tinha uma vida mega ativa. Meu pai assume toda a parte comercial, negociação, entrega dos doces e tal, porque não dá pra eu chegar pro comerciante e falar que eu vou ficar X tempo sem fornecer o produto que eu sempre colocava, eu tinha uma operação aqui rodando e tal. Então, meu pai assume, eu deixo de ir no batalhão durante esse período. Existe uma troca de comando. Eu lembro que eu fui de muleta, pra participar da troca de comando. Porque sempre era o seguinte: como é que eu peguei quatro trocas de comandos no batalhão? Porque um coronel sempre me apresentava pro outro, então tinha lá, às vezes, o Secretário de Segurança Pública, o Comandante Geral da Polícia Militar, o Chefe de Estado-Maior, que é abaixo do Comandante Geral da Polícia Militar e aí vinha, né, o chefe da regional, o novo comandante, o comandante atual e o Pelezinho também estava lá na frente, participando da solenidade e tal, porque um coronel me apresentava pro outro, geralmente era assim que funcionava e eu cheguei a ir lá nesse período e fiquei, nesse período de mais ou menos uns cinquenta dias, sem pôr o pé no chão, foi quando eu pego e penso até quando eu ia ficar vendendo picolé na minha vida. Eu fiquei pensando: “Pô, será que até com vinte anos de idade, vinte e dois, vinte e três, sei lá quantos anos, eu chegando aqui, oferecendo picolé e tal e todo mundo me incentivava: “Pô, Pelezinho, você é muito estudioso, você isso e aquilo”. E naquela época eu decido sair do batalhão e também tenho a consciência que eu teria dificuldade de passar no teste físico, pra ser oficial da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, em função do parafuso que eu tinha colocado na perna. E aí que eu decido sair do batalhão, eu já tinha entendido que a vida é feita de ciclos, né? Tem ciclos que você inicia, tem ciclos que uma hora você termina e a gente, como ser humano, também acho que tem uma tendência a prolongar ciclos, sei lá. O relacionamento não está bom e você tende a prolongar o ciclo naquele sentido e tal. O namoro, por exemplo. A gente tende a prolongar o ciclo, às vezes, numa situação, numa empresa que a gente está, num momento que a gente está. A gente, a tendência sempre é a zona de conforto e aí, na zona de conforto não existe quebra de mudanças. Só que, naquele momento, forçadamente, eu tive essa quebra e eu decido estudar muito, passei em quarto lugar numa escola técnica em alimentos, vou estudar numa escola técnica em alimentos e eu saio do batalhão no dia 5 de fevereiro de 2010. Eu entrei em março, fiquei lá dois anos e onze meses, três anos, mais ou menos e tal. Eu entro em março de 2007 e saio cinco de fevereiro de 2010. E botei na minha cabeça que eu ia ser o melhor aluno do meu curso, desse colégio técnico, que o grupo Pão de Açúcar investiu sete milhões e ia ganhar o grêmio estudantil, ia ser representante de classe, eu ia realmente ser um expoente educacional e abri mão e voltei um ano, pra estudar nessa escola técnica. Então, aquele um ano que eu tinha ganho lá atrás, nesse momento eu peguei e voltei, embora que no ano que eu fiquei… que eu tive que fazer a cirurgia, foi o ano de gripe suína, 2009, foi o ano de morte do Michael Jackson. Eu lembro que, como eu fiz a cirurgia ali próximo do feriado de Corpus Christi, eu fiquei muito tempo sem pôr o pé no chão, eu assisti todos os tributos, tudo lá relacionado ao velório do Michael Jackson e por aí vai e tal. E, com a gripe suína, eles estenderam e postergaram o início das aulas, né? Foi até o final de agosto, mais ou menos, se eu não estou enganado. Então, quando eu volto, como o Corpus Christi é em junho novamente, passam esses cinquenta dias e eu volto a andar com duas muletas, depois com uma muleta só, passo nessa escola técnica, entro nessa escola, fui o melhor aluno do meu curso, ganhei o grêmio estudantil, fui representante de classe, fiquei dois anos nessa escola, ganhei uma bolsa pra estudar num programa chamado ______ (01:20:23), da embaixada americana, foi aí que abriu muito a minha mente em relação à cultura norte americana, às oportunidades de estudo também, que tinha fora, isso foi fantástico. Nessa época eu já tinha, sei lá, 16 anos de idade, já estava no segundo ano. Todo mundo da minha escola queria fazer Engenharia de Alimentos ou algo relacionado a gastronomia, eu decidi que eu não queria fazer nada disso, então, o que eu gostava? Foi aí que eu comecei a entender sobre as faculdades. De maneira mais específica eu já entendia, porque meu irmão estava passando por aquilo, já tinha passado por aquilo um pouquinho antes do que eu, por ser dois anos mais velho, aí eu olho praquilo e vejo que tinha ali a PUC, Ibmec, FGV, muito boas na área de finanças, na área de administração e economia. Eu me dedico pra conhecer essas três, que estavam nos rankings melhores, de uma forma melhor posicionadas até que as federais, na época e tal. E eu decido conhecer, conheço a PUC, por meio da tia de um amigo. Conheço a Ibmec dia 30 de junho de 2011 e aí que começa uma conexão com a Escola Parque, porque eu fui numa palestra e tive um destaque muito grande e no final um senhor me entrega um presente, um palestrante chamado Marcos Vono: “Ah, vou dar um presente hoje pra uma pessoa que se mostrou muito especial e que, no futuro, a gente vai ver alcançando voos muito altos. Pra você, meu amigo Wellington”. Todo mundo levanta, bate palma e depois ele faz uma brincadeira: “Depois eu quero saber o telefone dos teus pais, porque eu quero saber qual a receita de bolo que eles utilizaram aí porque, quando meu filho tiver a sua idade, eu quero que ele tenha essa gana, essa curiosidade, essa garra que você tem”. Eu pergunto pra esse senhor se, no final da palestra, eu poderia depois, mandar um e-mail pra tirar dúvidas de carreiras, eu mando um e-mail pra esse senhor, de nove páginas, quase dez páginas, contando a minha história e tal e, no final, colocava ali as minhas metas, meus objetivos e perguntava pra ele se eu estava no caminho certo. Era a única coisa que eu pedia pra ele, não pedia dinheiro, não pedia nada, eu perguntava se eu estava no caminho certo. Então, eu assisto essa palestra, a gente marca, ele pega e me liga: “Já vi as possibilidades de poder te ajudar, mesmo você não pedindo. Não pedi sua permissão, eu peço desculpas, mas já enviei seu e-mail pra vários amigos meus que são presidentes de empresa, vários amigos meus que são diretores de empresas, né? Quando se tem que correr atrás de um sonho, você tem que arriscar. Me diz uma coisa: São Gonçalo é perto de Copacabana?” “Super perto, pode ficar tranquilo”. E foi assim que eu fui encontrá-lo. Nunca tinha entrado num metrô na minha vida, nunca tinha entrado num grande hotel. Cheguei lá às sete e dezessete, marcamos das sete e meia às oito e meia e basicamente ele começa falando o seguinte: “Superbacana você estar aqui hoje, mas eu tô aqui hoje porque eu acredito que, por meio da sua história, você pode vir a ser inspiração pra muitas pessoas que vêm da mesma realidade que você, muitas pessoas que não vêm da mesma realidade que você, como meu filho, que nunca vai precisar vender picolé na minha vida e basicamente eu acredito que você tenha que entrar numa boa escola, pra fazer o terceiro ano do ensino médio, que é o último ano do ensino médio e eu conheço lá o pessoal da Escola Parque”. Resumo da história: foi assim que eu cheguei na Escola Parque da Gávea. Foi um shake hands, eu tive que fazer uma prova de nivelamento, fui muito bem em Humanas: História, Geografia, enfim. Português e Redação eu fiquei ali na média, acima da média um pouco. Matemática eu tinha ido muito mal, a escola comprou ali a minha história, vamos fazer acontecer, quando tirava a média, dava mais ou menos a média que a escola pedia e era mais um local, mais uma cadeira dentro lá da escola, então tinha um apelo ali, muito forte: “Cara, essa história pode dar muito certo” e foi assim que eu fui estudar lá. A minha participação na sala de aula, todos os dias, eu acordava às quatro da manhã, quatro e quarenta, quatro e cinquenta eu pegava o ônibus, chegava na escola às seis e quarenta, estudava das sete às cinco, chegava em casa mais ou menos às oito horas, oito e meia, entre oito e oito e meia, com muita tranquilidade no trânsito chegava sete e quarenta, porque pegava o trânsito ali ou da zona sul, ali, Jardim Botânico e companhia, ou do outro lado lá, Lagoa, depois Centro, zona sul, Centro do Rio, Ponte Rio-Niterói, BR. Então, mas foi assim, primeiro…

(01:24:28) P1 – Como foi a sua recepção lá na escola?

R1 – Excelente!

(01:24:33) P1 – A convivência com outros? Tinha outros pretos lá?

R1 – Excelente. Se tinha o quê? Desculpa.

(01:24:39) P1 – Outros pretos. Como é que era?

R1 – Não tinha. Na verdade, dos trezentos e sessenta alunos, tinham mais... eu estou falando de 2012, tá, a realidade, porque hoje o tema de diversidade está em alta e essa pergunta acontece hoje, quando me perguntam. Só pras pessoas... hoje eu não sei como está lá essa questão. Pra falar a verdade, a Escola Parque é uma escola, assim como Santo Agostinho, Santo Inácio, São Bento, pH, então, é uma escola da elite do Rio de Janeiro e tal. A mensalidade não é barata, nesse sentido, mas a minha receptividade foi extremamente positiva e eu diria, muito porque a escola é uma escola construtivista. Então, eu tinha amigos ali, nesse sentido, que tinham um pensamento e uma consciência muito acima do normal, pras pessoas de outras escolas e tal, mas eu tinha uma coisa em mente, Rosana. É bem forte falar isso, mas eu não fui pra Escola Parque pra fazer amigos. Eu tinha ido pra Escola Parque pra poder ter a preparação necessária pra conseguir atingir meu objetivo, de passar no vestibular. Óbvio, o Wellington sempre foi uma pessoa muito aberta, comunicativa e sempre trouxe muita gente pra muito perto. Então, construí amizade com pessoas incríveis. Tive oportunidade de conhecer e me tornar uma pessoa um pouco próxima de pessoas que eu admiro muito. Me tornei muito amigo do filho do Caetano Veloso, então eu conheço bem o Caetano, a Paula Lavigne, são pessoas incríveis. Conheci o filho da Malu Mader, conheci filhos de grandes empresários, enfim, muita gente, mas eu não entrei lá pra fazer amigos. Eu sei que a escola é um ambiente bacana pra poder construir amizades, mas o batalhão também me ensinou isso, né? Se você tem um objetivo, você vai pro seu objetivo. Amizades eu saberia que era uma consequência, sabe e tinha um foco muito claro: não tinha muito tempo, sabe? Era um ano pra dar resultado. As escolas geralmente dão três anos em dois, o último ano é revisão pro vestibular e tal. Então, até no que eu achava que era muito bom, a molecada era muito melhor do que eu. Então, tinha isso, né? Até no que eu achava que eu era muito bom, a molecada era muito melhor do que eu e várias disciplinas de vários conteúdos, né, dentro das disciplinas, que eu não tinha visto e que eles já tinham visto e no último ano só estavam vendo a revisão. Então, eu tive muita dificuldade no início, fui reprovado em seis disciplinas, então, desculpe falar assim, foi um banho de sangue, foi um negócio assim, muito ruim. Mas é aquilo, né, quando está muito ruim, eu falei no início, você tira o aprendizado. Eu sou de um lugar que eu era o melhor e fui pra um lugar que eu era mais um. E mais um não é porque as pessoas não me respeitavam, eu era mais um. Mas as pessoas sempre dão a bola pros melhores, isso é um fato, sempre dão a bola pra os que se destacam. Dificilmente você encontra ali uma estrutura que identifica o esforço e o delta, sabe, de onde saiu e de onde chegou. O quanto essa pessoa está crescendo pelo delta. Normalmente a gente pega e fala o seguinte: “Se você ganhar uma bolsa, eu vou te dar outra bolsa, porque você já ganhou essa outra bolsa”, você está entendendo? Eu consegui várias bolsas na minha vida, eu devo ter tido umas quinze bolsas na minha vida e tal, literalmente, eu tenho certeza, porque lá atrás eu tive a inteligência de entender. Então, eu consegui a primeira, com a história que eu tenho e com o esforço que eu tenho, que normalmente é acima da média da galera da minha idade e tal, eu sempre _____ (01:28:09), mas eu sempre vou fazer um pouco mais. Se acordarem às quatro, eu vou acordar às três e meia; se acordarem às três e meia, eu vou acordar três horas. Não tem problema, sabe? Eu vou ter que ganhar no tempo porque, quando você é muito novo… depois não, você se torna muito experiente em fazer alguma coisa, mas quando você é muito novo, o tempo conta, sabe? Então, o sacrifício do sono que eu fiz lá atrás, hoje me dá uma recompensa muito maior, do que… sabe, é isso, é ser aprovado no MIT com uma história bacana, sendo respeitado, é isso. Então, eu tinha colocado na minha cabeça que o que as pessoas não estavam dispostas a fazer licitamente, tudo que estivesse lícito, eu iria fazer. Independente se era preto, pobre, rico, branco, não importa. Eu iria fazer um pouco mais, sempre e tal. E quando eu saí do batalhão isso ficou muito claro, porque o batalhão é o melhor lugar que eu convivi na minha vida. Eu lembro. Foi um dos dias que eu mais chorei na minha vida.

(01:29:05) P1 – É mesmo?

R1 – Foi o segundo dia. A morte do meu avô e o segundo dia foi o dia que eu saí do batalhão. Talvez quando eu tenha sido aprovado pra MIT, no meu momento ali de agradecer a Deus, eu tenha chorado tanto quanto, mas eu chorei muito, porque era um choro, assim, que a lágrima desceu, porque eu sabia que a segunda-feira era a virada de página. Então, tanto que eu mantenho contato com esses coronéis, com esses militares. O que eu mais conheço no Rio de Janeiro é policial militar do estado do Rio de Janeiro. Não conheço de classe, categoricamente, porque foram três anos e muitos policiais diferentes passando por aquele batalhão. E uma parte, assim, pequena, mas considerável pro tamanho, eu mantenho contato. Então, foi assim, mas fui muito bem recebido. Uma vez teve uma forma de abordagem de uma piada preconceituosa: “E aí, neguinho e tal, pá”, um negócio assim. Só que o cara... eu também aprendi, lá no batalhão, que não vai ser um playboy que mata aula quase todos os dias para ficar fumando maconha no Arpoador, gastando o dinheiro dos pais - que lá era tempo integral, né? Então, se você mata aula na parte da tarde, você está gastando dinheiro dos seus pais à toa - que ia falar alguma coisa, que ia fazer eu abaixar a cabeça, né? O rapaz falou e foi assim, depois conversando com o cara, ele não era preconceituoso, nem nada, ele falou de piadinha, né, jogou uma piada. Eu rebati e não vai ser um playboy da zona sul que vai me zoar. Vai ser difícil encontrar um playboy da zona sul que vai ter a capacidade de falar alguma coisa, né, dialogar ali. A gente cresceu aqui na lei da sobrevivência. Desde pequeno tem que aprender a ser mais desenrolado. Na escola pública que eu estudei, eu não falei, mas já teve dia de: “Ah, vamos te juntar lá fora”. Não sei se você já ouviu falar desse termo. “Juntar lá fora” era um bando de garotos te cercar, para te bater. E você faz como? Como é que você sai da escola? E aí você vai ter que ir lá, desenrolar. E aí gente falava “desenrolar esse caô”, né? Que ‘caô’? Você nem sabe. O cara passou, você encarou o cara sem querer, ou então olhou para o cara, o cara olhou, não gostou: “Por que você está me encarando?” Você aprende. Ninguém na zona sul passa por isso, né? Então, você aprende ali a ser desenrolado, você vai lá, conversa e tal. Enfim, junta ali uma galera. Nunca aconteceu comigo, mas eu já vi gente apanhando muito, sendo ‘juntado’, sabe? “Vamos juntar o cara”, na covardia, sabe? E aí as pessoas sabiam que aquelas pessoas que estavam fazendo isso também eram ligadas a uma facção. Não que eles eram hoje bandidos, mas eram próximos de pessoas lá da comunidade, lá da favela, lá da Chumbada. Então, assim, você cresce nessa realidade, você aprende. Isso é longe da minha casa... longe não, mais ou menos longe da minha casa essa escola e tem mais uma distância dessa comunidade, que é bastante perigosa e tal. Era bastante perigosa, hoje já não é mais tanto. Então, foi assim que aconteceu, até que eu volto na minha antiga escola, vou conversar com uma professora minha e basicamente ela pergunta: “Wellington, você ____ (01:32:24) classe e tal?”. Eu falei: “Não”, conto essa história para ela, aí ela ri, né? Não vai ser um playboy da zona sul para falar uma coisa, que eu vou abaixar a cabeça. Então, ele falou, eu rebati, o zoei, todo mundo o zoou, ele ficou meio com cara de leite com pera, sabe? Com aquela cara de ‘desbabacado’? E aí... (risos) a professora falou: “Wellington, o que te aflige? Tem alguma coisa errada, tem alguma coisa te afligindo”. Eu falei: “Professora, eu não tenho tempo de estudar. A pessoa que demora mais tempo para chegar em casa chega, sei lá, seis horas da tarde, uma hora, uma hora e dez. E eu não tenho tempo. Eu nunca consigo terminar de fazer todos os exercícios. Eu chego em casa...”. No início eu tentava, pô, estudar no ônibus, em pé e tal. E depois, no primeiro mês, eu só queria encontrar um lugar vazio lá atrás do ônibus. Ou então na escada ali, tem ônibus que tem escada no meio, né? Na escada ali, me encostar ali, dormir ali, tentar tirar um sono, porque eu chegava em casa oito, oito e meia e ficava estudando até meia noite, não comia nada, nem tomava banho, para o corpo não relaxar, não bater aquela moleza, né? E aí, depois, antes de dormir, comia alguma coisa, tomava um banho, para no outro dia acordar às quatro. Aí que ela fala: “Minha irmã é diretora numa escola pública na zona zul, o que você acha de ficar lá?” Resumo da história: eu passei a dormir na sala dos professores, numa escola pública que é no Leblon, sendo menor de idade. No início eu não tinha a chave. Poucas pessoas no início sabiam, depois várias pessoas ficaram sabendo e tal, lá, para poder conseguir aproveitar a oportunidade para estudar na Escola Parque. Quando ela me falou isso, eu perguntei: “Ah, tia, tem mais alguém que dorme lá?” Ela falou: “Não” “Professora, mas como assim?” “É, você vai ficar lá e tal, dormindo sozinho”. Eu pensei duas coisas naquela fala dela, depois. Voltei caminhando e tal, gosto muito de caminhar, para poder refletir. O primeiro: quem, para aproveitar uma oportunidade de estudo no Brasil, se coloca à disposição de fazer isso? A gente escuta muitas histórias nesse sentido, mas pô, vou dormir na sala dos professores, sozinho, sem a chave, menor de idade. (risos) É aquilo que a gente fala: “Tudo certo para dar errado” e tal. Mas com a mão de Deus ali olhando, Deus é tão bacana, tão generoso, que tanta escola pública para a irmã dela ser diretora, era a três quadras da praia do Leblon, do lado da Gávea, que era onde eu estudava. Então, era muito bom. E, por outro lado…

(01:34:46) P1 – Como é que seus pais viram isso?
R1 – Já te respondo. Vai ser estilo “Uma Noite no Museu”. Os meus pais... eu sempre gostei muito desse filme, né? Então, eu falei: “Vou dormir cercado de livros”. E eu tinha certeza, Rosana, que um dia eu ia contar essa história, de forma vencedora. Se fé é aquilo que você... fé é você crer no impossível, né? Naquilo que você não consegue ver. É certeza da concretização daquilo que você não consegue, então você pode ter certeza que eu tive muita fé. Tinha certeza, tinha certeza. Eu tinha tanta certeza, que eu gravei um dia inteiro, uma noite inteira eu dormindo lá, porque eu sabia que um dia eu ia poder mostrar aquilo. Tenho a gravação de eu dormindo um dia inteiro. Sabia que um dia eu usaria…

(01:35:30) P1 - Compartilha com a gente.
R1 – Eu não compartilho muito não, eu já mostrei só uma vez, numa palestra, num fórum de CEOs. Mas, para vocês, como aqui a questão do Museu da Pessoa é uma coisa muito forte, eu vou compartilhar com vocês a gravação. Só preciso procurar. Você vai ver que é um vídeo, vai me ver balançando e tal. Mas o que as pessoas se impressionam é que o sofá cama, como eu já era grande, eu tinha que dormir de diagonal, né? Então, tinha lá. Tem fotos lá das minhas coisas, na sala dos professores e tal. Meus pais, desde quando eu tinha 14 anos de idade, quando eu decidi ir para aquela escola privada, pagando 50% e que minha avó foi minha responsável financeira, embora eu pagasse, mas precisava de alguém para assinar, minha mãe parou de se meter na minha parte educacional, de onde que eu iria estudar, mas ela sempre queria eu tivesse boas notas e ponto. Mas ali a gente já tinha o princípio de “temos que trabalhar para estar entre os melhores” e tal, nesse sentido. Então, fui chegar em casa, conversar com a minha mãe e falar que eu queria. Minha mãe só falou: “Ah, quero conhecer o local”. Ela foi lá, conheceu, a gente entrou na sala da diretora, ela pegou, andou um pouquinho, então ela falou - a sala estava meio cheia, era horário de intervalo, tinha professores lá - meio que baixo: “É ali que ele vai ficar, né? Tem um sofá cama lá atrás”. Foi assim (risos) que eu passei a dormir na sala de professores, numa escola pública no Leblon. E aí, de sete às cinco, eu estudava no Pilotis da PUC... de cinco às dez, perdão. Das sete às cinco eu estava na Escola Parque. De cinco até as dez. E era uma mudança, assim, diferente, né? Porque eu descia de Chrysler, carro importado, sofisticado e tal. Parava ali, ficava estudando ou na casa de dois amigos que me abrigavam, porque no final de semana eu não podia ficar na escola, no início, porque eu não tinha a chave, senão eu ia ficar trancado na sexta-feira e só ia sair na segunda-feira. Ou no Pilotis da PUC. E eu chegava na escola, faltava professores, não por culpa da diretora, faltavam professores, porque professor, às vezes, falta bastante e tal. Eu respeito muito a classe de professores, mas tem uma porcentagem de professores que faltam acima do normal, nesse sentido. Então, eu respeito muito, mas tinha professor que faltava, basicamente era isso. Tinha professor, mas professor faltava. E não faltava pouco não, faltava bastante. E eu entrava em sala, para poder dar monitoria, era uma forma de eu contribuir. Então, podia chegar às cinco horas, ficar estudando na biblioteca. Se alguém me perguntasse o que eu estava fazendo lá, eu era monitor voluntário, mas monitor que nunca ia embora. E, quando faltava professor, o inspetor ia lá, me chamava na biblioteca, eu entrava em sala, às vezes juntavam duas turmas e eu dava aula para essas turmas, de conhecimentos que eu poderia contribuir. O pessoal era mais ou menos da mesma idade. Então, das sete às cinco eu convivia com a elite brasileira, o pessoal falando em esquiar em Aspen e surfar em Bali. E, de cinco às dez, com a realidade do Brasil, com gente da Rocinha, Vidigal, Muzema, Rio das Pedras e tal, que são as comunidades que normalmente as pessoas trabalham na zona sul ao longo do dia, estudam à noite e depois voltam para as suas casas. Senhoras que às vezes trabalham de empregada doméstica e faziam o EJA na época, Educação de Jovens e Adultos, porque chegavam em casa por volta de onze e meia, às vezes meia-noite. Os maridos bêbados que às vezes chegavam em casa e batiam nelas. Quando ela foi para escola, quando ela chegava, o marido já estava dormindo. Então, assim: um laboratório de histórias, situações, assim, de pessoas. E era uma questão pessoal, o sonho era descer para o asfalto - essas eram as falas - para poder dar uma vida melhor para a minha família. Então, era uma questão muito forte aí, de duas realidades no mesmo dia, que por mais que eu viesse de subúrbio e periferia, eu não tinha convivido com gente de favela, comunidade, assim, dessas que a gente escuta falar tanto. Na escola pública lá eu tinha um convívio ali, mas não era amigo e tal. Ali, não, eu me tornei amigo, eu dormia na Vieira Souto, em frente da praia de Ipanema e dormi já no Vidigal, na Muzema, enfim, em lugares, assim, que a gente escuta falar, assim, que a criminalidade historicamente sempre foi muito mais intensa, nesse sentido. Então, meio que aqui eu estava num mundo, aqui outro mundo, eu estava mais perto desse mundo, mas eu não conhecia esse mundo, eu passei a conhecer e no mesmo dia eu estava vivenciando coisa de outro mundo. Um dia eu estava com uma galera ali conversando, no outro dia estava eu estava no Alto Leblon, na cobertura XPTO, na social da turma, na casa da fulana e da sicrana. Era bacana isso aí, né? Então, assim, foi um laboratório. Foi o maior laboratório que eu já…

(01:40:21) P1 – E a galera sabia? A galera da Escola Parque sabia que você dormia lá?
R1 – Nem sabiam. E por que que as pessoas não sabiam? A gente tinha um medo danado de chegar no Secretário de Educação. Imagina, né? Você está convivendo num espaço que as pessoas são influentes, pessoas influentes politicamente, de renda, poder, entre aspas e tal. Então, tinha dois, três amigos que sabiam e tal, poucas pessoas sabiam. E eu levava da maneira mais divertida, né? Eu brincava com eles e falava que ninguém tinha mais metro quadrado, depois das dez e meia até as seis horas. Então, eu era uma pessoa afortunada, nesse sentido. Acho que é “afortunada”, né? Que é o significado de bendecida, né? Bendecida é como se fosse afortunada, no sentido de grana, né? Eu brincava nesse sentido. Eu tinha um flat no Leblon, um apartamento, digamos... eu brincava ali, com esses mais próximos e tal. Acho que você tem que conseguir enxergar a vida por perspectivas, né? E eu olhava dessa forma. Então, era assim: sete às cinco a elite, cinco às dez a realidade do Brasil. E aí eu parei de chegar ali da escola por volta de dez, dez e meia, me misturava no movimento, me escondia lá atrás e depois voltava. E cinco, cinco e meia, banho tomado e mochila feita. Eu passei a chegar cinco horas, ajudava a fechar a escola ali e tal, me misturava meio com o movimento, ajudava abrindo e fechando, as tias da limpeza e da cozinha que sabiam, um ou outro inspetor, a diretora geral e a diretora adjunta. Mas tive mais tempo de estudar, né? Foi ótimo. E aí os resultados começaram a melhorar. Eu só precisava de um pouco mais de tempo. O gap é grotesco. É uma ignorância coletiva a gente achar que escola pública no Brasil tem a mesma base que uma escola boa, para preparação para vestibulares. É uma ignorância. Por isso que eu sou a favor das cotas e tal. É realmente uma ignorância, é só parar e pedir, se possível, para assistir dois, três dias de aula numa escola pública e vai conseguir entender. Óbvio, tem ali o Pedro II, Colégio Militar, que são escolas diferenciadas, mas isso é minoria. E aí, para resumir, depois da tempestade vem a bonança, eu passo na federal, na estadual, ganho bolsa na PUC, bolsa no Ibmec, tiro mil na redação do Enem, que é a nota máxima, tiro os melhores resultados da escola, né? Então, no médio e longo prazo eu costumo gostar de falar essa frase: “A gente pega quase todo mundo, pode largar na frente, não tem problema”. Talvez alguém terminasse com um Jaguar e eu com o meu fusquinha, só que eu botei na cabeça que eu estarei disposto a parar quantos pit stops fosse necessário, trocar de carro quando necessário e ir pagar os pedágios que fossem necessários. Sabia que, para mim, ia ser um pouco mais difícil em alguns aspectos, mas eu sabia também que as experiências que eu tinha passado eram tão boas, que me davam força para conseguir fazer isso, muito aliado à questão que eu falei anteriormente, da minha fé.

(01:43:34) P1 - Você viu esse leque de possibilidades, essa vitória? O que te direcionou à escolha de escolher o Ibmec?

R1 - Foi o meu sonho. O Ibmec foi um dos primeiros grandes sonhos que eu realizei na minha vida. Sabe uma coisa que você quer muito e durante três anos você pensa naquilo, você planeja aquilo, você organiza aquilo, você estuda para aquilo, começa a fazer um monte de Matemática, com um monte de Português, para poder melhorar e tal. Eu fazia as provas para tentar fazer um pré-vestibular à noite, né? Porque eu estava estudando numa escola técnica o dia inteiro e eu queria estudar à noite, num pré-vestibular, para conseguir me preparar. No dia que eu entro no Ibmec, eu decido que eu queria fazer Ibmec. Antes eu estava no top três nesse sentido ali, dessas faculdades que eu havia falado anteriormente. O Ibmec foi um negócio constantemente ali, bem paranoico, bem olimpíada mesmo, ali. Eu gosto de atleta de alto rendimento e estudo. E você definir o objetivo de médio e longo prazo. E o batalhão me ensinou que... e uma ou outra coisa também da vida me ensinou que você precisa, principalmente quando você tem menos recursos, você define o objetivo de médio e longo prazo, traz para o tempo presente e você começa a se estruturar. Então, com as vivências que eu tive com o pessoal da embaixada americana no programa chamado Access, com as vivências que eu tive no colégio técnico, com as experiências anteriores que eu tive no batalhão, com a minha família e tal, eu adquiri um modelo ali que eu vou fazendo. Então, quando eu entrei na faculdade, eu falei: “Pô, eu quero Ibmec, quero passar para o Ibmec”. Eu acabei ganhando a bolsa pelo ProUni, tinha uma nota muito alta, nesse sentido. Então, quando saíram as minhas notas, tinha mais ou menos certeza ali, que eu iria ser aprovado, porque historicamente as notas eram um pouco menores que... um pouco/bem menores do que a que eu tinha tirado no Enem. E eu sabia que a melhor forma de eu entrar no Ibmec era via bolsa do ProUni, porque dava bolsa do ProUni naquela época. E eu já tinha noção que eu deveria, dentro da faculdade, ter um desempenho positivo, porque eu queria estudar nos Estados Unidos ou em alguma outra universidade fora. Então, eu entro na faculdade, me torno monitor de Cálculo I, Cálculo II, Mercados Financeiros e Microeconomia. Eu fui assistente de professor dessas disciplinas, teacher assistant, né? E aí eu faço uma disciplina de mestrado, sou convidado, chamado Tópicos Especiais e Métodos Quantitativos. Eu pego, ganho uma bolsa e vou para Oxford. Então, foi a primeira viagem internacional que eu fiz, com 19 anos de idade. Abre meu leque, assim, fico um mês lá, conheço os 38, 39 colleges que tem pela Universidade de Oxford, lá na Inglaterra, que é umas das melhores universidades do mundo. Eu queria ter uma experiência, para entender como é que funcionava. E aí isso alimenta mais o meu desejo de estudar fora. Decidi que eu não iria fazer intercâmbio na época da faculdade, embora tinha ali algumas possibilidades, nesse sentido de trancar e fazer e tal. Mas eu decido que eu queria terminar a faculdade em três anos. Porque eu leio lá o “Sonho Grande”, do Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles. E o Jorge Paulo terminou Harvard em três anos. Então, eu chego no meu quinto período faltando cinco, seis disciplinas para eu me formar, mais a monografia. E dava para fazer. Mas acabei utilizando esse meu tempo de benefício de formação, que aí surge a ideia de criar o ProLíder. E aí, nessa época, eu me dedico muito à Fundação Estudar, aproveitando esse tempo também, aí me torno destaque, né? Eu entro no processo da Fundação Estudar, entre pré-inscritos e inscritos foram oitenta mil candidatos e tal. E sou um dos 24 selecionados do ano de 2015, já planejando e falando que eu queria trabalhar bastante, adquirir carcaça, ganhar experiência, depois ter uma experiência de estudo fora. Depois dessa experiência de trabalho, fazer um MBA, de repente um MPP, um joint degree, um dual degree com Harvard Kennedy School e Harvard Business School, com MIT e com Harvard. É possível fazer em três anos, ao invés de quatro. Ou então Oxford Blavatnik, ou então Oxford Business School. Então, é possível você juntar Políticas Públicas ou então o mestrado em Administração Pública com o MBA, que é o Business Administration e tal. Então, eu já tinha isso em mente, depois empreender. Falei isso numa final da Fundação Estudar, que aconteceu no dia 3 julho de 2015, que eu queria, depois dessas experiências de estudos fora, construir alguma coisa, um empreendimento, fazer alguma coisa bacana, construir um patrimônio, já que eu não vinha de família rica e tinha tino para poder empreender. E no longo prazo estar na política. Para trabalhar, adquirir carcaça, ter experiência de estudo fora relevante, em bons lugares e tal, bacana. Com a possibilidade, de repente, de fazer um joint degree com alguma coisa relacionada ao meio público, voltar, empreender, construir negócios. Realmente construir um patrimônio, gerar uma transformação nesse sentido e, no longo prazo, na área política. E é isso que eu estou seguindo, sabe? E talvez é isso que algumas pessoas que me dão muita atenção hoje ficam um pouco mais impressionadas, porque eu vou seguindo um negócio. Óbvio, tem muitas curvas nesse meio, mas eu já tenho os nortes, sabe, e isso te ajuda. Então, são pessoas que…

(01:48:48) P1 – Wellington...
R1 – ... só para fechar: que vão me oferecer muito dinheiro na época que eu estava no instituto e foi isso que não me fez sair do instituto. Me ofereceram quatro, cinco vezes mais do que eu ganhava, eu tinha um salário justo e tudo o mais e tal, mas eu estava focado no meu propósito.

(01:49:05) P1 – Wellington, onde você aprendeu inglês e quando? Que te deu essas oportunidades também.

R1 – Eu diria que ainda estou aprendendo, né? (risos)

(01:49:13) P1 – Ah, mas já fez tudo isso com 19.

R1 – É, eu diria que eu estou... é, eu tive uma experiência muito intensa de inglês durante um mês. A minha primeira experiência na Inglaterra, foi minha primeira experiência ali, saindo do básico e tal. Porque o básico foi no Programa Access, por uma bolsa da embaixada americana, com uma bolsa que tinha lá parceria com o Ibeu, que é uma escola de inglês muito reconhecida no Rio de Janeiro. Então, ali eu aprendi o básico. Aí eu tive que interromper, porque eu entrei na Escola Parque, o programa era de dois anos, um intensivo superbacana. Depois disso eu tive essa experiência na Inglaterra, depois disso eu tive uma certa lacuna, depois eu voltei a fazer aulas particulares. Eu digo hoje que eu tenho um inglês que eu entendo muito bem, consigo me comunicar, mas vai ter um refinamento aí. Acho meio ousadia quem se comunica falar fluente. Falar fluente é desse jeito que eu estou falando com você, de eu conseguir fazer uma apresentação do início, meio e fim, organizando, concatenando as ideias, de uma forma estruturada, nesse nível, né? Eu acho que eu sou muito exigente com comunicação, nesse sentido, então ainda não falo fluente, mas é uma questão de tempo. E eu passei três meses e meio numa preparação que eu tive de inglês também, nos Estados Unidos, em 2019. Então, eu tenho um entendimento de inglês muito bom, mas foram coisas meio fragmentadas ao longo do tempo, nesse sentido, nunca foi muito contínuo, sabe? Isso é ruim, isso é ruim. Porque no ritmo de trabalho que eu mantinha, as escolhas que eu tomei, ser assistente de professor, ter estágio, fazer tudo isso e procurar depois empreender, então você não fecha esse ciclo logo, é muito ruim, sabe? Você pega um pouco e tal, então foi meio fragmentado. Essa é uma das coisas que já me perguntaram: “O que você falaria para o Wellington lá de vinte anos atrás?” Eu me esforçaria mais, dormiria uma hora a menos todos os dias (risos) e teria me esforçado mais para tentar ter o inglês. Porque eu senti realmente agora, na parte do MIT, que eu precisava ter o inglês muito bom, nesse sentido. E não é só o inglês, né? Tem outras provas, tem outras coisas que você precisa fazer e sai na largada quem tem vantagem no inglês e tal.

(01:51:41) P1 – Wellington, você disse, que nesse caminho, quer dizer, não é só sucesso, tem várias curvas. Quais foram esses momentos de curva, você pode citar um, contar o que aconteceu...

R1 – Ah, eu esperava ser aprovado, no meu plano, no MIT no ano passado, né? E não fui aprovado, tomei com a cara na porta. Não tinha a preparação suficiente para fazer as provas e a proficiência da língua. O tempo corre contra a gente. Eu não pude... quando você trabalha para as outras pessoas, você: “Juntei uma grana”, você consegue, que nem amigos meus, tirar um tempo para poder estudar e aplicar. Eu não podia. Eu tinha que estar ali na frente do negócio, tocando. Tanto que eu sou o único empreendedor dos 13 alunos que estão indo estudar no MIT e para o MBA e tal. E eu não tô fechando o Instituto Four. Mas vai ter um outro time que vai tocar, que é um time que já está tocando, já está fazendo. Embora eu ainda sou o diretor executivo, por mais um período curto de tempo, até terminar de entregar alguns bastões que são necessários e tal. Mas esse time vai tocar e eu vou para o Conselho. Para o empreendedor, não é colocando justificativa, que eu não tenho esse perfil, é mais difícil. O cara que está empreendendo, que é aquilo: ou você vende o teu negócio ou não é um negócio de se vender. Eu tenho uma associação sem fins lucrativos, é um instituto. E eu tomo a decisão: eu fecho esse negócio ou o deixo largado, ou então eu quero continuar batendo as metas que a gente está batendo. Então, foi um trabalho muito árduo e a minha tendência é mais o fazer, o pensar, o estratégico para o trabalho e tal. Porque você fala: “Para agora e estuda”, sabe? Seria muito ruim se eu falasse o seguinte: “Eu vou trabalhar o dia inteiro e à noite eu vou estudar, para fazer o MBA no Brasil”. Ia ser horrível, sabe? Porque ia ter dia que eu ia fazer igual a época que eu fazia no Ibmec: eu faltava muito. Eu formei como o segundo melhor aluno da faculdade no Enade, né, segunda melhor nota do Enade, dentre 143. Mas eu faltava muito. Para fazer o ProLíder acontecer em São Paulo, eu faltei muitas vezes, eu fiz mais de noventa noites Rio-São Paulo, de ônibus. Fiz quase cem noites, Rio-São Paulo de ônibus, foi o segundo lugar que eu mais dormi, no ano de 2016. Mais vinte e poucas vezes de avião. Então, foi muito intenso o trabalho e isso te prejudica na questão estudantil, você parar depois de um tempo ter que estudar para fazer mais provas. Então, assim: teve coisa do instituto que eu achava que eu ia conseguir alcançar antes, não alcancei, a gente acabou alcançando um pouco depois. O próprio Four Summit. Eu, se eu pudesse, teria feito em 2018 e tal, mas depois você olha e fala: “Cara, estrategicamente não vai ser possível”, porque a gente organizou todo aquele evento, setecentas pessoas passaram ao longo de dois dias, mais de noventa speakers, você incluído. Fui uma das pessoas que fui speaker, entre nacionais e internacionais. Mais de vinte pessoas participando daquelas atividades nas salas simultâneas, com um time de três pessoas, durante cinco meses com uma pessoa a mais. Tocando isso, tocando o maior programa de formação de lideranças no país, com um processo seletivo de quase nove mil e quinhentas pessoas, onde a gente entrevistou, naquele ano, oitocentas pessoas. E tudo internamente, sabe? Então, assim, em 2018, para você ter uma ideia, em 2019, até eu fazer essa viagem, quando eu fico três meses nos Estados Unidos, três meses e meio, porque eu nunca tinha tirado férias. Então, o Conselho permite ali para eu ir, porque também eu podia tirar férias, mas não tinha como tirar antes, sabe? Então, tinha um plano ali que era assim: na verdade, eram umas ‘férias’, entre as aspas, me preparar lá fora, né? Estudando inglês, trabalhando, não fiquei ocioso em nenhum momento. (risos) Tem amigo meu que fala que esse é o primeiro momento da minha vida, desde os meus 12 anos de idade, que eu vou realmente parar e só estudar, sabe? Eu não sei o que é só parar e só estudar, não. Então, provavelmente eu vou chegar lá e vou exercer liderança em algum club, algum student association, contribuir com a faculdade. Está na minha essência isso: não passar pelos lugares e ser mais um. Contribuir, deixar ali um legado, melhorar um pouquinho mais o que eu peguei e tal. Mas não ter um trabalho de: “Pô, preciso me bancar, sabe?” Na época da faculdade eu era monitor de várias disciplinas, porque dava dinheiro, Rosana. Uma, eu queria ser monitor de uma disciplina, então tinha Cálculo. Depois que eu descobri, que eu falei: “Pô”, que eu sabia que lá no futuro ia ser muito bom, eu fui assistente do professor. Tinha um negócio ali que eu ganhava uma grana. Depois eu entendi, eu falei: “Cara, isso dá dinheiro, então eu tenho que ser monitor de muita disciplina. E óbvio que consequentemente vai me ajudar mais”. Então, assim, era isso aí.

(01:56:33) P1 - Você chegou a conhecer o Lemann?

R – O Jorge Paulo?

(01:56:40) P1 – É.

R1 – Então, sim. (risos) O Jorge Paulo...

(01:56:42) P1 – Como que vocês se conheceram e como foi o seu encontro com ele?

R1 – Na verdade, na semana passada, uma semana atrás, eu estava fazendo um call, uma videochamada, que nem a gente está fazendo no Zoom, com o Jorge Paulo. O Jorge Paulo se tornou um grande mentor, né? Um grande conselheiro. A primeira vez que eu estive com Jorge Paulo, eu tive uma oportunidade de estar em um evento com o Jorge Paulo, antes de eu me tornar bolsista na Fundação Estudar. Mas eu sempre tive uma questão muito forte, Rosana, que era o seguinte: eu vou lá para apertar a mão dele e falar: “Oi, eu sou o Wellington?”. Eu sempre acho que eu quero conhecer as pessoas... o dia que eu conhecer o Obama, eu quero que o Obama minimamente respeite a história do Wellington, sabe? Não que o Wellington tem grande história comparada ao Obama, mas que seja uma coisa bacana e não: “Vamos apertar a mão e bater uma foto”. Óbvio, se eu visse o Obama na minha frente, passando, ______ (01:57:35) com ele, eu ia pedir para bater uma foto com ele e tal, porque é uma pessoa que eu admiro muito. Mas eu gostaria de construir uma relação com o Obama e que bom que isso está sendo gravado, né? Porque o Obama e o Michael Bloomberg, vocês vão ter a certeza... o Michael Bloomberg eu peço a Deus que preserve a vida dele, o Obama também, mas o Obama é mais novo. Então, sãos dois políticos internacionais que eu tenho muita vontade de conhecê-los. O Obama pela história dele, enfim, inquestionável. E Michael Bloomberg foi uma pessoa que fez história no segundo setor com a Bloomberg, né? No terceiro setor com a Bloomberg Foundation, que é uma das maiores fundações que tem. E fez história no primeiro setor, sendo prefeito de Nova Iorque, um ano... um mandato, dois mandados, três mandatos, foi a plebiscito para ser o terceiro mandato. Então, hoje um prefeito em Nova Iorque pode ser eleito três vezes consecutivas, pode ter três mandatos consecutivos. Então, são duas pessoas... e o Obama porque é uma questão ali muito de afinidade, de similaridade em alguns pontos de história e tal. Então e aí eu não fui. Eu lembro que esse senhor, o Vono, ele é do meu Conselho hoje do Instituto Four, a gente é muito próximo. Eu conheci depois da família dele, o filho dele, então a gente se tornou muito próximo, foi excelente. Mas eu não fui. Aí o Vono falou: “Você quer que eu pague a tua passagem, para esse evento lá em São Paulo e tal?” Eu falei: “Vono, melhor não”. Porque eu queria ser muito ser aprovado pela Fundação Estudar. E, cara, quando você tem muita fé e quer alguma coisa, e você trabalha muito, muito, é difícil você não chegar em algum lugar. Talvez você não possa chegar naquele momento onde você queira, mas você vai chegar em algum lugar, algum lugar. Com os princípios certos, os valores certos, você vai chegar a algum lugar. Eu já botei isso na minha cabeça. E é aquilo: vamos sonhar muito grande, eu queria, porque queria... e é óbvio, né, você está concorrendo num processo com oitenta mil pessoas, achar que você vai ser um dos trinta, mais ou menos trinta que eles selecionavam, 24 selecionados, às vezes é meio audacioso, né? Mas, enfim, na vida eu também aprendi que eu não tinha nada a perder, né? De onde que eu vim, tudo para cima é lucro, né? (risos) Eu não tenho peso nenhum nas costas: “Pô, eu tenho que ser mais do que meu pai”. Financeiramente, de estudo, eles já conseguiram fazer muito, sabe? Eu, o meu irmão. A gente já fez, sabe? Então, eu posso continuar tomando risco, óbvio, de maneira consciente e tal, com boas pessoas aconselhando nesse sentido. E aí foi quando eu sou aprovado e é a primeira vez que eu _________ (02:00:05) dia 3 de julho de 2015, na final. Mas, assim, você tem lá, a pessoa está fazendo pergunta para você, tem uma plateia atrás, está todo mundo e eu não conseguia segurar num copo, eu não conseguia, a minha mão tremia, sabe? Então parei, falei: “Eu não vou nem beber água”. Eu não consigo segurar, tremendo, nervoso. Saio dali, dia 7 de julho eu recebo a ligação que eu estou aprovado. E depois eu faço um summer na Fundação Estudar. Nesse summer na Fundação Estudar eu estive com o Jorge Paulo, mas ele foi lá falar com todo mundo. E aí, por eu ter um destaque grande na fundação, chamam os destaques para participar de um almoço com o Jorge Paulo. E isso foi bacana, já em 2016. E eu tenho a ideia do ProLíder dando uma palestra com o Nizan Guanaes, na casa do Florian Bartunek, no dia 23 de novembro de 2015. E no dia 24 de novembro eu tenho a ideia do ProLíder e vou falar com o Fernando Schüler, que é um intelectual que fala na Band News, Globo News, vários lugares. E o Schüler acredita na ideia e tal, e fala: “Cara, eu acho que você tem tocar essa parada”. E o Schüler, como é um cara intelectual, bem crítico e tal, faz algumas pontuações que normalmente as pessoas no meio empresarial às vezes não fazem tanto e tal. Então, ele olha para o plano, eu falo: “Cara, se eu convenci o Schüler, é possível ser feito”. E aí eu começo a me dedicar, aí a gente vira o ano, né? E no dia 24 de fevereiro de 2016 meu contrato de estágio acaba, eu começo a me focar muito no ProLíder e tal e aí tem esse negócio do almoço com o Jorge Paulo. E aí foi a primeira vez que eu vi que o Jorge Paulo sabia o meu nome. Porque, assim, você está lá no mesmo evento, no mesmo espaço, tinha poucas pessoas na mesa, no escritório dele, no espaço lá, que fizeram um almoço bastante bacana. Ele: “Wellington, tudo bem e tal? Como é que você está?” Ele fala e eu: “Pô, o cara sabe meu nome. Bacana, né?” E, no final do dia, eu aprendi uma coisa, que essas pessoas que muita gente acessa, ou tenta acessar, ou conhece muita gente, pelo próprio trabalho, a natureza do trabalho, ele já apoia talentos há muito tempo e tal, é difícil saber se a pessoa realmente sabe o teu nome. Ele falou o meu nome: “E aí, o que está fazendo?”, eu falei um pouco e tal, ficou bacana. Mas eu crio uma relação mais próxima quando o Guilherme Barros, que é amigo do Jorge Paulo, escreve um e-mail falando: “Oi, Wellington, tudo bem? Sou muito amigo do Jorge Paulo, ele gosta muito de você, me pediu que eu deveria entrar em contato, que você é também de Niterói e que eu deveria conhecer você e a tua história”. E aí eu vou correndo conversar com o Guilherme, foi um papo muito bom e eu falei: “Pô, se o Guilherme, que é amigo do Jorge Paulo, me escreveu, porque o Jorge Paulo falou que eu deveria conhecer e tal”. E aí eu chego lá, o Jorge Paulo falou pro Guilherme: “O Wellington quer ser presidente do Brasil, então você tem que estar perto”. O Guilherme Barros é um grande jornalista, hoje tem a GBR Comunicação, que faz a nossa assessoria de imprensa. Eu falei: “Pô, se ele está comigo na mente, para indicar para o amigo, eu vou escrever para ele”. Na época eu precisava de fund, para construir o Instituto Four. Eu, no primeiro ano, que foi em 2016 do ProLíder, eu tinha 13, 14 mil reais, botei tudo do meu bolso. Peguei vinte mil reais emprestado com os amigos e vinte mil reais o Antônio Brennand, da família Brennand colocou. A gente não tinha Cnpj, não tinha nada, essa grana era para poder comprar coffee break, fazer essas coisas assim e taltaltal, era isso. Ele ia me dando o dinheiro que eu ia precisando ali e foi superbacana, porque o Jorge foi a primeira pessoa que botou grana, quando a gente formalizou. Então, foi assim que eu escrevo para ele: “Jorge, tudo bem e tal? Eu queria o seu apoio e o seu conselho, seu apoio e taltal, suporte e taltaltal, é possível?” E aí eu vou lá, a gente marca uma conversa ali, inicial, de trinta minutos. E eu já tinha mandado algumas informações. E ele: “Me conta um pouco, você me escreveu faz umas duas, três semanas atrás”. Na época ele estava indo para a Europa: “E aí, quando eu voltar, a gente fala”. A Marli, que era a secretária dele na época, que encaixou a agenda e tal e eu fui lá conversar com ele. Ele: “Me relembra um pouco do que você escreveu lá atrás?” Eu falei três minutos, que o budget é X e tal, sem entrar muito em valores. “Vou dar X. Ajuda, pô?” Na hora minha vontade era rir muito, quando eu fico nervoso, eu fico rindo. Eu falei: “Ajuda muito, Jorge!” Eu falei, cara, três minutos e está resolvido. O que eu precisava, óbvio, ia ter que captar mais dinheiro, mas o que eu esperava já estava resolvido ali. E agora? O que eu faço com os outros 27 minutos? Aí eu tive um insight ali: “Mano, vou perguntar se o Jorge estivesse no meu lugar, o que ele faria”. Comecei a trocar ideia com ele, né? E aí foi bacana, porque ali acho que gerou mais uma conexão, do que bater na minha porta só para pedir dinheiro. Então, isso foi bom. E aí a gente fica um tempo depois sem se falar e volta em 2018 e algumas coisas aconteceram ao mesmo tempo, eu passo a entrar na Rede da Fundação Lemann. Eu sou convidado para fazer uma apresentação junto com o Jorge Paulo, ele me entrevistava e eu ia entrevistá-lo. E aí começa e eu me torno mais próximo. Ele se tornou uma pessoa muito próxima, envolvida na minha ida para os Estados Unidos pela primeira vez. Embora foi o Guilherme Benchimol que me deu 15 mil dólares para eu poder ir, Guilherme Benchimol da XP, para eu poder ir e estudar inglês, melhorar, refinar, entender as faculdades, porque tem todo um processo que, quando você não tem acesso, sabe, fica difícil você entender como funciona. De conversa com ex-alunos e tal. Então, eu fiquei uma temporada em Boston, assistindo aula em Harvard. Assisti aula de História do Capitalismo, assisti aulas do Michael Sandel, assisti eventos no MIT e tal. Eu tinha ido 2018 pra Brazil Conference, porque aí a gente pega, absorve bastante, para poder modelar e criar o nosso Four Summit aqui também e tal. Que o maior evento de discussão de palcos relevantes do Brasil estava acontecendo fora, que é a Brazil Conference, que acontece em Harvard e no MIT. E volto em 2019, converso com o Jorge antes de ir. A gente se encontra lá numa das visitas dele lá, que ele sempre está lá em Boston, visita Harvard, a faculdade. Então, foi assim que foi construindo. E é uma das pessoas que está apoiando, inclusive financeiramente, para poder estudar fora agora. Tanto a Fundação Lemann, que eu sou muito grato à fundação, quanto ele, o próprio Jorge Paulo, nesse sentido. Então, a conexão surge aí. Esse ano a gente vai fazer um pocket do Four Summit on line, ele estaria falando presencialmente ano passado, mas a gente já tem uma data para o ano que vem. A gente, com certeza, vai conversar mais à frente sobre o Four Summit do ano que vem presencial, que a gente quer fazer um negócio ainda maior, mais robusto. Vamos fazer um pouco antes das eleições, para dar uma esquentada nesse debate aí, que as eleições do ano que vem vão ser umas eleições... sabe... (risos) importantes, vai ser uma eleição que não vai ser tão trivial, né? Mais do que as últimas, já vamos colocar assim, pelo menos num cenário que a gente enxerga hoje. Então, ele já está confirmado, em agosto do ano que vem, em outubro desse ano. Então, ele se tornou um grande parceiro, uma grande pessoa que apoia. As minhas cartas de recomendação, quando eu não fui aprovado no ano passado, foram dele. A minha carta do MIT, no ano passado só tentei o MIT. Esse ano, boa parte das cartas, eu tentei outras faculdades também, foram dele, ali, porque ele é investidor, ele está muito perto, porque como eu não tenho um chefe direto, eu tenho as pessoas que botam dinheiro no instituto e, por outro lado, pessoas que fazem parte do meu Conselho. E vale lembrar que hoje o Instituto Four, uma parte considerável da nossa receita, é receita própria e não são doações, né? Então, a gente hoje aprendeu - tem seis, sete inciativas embaixo - uma metodologia de fornecer programas de liderança para as empresas e tal, que pagam por esses serviços, porque até 2023 a gente quer ser 100% sustentável.

(02:08:14) P1 – Tá. De onde que vem esse recurso, que possibilita ser autossustentável?

R1 – Basicamente, o que a gente fez foi o seguinte: como é que a gente nasce como uma instituição sem fins lucrativos, no Brasil? Eu vou nascer para fazer o bem e tem muitas pessoas que fazem o bem e fazem bem o bem, né? Eu gosto de fazer o bem e ser eficiente. Fazer o bem e fazendo bem, utilizando bem os recursos. E como eu sempre tive uma mentalidade empreendedora, né? E eu nunca fui uma pessoa muito boa de pedir, embora todo mundo que me conhece fala: “Cara, tu pede bem, tu sabe pedir”. Mas eu falo que, quando eu coloco energia, o que eu peço eu interpreto como uma venda, sabe? Então, acho que na minha mente, o que me conforta um pouquinho talvez seja isso. E aí eu já tinha colocado como meta, era o seguinte: que eu ia ter um Conselho, que eu era de _______ (02:09:07), que eu tinha as pessoas, da época do batalhão, mais velhas, me aconselhando, meus pais e tal, mais experientes. Depois eu entendi que isso foi um grande diferencial na minha vida, o fato de eu ter pessoas mais velhas, mais experientes, de maior conhecimento, né, próximas de mim. Então, eu bebia de uma fonte que outras pessoas da mesma idade não bebia, então isso foi excelente. E eu entendi que eu montaria um Conselho, a gente formaliza, o instituto foi em 2017. Monta um ano de Conselho, que era 2018 e mais cinco, para se tornar sustentável. E aí o modelo foi o seguinte: o dinheiro que a gente conseguir, a gente vai conseguir construir, criar produtos e serviços, para conseguir vender e para chegar em 2023, a gente conseguir bater 100% de receita própria. Então, para você ter ideia, o ano de 2019 era 15% que eu deveria bater; o ano passado, 30%; esse ano, 50%; ano que vem, 75% e, até o final de 2023, 100%. 2019, 1.8 milhão de receita, a gente bateu 69% de receita própria, ao invés de 15%. Isso aqui é um empreendimento, isso tudo foi um empreendimento…

(02:10:14) P1 – Quais são os serviços e produtos?

R1 – O que mais... o carro-chefe são os treinamentos para empresas, né? A gente se tornou muito bom em formar pessoas, né? Principalmente pessoas de média gerência, até a alta gerência, até início de diretoria, dependendo das empresas e tal. É isso. Só que os tickets... só que a gente começou a formar pessoas de maneira diferente. A nossa intenção não é se tornar o maior formador para as empresas, nós somos uma boutique que fazemos isso, contratamos professores que fazem isso, seguindo a metodologia e tal. Então, o nosso trabalho é um trabalho comercial, trabalho de organizar, desenhar, adaptar a metodologia à realidade daquele cliente. Só que a gente faz McDonald’s, Kraft Heinz. E aí vai desde coisas pontuais, sei lá, _______ (02:11:06), fizemos um off-site deles pontual, a gente organizou a experiência do off-site toda. Então, há coisas de dois, três, quatro, cinco, de mais prolongado, estamos discutindo agora, dentro do programa de trainee de uma grande empresa, não vou citar o nome, porque está sendo fechado ainda. Tá meio, ainda, entre a gente, né? De pegar o negócio bem longo, para ajudar a fazer os trainees terem uma visão mais aberta de Brasil, serem mais intraempreendedores, terem um foco maior em diversidade e inclusão, um foco maior de representatividade, como a gente tem alcance a quase todos os estados, sabe? Então, a gente montou um modelo, sabe? A gente montou um modelo desde o início. O negócio já foi pensado assim, por isso que hoje a gente não tem grande dificuldade de executar, embora que não seja fácil, com um time enxuto, né? O que a gente fez também, durante muito tempo? Segura no custo. E eu trabalhei um ano e dez meses sem receber uma moeda no bolso, era voluntário mesmo, acreditando no sonho. Aí depois a gente começou, quando formalizou de início, de final de fevereiro de 2016, até dezembro, novembro, dezembro de 2017, esse período todo, então a gente começa a receber salário, cria estrutura, as pessoas vão colocando grana, a gente vai montando e a gente tende a ter uma estrutura enxuta, pequena e tal, mas hoje todo mundo recebe um salário digno, compatível com o mercado e tal. Mas é isso, vamos trabalhar com estrutura de projetos e não ‘você é o marketing, você é só o marketing’. Doideira isso, ele tem que ser o marketing em todos os projetos nossos e, quando chegar na fase do processo seletivo, ele tem que ajudar a entrevistar. Então, criou um time de gente com uma versatilidade maior. E quando você é jovem, ou não tão jovem, é possível fazer isso, é só você estar com a mente aberta, que: “Não, eu sou a pessoa do marketing, eu não vou fazer mais nada, não vou pegar nenhum projeto”. Então, normalmente tem alguma coisa que você toca de back. Então, o Lucas é o cara do backoffice, é responsável, mas ele toca ali, administrativo e financeiro. A Ana agora está entrando no lugar do Daniel, que está fazendo outra coisa, está entrando no marketing. Mas ela vai tocar o pocket ProLíder, que são pra três mil pessoas on line, entendeu? Então, assim, tem uma jogada ali que a gente chama de desenho organizacional, que é no desenho organizacional que a gente começa a entender as ineficiências das empresas. Que normalmente as empresas tendem a ser ineficientes. E como vai dando muito dinheiro, não é o nosso caso, a gente tem que administrar o recurso muito bem, aquilo que a gente ganha a gente tem que reinvestir e entender onde aloca, controlar o fluxo de caixa e já tivemos problema de fluxo de caixa e tal. Tinha dinheiro, mas tinha ali um problema no fluxo de recebimento. Então, enfim, você vai administrando, mas isso me deu um aparato muito grande, uma visão muito grande de gestão, né? E desafiante porque, em primeiro lugar, eu não quero - indo já agora para uma parte final da história - daqui a trinta anos, vinte e poucos anos, eu já com 55 anos de idade, falar que eu não fiz nada para ajudar o meu país. E eu trabalho muito naquela linha do bônus demográfico, né e tal, que a gente vive uma última geração de pessoas mais jovens, que possam realmente elevar o Brasil para outro patamar. O Brasil é um país que tem ali muitos desafios, mas tem uma base da pirâmide larga e toda nação que se desenvolveu, utilizou essa força jovem, né? Então, corre o risco de nós tornarmos um país envelhecido e não desenvolvido. Ao contrário do Japão, que é um país mega envelhecido, mas desenvolvido. Então, esse é o meu grande receio, a gente não resolver um problema chamado saneamento básico. Então, eu quero aproveitar e atrair outros talentos, outros jovens, outras pessoas, realmente, para entrar na política, no meio público. A gente tem vereadores que fazem parte da nossa rede, foram eleitos. A gente tem prefeito que foi eleito e depois foi formado também pela gente, nesse sentido. Empreendedores que estão tendo um bom acesso dentro do mercado e tal, ganhando prêmios, evoluindo nos seus negócios, que foram formados pela gente. Então, a gente... você fala o seguinte: “Mas o ProLíder são setenta, no Pops são três mil”. Então, mas o ProLíder tem a capacidade de, naquele momento, dar um acompanhamento muito próximo, depois ter uma comunidade posterior, de continuar dando suporte para essas pessoas, que são capazes de multiplicar impacto. Então, não é só um setenta, é setenta vezes setenta, você está entendendo? São setenta vezes, sei lá, mil, tem gente lá que está impactando já milhares de pessoas, sabe? Então, é esse é o nosso conceito, né? Talvez um dia a gente vai ter quinhentos e esses quinhentos vão ser capazes de impactar muito mais gente. Então, é isso o primeiro ponto: aproveitar o bônus demográfico da sociedade. O ponto dois que me motiva, o segundo ponto, é uma questão de give back individual, de você gerar, de obter a capacidade, junto com as pessoas que estão junto comigo, de criar essa capacidade de gerar oportunidades para outras pessoas. Têm o Everson, que foi fundador do instituto e o time, embora eles não entraram na operação, porque eles foram antes, junto com a Letícia aí, o Everson e a Letícia, ajudando na construção do ProLíder. Mas eu sempre fui o front ali e tal, mas eles eram amigos da época de escola que, num momento específico, vieram e na hora de formalizar eu fiz questão que eles também assinassem o papel, né, nesse sentido. E, por último, uma questão. Então, o primeiro ponto: bônus demográfico para a sociedade. Segundo ponto: gerar oportunidade para as pessoas que nem fizeram isso por mim e outras muitas que eu cavei, eu mesmo indo lá na palestra, articulando. E o terceiro ponto: construir uma instituição sem fins lucrativos, extremamente respeitada na sociedade. Eu tenho certeza que a gente vai construir. E uma das formas de a gente se diferenciar e da gente construir algo realmente muito relevante, que eu encontrei foi, tipo: “Bacana, a gente vai pegar as doações, mas a gente vai conseguir construir uma estrutura aí de muito respeito, nesse sentido”. Por ser muito bom em gestão e dentre outras coisas. Resultados.

(02:17:03) P1 - Wellington, você disse que você sempre sabe direito quais são os seus próximos passos, o que você está... é o MIT e, na sequência, o que você está pensando?

R1 – Empreender e daqui a uns vinte anos, política. Essa é resposta de cinco segundos. Política, cargo executivo, prefeitura, governo do estado e sonhando um dia com a presidência e eu acredito que eu vou chegar lá. E empreender, tem algumas áreas que eu gosto muito, mas até o empreendimento estar no forno, ali, eu aprendi que é melhor ficar calado e mostrar. Mas eu tenho algumas áreas que eu gosto muito e que estão na minha mente, mas também estou indo com a mente mais aberta, porque eu já venho conversando com várias pessoas e lá eu vou estar exposto a muita coisa que aqui eu ainda não tive oportunidade de estar exposto, não vou me limitar aos pensamentos que eu tenho hoje. Mas é isso: eu vou continuar empreendendo e aí, óbvio, me desafiando mais e tentar construir coisas de nível de escala global, coisas que realmente gerem uma transformação positiva no segundo setor tradicional, que é for-profit e tal. E, no longo prazo, entrar para a política. Por isso que o Bloomberg é um role model, assim como o Obama é politicamente, como pessoa. O Bloomberg é. Porque no terceiro setor eu acredito que estou fazendo história, agora vamos fazer história no segundo e, mais à frente, no primeiro setor.

(02:18:31) P1 - Tem alguma coisa que você acha importante? Deve ter várias, que eu acho que uma entrevista com você, assim, vamos abrir uma outra sessão, porque realmente você tem muita, muita, muita história, apesar de super jovem. Então, acho que cabe até uma outra sessão, fica aberto aí, quando você quiser, para a gente detalhar mais. O que você acha importante, que a gente não tocou, porque não passou? Porque a entrevista é sempre um recorte, né? A gente não consegue abarcar, mas o que você acha importante deixar registrado?

R1 – Tem um negócio, aí é uma forma de ajudar a tentar puxar jovens e outras pessoas e tal, que provavelmente vão assistir, que vão, de repente, ler a minha história. O Wellington já não faz mais pelo Wellington, né? Tem um quê de fazer pelo outro. Eu já tinha entendido um momento lá atrás, que eu já teria capacidade de mudar a história de vida da minha família. Mas esse mundo é muito grande, né, para eu ser egoísta a ponto de eu só olhar para o meu umbigo ou para a minha família. Para os mais jovens, a gente precisa de vocês, eu realmente me esforço muito, eu estou indo para o MIT, é super glamouroso, é bacana e tal, mas tem um propósito aquilo lá. Aquilo ali vai abrir portas para outras coisas que eu queira fazer mais à frente, que é empreender, construir bons negócios de escala global, ter uma vivência internacional muito forte. Quando eu falo que eu quero fazer o joint-degree, né, eu tenho isso em mente e tal. Eu vou entender um pouco agora nesses próximos meses como é que isso vai funcionar, com uma escola de políticas públicas de governo. É porque eu tenho interesse lá na frente. Então, assim, para os mais jovens, a gente precisa de vocês. E para aqueles que têm menos recurso, entendam que vocês vão ter que se esforçar um pouco mais. Eu tento lutar, para que um dia vocês não se esforcem tanto. Eu não gosto muito dessa história do herói, né, embora eu tenho um amigo que fala muito disso: “Pô, você para vencer no Brasil, tem que ser um herói. Olha para tua história, né? Olha o quanto você sacrificou”. Eu não acho fair isso, eu não acho justo, fair em inglês é justo, eu não acho justo isso. Mas o mundo naturalmente não é justo. (risos) Primeiro você não escolhe a família que você nasce, né? Então, entenda já isso. Se você começar a entender e aceitar isso, você vai viver a vida um pouco melhor, pode reclamar e tal, você pode até criticar, mas você entender que você precisa fazer alguma coisa. E, a partir do momento que você conseguir se colocar numa posição de conseguir fazer pelo outro, comece a fazer pelo outro. Que aí a gente faz essa roda girar mais rápido e não sobrecarrega, porque eu não tenho síndrome nenhuma - Deus que me perdoe o que eu vou falar agora - de Jesus Cristo, de tipo, Cristo já veio, para poder liberar o perdão sobre os nossos pecados e por aí vai e tal. Então, o Wellington não... eu vi isso muito ao longo do tempo, né? As pessoas batem nas suas costas e falam: “Pô, vai lá, faz, gera transformação” e elas não estão fazendo nada. Tanto pessoas novas, quanto pessoas mais velhas, que às vezes estão com o bolso o cheio de dinheiro, já construíram muito: “Então, lá, vai, entra para a política agora e tal, faz aí, faz isso daqui”. O cara pega, o cara doa mil reais para a campanha do amigo. Eu doei mais dinheiro para ajudar o cara antes da campanha, para fazer alguma coisa lá, para ele se manter no mês que ele saiu. Então, enfim, acho que todo mundo pode ajudar e a gente vive num país que, realmente, a gente tem pouco senso de comunidade. Talvez a maior herança positiva que eu espero que a pandemia deixe seja um senso de coletividade e comunidade, embora outros países lá fora não sejam tão friendly, tão amigáveis nas suas relações de proximidade, mas são países que o senso de coletividade, de comunidade é muito maior. O tema da minha redação da época do Enem, foi “Fluxo Migratório no Século 21 no Brasil” e eu falei num termo entre aspas, porque até onde eu sei não existia aquele termo, chamado “xenofobia interna”. Porque a gente pratica xenofobia, sei lá, com pessoas que estão migrando do nordeste para o sudeste e eu vi, teve pessoas que eu conheci que passavam e não davam bom dia para o porteiro. Às vezes estava indo frequentar a casa dessa pessoa e eles falavam. E a pessoa era nordestina, de uma classe mais baixa e por aí vai. Então, o brasileiro é muito friendly, muito amigável pra quem vem de fora, mas às vezes pratica uma xenofobia interna, com pessoas do nosso próprio povo. E isso aliado à falta de coletividade e de comunidade, é muito ruim. A gente passa agora por um período muito crítico, as pessoas tendem a doar e ajudar mais, mas depois vão continuar pessoas passando fome. Então, se você estava reservando lá dez cestas básicas para continuar doando, quando a pandemia passar, continue doando as dez cestas básicas, sabe? Então, o apelo que eu faço para os mais experientes: contribuam. Todo mundo é possível contribuir, de alguma forma. Ajude quem está mais novo, com experiência, com dinheiro, financiando, ajudando, contribuindo. Eu que não tenho muito, faço isso por alguns mais novos, né? E aí tem pessoas muito grandiosas, como o próprio Jorge Paulo, que ajuda de uma forma incrível. O Guilherme Benchimol, dentre outras pessoas. O Antônio Brennand, o Marcelo Barbará, Flávia Faugeres, Ricardo Villela Marino, enfim, grandes pessoas, assim, apoiando. Denis Minev, acabei de voltar do Amazonas, uma pessoa extremamente generosa, acompanhando aí o trabalho do Instituto Four, desde que conheceu. Então, enfim, tem pessoas fazendo, sabe? Que todo mundo faça. E se der para fazer mais um pouco, faça mais um pouquinho. Porque é importante a gente ter ali, para a nossa família, para o nosso planejamento, mas não deixe de fazer. E, para os mais jovens, utilize a força que vocês têm, para poder construir coisas que realmente possam gerar uma transformação no país, seja do meio público, políticos, seja entrando dentro de uma empresa, mas fazendo as coisas certas e querendo gerar uma transformação e tal. Do outro lado também, ajude muito os empreendedores, né? Crie negócios. Então, eu sou uma pessoa que eu me considero uma pessoa realmente aí abençoada de ter muitas pessoas, né? Vai desde a minha família, os militares, os grandes empresários. O meu Conselho, o Vono, o Sérgio Lins Andrade, Andrade Gutierrez, o Vono, que tem consultoria, que é o cara que fez o turning point para eu ir pra Escola Parque. Tem muita gente. O Jorge T. Tem inúmeras pessoas, assim, que fazem parte da minha história. E as pessoas falam: “Pô, mas você tem acesso a muita gente, cara!” Existe um negócio chamado cadeia do bem, né? Até na minha conversa, na semana passada, com o Jorge Paulo, ele falou: “Estando lá, continue ajudando, contribua, seja ativo, né, em participar das coisas das pessoas. Vibre com as outras pessoas, que você vai construir uma corrente do bem. E essa corrente do bem vai te ajudando a você crescer, a prosperar”.

Tem um provérbio que eu acho fantástico: “O generoso sempre prosperará”. Eu acredito muito nisso, né? E fica uma sugestão de um livro aí, para estimular esse senso de coletividade, senso de comunidade, chama “Give and Take”, ou em português, “Dar e Receber”. Que conta as histórias dos Givers, que são pessoas que, quando elas não desfocam do seu objetivo, mas ao mesmo tempo elas querem que as outras cresçam e vão contribuindo, são as pessoas mais bem sucedidas numa pesquisa, num estudo. Aí tem os Givers, os Takers e os Matchers. Os Givers estão lá em cima. Aí depois vem os Takers, que só tomam para si. Depois vêm os Matchers, “eu te ajudo, você me ajuda”. E embaixo vêm os Givers, que às vezes abrem mão de tudo, só para poder fazer o bem e tal e às vezes elas não têm objetivos claros, próprios, nesse sentido. Então, os Givers, seja um Giver, que tenha um objetivo, que tenha um propósito, alguma coisa que faça sentido para você, mas que contribua para quem está ao redor e contribui pra aqueles também que não estão ao redor, que é fácil ajudar quem está próximo, que eu tenho certeza que vocês, ao longo do tempo, vão construir uma trajetória muito bacana. Ainda tem muito caminho pela frente, eu não gosto muito de ficar falando de sucesso, né? Eu peço que Deus continue me abençoando, preserve sempre o meu coração e eu continue trabalhando bastante aí, para fazer o bem para as outras pessoas, para a minha família e para quem está ao meu redor e para aqueles que eu não conheço e estou conseguindo gerar uma transformação positiva. E sou muito grato às pessoas que me ajudam e eu tento retribuir isso para outras, já que pra aquelas que me ajudam eu dificilmente vou conseguir ajudar, de alguma forma, né? Porque às vezes muitos já têm tudo ou quase tudo, mas eu tenho certeza que é esse ciclo, que a gente vai fazendo a roda girar. Vamos construir um país mais coletivo, né e com uma comunidade mais unida, independente de raça, gênero, ideologia, credo, orientação sexual, nesse sentido. Uma coisa que eu não falei, mas os coronéis que mais me ajudaram no batalhão eram espíritas. A professora que me ensinou sobre trabalho voluntário era budista. Ah, tive um contato muito próximo com muitos católicos. Então, por mais que eu sou cristão protestante, eu abri a minha mente muito rápido, né? Por muitas experiências, né? Eu escolhi, as últimas pessoas que eu quero ver, antes de eu viajar, sem ser a minha família, vão ser as pessoas do batalhão. A gente vai fazer um almoço na quarta-feira, antes de eu pegar o voo, para ir para Boston. Então, assim, isso é gratidão. Então, ali foi uma pluralidade de raças, de pessoas. O coronel tinha nível superior, Direito, por isso ele conseguia corrigir as redações do Pelezinho, mas tinha um soldado lá na base. Então, você lidar e aprender a falar com as pessoas de uma mesma forma, entendendo que todo mundo é ser humano. E que, no final do dia, gente, ser é diferente de ter, né? E valorize as pessoas pelo que elas são e não pelo que elas têm. Então, essa é a mensagem que eu quero passar e obrigado pelo convite, extremamente feliz de estar aqui com vocês. Começo com a energia sempre um pouquinho mais baixa, mas depois vou me empolgando, vamos interagindo e é isso. Sucesso para todo mundo e ficarei feliz de poder, numa outra oportunidade, falar mais um pouco, tentar compartilhar um pouco dos meus aprendizados, erros, acertos e por aí vai. Obrigado! Deus abençoe a todos!

(02:28:49) P1 – Wellington, obrigada você! Como que você vê ter a sua história de vida num lugar que se chama Museu da Pessoa?

R1 - É uma honra, né? 27 anos, né? Vamos colocar que o convite foi feito com 26, né? Mas na edição é 27, fiz recentemente. Acho que muito novo, né? E uma coisa que eu aprendi nessa vida é que você não pode deixar o balão... sabe? Você tem que estar sempre ali, com ele preso em algum lugar, com o pé no chão. Então, ao mesmo tempo que eu fico muito feliz e honrado, não é motivo para me sentir melhor do que as outras pessoas. Eu sei que eu tenho uma história um pouco atípica, né? Não melhor, nem pior, mas atípica, um pouco diferente, tem algumas coisas: vendedor de picolé no batalhão, no Rio de Janeiro, polícia militar. Normalmente é um lugar que as pessoas tendem a olhar de maneira negativa, mas para mim foi muito positivo. E é tão positivo que me fez, que eu deveria compartilhar essa positividade e converter isso em ação, para poder melhorar a vida das pessoas. Então: dormiu numa escola e isso e aquilo, começou a empreender novo. Então, tem algumas coisas aí diferentes, acho que cada história é única, nesse sentido, mas que essa história sirva, aquele CEO, o Marcos Vono, falou, de inspiração para muitas pessoas que venham da mesma realidade que você e muitas que não venham da mesma realidade que você. Então, eu acho que a minha história pode ser inspiração para muitas pessoas e os meus resultados possam sair do campo da inspiração e entregar resultado, para melhorar a vida dessas pessoas ou do nosso país, porque eu acho que a gente precisa de um país melhor e acho que todo mundo que tem noção e consciência quer um país melhor.

(02:30:36) P1 – Wellington, super obrigada mais uma vez! Um privilégio para mim, dentro do Museu da Pessoa, poder escutar a sua história.