Museu da Pessoa

O dom da profecia

autoria: Museu da Pessoa personagem: Maria da Conceição Marques Figueiredo

P/1 – Conceição, a senhora pode falar o seu nome completo, local e data de nascimento?

R – Maria da Conceição Pereira Marques, nasci em Sabinópolis, 29 de março de 1951. A data eu não tenho certeza porque o meu pai fala que é dia 29 de março, o meu pai, a minha mãe fala que é dia 10 de março, como no interior, na roça é tudo muito precário, então eu fiquei nessas duas datas, mas o meu documento, a minha identidade é dia 29 de março.

P/1 – Sabinópolis fica aonde?

R – Fica em Minas Gerais, divisa com a Bahia.

P/1 – Seus pais são de Sabinópolis?

R – São de Sabinópolis.

P/1 – Seu pai e sua mãe?

R – Meu pai e minha mãe, a minha avó eu acho que nasceu em Portugal, não tenho certeza.

P/1 – Avó o que, paterna ou materna?

R – Avó paterna.

P/1 – Você sabe o que eles faziam lá, os seus avós, em Portugal?

R – A minha avó trabalhava muito com linha, fazia linha no fuso, fazia linha e bordava, aquela coisa lá de Portugal, tudo ela fazia a mão, fazia vinho de folha de figo, fazia fumo, plantava pé de fumo e ela mesmo fazia o fumo, que tirava, eu ajudava, às vezes ajudava, ela fazia o fumo e fazia o rolo do fumo e fazia até o pó. E ela gostava de costurar com a linha que ela fazia, ela tinha uma máquina de mão, ela achava que as linhas compradas, que a dela, que ela fazia, era melhor. Ela plantava o algodão e fazia aquele montão de algodão e fazia no fuso a linha e costurava com a linha que ela fazia em casa. Então acostumei muito, aprendi muito o costume dela passou pra meu pai, pra minha mãe, pra mim, pras minhas irmãs, né?

P/1 – Ela morava com vocês?

R – Morou a vida inteira, a avó por parte...

P/1 – E o seu avô, marido dela?

R – Não, eu conheci só a avó por parte de pai, ele tinha um amor muito grande por ela, quando a gente mudava, primeiro ela fazia o quarto dela, pra depois fazer o nosso, então cresci com a avó, com a mãe. E de tarde, eu me lembro, ela ficava sempre na janela, com um terço desse tamanho, acho que é um costume português. A minha mãe e a minha avó e meu pai, eram muito ligados a Nossa Senhora de Fátima, acho que é aqueles costumes que mãe passa pra filho. Então você chegava lá de tarde, ela estava na janela: “Ave Maria, cheia de graça”, com um terço de milagres que ela mesmo fazia o terço, tudo ela fazia, ela não comprava nada pronto. E eu admirava aquela avó, eu dizia: “Puxa, ela faz”, eu gostava de aprender a fazer as coisas com ela, e a minha mãe era uma pessoa muito boa, mas ela não sabia fazer essas coisas que a minha avó, porque a minha avó, minha mãe era brasileira, minha mãe tinha outro ensinamento. Minha mãe não sabia ler nem escrever, o meu pai sabia bem ler e escrever.

P/1 – Como é que a sua avó foi parar em Sabinópolis? Você sabe a história?

R – Eu acredito que ela deve ter vindo de Portugal, porque eu não sei muito a história dos meus antepassados.

P/1 – Mas como eles foram parar nessa cidade?

R – Eu acho que eles foram pra lá, que eu acho que eles são... às vezes o meu pai nas imediação, nasceu lá, eu acho que aí, eu não sei se meu avô...

P/1 – Mas ela veio com o marido dela pro Brasil?

R – Eu não sei bem como é que foi a história, porque eu era muito pequenininha, então eu não conheci o marido dela, e aí não cheguei a saber certo o que, mas nós sempre fomos de Sabinópolis, desde quando eu era pequena.

P/1 – E seus avós maternos, moravam em Sabinópolis? Quem eram eles?

R – Não, eu conheci só a minha avó também, mas ela não morava em Sabinópolis, ela morava em Belo Horizonte com os outros filhos e a minha mãe morava em Sabinópolis e uma tia minha também, que elas eram muito próximas, estavam sempre juntas. Então a minha tia, era ela com as crianças, não tinha marido mais, e a minha mãe sempre teve marido, que é o meu pai.

P/1 – Como é que ela conheceu o seu pai, a sua mãe?

R – Ai, eu não lembro, eu acho que casaram, né?

P/1 – Mas eles se conheceram em Sabinópolis?

R – Conheceu em Sabinópolis.

P/1 – Mas a sua mãe não morava em BH?

R – Não, a minha mãe não, eu acho que é depois que a família dela morou pra Belo Horizonte, mas aí eu não sei, eu acho que ela não era ainda. Então ela sempre teve muito junto com o meu pai, era bem estruturado com o meu pai, o meu pai que cuidava de tudo, o meu pai, ele era muito honesto, muito trabalhador.

P/1 – O que ele fazia?

R – Ele era um homem que corria atrás das coisas, porque na roça é assim, tem o tempo de seca e tem o tempo de chuva, então ele aprendeu de berço a trabalhar por conta com a minha avó. Então imagina que nós éramos pobres, não tinha nenhum bem, mas o meu pai, ele era o patrão dele, ele plantava roça, tempo das águas, ele não tinha terra, ele tinha só um cavalo, só um cavalo que ele tinha. Só que ele ia nos donos de terra, os donos de fazenda e fazia negócio com os donos de fazenda, como que se diz: “Ó, você quer fazer negócio comigo? Você me dá a semente e me dá um pedaço de terra lá” e ele fazia um rancho. Ele mesmo fazia o rancho e ele e a minha avó dando ordem, minha avó comandando, minha avó dava uma tremenda força pra meu pai. E aí pode continuar falando?

P/1 – Pode.

R – Aí a minha avó, o meu pai pegava um pedação de terra fértil e falava: “Eu pago os trabalhador e você me dá a semente, me dá um pedaço de terra e me dá, e tudo que eu ganhar eu dou metade pra você, um pagamento, e metade fica pra mim”. Então aquele pagamento, ele fazia um paiol, que era um lugar onde ele guardava as sementes, o milho e o feijão, pra gente comer o resto do ano, e outra metade ele dava pro dono da fazenda, e outra metade ele vendia. E pra ficar barato, ele muito econômico, muito, ele pegava ali o lápis e fazia a conta de tostão por tostão, quanto é que ia ficar, ninguém enganava ele na matemática, aí ele negociava pros empregados pra deixar mais barato. Porque no interior tem aquele monte de homem que fica na praça que às vezes não tem serviço, aí ele ia lá no meio deles, falava: “Você quer ir trabalhar pra mim?”, às vezes tinha uns que ia só pela comida, a minha mãe fazia a comida. Minha mãe fazia a comida pra ficar mais barato, a minha mãe criava frango, dava ovos e aí pegava abóbora da roça, pegava feijão de corda, pegava quiabo, jiló, que dava na beira da casa, alface, couve, um fubá que moía lá nas imediações. Então ele dava comida, então ele não pagava quase nada, quando acabava de fazer a roça, ele agradava muito os funcionários, o meu pai era um pai, um homem alegre, que contava história, que bebia uma cachacinha, que tocava sanfona. Que na mesma: “Agora você está trabalhando, quando acabar o trabalho, eu vou tocar sanfona pra você dançar e beber um pouco”, e alegrava, aí eles gostavam muito dele, ele dava risada que ouvia longe, né? De vez em quando, não era sempre, ele que tocava pro povo dançar, só a família, as mulheres com as moças, e ele levava a sanfona e cantava e tocava. E a minha mãe tinha muito ciúmes dele, ia com uma criança no peito mamando, a outra na barra da saia e as outras crianças em volta.

P/1 – Quantos filhos eram?

R – Eram sete meninas e um menino, e ela não deixava o meu pai ir sozinho, ele ia com a minha mãe, com as crianças, o meu pai tocando, o povo dançando e minha mãe dando mamar pra criança (risos), era muito engraçado, e eu dormindo aqui no pé dela.

P/1 – Desses sete você é qual?

R – São...

P/1 – Você é mais velha, mais nova?

R – Não, eu sou a terceira das mais novas, a mais velha já faleceu, que ela já tinha idade. Quando ele acabava de tocar, ele punha a sanfona aqui, pegava eu com a minha irmã, punha aqui uma num braço, outra no outro, minha mãe ia com o bebê no colo e as outras iam andando a pé. Então era assim nossa vida.

P/1 – Quais eram as suas brincadeiras de infância?

R – Olha, quando a gente estava na roça, brincava muito, assim, de boneca de cabelo de milho, ah, eles brigavam quando a gente apanhava o milho pra fazer a boneca e pegava os panos pra enrolar as bonecas, eu gostava das loiras, aquele cabelão (risos). Quanto mais o cabelo era bonito, mais a gente gostava, enrolava a boneca, no pano e ficava aquele cabelão, quando ia pentear, o cabelo caía, né, que era cabelo de milho (risos), adorava brincar disso. E era assim, brincava com os bichos, a gente ficava fazendo, armar arapuca pra apanhar a saracuras. Minha mãe tinha uma bicona de água na porta da cozinha, que de noite as rãs, os sapos iam pra caçar alguma coisa pra comer, a gente ficava escondidinha lá pra cutucar os sapos e saía pulando, a gente saía correndo. Eram essas coisas da roça mesmo, adorava, uma coisa que eu gostava de fazer era ir com a minha avó pescar peixe nos riozinho que tava lá no fundo do quintal, ela tinha mania de pescar peixe, eu era a companhia. Eu era sempre a companhia dos mais velhos, quando vinha de outras cidades, dos povoados, a tia Maria, vó da minha vó, irmã da minha avó, tudo era eu que acompanhava. “Não, você vai levar tia Maria Costa lá no povoado”: “Não, você vai comigo no médico levar a criança, lá na cidade”, tudo eu era acompanhante.

P/1 – Por que você acha que você era acompanhante?

R – Já era meu serviço, era eu que tinha que acompanhar, minha mãe ia no médico levar criança doente, era muito longe, era na cidade, eu que ia, não chamava ninguém. Aí eu ia com a trouxinha na cabeça, uma fronha, ela fazia a fronha, punha todas as coisas da criança, eu ia segurando assim na cabeça, era muito esperta, não tinha medo e estava sempre disposta.

P/1 – Como é que era a casa de vocês? Você lembra da casa?

R – Então, a casa que o meu pai fazia lá na roça, é uma coisa que me agradava muito, era a maneira, a inteligência deles mesmo fazer, eu ficava muito encantada com aquilo, mesmo eu sendo pequena. O meu pai dizia pra minha mãe: “Agora nós vamos pra roça, porque é tempo das águas, eu vou plantar roça, fiz o contrato lá com o fazendeiro”, minha mãe na hora se prontificava. Tudo o que meu pai falava a minha mãe fazia, aí ia tudo pra roça, fechava a casa, lá fazia o rancho, quando ele chegava lá, ele ia no mato, apanhava aqueles igual eucalipto assim, certinho, ele fazia as camas, fazia o buraco. Ele sem ninguém, e punha as camas, chamava jirau, aí ele fazia as camas, aí ele fazia o rancho, minha mãe ajudava ele a rebocar o rancho, minha avó, punha sapé assim, e eu ficava encantada com a maneira. E aí ele fazia a esteira de taboa pra ficar bem fofa a cama, e punha a esteira, e ele gostava de comer na mesa, ele ia lá no mato, pegava madeira lá, cortava, ele fazia a mesa pra gente comer, fazia a mesa, fazia o banco pra sentar, fazia a porta.

P/1 – Vocês dormiam como nos quartos?

R – E aí a minha mãe fazia, ia na casa onde vende os sacos, ela fazia três dias lavando os sacos com folha de mamão pra ficar bem branquinho, e a minha avó fazia o colchão na máquina com o saco de farinha de trigo, igual a esses sacos que eles vendem aí, mas era tudo, a gente comprava preto, ficava branquinho. Aí nas palhas de milho, rasgava o milho, as palhas, enchia o colchão, minha mãe lavava o colchão todo mês, colchão branquinho, ela era asseada demais, só faltava esfregar nessa cabeça assim, muito limpa, muito asseada. O sabão que nos dava banho era um sabão tão preto, um sabão de mamona, sei lá que mais que ela punha, parecia, mas diz que hoje em dia está usando até na medicina, mas parecia que o sabão era, mais ia sujar do que limpar.

P/1 – Mas vocês eram em sete, quantos quartos tinha?

R – Tinha, parece, um quarto da minha avó, a sala, um quarto pra gente dormir e a cozinha, mas aquele...

P/1 – Seu pai e sua mãe?

R – É, mas a cama era, tinha a cama nossa, era um quartão, aí tinha as camas, a cama nossa e tinha a cama da minha mãe e do meu pai, era separado só com uma cortina de saco também, assim no meio. Agora, o quarto da minha avó era separado, assim, tinha a porta, tudo, pra avó era melhor, mas era muito bom.

P/1 – Você tinha essa avó, vocês tiveram uma educação religiosa?

R – Desde berço, tudo católico, foi ensinado desde pequenininha a não roubar, a não matar, a não usar roupa escandalosa, porque diz que Deus não gostava, que Deus não ia ficar feliz por isso. Então, quando eu fazia alguma coisa, eu ficava olhando pra ver se eu via Deus: “Ai, meu Deus, que medo, nossa, eu acho que ele está me vendo, e agora?”. Aí quando eu ia na igreja, eu ficava olhando pra baixo assim, porque tinha a imagem, olhava assim de todo lado, como dizendo: “Você acha que ele está sabendo? (risos) E agora, como é que vai ser?”, né? Então isso foi um freio na nossa vida, viu, foi uma coisa muito boa eles falar que Deus via tudo, isso ficou gravado na minha cabeça, como: “Hoje eu nem vou olhar pra ele, porque, né, falei, menti pra minha mãe, ele está sabendo”, então isso foi muito bom.

P/1 – Quem que falava que ele via tudo?

R – A minha mãe e a minha avó, o meu pai, que Deus era muito bom, que era ele que tinha feito o mundo, que era ele que nos dava comida, ah, quando falou então que era ele que nos dava comida, eu falei: “Nossa, como ele é bom”, porque eu era bem comilona, né? Eu falei: “Já pensou se ele não desse a comida, como é que ia fazer? De repente ele para aí de me dar a comida, e eu tenho mais é que agradar ele”. Então isso foi muito importante na minha vida, foi importante demais.

P/1 – Tinha alguma igreja perto?

R – Tinha, não, nós ia na igreja na cidade, quando nós tava na cidade, era perto, quando nós estava na roça, nós ia do mesmo jeito, nós ia em comitiva, ia vizinhos, vizinhanças, ia tudo, as moças, as mães, os pais, ia a minha tia, ia tudo junto à missa da tarde, e tinha as barraquinhas na porta da igreja, a gente ficava lá nas barraquinhas. Quando nós chegava em casa já era de noite, já era bem de noite, as corujas ficavam pousando assim, eu gostava de ver as corujas, elas ia nos acompanhando, elas davam uma voada, parava na nossa frente, e nós andando. De tempo de quaresma o meu pai ia sempre conosco, ia todo mundo junto, tinha um paletó só, que era só dele ir na igreja, e uma camisa de manga comprida, que era a roupa que ele usava pra ir na igreja. E a gente ia descalço pra ir pra igreja, tinha um rio na entrada da cidade onde nós parava pra lavar os pés, pra por a sandalinha pra entrar na igreja. Então era muito bom, e tudo assim, ninguém tinha dinheiro, mas era muito bom.

P/1 – Como que era na sua casa? Quem que exercia a autoridade?

R – Era o meu pai, era meu pai, minha mãe era muito dependente, ela era uma mulher feminina, ciumenta, Nossa Senhora, não se dava tão bem com minha avó porque ela tinha muito ciúme de nós, era aquela mulher que morre de ciúme dos filhos e do marido, e minha avó tinha ciúme do meu pai. Então tinha dia que eu tinha que estar falando com a minha avó escondido da minha mãe, minha avó: “Vem aqui, minha filhinha, porque eu tenho uma bananinha madurinha pra você”, que minha avó pegava banana pra madurecer dentro do quartinho dela, aí eu ia lá correndo, comia a banana, já vinha com o cheiro da banana na boca. Mas nada assim, de briga muito séria, era ciúmes, muito ciumenta, é ciúme.

P/1 – E na escola, você entrou com quantos anos?

R – Quando nós morava na roça eu tinha que ir pra escola, e a minha mãe, ela não trabalhava direto fora, naquele tempo não usava mulher trabalhar fora, minha mãe cozinhava pros caras que ajudava lá o meu pai e tinha um monte de criança pequena. Então o meu padrinho era juiz de direito, antigamente, usava dar as crianças pra quem tinha mais condição, no caso, se faltasse a mãe ou o pai, o padrinho ou a madrinha assumia, que tinha condição. E minha mãe, ela trabalhou quando era solteira praquela gente, aquelas família, , e aí ela falou: “E agora? Essa menina está na idade de escola” e também a minha mãe era banqueteira, minha mãe e minha tia. Quando ia os políticos importantes, Juscelino, esses homens muito grandão na política lá em Minas, eles vieram em todos esses povoados, essa cidade, minha cidade é vizinha de Diamantina, então eles andavam lá pra nossa cidade atrás de voto, e lá tem, a minha cidade é muito política, toda Minas, né? Aí a minha mãe é que fazia a comida dos políticos, que não era nenhum banquete, mas lá pra nós da região era, gente da roça, caipira, então fazia uma leitoa assada, um frango assado, maionese, aquele comida normal, mas lá ninguém sabia, era uma comida de rico. Então quando os políticos ia lá, essa gente grã-fina, era chamada a minha mãe e minha tia pra fazer a comida, e minha mãe me levava. Então eu era muito conversadeira, tudo que você perguntava eu respondia, eles diziam: “Mas não é possível, quem falou isso pra essa menina? Nossa, mas ela é muito adiantada, ela sabe das coisas”, né? E todo mundo queria conversar comigo, uma criança, que esse pessoal rico, esse pessoa entendido: “Maria, vem aqui, eu quero conversar com você”, e eles ficavam: “Nossa, nossa”, né? E aí teve uma eleição lá e teve um outro senhor lá, aonde a minha mãe fazia os banquetes, que no interior é assim, ou é pobre ou é muito rico, não tem meio termo, ou tem muito rico ou tem pobre, apesar da gente ser pobre, a minha mãe e minha tia tinha muito contato com eles. Porque quando a minha mãe ia pra roça, minha mãe lavava roupa e passava muito bem, eles diziam: “Não, Joana, por favor, só você quem sabe lavar roupa dele”, era terno de linho branco, era as roupas de cama tudo branquinha, antigamente não tinha roupa colorida, engomada, porque era gente rica mesmo. Aí eu e minha irmã vinha na escola e nós ia no carro de boi, levando as roupas pra minha mãe lavar, quando ela passava ela trazia porque a gente, pra não sujar. Então aí essa mulher do prefeito e também a minha madrinha, a minha madrinha era de um partido, a mulher do prefeito era do outro, falou: “Eu quero que você deixa a Maria aqui pra ele estudar porque ela é um menina muito inteligente” e era muito longe que a minha mãe morava. E aí eu podia escolher se eu ia ficar na casa da minha madrinha ou se ia ficar na casa da Conceição, do Seu Olegário, né?

P/1 – Quem é Conceição e Seu Olegário?

R – É esse outro casal, que era, um era de um partido, outro era do outro, mas a minha mãe não era negócio de partido, ela só trabalhava, então não tinha muito nada que escolher, não. Aí eu quis ficar na outra, no outro lá, aí eu fiquei lá, eu fiquei lá todo o tempo de escola. E a minha irmã era uma enfermeira, que o Doutor Joaquim tinha pagado pra ela fazer um curso especial em Belo Horizonte, a minha irmã mais velha, tanto é que ela tirou retrato recebendo diploma daquele homem, Pinto, como é que o nome dele? Magalhães Pinto, tirou o homem entregando diploma. E aí a minha irmã morava lá também, porque era um casarão, tinha muita fartura, tinha do bom e do melhor, e tava sendo políticos, padres, gente renomada, tudo passava, hospedava lá, comia lá. Ela acolheu a minha irmã também, minha irmã trabalhava no hospital e morava lá, não pagava nada.

P/1 – Você ajudava na casa?

R – Não, não, ela fazia os vestidos bonito pra mim, mas eu tinha o contato direto, ela tinha um menino e uma menina, então a gente brincava junto, né?

P/1 – Quantos anos você tinha?

R – Eu tinha uns sete, dos sete aos oito anos eu fiquei na roça, mas foi difícil pra mim pra estudar, aí dos oito anos e diante eu fiquei lá.

P/1 – Dos oito anos até quantos anos?

R – Eu fiquei até mais ou menos os 13 anos.

P/1 – Você tinha saudade da sua mãe e do seu pai?

R – Eu não tive muito contato, assim, tive poucos contatos com a minha família, mas eles iam muito lá, minha mãe não saía de lá e depois eles pegou uma da minha irmã, a minha irmã abaixo dessa que é enfermeira, pra trabalhar lá. Aí uma irmã trabalhava, eu morava e a outra também morava, que eles eram muito bons, ela me arrumava, Nossa Senhora, arrumava umas sandalinhas bonitinhas pra mim usar, fazia vestido na máquina de costura com bordado. Então quando eu ia na missa, eu ia toda arrumadinha. Deus deu o céu pra ela, já morreu, eu convivia no meio deles, você vê que coisa, a minha irmã trabalhava, mas no interior não tem muita separação assim, mas aonde eles iam eles me levavam. Eles iam fazer um piquenique, só ia gente grã-fina, eu ia junto, onde eles estavam eu estava também, e também por causa das crianças, eles tinham duas crianças que era mais ou menos na minha idade, então eu ficava ali no meio. E aí eles diziam: “Não, ela”, eu escutava as professoras falando: “Não, ela mora lá na casa de fulano de tal, lá, vamos por ela no meio das crianças, dos filhos deles pra estudar”, eu vi quando as professoras comentou: “E a Maria, que classe que nós vamos por ela?”, “Não, vamos por no meio dos outros”. Porque tinha uma classe que era só dos filhos dos ricos, dos doutores, dos gente importante, e tinha outra classe que era filho dos pobres. Na escola tinha separação porque os pobres não ensinavam pras crianças, então as crianças ficavam só repetindo, e as crianças que era mais de classe mais alta, elas, os pais ensinavam e passava de ano, então é por isso. Aí eu era a única pobre que tinha no meio deles lá, por causa que eles levou em conta que eles estavam me criando, né, e aí eu fiz um primário muito forte, né?

P/1 – Do que você mais gostava na escola?

R – Eu era uma das primeiras da classe, eu passei forte, fizeram um vestido muito bonito pra mim ganhar o diploma, né?

P/1 – Do que você gostava na escola?

R – A matéria?

P/1 – É, o que você lembra?

R – Eu era muito forte em Língua Portuguesa, quando os, ela mandava eu fazer composição, mas eu quase que eu fazia era um livro, porque ela dizia: “Faz de três páginas”, mas eu fazia muito maior. E ela saía de porta em porta mostrando para as professoras: “Olha o que é que a minha aluna escreveu, olha o que é que ela escreveu”, “Mas quem é que ensinou isso pra ela? Vamos por no jornal, no jornal da escola”. Então as minhas composições eles punham no jornal da escola, mas eu não lembro de mais nada, estava sempre lá estampado no jornal da escola, e as minhas notas eram muito altas. Aí eu fui ficando mocinha, fui ficando grandinha, e as minhas irmãs, a Beatriz e a Lúcia, veio contra a vontade do meu pai, porque o meu pai tinha todo o controle das filhas, veio pra São Paulo trabalhar. O meu pai não queria, mas ele tava plantando roça com dificuldade, falou: “Não”, chegou uma mulher de São Paulo lá e falou: “O senhor pode ficar sossegado que elas vão trabalhar lá e vai mandar todo dinheiro pro senhor ajudar na roça”. Ele ainda ficou meio assim, mas elas quiseram vir, aí depois elas foi e me trouxe, e trouxe eu e minha outra irmã: “Não, você tem que ir pra São Paulo porque eu vou por você pra estudar”.

P/1 – Quem disse que ia trazer a senhora pra São Paulo?

R – A minha irmã que já tava aqui: “E porque você vai trabalhar pra ajudar o pai”, aí ela foi lá naquela casa e me tirou de lá pra mim vir pra São Paulo com ela pra trabalhar, aí chegou aqui, eu fiquei muito triste.

P/1 – Quantos anos a senhora tinha?

R – Eu tinha 13 anos, aí eu não me sentia bem porque era um outro ambiente.

P/1 – Pra onde vocês vieram?

R – Ela me pôs num colégio, eu não gostei.

P/1 – Mas que bairro que vocês vieram?

R – Ela, pois ela ficou comigo lá no trabalho dela, ela trabalhava de doméstica lá nos Jardins pra esse pessoal muito rico, assim, e eles eram bons, mas a questão que eu tava, não estava acostumada, eu achei muito estranho, muito esquisito, né? Fiquei sentindo falta de casa: “Não, você não vai voltar, não vai voltar porque você tem que trabalhar pra ajudar o pai, porque eu vou te por pra estudar”. E aí ela me pôs pra estudar, mas eu sentia muita falta de lá, pra mim minha família era eles, porque acho que eles me pegou numa idade que eu me envolvi muito, eu fiquei, estudei, depois não terminei o ginásio.

P/1 – Qual foi a impressão da senhora quando a senhora chegou em São Paulo?

R – Eu senti, parece que eu tava meio perdida, eu não gostei, não gostei, ainda mais que foi naquela época que tinha garoa, muito frio, São Paulo era muito frio, muito garoa, e eu tava muito acostumada com aquela vida com eles lá, muito acostumada. Então eu senti falta, parecia que eu tava perdida, aquela gente tudo estranha, eu não consegui me equilibrar, eu fiz a metade do ginásio.

P/1 – Em que bairro que a senhora foi morar?

R – No Jardins, é, porque a minha irmã punha eu pra fazer algumas coisas, pra ver se eu acostumava, depois apareceu...

P/1 – Como é que era os Jardins naquela época?

R – Ali, Paulistano, ali, né?

P/1 – Como é que era aquela região?

R – Ah, era uma nobreza, sempre foi uma nobreza, acho que mais do que é agora, era mais do que é agora. Aí conheci pessoas muito boas, aí tinha mulheres que, muito ricas, trabalhava com arte, que me pôs pra mim ajudar ela, ensinar como é que me mexia naquelas peças. Tanto é que eu peguei muito costume, só passar o olho assim numa coisa cara eu já sei, cada pecinha assim, ó, que você vende e dá pra comprar um apartamento. Então a gente só de olhar, a gente sabe, adquiri muita experiência, mesmo, só sendo uma auxiliar, porque são pessoas estrangeiras, que têm grandes investimentos em obras de arte, entendeu? Então isso pra mim, eu aprendi muito, eu sei quando é uma cópia, eu sei quando é, o ano que é, que século que é, você conhece muito ladrão de arte, né? Eu adquiri muita experiência nisso porque tinha, eu só não falo as pessoas, assim, pra não expor elas, mas eu acho que já até morreram já, que eram grandes pessoas da arte internacional.

P/1 – A senhora trabalhava, morava nessa casa dessa irmã, trabalhava lá, aonde você morava?

R – Aí a minha irmã alugou casa, uma casa não, quarto, cozinha e banheiro, lá no Santo Amaro, né, e aí a gente ia e voltava todo dia.

P/1 – Ela trabalhava aonde?

R – E aí eu continuei indo e voltando e trabalhando com essa senhora, ela gostava muito, eles gostavam muito de mim. Aí eles falaram assim, ó, as pessoas falavam assim: “Essa daí você não vai conseguir ficar nem um dia”, aí foi uma pessoa que eu gostei demais e também ela gostou muito de mim, e eu dizia: “Ah, não acredito, o que você fez?”, porque ninguém trabalha com ela, ela não passa o que ela sabe pra ninguém. Olha, mas aquela família, mas eles não tinham nada contra, eu falei: “Mas como é que vocês falam que essa pessoa é ruim?”, eu defendia: “Não, não é ruim, não”, ela ainda guardava até o dia do meu aniversário e eu também o dela. “Ah, Conceição, não acredito, isso é um milagre, não acredito”, e foi uma pessoa que me ensinou grandes coisas na área de arte, coisas que ela não revelava pras outras pessoas.

P/1 – Quem que era? Qual é o nome dessa pessoa?

R – É que a gente não fala assim, porque a gente não quer, às vezes as pessoas podem não gostar, mas é ali nos Jardins, e também é gente, ela não tinha loja, ela negociava direto com as pessoas, e no estrangeiro também, então ela ficava seis meses aqui, seis meses no estrangeiro.

P/1 – A senhora trabalhava com ela?

R – Atrás de negócios, só negócios, mas eu te digo, eu nunca vi uma fortuna tão grande na área de arte, por isso que tanta coisa no mercado.

P/1 – A senhora ia e voltava, trabalhava com ela, mas ia e voltava?

R – Isso, às vezes eu ficava lá.

P/1 – Você era assistente ela?

R – Às vezes eu ficava também, eu podia dormir também, que se tinha um negócio muito grande, eu era funcionária de confiança, porque você sabe que tem muito ladrão de arte.

P/1 – Quantos anos a senhora tinha?

R – Era novinha, era novinha, eu sou uma pessoa assim, de muito segredo, se você me falar uma coisa, eu sou muito amiga, muito fiel, se você me falar uma coisa, desde o berço, que não é pra eu falar, eu morro, mas eu não falo. Então ali ela tinha muita confiança, então isso despertou muita inveja, porque ela me explicava direitinho o que era cópia, o que era verdadeiro, de onde é que veio, na mão de quem que passou, tinha como ela saber tudo isso, né?

P/1 – Quanto tempo a senhora ficou lá?

R – Ah, eu fiquei uns cinco anos mais ou menos.

P/1 – A senhora, quando tava de folga, passeava por onde em São Paulo?

R – Vamos ver, assim, a gente não saía dos Jardins, não, porque o Jardins para a gente, a gente tinha muito medo de ir pra outro lugar, a gente tinha um medo porque eles falavam que São Paulo era muito perigoso. Então quando a gente saía, a gente saía em turma, como se diz: “Ó, vamos no Ibirapuera”, o lugar mais frequentado era o Ibirapuera, porque o Ibirapuera era próximo, tinha muita gente, né? Era muito difícil a gente sair sozinha com um rapaz, sempre saía outra também junto, porque às vezes, confiar desconfiando, então a gente tinha muito cuidado quando arranjava um namoradinho, a minha irmã ia com o dela, a irmã da minha amiga. Eu tinha uma amiga muito próxima, uma grande amiga, nós era muito amiga, a minha irmã era amiga da irmã dela, que era as mais velhas, e eu era amiga da mais nova, então saía a minha irmã com a outra, com o namorado, e eu com a minha amiga. Inclusive essa amiga, essa irmã da amiga, os filhos dela casou tudo lá nos Estados Unidos, porque tem a família, ela vai e volta quando ela quer, fez uma família enorme lá nos Estados Unidos, essa amiga. Minha irmã, muito bem casada a minha irmã, essa minha irmã hoje, porque o meu pai e minha mãe já morreram, tudo que vai fazer em família faz na casa dela, o marido dela é meio que um paizão, sabe, está com quase 80 anos, não tem nada, faz churrasco, faz feijoada, porque nós somos família de reunir, tudo família de reunir junto, né?

P/1 – A senhora, quando tava trabalhando lá, continuava, frequentava igreja, rezava? Quando que começou esse dom da senhora?

R – Então, aí a missa no domingo era sagrada, porque foi o que nós aprendemos, falavam que não ir à missa no domingo que era pecado, então se eu não fosse à missa no domingo pra mim era um pecado, porque foi o que eu aprendi, né? Então dia de domingo tinha que ir à missa, e depois eu casei nova, namorei com um gaúcho, que eu apaixonei, não deu certo, eu falei: “Ah, não deu certo com esse gaúcho, então eu agora o primeiro que aparecer eu vou namorar e vou casar”. Então apareceu um, eu tinha muita facilidade pra arrumar namorado, pros caras querer casar comigo, eu tinha muita sorte no amor, eu acho que, dependendo da facilidade que eu tinha, eu não soube muito dar valor, sabe, quando você tem a hora que você quiser. Então os namorados que eu arrumava era muito além de mim.

P/1 – Qual foi o primeiro namorado que a senhora se apaixonou?

R – Eu gostei desse gaúcho, ele gostava de mim também, mas ficava aquela brigaiada, aquele namoro meio enrolado, e aí eu já tava, eu era muito nova também, não podia, 18 anos, né? E aí apareceu esse que eu casei.

P/1 – Como é que apareceu, onde você conheceu?

R – Assim, ele veio falar comigo e eu falei: “Ó, o negócio é o seguinte”...

P/1 – Onde que a senhora tava? Como que a senhora conheceu ele?

R – Ele apareceu ali, bem na região dos Jardins, porque era só ali que a gente passeava, Rua Augusta, Paulista, e lá no Santo Amaro eu ia só pra dormir, mas as amizades a gente fazia ali naquela região, ali, tinha um bom, sabe ser. Então a gente aprendeu a ter contato com as pessoas ali, né? Aí ele veio, ele era um motorista de um banqueiro, mas eu nem sabia, porque eu via ele com aquele carrão, achei que o carro era dele, (risos) e ele era muito bonito, aquele bigodão. E eu falei: “Ah, mas será que esse homem é mesmo dono desse carro aí”, aí ele veio falar comigo, ele falou que ele era o motorista do banqueiro, se eu queria namorar. Eu falei: “Eu vou namorar, mas só se for pra casar logo”, ele falou: “Com você eu caso até amanhã, caso assim que você quiser, você quer casar?”, eu falei: “Eu quero”, mas porque eu já tava cheia do outro, coitado, ele que pagou o pato, né? Eu falei: “Agora eu não quero nem saber, eu vou conseguir isso, por desaforo dele, eu vou casar e pronto, e não vou mais nem olhar pra ele”, esse quis casar na hora: “Eu vou casar, mas eu quero casar logo, se você quiser resolve logo, porque eu não quero demorar”, né? Você vê a facilidade que eu tinha, ele falou assim: “Não, vamos fazer do jeito que você quer”, aí eu falei pra minha mãe, eu sempre tive as pessoas tudo em volta de mim, aí eu falei pra minha irmã e minha mãe, minha irmã mais velha, minha mãe já tava em São Paulo, morando em Santo Amaro: “O negócio é o seguinte, eu vou casar, mas eu quero casar logo”. Ela falou: “Ô, minha filha, mas você não tem nada, não tem nem uma colcha”, “Não”, aí ele falou: “Não, eu quero casar logo porque eu quero fazer o gosto dela”, né? Foi uma coisa rápida, aí a minha irmã com a minha mãe foi lá no Mappin e tirou tudo o que precisava.

P/1 – A sua mãe já vindo pra São Paulo?

R – Já tinha vindo pra São Paulo. Foi lá no Mappin e elas que escolheu meu enxoval, comprou o que elas quis, o que elas quis elas comprou, e a minha mãe, eu nunca fui interesseira de nada. Eu sou uma pessoa totalmente desligada, eu tenho que me sentir bem, ser feliz, mas eu nunca fui interesseira de nada, tanto é que eu nem olhei muito o que elas comprou, eu nem sei, eu queria casar, eu já tava com muita raiva do outro, , chateada. Aí esse que eu arrumei só faltava me pegar no colo assim, nossa, mas fazia tudo o que eu queria, eu falei: “Ai, meu Deus do céu e agora?”, aí esse, ele era um grande funcionário do banco, ele era muito direito, era uma ótima pessoa. Ele convidou o banco inteirinho, até o diretor do banco foi no casamento, eu falei: “Não, eu não quero casar com coisa chique, não, eu não gosto de coisa chique, eu sou muito simples, eu vou casar lá na igreja de Piraporinha, lá no Santo Amaro”. “Não, minha filha, o diretor do banco vai, aquelas mulher chique tudo do banco vai”, “Eu quero casar lá no Piraporinha, eu quero coisa simples, não quero coisa chique, não”, e aí o diretor do banco foi lá em Piraporinha, coitado, no meu casamento, que eu quis naquela igreja, assim, né? Aí casamos, o Antônio, ele alugou um apartamentinho pequenininho, casou no civil e no religioso.

P/1 – Teve festa?

R – Teve uma festa, e foi muito engraçado.

P/1 – Como foi a festa?

R – Ah, teve tudo, teve muito doce, muito bolo, eu ganhei muito presente, porque o povo do banco foi em massa. E aí a minha mãe eu acho que nem tava, não tava lá, aí eu fiquei sentada assim e a mãe desse meu cunhado do lado só recebendo os cumprimentos, como se fosse a minha mãe: “A senhora é a mãe da noiva? Meu parabéns” era muito engraçado. Pra uma pessoa que é pobre eu vivi muito bem, porque o carro do banco ficava com ele, ele podia ir pra onde ele queria com aquele carro do banco, que ele carregava os executivos e era muito responsável.

P/1 – A senhora continuou trabalhando?

R – E aí nós moramos ali no Bixiga, num apartamentinho ali.

P/1 – Como é que era o Bixiga nessa época?

R – Ah, sabe a Escola de Samba Vai-Vai? Eles, não tinha lugar, eles treinava era na minha porta, e eu morava no terceiro andar, e ali, mas era um estouro, tum cum tum, tum cum tum, aquele barulho, eu ficava da janela assistindo a Vai-Vai ensaiar. E eu tinha acabado de ganhar neném, o menino ficava tremendo na cama, tanto que hoje esse meu filho mais velho é louco por causa de samba, porque na barriga ele já recebeu os fluídos. E quando nasceu eu falei: “Meu Deus, essa gente vai matar o meu filho de susto”, fechava a janela, punha pano na janela, mas o barulho até estremecia o prédio e hoje ele gosta do samba, ele é advogado, mas ele samba, quando tem samba ele gosta e ele vai e a minha nora também gosta.

P/1 – A senhora passeava pelo bairro? Você continuou trabalhando?

R – Quando ele era pequeno, eu pegava ele no carrinho e levava lá na Praça Roosevelt, eu tinha uma amiga que é do Mato Grosso, ela levava o filhinho dela e eu levava o meu, o marido dela era porteiro nesses hotéis cinco estrelas. Aí a gente ficava lá ensinando a criança a andar, nessa época eu não trabalhava porque nem tinha condição, não tinha com quem deixar o menino.

P/1 – Aí a senhora saiu do trabalho?

R – Aí eu saí do trabalho, porque eu tinha que cuidar do menino, e aí nós ficamos bem apertados porque tinha que pagar aluguel, e o meu dinheiro ajudava de uma certa maneira. E aí ele já tinha o terreno, nós compramos o terreno assim que nós casamos, mas não tinha condição da gente morar lá porque a gente chegava cá tudo sujo de barro, porque era uma vila muito pobre, era mato, não tinha água.

P/1 – Onde que era?

R – Era lá no Jardim do Lago, mas era um lugar muito pobre, quando chovia, se a gente fosse vir, a gente ficaria cheio de barro pra trabalhar, então não teve como, pra gente não perder o serviço teve que alugar o apartamentinho ali no Bixiga, porque pra ele trabalhar e pra mim trabalhar. Quando eu casei eu continuei trabalhando, só parei quando eu tive o bebê, sempre trabalhei, eu trabalhava e às vezes trabalhava de noite de garçonete. Nessa minha caminhada eu conhecia clientes que fazia festa direto, gente do Jockey Club, mas sempre você fazia na sua casa e, como elas me conheciam e eu dizia: “Ó, eu preciso ganhar dinheiro, pode me chamar que eu vou”, né? Aí elas diziam: “Não, eu estou fazendo um jogo lá em casa, uma festa lá em casa, você vai como ajudante do garçom”, o garçom servia e eu servia as mulheres lá, tudo grã-fino, servia whisky, servia, enfim, ajudava em tudo que era preciso ali. Eu gostava de trabalhar à noite porque eu ganhava dobrado, e quando era quatro horas da manhã, cinco horas da manhã, ia essas personalidades no jogo lá, até Clodovil, coisa, você sabe, eu sou reservada pra falar o nome das pessoas. Ia gente grã-fina do Jockey, gente grande do Jockey, gente que gosta de jogar, e eu gostava daquele ambiente, era um ambiente alegre, descontraído, eu não gosto de tristeza, eu detesto tristeza, eu gosto de alegria, eu gosto de gente pra cima. Eu nem sentia que eu tava trabalhando, via aquelas pessoas tudo bem arrumada, tudo bonito, conversando bem e eu dizia: “Que mal há nisso?”, e me pagavam, ainda me davam uma gorjeta. E aí o meu marido ia me pegar na hora que acabava a festa, que ele tinha, ele ia me pegar, me levar pra casa, porque eu tava ajudando, e foi assim, gostava muito de trabalhar à noite com esse pessoal.

P/1 – A senhora se dava bem com o seu marido?

R – Se dava bem, mas, assim, eu tinha que dar mais valor pra ele, coitado, eu judiava, não é que eu judiava, olha, sabe quando você tem tudo em volta, né? Eu tenho sempre uma facilidade tremenda pra chegar até as pessoas, começa a conversar com as pessoas, eu fico muito ali, né? Então ele, às vezes ele queria que eu tivesse mais tempo, assim, né, eu só tenho coisas boas pra falar dele, entendeu? Depois então que eu comecei a rezar e as pessoas direto em volta de mim, eu estou aqui, mas eu não tenho um minuto de tempo, às vezes eu estou lá em casa, eu tenho que ficar com tudo fechado.

P/1 – Mas vamos voltar lá atrás. Quando que a senhora começou a rezar e a receber as pessoas?

R – Então aí, né?

P/1 – Você tinha o filho já?

R – Ele era muito bom, eu não tenho queixa dele, e eu tive um filho, depois eu tive um outro filho, que foi lá onde eu morava, e depois...

P/1 – Você não tava mais no apartamento?

R – Não, porque aí ficou meio pesado, que eu não tava trabalhando, ele falou: “Ó, vamos morar lá”, ele deu uma arrumadinha, nós tinha uma casinha simplesinha lá, coisa de pobre mesmo, era mais era o terreno. Então ele falou: “Ó, vamos morar lá”, porque nós não tava aguentando pagar lá, e ainda tinha que pagar a prestação do terreno, e aí quando eu fui pra lá eu tava grávida do outro filho e aí começamos morar lá. E aí, na medida que eu comecei morar lá, comecei trabalhar também à noite pra servir as pessoas, tudo o que eu queria ele fazia pra mim, porque é nortista, nordestino, do Ceará, gente boa, né? Eu mineira, o nortista com Ceará, a gente se dá melhor com gente do sul, a gente que é de Minas, mas eles eram bons, aí ele, era aquela coisa do homem, os nortistas, aquela coisa do homem macho: “Não, venha comer”, “Não, só vou comer se você vai fazer meu prato, me dá aqui na minha mão”. Eu estava cansada, o bebê novo, trabalhando, se eu demorasse um minuto pra mim fazer o prato, ele ficava nervoso, ele quebrava o prato, como se: “Como ela não vai fazer o meu prato, vai me dar na minha mão?”, então é uma maneira de dedicar. Eu achava que não era por aí, né, e aí ele tinha muito ciúmes de mim, tipo assim, aqui em São Paulo você tem, não tem muito horário certinho, sempre teve ciúme, quando eu demorava um pouquinho ele ficava descontrolado de nervoso, ele queria brigar, né? Então, quando chegava de noite, um bebê pequenininho o outro com quatro anos, com três anos, a gente fica com a cabeça meia quente, né?

P/1 – Tinha dois?

R – Tinha duas crianças. Aí eu dizia, e aí, quando nós fomos lá no Ceará passear, eu trouxe uma menina pra me ajudar, pra ficar com os menininhos pra mim trabalhar. Aí eu chegava, tava aquele barulho, criança chorando, ele brigando e eu, teve uma vez que eu fiquei, assim, meia deprimida, meia triste, eu falei: “Isso aí é porque eu não estou rezando mais”, eu não ia mais à missa, por quê? Porque eu tinha duas crianças, então eu falei: “Eu já sei, eu vou começar a rezar porque eu acho que é falta de oração”. Aí eu tinha um livrinho de oração ali, chamava “Salve dominical”, que eu tinha ganhado na minha primeira comunhão, aí eu comecei a ler aquele livro, falei: “Quem sabe eu vou melhorar”. Não ia em nada mais, mas: “Ai, meu deus, eu vou rezar lá no banheiro meu livrinho”, eu falei: “Só assim que eu vou rezar”, aí entrei lá no banheiro, comecei a rezar o livrinho pra mim poder dormir com as crianças. Aí eu escutei assim, aí eu senti um bem, mas senti um bem que eu não sei te explicar, ele falou assim: “Olha, eu sou o principal, eu sou o anjo Gabriel, eu sou o principal mensageiro de Deus aqui na terra, né, eu vim pra te dizer que Deus está tirando esse nervoso, esse”. Eu não tava muito bem: “Essa sensação, esse mal, tudo que tá acontecendo no momento com você. Você vai ser uma pessoa, você vai voltar a ser muito alegre e feliz e os seus bons pensamentos Deus abençoa e os ruins Deus tira”, e aí eu falei: “Poxa, que bom, né?”. Aí eu tava escutando.

P/1 – Você escutou isso?

R – Escutei.

P/1 – Estava na sua casa?

R – Mas era como se o banheiro tivesse ficado tudo azul claro assim, eu não vi o anjo, eu escutei nitidamente a palavra, e aí ele falou assim: “Tem outra coisa, Deus está te dando o dom de profecia”. Pra mim, eu não sabia nem o que é que era, né, aí ele fez uma pausa e ele fez um sorriso, como se diz assim: “Ela não sabe o que que é”, eu falei, ele falou: “Sabe porque você não fica muito contente? Você não sabe o que é o dom de profecia”. Eu falei: “É mesmo, eu não sei o que é que é dom de profecia. O que é que é o dom de profecia?”, eu perguntei pra ele.

P/1 – Isso tudo no banheiro?

R – No banheiro, então eu sei que o anjo falou comigo porque eu perguntei pra ele o que que era o dom de profecia, aí ele falou assim: “Ó, você vai falar as coisas pras pessoas, as pessoas vão vir te procurar e você vai falar as coisas, você vai abrir a boca e você vai saber o que você vai falar e vão vir muitas pessoas importantes falar com você, vão vir, a maioria que você vai atender são pessoas que atendem as

outras já”. E a maioria, muita gente que eu atendo são pessoas que davam atendimento pra outras, quando vai alguma pessoa que é...

P/1 – Mas e aí, como terminou a conversa com o anjo?

R – Aí eu fiquei contente, quando ele falou que eu ia falar as coisas, eu falei: “Ai, que bom”, que até então eu não sabia o que que eram, aí eu senti, aí que eu peguei o fio da meada, que eu sabia o que que era, falar as coisas pras pessoas. No dia seguinte fui pro serviço, que aí eu já...

P/1 – E aí, você saiu do banheiro e você tava...

R – Não falei nada pra ninguém, fiquei tão emocionada que eu já fui direto deitar, era umas nove horas da noite, porque eu ia dormir cedo porque cinco horas da manhã eu tinha que levantar, dar comida, lanche pras crianças, por as crianças na escola e ir trabalhar. Não perdia um dia de serviço, até quando tinha greve eu ia, eu andando, eu ia de qualquer jeito, mas eu ia. Aí cheguei no serviço, as colegas: “Ó, venha cá, gente, eu sei falar as coisas”, “Como que você sabe?”, “Ah, não sei, apareceu um anjo lá, disse que eu ia falar as coisas, pode perguntar aí tudo o que vocês quiser”. Isso nove horas da manhã, tava no meu serviço, aí tudo o que perguntavam eu falava, tudo o que perguntavam eu falava.

P/1 – Perguntavam o quê?

R – Ah, elas perguntavam tudo que elas queriam. Aí aquela confusão, todo mundo na área ficou sabendo que eu tava falando, aí eu vinha e as pessoas, aí foram lá e chamou os patrões, aí veio o patrão, que eles são meio estrangeiros, perguntou tudo em inglês pra mim, eu respondi tudo em inglês.

P/1 – A senhora falou em inglês?

R – O meu patrão com um bruta charutão: “Conceição está falando inglês, que eu saiba”, chamou a mulher: “Que eu saiba a Conceição não fala inglês, vem pra você ver”, “Conceição falando inglês, o que que é isto?”, ela é assim, era assim. E responder inglês bonitinho, direitinho, nem eu sabia o que era, interpretava, aí eles ficaram tudo bobo, eu ainda tava sob o efeito daquela revelação: “E ela disse que ela está rezando também, que o anjo está rezando nela”. Então foram lá e pegou uma mãe de santo, sabe aquela mãe de santo mesmo, conceituada mesmo? A gente respeita, todo mundo: “Não, ela tem um problema na perna que ninguém nunca deu jeito”, a perna daquela senhora minava água, água, ela andava com duas fraldinhas colada na perna, e ela ficava de pé, a água começava a vazar no sapato e ficava molhado assim, em voltado. Ela, naquele tempo ela tinha 70 anos, ela não perdia um dia de serviço, só quando ela tava ruim da perna que ela não ia: “Agora quero ver se o anjo falou mesmo”, as meninas, sabe, no serviço como é que é, brincando: “Então quero ver se você vai fazer alguma coisa aqui, parar a perna dela, da Dona Lúcia”. Eu olhei pra ela assim, eu tinha 28 anos, eu falei: “Ah, não sei, a senhora quer que eu reze, Dona Lúcia, a senhora quer que eu faça aquilo que o anjo falou que eu ia fazer?”. Ela olhou pra mim assim: “Sabe”, ela falava assim: “O meu pai de santo, há 15 anos atrás, falou que ele não ia me curar, não, mas ia aparecer uma pessoa que ia me curar”, aí ela olhou: “Será que é você, menina?”, eu tinha 28, ela tinha 70, né? Eu falei, eu ainda sob o efeito da coisa, eu falei: “Não sei, Deus é que sabe”, outra hora eu dizia que era o anjo que sabia: “Se a senhora quiser, eu faço isso que o anjo está mandando eu fazer”. Aí ela sentou e eu comecei passar energia, olha, no dia seguinte não saiu mais nenhuma gota de água, a perna dela melhorou completamente, mas completamente. Aí foi por isso que o pessoal começou a vir me procurar, aí todo o pessoal conhecia, falava: “O que é que aconteceu, sua perna melhorou?”, ela dizia: “Foi a Conceição, foi a Conceição”. Ela não dizia: “Foi Deus” ou “Foi o anjo”, até porque ela é uma pessoa totalmente ligada à parte de, não sei se é Candomblé, o que que é, então o jeito dela, eu dizia: “Eu não, foi Deus ou foi o anjo”, eu ainda tava sob o efeito, né? Aí todo mundo ficou bobo, todo mundo começou a comentar, porque todo mundo sabia que quando ela faltava era por causa da perna, e aí todo mundo começou a ir, né, e eu falava e acertava nas revelações. Eu falei: “Não, quem vai ser a, quem vai ganhar no negócio do futebol?”, eu falei: “A França”, a França ganhou, um tempo aí, eu não sei, uma época aí que a França ganhou. Aí eu comecei a acertar muito quando você perguntava as coisas, a gente acerta muito, graças a Deus, nada é 100%, só Deus é que sabe, mas eu tenho um dom permanente, assim, não é que eu vou me concentrar ou que eu vou chamar um espírito, é um dom natural de permanente, assim, você pergunta e vem a respostas, né?

P/1 – E a senhora, quando vê as pessoas, visualiza, tem visão, não?

R – Vê tudo, vê se tem um, o que é que tem você, quando eu olho na pessoa, tudo a mais que tiver em você fica assim, empareado assim, e é muito rápido que eu faço, né? Então a gente não te dá nenhum encargo, nem a gente não cobra e nem a gente fala pra você assim: “Olha, você tem que me trazer isso, você tem que me trazer aquilo, você não pode fazer isso ou não pode fazer aquilo”, não, não tem. Simplesmente na hora a gente te passa a energia e eu falo: “Você tá com isso aqui e eu vou, vamos rezar pra tirar esse mal”, mas é uma coisa natural.

P/1 – Mas aí a senhora continuava no trabalho?

R – Continuava, com certeza, eu não queria parar de trabalhar, eu queria muito trabalhar pra manter meus filhos.

P/1 – E o seu marido começou a achar o que disso?

R – Porque a gente, tanto eu quanto ele, é gente assim, muito honesta, não sabe te fazer um, te enrolar.

P/1 – O que ele achou disso, seu marido?

R – Ele não queria muito, não, porque ele não queria que as pessoas ficassem me procurando, ele achava ruim, como que se diz, né: “As pessoas ficam atrás dela e ela não pode, não dá pra ela trabalhar e também tem as crianças”. Então mexeu com ele um pouco e eu queria, eu achava que era uma missão que Deus tinha me dado, que eu não podia largar, cada vez ia mais gente. Quando era no meu serviço, as pessoas ficavam lá embaixo me esperando, carro no meu serviço, parecia que a linha de telefone era minha, toda hora gente ligando, ligando, brigando com eles pra eles me chamar, esperando lá embaixo com o carro cheio, com gente doente lá no carro me esperando. Aí não deu pra mim continuar porque quando eu ia sair pra mim ir trabalhar, a minha porta tava cheia de gente e aí não dava, não tinha, fica difícil pra mim ir, a pessoa querendo conversar, querendo que eu benzesse, benzer coluna, benzer criança doente, né? E aí eu comecei a atender só as pessoas, mas eu nunca foi cobrado nada, aí começamos a benzer e a pessoa sentia o efeito da oração, então na medida eu comecei a benzer. Hoje eu benzo os avós, antes eu benzia os avós, agora já é os bisavós, os avós, os filhos, e agora já é a quarta geração, os filhos leva as crianças.

P/1 – Como que a senhora benze?

R – Eu tenho pessoas, o que eu tenho, que eu fico contente, é que eu tenho aqui jovens, a gente vê um grande resultado nos jovens, mas é um resultado esplêndido, é incrível, quando eu começo a benzer, às vezes eles não querem estudar, eles se voltam tudo pros estudos. Porque a gente não é tanto a parte religiosa, não, eu prego muito da responsabilidade da pessoa ter um trabalho, ser honesta, fazer direitinho aquele trabalho que você foi chamado a fazer, fazer com amor, cuidar bem do que foi te colocado, né? E essa é a reza principal, se você é engenheiro, cuida bem da construção, se você, enfim, dá resposta daquilo que você foi chamado a fazer, seja sincero no seu trabalho, né?

P/1 – Dona Conceição, deixa eu perguntar uma coisa pra senhora. Quando aconteceu isso a senhora tinha 28 anos.

R – Sim.

P/1 – Aí a senhora continuou no trabalho até quando?

R – O quanto deu, eu só larguei mesmo quando as pessoas começou a ficar muito em cima de mim, por causa deles ficarem correndo atrás de mim.

P/1 – Quantos anos a senhora tinha?

R – Ah, faz uns dez anos mais ou menos que eu não to trabalhando mais, porque não deu.

P/1 – Mas a senhora se aposentou?

R – Se eu quiser, eu posso me aposentar, porque não teve nem tempo de ir lá pra fazer a aposentadoria, mas eu posso ir lá pra resolver, eu não tive tempo de resolver isso.

P/1 – Mas a senhora começou a atender, quando que a senhora começou a atender em outro lugar, sem ser sua casa?

R – Não, eu vou na casa das pessoas, porque, como eu conheço muita gente, eu fiz muitos contatos, e então as pessoas, quando vai lá em casa, não dá pra mim, elas quer conversar, então não dá às vezes pra mim conversar só pra benzer, então elas me levam lá na terra delas ou lá onde elas mora e faz, eu atendo toda a família.

P/1 – A senhora não cobra nada por isso?

R – Não, não cobra, essas festas que eu dou, né, essas...

P/1 – Quais são essas festas?

R – Essas famílias que eu benzi quando as crianças eram pequena, esses são os presidentes de filme de hoje, tem meninos que eu benzi que ganham um milhão de real por dia, meninos que eu benzi com 12 anos, a gente não fala porque a gente não expõe as pessoas, né? Então eles vai por quê? Porque viu que deu resultado, leva as filhas, leva as mulheres.

P/1 – Mas na casa da senhora? Esse lugar do Butantã que a senhora disse?

R – Tem rapazes, meninos que eu benzi, que eu hoje vai lá com dois seguranças.

P/1 – Mas então a senhora tem um lugar que a senhora atende?

R – É na minha casa.

P/1 – Que é essa no Butantã?

R – É, de quando, essas pessoas que eu conheço, mas não é nenhuma casa maravilhosa, é tudo bagunçado, tudo simples, desde, você pode ser a pessoa mais importante, é tudo simples lá em casa.

P/1 – E seu marido?

R – Meu marido está lá, morando lá no Ceará.

P/1 – Vocês se separaram?

R – Ele está morando lá, eu tenho muito contato, muito contato, acontece que ele perdeu a mãe e o pai, e ele era todo, é o filho mais velho, totalmente ligado à mãe e o pai, e aí ele foi pra lá pra tomar conta das coisas da mãe e do pai, ele vem sempre pra cá.

P/1 – Mas vocês são casados?

R – Não, sou separada dele, separada, mas tenho ele como um familiar, mas eu não tenho um outro marido, não, é como se fosse um irmão pra mim, porque não...

P/1 – Por que acabou separando?

R – Eu acho que foi mais por causa do meu trabalho, que a dedicação para o meu trabalho, esse meu trabalho, mas eu quero ele bem, ele também me quer muito bem e também, quando ele foi, o pai e a mãe dele morreu, ele ficou muito voltado pra isto, depressão, e ele foi pra lá, se refugiou lá, ficou lá, está lá no norte.

P/1 – A senhora se mantém como?

R – Esse, ultimamente ele já veio aí.

P/1 – Várias vezes, está querendo voltar.

R – Vem, ele vem aí. Ah, eu, às vezes, tipo assim, tem um filho, os meus filhos ganham muito bem, eu tenho o meu filho mais velho, e também porque eu queria que os meus filhos estudassem. Ele achou que era bobagem, porque ele falou: “Você quer dar uma de rica? Imagina, a gente é pobre, estudar filho pra quê? Deixa, eles estudam se eles quiser”, eu falei: “Não, se eles quiser não, eles ainda não têm condição de escolher, eles são novos, eu quero que eles estudam, vou trabalhar, fazer das tripas coração pros meus filhos estudar”. Porque naquele tempo não tinha nada de ajuda de governo, não, não tinha e eu não contava com a ajuda dos outros, eu não conto com a ajuda dos outros. Eu não sou uma pessoa que chega em você pra ficar te pedindo coisa. Tem tanta gente rica que eu conheço, pergunta pra eles se eu tenho o telefone deles lá em casa, eu não sei o telefone deles, quando eles quer, eles vai lá benzer. Nunca eu liguei: “Ó, será que você pode me dar isto? Será que você pode me dar aquilo?”, não, eu não faço isso, se eles quer ajudar, eu agradeço, mas não que eu vou ficar amolando a pessoa, quando você quer, você consegue, no muque mesmo, na luta. Eu sei que é difícil trabalhar, não é porque você tem um cargo alto, ele está aí, tá trabalhando, você está trabalhando, agora, eu vou ficar atrás de você te pedindo coisa, te pedindo dinheiro, te pedindo isso? É difícil, é uma luta, então você é não é obrigado a me dar nada, ou é? Você já faz, coitado, levanta de manhã, fica até de noite, por que você tem que me dar? Entendeu?

P/1 – Maria da Conceição, fala uma coisa, a senhora recebeu, a senhora falou lá que a senhora às vezes fala outras línguas quando recebe, como que é isso?

R – É, e aí, né, só um pedacinho, aí eu estudei os filhos, né, mas meu filho foi, estudou assim, eu sempre orientei direitinho.

P/1 – Como é o nome dele?

R – Marcelo, ele, quem foi trabalhar lá em casa, me procurou pra rezar, ajudou assim, tipo assim: “Ó, Conceição, se você quiser, eu arrumo um serviço pra seu filho”, porque é carteira branca, eu falei: “Ó”, eles que me ofereceram, mas cadê que eu chego em você pra pedir? Não, se você quiser arrumar eu aceito, aí ele empregou o meu filho, 14 anos, até era uma firma de importação e exportação aí na Faria Lima, né, o meu filho ficou lá uns três anos. Depois ele fez vestibular, entrou no Mackenzie, e agora aí eles dispensou ele, pagou os anos de casa pra ele, então foi com esse dinheiro que ele pagou os dois primeiros anos que ele entrou no Mackenzie. Depois o pai dele arrumou um estágio pra ele com grandes firmas daqui de São Paulo, ele trabalhava, ele fez cinco anos de estágio, então ele adquiriu muita experiência. Estudou lá, os colegas dele do Mackenzie é tudo gente rica, só ele que era pobre, e ele ia sempre com o mesmo sapato, com a mesma roupa. Eu comprava o tênis pra ele ir, ele dava até risada, de tão fora da moda que era, eu falei: “É esse que você tem que ir porque é esse que o meu dinheiro deu pra comprar”, “Júnior, olha o tênis que a mãe comprou pra mim ir estudar”, é assim, é na luta. Aí ele pegou dois estágios, nesse ponto as pessoas me ajudou, e o pai ajudou, porque o pai tava lá no banco, arrumou estágio, ele entrava de um, das sete à uma, e da uma às sete ele pegava outro estágio, é com esse dinheiro que ele pagou a faculdade, não ficou devendo nada pra ninguém. Saiu da faculdade ali, acabou de fazer, não fez, ele não participou de festa nenhuma da faculdade, ele participou como convidado dos colegas ricos lá, que fez a festa, porque não podia, não tinha dinheiro. Então ele não participou de nada, ele só foi lá e pegou o diploma, foi, tirou a carteirinha em primeiro lugar, não fez estudo nenhum pra tirar a carteirinha. E os colegas dele é tudo filhos de pais que têm dinheiro, aí o pai de um deu uma mansão pro filho por escritório e ele chamou o Marcelo pra trabalhar junto com eles, o que eles faziam repartia o dinheiro, o Marcelo era o único que tinha estágio de cinco anos, e era o mais velho, 24 anos, o outro era moleque, 20, 21, tudo formado, né? Aí o escritório cresceu muito, porque os próprios pais dele, tudo, era amigo de grandes empresários, então o escritório ficou bastante forte, então é nisso que o meu filho trabalha, né? E aí o outro, ele é personal trainer, é professor de Educação Física, estudou muito lá na São Judas Tadeu, tem várias pós-graduações, e esse meu filho também, o Marcelo, fez umas três ou quatro pós-graduação, fez na GV a graduação pra empresarial, fez pra advogado trabalhista, fez pra advogado de artista, de causas autorais, né? E o meu filho paga até um convênio médico pra mim, está bem, graças a Deus, meus filhos, eles sustentam eles, as mulheres, a minha nora trabalha num banco, na área, sei lá, assim, administrativo, tudo, estudou, faculdade, tudo. A minha outra nora é filha de médico, ela é muito trabalhadeira, sai cinco horas da manhã pra trabalhar, trabalha em negócio de Educação Física também, né? E também já tenho uma neta de 17 anos, que é filha do Marcelo, que estuda numa escola muito boa também, também muito esforçada, e tenho um neto de dez anos, que também estuda, né? Não tenho, graças a Deus, problema nenhum com os meus filhos, com a minha família, eu que, por bem dizer, criei eles.

P/1 – A senhora mora sozinha?

R – Moro, mas esse meu filho que é professor, ele vai quando eu estou, porque nem sempre eu estou, é difícil você me achar lá, só quando tá marcado, então esse meu filho que é professor, ele vai almoçar de vez em quando lá comigo, pra me fazer companhia, ou ele vai almoçar, ele vai jantar. E o outro filho, todo sábado e domingo ele me leva, sábado eu atendo na parte da tarde, e no domingo ou sábado, quando eu não atendo, ele me leva pra casa dele, aí eu estou sempre com eles, o outro vai pra lá, né? Graças a Deus, Deus me abençoou em termos de filhos, da família, por bem dizer, na fase de estudos ele ficaram só comigo, mas ficaram sempre em contato com o pai. O pai, quando eu, na hora de educar, que eu via que a barra tava pesada, assim, eu chama o pai: “Não, esse aqui não quer me obedecer, dá um jeito”, né, porque tem hora que precisa do homem, não tem jeito, ainda mais filho homem, aí ele dava lá umas prensada lá, resolvia, é isso.

P/1 – Dona Maria da Conceição, nesse tempo todo, conta uns casos que a senhora tenha atendido. Vamos voltar a aquela pergunta que eu tinha feito, que a senhora disse que às vezes fala em outra língua, como é que é isso?

R – É tipo assim, você pede pra mim te benzer, então quando eu vou te benzer, a gente abre, e aí quando eu abro, eu vou ver o que que eu encontrei, é como se eu fosse fazer uma reciclagem, né? Eu vou ver se o seu problema é, se é emocional, se é psiquiátrico, se é doença, se é espiritual, se é uma obra de bruxaria, o que for a gente puxa. E também, assim, quando a gente passa a mão assim, a gente vê aonde é que está a doença, se você está com um caroço, às vezes que você nem sabe aonde que está, qual o tipo de doença que está te atacando. Só que a gente não faz o diagnóstico, eu só faço o diagnóstico só quando está difícil do médico achar, aí eu falo: “Vai lá e fala para o seu médico fazer tal exame”, e aí dá certo. Aí tem uma criança de três anos, ela tava com tuberculose nos olhos, fazia uns seis meses que o médico só tava dando colírio, aí ela levava pra mim benzer a criança, né? Eu dizia: “Nossa, mas cada vez que você está tratando, cada vez o olho da menina está pior, vamos pedir a Deus pra me mostrar, me iluminar pra ver o que que essa criança tem”, aí me veio a resposta, ela está com tuberculose nos olhos.

P/1 – Como que vem essa resposta?

R – Aí vem, vem como se fosse uma inspiração. Aí eu falei: “Ó, você leva ela lá, fala pro doutor fazer o teste da tuberculose, fala que foi a vidente que falou”, porque a gente fala vidente porque é o que o pessoal sabe, entendeu, mas eu sou profeta, a gente fala por inspiração divina. Aí, porque não é vidente de estar contando história, contando historinha, fazendo fofoca, a gente tem uma responsabilidade, a gente fala por inspiração divina, não é ficar, mas entre vidente e profecia as pessoas não sabem bem o que que é, como eu também não sabia, é, eu me encaixo nisso porque eu não sabia, assim os outros não sabem também. Aí fez o exame, constatou a tuberculose nos olhos, aí o médico tratou, o menino melhorou, então a vidência é pra casos mais sérios, né? Então quando você benze, eu benzo, vem a palavra, então de repente eu vou falar a linguagem que o espírito que está em você entende, então você tem um dom pra falar com o cego, com o mudo, com o coxo, com uma pessoa que está... Se eu falar na linguagem normal, não vai me entender, então eu tenho que falar na linguagem que aquela energia que está em você me entende, então eu tenho o dom pra comunicar com qualquer tipo de energia. Então por isso que falo várias línguas, porque a linguagem vai ser de acordo com o que está aí em você ou no seu familiar, aí eu falo à altura da linguagem dele e ele me entende: “Ah, agora eu entendi, é isso”. Então eu nunca sei que linguagem que eu vou falar, é só na hora que eu abro a boca, mas tem cada linguagens estranhas, que vocês ficam bobas de ver, então é uma comunicação espiritual.

P/1 – Depois que a senhora fala, a senhora lembra do que a senhora disse?

R – É, o que eu falo e também eu interpreto, isso que é bom, porque é ruim se eu falasse e não soubesse o que que eu tava falando. Então às vezes a gente pode falar em outra língua pra não deixar a pessoa com medo, porque as pessoas podem ficar com medo, então, mas não é eu que decido falar em línguas, foi Deus, não foi eu, né? Então eu falo as mais diversas línguas, conforme o que está presente em você, às vezes eu percebo que um espírito está corrigindo o outro, então eu já, por exemplo, vi um espírito bravo com o outro. Mas é só a minha voz que muda, eu não incorporo, nada, no meu normal, só que eu às vezes dou risada de ver as palavras sábias que um espírito fala para o outro. Fala: “Ai, seu mercenário, sai daí, mercenário, que está sugando a outra”, só que fala em outra língua.

P/1 – Depois que a senhora fala, a senhora lembra do que disse?

R – Eu posso lembrar, mas às vezes eu não lembro porque é muita coisa, mas não é porque me foge no controle, não.

P/1 – A senhora continua católica, indo na igreja?

R – Mais ainda, eu sou muito, muito devota a Deus e Nossa Senhora, eu sou muito, mas eu falo pras pessoas, eu prego, mas não a prática religiosa, eu prego, mas mudou numa parte, né? Porque você pode ser religiosa, mas o que você tem que ver é sua maneira de viver neste mundo, essa que é a reza que eu prego, né? Então se você reza, se você vai na igreja, você faz a prática, seja lá que religião que você for, mas se você não faz as coisas para um mundo melhor, não adianta. Não é você pegar suas coisas e dar tudo pros outros, é você cumprir com o seu dever, não é o governo, não é a polícia, cada um faz a sua pequena parte. Você tem criança, poxa, vida, cuida dessas crianças direito pra não virar uma pessoa que vai te dar problema, pra você e também pra sociedade. É isso que Deus vai querer saber quando você partir dessa vida, de que maneira que você cuidou dos seus filhos, você ficou na igreja o dia inteiro e seus filhos? Ou sei lá onde é que você ficou o dia inteiro, né?

P/1 – Dona Maria da Conceição, e essas festas de natal que a senhora viu e trouxe as fotos, que a senhora falou?

R – Isso aí...

P/1 – Quais são?

R – É porque na verdade...

P/1 – Rosana.

R – Rosana, eu nunca que, eu nunca pensei que ia benzer nem ia rezar, eu nunca procurei isso, nunca, só que quando eu mudei pra lá, eu tava, eu sou pobre, mas eu fiquei em gente muito mais pobre do que eu. São, as crianças praticamente não tinham nada, as crianças, elas ficavam sujinhas, assim, na rua, todas, que ninguém dava nada por elas, tinha dó, tudo, não tomavam banho, não trocavam de roupa, assim, sujinha, né? E aí domingo de manhã, todo mundo, os pais estão dormindo e eu arrumava direitinho meus filhos, eu, pra ir à missa, que tinha um colégio de freira lá que tinha missa. Todo domingo, sete horas, eu ia à missa, aí eu ia, essas crianças iam tudo me acompanhando, foi aumentando as crianças, elas iam do jeito que elas tavam brincando na rua, né? E aí eu chegava lá com aquele bando de criança atrás de mim, enchia uns três bancos, e lá na igreja tava tudo, todo mundo arrumadinho, cheirosinho, bonitinho, mas eu não mandava elas voltar, né? E acho que as pessoas até ficavam meio assim: “Nossa, ela está arrumada, os filhos dela arrumados e essas crianças tudo junto”, que as pessoas, não é porque é preconceito, mas as pessoas olham tudo, não tá arrumado pra vir numa missa. Inclusive uma: “Ô, Conceição, minha filha, fala para as mães dessas crianças arrumar elas, dar um banho nelas, pra elas poder vir assistir a missa na igreja”. Eu falei: “Olha, irmã, eu não, não é que eu chamo eles pra vir comigo, eu venho com os meus filhos, quando eu olho, eles vêm tudo e senta aqui, eu tenho dó de mandar eles voltar. Se eu for mandar as mães arrumar eles, eles não vem, que elas tão tudo dormindo”, é gente, não tá acostumado, mora no barraco, não está acostumada, era gente simples, né? Aí quando terminava a missa, as irmãs ali, tinha um jardinzão grande, era grande lá em volta, o colégio bonito, uma capela bonita, agora eu sentia a necessidade dar alguma coisa pra eles. Eu falei: “Coitadinhos, vieram acompanhando”, eu tinha dó deles: “Vamos brincar? Vamos brincar de carneirinho, carneirão?”, eu sempre gostei de ginástica, eu falei: “Vamos brincar de carneirinho, carneirão, vamos fazer uma, relaxamento”. Porque aquelas crianças era muito agitadas, nervosas, aí eu dizia, no carneirinho, carneirão a gente fazia exercício, aí olhar pro céu, olhar pro chão, fazer assim, a gente fazia a ginástica. Fazia uma grande roda e a gente deitava no chão, tudo assim: “Vamos ficar calados, olhando pro céu, pensando, respira fundo”, então esse exercício me fazia muito bem e fazia bem pra todos nós, né? E a gente fazia muito isso e eu ficava falando pra eles: “Pensa assim, pensa assim”, como se aquilo ali fosse dirigido, era muito gostoso aquela parte ali, quando a gente deitava assim, fazia o braço assim, as pernas assim, parecia uma grande ciranda assim, era uma paz. Aí vinha a Irmã Ângela: “Conceição, minha filha, você trazer todas essas crianças de rua aqui, cuidado, não vai quebrar minhas plantas”, eu falei: “Não, irmã, pode ficar sossegada”, comigo eles não estragavam nada porque eles gostavam muito de mim, né? Então eu ensinava eles que não podia quebrar as plantas, que não podia, que tinha que ser paz, que não podia ficar, tinha que fazer tudo bem. Aí a gente ia embora, eles não queriam largar de nós, de mim e dos meus filhos, quando eu entrava pra dentro de casa com os meus filhos, eles ficavam, tinha uma vielinha, eles ficavam tudo sentadinho ali, não ia embora. Aí ia lá dentro, voltava cá fora, coçava a cabeça, que eu também não tinha, eu dizia: “Ah, eu já sei o que que é, me dá dó de pensar essas crianças, ficou comigo até 11 horas, como que eu, me dá dó de dispensar eles sem dar nada pra eles comer”, né? Eu falei: “Ó, de domingo em diante todo mundo vai comer um bolo e um bom suco aqui”, sabe Deus como é que eu ia fazer, que eu também não tinha. Aí eu comecei, antes de ir para a igreja, fazia uma assadeira assim de bolo, às vezes fazia até duas, o bolo, ele era feito com todos os restinhos que eu tinha durante a semana, tinha até resto de arroz, ia no bolo, eu ia congelando, até feijão ia no bolo. Tudo o que sobrava, que eu sabia que tava em bom estado, banana, laranja, eu punha tudo no congelador e depois eu punha um pouco de farinha ou punha o pão mesmo, duro, e batia no liquidificador, se não tinha leite, eu punha água ou o que tivesse, óleo, manteiga nunca tinha, eu punha um olinho, às vezes chocolate, e eu coava, batia tudo, não coava, não, punha uma colher de bicarbonato ou então uma colher de fermento. Foi o melhor bolo que eles já comeram, aí, tanto o meu bolo ficou tão famoso que quando, na casa dos meus familiares, quando não tinha as coisas, dizia: “Já sei, chama a Maria, pode chamar a Maria que a Maria faz o bolo” (risos), porque eu falei: “Tem resto de feijão aí? (risos) Tem banana?”, né? A banana, eu lavava bem a banana, que eu punha com a casca e tudo, o limão eu punha com a casca e tudo: “O que mais que tem? Tem ao menos uma xícara de óleo?”, ah, um bolo assim, ó, mas ficava gostoso, né? E aí nem comprava Ki-Suco, fazia uma jarrona e esses copinhos de plástico, comia o quanto eles queriam, tomavam o suco, aí tava na hora deles ir embora, né? Então foi aumentando, mas antes não tinha, foi aumentando por causa do bolo. Aí eu comecei a rezar nas pessoas, só a rezar mesmo, aí as pessoas notavam diferença, todo, queria que eu rezasse mais, que eles achavam que melhorava quando eu rezava. Aí foi vindo gente, eles começou a trazer muitas, a mãe que tem filho preso, que tem filho drogado, trazia. Tinha gente que vinha de longe com uma sacola de garrafa de água pra mim benzer, pra levar pro filho lá na cadeia ou levar aonde tava o filho drogado, ou a filha que foi embora de casa ou criança doente, né? Eu nunca falei para uma pessoa: “Ó, não vai em outros lugares” ou: “Se você fizer assim não vou te atender” ou: “Você não pode tomar droga”, não, nada, nada, a minha maneira de atender, ela não pega no teu pé de jeito nenhum, não, é naturalmente. Aí as pessoas começou a perceber que as outras pessoas melhoravam, eles se sentiam acolhidos, os meninos dizia: “Mãe, vamos lá naquela mulher, que ela benzeu eu, eu gostei”. Porque a mãe trazia o filho drogado, às vezes até com overdose: “Fala aí, Dona Conceição, pra ele, esse sem vergonha”, não sei o que (risos): “Eu trouxe ele aqui porque, eu ia ver o que a senhora ia falar pra ele, agora você vai ouvir Dona Conceição”. Eu dizia: “Não, eu não vou falar nada”, eu dava um abraço: “Mas eu não vou falar nada pra você, meu filho, você já está sofrendo muito, o que mais que eu tenho pra falar pra você? Eu só quero que você saiba que eu gosto muito de você, que você é meu amigo, e você, com droga, sem droga, eu não estou proibindo nem estou mandando você tomar, eu vou gostar de você do mesmo jeito, viu, sempre que você quiser uma amiga vem aqui, que eu sou sua amiga, hein, tá, eu vou sempre ser sua amiga, tá? E a senhora dá muito carinho, muito amor pro seu filho, agrada o seu filho, não fica pensando em droga, se tomou, se não tomou”. Porque eu sei que na medida que a pessoa vai se sentindo amada, se sentindo bem, a pessoa vai diminuindo, só que a gente não fala, não fala: “Ai, dona”, mas elas se surpreendem como se diz: “Como, eu trouxe aqui pra senhora dar uma bronca nele” (risos). Eu falei: “A bronca já foi dada”: “Ai, meu Deus do céu”, aí elas leva a filha embora: “Mãe, me leva lá naquela mulher que me benzeu, que eu gostei muito dela”, elas vê filhos, então é assim. Foi aumentando as pessoas, e eu tenho tantas pessoas que melhorou muito a vida, que tinha problemas sérios, que nunca eu falei: “Você deixa ou você larga”, só na medida de abrir a porta, acolher, de coração, eles vê que eu não estou fazendo por falsidade.

P/1 – Qual foi o caso mais curioso que a senhora atendeu? Um caso que tenha te marcado muito ou alguns casos.

R – Caso de quê?

P/1 – Curioso ou marcante, assim, que te marcou muito.

R – De que área assim?

P/1 – Qualquer área, que a senhora gostaria de citar.

R – Ah, mas tem vários, né?

P/1 – Imagino, deve ter.

R – Tem um menino que estava sempre, ele tinha uma fixação que ele queria se matar e é filho único de uma família, de uma mulher, e quando eu atendi ele era muito pessimista, queria a morte, e hoje ele é um grande empresário. Inclusive é um dos que me ajuda lá quando eu vou fazer minhas festas, mudou completamente, né? Porque eu estou lá na rua varrendo, eu estou lavando, eu estou cantando, porque chega pessoa pedindo pra benzer lá na rua mesmo. Aí chegou a moça, ela falou: “Olha, eu quero que a senhora me benze, me benze porque eu estou a um mês do meu casamento, e eu dei os convites, era um casamento muito chique, e agora o meu noivo não quer mais nada comigo, os convites já foram dados, eu não sei o que fazer da minha vida, eu estou desesperada”. Eu falei assim: “Não, hoje eu não vou atender ninguém, eu não estou atendendo”, isso eu falei antes dela falar o que que era, ela só insistia pra mim atender: “Mas não estou atendendo”, não sei o que. Ela falou: “Pelo menos me dá uma benção, porque eu sei que a senhora benze”, aí eu olhei nela assim, eu, lá na rua: “Por acaso você tem alguma contra a sua mãe?”, ela desabou a chorar, desesperada, chorou, começou a chorar. Porque na hora que eu olhei ela, aí que ela me falou que tava com o casamento marcado pra um mês, já tinha dado os convites e o noivo não queria mais e ela não sabia o que fazer com os convidados, era um casamento muito importante. Olhei assim, falei: “Por acaso você tem alguma coisa contra a sua mãe?”, ah, começou a chorar, eu falei: “Aí tem coisa”, ela falou: “Eu vou casar, é um casamento muito importante, eu não convidei minha mãe, minha mãe não está nem sabendo”. Eu falei: “Pois você volta, procura a sua mãe onde ela tiver, volta às pazes com ela, convida ela pra o casamento e o seu noivo volta com você”. Mas ela chorava, né? Aí ela procurou a mãe, fez como eu mandei, aí o rapaz voltou com ela, o rapaz, faltava ela, eu falei: “Você não avisa pros convidados que não vai ter casamento”, faltando 15 dias pro casamento o rapaz voltou, aí casaram e ficaram felizes. Eu falei: “Poxa”, tem coisa que eu revelo que eu também não sei, nem eu sabia que a mãe era tão importante na vida de um filho, de uma filha, então, depois que eu escutei isso, eu dou conselhos para as pessoas procurar, estar bem com mãe e pai, depois dessa, que nem eu não sabia. Então é isso, né, tem também uma, que Deus me ilumina pra que eu lembre, porque é muita coisa, às vezes a gente não lembra tudo, né, (reza) vamos ver se eu lembro (reza). Tem também, essa é caso de cura, a moça, 17 anos, ela tinha um tumor na coluna que já tinha feito um buraco, e aí ela tava na cama, ela não podia mexer, ela tava paralisada, a mãe, 17, era uma menina, a mãe pondo a comadre. Ela ficava nas Clínicas, ficava na casa dela, o médico não sabia o que fazer, como que se diz: “Ó, não tenho como fazer nada”, desenganou, como se diz: “Se eu operar, ou ela morre ou ela fica na cadeira, se eu não operar, também, não tem o que fazer”. Eu falei: “Se não tem o que fazer, então deixa como está”, eu falei: “Você vem aqui, eu vou benzer ela toda semana”, aí eu benzi óleo: “Eu benzo um óleo pra você passar e benzo uma água pra você tomar, aí você vai dando a água pra ela tomar, vai passando o óleo em volta, na coluna”. Olha, a moça melhorou completamente, completamente, foi o mesmo que tirar com a mão, melhorou, o médico ficou, falou: “Nossa, o que aconteceu?”, até, quando aconteceu essas coisas eu também fico boba, eu falo: “Nossa Senhora, ela melhorou”. Essa coisa constatada, e que a moça ainda vai lá em casa benzer, são coisas, porque eu não gosto de fanatismo.

P/1 – Já foi jornalista alguma vez de programa atrás da senhora?

R – É porque eu sou muito reservada, eu não gosto que, me aparecer, eu gosto que apareça, assim, a minha obra, o trabalho, como se fosse a mão de Deus, mas eu não gosto de sensacionalismo de maneira alguma.

P/1 – A senhora está escrevendo um livro?

R – E eu não gosto de expor as pessoas, eu gosto de deixar as pessoas à vontade, eu não gosto de chegar em você: “Ó, será que você quer aparecer se eu precisar?”, não, porque eu acho que na verdade ninguém gosta. Assim como eu sou reservada, eu acho que os outros também é, né, então eu sei que se eu vou pedir eles podem aceitar, mas eles não vai mais se sentir à vontade, não é mesmo?

P/1 – A senhora está escrevendo um livro?

R – Então, na verdade foi uma, eu estou sentindo na obrigação mesmo de passar essa mensagem, porque são mensagens para o século XXI que me foram inspiradas por Deus, como é que vai ficar o século XXI. Então essas mensagens, elas estão muito atrasadas, porque eu achava assim, que eu podia escrever as mensagens falando, eu deixo as mensagens, de repente eu morro, porque é o nosso fim, até porque eu já não sou tão nova, já estou com 63. Eu falei: “Então as pessoas vão saber o que é que eu deixei para falar para as pessoas”, porque aí já é na minha parte de profecia, né? Então eu me senti na responsabilidade, né, de escrever, porque até agora, graças a Deus, eu não morri e as coisas foram reveladas na virada de 2000 pra 2001.

P/1 – Como que foram reveladas?

R – Como é que ia ficar esse século, de 2001, de 2000 a 2060, tudo, como é que vai ficar tudo no mundo, né?

P/1 – Como que foi, uma revelação?

R – Revelação de Deus, inspiração de Deus, né?

P/1 – A senhora escutou a voz outra vez?

R – E aí, é como se Deus tivesse me falando: “Passa isso pras pessoas porque isso aí tá muito atrasado e já está acontecendo as coisas que foram reveladas e você não passou para as pessoas e eu não posso, não to podendo”, às vezes Deus quer os acontecimentos e as pessoas não tão sabendo. Então eu me senti na obrigação de passar.

P/1 – Quais foram essas revelações?

R – Ó, tudo como é que vai ficar, vai ajudar, nos ajudar muito se esses, como é que vai ficar a saúde, os médicos, como é que vai ficar os povos.

P/1 – A senhora pode falar um pouco?

R – Como é que vai ficar as guerras, como é que vai ficar as energias atômicas, como é que vai ficar os futebol, como é que vai ficar as crianças, os jovens, como é que vai ser o sexo, como é que vai ser os mares, os oceanos, a atmosfera.

P/1 – Mas a senhora vai escrever um livro?

R – Então, aí, como eu falei para, você sabe que tem gente que fica até impressionada, tem gente que fica com medo, quem tava fazendo o documentário do livro pra mim, ela ganhou bebê, era uma jornalista mesmo, da televisão, que faz programa na televisão, apresenta programa. E aí ela estava fazendo, aí uma agência de propaganda se prontificou a cuidar, aí eles também podem ajudar em alguma coisa, porque eu não tenho condição. Eu não sei, eu sou uma pessoa simples, então eu não entendo dessas coisas assim, eu só sei que eu tenho que passar a mensagem.

P/1 – A senhora pode falar alguma dessas profecias aqui?

R – Eu tenho que passar a mensagem, que é uma obrigação minha, aí as pessoas podem falar: “Poxa, mas como que ela é profeta? Por que que não pegou tal padre? Por que que não pegou tal pastor?”. Então as pessoas podem desfazer: “Por que que não pegou uma pessoa que tem mais estudo?”, quando o Jesus veio no mundo não foi assim? “Puxa, esse galileu aí, por quê?”, mas às vezes Deus quis que fosse assim, a gente não discute com Deus, tem tanta gente boa aí, né? Mas eu tenho, eu quero realmente passar a mensagem, não interessa se a pessoa vai acreditar ou não, eu só quero fazer a minha obrigação, né? Agora, quanto a pessoa vai aceitar ou não vai aceitar, não quer dizer que eu não passei.

P/1 – A senhora pode falar alguma profecia?

R – Mas o que, por exemplo, assim? Não repara, não, porque eu estou puxando minha blusa, que eu estuo meia gorda, minha filha, viu?

P/1 – Na área de jovens?

R – Juventude? (reza) Vamos ver, porque o que eu estou vendo assim, quer dizer, na verdade a hora que eu puxo eu te falo, mas são coisas que já estão escritas, que vai ficar insuportável a maneira, assim, de você saber lidar com filhos, com crianças, com jovens, né? Então, mas isso foi escrito na virada de 2000 pra 2001, que a juventude, as crianças iam ser muito perseguidas, os jovens também, que vão roubar, o tráfico não vai ser droga, vai ser de humanos. Então você vai roubar bebê pra vender, tipo assim, um bebê valendo 500 mil, né, você vai roubar jovens, então pode ser, escolher as mais bonitas, jovens bonitas, meninos lindos, né? Pode ser tudo, os velhos, mais velhos, as pessoas, principalmente esses que não têm realmente dinheiro, não têm posição, pode até serem mortos, como que se diz? Eles querem jovens de, tipo assim, de um ano até, tipo assim, 16 anos, jovens com todo o vigor, então podem vender pra, tipo assim, vai ficar escondido lá na sua casa pra te servir de tudo o que você quiser, entendeu? Ou você vai vender pra uma pessoa que não tem filho, mas só que vai criar clandestinamente, ou vai, eu vendo pra você por 500, você vende lá na frente por mil, entendeu? Então isto infelizmente já começou a acontecer, mas eu gostaria que já tivesse sido passado pras pessoas lá atrás, ao ponto de você ter uma família, e às vezes você ter o filho e nem registrar ele. Então, e as mães parar de mandar a criança pra escola, porque você manda na perua e você não sabe se você vai ter seu filho de volta, se você, seu filho for um mais bonito, mais robusto, mais saudável, porque eles escolhem aquela criança mais robusta, mais saudável, mais sabida, mais bonito, entendeu? Você pode mandar uma linda donzela, uma menina linda, e ela não vai voltar porque ela foi roubada, o perueiro não sabe o que falar pra você, entendeu? Então eu tenho que falar isso pras pessoas, as mães podem ficar apavoradas, sem saber onde enfiar seus filhos, você fica com medo de deixar sua filha andar na rua, seu filho andar na rua, fica com medo de colocar empregados na sua casa, né? Então as pessoas começam a ficar com medo de tudo, as pessoas podem ter muito dinheiro e ser vítima, tipo assim, você tem tanto dinheiro e seu marido fala: “Não, eu não quero empregados aqui em casa”, “Não, mas e a louça”, “Deixa”, um grande executivo: “Quando eu chegar do trabalho eu lavo a louça, quando eu chegar do trabalho eu limpo a chão”, aquele serviço que você não quer fazer: “Mas eu não quero gente estranha na minha casa”. Por quê? Com medo que alguém vai prejudicar os filhos dele, vai atrapalhar, vai, pode roubar a família dele, então as pessoas começam a ficar com problemas profundos psicológicos, emocional. Tem pessoas que vai ficar tomando remédios pra poder conseguir viver e até mesmo os psiquiatras, eles não sabem se eles tratam de você ou se eles tratam deles mesmo, porque eles também não são de ferro, tudo é ser humano. Um caos, e as pessoas, as família, começam a morar em pequenos grupos, tipo assim, você tem a sua avó, seu pai, seus filhos, seu marido, sua sobrinha, sua prima, então mora num prédio só, não aluga pra ninguém, não pões ninguém estranho pra morar e não contrata gente de fora pra trabalhar. Tipo assim, vocês vão trabalhar de dia, os outros vai trabalhar à noite, vai ficar sempre um homem da família, da família, não é empregado, não, com uma arma muito potente pra tomar conta dos que ficou em casa. E as mães começam a ensinar os seus filhos ali dentro de casa, como se disse: “Não, aqui não tem criança pra ir pra escola, não”. Então as crianças começam a aprender ler e escrever dentro da própria casa, por quê? Porque você tem medo de mandar seu filho e ele não voltar, então isso cria um caos, um sofrimento tremendo, muito sofrimento dentro dos lares. E nas aldeias, nos sítios, nas fazendas, já foi o tempo em que morava lá isolado, não, vai morar tudo junto, tudo da família, tudo junto, pai, mãe, avó, tudo, não põe empregados de fora, né, e ali, enquanto uns tão trabalhando, o outro está de mão armada ali tomando conta. Então passa os forasteiros, esses homens com caminhões baús, mas é ser humano mesmo, põe tudo dentro do baú, se tiver lá só com a avozinha, com o avozinho, eles matam, e aí levam e ninguém sabe, pra um lugar ignorado, pra vender, né? Então é isso que eu vi, né? E, em relação à parte de estudos, nós vamos ter, assim, no mundo muita catástrofe, sabe aquela, inclusive seu irmão tava lá no dia que eu falei, e uma dessas mulher, dessas senhoras, que tem aí nas fotos, nós vamos ter muitas, como é que fala? Meteorito, muitas bolas de fogo caindo do céu, muito mesmo, chuvas assim, né, igual ao que caiu na Rússia, então quando ia cair aquela bola de fogo lá na Rússia, tava pra cair um outro negócio, né? Então lá em casa estava o Sérgio, era uma quinta, seis horas da tarde, tava a Claudete, eu sei que são pessoas que têm um certo estudo, não é aquela pessoa que não sabe as coisas, o Sérgio, tinha o outro, era engenheiro, e a Claudete é de artes plásticas, até ela é meio americana assim. Aí eu ia sair, eu ia sair, eu ia na casa do meu filho, parece que era o aniversário do meu neto, aí eu falei assim: “Eu vou rezar em vocês”, até a Claudete me deu uma carona até ali no Caxingui, né? “Mas eu vou rezar e eu vou ter que sair, eu não vou poder atender vocês, então eu só rezo”, aí começou a fazer que vinha muita chuva, relâmpago, trovão, e aí eu pedi pra Claudete me dar uma carona, né? E aí eu falei assim: “Olha, vai cair um negócio do céu daqui até segunda-feira, é um negócio elétrico que vai machucar muitas pessoas, se cair na praia, se cair no mar, vai morrer muita gente”. Eu esqueci o nome do rapaz, ele falou assim: “Não, Conceição, o que vai cair não vai ter dano nenhum pra ninguém, não tem perigo, não é elétrico, não tem eletricidade”, eu falei assim: “Não, mas o que eu vejo que vai cair é elétrico, é como se fosse uma grande bola de fogo”. Ele falou: “Ah, isso aí a gente não tá sabendo, não”, aí caiu, eu acho que foi no dia seguinte, caiu na Rússia, disse que machucou 900 pessoas, então é igual esse, você vê que não foi detectado por nenhum aparelho, ninguém falou que ia cair isso, ninguém, eles tavam esperando outro, né? E inclusive o começo do meu livro vai ser com essa revelação, a última revelação que me foi passada, então, que essa é uma coisa que eu falei num dia e aconteceu no outro lá na Rússia, né? E vai cair muitas chuvas assim, então essa é uma das coisas que vai ter no livro, então na medida que a atmosfera, vai ter muito desastre com a atmosfera, o mar, muita cidade debaixo do mar, Santos vai perder totalmente ali no mar, você vai ter que ir na praia lá em Diadema. Então as águas vão subir muito, as águas de várias partes do mundo, mas só que eu não posso falar assim, porque senão desvaloriza os imóveis aonde tem água, esse hotéis na beira da praia, casas na beira da praia, que beira da praia até longe da praia, né? Então você vai, nunca mais você vai poder deixar a sua criancinha ali na areia brincando com aquelas coisinhas, baldinhos com areia, porque de uma hora, e nem você deitadinho lá tomando sol, porque de uma hora pra outra vem uma ondona, que vai até lá no shopping, de repente. Então é isso que vai ter no livro.

P/1 – Dona Maria da Conceição, posso perguntar uma coisa pra senhora? Qual que é o seu maior sonho hoje?

R – Sonho, eu acho que é mesmo poder... não tenho sonho maior do que esse, eu gosto de ver todo mundo muito bem, então se você está bem, eu estou feliz, tá? A maior riqueza, o maior dinheiro que você pode me dar é eu ver que eu consegui fazer você melhorar, tipo assim, você melhorou de uma doença ou de uma dor que você sentia, você está feliz. Eu faria qualquer coisa pra felicidade da pessoa, ver, você está feliz com o seu marido, ver que você, seu filho, está sendo melhor entre você e seu filho. Na verdade eu não tenho interesse de outras coisas, qualquer tipo de, qualquer área que você for, se você é rica, pobre, alto, baixo, eu quero ver as pessoas bem, mas é uma coisa que eu quero muito. Então se eu vejo resposta do meu trabalho e vejo que você está bem, essa é a maior riqueza pra mim, se eu vejo que não melhorou, eu fico chateada, eu quero ver resposta.

P/1 – Dona Maria da Conceição, o que a senhora achou de contar a sua história aqui no Museu da Pessoa?

R – Olha, eu fiquei muito emocionada, eu acho que não é tanto por mim, eu penso mais é nas pessoas mesmo, eu venho mais por elas do que por mim, né? Porque na verdade eu não gosto de aparecer muito, eu gosto de aparecer, de ver o resultado do meu trabalho, o meu objetivo é sempre ver você bem, nada mais, eu não quero pra mim, não, eu quero ver a pessoa bem. Eu não suporto não ver a pessoa bem, e também eu não faço distinção da pessoa, se você é, pra mim você pode ser a mais importante do mundo, mas pra mim você é apenas um ser humano que está em busca de uma ajuda, de uma melhora pra você ou pros seus parentes, nada mais do que isso, né? Então o vir aqui, e até você é uma pessoa maravilhosa e ele também e a outra que me atendeu, eu sou muito agradecida pra qualquer coisa que as pessoas me faz, eu sinto uma necessidade tremenda de agradecer, a Deus e às pessoas, né? Então nesse ponto eu agradeço muito, me deixou à vontade, porque eu sou muito reservada e eu gosto reservar também das pessoas, em nenhum momento vocês quis expor as pessoas. Eu acho que eu me senti muito à vontade, me senti muito bem, estou muito feliz, né, e eu só tenho a agradecer muito vocês todos, viu?

P/1 – O Museu da Pessoa que agradece a sua presença.

R – Me senti como se eu tivesse em casa.

P/1 – Que bom.

R – Eu tomei até café, café mineiro, eu gosto, né? (risos)

P/1 – Obrigada, a gente queria agradecer a senhora.

R – Agradeço, não tem palavra pra agradecer a você, né, Rosângela, Rosana?

P/1 – Rosana.

R – A...

P/2 – Gabriel.

R – Gabriel, muito obrigada, a menina outra, que fez as fotos.

P/1 – Luisa.

R – Luisa, e a que fez o café, muito obrigada.

P/1 – Obrigada.

R – Obrigada pelo tempo de vocês.





FINAL DA ENTREVISTA