Museu da Pessoa

Nacional Kid

autoria: Museu da Pessoa personagem: Roberto Takaharu Oka

P/1 – Bom senhor Roberto, primeiramente muito obrigado por ter aceitado nosso convite e estar participando do nosso projeto. Pra começar nossa entrevista eu queria que você falasse pra gente seu nome completo, o local, e a data do seu nascimento.

R – Meu nome é Roberto Takaharu Oka, sou de São Paulo, Capital. Nasci no Tucuruvi, dia 13 de julho de 1965.

P/1 – E o nome do seus pais?

R – Meu pai se chama Takashi Oka, japonês. E minha mãe Sumiko Oka.

P/1 – E você tem irmãos também?

R – Tenho um irmão. Vanderlei ¬¬¬¬¬¬¬Yasuhisa Oka.

P/1 – Ele é mais velho ou mais novo?

R – Mais novo, dois anos.

P/1 – Bom, obviamente você é de descendência japonesa...

R – Sim.

P/1 – Você sabe a história da sua família aqui no Brasil? Quando que eles vieram, quem foi que veio?

R – A minha mãe nasceu no Brasil, a minha avó veio... isso foi no começo assim da imigração japonesa, pra trabalhar na lavoura, no café. Meu pai veio depois da guerra, situação muito difícil no Japão, foi primeiro pra Amazônia, lá tinha um...

acho que um tratado com o Japão que eles davam terras pros japoneses, mas ele não se adaptou e veio pro, pra São Paulo.

P/1 – Você sabe em que período que ele veio pra São Paulo?

R – Acho que ele chegou, mais ou menos, na década de sessenta, no começo.

P/1 – Quando você fala São Paulo, é São Paulo, Estado ou a Cidade?

R – Na capital mesmo.

P/1 – E em que bairro que ele veio ficar?

R – Ele deve ter vindo assim, na Zona Leste, na Vila Carrão.

P/1 – E aqui em São Paulo, a que ele se dedicou?

R – Então o meu pai começou a trabalhar como jardineiro e depois que casou com a minha mãe, né, a família dela trabalhava no ramo de peixaria e ele também se dedicou a esse ramo.

P/1 – Você conhece essa história de como eles se conheceram?

R – Bem, os japoneses assim, da época, né, eram sempre apresentados, então, alguém conhecia meu pai e apresentou pra minha mãe. Assim é meio...

uma história meio... assim tipo... assim, no Japão tem um nome.

P/1 – É o miai?

R – É. O miai. Mais ou menos isso.

P/1 – Você pode explicar pra gente o que é o miai?

R – Ah, o miai é assim, uma pessoa, são pessoas que fazem o casamento, tipo... eu não sei explicar direito, mas... (pausa) são pessoas que conhecem o casal e aproximam as duas pessoas.

P/1 – O seu pai já tinha experiência como jardineiro antes de trabalhar nessa área?

R – Olha acredito que não, viu? Meu pai, pelo que sei, ele era formado em direito, mas com a guerra ele… Muitos filhos lá no Japão, né, e ele era o primogênito. Aí ele veio com o irmão de criação dele pro Amazonas.

P/1 – E ele chegou a participar da guerra? Teve algum envolvimento?

R – Não, não. Ele não participou. Ele relata que viu algumas coisas lá no Japão, quando soltaram a bomba, ele disse que deu pra ver um clarão. Ele é mais ou menos do Sul do Japão, né, da província de Kagawa, e ele... e na época ele estava em Osaka, que é uma cidade que... não posso falar que

é

muito perto de Hiroshima e Nagasaki, mas é meio na região, pelo menos ele me falou que sentiu a bomba.

P/1 – E você disse que nasceu no bairro de Tucuruvi.

R – Sim.

P/1 – Quando é que seus pais foram lá pro Tucuruvi?

R – Então, depois que eles se casaram eles já praticamente foram morar na Zona Norte. E então eles montaram uma peixaria ali no Tucuruvi, e como eles já tinham o comércio, eu nasci numa maternidade próxima.

P/1 – E, bom, você tem lembranças desse bairro do Tucuruvi na época da sua infância? Como é que era?

R – Bem, eu tenho lembranças da... do meu bairro de infância que é do lado que chama Jaçanã, né? Um bairro da Zona Norte, que foi cantada pelo Adoniran Barbosa, tenho muito orgulho de ter nascido lá.

P/1 – E no Jaçanã, também seus pais tinham comércio lá também?

R – Então, depois dessa peixaria do Tucuruvi, eles foram pro Jaçanã. Abriram uma nova peixaria lá. Aí nós moramos lá. Eu morei a minha infância até a adolescência lá. Até casar.

P/1 – E como é que era a casa de vocês no Jaçanã?

R – Ah, a primeira casa que me recordo, era em cima do comércio. Era uma casa até que, assim, era um... tipo um sobradinho com dois ou três cômodos, mas era... era grande. Após começar, após assim, meu pai se estabilizar, ele comprou uma casa próxima a peixaria, era uma casa grande, mas assim, pouco confortável, só tinha um dormitório e tinha meu pai, minha mãe e são duas crianças, né? Então eu e meu irmão a gente dividia o dormitório com meus pais. Quando a gente fez dez anos aí, a gente resolveu dormir na sala.

P/1 – Tá. E você tem lembrança da vizinhança, ali da casa?

R – Lembro, lembro, lembro. Lembro que eu morava no começo da rua, da Rua Nelson Mazzei do Jaçanã

e existia assim, a turma de cima e a turma de baixo, e eu morava na parte de, de cima da rua, do começo da rua. Ah, era bem assim, várias crianças na época, né, a gente brincava de tudo, de bolinha, de peão, pipa, ah foi, foi muito bom. Tenho muita, muitas lembranças boas.

P/1 – E você que era filho de comerciante, você tem lembranças do comércio no bairro? Como é que era? O que tinha ali?

R – Então no... a comunidade

japonesa na Zona Norte era um... era assim, muito unidos, então normalmente, assim os clientes dos meus pais, eram

muitos, são muito

japoneses. Tanto que também a gente, a gente frequentava clube japoneses, eu estudei japonês também, né, no bairro próximo. Ah, o meu pai se deu bem no comércio até mais ou menos quase o final da década de 80, aí alguns problemas dele ele, ele teve que fechar a peixaria.

P/1 – E você menciona que a maior parte da clientela do seu pai era da comunidade japonesa também?

R – É... eram, assim, como a gente frequentava clubes, eu estudava japonês, então, existia um feudo lá, japonês, que parecia meio assim, uma… era

uma comunidade japonesa que se ajudava, né, então, a minha família mesmo ela fazia compras em supermercados

japoneses, comprava em lojas de roupas japonesas, é ... de japoneses, né? Mais ou menos isso.

P/1 – E tinha toda essa estrutura de comércio de descendentes japoneses ali no bairro? Nos bairros próximos?

R – Existia. Existia...

acredito que na

Zona Norte muitos dos comerciantes… muitos da comunidade eram comerciantes. Uns trabalhavam com móveis, outros com papelaria e etc., assim.

P/1 – O senhor disse que o comércio do seu pai acabou fechando na década de oitenta.

R – No começo da década.

P/1 – Desses que você lembra da sua infância, tem algum que perdure até hoje? Que ainda exista?

R – Ah hum, como eu não frequento tanto a Zona Norte, acredito que são poucos os que, que perdurem lá, mas eu acho que tem, devem ter alguns que ainda estão lá.

P/1 – E você se lembra de alguma outra peixaria, um concorrente do seu pai ali?

R – Então, os concorrentes do meu pai eram meus tios. Então na Zona Norte, praticamente quase todos os meus tios tinham peixaria. Eu tinha um tio… a maioria dos, dos meus tios eram da parte da minha mãe. Ah, eu tinha um tio que tinha uma peixaria em Santana, o outro que tinha na Vila Maria, na Vila Maria Baixa e outro na Vila Maria Alta. Praticamente na Zona Norte, a família da minha mãe na peixaria dominava.

P/1 – E até hoje tem muitas pessoas da sua família na Zona Norte que são comerciantes?

R – (pausa) Tenho alguns primos que moram lá ainda mas, a maioria não está mais no comércio. Muitos foram pro Japão trabalhar também, né, mas no comércio são poucos agora.

P/1 – E falando um pouco da escola agora, qual escola você estudou e como é que era a escola pra você na sua infância?

R – Bem eu, no primário estudei no Colégio Comercial Nossa Senhora Aparecida, era um colégio particular. O meu pai por ser japonês ele sempre primou pela educação, então a gente teve uma educação, pelo menos no primeiro grau excelente. Era um colégio particular, né, então um nível de alunos era bom, foi bem tranquilo assim, eu gostava bastante da escola, apesar de, eu tive um problema na escola, que eu, eu tenho um ano adiantado, então eu me considerava sempre, assim, eu era sempre o mais novo da minha turma, né, e sendo o mais novo também era o menor. Então, eu sofria um pouco de bullying dos maiores (risos). Mas acho que normal, mas eu assim, não era um dos melhores alunos, mas também... estava na média, né? Gostava sempre, gostava muito de esportes também.

P/1 – E no esporte, qual que você se destacava mais?

R – Ah, eu lutei judô, fiz judô muito tempo. Fui campeão zonal da Zona Norte, depois, assim, nos torneios de inter-escolas de judô, lá eu sempre me destacava. Joguei tênis de mesa, fui federado, era sócio de um clube do Jaçanã

que chamava Guapira, e no futebol, futebol de campo também joguei, mas quando eu tive, eu tinha 12 anos eu tive um problema no joelho, por causa do judô, e depois tive que parar com quase todos os esportes.

P/1 – E quando você estava na escola, ainda criança, você pensava no que você gostaria de ser quando crescesse? Qual que era o seu sonho?

R – Olha, eu sinceramente, eu não... nunca pensei em ser, talvez até, pensasse em ser dono de peixaria mesmo, mas eu gostava muito de ler, que é uma coisa que eu gostava de fazer era ler revistas, gibis, né, então um certo tempo da minha vida eu gostaria ser dono de banca de jornal, eu poderia ler todas as revistas, assim, os gibis, né, mas eu não tinha assim, uma... como eu tive uma infância, assim bem tranquila, né, a gente aproveitava muito, jogava bola, brincava muito, a gente não tinha essa, essa... essa questão de querer ser alguma coisa ou não.

Só quando a gente começou a fazer os primeiros testes, né, aí acho que o meu primeiro teste disse que eu seria advogado, coloquei que ia ser advogado mas, a vida me levou pra outro lugar.

P/1 – E esse primário você fez nessa escola particular e você foi fazer o secundário aonde?

R – Aí eu fiz o...

o colegial

no CEPEF Eurico Figueiredo. Também foi bem tranquilo, adorei fazer lá. Foi, comecei meu primeiro ano na manhã, aí eu repeti de ano, o primeiro ano, o primeiro colegial eu repeti de ano. Assim, pode parecer que era uma tragédia, mas pra mim foi muito bom, porque no ano seguinte eu estudava com pessoas da mesma faixa etária, todo mundo da minha idade, e eu assim, me senti mais em casa. Lá também eu era... até que popular porque, nessa época a gente começa a trabalhar, né, e eu comecei a trabalhar, acho que com 16 anos, estava no segundo colegial, no Banco América do Sul, aí já tem, já tinha dinheiro pra comprar roupa, eu fazia esporte, mas também não me dedicava tanto, tinha problema no joelho… foi difícil...eu lembro bem, tinha... eu continuo com vários amigos do, do colégio hoje, é... acho que não tem muito que falar não.

P/1 – Certo, e antes de entrar nessa parte do primeiro emprego, nessa época você chegou... Você pensava em vestibular? Em prestar um vestibular ou ...?

R – No colégio, pra sair do... ginásio pro colégio eu, eu prestei o vestibulinho, na época. Na década de 80, existia o vestibulinho pra entrar nas melhores escolas estaduais, né, e eu passei nesse vestibulinho. Tanto que a minha escola, na época, era uma das melhores da Zona Norte, assim, ah, mas vestibular de faculdade eu não me preocupava muito não. Nunca coloquei na cabeça que eu gostaria de fazer faculdade.

P/1 – E você menciona também que você frequentou uma escola que fazia japonês?

R – Estudei japonês.

P/1 – E quando é que você começou, até quando você estudou? E onde é que era?

R – Devo, eu estudei...

tinha uns oito anos até uns 12, 13 anos, cinco, seis anos. Era num bairro próximo, chamado Vila Nivi, era uma educação severa, o professor batia na gente, dava reguada, mas eu tenho recordações muito boas, aprendi a fazer teatro na escola japonesa, na escola japonesa existia assim um festival, de, além de teatro, de esportes, que o japonês chama de Undokai, você deve conhecer, né?

Todo ano sempre tinha o Undokai, e esse festival de teatro, ah que me engrandeceu bastante, tenho também vários amigos do Nihongaku aí, da escola japonesa que são, continuam sendo meus amigos. É lógico que a comunidade japonesa, ela diminuiu bastante, pelo êxodo, né, mas, os amigos que a gente fez, alguns amigos, continuam sendo bons amigos ainda.

P/1 – E além dessa parte da amizade, você viu alguma herança desse período em que aprendeu o japonês para a sua profissão, por exemplo?

R – Para a minha profissão, não. Na verdade, eu não me dedicava muito à escola, era mais prazeroso estar lá, mas assim, eu não fui um aluno muito bom, é logico que eu não esqueci como se escreve nas formas mais básicas, Katakana e Hiragana, que são as formas mais básicas do alfabeto, né? Eu já fui duas vezes para o Japão e alguma coisa assim, me ajudou lá no país, no Japão, mas assim, eu não era um aluno muito firme, então, infelizmente, não utilizei muito depois.

P/1 – Você frequentar uma escola japonesa era um desejo dos seus pais, eles tinham algum plano nesse sentido para você, para ir para o Japão, ou não, eles nunca…?

R – Na época, não. Na época, a comunidade da Zona Norte, praticamente todas as famílias mandavam os filhos pra escola japonesa, na época era muito caro ir para o Japão, mais ou menos isso.

P/1 – E, seus pais eles tinham, plano de passar a peixaria para você um dia, você na infância chegou a pensar, eles falavam isso pra você?

R – Olha, não falavam, mas era meio implícito assim, eu sentia que um dos dois iria ter que fazer a continuação, mas eu nem o meu irmão, a gente após a adolescência, a gente gostaria de ter continuado não. Era uma vida bem difícil. Meu pai acordava praticamente todos os dias para ir para o Ceasa, mais ou menos na parte da manhã, ele atendia os atacadistas dele, que eram charreteiros, eram peruas, e aí, depois, começava a atividade na peixaria. Era muito difícil, tanto para o meu pai, quanto para a minha mãe.

P/1 – Eles já tinham os equipamentos que eles têm hoje, por exemplo, freezer, geladeira, balcão de frios?

R – Assim, a peixaria do meu pai era bem equipada, mas para gelar o peixe por exemplo, eram barras de gelo que tinham que ser amassadas né, com batedor de ferro, os peixes que sobravam teriam que ser gelados dessa forma. Não existia… acho que o freezer começou pra peixaria até depois na metade da década de 90, porque era muito caro, gastava-se muito a luz, né, muita água, então, acho que não daria para ter um freezer na época, né?

P/1 – Você chegou a trabalhar nem que fosse pra ajudar os seus pais na peixaria?

R – Sim, eu trabalhei com os meus pais para você ter ideia, uns bem cinco ou seis anos, assim, ajuda… na verdade, a gente participava, né, eu participava da vida da peixaria do meu pai. Eu lembro muitas vezes que eu acordava cedo e via a movimentação, eu lembro que na década de 60 e 70, houve um alvoroço, que meu pai tinha trazido jacaré para trazer e eram vivos, eles eram abatidos na hora, né, quem quisesse comprar, o meu pai abatia o jacaré. Lembrava também que algumas vezes vinham peixes vivos e ai todo mundo queria ver assim… na época da Semana Santa, que é a época do melhor comercio de peixe, já com dez anos, eu já ajudava ou no caixa, ou embrulhando peixe, ou pesando, assim, mas sempre ajudei, o meu irmão acho que nem tanto, o meu irmão, ele tinha certa aversão a peixe, mas eu sempre ajudei.

P/1 – Você chegou a ser remunerado alguma vez por isso?

R – Olha, na verdade, eu não pedia não, mas eu tinha assim, eu tinha um hobby que era ler gibis e livros, então, eu sempre quando pedia, meu pai me dava um dinheirinho para comprar. Eu lembro também que no domingo, né, era dia de feira, na frente da peixaria tinha uma feira, e tinha um senhor que vendia revistas usadas, que eram bem mais baratas, então, eu sempre pedia dinheiro pro meu pai nesse dia, que era domingo.

P/1 – E falando sobre o seu primeiro emprego remunerado, foi no banco América do Sul?

R – É, com 16 anos mais ou menos, um amigo tinha entrado no banco, da escola, né, ele me indicou, eu fiz o teste e logo já entrei, mais ou menos quando tinha 16 anos, eu nasci em julho, entrei no banco em setembro, então mais ou menos com 16 anos e dois meses estava trabalhando remunerado.

P/1 – E qual que era a sua atribuição lá?

R – Eu era auxiliar de escritório, trabalhava no setor de orçamento e controle, um departamento do banco, na Matriz Dois, na Alameda Ribeirão Preto, perto da Brigadeiro Luís Antônio.

P/1 – E como é que foi esse primeiro emprego remunerado, você se lembra o que fez com o seu primeiro salário?

R – Meu primeiro salario integral, eu dei para a minha mãe. A minha mãe é um capitulo à parte na minha vida, ela sempre me ajudou, sempre me apoiou em tudo, e a minha família não estava passando uma fase muito boa financeiramente na época, e eu dei meu primeiro salario integral para a minha mãe.

P/1 – E que recordação você guarda dessa época no banco, você gostava do trabalho, você aprendeu muita coisa?

R – Olha, no meu primeiro emprego eu… que era um banco japonês, o Banco América do Sul é um banco de colônia japonesa, o que eu aprendi foi que a concorrência para cargos é muito grande e até mesmo desonesta, né, assim, esse banco eu tive essa visão. Já ia passar para o… eu fui demitido do banco por causa de uma greve que eu participei, nunca foi colocado para nós que foi por isso que a gente foi demitido, mas a gente já sabia, o meu chefe… a greve ocorreu mais ou menos em setembro, que é a época do dissídio, mais ou menos em novembro, nós fomos demitidos. Meu chefe que tinha… eu achava que tinha uma amizade com ele, ele nunca tocou no assunto em dois meses o que ocorreu, mas pelo o que me constava, ela já sabia desde o primeiro dia que nós entramos em greve, que nós seríamos demitidos. Ele poderia ter nos alertado, nós poderíamos ter procurado emprego na época, né, pra pedir ajuda, mas não aconteceu isso, então as amizades que eu deixei, algumas tenho ainda. Tem um amigo que trabalhou comigo que casou com uma prima minha, alguns amigos ainda de outros setores, não do meu, ainda os tenho, mas assim, que eu… de lembrança desse meu primeiro emprego foi que as pessoas… era um banco assim com muitos descendentes japoneses, né, e eu vi que lá, a colônia não era tão… assim, unida.

P/1 – E quanto tempo você passou no banco?

R – Trabalhei quatro anos, mais ou menos, na época eu já estava estudando, eu estava fazendo Administração no Mackenzie, eu tive sorte porque eu estava fazendo o curso, né. Deixa eu me lembrar, eu sai em novembro, então eu já estava estudando há mais ou menos um ano, eu estava no primeiro ano, a sorte que eu tive é que existia

muitos estágios, né, indicados pela faculdade, lá eu consegui um estagio de um ano no Banespa, logo após… sai do banco e já consegui um estagio, eu lembro que nesse estagio, eu ganhava mais do que eu ganhava no Banco América do sul, e olha que eu trabalhava há quatro anos.

P/1 – Nossa! Bom, e como é que foi a experiência no Banespa então?



R – Então, a experiência no Banespa foi excelente, porque lá eu realmente conheci assim pessoas integras, né, tive sorte de na época em que eu estava estagiando, ter um concurso do Banespa, dai, eu fui ajudado por várias pessoas do banco, que me indicaram apostilas, etc., e eu consegui passar no concurso do Banespa que foi bem concorrido, acho que foram cem mil pessoas pra quatro mil vagas e eu consegui entrar no Banespa na época.

P/1 – E a agência… Era uma agência que você trabalhava?

R – Eu trabalhei depois na agência Rafael de Barros, no Paraiso, onde eu estagiei, eu estagiei nessa agencia e consegui trabalhar lá.

P/1 – Nessa época você ainda morava no Jaçanã?

R – Nessa época, eu já estava casado, eu casei com 20 anos, então eu já estava casado, já.

P/1 – Você já morava em qual bairro nessa época?

R – Acho que eu morava… morava no Tucuruvi, voltei para o Tucuruvi, onde eu nasci. Após o casamento, eu morei no Tremembé, depois fomos para o Tucuruvi, eu morava no Tucuruvi.

P/1 – Como é que era esse caminho do trabalho pra casa, era muito distante, como é que era o transporte?

R – Era terrível, além do trânsito, o lugar que a gente trabalhava era um pouco longe, né.

Três horas só em transporte, entre inda e vinda, né, a gente morava no Tucuruvi, eu trabalhava lá no Paraiso, demorava mais ou menos, uma hora para ir e uma hora para voltar.

P/1 – A sua opção de curso no Mackenzie, Administração, foi por causa do seu trabalho no banco…?

R – Exato.

P/1 – Ou por que você tinha outro plano, qual foi a…?

R – Foi porque eu trabalhava no banco, né, eu teria três opções, era Economia, Contabilidade, ou Administração. Resolvi Administração, assim, porque eu achava talvez o nome mais bonito, vai… não, porque eu estava no banco mesmo e a maioria eram administradores.

P/1 – E além dessa possibilidade de estagiar no Banespa, o que mais esse período de estudos no Mackenzie te trouxe, o que você guarda?

R – Olha, eu continuo tendo alguns amigos mesmo… eu não fui um aluno muito exemplar, acadêmico, né, então, eu ia muito pouco, eu deixei de estudar no terceiro ano, porque eu realmente já estava casado, eu achava que na época assim, a minha vida estava muito difícil assim, em termos de tempo e também porque eu estava… eu estava levando muito sem vontade a universidade, eu ia muito pouco. Primeiro ano, eu até que me dediquei; segundo ano, do segundo pro terceiro, eu carreguei umas duas matérias, mas eu ia… eu acredito que eu ia a 40% das aulas no Mackenzie nesse segundo ano; no terceiro ano, eu já vi que não estava levando à sério mesmo e eu desisti.

P/1 – E essa época no Banespa durou quanto tempo, como é que foi?

R – Trabalhei no Banespa durante quatro anos também, sai do banco mais ou menos… 90 e pouco, 92, era uma época difícil, era o Collor, tinha que trabalhar muito, a minha decisão de sair do banco foi difícil, o que aconteceu foi que na época, eu já tinha um comercio, eu não coloquei nada ainda, mas eu já tinha um comercio de Rock, de LPs, né, já na Galeria do Rock e o que aconteceu foi que os meus pais foram para o Japão e nas minhas férias, eles pagaram a passagem para mim, para minha esposa e para o meu filho, nós fomos visitar o Japão, Lá no Japão, eu trouxe muita coisa, muita coisa de Rock, muitos LPs, muitos vídeos, muitos livros e o que eu percebi era que em um mês que eu fiquei fora e com o material que eu tinha em mãos, eu fiz três vezes, ou quatro vezes o meu salario do Banespa, ai eu resolvi sair do banco.

P/1 – Então, vamos destrinchar essa época: seus pais, eles foram morar no Japão, ou foram…?

R – Eles foram trabalhar, eles foram com… meu pai é japonês, mas a minha mãe foi como dekassegui, eu acho que eles foram na primeira leva de japoneses dessa nova… dessa nova… nos anos 90 mesmo… começo dos anos 90, eles foram para o Japão.

P/1 – Em que cidade eles ficaram?

R –

Eles ficaram na cidade de Yokohama, que é uma cidade turística, uma das mais belas cidades do Japão, nós fomos lá visita-los, né, é próximo a Tóquio, é uma cidade assim, muito boa pra eles, assim.

P/1 – E a sua intenção, quando você foi com a sua esposa e seu filho era visitar, pra passeio?

R – Sim, eu trabalhava no Banespa e a minha esposa trabalhava na Eletropaulo, a gente tinha… nós tínhamos trabalhos estáveis, né, em grandes empresas, a gente ganhava razoavelmente bem, a gente foi mesmo pra visita-los.

P/1 – E como é que foi que você começou a adquirir livros, CDs, LPs?

R – Então, isso ai, esse meu hobby começou no começo dos anos 80, eu tinha mais ou menos 15 anos, por causa de alguns amigos que curtiam a mesma coisa, eu fui levado a gostar de MPB e Rock, né, e fui levado à Galeria do Rock primeiro, ai comecei a colecionar disco, eu fiquei meio doente por música, adorava música. Teve umas coisas que aconteceram na minha vida que foram muito legais, nessa época, parte de música, que eu conheci quase todos os meus ídolos, pessoalmente, ou trabalhando com eles, né?

P/1 – Tudo nos anos 80?

R – Nos anos 80. Com mais ou menos 16 anos, 17 anos, eu trabalhando já no América do Sul, eu consegui comprar uma loja, foi uma coisa que aconteceu assim, meio que… assim, uma coisa que acontece na vida… parece que está na trajetória da nossa vida que vai acontecer aquilo, porque foi uma coisa assim, muito estranha.

P/1 – Tá, então, vamos retomar esse… primeiro, dá para você contar pra gente as suas influência musicais, quem te inspirou?

R – Então, quando eu tinha 15, 16 anos, eu era muito fã dos Mutantes, gostava de uma banda chamada Made in Brazil, gostava de Raul Seixas, gostava de um cantor chamado Walter Franco, enfim, esses são os meus ídolos. Um capitulo da minha parte, aconteceu com os meus ídolos, então, com alguns deles, eu trabalhei, lancei disco e assim, acho que fazia parte da minha vida, como eu te falei né?

P/1 – Isso tudo começou por causa das suas visitas à Galeria do rock? Como é que foi?

R – Então, na Galeria do Rock, foi assim, um dos primeiros lugares que eu fui, para adquirir discos, na época, eram LPs, né, eram todos usados e eu só poderia comprar usados eles, né, então, a primeira vez que eu fui na Galeria do Rock, eu comprei um disco da Made in Brazil, uma banda de Rock paulista, foi na loja Baratos e Afins ainda

P/1 – Com o Luiz Calanca?

R – É, com o Luiz Calanca. Depois disso, eu frequentei mais uma loja na Praça do Patriarca que chamava Musicanto, que era de um amigo chamado Antônio, lá eu praticamente comprei todos os meus discos, mas como esse hobby tornou meio que uma doença pra mim, eu comprava jornais, “Primeira Mão” pra procurar os discos que a gente queria, né ? E uma vez, a gente… uma pessoa anunciou que estava vendendo mil LPs de Rock e MPB de uma só vez, e aí eu procurei essa pessoa, ai… o que aconteceu é que eu comprei esse lote de mil LPs, eu tinha um dinheirinho na poupança, e utilizei todo ele, a minha mãe brigou muito comigo (risos), mas foi assim uma coisa que aconteceu pro bem, aconteceu pro meu bem.

TROCA DE FITA

P/1 – Então, ai você estava falando que estava meio doente por música na época, e foi comprar um lote de mil LPs?

R – Comprei um lote de mil LPs. Parece mentira, mas o rapaz que me vendeu o lote é ufólogo, um cara que acreditava muito em disco voador, e achava que o mundo ia acabar (risos)… sincero, eu não me recordo bem o papo que eu tive com ele, eu sei que eu fui na casa dele no centro de São Paulo, ai quando eu vi os discos assim, eu fiquei assim meio que… praticamente tinha tudo que eu sonhava em ter na época, né?

P/1 – E qual que era a sua intenção quando você comprou, era só pra ter, ou você estava pensando em vender?

R – Eu queria ter… eu tenho uma mania que perdura até hoje, que é o colecionismo, né, então a minha casa é uma bagunça por causa desse meu hobby. Mas esse meu hobby ainda de música, me perdura, até hoje… mas assim, eu… o que aconteceu é que eu gostava muito de música, eu escutava muito música. A gente vai procurando discos e tem aquela dificuldade de achar, então, a gente coloca um objetivo na cabeça de ter aquilo, né, e assim, depois que você conquista esse objetivo, você cria outros, né, porque na música, são muitas bandas, muitos artistas, né? E na década de 80, não tinha muitos shows internacionais, que nem hoje tem, então a gente ficava muito mais em cima dos shows nacionais, e depois… assim, as gravadoras nunca deram muita importância para alguns ídolos, alguns cantores, principalmente dos anos 70, 60, eles nunca reeditavam os LPs, então existia esse comercio e eu descobri esse comercio de usados também, né, que me deixou meio assim… que depois da compra desse lote de discos, eu descobri que existia um comercio, que eu poderia ganhar um dinheiro com eles, porque dentro de mil discos que eu comprei, existia uns trezentos que não me serviam e esses trezentos discos me fizeram reconhecer que eu podia ganhar dinheiro com isso, né? A primeira… depois que eu comprei os LPs, eu entrei em contato com duas lojas de discos perguntando se eles queriam, comprar o que não me servia, e eu acabei vendendo eles e com o dinheiro de trezentos LPs que não me serviam, eu consegui pagar o lote de mil LPs, então quer dizer que eu fiquei com mais ou menos com seiscentos discos de graça praticamente, né? Aí, comecei a frequentar as lojas, várias lojas de discos, né, na década de 80 não existiam tantas, eu frequentava mais ou menos umas quatro, cinco, mas eu fazia muito negócio na época, eu comprava… eu procurava discos em lojas populares, eu andava muito, né, procurando raridades perdidas, né, e vendia para as lojas que pagavam bem, né, nesses títulos.

P/1 – Como é que era, você comprava e depois entregava, o pessoal entreva em contato com você, ou você ia lá e oferecia?



R – Eu oferecia. Eu mais ou menos, eu sabia o que valia, então eu sabendo que um disco valia, vamos supor, cem reais e eu visse ele por dez reais, normalmente eles pagavam 50% do valor que eles queriam vender, então a gente mais ou menos já sabia por quanto ia vender.

P/1 – E você tinha aquela preocupação em saber se o disco era autêntico, se estava riscado ou não?

R – Sim, sim, aí teria que olhar. Muitas vezes, a gente visitava pessoas também que tinham coleção, mas a maioria dos discos raros eram… sempre estavam em estado ruim

P/1 – E dessa forma, você criou uma rede de comercio, era de compra e venda de discos usados?

R – Não, não, eu fazia isso no meu tempo livre de banco, então assim, as vezes eu saía, visitava uma loja, se conseguisse achar assim, alguma coisa perdida, eu aproveitava, mas não era assim… eu trabalhava e estudava também, eu não tinha tanto tempo pra isso.

P/1 – E você chegava também a vender para particulares, também? Tinha gente que te conhecia e que te ligava para falar: “Quero disco tal…”?

R – Eu vendia assim, mas a minha grande… o que eu fazia mais era para vender para lojas, que era mais fácil, mas de vez em quando, eu vendia para particular.

P/1 – Tem algum disco em particular que você sabia que era muito raro, muito desejado?

R – Na década de 80, os Raul Seixas eram todos raros, os Mutantes eram todos raros, os Made in Brazil, todas as bandas que eu gostava (risos), Walter Franco,

Alceu Valença, Zé Ramalho, assim, alguns títulos, não todos, mas Guilherme Arantes. Eu gostava mais desse estilo de musica, né, então, existia disco muito caro.

P/1 – E essa sua atividade de compra e venda durou até quando, ela parou em algum momento, ou não?

R – É, na verdade, essa busca de discos acabou quando eu consegui ter a minha primeira loja, como eu falei pra você, a minha primeira loja aconteceu de uma forma meio assim… diferente, como eu falei pra você, eu andava em muitas lojas, né, procurando e eu tinha amizade com o dono de uma loja que era na Brigadeiro Luís Antônio, eu estava olhando os discos lá, eu achava que ele tinha um preço bom, mas eu ia muito lá, como eu trabalhava na Brigadeiro também, eu não lembro se eu trabalhava no Banespa, ou no América do Sul, mas eu frequentava muito a loja, era próximo. E um dia estando lá, o dono da loja chegou pra mim e falou: “Eu não quero mais ter loja, eu estou cansado disso” e perguntou pra mim: “Você quer comprar a minha loja?” “Não tenho dinheiro para comprar a sua loja” “Me paga quando você puder, dá em dez cheques, cinco cheques”, e eu lembro que a loja que ele me vendeu não foi tão barata assim, mas também… como se fosse uns dez mil reais hoje, mas existia inflação na época, se eu comprasse ela em dez vezes, o ultimo cheque que eu daria pra ele praticamente não valeria nada, então eu calculava que os dez mil reais que ele estava pedindo valeria uns cinco mil, devido a inflação. Ai, foi no impulso mesmo, eu falei: “Eu compro a sua loja, mas você vende mesmo?” Ele me vendeu a loja, foi talvez o maior negócio da minha vida, porque só de discos, o que tinha dentro da loja tinha muito mais do que 50 mil, hoje talvez. Mas também foi difícil para mim, porque eu vendo tantos discos que eu queria ter e eu teria que comercializá-los, né, foi difícil mesmo, mas foi assim que aconteceu, meu primeiro negócio foi assim.

P/1 – Isso tudo com 16 anos de idade?

R – Dezesseis, 17 anos, mais ou menos.

P/1 – E teve alguma implicação jurídica, por exemplo, você ter uma loja e ser menor de idade, teve algum problema nesse sentido?

R – Ah, eu acho que meu pai, ele alugou a sala pra mim, né, eu não me lembro bem, eu continuei com a mesma razão social do antigo proprietário, que era também amigo, né, mas logo depois

mudou, eu não me lembro como era na parte jurídica, né, mas eu lembro que principalmente, na imobiliária que meu pai, ou talvez o meu sogro teria colocado o nome.

P/1 – E o que seus pais acharam dessa… o que eles acharam desse impulso de comprar uma loja?

R – Como eu falei pra você, a minha mãe sempre me apoiou em tudo, meu pai nunca falou nada, mas eu escutava muita historia na minha família, dentro da minha família a assim: “Nossa, ele vende disco usado”, era um pouco depreciativo, né, mas não era tão ruim, né, o negócio não era tão ruim. E eu assim… eu fiquei com loja e banco por algum tempo.

P/1 – E qual que era o nome da sua loja?

R – Minha primeira loja chamava Vinil Urbano Discos. Minha loja também me deu grandes prazeres, eu consegui lançar alguns discos, né, o primeiro disco que eu consegui lançar do selo da minha loja foi do cantor principal do Mutantes, Arnaldo Baptista, era

a banda do Arnaldo Baptista com a Patrulha do Espaço, outra banda de Rock, eu lancei dois discos do Arnaldo, o primeiro chamava “Faremos Uma Noitada Excelente”, que era um disco ao vivo, em São Pedro, anos 70, nos anos 70 e o segundo, o “Elo Perdido”, que eu considero, assim, modéstia à parte, um dos dez melhores discos de Rock do Brasil de todos os tempos. Eu gostava muito (risos), essa é uma coisa de gosto.

P/1 – Conta pra gente então, como é que foi… você teve a loja com 16 anos, que período você trabalhava na loja, você teve que contratar funcionário?

R – É, eu tinha funcionário

P/1 – Quem que era?

R – Eram frequentadores da loja, que tornaram-se amigos e assim… quebravam um galho, né? Assim, na verdade, assim, a loja, com 17 anos, 18 anos, ela assim… funcionava assim, meio que precário assim, tipo meu irmão ajudava também, né, que eu me lembre, eram funcionários que trabalhavam na loja, eram amigos, amigos assim, clientes que trabalhavam na loja, eu ficava mais no sábado, e na parte da tarde. Eu trabalhava na parte da manhã no banco e a parte da tarde, eu ficava livre pra ficar na loja.

P/1 – Seus funcionários, você tinha aquela preocupação com registro…?

R – Não, na época não, assim… alguns faziam faculdade, jornalismo, essa coisa… eles gostavam também do que faziam, eu acho que a gente se ajudava, entravam uns discos que eles gostavam, eles pegavam bem mais barato, conheciam gente da área, muitos artistas, na época da minha primeira loja, muitos artistas visitavam a minha loja. Então, acontecia muita coisa assim diferente, né, então, eles adoravam trabalhar lá.

P/1 – E a questão da clientela, você herdou os clientes antigos da loja, que já eram clientes antes de você comprar, ou você formou uma nova clientela?

R – Não, não. Eu praticamente herdei todos os clientes dele e fui formando mais clientes, como eu trabalhava próximo também, muitos amigos também começaram a frequentar, né? Eu mudei um pouquinho o formato da loja, ela se tornou um pouco mais comercial, ela era muito especializada, era muito Rock, não trabalhava com nada mais popular, o antigo dono abominava os populares.

P/1 – E como é que foi que esses músicos começaram a frequentar a sua loja? Eles já conheciam, ou foi algum contato que você teve?

R – Então, logo depois que eu abri a loja, como eu tinha amizade com algumas lojas e eu tina amizade com o dono dessa loja Musicanto, na Patriarca, aqui no centro, ele me indicou para o baterista do Patrulha do Espaço, foi por isso que eu lancei o disco também do Arnaldo, que era um projeto do Patrulha do Espaço e Arnaldo Baptista. Ele me indicou o baterista, que é o proprietário da banda e ele é o proprietário dos tapes, então, a gente lançou em sociedade, eu e o baterista do Patrulha do Espaço, Junior, Rolando Castello Junior. Logo apos lançar esses dois LPs, a gente teve uma boas repercussão, né, a nossa loja também era próxima a 89 FM, que era no começo da Paulista, e muitos dos locutores, jornalistas eram fãs dos Mutantes e muitos começaram a frequentar a partir dai. Meu próximo lançamento foi de um jornalista conhecido, tinha uma banda. O jornalista era o Fernando Naporano, que tinha uma banda que chamava “Maria Angélica Não Mora Mais Aqui”, nós lançamos a banda, né, e também ajudou… lógico que uma loja… um indica pra outro, era uma loja meio escondida, essa loja era na Brigadeiro, mas era num shopping, numa entrada…

P/1 – Numa galeria?

R – Na galeria do cine Paulistano. O que ajudou também muito na loja é que na época, o cine Paulistano, ela tinha assim uma programação meio que intelectual, passava-se muito filme assim, de cinema clássico, nouvelle vague, dessa linha de filmes, né, e esse publico, na verdade, tinha muito a ver com a loja, foi assim a nossa sorte em termos de comércio.

P/1 – O que é lá hoje onde era a sua loja?

R – A minha loja eu vendi para um artista depois, né, porque eu migrei para a Galeria do Rock, mas eu acredito que não seja mais loja hoje, faz tempo que eu não passo lá.
P/1 – Quando você disse que fez o lançamento do disco do Arnaldo Baptista, o que é exatamente esse lançamento? Você participava do investimento da produção do disco, o que era exatamente isso?

R – Eu fui produtor do disco, o disco saiu pelo meu selo, né, e eu fui produtor. Na verdade, produtor, como todo mundo sabe, é o que paga (risos) a prensagem, né? Eu não tive nenhuma produção artística, a não ser a escolha de capa, alguns pitaquinhos assim em estúdio, porque era um lançamento, mas era um lançamento de uma fita que não havia sido lançada, era nos anos 70 ainda, né? Ah, o que aconteceu foi isso, né?

P/1 – E como é que se cria um selo?

R – Nós tínhamos a loja, né, a loja naturalmente o logotipo da loja seria o selo da… assim, quem tinha uma loja na época, lançava alguma coisa, né, então, a criação do selo somente é uma continuação da loja, é uma variante da loja, praticamente é isso. Será que eu entendi bem a pergunta?

P/1 – E no caso, o retorno seria a divulgação da marca da sua loja?

R – Não. O retorno seria a venda do disco, os LPs, né?

P/1 – Uma porcentagem viria para você?

R – Não, como nós lançamos, nós bancamos tudo, assim praticamente a venda, tirando assim porcentagem de artistas, impostos, etc., ela retornava totalmente pra gente.

P/1 – E a venda desse disco era feita somente na sua loja?

R – Não, não. Como existiam várias lojas de rock, né, de música, a gente ofereceu para todas as lojas. Nos anos 80, o lançamento independente eram mais ou menos mil unidades, não era fácil vender mil discos na época, mas a gente conseguiu vender rapidamente os dois discos.

P/1 – Ai você mencionou que você acabou migrando para a Galeria do Rock...?

R – Isso

P/1 – Em que ano que foi?

R – Mais ou menos, 89 ou 90. Mais ou menos isso, acho que… acredito que seja 89, porque 90 já foi Plano Collor, né?

P/1 – Por que você tomou essa decisão de migração?

R –

Na verdade, eu estava meio cansado também, eu trabalhava, estudava e tinha a loja, já era casado e em 89, eu já tinha um filho. Era difícil pra mim, apesar de gostar muito, a loja também era um pouco cara, o aluguel era um pouco caro, e eu tive uma proposta pela loja. No mesmo período que eu tive a proposta pela loja, um amigo meu queria sair da Galeria do Rock, que ele me ofereceu a loja, daí comparando os valores de gastos, eu conclui que a Galeria do rock seria mais negócio do que a minha loja. Ai, como eu tive essa proposta, eu vendi a minha loja, e comprei uma outra na Galeria.

P/1 – E onde que era essa loja?

R – A minha loja foi a loja número 309 da Galeria do Rock, segundo andar, no mesmo andar que a minha atualmente, né, mas pra entrar lá, eu convidei um outro amigo meu que tinha uma loja também pra entrar comigo, nós entramos em sociedade, era a minha loja e mais uma loja, entramos em sociedade na mesma época.

P/1 – E o nome da loja se manteve?

R – Não, eu tinha o nome da minha loja e o outro rapaz tinha o nome da loja dele, a gente resolveu continuar com o mesmo nome da loja que estava, que era “309”.

P/1 – E como é que era a Galeria naquela época, você pode descrever pra gente, quem estava lá…?

R – Nos anos 80? A Galeria não tinha todo esse movimento, né, que hoje tem, deixa eu me lembrar… existia assim, uma certa rixa entre punks e metaleiros, a Galeria não tinha escada rolante que funcionava, era bem assim, um lugar outsider de São Paulo, mas eu nunca achei que a Galeria fosse marginal, eu sempre vi a Galeria como um excelente ponto de comércio.

P/1 – E ali tinha uma parte de cultura underground também?

R – Sim, sim, na época, além da “Baratos e Afins” existiam outras lojas que elevavam bem o underground, né, principalmente na parte musical.

P/1 – E como é que foi essa experiência lá, o seu publico da Brigadeiro migrou pra lá também, passou a ter uma nova clientela, como é que foi?

R – Alguns, assim… grande parte migrou, mas é lógico que eu não fazia interferência, porque eu estava vendendo uma loja também, né, e eu queria que o rapaz que estivesse comprando a minha loja tivesse sucesso também, então eu não fiz muita interferência, eu não falava para os meus clientes irem para a minha loja também, né? Mas muitos foram pra Galeria também atrás da gente. E na galeria também aconteceu uma outra coisa que é destino também, né, não sei se posso colocar já, né?

P/1 – Pode falar...

R – Então, depois de um ano de loja na Galeria, eu estava meio que insatisfeito com a loja, porque eu fui pra lá, mas eu fui com um sócio, porque também diminuía pra mim despesas e etc., né? E eu tinha um amigo que também tinha uma outra loja lá na Galeria, o que aconteceu foi que num dia, num sábado, o rapaz chegou pra mim e falou também a mesma coisa: “Você quer comprar a minha loja?”, e eu fiz a mesma coisa (risos), só que aí o que aconteceu foi: o rapaz me pediu um valor e eu perguntei para o meu sócio: “Você quer comprar a minha parte?”, ele deu o afirmativo, e com o afirmativo dele, eu já liguei pra outra loja, inclusive essa loja é a que eu considero mesmo a minha primeira loja, na verdade da galeria, né, foi a loja número 348. Lá se tornou mesmo a “Vinil Records”, o nome mudou, era “Vinil Urbano”, porque… primeiro… quando eu entrei na Brigadeiro, a loja se chamava “VU”, porque o dono era muito fã do Velvet

Underground, só que eu também

não queria que VU significasse Velvet Underground, então eu coloquei um nome “Vinil Urbano”, mais seguindo as iniciais da loja, né? Só que a gente lançou alguns discos, eu tinha um sócio na produtora do disco, quando eu migrei para a Galeria, eu não quis colocar o meu antigo selo com a minha nova loja, então, eu resolvi tirar o U, então ela se chamou” Vinil Records”, discos, na Galeria.

P/1 – E que impacto isso trouxe para você, agora você ser dono de uma loja mesmo, como você diz, né? Como é que foi essa mudança?

R – Então, pra mim foi bom, o funcionário que trabalhava na “309”, veio comigo, dai eu tinha toda a liberdade pra fazer o que eu queria, né, lá eu estava assim… com os braços meio atados, porque eu tinha um sócio, na verdade, eram três sócios, eu tinha 50%, mas a loja que tinha comigo eram três sócios, e eu me dava bem com um dos sócios, eu não me dava bem com os três sócios, né, então, eu tive um pouco de… e como eu não gostava muito de atrito, então eu frequentava pouco a loja, apesar de ter a loja, né? Daí, quando eu fiquei sozinho na outra loja, daí eu me dedicava bem mais, colocava… e também, o que aconteceu foi que eu comprei uma loja bem estocada, quando eu entrei, ela estava bem estocada com muitas coisas boas, então foi fácil trabalhar nesse começo, né, eu estava com um funcionário bom, já nessa época, eu já tinha 20 anos, eu acho… já tinha o meu primeiro filho, é, foi bem tranquilo, ai eu continuei na loja, mas trabalhava no banco ainda.

P/1 – Nesse período, concomitantemente ainda com qual banco…?

R – Eu estava no Banespa já.

P/1 – E vai, como é que foi? Então vamos voltar para o seu passeio no Japão, você foi no Japão, trouxe um monte de discos e vídeos, como é que foi a volta?

R _ Então, ai nessa volta… na verdade, assim, o que aconteceu foi: eu tinha alguns clientes e alguns clientes me fizeram encomendas, né, na época, um disco que custava dez dólares no Japão, você conseguia vender por 30 dólares aqui no Brasil e eu… pra não… como eram clientes, eu assim, eu só dobrava o preço (risos), né, eu vendia por 20. Aí, eu levei mais ou menos uns cinco mil dólares para o Japão, só de dinheiro de cliente, era um bom dinheiro, né, quando eu voltei, além dessas encomendas, eu trouxe muita coisa, aí eu percebi que a loja realmente era rentável. Quando eu voltei do Japão, eu tinha 40 dias de férias, fiquei 40 dias de férias e eu fiquei 28 dias no Japão, então eu fiquei 12 dias na loja fazendo o meu comércio do que eu tinha trazido. O que aconteceu foi que em 12 dias vendeu tudo. Aí, eu vendo a possibilidade de, agora, né, de meu irmão, de meu pai mandar as coisas pra mim, né, porque eles mandavam, mas eles não sabiam onde encontrar, porque era uma coisa mais específica, aí eu procurando, meu irmão percebeu onde que eu comprava, em 12 dias eu consegui ganhar… 12 dias de comercio, né, eu consegui ganhar três ou quatro vezes mais que o banco me dava. Aí, eu resolvi sair do banco nessa época.

P/1 – Sabe o ano exatamente?

R – 1992, de 90 a 92

P/1 – E no que a sua saída do banco mudou na sua rotina, então você passou a ficar o dia inteiro na loja, como é que foi?

R – Isso, isso, quando eu saí do banco, muitas pessoas falaram que eu era louco, porque era o banco do estado, eu era concursado, tinha o dinheiro, assim, eu era caixa do banco, né, eu tinha um cargo melhor até, porque o caixa ganhava um pouco mais do que o escriturário no Banespa, plano de saúde, etc. Mas, realmente, eu estava naquela época de… eu tinha recusado um concurso de subchefe no Banespa na época, por causa mesmo da loja, eu não poderia trabalhar oito horas, integral, eu trabalhava seis horas, eu fiquei um pouco meio assim… queimado no banco, porque eu não quis fazer o concurso. Ai, eu fiquei ouvindo um zum, zum, zum que eu ia ser transferido para um posto de saúde, um posto de saúde era um posto do banco também, era num hospital, era um posto de saúde e tem um posto da minha agência lá, daí eu fiquei pensando se valeria a pena eu ir para o posto, né, achei que não, mas quando eu voltei do Japão, eu fiquei 12 dias e faltei mais uns dez dias também, né, porque eu estava amadurecendo a minha idéia de sair do banco. O meu gerente que eu tinha muita amizade me ligava quase todo dia pra eu ir lá conversar com ele, mas eu sabia que se ele conversasse comigo, ele poderia me convencer a voltar, uma coisa que eu não queria. Até hoje, tenho amizade com esse meu chefe, esse meu gerente, uma pessoa muito boa, eu tenho amizade com muitas pessoas do Banespa, queria colocar aqui que a venda do Banespa foi uma coisa que mais… mesmo eu não sendo banespiano na época quando foi vendido o banco, eu me senti muito mal. Tinha ouvido da boca do Governador uma promessa que o banco nunca seria privatizado. Eu ainda… hoje eu não tenho mais sentimento banespiano, mas tive muito tempo, mesmo depois de sair do banco, mas assim… eu saí porque aconteceram as coisas. Aconteceram as coisas na minha vida pra me dar uma luz assim, eu realmente fui… a minha esposa me apoiou, a minha mãe me apoiou, meus familiares me apoiaram e foi isso, aí eu realmente resolvi entrar de cabeça no mundo fonográfico, né, na época era fonográfico.

P/1 – Então, como é que foi essa dedicação integral a esse mundo fonográfico? Quais as dificuldades que você encontrou? Ou então facilitou em muitas outras coisa, como é que foi?

R – Bem, como eu tinha alguns parentes no Japão, eu tinha um público cativo para essas coisas difíceis japonesas, eu tive assim, uma… eu tenho, eu não sei se é de signo, eu tenho assim algo dentro de mim que me coloca como uma pessoa que corre atrás dos sonhos, então, além de tudo que eu falei até agora, depois eu posso: não sei se vai interessar para a entrevista, mas tive outras coisas que eu fiz também que eu achei interessante assim na minha vida, né?

P/1 – É a sua história de vida, pode ficar à vontade (risos)...

R – O que aconteceu é que a minha vida ficou mais tranquila, eu ganhava bem mais, ganhava bem mais, e consegui comprar a loja que eu tinha, era alugada e eu comprei o imóvel na Galeria, né, e consegui comprar uma segunda loja, a segunda loja, eu consegui comprar também com a ajuda do meu pai, e do meu irmão. A primeira loja, também foi me ajudada por eles, mas assim, eu coloco que o imóvel da primeira foi graças a minha capacidade; a segunda loja que eu tenho, eu tenho duas lojas na Galeria, dois imóveis, né, foi a ajuda do meu pai e do meu irmão.

P/1 – Essa segunda loja que é essa loja atual?

R – É, hoje a segunda loja que eu tenho é a que eu estou, a minha primeira loja está alugada.

P/1 – Você tem como falar pra gente como é que foi esse percurso

de ter essa loja “Vinil Records”, ela existe ainda hoje, como é que é?

R – Então… infelizmente, a Galeria hoje… eu coloco que ela não é mais a Galeria do Rock, eu posso colocar que seja do Rock, mas ela não é mais a Galeria da musica, as mídias hoje estão muito enfraquecidas, tanto CDs, DVDs, devido a várias coisas, eu não culpo nada, não culpo pirataria, não culpo internet, não culpo facilidade, não culpo nada, eu acho que foi uma evolução gradual assim, esse estágio que nós estamos é o estágio que deveríamos estar. Então, o que está acontecendo hoje na Galeria é a evolução natural, né? Na época que eu tive a loja, eu também abri uma loja na Liberdade, nessa mesma época, pouco depois dos anos 90, 94 ou 96, eu abri uma loja que eu considero a primeira loja de anime, eu considero e talvez eu consiga provar que é a primeira loja de anime do Brasil, na verdade, eu não coloco como anime, mas cultura japonesa, porque o anime mesmo, assim… o anime real, ele ficou forte após 95, 97, 98, ele assim, consolidou o nome anime, né? Quando eu abri a loja, a minha loja vendia filmes, “Ultraman”, assim, de cultura japonesa, “Samurai”, tudo que foi desenhos japoneses antigos, anos 70, “Super Dínamo”, “Phantomas”, eram desenhos que passavam na TV japoneses, né, a gente conseguia fitas com esse contato no Japão, eu recebia muitas fitas do meu irmão, né, e a gente produzia elas aqui, de forma artesanal, né?

P/1 – E essa sua loja…

TROCA DE FITA

P/1 – Então, a gente estava falando desse comecinho da loja na Liberdade. Então, tenho várias questões sobre isso. O que te levou a abrir uma loja dessa temática, e o motivo da escolha do ponto. Para começar, eu queria que você explicasse essas duas coisas pra gente...

R – Bem, a Liberdade era um local que eu frequentava muito. Sempre que eu ia para Liberdade, desde criança, eu ficava assim maravilhado, lá a gente comprava chicletes japoneses, livros, tinha tudo da cultura japonesa, né, mas assim, o que aconteceu na Liberdade, foi que um dia, andando no bairro, eu vi uma plaquinha: “Aluga-se” num outlet, era começo dos outlets em São Paulo, aí eu lembro que eu perguntei o preço do aluguel. Eu sempre gostei da cultura japonesa, eu sempre colecionei coisas também da cultura japonesa, independente do que fosse, se fosse livros, livros traduzidos, né, música e também cinema, mangás, também, né, na verdade, na cultura japonesa, tudo. Nessa época, mais ou menos 94, 95, a gente passando lá, eu acho que… não, é, 95 então, 95, meu pai já tinha voltado do Japão, a gente trabalhava junto, eu e o meu pai, e eu tinha um sócio que era o neto do meu sensei da escola japonesa, da Nihongaku, na minha loja da Galeria eu já tinha um sócio, eu queria colocar que eu tinha um sócio na época, porque eu tinha um outro projeto que eu também coloquei pra frente, que eu trabalhei com Pesque e Pague, eu fui dono de um Pesque e Pague, sou uma pessoa que gosto muito de pescar e um dia eu vi esse tipo de negócio, e eu tive um negocio que foi Pesque e Pague também (risos), então na época, esse meu amigo do Nihongaku, ele foi meu sócio, ele quis ser meu sócio também, né, e nós três abrimos a primeira loja, que eu considero, né, de anime, ou de cultura japonesa. Na época, a gente já vendia alguma coisa de anime, né, que eram… acho que alguns desenhos do “Dragon Ball”, do “Sailor Moon”, fora os desenhos antigos, né, “Pinóquio”, que passou no SBT, etc. A gente abriu a loja, porque a gente andava muito na Liberdade e encontrou um ponto comercial, esse ponto era no Shopping na Liberdade, agora não me lembro o nome, mas existe ainda…

P/1 – Na Galvão Bueno?

R – Na Galvão Bueno. Aonde a gente abriu a nossa primeira loja, nós ficamos mais ou menos dois anos, né, mas nós não ganhamos muito dinheiro, a verdade é que era meio que um hobby nosso, meu e do meu sócio, que também adorava cultura japonesa, ele até mais do que eu, porque o vô dele foi o nosso sensei, né, e a vida dele era bem mais voltada para cultura japonesa do que a minha, né? Nessa época, meu irmão voltou do Japão, e ele precisava de um trabalho, e nós passamos a loja para o meu irmão, meu irmão deve ter ficado de 96, 97 até os anos 2000, 2002, com a loja. Mas eu, na minha loja na Galeria, continuava a vender coisas assim na área de cultura japonesa e anime também.

P/1 – E nessa época, quem era o público que se formou, era um publico jovem, que gostava desses desenhos, ou era um público antigo que gostava de coisas mais antigas, qual era o público?

R – Na Liberdade, o público era um público mais antigo, eram pessoas que tinham passado a infância por aquilo, né, Ultraman, Phantomas, tudo que passava nos anos 70, era um público bem mais velho, velho não, né, na época era da minha idade, de 30 e poucos anos.

P/1 – E era raro ter adolescentes ainda, ou…?

R – Somente com influencia do pai, né? O pai influenciando o filho, ai sim, seria as crianças, mas público novo era difícil mesmo.

P/1 – E tinha um público que não era descendente de japonês também?

R – Sim, muitos eram não descendentes.

P/1 – Você se lembra mais ou menos a porcentagem?

R – Posso colocar em 50%; 50% cada.

P/1 – E nessa época, já tinha como hoje, também além do desenho em si, mas diversificar em produtos como bonecos, tinha essa história, já tinha essa diversificação, ou ainda não tinha…?

R – Sim, a nossa loja vendia muitos vídeos da… eram vídeos originais do “Ultraman”, do “Kamen Rider”, do “Changeman”, do “Jaspion”, do “Jiraya”, não me lembro o selo hoje, Sato Company? Talvez fosse, mas eu recebia muita coisa do Japão de bonecos, “Ultraman”, acho que o “Dragon Ball” já existia, “Dragon Ball”, “Evangelion”, na época, “Sailor Moon”, anos 90 e poucos, né? Mas com o aparecimento do “Pokémon”, tudo mudou, o “Pokémon” realmente mudou talvez a cultura, assim, a curiosidade da cultura japonesa no mundo todo. “Pokémon” quando explodiu, foi realmente um marco assim, pra nós, né?

P/1 – Foi um marco no sentido de atrair um público diferente, ou um público expressivamente maior?

R – Publico muito maior, público diferente, ali já com bastante crianças, né, assim, já era bem popular, considero que “Pokémon” talvez foi um ícone da cultura pop e também da cultura pop japonesa, né, muita gente ganhou… as lojas já… após a minha loja, nasceram outras, é logico, né? Com o “Pokémon” se ganhou muito dinheiro, assim, no comércio.

P/1 – Esse aparecimento de novas lojas foi no rastro do sucesso do “Pokémon”, será?

R – Não, acho que o “Pokémon” apareceu, ele surgiu, né? Assim, não foi por causa do “Pokémon” que nasceram lojas, mas é lógico que muita gente assim, começou a ver que era viável o comércio desse tipo de produto, a partir do “Pokémon”.

P/1 – Foi um marco o “Pokémon” no sentido de aparecimento de outros produtos? Ou o que apareceu depois, já existia antes, foi uma mudança muito grande?

R – Não, porque na verdade, eu coloco como um ícone, né, então é uma coisa tipo Michael Jackson, se você vender qualquer produto sobre Michael Jackson, você consegue vender, né, então, popularizou, realmente popularizou, então, o Pokémon popularizou uma forma um jeito ou um tipo de produto que não existia aqui. Card games, bonecos, vídeos, etc.

P/1 – E essa atividade “cosplay’ surgiu também mais ou menos essa época, ou já existia?

R _ Não, não. No começo, eram vendidos muito mais vídeos, bonecos, card games, musica, né, mais ou menos isso. O cosplay apareceu mais… depois dos anos, metade dos anos 2000 assim, que começou a popularizar e isso aconteceu com um desenho chamado Naruto. O Naruto realmente... quando apareceu, eu coloco o Naruto… realmente foi… graças ao Naruto, que eu tenho hoje uma capacidade comercial assim grande, né, assim… e graças ao Naruto que existem todos esses eventos, todas essas lojas, tudo aconteceu graças ao Naruto pra mim, no meu ponto de vista, né? O Naruto é um personagem infanto-juvenil, né, não é tão de criança e existia muitos produtos acoplados a ele, a gente vendeu praticamente tudo que o desenho Naruto tem a oferecer. Nós vendemos roupas de personagem, a faixinha do Naruto que a gente chama de bandana, espadinhas, que é kunai, estrelinhas, que é shuriken, cardgames, DVD, foi tudo, boneco, chaveiro, colares, tudo veio graças ao Naruto.

P/1 – Voltando para os primórdios ainda, a escolha do nome, o nome permanece o mesmo que a loja da Liberdade, ou mudou?

R – É, Moshi Moshi Anime foi uma ideia minha, eu achava que… no começo da loja da Liberdade, a loja não se chamava Moshi Moshi, eu não me lembro qual era o nome, mas era uma variante de Vinil Records, na verdade, né, porque nós tínhamos a loja, então, seria a Vinil Records oriental vai. Moshi Moshi foi porque um dia eu estava na loja, eu acho que o meu irmão me ligou do Japão e falou: “Moshi-moshi”, ele tirou um sarrinho, né, porque moshi-moshi significa “alô” em japonês, é a forma de você atender ao telefone. E ai, eu fiquei pensando na palavra ai eu resolvi mudar, mais ou menos foi por causa disso. O nome fantasia, né?

P/1 – E esse percurso da Moshi Moshi lá na Liberdade, como é que foi? Durou até quando?

R – A gente… eu retornei a loja mais ou menos em 90 e… eu não me lembro quando o meu irmão retornou para o Japão,

mas já existia a loja, né, de novo e assim já era uma loja de anime mesmo, anime cultura japonesa, nós tínhamos muitos filmes japoneses, Kurosawa, vários diretores, né, musica, muita musica e também anime. Quando o meu irmão retornou, devido a uns problemas financeiros dele, eu retomei a loja, ai eu mudei a cara da loja, meu conceito era outro, né, eu achava que a gente devia trabalhar mais com outras coisas, tipo bonecos, etc. O meu irmão só trabalhava com vídeos, somente vídeos. Eu comecei a pesquisar e eu encontrei o primeiro anime legendado, eram feitos por… putz, eu não me lembro o nome da… são clubes que legendavam animes

CELULAR TOCA

P/1 – Então, a gente tava falando dos animes legendados

R – Então, graças aos Fan Subers… isso também a gente tem que creditar muito aos Fan Subers a divulgação dos animes no Brasil

P/1 – você pode falar rapidamente pra gente o que é um Fan Suber?

R – Fan Subers eram um clubes que legendavam animes que vinham do Japão, eram assim, foi uma forma de legalizar algo que é ilegal, né? Como os velhos animes não tinham direitos aqui, então eles faziam… nos Estados Unidos teve uma brecha na Lei, que os Fan Subers americanos conseguiram liberar o comércio desse tipo de produto. Na verdade, na época eram vídeos, né? Então vários Fan Subers começaram a aparecer e legendar vários animes, e ai começou o boom. O primeiro anime que a gente teve legendado era o “Record of Lodoss War”, depois teve o “Sailor Moon” e “Evangelion”. Um pouco depois, saiu o primeiro canal de anime no Brasil, agora eu não me lembro qual é o nome, mas passava 24 horas anime no Brasil em TV paga.

P/1 – E a loja na Galvão Bueno foi até quando?

R – Até 2000 e… nós estamos em 2012, 11, 10, acho que 2010.

P/1 – E durante todo esse tempo, você tinha dois imóveis na Galeria do Rock?

R – Sim.

P/1 – Um deles estava ocupado pela sua loja ainda, a Vinil Records?

R – Ah, nesse tempo eu trabalhei com as duas lojas, uma era… praticamente era uma loja parecida com a da Liberdade e a outra era a Vinil Records.

P/1 – Essa loja da Liberdade já era uma loja de cultura japonesa, também?

R – Na Liberdade… na Galeria do Rock, eu trabalhava com Rock também, mas eu tinha muitos produtos de anime na loja também. Eu posso dizer que as duas lojas andaram caminhando assim e conjunto

P/1 – E qual que era o nome dessa segunda loja lá na Galeria?

R – Uma chamava “Vinil Records” e a outra chamava… eu colocava como “Moshi Moshi” também, mas era Roberta Carrara ME.

P/1 – E essa segunda loja começou a trabalhar com esse tipo de produto ¡a partir de que ano?

R – Em conjunto, na época que a gente retomou a loja, a gente também trouxe os produtos para a Galeria do Rock, isso mais ou menos em 2000 e pouco, 2002, por ai, eu não me lembro bem, mas eu acho que é isso.

P/1 – E como é que foi… como é que essa loja andou, ela conseguiu um publico rapidamente, demorou?

R – Então, como eu trabalhava com Rock também, com as mídias também, né, a prioridade não era os produtos de anime, eram os produtos de Rock, né? Logo após a gente fechar a da Liberdade, ai a gente se dedicou praticamente 100% a loja depois de 2010; 2009, 2010.

P/1 – E por qual motivo você fechou a loja da Liberdade?

R – A gente pagava um aluguel assim, considerado muito alto, posso falar em valores?

P/1 – Pode.

R – A gente pagava três mil reais de aluguel por uma loja de dois por dois, mais ou menos, era tipo… um outlet, né, uma loja de outlet,

e eu achava muito caro e estava para aumentar também. Além disso, nós tínhamos o gasto com computador, funcionário, etc., né, que elevava bem o custo.

P/1 – E ai, você acabou fechando essa loja e ficando só na Galeria?

R – Ai, eu trouxe a Moshi Moshi para a Galeria 100%.

P/1 – E como é que foi ter essas duas lojas ao mesmo tempo lá na Galeria, quais foram as dificuldades?

R – Na verdade, só agregou. No começo, quando fechamos a loja, a loja já tinha uma cara mais anime, porque não tinha nesse período, na década de… nessa ultima década, a gente começou a fazer muitos eventos de anime, posso dizer que a minha loja também é percursora de eventos e participação, nós fizemos praticamente todos os primeiros eventos desses grandes eventos hoje… que assim, hoje eu coloco que o maior evento de anime, o Anime Friends, ele deve estar na decima ou na 11ª…

P/1 – Edição?

R – Edição, né, e nós participamos de praticamente todas, todas as edições. O Animecon, que seria o segundo maior, também a gente participou e é bem mais antigo, nós participamos de quase todos também.

P/1 – Essa participação da Moshi Moshi nesses eventos, se dá de que forma?

R – Nós participamos dos eventos com estandes de venda. Nós vendemos os nossos produtos, né, nós vendemos em eventos de anime, todos os produtos que a gente tem na loja, camisetas, cosplays, não trabalhamos com mídia nenhuma, somente com vestuário e com acessórios, colares, bandanas, cosplays, camisetas, praticamente é isso.

P/1 – Quando a gente começou a falar da Galeria do Rock, lá atrás, anos 80, 90, você falou de um determinado público da Galeria, que tem uma hora da rivalidade entre metaleiros e punks, quando é que você sentiu que na Galeria teria um publico também para uma loja de animes, mangás? Quando é que você sentiu que a Galeria tinha esse tipo de público?

R – Na verdade, eu sempre achei que a Galeria era um local outsider, um local de toda cultura e eu coloco que essa cultura japonesa, oriental ou nerd mesmo, ela cabia lá dentro, desde cedo, eu achava que valeria assim, estava dentro da Galeria. Lá na Galeria, é denominada Galeria do Rock, mas ela na verdade, é uma galeria de cultura pop, pop, outsider, etc.

P/1 – O publico da Galeria hoje você vê que é parecido com o que tinha antigamente, ou mudou de alguma forma?

R – Ah, mudou. O publico da Galeria mudou porque o Rock está muito enfraquecido, né? Mas o consumidor de Rock não é um consumidor só de Rock, ele é um consumidor de cultura, eu considero que o roqueiro é um consumidor de cultura, são pessoas que têm mais interesse pela informação, eu por exemplo, sou assim, né, eu sempre gostei de ler, eu sempre gostei de quadrinhos, e eu sempre gostei de Rock. E nos eventos de anime, o que a gente coloca como gêmeos, como semelhança, muita gente com camisetas de Rock nos eventos de anime, muitas bandas de Rock, banda como Angra, Grave Digger, Iron Maiden, Avenged Sevenfold, esses que são mais pesados, mas outros também, Coldplay, U2, Pearl Jam, Ramones, também muita gente com camiseta de Rock participando de eventos de anime. Pra mim, sempre tiveram juntos, quem gosta de Rock, gosta de Rock, mas também gosta de quadrinho, de cinema…

P/1 – De desenhos...

R – De desenhos também, de anime.

P/1 – A recepção da sua loja de animes na Galeria foi o que você esperava, foi diferente, como é que foi?

R – Então, pra mim, foi acima da expectativa, a partir do momento em que nós resolvemos assim trabalhar visando mesmo a linha de anime mesmo, melhorou mais que 100%. Infelizmente, como eu falei, o Rock está muito enfraquecido, essa linha de Rock, de mídia, né, está muito enfraquecido.

P/1 – E atualmente, você ainda mantém as duas lojas, como é que é?

R – Não, hoje a Vinil Records, ela está fechada em estado latente, a firma está aberta, mas eu não tenho… como ela seria no segundo mês que eu loquei, eu pedi para o contador deixar ela no estado latente e essa segunda loja, sim, aí, ela virou… a minha segunda loja, ela virou a Moshi Moshi mesmo.

P/1 – E o motivo dela estar em estado latente é porque tem planos de reabrir no futuro?

R – Não, acredito que para algum lançamento fonográfico ou talvez lançando algum CD, ou alguma coisa assim, mas provavelmente, a minha vida hoje está no anime.

P/1 – O motivo do fechamento foi por causa da concorrência com essas mídias alternativas, não? Qual foi o motivo?

R – Não, na verdade, assim, eu não posso ter duas microempresas, né, então, eu tenho uma microempresa que é a Vinil Records, a outra firma é a minha mãe com a minha esposa, então a Moshi Moshi quem responde é a dona Sumiko e a Érica, eu sou na verdade, o que toca a loja, o que toca a empresa, né?

P/1 – Então agora vamos ficar na Moshi Moshi então. Ali no começo, quando você começou a abrir uma loja com esse tipo de material, o seu estoque, ele vinha quase todo do Japão, com a ajuda do seu pai e do seu irmão?

R – Ah, sim…

R – E hoje, como é que é?

R – No começo era tudo produzido aqui e graças aos eventos, hoje eu tenho uma participação numa firma de… uma indústria de pingente, tem uma fundição, né? A gente fabrica pingente de animes. A nossa produção de camisetas é toda feita por nós, o nosso carro-chefe são camisas bordadas, nós trabalhamos com duas ou três bordadeiras, nós trabalhamos também assim, em conjunto com mais duas pessoas que têm firmas de estamparia. O nosso carro-chefe maior hoje, são camisetas, nós trabalhamos mais com camisetas, não só camisetas de animes, camisetas de cultura. Essa camisa que eu estou usando, é uma camiseta de cultura pop, né? É o Meme. O nosso carro-chefe hoje é camisetas, mas nós trabalhamos com cosplay, colares, assim, nessa linha, tudo que tem a ver com anime.

P/1 – E atualmente então, tudo que está a venda na sua loja é produzido aqui mesmo, quase nada é importado, ou tem muita coisa que é importada?

R – Não, a gente… há uns cinco, seis anos atrás, a gente importava bastante, importava na verdade não, a gente recebia coisa… eu não tenho uma importadora, né? Eu recebia algumas coisas do Japão, graças ao meu irmão, e era uma coisa meio informal, né? Mas hoje não, hoje, a produção nossa é praticamente feita aqui

P/1 – E esses artigos que você mencionou, as camisas bordadas, estampadas, são serviços que são conhecidos e oferecidos na Galeria, né? Serviço de estamparia, você aproveita o serviço das pessoas que estão lá?

R – Eu comecei com as bordadeiras da Galeria, algumas delas se profissionalizaram, e abriram o seu próprio negócio, dentro assim, das possibilidades delas, né? Eu trabalho com uma estamparia da Galeria, eu tenho um parceiro lá. Ele tem uma firma lá e eu estampo camisa com ele. Enfim, eu trabalho muito com parceiros da Galeria.

P/1 – Isso é comum na Galeria, essa interação de comerciante para comerciante?

R – Eu vejo que na Galeria existe uma grande irmandade. Então, as lojas de Rock todas se ajudam, apesar de haver uma rivalidade, todas se ajudam, todas indicam uma a outra, né, e também na Galeria também, existem afinidades maiores com uma ou com outra, mas existe uma irmandade grande lá, então, é um comércio… apesar da Galeria ser um local outsider, né, ela está se profissionalizando grandemente, assim, eu acho que a Galeria logo logo será assim um local que criará bastante gente assim, importante no meio de roupas, assim, etc. Como também saiu gente importante pra musica, né, produtores, músicos e etc. Mas é… acho que é evolutivo, é a evolução normal da Galeria.

P/1 – Qual que é o produto mais vendido hoje lá na sua loja?

R – Ah, na minha loja, eu vendo muito camisetas, de anime e de… é, de cultura.

P/1 – Ainda existe espaço para os DVDs, para os CDs?

R – Existe, mas eu… você pergunta de Rock ou de anime?

P/1 – Dos dois.

R – Existe, mas gradativamente menor, cada ano menos.

P/1 – E o mercado de bonecos e acessórios, é grande também?

R – Assim, o boneco de anime é um… assim, é um item supérfluo eu acho pra mim, e caro, como é importado, é caro. Nós temos uma entressafra de anime, não aparecem desenhos bons, desenhos realmente que assim, façam a gente ter um interesse maior nos personagens, então tá assim… eu acho que o mercado de boneco ainda tende a crescer, mas é necessário que se crie algo novo no anime, principalmente.

P/1 – A sua loja já tem estoque, como é que funciona?

R – Como eu trabalho com eventos, a gente tem um estoque pra eventos, né, eu tenho uma capacidade de venda muito grande, assim, nós chegamos a … em um dia de evento, nós podemos vender… equiparar a venda de 30 dias de loja, então, dependendo do evento, né? Então, nós temos capacidade de estoque sim.

P/1 – Que é fora da Galeria esse estoque?

R – Sim, sim.

P/1 – E na Galeria, tem como você descrever pra gente rapidamente, a disposição física da sua loja, onde é que está o balcão, onde é que estão as prateleiras, tem vitrine ou não tem vitrine, como é que fica?

R – Minha loja, eu posso considerar assim… muita gente, meus clientes chamam de “meu quarto”, porque é uma bagunça, a minha loja é a mais bagunçada da Galeria inteira, é meio hilário até, assim, eu não reformo ela, porque eu não tenho tempo, não tenho tempo, não dá, as coisas acontecem rápido, a gente não pode perder o tempo que precisaria, dai eu não tenho essa preocupação estética com a loja, ela está funcionando bem. É uma loja normal, tem uma vitrine com produtos de anime, bonecos, camisetas, existe um espaço para DVDs de Rock ainda, mas a nossa vitrine, ela praticamente é de anime, muitos bonecos, camisetas, colares, que também é um produto nosso, na entrada da loja, nós vendemos bottons de cultura pop e anime,

chaveiros, temos uma parede que ainda temos um pouco de CDs de Rock, mas a loja é repleta de bonecos, de bonecos e camisetas.

P/1 – Você entende que é isso que vai atrair mais o público?

R – A minha loja tem umas características, como eu falei lá pra você, lá é o meu quarto, é uma bagunça, as pessoas então ou se sentem muito bem, ou se sentem mal, né, as pessoas que são conservadoras, as pessoas não gosta de ver aquela… mas ela é bem cotada, nós vendemos também ingressos de eventos, né, ela faz… o sucesso desses eventos faz a loja se tornar assim bem popular na Galeria.

P/1 – Dessa forma, a gente pode entender que a frequência na sua loja é sazonal, tem períodos de maior frequência, por exemplo, Natal, dia das crianças, ou não, é praticamente padrão o ano inteiro?

R – É lógico que época de Natal, dia das crianças e férias, a loja é bem movimentada, eu acredito que a minha loja pode ser considerada uma das dez mais movimentadas na Galeria, eu acho, não posso garantir, porque não existe nenhuma estatística ali, né, mas considero que ela é bem movimentada.

P/1 – Dá para se falar em dias mais movimentados, por exemplo, sábados, domingos?

R – Ah, sábado, sábado sempre foi o dia mais movimentado da Galeria mesmo, né, se a gente fizer um comparativo com o shopping, eu acredito que os sábados da Galeria são tão movimentados quantos os domingos dos shoppings.

P/1 – E tem algum horário que é de maior frequência, ou não?

R – Sim, após o almoço, a Galeria fica realmente bem, bem cheia.

P/1 – E para atrair esses clientes, vocês costumam fazer promoções, alguma coisa assim, dia que está tudo mais barato, ou determinado produto está mais barato?

R – Olha, eu já pensei nisso, né, mas como a gente está numa posição um pouco privilegiada… eu assim, não fiz promoções assim há muito tempo, mas ao mesmo tempo, eu não aumento os preços dos produtos há muito tempo também.

P/1 – E você oferece algum tipo de brinde, por exemplo na compra de uma série completa de DVDs de um determinado anime, você ganha alguma outra coisa, existe esse tipo de coisa?

R – Isso existe sim, assim, é tudo questão do cliente, né, o cliente hoje está preparado para pedir os descontos e a gente normalmente dá, dá os descontos, normalmente, o cliente sai realmente satisfeito da loja.

P/1 – Hoje uma modalidade de comércio muito comum é o comércio pela internet, né, pelo site. Você também trabalha com o comércio pela internet?

R – Sim, a gente trabalha. A gente vende produtos pelo “Mercado Livre”, não sei se eu posso falar aqui, “Mercado Livre”, e nós temos um site também. Mas assim, normalmente os clientes do “Mercado Livre” são redirecionados para o site.

P/1 – E como é que é, tem alguma pessoa especifica que cuida especificamente disso…?

R – A minha esposa, ela que toma conta do “Mercado Livre” e do site, e pode-se dizer que realmente é um grande instrumento para o comércio, existe uma… na minha visão evolutiva, existe a possibilidade de um dia esse tipo de comercio substituir o físico.

P/1 – E é comum as pessoas fazerem encomendas de 50 camisetas “x”, é comum esse tipo de comércio?

R – Você diz o atacado, seria?

P/1 – É

R – O atacado, eu tenho vários clientes atacadistas na loja.

P/1 –

São donos de lojas que compram…?

R – Sim, no Brasil todo.

P/1 – E o pagamento, no caso da internet, é por boleto bancário, como é que é?

R – “Mercado Livre”, às vezes eles fazem o pagamento de acordo com a politica deles, ou em depósito, né, depósito bancário.

P/1 – E na loja física, qual é a forma de pagamento mais comum?

R – Nós recebemos dinheiro ou cartões, mas preferimos não vendermos no cartão de crédito, devido às taxas.

P/1 – Mas o de débito…?

R – Assim, vendemos muito, mais ou menos 20% das nossas vendas estão concentradas no cartão.

P/1 – Algum cliente da sua loja de discos migrou para essa loja de animes, manteve interesse, ou é um publico bem separado, assim?

R – Não, não, como eu disse pra você, é um publico bem semelhante, muitos gostam de Rock e de anime. Na verdade, é cultura pop, eu trabalho bastante com anime e cultura pop.

P/1 – Mas alguns daqueles consumidores da sua loja mais antiga ali, ainda frequentam a sua loja atual?

R – Sim, sim, eu tenho clientes de 20 anos, mais de 20 anos, que curtem os dois tipos de produtos.

P/1 – E pensando nisso, acho que antigamente era mais comum, mas ainda existe aquela continha, caderneta, né, a sua loja oferece para os clientes mais antigos, ou mais amigos, ou não?

R – Olha, eu não tenho esse tipo de caderneta (risos), mas eu tenho assim, a confiança em alguns clientes, muitos, alguns, né, podem levar e pagar depois evidentemente. Tem clientes de 20 anos, que a gente já deixou de ser cliente, já virou amigo, né?

P/1 – Nos casos de encomendas, ou mesmo numa venda pequena, vocês entregam mercadoria, ou a pessoa tem que buscar lá, como é que é?

R – O máximo que nós podemos fazer é entregar em local próximo, ou utilização do correio que é a forma mais fácil que tem.

P/1 – E nesse caso, uma entrega local próximo, é você mesmo que entrega?

R – Não, aí eu tenho funcionários.

P/1 – E quantos funcionários você tem nessa loja, hoje?

R – Então, eu tenho um funcionário registrado, né, e eu tenho funcionários free-lancers que trabalham comigo, que fazem eventos comigo, são sazonais, né, então, eles às vezes, assim, quando está perto de um evento grande, eles trabalham também comigo dentro da loja.

P/1 – Você falou do seu funcionário, uma pergunta que eu queria fazer é a seguinte: para esse tipo de comércio que você tem, é importante você estar sempre atualizado nos lançamentos de anime, é importante você assistir o anime pra você conseguir conversar com o seu cliente, ou você acha que talvez não seja tão importante?

R – Olha, é importante sim, lógico, né, porque você precisa estar sabendo também atender o cliente, muitos clientes não têm essa informação, né, então, às vezes, um cliente pergunta o que está rolando de novo, ou o que é legal, e o que não é. Mas não é 100% assim, necessário, né? O meu funcionário, ele se inteira mais do que eu, assim, a gente não tem tanto tempo, mas a gente também, com os eventos, a gente fica sabendo o que está rolando legal. Então, a gente conversa muito entre os próprios lojistas, né, e também a gente está sempre procurando informação na internet, a gente fica sabendo, a informação vem rápido pra gente.

P/1 – Então, você acaba acompanhando como é que tá o Naruto, como é que tá… ?

R – Sim, mais assim, eu não acompanho assim o que tá acontecendo no desenho, mas eu sei que alguma coisa está acontecendo.

P/1 – Agora, eu queria saber de você, se tem alguma história que você lembra, pode ser na Moshi Moshi, pode ser na sua loja antiga de discos, uma história muito curiosa, muito engraçada, ou diferente, assim, que você lembre que queira falar pra gente?

R – Ah, aconteceram tantas coisas assim, eu posso contar uma história na Vinil, né, eu compro e vendo CDs na loja, né, também trabalho com usados. Uma vez, um rapaz me pediu um disco, um CD do “Zig Zig Sputinik”, que na época era muito raro e eu tinha, e ele quis comprar o meu de qualquer jeito, disse: “Pago tanto”, era um bom dinheiro, né? Aí, combinei com o rapaz, ele foi lá, e eu vendi pra ele com uma dor no coração. O que aconteceu é que depois de uns 20 minutos, veio uma outra pessoa com o CD usado, que eu paguei assim, muito pouco, né? Isso aí foi uma coincidência, né? Tem coisas assim que aconteceram… em anime, a gente tem muitos clientes que são excepcionais, né, assim, crianças autistas, assim, que gostam muito de produtos assim, então, quando um deles vem pra loja, quando a gente vê assim, a criança, ou mesmo até adolescente vem desse porte, excepcional, eles ficam maravilhados, né, então, várias vezes eu vi crianças contarem a história de todo o desenho pra mim, assim, de uma forma assim, tão assim, com alegria, sabe, com esse tipo de entusiasmo que deixa você até meio assim, embaraçado e você lembra no final do dia e fica bem emocionado. Eu acho que é bem prazeroso essa parte, né? Várias coisas aconteceram na nossa loja, também a gente tem muito tempo a loja, né, mas assim, de bate pronto, que eu consigo lembrar é isso assim.

P/1 – Você já está no comércio há bastante tempo, começou muito jovem também. Você lembra de algum período particularmente ruim pro comércio, e de algum outro particularmente bom para o comércio, que você consiga lembrar?

R – Olha, eu já passei fases bem ruins assim, né, no começo da década de 2000, nos anos 2000, no começo, mas aí por problema de organização, problema financeiro meu mesmo, não talvez da loja em si. Tinha época que a gente tinha que vender o almoço para comprar a janta, mesmo, né, passamos dificuldades assim, mas… no segmento normal, as coisas vão bem tranquilas pra mim.

P/1 – E essas coisas não variam de acordo com a Economia do país?

R – Olha, eu achava que sim, mas as épocas que o país esteve pior, eu considero que a minha loja estava bem tranquila, bem… na época do Plano Collor, que o Collor tirou todo o dinheiro do mercado, né, pensei que a gente fosse ter um baque imenso, mas não aconteceu, não. A gente continuou, lógico que caiu a venda, mas não foi todo esse baque que eu assim previa, não.

P/1 – Pensando nisso também, o que você acha que mais mudou do período que você começou a ter uma loja pro comércio em geral, o que mudou daquela época para hoje?

R – Antigamente, você trabalhava bastante na confiança mesmo, como você falou, com caderneta, essas coisas que tinham muito, né? Hoje tem cartão de crédito, cartão de débito, tem comércio eletrônico, assim, evoluiu bastante assim o comércio em termos de facilidade para o cliente. Eu acho que algumas coisas assim, é da gente, né, esse fim da… eu não sou uma pessoa 100% pró meio ambiente, infelizmente eu acho que o ser humano está um pouco aqui no mundo para destruí-lo, infelizmente eu não sou uma pessoa assim, mas eu vejo que o ser humano não é assim. Então, esse negócio dessa lei nova aí de sacola plástica, realmente atrapalha um pouco a gente, a gente fica um pouco perdido se pode ou não utilizar a sacola plástica, que o nosso produto realmente tem que ser colocado numa sacola, infelizmente.

P/1 – Você já teve um comércio de rua na Brigadeiro, depois acabou tendo comércios em galerias, tanto na Liberdade, quanto na Galeria do Rock, qual que é a diferença pra você entre o comércio da rua e o comércio em galeria?

R – Na verdade, a minha loja da…

P/1 – Também era de galeria?

R – …da Brigadeiro era numa galeria também.

P/1 – Desculpa. Ainda assim, qual que a diferença que o senhor vê entre um comércio de rua e um comércio de galeria?

R – Na verdade, é assim, o nosso comércio da Liberdade era mais de rua, né, apesar de ser um outlet, ela é de frente para a rua, né? Eu considero que os comércios hoje em shoppings, ou galerias são muito mais seguros, mais tranquilos, o público se sente melhor, que se sente seguro, comércio de rua pra mim é muito inseguro, ao meu ver, eu já tive isso aí, comércio de rua e eu jamais teria, principalmente por esse lado, de segurança.

P/1 – Mas em termos da exposição da loja, você acha que compensa?

R – Ah, sim, eu… assim, se você for colocar nesse lado, do comercial, sim, mas eu no meu caso, eu vejo que a segurança hoje em São Paulo, está em primeiro lugar de necessidade.

P/1 – O senhor já trabalhou com algum tipo de publicidade da loja?

R – Já… hoje eu também sou gerente comercial da revista “Rock Brigade” , né, eu trabalho, eu sou responsável pela publicidade dela na revista e já fiz muita publicidade, já fizemos publicidade eletrônica, já fizemos publicidades em revistas, assim, mas assim, eu acho… eu, assim, sempre… sou uma pessoa sempre econômica, né, nesses termos, mas eu acho necessário, sim.

P/1 – E isso te rendeu que tipo de retorno, expressivo, ou não?

R – Na verdade, o retorno é com o parceiro, o parceiro da revista, né, que ele fica feliz por ele ter fechado um anúncio com você (risos). Nós já fizemos anúncios na revista “Época”, que deu um certo retorno. Uma curiosidade que aconteceu comigo, que foi muito boa e isso deu o maior retorno, esse é um aspecto curioso, mesmo, foi um dia que eu fui entrevistado na “Rede Globo” no programa…qual que era? (risos) Era aquele programa da uma hora…

P/1 – “Vídeo Show”?



R – Não, não, não. É noticiário

P/1 – “Jornal Hoje”

R – É, “Hoje”, eu fui entrevistado pelo César Tralli na minha loja e justamente na época do vinil para o CD, então, o César Tralli, ele me entrevistou perguntando: “Como que faz para trocar o vinil para o CD?”. Eu trocava vinil por CD, nesse dia ele me entrevistou e depois de duas horas, a loja ficou lotada de gente com vinil, querendo trocar por CD, né? É logico que a gente quando está fazendo um… assim, está falando uma coisa, muita gente entende outra, né? Porque o que aconteceu no dia foi que a gente deu muita sorte e veio um rapaz no meio da entrevista trocar o vinil por CD e ele trocou lá uns dez discos por cinco CDs, mas eram discos realmente bons, né? Ai, muita gente trouxe aquelas coisas que a mãe nem quer (risos) mais em casa, e quiseram trocar por CDs e pensaram que iriam trocar dez discos por cinco CDs, né? Então, muita gente trouxe cem discos e acabou levando um CD, né, mas é tudo questão da qualidade do LP que você estaria trazendo. Mas esse tipo de propaganda, essa entrevista que eu fiz, ela me rendeu muito, lógico que é um veiculo muito grande.

P/1 – O seu pai e a sua mãe já tinham sido comerciantes, né, já eram comerciantes, como é que você acha que a sociedade vê o comerciante hoje em relação como via antigamente?

R – Como o meu pai vê, seria?

P/1 – A sociedade vê, como é que o senhor sentia que as pessoas viam o comercio do seu pai, como é que as pessoas veem o seu comércio hoje?

R – Como eu falei para você, o comércio do meu pai é de bairro, né, era um comércio de bairro, então, muita coisa era também vendida na confiança, tinha caderneta também, hoje as coisas estão todas mudadas, né? Então, o comércio era de rua, hoje é shopping centers, tá tudo mudado, assim, eu… os olds, né, que são as pessoas mais idosas, elas são bem diferentes da molecada hoje, um senhor e um garoto são assim, acho que é difícil você… da agua para o vinho assim, são… muda tudo. Naquela época que o meu pai teve comércio, e olha que ele trabalhou comigo também, né, na verdade o meu pai, ele atendia as pessoas como ele atendia na época dele, né, as pessoas… meu pai sempre foi uma pessoa bem querida, né, ele trabalhou comigo na Galeria, hoje ele não está trabalhando mais, mas ele era uma pessoa muito querida, pelo modo que ele chegava e abordava o cliente.


P/1 Você participa de algum tipo de associação de comerciantes, algum sindicato, já participou?

R – Olha, eu… após ser bancário, né, eu vi que realmente o sindicato, na minha visão, é muito manipuladora, então, eu perdi a confiança em sindicato. Hoje, a única coisa que eu sou associado é do Idec – Instituto de Defesa do Consumidor.

P/1 – E você tem alguma atribuição lá, o que… isso implica em quê?

R – Sou associado só, então, eu utilizo o Idec para algumas coisas que eu preciso, né?

P/1 – Agora, entrando numa parte final, eu vou para uma parte mais pessoal, como é que é o seu dia-a-dia hoje, como é que é o seu cotidiano?

R – Bem, a minha loja abre às 11h e fecha às 19h, mas normalmente, eu chego na loja a uma hora, fecho a loja, volto pra casa, eu tenho… o que eu gosto de fazer é assistir TV, futebol, essas coisas normais, né, assim, cotidiano não seria hobbies também, né? Que eu gosto de pescar também, né, então, gosto de praia, gosto de viajar. Mas o meu cotidiano é, assim, meu dia-a-dia é o trabalho, né, da uma às sete, de manhã, a gente faz o que precisa fazer em casa, mas eu normalmente não faço muita coisa, quem faz mais é a minha esposa.

P/1 – E de fazer compras, você gosta?

R – Olha, eu… assim, eu não gosto tanto, mas eu acompanho a minha esposa praticamente em todas as compras, mesmo pra loja, ou pra necessidade diária, né?

P/1 – E onde é que vocês costumam ir quando vocês vão fazer compras?

R – Ai, você pergunta como? Pra casa? Pra loja?

P/1 – Pra casa

R – Bem, a gente vai normalmente em grandes supermercados, né, Walmart, Carrefour, eu moro num local que está cercado desses grandes… você deve saber, você mora lá também, né? O Carrefour, o Walmart, Extra, tem tudo lá.

P/1 – E pra loja, onde é que você costuma fazer compras?

R – Então, pra loja, a gente compra muita coisa no Brás, na 25 de Março e em lojas especializadas também, né?

P/1 – Nesse caso, você já tem uma loja preferida que você tem um contato maior?

R – É, eu tenho alguns fornecedores, né, que a gente prefere direcionar, não precisa diversificar muito não.

P/1 – E por que o Brás e a 25, qual o motivo?

R – Bem, na 25 de Março, aparecem sempre coisas novas, diferentes, e bem baratas, né, no Brás também, a gente compra muito pano pra roupas, né, a gente tem sempre as lojas principais que a gente visita.

P/1 – Falando um pouquinho da região ali da Galeria, qual que é a importância do comércio da Galeria se localizar ali naquele local da região?

R – A Galeria já é um centro turístico, talvez seja um dos dez pontos mais visitados em São Paulo capital, né, pra comercio ainda, ela está no centro, ela tem problemas de estacionamento, de infraestrutura, mas ela é próxima ao metro, a 25 de Março, ela próxima à São João com a Ipiranga, são lugares bem visitados, né? A Galeria está bem… é até privilegiada, ela está num local assim, excelente, infelizmente ela ainda necessita de… existem problemas de segurança, de infraestrutura, de estacionamento, essas coisas, mas ela tá bem localizada, é um local de fácil acesso.

P/1 – Essa facilidade de acesso compensa essas deficiências no caso pro comercio?

R – Sim, ela compensa bem, perto de metro, né, perto da 25, ela é bem conhecida, perto da São João com a Ipiranga, então, ninguém se perde por lá, né?

P/1 – Voltando para uma parte pessoal, você já mencionou que é casado, sua esposa trabalha com você?

R – Minha esposa trabalha comigo, minha sócia, parceira.

P/1 – O senhor mencionou um filho, mas quantos filhos…?

R – Eu tenho três filhos, meu filho mais velho se formou o ano passado na Politécnica da USP, ele é engenheiro, está trabalhando na área já; meu filho do meio, ele já se formou no colégio, tá prestando vestibular agora, vamos ver se vai passar, né; e eu tenho uma filha de nove anos, também,

tá na escola.

P/1 – E pra algum dele, você deseja, ou desejou que seguissem a atividade comercial, que herdassem o seu ponto?

R – Olha, eu deixo aberto para o meu filho do meio, que pode ser o herdeiro, né, porque ele tem como característica, ele faz evento com a gente, né, então ele é um bom vendedor, ele é uma pessoa simpática e ele tem as mesmas características que eu, porque ele é canceriano, ele nasceu próximo ao meu dia, também, ele é bem parecido comigo, né? Não sei se ele vai gostar, ele é um roqueiro também, ele gosta de Rock, ele gosta de anime, é assim, tudo depende dele, né, mas não é obrigação, eu acho que o que eu tenho hoje (risos), pode morrer também, com a minha aposentadoria, por exemplo.

P/1 – E no caso dos seus filhos não quiserem assumir, qual que você vê como futuro da Moshi Moshi… você ainda é jovem, né, mas daqui a anos...?

R – Olha, eu acredito que a loja ainda vai perdurar, porque eu acredito que esse nicho ai ainda tem muito a explorar. Se eu parar, talvez o meu funcionário, ele continue, assim, pra mim, ele continue, eu parando, ele assume a minha parte, assim espero, né, espero que ele queira.

P/1 – E bom, pra finalizar agora, depois de tantos anos no comércio, o que você acha que você aprendeu para a sua vida pessoal, a partir dessa atividade comercial, o que você levou pra outras coisas na sua vida?

R – Olha, eu graças a Deus, eu sou um comerciante, eu sou dono de loja, eu fiz o que eu fiz. Eu… graças a minhas atividades, essas atividades, eu conheci os meus ídolos, eu trabalhei com eles, eu conheci gente, eu pude conhecer a mais profundamente o que eu gostava, os desenhos, tudo que… na verdade, eu sou um privilegiado, eu trabalho, eu sempre trabalhei com o que eu gosto, música, cinema, desenho, essa parte de cultura, assim, eu trabalhei assim, eu não posso assim, da minha vida, assim, tudo o que aconteceu na minha vida, assim, nessa área assim, eu tenho que dar graças a Deus, porque foi muito bom.

P/1 – E qual que é o seu grande sonho hoje, não precisa ser no comércio, mas o seu sonho na sua vida agora, qual que é?

R – Bem eu sou um bon vivant, né, então, o que eu gostaria hoje é de ter mais tempo para aproveitar a vida, né, eu gosto de restaurantes bons, eu gosto de pescar e eu gosto de viajar, então, meu sonho hoje é ter uma lancha de 22 pés para sair para pescar, para passear; tempo, precisa de tempo para viajar, pra conhecer lugares novos e saúde para ajudar os meus filhos a se formarem.

P/1 – E tem alguma coisa que a gente não abordou nessa entrevista que você gostaria de deixar registrado, que você gostaria de falar, que é importante?

R – Eu acho que ficou legal, que tudo que se mexe, fica um pouco comprido demais, não sei (risos), deve ser até meio… é que vocês estão acostumados, eu não sei (risos), pra mim foi tranquilo, foi legal, eu não tenho nada a mais que colocar. Tem mais coisas da minha vida que eu não abordei, mas aí eu acho que é demais, eu acho (risos).

P/1 – Então, pra finalizar, o que você achou de ter participado, de ter deixado um registro da sua vida, uma parte dela pelo menos, né, da sua vida aqui pra gente?

R – Ah, eu… assim, quando fui convidado para fazer entrevista, pensei que era outra coisa, assim, né, uma coisa mais especifica no anime, né, não ser da minha vida, né, muitas coisas que eu falei assim, pode ter algum erro assim, de tempo, assim, mas foi legal assim a entrevista, eu acho que assim, eu consegui também relembrar muita coisa que eu tinha deixado passar, né? Foi muito bom.

P/1 – Então, em nome do Museu da Pessoa e do SESC São Paulo, a gente agradece muito a sua participação, muito obrigado.

R – Obrigado você.