Museu da Pessoa

Mizo: o menino do esporte e da ADC Eletropaulo

autoria: Museu da Pessoa personagem: Edival Epitácio de Carvalho

Projeto: ADC Eletropaulo
Entrevistado por: Katia Maria de Franciscni e Manoel Gianoli
Depoimento de: Edival Epitácio de Carvalho
Local: São Paulo
Data: 22/09/1994
Realização:

Instituto Museu da Pessoa
Código: ADC_HV012
Revisado por: Brígida Veiga Batista


P -

A gente começa a entrevista pela identificação, local, data de nascimento.


R - Meu nome é

Edival

Epitácio de Carvalho, nasci no dia 29 de julho de 1950. Meu pai, Epitácio Filomeno de Carvalho e minha mãe Petrolila Pereira de Carvalho. Nasci na cidade de Paulistana e devo ter ficado em Paulistana de 1950 a 1954. Posteriormente nós mudamos pra São Paulo, eu praticamente não tenho muitas grandes

lembranças do Piauí, porque eu era muito pequeno nessa época. Como eu era o caçula da casa, não lembro de muita coisa. A única coisa que eu lembro é essa cicatriz que eu tenho aqui na... [risos] que eu tenho aqui, que eu levei de um bode. Meus irmãos mexeram com o animal e ele acabou me acertando. Nós viemos pra São Paulo, meus pais trabalhavam na lavoura, eles tinham roças, vieram tentar a vida em São Paulo. Naquela época as pessoas saíam de suas terras e vinham batalhar primeiro pra depois trazer os filhos. E nós viemos nessa segunda etapa. Foi um trabalho gradativo, cansativo, e meu pai conseguiu comprar uma casinha, e a gente foi morando, ele foi batalhando, até depois ele conseguiu fazer outra casa na Vila Ede e nós mudamos pra lá. A infância que eu tive na Vila Gustavo, praticamente fomos

um dos

fundadores do bairro, só tinha chácaras lá, a gente passava praticamente o dia inteiro na rua, jogando bola, era o favorito jogar futebol o dia inteiro, e brincar naquelas chácaras que tinha na Vila Gustavo. Depois fomos pra Vila Ede. A Vila Ede é um bairro um pouco mais formado, e também era a mesma coisa. Tinha os campinhos da vida lá que a gente passava praticamente o dia inteiro jogando bola. Minha mãe... Às vezes nem me localizava, porque eu ficava o dia inteiro na rua, ela chamava pra almoçar, eu não ia pra almoçar, só jantar. Esse era o cotidiano. A gente sempre teve grandes amigos, o esporte

sempre fez com que esse círculo de amizade aumentasse, e tinha os bailes também que a gente participava com os amigos. Saíamos pros bailes à noite. E os bailes antigamente era...A preocupação realmente era de dançar. O pessoal dançava bem, praticamente os bailes eram pro pessoal realmente de fato usufruir

dos eventos. Normalmente eram os bailinhos dos amigos, aniversários, batizados, festinha dos amigos. A gente sempre tinha aquela turminha que saía pra passear. Agora, quanto aos estudos, eu comecei a estudar cedo, trabalhar cedo logo com 14 anos, sempre procurei me dedicar no trabalho e na escola também. O esporte sempre esteve ligado a minha vida, participei de vários torneios, quando estava na escola do SENAI [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Artes Gráficas].

Depois quando eu fui pra escola Santinelli também participei de vários torneios, várias equipes que eram formadas no Santinelli, depois fui trabalhar na gráfica (Bignardi?) aos 14 anos. Lá também tinha uma equipe de futebol de campo que nós também participávamos de várias competições a nível de torneio dos gráficos. Fui batalhando, fiz SENAI, acabei me formando, na escola SENAI de Artes Gráficas, de encadernador, uma profissão onde pode se dizer que não se ganha muito bem, mas o prazer de fazer, de encadernar, de estar com os livros é uma coisa muito grande. Aí entrei para a Eletropaulo na década de 1970, comecei na década de 1970 a trabalhar na Seção de Cópias, que antigamente tinha o nome Seção de Cópias, iniciei como encadernador F,

onde era praticamente a última classificação do cargo. E aí fui batalhando até chegar a encarregado de serviços gráficos. E a Seção de Cópias também era a mesma coisa. Nós tínhamos uma equipe de futebol de salão, onde praticamente se formava, na época, se formou entre os melhores jogadores que nós tínhamos na Light, tempo da Light. Anterior a isso a gente tinha a equipe da Folha de Pagamento, que era o FOP Futebol Clube, que também era praticamente as mesmas pessoas. Depois é que passamos a formar essa equipe da cópias. Foi formando as seleções, então esses torneios internos dos quais

eu participava, sempre nos sagramos campeões, raras as vezes conseguíamos ter assim o vice-campeonato, mesmo a nível externo participávamos... Assim, estou

citando mais a nível de empresas, de torneios, de eventos, não estou citando a nível federativo, que já é

um grau acima daquilo que a gente fazia.

Estávamos mais ligados aos esportes comunitários. Jogávamos torneios, festivais, participamos de vários eventos externos, onde praticamente a gente ficava assim durante o ano, perdia no máximo três partidas, e a nível interno a gente conseguiu com que a seção de cópias... Nessa temporada ficamos uns oito anos, a gente foi campeão interno de futebol de salão, que era o nosso forte. Futebol de campo já era uma modalidade mais difícil, mais difícil de ser formada. Nós também fomos campeões, mas também já

não era meu esporte favorito. O favorito realmente era o futebol de salão. Nesse período o Takeo já estava em formação, do Grêmio da Administração, que era formado pelo pessoal envolvido no setor Administrativo da Eletropaulo. E nós tínhamos a equipe que praticamente ganhava os torneios. Aí a gente foi... Aos poucos ele fez a proposta no sentido de que fizéssemos uma fusão entre a seção de cópias e o Grêmio Administração. A fusão foi feita, nós continuamos com as equipes que nós tínhamos, só que quando tínhamos que representar a empresa representávamos o Grêmio Administração, que era onde participávamos dos torneios organizados pelas Secretarias de Esportes, Prefeituras, SESI [Serviço Social da Indústria] e tudo o mais. No caso do Grêmio Administração, nós formamos uma diretoria de Esporte, que era formada pelo pessoal da seção de cópias. Essa diretoria de Esporte era que organizava os torneios internos, onde participavam várias departamentos da Eletropaulo. E nós ainda participávamos nesse período da equipe de futebol de salão,

a gente organizava e participava jogando também. E o Grêmio foi crescendo cada vez mais. Nesse período nós praticamente... Era dentro da Empresa o Grêmio... Mais organizado. Nós tínhamos muito mais estrutura, nós tínhamos muito mais apoio da empresa. Nós, nesse período, o máximo que a gente organizava por ano era um Torneio de Futebol de Campo, um de Salão, participava de um Quadrangular no Rio de Janeiro, algumas atividades de excursões, algumas exposições, uma coisa assim bem... Era o máximo pra época, mas hoje a gente começa a ver que é o mínimo [risos]. Então

na época realmente era o máximo que se fazia dentro da empresa. Porque o lazer dentro da empresa ele foi...A empresa foi cedendo no lazer, foi uma coisa gradativa, não nasceu da noite pro dia. Nós funcionários, fomos conquistando esse espaço, onde as pessoas, elas... A gerência... Elas achavam que um funcionário estava ali só pra trabalhar e acabou. Se ele quisesse fazer um lazer, ele que fosse fazer em outro lugar. A empresa não ia ceder investimentos ou espaço pra que se fizesse isso. Então nessa época de 1970, a própria gerência da Light, eles tinham uma formação diferente. Onde o funcionário realmente era só pra trabalhar. E gradativamente fomos quebrando essas barreiras, organizando os eventos, onde

a pessoa participa, setores importantes da empresa, como é o caso da Auditoria, da Presidência, da Comunicação, do Financeiro. Então o próprio esporte ele foi tomando

um corpo diferente. Conseguimos fazer esse trabalho de integração entre

todas as áreas da empresa. Fomos liberando os espaços, gradativamente as verbas

estavam vindo com mais frequência, aí chegou uma época em que realmente o GRA [Grêmio Administração] atingiu um nível muito grande, e nós tínhamos que partir para uma coisa maior, onde nós propomos a formação da Associação. Porque nós éramos

vários grêmios, e todos os grêmios pediam uma verba pra empresa pra fazer as suas atividades, mínimas na época, e a empresa ir liberando. Com a formação

da

Associação,

ficava muito mais fácil

pra própria Eletropaulo administrar. Em vez de

administrar dez, 15, 20, ela ia administrar uma só. E, por outro lado, nós fazendo essa fusão, nos tornaríamos muito mais forte na hora de negociar com a empresa. Juntou-se os

sete grêmios na época, fizemos

a fusão, na qual inicialmente formamos a ACEL [Associação Cultural Esportiva Light]. Nessa primeira diretoria da ACEL eu fui

diretor de esporte, o Takeo foi vice-presidente, então a gente que estava no GRA, nós assumimos a área de esporte, que era justamente o nosso forte. O Takeo acabou saindo, eu continuei... Continuei nessa primeira diretoria, a gente formou aí eu passei a ser o vice-presidente de esportes. Nós começamos a formar realmente as equipes, porque até então não se sabia, não se tinha uma equipe de vôlei feminino. A participação feminina era praticamente nula nos esportes. Começamos a formar as equipes de vôlei feminino, vôlei masculino, futebol de salão, que já tinha, handebol, que era uma modalidade muito difícil, que o pessoal pouco conhecia,

basquete, entendeu? Então começamos a formar essas equipes. Agora a grande dificuldade no início

é que nós não tínhamos funcionários, praticamente os funcionários eram nós mesmos. A gente organizava, ia às competições, carregava o saco, ia de ônibus, ia aos eventos, ficava o dia inteiro, não tinha lanche pra... Então praticamente saía de nós essas despesas. E a participação ela foi de fato crescendo. Nós não tínhamos local, não tínhamos infraestrutura para organizar esses eventos. Tudo que nós tínhamos era alugado, era cedido, era emprestado, era...De alguma forma a gente conseguia. Tanto é que o primeiro treinamento que a gente fez, formando a equipe de vôlei feminino, nós iniciamos, no Sindicato dos Eletricitários, onde é hoje o auditório do sindicato, lá era a nossa quadra. Ela era de assoalho, só que a dimensão ela não se encaixava nem no mínimo de uma quadra de futebol de salão. E lá a gente iniciou de fato um treinamento com as meninas, a gente começou a trazer o Geraldo como professor, ele estava acabando de se formar em Educação Física. Ele começou a trabalhar junto conosco, de uma

forma até voluntária,

porque tínhamos muitos voluntários nessa época, e ele de fato cooperou na formação dessa equipe de vôlei. Posteriormente

conseguimos uma quadra no bairro do Limão, da própria Eletropaulo, onde nós passamos a treinar essas equipes. Uma quadra descoberta, de cimentão, era o máximo que a gente tinha. Lá formou-se a equipe de

vôlei, aí começou a formar a equipe de basquete, a equipe de futebol de salão a gente já tinha, começamos a formar essas equipes. Começamos a participar de jogos externos, onde nós começamos a representar empresas nos Jogos Metropolitanos do Trabalhador, começamos a representar empresas nos Jogos do SESI, então nós tínhamos uma organização que começou a se formar. Nós partimos do zero e começamos a introduzir na empresa os esportes e as competições. E participamos dos Jogos Metropolitanos, Jogos do SESI, a gente sempre procurou representar bem a empresa, a gente tinha praticamente... A gente participava do desfile, o desfile tinha pontuação, sempre ganhávamos o desfile e muita gente, mais de cem funcionários participando, bem vestidos, bem trajados, participávamos também das competições, só não éramos campeões, mas chegamos sempre perto. O salão sempre foi a

modalidade que nós sempre chegávamos próximos dos títulos, mas era muito difícil em relação a outras equipes que participavam dessa modalidade. Normalmente eram 50, 60 equipes, então era difícil ser campeão do futebol de salão. Nos Jogos do SESI, nesse período que eu estava, a gente também participou várias vezes, mas acabou não sendo campeão. Aí a diretoria vai se formando, a coisa vai crescendo, e a gente vai se estruturando mais. E também começamos a

atacar nos jogos de salão. Nós organizávamos os jogos de salão ali no prédio da Brigadeiro, onde tinha jogos de xadrez, dama, pingue-pongue, futebol de botão, tênis de mesa, buraco, praticamente esses jogos de salão a gente fazia no mês de Julho. Eles eram em conjunto com os jogos

interdepartamentais. Os jogos interdepartamentais eram jogos onde nós praticamente reunia a maioria dos departamentos da empresa. Participavam praticamente 32 a 40 departamentos, onde nós tínhamos mais de 12, 15 modalidades. Eram as modalidades de quadra, que era futebol de salão, vôlei, basquete, handebol , atletismo, tudo dentro do masculino e feminino. Nós tínhamos uma participação muito grande nesses esportes. Esses esportes eram organizados no meio do ano, praticamente as férias escolares, a maioria do pessoal não saía de férias da empresa nessa época, então nós tínhamos uma participação realmente muito grande dos funcionários nesses jogos. Os jogos interdepartamentais eles nasceram de uma forma...No sentido de tornar as competições muito mais competitivas entre os departamentos, onde não fosse feito grandes seleções, e ao mesmo tempo

nós...A gente buscava a maior participação dos funcionários. O importante não era formar grandes equipes, o importante era buscar o cara simples lá, que não joga bola, não joga nada, vamos participar, vamos lá, você está representando a sua empresa. Você está representando o seu departamento. E como nós tínhamos a seção de cópias, que não tinha essas regras definidas, então nós tínhamos praticamente os melhores jogadores dessa época, e os outros melhores que tínhamos na empresa sempre gostaria de participar da equipe que

fosse melhor, que tem mais chance de ser campeão. Acabamos modificando, porque a gente achava que se continuássemos com o mesmo sistema, nós íamos formar no máximo três equipes fortes e mais 10, 15 fraquinhas. O objetivo dos jogos não era esse. E a gente quebrou essa barreira, tivemos muita dificuldade de fazer essa modificação, só que pelo outro lado a gente acabou fazendo com que todos os funcionários, a maioria deles, participasse desses jogos, representando o seu departamento, a bandeira é o seu departamento. E ao mesmo tempo a gente estaria divulgando esses departamentos, que até então eram pouco conhecidos na empresa. Então

começou a se destacar esses jogos aí. De repente você vê o regional-centro é campeão dos jogos interdepartamentais. Hoje a gente já vê o time da Informática ser campeão dos jogos

da própria olimpíada, a coisa realmente vai crescendo. Depois dos jogos, a gente teve também vários torneios, por exemplo, tivemos a Copa Jornada nas Estrelas, que era uma copa que envolvia tênis de campo, nós fizemos também

a copa James Crocker, uma copa

que envolvia tênis de campo, depois a gente organizou uma Copa Acel. Copa Acel era um torneio de futebol de salão, Copa Acel, porque na época a gente era na ACEL ainda, por isso que a gente

chamava Copa Acel. Depois a gente acabou organizando a Copa Acel Boys, que nessa época a empresa tinha muitos boys que trabalhavam na empresa, então essa competição envolvia os menores. Era uma copa que realmente pra nós era muito gratificante, porque a gente trabalhava com a garotada da Eletropaulo, que eram os boys, e os próprios garotos

que estavam no SENAI se formando em cursos. Essa competição pra nós era a que realmente dava muito mais retorno, era muito mais bonita de ver, na realidade é isso.


P - Mizo, quando você percebeu que tinha vocação pra organizar eventos, juntar as pessoas, incentivá-las pra participar? Quando foi? Quem influenciou você, foram seus pais, seus irmãos mais velhos? Em que momento você percebeu isso?


R - Eu praticamente

não posso nem dizer que eu fui influenciado por alguém. O que eu posso afirmar é o seguinte: eu desde criança sempre pratiquei esporte, sempre gostei de jogar bola, sempre fiquei na rua, sempre fiz isso. As coisas foram acontecendo gradativamente, elas foram...Eu fui jogando, jogando, jogando, até que chegou uma época que não dava mais, eu não tinha mais condições de

conciliar, a parte de jogar e a parte de organizar. Então eu precisaria me decidir. Continuava jogando ou continuava organizando. Porque as competições elas foram ficando

muito grande. E a nossa responsabilidade como organizador, cada vez mais nós éramos muito mais cobrados pelos funcionários que a organização fosse eficaz. Quem trabalhou na área de esporte sabe muito bem que essa é uma área que tem que trabalhar com erro zero. É como se fosse uma folha de pagamento. A gente não pode errar. Você errou, você estraga uma competição, vai ser cobrado desse erro, então não dava para eu conciliar as duas coisas. Jogar futebol de salão e participar de torneio representando meu setor de trabalho. Porque você dentro da organização você depende muito de informação, porque são sorteios que são feitos, tabelas elaboradas, são datas, locais, então pra deixar a isenção em relação à organização, eu preferi me retirar da parte de esporte, ficar só na parte de organização, porque aí os próprios funcionários eles não poderiam cobrar de mim que eu estaria favorecendo minha equipe ou a equipe A, B, C e D, mesmo que eu não tivesse participando, já teve situações, por exemplo, da gente “tá” participando lá, organizando um torneio de futebol de campo na Usina Piratininga, e um funcionário falou: "Não, você está favorecendo a equipe de Cópias". Eu já saí fora da competição justamente pra evitar esse tipo de comentário, porque é difícil. Você pega as competições hoje, ela não está num campo recreativo, como estava anteriormente. As competições hoje realmente seguem as regras das federações, então a própria rigidez que existe numa competição

a nível de federação, existe numa competição interna hoje. A competição é muito grande, tanto é que a gente vê frequentemente

equipes ganharem no tapetão, porque a outra equipe infringiu o regulamento. Nós já tivemos casos, por exemplo, de formarmos uma junta disciplinar, pra julgar esses casos de irregularidades, nós já tivemos casos que

advogados representaram a equipe no julgamento. Então você imagine o nível de competitividade que tornou os eventos internos. Não é lá, vou julgar a equipe A, B, C, D que teve problema. Vai lá o representante, tal, não. Os caras

debulham o regulamento. A responsabilidade de estar nessa área é muito grande. Eu fiquei seis anos na área de esporte, é uma área muito difícil. E você tem que trabalhar sábado, domingo, feriado, você não tem família, praticamente você não tem família, isso aí você pode ter certeza. Você tem que se dedicar. Tem que ir. Quantas vezes, por exemplo, a gente saía de casa às seis horas, vinha pro CERET [Centro Esportivo, Recreativo e Educativo do Trabalhador] acompanhar um futebol de salão, como a gente era o organizador e até o representante, porque

nós não tínhamos praticamente um representante nessa época. Você fica acompanhando jogos das oito até às 17 horas, você não tem nenhum substituto pra você sair e ir ao banheiro, tomar um lanche, e sem contar a própria responsabilidade de conduzir o evento, seguir dentro do cronograma que foi previsto naquele dia, com os horários tudo encaixado no outro,

a competição rolando, e o pessoal... Normalmente o juiz é o que mais sofre, porque tudo o que juiz apita, o juiz apitou já está errado, só o fato dele apitar, e chega determinados momentos, que a competição tem que ter vencedor, e aí a guerra continua. E a competição vai pros pênaltis, então a pressão em cima do juiz, em cima do representante, em cima de todo mundo. Agora, é coisa de muita responsabilidade. A gente vê, por exemplo, hoje. Hoje temos vários vice-presidentes, que depois que eu passei... Que eu saí da área de esporte, vários já passaram por lá,

ficaram um, dois anos. Os próprios diretores da ADC [Associação Desportiva Cultural] eles começam a ter uma opinião diferente no que se refere à área de esporte interna. Porque quando eles estavam fora, achavam que era uma coisa simples. Era só, organizar. A marcação homem a homem em relação aos organizadores e os representantes que são os funcionários é muito grande. Então é uma responsabilidade muito grande na organização. A gente pega, por exemplo, uma olimpíada, que nós estamos organizando hoje, que envolve mais de 15 modalidades, onde tem uma abertura excepcional, onde participa na abertura desde um diretor da empresa, ou presidente da empresa. A representação e a participação é muito grande. Você pega uma abertura você tem uma responsabilidade muito grande, é um evento de duas horas.

Mas você tem que estar tudo cronometrado, tudo de acordo pra que realmente o sucesso do evento já comece numa abertura. E posteriormente é só soltar os jogos, bem organizados, hoje nós temos muito mais condição, porque hoje nós temos um ginásio de esporte no Socorro, que tem condições de organizar, temos várias quadras na

Praia do Sol, que tem condições de participar, temos o campo society , temos estrutura, temos funcionário, temos condições

de organizar melhor. E a gente pega anteriormente, a coisa praticamente era tudo feito na raça. A gente pega o Pelé, por exemplo, o Pelé é nosso roupeiro. Pegava os uniformes lá na Brigadeiro: “Ó, a gente vai ter jogos lá no sete de Setembro de futebol de campo”. Pegava os uniformes, colocava nas costas, pegava o ônibus, e ia para o sete de Setembro. O próprio Pé de Ferro que era o nosso massagista, era um funcionário que trabalhava na usina Piratininga e que

de sábado e domingo dava essa contribuição pra nós, como massagista. O Pelé era um funcionário da Medição, de sábado e domingo dava essa contribuição pra nós também no que se refere a parte de levar uniforme, de providenciar a lavagem deles, e tudo o mais. Então, a gente trabalhava com quê? Todos eram abnegados. Os próprios diretores que nós tínhamos, por exemplo, cada modalidade nós tínhamos um diretor. Nós tínhamos um diretor de futebol de salão, futebol de campo, de vôlei, de basquete. Essas pessoas, elas eram responsáveis pela modalidade. Ao mesmo tempo, eles eram pessoas abnegadas, porque realmente iam dar sua contribuição porque eles gostavam daquilo, e continuam gostando até hoje. Narciso era uma pessoa que realmente dentro da área de futebol de campo...Narciso, Orlando Rodrigues foram pessoas que contribuíram muito, deram uma contribuição muito grande, porque eles participavam, organizavam, formavam seleções, saía pra jogar em vários torneios externos. A

equipe de futebol de campo que nós tínhamos a nível de competição ela era muito forte, porque a Eletropaulo ela sempre teve bons jogadores de futebol de campo. A gente participava desses torneio, tinha os torneios intersindicais, desenvolvidos pelos sindicatos, também a gente ia...Tinha uma equipe muito forte de futebol de campo. E o campo realmente é uma modalidade que é muito prazerosa, porque cada modalidade tem o seu público e seus jogadores com características próprias. O campo é aquele pessoal alegre, divertido, aquele pessoal sincero, se tiver que falar que o cara é um perna-de-pau ele fala: "Olha, você é muito ruim, você não tem condições"; e já chuta o balde logo e...Eu sempre gosto de...Sempre gostei de... Por exemplo, de estar participando,

por exemplo, do futebol de campo, organizando as competições, porque o pessoal é muito legal. A gente tinha uma

competição no Sete de Setembro, que a gente fazia campeonatos lá, começava tipo oito e meia até umas 13 horas lá. Aí acabava o jogo, todo o mundo ia pro bar do Serginho lá, tomar sua cervejinha, aí todo mundo contava sua vantagem, as brigas que nós tínhamos, que acontecia durante a competição, um chutava o outro, corria, xingava a mãe, queria bater no juiz, né, o único problema do campo é que no campo quando o cara entra naquelas quatro linhas, a pessoa se transforma vira, um leão, ele vira, às vezes um funcionário simples, pacato, que trabalha dia inteiro na sua mesa de escritório, e quando ele veste aquele uniforme, que está dentro das quatro linhas, ele se transforma. A gente

teve algumas briguinhas lá que os caras ficavam meio nervosos , mas depois a grande diferença era tirada no bar do lado e ali não tinham vencidos, vencedores, todo mundo era amigo, né. E então pra gente era gratificante, porque o pessoal era muito unido,

muito legal o pessoal de futebol de campo. A gente tinha o Babalu, o Luizinho, o Wagner, tínhamos um pessoal bom, que nos ajudava muito nessa modalidade de futebol de campo. O vôlei pra nós foi gratificante porque nós não tínhamos na empresa a formação de equipes femininas. Formar uma equipe feminina na empresa era uma coisa assim do além, era coisa do outro mundo, era coisa impossível. E a gente conseguiu fazer um trabalho, onde tivemos uma participação muito grande dessas meninas nos treinamentos, nos campeonatos internos. Então onde tinha a Madalena, a Nancy, tinha várias

pessoas que colaboraram conosco na organização, pra que de fato a modalidade fosse pra frente. E a gente era só ponta, as pessoas que realmente empurravam essa modalidade pra frente, faziam acontecer, corriam atrás das coisas que precisariam ser providenciadas, então praticamente as coisas foram crescendo porque as pessoas quiseram que elas crescessem, não fomos nós que fizemos isso. A gente tinha várias pessoas que se dedicavam a isso. No handebol nós tínhamos um técnico que era o Ferreira. O handebol era uma modalidade muito difícil, porque realmente ela

tem um pessoal muito específico, que participa, normalmente um pessoal com nível universitário. Então era difícil a gente formar essa equipe, mas o Ferreira

foi um técnico que realmente conseguiu cativar essas pessoas, formar essa equipe, participar de torneios, grandes torneios a nível de Guarulhos, a nível de jogos interno. O handebol também teve uma participação

muito grande, porque a gente tinha uma equipe muito gostosa, muito unida, o pessoal realmente de fato vinha, participava e tudo mais. Na área do basquete, nós formamos uma equipe de basquete masculina, a feminina realmente foi mais difícil

de formar, o pessoal não tinha muita caída para o basquete feminino, mas o basquete masculino a gente formou uma equipe muito boa, que até hoje o pessoal participa dos jogos do SESI, praticamente a base da equipe é a mesma. A equipe existe porque as pessoas quiseram que ela existisse.

Formou-se um grupo onde são... São vários amigos, onde a maioria deles nem participa mais de competições externas, eles estão nessa equipe porque existe um grupo de amigos, vão participar do SESI, e normalmente ou eles são campeões ou são vice-campeões. Temos uma equipe muito boa nessa área de

basquete. No tênis de mesa também conseguimos formar equipes boas, onde a Miriam conseguiu

ganhar vários torneios de tênis de mesa a nível de jogos do SESI, e temos o Pimentão também que foi grande destaque dos jogos do SESI, foi campeão várias vezes. E dentro do esporte conseguimos organizar vários eventos, várias seleções, então

isso foi praticamente crescendo, nas regionais. Porque a ADC Eletropaulo ela organiza os torneios onde participam vários departamentos, e consequentemente acaba participando também as regionais. É o caso da olimpíada, que é o evento maior, que a gente já tem várias participações com o pessoal de Sorocaba, norte, nordeste, Jundiaí. Várias cidades têm participado desse evento, porque ele é o maior evento que a associação organiza, onde nós temos a maior participação dos funcionários, ele é feito de dois em dois anos, ele representa muito pra empresa, e representa muito pra nós. O único problema é que a gente não tem ainda toda a infraestrutura necessária pra fazer esse evento na nossa sede social. Está faltando campo, que a gente depende de um aterro, estamos cobrindo mais duas quadras, que vai servir também pra organizar este torneio, tênis já tem, e a pista de atletismo também está ligada muito também ao campo. As competições elas vão acontecendo, a gente vai fazendo, aí chegou uma época que realmente

eu tive que dar uma modificada. Eu tive que dar uma modificada não, me cobraram que

realmente eu mudasse um pouco de área, aí praticamente eu passei a ser o vice-presidente da Associação, onde na época eu saí do esporte, entrou o Davilson como vice de esporte, comecei um trabalho diferente, saindo da área de esporte, entrei mais na parte de planejamento, da administração do clube. Saí de um universo onde nós estávamos muito ligado à área central. Começamos fazer um trabalho, onde gradativamente nós íamos, ia se formando as regionais

para que a ADC não ficasse só no foco central, na capital. Aí a gente conseguiu, gradativamente foi comprando as áreas, os grupos já foram se formando, por exemplo, vamos pegar um exemplo de Sorocaba. Sorocaba nós tínhamos a ADC Sorocaba, onde o máximo que eles tinham lá era uma sede alugada, eles faziam seus torneios, seus eventos, nós conseguimos fazer um ginásio de esporte numa área de comodato da empresa. Praticamente a ADC Sorocaba hoje tem uma estrutura

que dá pra fazer eventos, uma área dela dá para organizar suas reuniões, suas participações sociais e tudo mais, e assim foi formando vários núcleos

em toda a área de concessão da empresa. Essas formações elas se dão justamente pela vontade das pessoas nas regionais. A ADC não vai sair da capital, e pegar, por exemplo, uma regional, e formar um clube pra eles da noite pro dia. Todo o trabalho ele vem de baixo. As pessoas querem fazer, as pessoas se organizam, se dedicam, e acaba fazendo e tendo. Isso aconteceu em todas as regionais que teve essa vontade, essa vontade de fazer, todas conseguiram crescer em curto espaço de tempo, porque à medida que um funcionário tenha vontade, chefias locais dão essa cooperação pra que os funcionários formem de fato suas... Os seus grupos, que formem suas atividades, automaticamente quem vai ganhar é todo o mundo. Ganha o funcionário que participa do evento, ganha o gerente do setor, onde ele está integrando e integrado aos seus

funcionários, o número de atrito entre eles vai diminuir, porque você sabe que, numa competição, a gente tira todas as nossas diferenças. Às vezes até coisas que nós não falaríamos pra nosso chefe, na seção, lá na competição a gente fala. A gente tira essa diferença e acaba ganhando muito, porque acabamos sendo muito mais amigo das pessoas. A gente começa tornar-se muito mais humano, muito mais flexível, saímos daquela dureza de dirigir um setor, onde só cumprimos norma, a gente é uma pessoa dura, sempre procurando só ver um lado, temos que ver que o outro lado também existe, consequentemente esse funcionário vai te produzir muito mais, ele vai dar muito mais retorno pra empresa. É um investimento que se faz? É um investimento que se faz. O retorno pra empresa ele

é muito grande. Você vê hoje a ADC, hoje praticamente temos 22 regionais em condições de receber associados de vários locais, e ao mesmo tempo fazer suas atividades. Temos mais umas seis ou sete áreas onde tá em fase ainda de formação, são terrenos que ainda está...O pessoal ainda está se mexendo, está se fazendo mutirão, vamos fazer uma quadra, um campo, um quiosque pra fazer nosso churrasco, nossas confraternizações. E ao mesmo tempo a gente já tem cobranças, por exemplo, de que a Praia do Sol está centralizada na zona Sul, na zona Leste, nós temos uma área na zona Leste, hoje, por exemplo, já se cobra, por exemplo, no sentido que a gente adquiriu uma área na zona Norte. Então, a tendência do clube, é realmente atender... Ficar muito mais próximo de todos funcionários, porque a distância entre norte e sul aqui em São Paulo é muito grande, não é que nem cidade do interior, que todos são próximos de todos. Então, consequentemente, o trabalho que estamos fazendo é um trabalho a médio e longo prazo, não se forma um clube, por exemplo, em 16 anos. Normalmente os clubes que a gente vê hoje, por exemplo, que está formado, estruturado, hoje ele tem mais de 50 anos. Nós temos a certeza que o trabalho que estamos fazendo não é nem pra nós, é pra gerações que estão vindo aí, que vai ter já uma estrutura mínima pra poder dar continuidade. É um trabalho de várias gerações, que tem que batalhar no sentido de que, de fato, o lazer dentro da empresa seja uma coisa conquistada, não foi nada dado pra nós, nada caiu do céu, alguém teve que ser sacrificado, alguém teve que sacrificar sua família, alguém teve que sacrificar seu estudo, alguém teve que fazer alguma coisa. Então o trabalho que vai e ele tem que ficar, e as gerações futuras têm que dar continuidade a esse trabalho, porque realmente

é uma coisa nossa, é uma coisa dos funcionários da empresa. Nós conquistamos isso, nós compramos isso.


P- Como é que era e como é que é hoje a relação da empresa com o clube?


R - Hoje podemos dizer que

a gente tá no céu, porque antes nós éramos diretor da associação, no tempo da ACEL, onde nós trabalhávamos

integralmente nos seus setores de trabalho, e acabávamos despachando na ACEL à noite, então a gente saía da Eletropaulo, da Light às cinco horas e íamos pra ACEL,

ficávamos até oito ou nove horas despachando e fazendo nossas atividades. Nesse período, praticamente nós não tínhamos funcionários, tínhamos, no máximo, um funcionário. Hoje a gente está com quase 200 funcionários. Então todo o trabalho era feito por nós mesmo. O que acontecia nessa época era o seguinte, por exemplo, nós estávamos organizando um torneio de futebol de salão, as pessoas ligavam pra nós no local de trabalho: "Ó, quando vai ser onde vai ser, porque que vai ser, quando vai ser meu jogo?" Então isso foi de fato incomodando as chefias, porque de repente você começa a receber muito mais telefones do que o seu chefe, ele fica um pouco enciumado, alguma coisa tá acontecendo, né? E nós não tínhamos como desvencilhar disso, porque a pessoa queria falar com quem estava organizando, e tinha que ligar para aquele telefone. Eu tinha um telefone lá, que era o 515 lá da seção de cópias que tocava o dia inteiro. Mas aos poucos a chefia foi entendendo, ela foi sendo muito mais branda, vendo que realmente o nosso trabalho era importante, então ele foi crescendo

de tal maneira que não tinha como brecarem esse crescimento da Associação. A própria formação

da gerência da empresa elas tinham uma formação diferente

em relação à lazer. Eles colocavam barreiras, colocavam dificuldades, porque a época era aquilo. Não adianta a gente querer fazer o que a gente

faz hoje em 1970. A época era assim, as formações das gerências eram isso, as pessoas só viam o lado da empresa. Hoje, se a gente vê os gerentes

de hoje, por exemplo, da década de 1990, eles já acham que a integração esporte/lazer/empresa tem que ter. O esporte ele passa a ser a continuidade da empresa. No esporte você é você, você

não é um chefe, você não tem nada ali. Você é uma pessoa

pô. Então a própria formação das gerências, dos administradores, eles foram se modificando, foram se adequando ao tempo. Então, a gente vê, por exemplo, a gente tem novos diretores regionais, eles ainda encontram uma certa dificuldade para tocar a sua atividade para o funcionário. Mas ela praticamente é insignificante em relação ao que nós passamos, praticamente a gente era proibido de receber telefonema, de receber os amigos, de fazer contato, porque a formação é aquela, nós estávamos lá pra trabalhar e acabou. Só que o avanço da ADC foi tão grande que chegou um momento que não tinha mais como brecar, porque a gerência entendia de uma forma, a presidência da empresa entendia de outra. As presidências sempre foram acessíveis a essa situação do lazer. Eles entendiam de forma diferente. As chefias vendo que a presidência da empresa entendia o lazer, encarava o lazer de uma forma diferente, eles também foram se modificando, foram se modificando e as coisas foram se facilitando, onde hoje praticamente as barreiras são nulas. A gente vê hoje que se a gente pegar uma regional que como a regional Leste, onde hoje praticamente eles têm um clube dentro da empresa. Eles os administradores planejaram centralizar toda a administração num prédio só, e dentro desse planejamento estava previsto fazer um ginásio de esporte, fazer um campo society, um espaço físico onde a ADC Eletropaulo pudesse ter o seu escritório, atender o associado, organizar os seus campeonatos, onde as chefias podem de fato jogar seu tênis. Hoje a formação é diferente. Se a gente fosse pensar em 1970, fazer um clube dentro da empresa, era coisa de louco. Ninguém iria de fato entender isso. Hoje, a gente já vê, por exemplo, vários espaços físicos dentro da empresa, sendo feito quadras, nós temos uma área em Indaiatuba, que nós temos uma ________ na frente e temos uma área vaga atrás. Hoje que que tem no fundo? É área da empresa. Tem uma quadra de esporte, uma área de churrasco, o cara sai da seção, já faz sua atividade ali do lado. As gerências estão entendendo de forma diferente. Então isso está facilitando os trabalhos dos nossos diretores onde que a atividade, o lazer, ele possa de fato avançar a passos muito mais largos do que a gente passou no começo.


P - Como se deu a assinatura do comodato da Praia do Sol? Conta pra nós. Você participou disso?


R - É, assinatura realmente foi um trabalho muito longo, porque nós... A gente viu o seguinte. Nós éramos um clube dos funcionários, clube entre aspas. A gente era a ADC dos funcionários, onde nós não tínhamos um espaço físico, onde de fato pudéssemos concentrar as nossas atividades. Então, por exemplo, você queria organizar um festival

sócio-esportivo, você tinha que ir lá no CERET, onde o Oswaldinho era nosso amigo, sempre facilitou, então a gente organizava

direto eventos lá. Aí começou a batalha pra que tivéssemos uma área. E de repente você vê, numa represa Guarapiranga, vários clubes, que ficam margeando, que foram formados às margens da represa, uma área

que é da Eletropaulo, é área de comodato da Eletropaulo. Hoje você vê o Itaúclube, o Clube São Paulo, você vê vários clubes onde a empresa deu comodato pra eles. nós, a gente na Xavier de Toledo, não tinha nada. Aí começou essa batalha no sentido de que conseguíssemos esse comodato. Essa batalha pra liberação do comodato acho que durou mais de 10 anos. Foram vários gabinetes que a gente passou... Porque o problema

da liberação era praticamente o problema do pai da criança. Todo mundo queria ser o pai da criança que conseguiu o comodato. O que acontecia? Quando tinha algum setor que tivesse próximo a receber o comodato, os outros trabalhavam por trás no sentido que não saísse

o comodato. Essa briga política interna durou muito tempo. As dificuldades de fato eram essas. A empresa queria dar a área pra nós, só que precisaria ser aterrada a área, porque realmente ela fica às margens da represa, ia gastar muito com aterro, até que o Takeo de fato conseguiu parar essas arestas, dar uma parada nessas arestas,

aí a área acabou saindo pra ADC Eletropaulo, com o Sérgio Motta. O Sérgio Motta foi um administrador da empresa foi presidente da Eletropaulo, onde a ADC, de fato, conseguiu ter o seu maior avanço. Ele tinha muita preocupação com esse lado social do funcionário, aí saiu com um comodato pra nós, tanto é que no comodato nós...A gente... Nós fizemos um evento

lá no CERET, pra a assinatura do comodato, onde nós reunimos ali no CERET mais de 10 mil funcionários. Foi um evento muito grande, foi um evento onde teve atividade esportiva, churrasco, chope, e tudo o mais. E depois na... Depois na assinatura... Depois nós fizemos um evento onde foi na Praia do Sol de fato, para o lançamento da pedra fundamental, e nesse evento também foi um evento muito grande, onde todas as regionais participaram, foi um evento assim de

ficar superlotado, na casa de 10 mil pessoas também teve nesse evento, vieram mais de 80 ônibus das regionais

pra participar desse evento. E nós fizemos, nesse evento...O Montoro participou, desceu de helicóptero, nessa época ele era governador, participou do evento, nós fizemos o evento e a gente não tinha nada, a gente só tinha a área. Tudo foi adaptado, era água, esgoto, banheiro. Tudo foi montado pra que realmente de fato fosse

feito um grande evento para os funcionários.


P- Para começar a terminar, atualmente você mora com quem? Como é constituída a sua família?


R- Atualmente eu sou um homem casado, estou num clube dos homens sérios, e tenho esposa e dois filhos. Um chama... Minha esposa... Mara Conceição Simões de Carvalho, Igor Simões de Carvalho e Alex Simões de Carvalho. São os meus dois hominho, que me traz muita alegria. A gente participa muito junto, a gente praticamente é o papai... Papai coruja, né, que sempre está do lado dos filhos, sempre protegendo, dando aquela força, e meus

filhos realmente... Estão na escola, na escolinha, gostam muito de praticar esporte, a gente sempre procura incentivá-los a fazer alguma coisa, independente de ser basquete, hand, vôlei, o que ele gostar tudo bem, o importante de fato é participar, estar jogando, formando novos amigos. O esporte de fato vai contribuir muito pra essa formação deles. Eles realmente estão numa fase ainda de cinco, seis anos, estão numa fase ainda muito pequenos. Hoje o que eles querem realmente é brincar, é se divertir, a gente quer que eles de fato façam isso mesmo, aproveitar a vida

enquanto dá, depois, que começar os problemas, aí realmente esse lado de despreocupação acaba se modificando, mas hoje realmente eles estão numa boa, estão se divertindo bastante.


P - E a Mara? Quando você conheceu ela, como foi o....[risos]


R - A Mara a gente já conhecia, porque nós éramos amigos de rua, mas era assim, aqueles amigo de rua, tal, ia nos bailinhos, o pessoal achava que eu era meio fresco, não sei se eu era mesmo [risos], eu nunca cheguei a essa conclusão. A gente participava, tinha amizade, mas nunca chegamos a namorar. Eu namorei... Já namorei com todas as amigas dela menos com ela. Aí um belo dia nós tivemos um evento na Usina Piratininga, que a gente estava organizando um evento lá da Light, e o tio dela trabalhava na Light. E ela acabou indo no evento com a tia dela. Já estava na fase dos seus trinta e... Vinte oito anos, aquelas fases que a gente está: ou eu caso ou eu não caso mais [risos]. A gente foi assim, maneiro, saía uma vez por semana, tal, você curte a sua, eu curto a minha, vou tocando. Aí... Só que a coisa foi começando a esquentar, foi começando a ficar mais forte, a relação começou a ficar muito maior. A gente começou já a sair praticamente de segunda a segunda, aí começa a cobrança da família, você precisa se decidir, se vai pra lá, vai para cá, você precisa casar, vai separar, e aí a gente decidiu casar, de fato casar com a estrutura mínima, porque a gente tinha uma casa dos pais, onde a gente procurou reformar, e casar e já ter um lar pra que realmente os problemas fossem menores. E estamos lá juntos até hoje, cada um procurando fazer o melhor de si pra que o casal realmente tenha um progresso, tanto no campo material, como no campo financeiro, como no campo espiritual. E a gente está aí, até hoje, muito bem, sem separação, sem nada.


P - Pra terminar, você tem algum sonho?


R - É difícil, né, sonho... Se eu lhe disser que...Sonhos são poucos sonhos, porque a gente vive o dia a dia praticamente, por exemplo, você tem hoje no meu caso, por exemplo, hoje estou respondendo pela presidência da ADC Eletropaulo, é difícil porque

praticamente você trabalha sete/zero, você tem uma responsabilidade muito grande, a tensão diária é muito grande, mas o que a gente de fato espera é que

esse trabalho que a gente iniciou não seja em vão, que ele continue, e que as futuras diretorias que vier... Vierem, consiga fazer um trabalho até 10 vezes melhor do que o nosso. Que o trabalho nosso seja realmente o começo de um grande trabalho, porque se a gente começar, se a gente deslumbrar, o tamanho da Associação hoje, as áreas que nós temos, a possibilidade de crescimento é muito grande, a gente consegue enxergar um horizonte na frente, onde a ADC Eletropaulo ela vai ter condições de ser um dos maiores clubes do Brasil, porque são poucos os clubes que têm a formação e a característica do nosso. Normalmente a gente vê um clube, um Corinthians ou Palmeiras, tem no máximo duas sedes. Bem formadas? Bem formada, mas centralizadas. O que a gente está fazendo são várias sedes descentralizadas, da mesma forma que a Praia do Sol tem 90 metros quadrados, a gente tem uma área de Mogi de 170 mil metros quadrados, com possibilidade de crescimento muito grande. Da mesma forma que o trabalho que a gente iniciou em 1970 foi um trabalho de grão em grão, de formação, de fato colocar a alma acima de tudo. Achamos que tem condições de que o trabalho que a gente está deixando, que estamos fazendo, ele seja praticamente um grão, um passo que nós demos, que as gerações

futuras de fato possa fazer, dois, três, 10, 15, 20 passos maiores que o nosso. Quem vai ganhar somos todos nós, todos os funcionários, as gerações futuras, a empresa vai de fato encarar a ADC de uma forma diferente,

vai ver que realmente a ADC passa a ser um departamento da própria Eletropaulo, onde

o lazer realmente... E as próprias

gerações

vão se formando, e as mentalidades vão se modificando, até chegar uma época de que

o lazer, a atividade, ela vai estar integrada ao trabalho. Porque se a gente analisar, por exemplo, a nossa vida como brasileiro, a gente vem aqui só pra trabalhar, a gente...Se a gente pegar o salário nosso, no final do mês, a gente só paga imposto, só pagamos imposto, e mesmo assim, conseguimos ainda fazer alguns milagres, de formar família, educar, ter sua casa, então tudo isso aí a gente vê que modificar isso, isso tem que ser modificado. Vai chegar uma época que talvez a própria geração, por exemplo, vai trabalhar três, quatro horas por dia e acabou, o resto ele vai usufruir, ele tem que usufruir dessa vida, ele só tem uma vida. Tem que modificar isso, a gente não tem que ser mais é burro de carga, de trabalhar 12, 14, 16 horas e morrer

e não fazer nada, pô, entendeu? Vemos que realmente na área de administração, existe essa possibilidade de modificar, de formar novas mentalidades, onde o trabalho é importante, mas não é acima de tudo. Existe uma pessoa atrás disso. Essa pessoa tem que usufruir, tem que viver, tem que viver sua família, ele tem que de fato aproveitar dessa vida. Vemos realmente as tendências sendo modificadas. Hoje já vemos na empresa, por exemplo, os funcionários hoje estão se preocupando mais com o bem-estar da sua família, ele está se modificando, ele está se transferindo para os interiores da empresa, porque realmente no interior onde...Ele vai usufruir muito mais da vida, a sua família vai usufruir muito mais, ele está saindo dessa loucura que se chama São Paulo. As pessoas, as mentalidades, vão se modificando, a coisa vai se ajustando. Vai demorar um pouquinho, mas a gente tem certeza que uma hora ainda vai acontecer.


P - Mizo, obrigado pela entrevista.


R- Eu que agradeço vocês de ter... Não sei se atendi os...