Museu da Pessoa

Histórias da DMAN

autoria: Museu da Pessoa personagem: Anderson Ribeiro Campos

Entrevista de: Anderson Ribeiro Campos

Entrevista(o) por: Torigoe/Daniela

27/07/2021

Projeto: Memória de Furnas

FURNAS_HV024

00:00:00
P/1 - Vamos começar então Anderson a primeira pergunta é muito complicada é o seu nome completo, onde você nasceu, e que dia que foi Anderson? Por gentileza então?
R - Meu nome é Anderson Ribeiro Campos, nasci no Rio de Janeiro, no dia 05/07/1974.

00:00:20
P/1 - Anderson, por acaso a tua mãe, teu pai, algum parente seu falou para você como é que foi a sua gestação, como é que foi o dia que você nasceu, seus primeiros dias, você tem essas informações, essas histórias por acaso?
R - Olha, acho que a conversa vai ser bem franca e até divertida, acredito eu, e dramática ao mesmo tempo, porque uma coisa que eu sei é que não era para eu ter sido concebido. Essas histórias de namorado, né? Se junta e faz o que não é certo, e acaba surgindo a minha gestação. Então, se tem uma história que eu sei é que não foi planejado, não era para ter sido, minha mãe era namorada do meu pai, né. O meu pai biológico, eu falo pai biológico porque eu considero que eu tenho dois pais, o que me gerou, que foi o que namorava minha mãe a época, e o que me criou, que foi depois que ela se separou do meu pai, que eu tenho ele como pai e sempre terei. Então o que eu sei é isso, que não era para eu ter sido concebido.

00:01:36
P/1 - Me conta então um pouquinho da sua mãe, qual é o nome inteiro dela, só para registrar?
R -

Minha mãe se chama Kátia Ribeiro Barbosa, e o meu pai Valdemir Campos. Minha mãe é aqui do Rio de Janeiro, e o meu pai é de Goiânia, ele veio tentar a vida aqui no Rio de Janeiro, conheceu minha mãe, começaram a namorar e aí foi a história dos dois.

00:02:11
P/1 - E o que você sabe da família da sua mãe? Você tem, teve contato com seus avós por parte de mãe, como é que é isso?
R - Todos eles, o meu avô, eu conheci os dois. Quando eu me entendi como gente, eles viviam em casa separadas, e eu lembro que eu ia visitar minha avó em Rocha Miranda que é onde ela morava, ela morava sozinha, e o meu avô era onde eu vivia, eu vivia com a minha mãe e o meu avô em Marechal Hermes, que o meu avô foi o meu pai na minha infância, na minha primeira infância vamos dizer assim, porque minha mãe já era separada do meu pai biológico, então se eu tenho uma referência de homem na primeira infância que era quem cuidava, quem me levava para o futebol, me ensinou a andar de bicicleta foi o meu avô. Seu Barbosa, falecido Seu Barbosa era uma pessoa sensacional, dançarino, pé de valsa, e eu conheci os dois sim, meu avô e minha avó.

00:03:32
P/1 - Me conta mais um pouquinho do seu avô, da sua avó por parte de mãe, você falou que seu avô era um pé de valsa, ele trabalhava com o quê? O que ele fazia?
R - Olha, o que eu sei da história do meu avô são alguns pontos. Porque meu avô faleceu, eu devia ter uns 07 anos, eu acho, não, acho que uns 07 anos para 10 anos talvez. Nessa nessa janela aí. Eu sei em termos de história do meu avô que ele era pedreiro, quando eu convivi com ele eu sei que ele trabalhava com obra, era um bom construtor, um bom mestre de obra, mas ele gostava de uma cachaça, então praticamente ele bebia o salário dele, mas era uma pessoa sensacional, de alegre e divertida, eu lembro uma história que minha mãe conta dele é que meu avô no início, no que foi o início das linhas de ônibus no Rio de Janeiro, o meu avô ele tinha, porque não existiam as empresas de ônibus, você possuía um ônibus e você agregava o ônibus as linhas, e o meu avô era proprietário de um ônibus desse, e depois essas pessoas que tinham os ônibus nessas linhas, eles vieram a ser os grandes empresários do ramo de transporte público, Jacob Barata, essa turma toda aqui do Rio de Janeiro, eles são oriundos dessa galera que tinha os ônibus agregado as linhas, só que o meu avô devido a situação dele gostar muito de farra, de dança, de cerveja, de bebida, ele acabou se perdendo nisso e perdeu essa oportunidade, mas são histórias que eu lembro do meu avô, são essas que minha mãe me contava, que ele que ele tinha esse ônibus agregado as linhas, acabou perdendo e depois foi entrar por esse ramo aí de construção civil. A minha avó, as histórias que eu lembro de minha avó é que ela trabalhava no Hospital Salgado Filho, ela era de uma parte de dentro do hospital que cuidava da esterilização de tudo, tipo uma lavanderia, eu acho que é a lavanderia, eu acho que o nome certo é esse, eu lembro que ela cuidava de toda parte de esterilização do hospital, eu acho que não era só roupa na época, que não existia na época da minha da minha avó tanto essa coisa descartável, era muito reaproveitado, as seringas eram esterilizadas para reaproveitar. As seringas não, as ampolas, as vacinas, as injeções, não sei o nome é esse, enfim, então ela trabalhava nessa parte de esterilização de utensílios hospitalares dentro do Salgado Filho toda vida dela, se aposentou ali, é o que eu lembro da minha avó, e lembro da coças também que minha avó me dava.

00:07:07
P/1 - Você lembra bem disso?
R - O, eu não era fácil!
P/1 - O que você fazia e o que ela falava pra você?
R - A minha avó não tinha muita paciência, era ferro e fogo com a minha avó e a gente queria a rua, a gente queria brincar, a criança não para, a criança é ligada no 440 o tempo todo, e o velho já está querendo é paz, tranquilidade, quer ficar quietinho ali, minha mãe trabalhava, minha mãe tinha a vida dela, então de vez em quando ficava com a minha avó e era coça, o couro comia direto. Qual a criança que fica quieta!

00:07:54
P/1 - Me conta uma coisa, você teve então pelo que eu entendi pouco contato com o seu pai biológico, é isso? Você viveu com ele, ou você se lembra?
R - Essa é uma história que Furnas está diretamente ligada por sinal, porque eu não lembrava absolutamente nada do meu pai biológico, absolutamente nada, porque a história que eu sabia era que minha mãe ficou grávida, eu nasci e eles passaram dificuldades aqui no Rio de Janeiro, e meu pai era de Goiânia, morando no Rio de Janeiro sem conhecer ninguém, não teve tantas oportunidades quanto se imaginava, ele optou por voltar para Goiânia já que a família dele era de lá, ele entendeu que teria mais oportunidades estando próximo das pessoas que ele conhecia, e levou minha mãe junto comigo para Goiânia, e lá a vida de casal não é fácil, minha mãe se viu longe, o inverso aconteceu, minha mãe se viu lá longe de todo mundo que ela conhecia daqui, em uma cidade que ela não conhecia nada, com homem que estava tentando a vida dele lá, vivendo a vida dele, um trabalho com as coisas que envolvia ele, ela não se sentiu confortável e veio para o Rio de Janeiro, voltou comigo para o Rio de Janeiro, e nisso ele deixou e também não procurou. Então é aí que a minha história tem uma pausa, isso estou falando eu tinha 01 ano, um ano e meio, era bebê ainda, eu não convivi com o meu pai biológico, e quando eu falo que Furnas entra nessa história, eu lembro que eu já com 38 anos, e hoje eu tenho 47, eu com 38 anos fui escalado por Furnas para fazer um treinamento, que era um treinamento preparatório gerencial, pessoas que estavam se despontando como liderança dentro da empresa, que ela enxergava um potencial para gerenciar, ela selecionou algumas pessoas e mandou para um treinamento em Brasília, junto com as outras empresas, tinha gente da Chesf, Eletronorte, Eletrobras, enfim, toda round estava lá em Brasília, um treinamento de liderança, vamos dizer assim. E era um treinamento que a gente ficava uma semana no mês, durante 03 meses, então se eu não me engano foi maio, junho e julho. Então maio eu fui em uma semana, junho eu fui uma semana e depois terminou em julho mais uma semana, no intervalo entre a segunda ida, ou seja, junho, e a terceira ida eu lá em Brasília, o meu pai biológico conseguiu me achar por conta da internet, Orkut, Facebook na época eu não lembro o que é que tinha na época, eu acho que era Orkut, ele acabou achando e entrou em contato com a minha esposa em casa, e eu já estava em Brasília, aí o que eu fiz? Quando eu voltei para Brasília no mês seguinte, eu já esquematizei tudo, o meu voo que eu partiria de Brasília para o Rio, eu já pedi o meu voo de Goiânia para o Rio, peguei um ônibus em Brasília e fui a Goiânia conhecer. Então eu conheci o meu pai com 38 anos de idade. Foi quando eu conheci meu pai biológico. Antes de ir para Brasília e conhecer meu pai biológico, eu conversei com o meu pai que me criou, que casou com a minha com a minha mãe, sentei com ele falei - pai, eu te amo, você é o meu pai isso não muda nada, só que tem uma parte da minha história que eu não vivi, tem uma parte da minha história que eu não conheço, tem uma parte da minha história até de irmãos que eu não sei, nunca tive contato e que eu me interesso em saber, eu quero conhecer, eu quero ver, eu quero olhar, eu quero entender minhas origens, porque apesar de eu amar o meu pai que me criou, e aí quando eu falar meu pai que me criou, eu não vou falar meu pai que me criou, mas eu vou falar meu pai, quando eu falar pai biológico é o que me gerou, quando eu conheci, quando eu vivi com o meu pai apesar de amá-lo, de respeitá-lo, mas não tinha identificação, eu não pareço com ele é fisicamente, voz, gargalhada, jeito é completamente outro, a gente tem afinidade de sentimento, de carinho, de afeto, de amor, mas me ver nele e ele se ver em mim não existia isso, e eu falei assim, pô eu preciso ver isso da minha origem, e aí foi quando eu escolhi e aceitei conhecer o meu pai biológico e eu fui de Brasília eu fui para Goiânia, conheci ele aos 38 anos de idade. Então, foi um negócio assim, eu vou falar para você, foi uma das experiências mais marcantes da minha vida, foi ter conhecido o meu pai biológico depois de 37 anos, e conhecer, ver meus irmãos, a gargalhada é a mesma, o jeito de falar, foi incrível.

00:13:47
P/1 - Onde vocês marcaram de se encontrar, você e seu pai biológico, e como é que foi o momento de ver ele? Como é que foi esse momento?
R - Olha, eu lembro que o curso terminava umas quatro horas da tarde e eu fui para rodoviária de Brasília e peguei um ônibus, acho que levava umas duas horas até Goiânia. Acho que foram as duas horas mais demoradas que eu tenho lembrança. E eu lembro que eu não conhecia, nem eu conhecia, nem ele me conhecia. Então, o que nós colocamos como referência foi roupa. Eu lembro que ele falou que estaria com uma roupa de cor tal junto com uma pessoa com uma roupa de cor tal, e a mesma coisa eu fiz, também marquei a minha roupa, ele sabia a hora que eu chegaria, o ônibus que eu chegaria, então foi o que a gente fez, mas eu vou te falar, quando o ônibus chegou que eu desci, que eu olhei para as pessoas que estavam na plataforma da estação, da rodoviária, que eu olhei para ele eu sabia que era ele. Porque na época acho que não tinha negócio de WhatsApp, eu acho que não tinha, então a gente não tinha essa coisa de olhar a foto da pessoa antes, era telefone só, na fala, não tinha imagem, mas quando eu desci do ônibus que eu olhei para as pessoas, que eu olhei para aquele cara, É porque era eu cara, esse nariz de batata aqui, ele tinha o nariz de batata, a sobrancelha igual e isso que foi legal para mim sabe? Quando eu olhei para ele eu me vi mais velho, o que não acontece com meu pai, o meu pai quando eu olhei para ele era ele, eu era ele e ele era eu. Então foi muito fácil, não precisaria nem de roupa, nem precisaria marcar roupa nenhuma porque quando nós nos olhamos a coisa foi automática, eu sabia que era ele, ele sabia que era eu, foi muito legal. Eu fiquei em Goiânia durante um dia que virou dois, foi uma noite, eu virei uma noite lá, dormi uma noite na casa dele e conheci meus irmãos, da parte dele eu tenho 03 irmãos e uma irmã, infelizmente a minha irmã eu não conheci, foi até uma coisa muito delicada para mim, porque quando eu cheguei a Goiânia ela tinha saído de Goiânia para uma viagem, ela era arquiteta, ela tinha uma obra em uma cidade vizinha, então ela tinha ido até essa cidade vizinha ver uma obra e eu cheguei a Goiânia, quando eu saí de Goiânia ela voltou, não sei se foi dois, três meses depois ela veio a falecer. Eu não conhecia a minha irmã, foi a única que eu não conheci, os outros três irmãos eu conheci, os três figuras, gaiatos, que é muito a minha cara, a Dani me conhece, sabe como eu sou, a minha família por parte do meu pai biológico, voltando a questão de origem, de entender o jeito, e eu entendi exatamente o meu jeito, a minha personalidade, a minha forma de lidar com a vida, eu entendi de onde veio, porque é todinho a parte do meu pai biológico.

00:18:03
P/1 - Me conta mais então, fiquei curioso aqui, que conversas você teve com o seu pai e que conversas você teve com o seu irmão? Você queria conversar alguma coisa, você tinha uma demanda assim, eu quero conversar isso com meu pai, ou você só queria…?
R - Eu fui eu fui livre, eu não fui para cobrar nada, eu não fui para questionar nada, eu fui para viver o presente, eu não fui focado no passado, e eu sou muito assim Lucas, eu sou muito focado no presente. Acho que o nome presente já diz o que é presente. É um presente viver o presente, estar vivo para mim é um presente, e talvez ao longo da entrevista vocês me entendam, quando eu falei de eu ser cego, o motivo pelo qual eu sou cego, para mim é um presente, eu ter sido entre aspas, abandonado por um pai, criado por outro pai, ter sobrevivido e vivido, e chegar onde eu cheguei é um presente estar presente vivendo o presente, eu não sou um cara que fica olhando o passado e nem fico projetando o futuro. A gente deve planejar, eu planejo, mas eu vivo o presente, vou viver o presente, eu não quero saber do passado, não vou para cobrar nada, eu quero conhecê-lo, quero viver a partir de agora, mas é inevitável que essa conversa acontecesse, eu lembro que a gente foi até o centro de Goiânia em uma clínica que a esposa dele, a Jeneci, esposa do meu pai, meu pai se chama Valdemir e a esposa dele, meu pai biológico é Valdemir e a esposa dele se chama Jeneci, ela tinha uma consulta médica e a gente foi levar ela até essa consulta, e eu me lembro que ela foi para o médico e ficou eu e ele sozinho, foi o momento que ficamos só eu e ele, a gente no centro de Goiânia, eu não lembro qual era a rua, eu só sei que era o centro de Goiânia, aqui no Rio de Janeiro como se fosse a Presidente Vargas ou a Rio Branco, era uma rua movimentada no centro de Goiânia, eu e ele, ele falou tudo que envolvia a vida dele, o pesar dele desses 37 anos de ausência, de não ter compartilhado da minha vida, de não ter vivido a minha vida ainda que longe, mas a gente tenha dividido alguma coisa nesse sentido, e eu lembro que quando ele acabou de falar, dele lamentando tudo, eu também lamentando, estávamos eu e ele abraçado no centro de Goiânia chorando como se a gente tivesse...sei lá, sabe aquele filme que te comove e tu não para de chorar? Estávamos eu e ele agarrado no centro de Goiânia chorando. As pessoas passavam assim, eu na verdade eu não vi ninguém, o mundo ali não existia, o mundo pra mim ali naquele momento. O mundo era eu e ele ali. Só eu e ele ali colado, coração com coração e eu chorei muito naquele dia. A gente chorou muito, eu acho que ali as lágrimas levaram qualquer sentimento de rancor, de tristeza, de mágoa, é como eu falei, eu não fui preso a nada, eu não fui disposto a questionar, ou argumentar, ou cobrar ele de nada, eu só fui querendo viver o momento e a partir dali, mas foi emocionante esses dois dias, foram muito emocionantes.

00:22:05
P/1 - Me conte então como é, você falou que seu pai é muito você, como é o jeito dele? Como é o humor dele? Me conta mais como é que é essa pessoa?
R - A minha esposa, infelizmente o meu pai biológico faleceu ano passado, não foi por conta da covid, mas eu até acredito que essa pandemia tenha influenciado alguma coisa no sentido de não ter dado ao hospital a estrutura necessária talvez para que cuidasse do problema dele. Não sei nem se foi isso, mas pode ser, mas enfim, ele não morreu por conta da doença covid, ele não pegou o covid, ele era diabético, e acabou tendo uma complicação fruto da diabete, pressão alta, no ano passado ele faleceu, dia 24/04/2020 meu pai faleceu. Minha esposa fala que ele sempre me ligava, e agora por conta do WhatsApp quando se liga geralmente era chamada de vídeo e o meu pai ele vivia sorrindo, meu pai biológico era um sorriso em pessoa. Ele já atendia o telefone dando gargalhada, já falando uma graça, assim era o meu pai, um sujeito que se você parasse…, a Dani que está junto com a gente aqui, me conhece um pouco, eu costumo dizer que eu tenho um dom de fazer as pessoas sorrirem, eu gosto disso, eu gosto de viver a vida leve, e é muito do meu pai, meu pai viveu uma vida leve, sabe? Ele gostava de música, ele gostava de dança, ele gostava de rir, ele gostava de fazer graça com a desgraça, ele do limão fazia limonada e assim era o meu pai, assim sou eu, a gargalhada do meu pai era algo contagiante, se você escutasse o meu pai dando a gargalhada inevitavelmente você também sorria, porque era uma gargalhada que inundava o ambiente sabe? E é isso que a minha esposa fala, que nas datas comemorativas em que certamente meu pai ligaria, nós estaríamos rindo do meu pai, eu e minha esposa estaríamos rindo do meu pai, porque é o que ela sente falta, das gargalhadas do seu Valdemir, das vezes que ele ria era muito legal, era muito gostoso o convívio com ele, essa parte da alegria.

00:25:24
P/1 - E os seus irmãos, filhos do seu pai biológico?
R - São exatamente assim, pegando em uma escala, vou botar uma escala. O mais velho que não é o mais velho, o mais velho sou eu, na verdade o meu pai era um sem-vergonha, meu pai era um sem-vergonha, porque ele saiu de Goiânia e deixou a namorada grávida, que era a gravidez da minha irmã, essa que eu não conheci. Ele veio para o Rio, conheceu a minha mãe, engravidou minha mãe, nasceu eu, da minha irmã para mim, a diferença se eu não me engano são de meses, porque ela nasceu e um pouco depois eu nasci, foi só o tempo dele chegar no Rio, a diferença mais ou menos da minha irmã para mim. Então ela era a mais velha meses, depois vinha eu, e em sequência vinham os meus irmãos, o Valdemir Júnior que é o mais velho dele depois de mim, o Bruno e o Brenner são 03 irmãos, pegando nessa escala do mais velho para o mais novo, o mais velho é o mais sério, é a pedra angular da família, mais centradão, é o consciente, é o responsável, a razão dos três. O Bruno que é o do meio, pensa em uma figura é o Bruno, hoje ele trabalha envolvido com eventos, ele é promotor de eventos, animador de festa, ele tem um personagem que já foi até no Faustão, é o Bruno Jaca é famoso lá em Goiânia, ele foi no Faustão como o Bruno Jaca, Bruno Jaca não, o Bruno Jaca é ele, é a mulher jaca, tem a mulher melancia, acho que a mulher jaca, não sei nem como é que é esse negócio direito, mas é uma figuraça, é um negão de quase 02 metros de altura, maçaroca, mas é uma figura, esse é o do meio. Ele promove lives com cantores lá, esses cantores sertanejos que em Goiânia tem muito disso, né? Então várias lives de cantor famoso, ele é o cicerone, ele que está ali conduzindo a live, é famosinho lá em Goiânia, nesta área toda de eventos, de pagode, de forró e sertanejo, e o Brenner que é o mais novo, acho que é o mais meio termo, o mais temperado, ele pega um pouco da sensatez e sobriedade do mais velho, com a gaiatice do meio, aí nasceu o Brenner, e eu nessa história toda enxergo nisso, principalmente a questão da aparência física, que nós nos parecemos, como eu falei, a chapoca, o narigão aqui de batata é característico da família, se você olhar a sobrancelha, a parte dos olhos os três tem, meu pai, todos puxamos o meu pai, então estar perto deles, ou conviver com eles, é muito dessa questão de conseguir me enxergar no universo, de saber que tem algo em comum, tem algo igual, tem algo parecido, é muito legal. Eu convivo com eles até hoje, a gente se fala, a gente tem um grupo no WhatsApp que a gente de vez em quando conversa. Estou querendo voltar a Goiânia para visitá-los, mesmo não tendo mais o meu pai para visitar, mas eu quero visitá-los, assim como eles vindo ao Rio fazer uma visita também, porque eles não conhecem minha esposa, não conhecem minhas filhas, essa oportunidade só o meu pai teve, que o meu pai veio ao Rio, meu pai em uma ocasião até foi no Panamericano, Panamericano não, desculpa. É que eu tenho uma lembrança no Maracanã com meu pai, e achei que fosse no pan-americano, mas não foi pan-americano não, eu acho que foi um jogo das estrelas do Zico no Maracanã. Eu levei meu pai, acho que foi época de dezembro, isso mesmo, foi um final de ano e eu levei meu pai no Maracanã para ele ver o jogo das estrelas do Zico, se eu não me engano foi isso, aí ele veio ao Rio, conheceu minha esposa, conheceu minhas filhas, foi lá em casa, passou alguns dias lá em casa, depois foi embora, foi a única vez que ele esteve com a minha esposa e minhas filhas.

00:31:04
P/1 - Agora voltando para sua infância. O que você lembra de mais antigo da sua vida? Quais seriam as suas primeiras lembranças se você conseguir puxar?
R - Eu já até falei, as minhas primeiras lembranças são com o meu avô, como eu não tinha o meu pai biológico comigo, e minha mãe estava ainda rateando, sozinha, ainda não tinha, não estava vivendo com o meu pai, a referência de homem na casa para mim era o meu avô, era o meu avô que me levava para o futebol, era meu avô que me levava para andar de bicicleta, que me ensinou a andar de bicicleta foi meu avô, uma coisa que eu me recordo de infância é isso, eu lembro que eu gostava muito de bicicleta e eu ganhei uma bicicleta, não sei nem como, nem de quem, mas era o meu avô que...pneu esvaziou, furou, era meu avô que ia em uma lojinha de bicicleta que tinha perto de casa para trocar câmera de bicicleta, ver furo de pneu, encher pneu para poder andar, eu perturbava meu avô nisso. Eu lembro que nós morávamos em um lugar em Marechal Hermes que era muito, até hoje é humilde, um lugar humilde, eu vim de uma situação humilde, eu lembro que quando criança eu morava em um quarto, era um quarto junto com minha mãe e meu avô. Nesse quarto não tinha banheiro, era uma avenida de casas e existia um banheiro que era um banheiro fora das casas, um banheiro na avenida, no corredor da vila, esse banheiro era comum para todos os quartos. Então de madrugada, imagina de madrugada você querer ir no banheiro, você tinha que sair do seu quarto, ir na rua, na vila até o banheiro que ficava no fundo da vila para ir ao banheiro. Então a minha origem é muito humilde, e minha mãe batalhou muito para me criar, porque como eu falei, ela saiu de Goiânia, falou assim “aqui eu não fico, não vou ficar aqui, se você quiser você vem atrás de mim e do seu filho”. Meu pai optou por não vir, ficou em Goiânia e ela foi me criar aqui na cara e na coragem, na força da maternidade e foi guerreira, foi guerreira. Eu lembro de dificuldades, muitas dificuldades, de condições financeiras difíceis, nunca passei fome, ok, mas a situação não era fácil viver, não era fácil, e foi quando ela conheceu o meu pai, meu pai que me criou, o Fernando, minha mãe se chama Kátia, ela conheceu meu pai o Fernando, e a partir dali se desenrolou a segunda parte da minha história, que se eu posso falar que eu tenho alguma coisa do meu pai que me criou, do Fernando, eu falo que é o caráter. Meu pai também é a mesma característica do meu pai biológico de não ser do Rio, ele também veio de Pernambuco para tentar a vida aqui, batalhou, ralou muito, ralou muito, de trabalho braçal, a depois ficar em um trabalho digamos que de bonança, mas não é bem essa a palavra, que ele trabalhava muito, mas ele construiu depois uma carreira na Petrobras, mas até chegar a Petrobras, trabalhou de estivador no cais do porto, trabalhou na obra da ponte de Niterói, de peão mesmo carregando saco de cimento, de pedra, ralou. Veio para o Rio de Janeiro, ralou até que conseguiu uma oportunidade, e quando ele entrou no cais do porto, a parte de estivador de portuário, ele acabou indo para essa parte de mar, e acabou surgindo a oportunidade para trabalhar na Petrobras, e na época não tinha essa questão de concurso, ele acabou construindo a carreira dele, se aposentou pela Petrobras, mas se eu posso falar que eu herdei alguma coisa dessa convivência, porque apesar da gente não se parecer fisicamente, eu posso dizer que herdei dele essa parte de caráter e de compromisso com o trabalho, porque foi a partir disso que eu construí a minha trajetória profissional, uma história interessante, não sei se eu já estou me adiantando. Se tem algo que me marcou com o meu pai, eu lembro que quando eu fiz 15 anos de idade, meu pai, agora estou falando do meu pai que me criou, ele é meio broncão, pernambucano, meio bronco, hoje ele está mais flexível, mas no início ele era todo bronco, todo fechadão, por isso que eu falo que é muito diferente do meu pai biológico, meu pai biológico já é todo expansivo, brincalhão, risonho, o meu pai que me criou já é mais fechadão, não era muito de brincadeira, ficava no cantinho dele, não tinha muitos amigos de visitar a casa, ou amigos visitar ele em casa, era muito família, a casa dele e o resto do mundo fora da casa, mas aí eu lembro quando eu fiz 15 anos de idade, meu pai virou para mim, figuraça meu pai, era engraçado nessa de ser sisudo, eu lembro que meu pai virou para mim e falou assim, “peraí, você já está fazendo seus 15 anos, já está virando homem, então preciso te falar algumas coisas”. Aí ele pegou uma revista de mulher pelada, uma sexy da vida, uma playboy, não lembro, uma revista de sacanagem, me deu a revista, falou assim, “você precisa saber sobre isso aqui, precisa entender sobre isso aqui, e eu queria te falar uma coisa”, ele falava para mim assim, “eu vim do Norte do Nordeste de Pernambuco para cá com tantos reais no bolso, construí o que eu construí, tenho o que eu tenho, - é que a gente tem casa própria, hoje tem uma casa, carro, mas aí ele falou assim, “então eu tenho isso aqui, construí isso daqui, então eu quero dizer para você não se preocupar, quando você fizer 18 anos, se você quiser um carro”..., aí eu já estava me adiantando na conversa, ele vai falar que vai me dar, né? “Então, quando você fizer 18 anos, não se preocupa, você tem todas as condições para estudar, trabalhar e comprar. Se você quiser uma casa, não se preocupe, você tem todas as condições para estudar, trabalhar e comprar”. Eu vou dizer para você, para muitas pessoas talvez aquilo soasse como rejeição, porque não era o meu pai falando isso para mim, aí fala assim (pô, o cara não me ama e está querendo dizer, ó, você se vira aí cara, você se vira, não é meu filho, por que eu vou te dar um carro? Não é meu filho, por que eu vou te dar uma casa?). Mas aquilo para mim foi o maior incentivo que eu tive na minha vida para construir a minha trajetória. Ali naquele momento quando eu fiz os meus 15 anos, que ele falou isso para mim, que eu falei assim, eu vou ter tudo que é meu, ninguém vai me dar nada, não que eu não dependa de ninguém, não é isso que eu estou querendo dizer, mas eu coloquei na minha cabeça naquele dia, que eu construiria a minha vida assim como ele construiu, veio para cá, com nada no bolso praticamente e construiu o que construiu, eu falei assim, eu também vou construir, eu também vou construir, eu me dediquei muito, mas a isso tudo, eu sempre fui um cara que estudava, eu nunca fui desleixado com estudo, mas eu foquei, eu foquei na carreira, em carreira e fui fazer a escola técnica, o curso técnico na época, me dediquei à escola técnica, me dediquei em um estágio e fui embora, aí construí digamos a minha carreira, mas foi a partir dessa conversa com meu pai.

00:40:45
P/1 - E ele apareceu na sua vida e da sua mãe, você tinha que idade mais ou menos?
R - Olha, eu não me recordo muito bem, mas eu acho que devia ser uns 03 para 04 anos, talvez, por aí, eu devia ter uns 03 para 04 anos, eu lembro que quando o meu pai chegou eu morava, como eu falei com meu avô e a minha mãe nessa vila com um quartinho, e aí logo depois que meu pai se juntou com a minha mãe, acho que ele já trabalhava na Petrobras, eu estava passando para Petrobras uma coisa assim, porque eu lembro que ele trabalhava viajando, ele ficava um tempo com a gente, um tempo fora, e uma coisa que eu lembro é que nós saímos de Marechal Hermes que era onde eu morava com meu avô e ele alugou uma casa em Mesquita, mas eu não lembro dele morando na casa, eu não lembro do meu pai morando na casa, porque foi algo assim, ele fez a minha mãe se mudar para Mesquita em uma casa que ele alugou, mas ele estava em viagem e aconteceu muito rápido, de alguma coisa acontecer em Mesquita, acho que minha mãe não se adaptou muito bem, ou ela viu uma oportunidade para voltar para Marechal que era onde morava, o convívio da minha mãe era todo de Marechal, e a gente voltou para Marechal, e ele acho que não chegou nem a morar em Mesquita, e a partir desse momento é que eu lembro que a minha vida com o meu avô se separou, eu deixei de morar com meu avô, meu avô continuou morando nesse quartinho na, vila e na mesma rua que morava o meu avô, morei eu com a minha mãe e o meu pai, mas a gente morou assim, como morava de aluguel, a gente morava em uma casa, daqui a pouco em outra casa, daqui a pouco em outra casa, daqui a pouco, mas tudo na mesma rua, cada hora em uma casa diferente. Eu lembro que primeiro a gente foi em uma casa muito pequena, que era a quarto, sala, cozinha e banheiro, nessa ocasião foi quando minha mãe ficou grávida do meu irmão, aí nasceu mais um filho, a gente mudou para uma casa com 02 quartos, sala e cozinha, daqui a pouco veio a minha irmã, 05 anos depois veio a minha irmã, e a gente acabou morando em uma outra casa um pouquinho maior, melhorzinha. Então, a gente foi mudando de casa à medida que a família foi crescendo, da parte da minha mãe com o meu pai, eu tenho hoje 03 irmãos, o Fernando, a Flávia e o Arthur que é um temporão que hoje já tem 20 e poucos anos, eu sou um cara de 47 anos. Então quando eu tinha 20 anos, ele tem 27, porque quando eu tinha 20 ele nasceu, o Arthur tem o tempo que eu tenho de Furnas praticamente, que eu lembro que quando eu entrei para Furnas foi quando o Arthur estava para nascer ou nasceu, então eu tenho tempo de Furnas, mais ou menos a idade do meu irmão mais novo.

00:44:13
P/1 - Anderson, conta para quem não é do Rio, onde fica Marechal Hermes, e também qual me conta qual que é o nome dessa rua que você foi pulando de casa em casa, como que ela é, como que ela era, o que você fazia, do que você brincava nela, enfim?
R - Marechal Hermes é um bairro do subúrbio do Rio de Janeiro, é um bairro de característica residencial muito voltada há anos para a parte militar, porque ali é próximo a Deodoro, daquela vila militar em Deodoro. Então uma parte de Marechal era praticamente toda ocupada por militares. Então a origem de Marechal vamos dizer assim, é muito ligada à parte militar, de um lado de Marechal quando eu falo de um lado, porque a linha do trem separa o bairro em dois lados. Então o lado em que eu morei, que é o outro lado, já era um bairro que não era tão ligado a parte militar, era mais ligado a classe trabalhadora, operária porque Marechal é um bairro muito gostoso de morar no subúrbio, que ele está perto de muita coisa sendo mais em conta viver, é mais em conta viver em Marechal, porque ele é um bairrozinho bacana que está perto de tudo, é um bairro que que liga muitas regiões do Rio de Janeiro, liga a Baixada Fluminense, liga a Zona Sul, liga Barra da Tijuca, Subúrbio. Então é um bairro central que tem muito fluxo, muito trânsito de pessoas. Eu vivi em Marechal a minha vida toda, eu nasci em Marechal, eu nasci no Hospital Carlos Chagas que é em Marechal, e vivi em Marechal durante toda a minha vida, eu só saí de Marechal quando eu casei, a rua que eu lembro que eu vivi, que era essa rua que eu pulei de casa em casa, é a rua que se inicia lá desse lado de Marechal que não é ligado a parte militar, as ruas são todas com nome indígena, Canaã, Acapu, Bogotá, é Pocotó, só nome assim ligado a cultura indígena. Então eu morava nessa rua Sirici, eu lembro que era muito legal essa rua, que era uma das poucas no bairro que no domingo, na prefeitura, ela era registrada como área de lazer, no domingo a rua fechava para trânsito, não passava carro, não sei se era a prefeitura, ou se era a comunidade, as pessoas, eu lembro que tinha brincadeiras, tinha bola, tinha bambolê, tinha peteca, tinha tudo que tu imaginar de brincadeira de criança que hoje você não vê, essa rua tinha um grupo de pessoas que fechavam a rua e distribuía para as crianças esses brinquedos, essas diversões, para o pessoal brincar, tinha rede de vôlei, tinha um negocinho de futebol, tudo na rua, mesmo na rua. Então como era uma das poucas ruas no bairro que tinha essa característica de ser registrada na prefeitura, não só a gente que morava na rua, mas as crianças da região iam para lá brincar. Domingo era farra, era o dia todo da rua fechada e a gente brincando literalmente no meio da rua. E a minha infância foi muito boa, pode ter faltado luxo, pode ter faltado sobra, mas nunca faltou alegria, nunca faltou amor, nunca faltou diversão, porque eu tive uma das melhores infâncias que eu poderia ter tido.

00:48:45
P/1 - Você se lembra do que você gostava mais de fazer quando criança, até os 12 anos, do que você gostava de brincar mais e por que?
R - Com certeza era bola e bicicleta. Eu nunca fui muito bom com pipa, apesar de soltar na teimosia, eu nunca fui bom de bola de gude, mas brincava na teimosia, mais perdia do que ganhava, toda hora dava um derrame para comprar mais bolas de para poder brincar, porque sempre perdia as bolas de gude, nunca fui bom também negócio de peão, mas brincava também, porque a criança quer brincar não quer nem saber, mas eu não era bom não, mas bola e bicicleta eu me amarrava, se pudesse era futebol e bicicleta o tempo todo.

00:49:42
P/1- Você torce para um time, torcia na época?
R - É engraçado o negócio de futebol, porque eu sou flamenguista fervoroso, doente, alucinado, eu fico ensandecido com o Flamengo. A minha pulseira vermelha e preta, eu sou o cara que eu sou flamenguista na alma, no corpo e em tudo, muito fruto da minha mãe, acho que minha mãe que me despertou, não só o gosto por futebol, que minha mãe gosta de futebol, ela gosta de jogo como pelo Flamengo. Eu lembro uma ocasião copa de 78, eu lembro eu criança, 78 eu tinha 04 ano, eu lembro e essa imagem está na minha mente até hoje, a gente morava nessa vila, e eu lembro da gente vendo o jogo do Brasil na Copa do Mundo de 78, eu tenho essa lembrança, e o Brasil não sei se perdeu ou foi desclassificado, a minha mãe, as pessoas tinham a mania de botar agulha nessas folhas de calendário que ficava pendurada na porta, na parede, não sei qual é a tua idade Lucas, mas eu com 47 anos, morando na região humilde, pobre, subúrbio do Rio de Janeiro, eles tinham a mania de colocar um calendário de papel pendurado na parede, e é agulha que o pessoal costurava, eles furavam o calendário e deixava ele pendurado guardado. A minha mãe com raiva daquela questão do jogo, minha mãe deu um tapa na parede por conta do calor do jogo, e a agulha entrou na mão dela que ficou assim, ela furou de um lado, mas não furou a pele do outro lado e ficou atravessado com a pele levantada, isso fica na minha memória, está na minha memória até hoje, eu comento com a minha mãe essa cena e ela me conta isso, ela que me conta as razões e os motivos, eu só lembro da cena da minha mãe com a mão com aquela pele levantada, era a agulha que tinha entrado de um lado, mas não atravessou a pele do outro e ficou levantada por conta de futebol, porque minha mãe também é assim ligada a futebol, gosta de Copa do Mundo e o Flamengo na época, 78, 79, entrando na década de 80 era sensacional, era arrasador, Flamengo de Zico, Júnior, Leandro, Raul enfim, eu sou apaixonado por futebol, mas por conta do gostar de futebol e o meu pai é botafoguense, e em Marechal Hermes na época até hoje tem, eu não sei nem se funciona, eu acho que a divisão de base do Botafogo treina lá até hoje, mas o centro de treinamento do Botafogo era em Marechal Hermes, Centro de Treinamento Mané Garrincha. Então meu pai botafoguense, eu gostava de futebol junto com alguns outros garotos que moravam lá na rua, meu pai pegou essa turma todinha botou dentro do carro dele e levou para o Botafogo para fazer teste, eu lembro que a gente jogava na escolinha do Botafogo que não funcionava no Mané Garrincha, no centro de treinamento, era tipo uma escolinha que ele tinha espalhado, era em Jacarepaguá que é pertinho lá de onde eu moro, e nós treinávamos com o seu Milton, era tipo um descobridor de talentos, vamos dizer assim do Botafogo, então eu treinei no Botafogo, eu flamenguista doente, treinei no Botafogo porque meu pai me colocou na escolinha do Botafogo. Acabou que não deu certo, eu apesar de gostar de bola, não ser perna de pau, até jogo legalzinho, mas não dava pra seguir carreira não, mas eu cheguei a treinar no Botafogo, eu joguei com Djair que depois veio fazer sucesso no Botafogo, joguei com os irmãos do Josimar, que jogou a Copa do Mundo de 86 lá no Botafogo, mas não dava para mim não, não tenho futebol para ser profissional não.

00:54:25
P/1 - Agora vocês viam o jogo na TV, ouvia pelo rádio, você tem algum jogo do Flamengo, do Brasil que marcou você?
R - Olha, eu lembro de falar assim em televisão, como eu falei, nós éramos humildes, eu lembro que morando com a minha mãe, nós não tínhamos televisão. Morando com a minha mãe e meu avô nós não tínhamos televisão, eu lembro da primeira televisão que pertenceu a minha família, o meu pai já casado com a minha mãe, já junto com a minha mãe, comprou uma televisão preto e branco usada, aquelas televisões que tinha antena que você tinha que abrir a antena, quando não sintonizava bem você botava um chumaço de bombril para sintonizar melhor, era botão de fazer barulho, aquele botão para você achar o canal, uma televisão preto e branco usada, foi a primeira imagem que eu tenho de televisão própria, que eu não tenha ido na casa de alguém ver, isso aí eu já devia ter sei lá 05 anos foi quando a minha família, meu círculo familiar teve uma televisão, foi com meu pai, ele comprou essa televisão usada preto e branco. E jogos do Brasil, eu lembro muito desse jogo do Brasil, em que eu citei de 78, eu tenho flashes dessa imagem, a única coisa que eu lembro muito bem é da mão da minha mãe com essa ponta para cima, mas isso já estou falando de 82, a Copa do Mundo de 82 foi uma Copa do Mundo que me marcou muito, que eu estava com meus 08 anos, nasci em 74, na copa de 82 eu tinha 08 anos de idade, foi nessa copa de 82, a vivência de Flamengo e Copa do Mundo, e o Flamengo de 80, 81, com a Copa do Mundo de 82, aqueles 02 anos foram os anos que a minha alma se voltou para ser um torcedor de futebol e ser um apaixonado por jogo. Minha mulher fala que eu sou doente, porque chega um domingo em que eu, o dia que eu faço nada é o domingo, é o dia que eu sento de manhã, se bobear eu vejo o jogo da hora que eu acordo até a hora que acaba os jogos. Eu gosto de ver jogo de fora, jogo daqui, eu gosto de futebol. Então esse gostar de futebol ele é muito desses 02 anos, de 80 a 82, com o Flamengo de 81, e a seleção de 82 que para mim foi uma seleção sensacional e inesquecível. Eu lembro muito eu vendo futebol, eu querendo ser um jogador de futebol, eu gostava muito do Valdir Pérez que era o goleiro, eu lembro que eu quebrei uma cama, a minha cama eu quebrei porque eu peguei um negócio de pano joguei para o alto e pulei como se fosse agarrando, aí quando eu caí quebrou a cama, eu só fazia besteira.

00:58:25
P/1 - E você lembra de alguma história de infância que você aprontou bastante, você já falou que aprontava bastante, né? Enfim, seu pai, sua mãe foram atrás de você, deram castigo, você lembra de alguma coisa desse tipo?
R - Olha, tem uma história que eu só não recebi o castigo e a correção, porque essa história ficou oculta durante muito tempo para minha mãe, mas é uma história muito engraçada que por sinal essa semana que passou eu conversei com um dos envolvidos na história que é um irmão que eu tenho, um irmão que a vida me deu, não é meu irmão, mas é um irmão que a vida me deu, que é o Marquinho, que nós fomos criados juntos nessa vila de casas, eu morava com meu avô e a minha mãe em uma casa, e ele morava com os pais dele em outra casa, então a gente regula idade, e a mãe dele trabalhava fora, ela era essas diaristas, trabalhava em casa de família na época que se chama, falava assim, trabalhava em casa de família, aquela arrumadeira, a empregada doméstica, e a minha mãe e ela tinham ficado grávidas em datas parecidas, como a minha mãe ficava mais em casa do que ela, ela saía para trabalhar e muita das vezes a minha mãe amamentava o Marquinho. Então a minha mãe amamentava a mim e amamentava o Marquinho, a gente fala que nós somos irmãos de leite, é o chamado irmãos de leite. Então a vida me deu esse irmão que é o Marquinho, que por sinal ele foi lá em casa semana passada, ele estava por perto da minha casa, ele mora um pouco perto e longe, nova Iguaçu eu moro hoje em Campo Grande, mas ele estava fazendo um serviço, estava visitando uma pessoa perto da minha casa, eu estava chegando de Furnas, do trabalho e ele foi lá para tomar um café comigo, e a gente lembrou dessa história que eu vou contar agora. Nós éramos 03. Eu, ele e o Adriano, que é o chamado Nonô, que era um outro amigo nosso da rua. A gente correndo atrás de pipa e a gente entrou, a gente pulou o muro de um prédio para pegar pipa, pulou mesmo a casa, pulou, invadiu, a gente invadiu o prédio para pegar pipa. Então a gente, aquela coisa assim se escondendo, sorrateiro para ninguém ver a gente, quando a gente virou o lugar para pegar a pipa, tinha um cara esperando já a gente, eu vou falar para você qual a idade que eu tinha, eu devia ter os meus 12 anos eu acho, 10 para 12 anos por aí, e detalhe, o meu pai trabalhava na Petrobras, porque que eu estou falando onde ele trabalhava vocês vão entender o porque, meu pai trabalhava na Petrobras embarcado de mar de marinha, o pai do Adriano ele era marinha de guerra, ele era cabo, sargento da marinha, alguma coisa assim, e o pai do Marquinho era sapateiro, ele fazia sapato, ele tinha uma oficina na casa dele, ele fazia sapato e aí esse cara do prédio que a gente invadiu, pegou a gente, agarrou a gente e disse, “não, as coisas estão sumindo aqui no prédio, estão roubando as coisas aqui, deve ser vocês”, ele achou que nós éramos quem estava roubando as coisas no prédio, tinham roubado engradado de cerveja, tinham roubado caixa de isopor, bicicleta, aí quando ele viu os 03 garotos invadindo o prédio, ele imaginou que nós éramos os quem estava roubando, mas não era, a gente estava pulando para pegar a pipa, e aí pegou a gente e prendeu a gente, na escada do prédio tinha uma dispensa com chave ele botou a gente preso nessa escada, nessa dispensa da escada e deixou a gente preso lá um tempo, imagina 03 garotos de 10 para 12 anos, não me recordo muito bem quantos anos a gente tinha, durante uma, duas a gente ficou acho que lá umas 03, 04 horas preso, e a gente tinha uma coisa, eu lembro que minha mãe falava assim, “você pode ir para rua brincar, jogar bola, soltar pipa, o que for, mais 07 horas da noite eu quero você em casa, que aí você toma um banho, janta, se tiver que depois voltar para rua você até volta, mas 07 horas eu quero você em casa, e estava chegando perto da hora da minha mãe, e nada do cara soltar a gente, e a gente ficando cada hora mais desesperado, chorando, 03 moleques chorando, e eu lembro que a gente chorando, eu falei assim, chorando, aí eu falei assim, - esse cara aprendeu a gente, também meu pai é da marinha...eu imaginava né? Na minha cabeça meu pai era da marinha, apesar de ser marinha mercante, mas eu na minha cabeça meu pai era da marinha, eu vou mandar prender ele, aí o Adriano, o Nono falou a mesma coisa, “a meu pai também é sargento da marinha, eu vou mandar prender ele”, aí foi no Marquinho que o pai era sapateiro, aí ele olhou para um, olhou para o outro, mas chorando, a gente chorando, não era nada engraçado aquilo, a gente estava sofrendo mesmo. Aí o Marquinho vira e fala assim, “e meu pai é sapateiro eu vou mandar dar uma sapatada na cabeça”, aquilo ali a gente na maior angústia, no maior sofrimento do mundo, a gente conseguiu achar graça daquilo tudo, a gente conta essa história até hoje até hoje a gente conta essa história até hoje é muito engraçado, aí o cara depois veio, soltou a gente, ele depois percebeu, ele viu que nós não éramos os que estavam roubando, mas acho que ele quis dar um corretivo, um susto na gente, aí acabou liberando a gente por volta de 06 horas da tarde, deu um pedala Robinho na gente, “vê se não pula mais aqui”, e a gente foi para casa como se não tivesse acontecido nada, minha mãe, “Onde é que você estava esse tempo todo que eu não te vi na rua?” - Não mãe a gente foi jogar bola em outro lugar lá, depois de muitos anos é que eu contei essa história para minha mãe, e a gente contou para os nossos pais na verdade, porque foi uma história que ficou entre eu, o Marquinho e o Nonô, a gente só veio revelar essa história tempos depois, mas toda vez que nós 03 estávamos juntos, a gente contava essa história entre a gente, e essa história da sapatada na cabeça do cara que foi muito engraçado, mas a gente fazia muita arte, eu me diverti muito.


Uma outra história legal também foi, tinha uma casa, uma ótima casa de um cara que é dono de uma sorveteria famosa aqui no Rio de Janeiro, na época não sei se era sorvete sem nome, é uma coisa assim, esse cara teve alguma briga na justiça por conta de registro de marca com a Kibon, ele colocou algum nome parecido com o Kibon, aí a Kibon entrou na justiça contra ele, e aí ele acabou mudando o nome para Sem Nome, como ele não podia mais usar o nome Kibon, ele passou a usar o nome Sem Nome, e essa história de justiça acabou reverberando na imprensa e ele acabou sendo uma sorveteria famosa no Rio de Janeiro, muito por conta da ação que a Kibon moveu contra ele. Talvez se ele não tivesse movido o nome contra ele, ele não tivesse feito o sucesso que fez, e aí o dono dessa empresa era lá de Marechal, ele estava construindo um casarão, um casarão lá na rua Sirici o casarão desse cara, e tinha umas bananeiras nesta casa, e nós resolvemos roubar a banana da bananeira, a molecada, a bananeira ficava bem próximo ao muro, então a gente não precisou entrar na casa, só pelo muro a gente quis roubar aquele cacho de banana, é pura arte, ninguém queria nem a banana, era só pelo fato de pegar a banana do vizinho, mas na hora que a gente cortou estava muito pesada, a banana caiu dentro do terreno, o terreno ainda estava em obra, a casa ainda estava sendo construída e tinha um cachorro, pastor alemão que cuidava do terreno, e a gente tirou no palitinho quem ia pular para pegar o cacho de banana. Falei, mas vai pular e o cachorro, tu se vira, alguém vai pular, aí tiramos naquela brincadeira do palitinho, sabe? Como é que é? Aquela brincadeira que todo mundo pega um palitinho, quem caiu para pular? Eu, aí fui eu pular para pegar a banana, eu lembro que eu pulei aí tinha uma parte que era uma descida para o portão, que o nível da casa era mais alto que o nível da rua, então uma descida assim para acessar o portão da casa, o portão do terreno, e a banana caiu ali, eu lembro que eu pulei ali, amarrei o cacho de banana em um cordão, o pessoal pelo muro puxou a banana para fora e quando eu já estava quase acabando o cachorro veio, pastor alemão, bichão, o cachorro ficou do alto da escada rosnando para mim, e eu não tinha para onde correr porque eu estava em um buraco da escada, e eu naquele ensaiaço todo, eu acredito que o cachorro era uma criança, o cachorro era uma criança, em vez dele vim me morder, o cachorro veio brincar comigo, eu desesperado que aquilo ali era o meu fim, o cachorro era uma criança, era um doce de cachorro, aí acabou que eu fiquei ali brincando com cachorro, e a gente comeu a banana todinha depois, uma história muito legal também.

01:09:52
P/1 - Como é que era na escola também Anderson, que escolas que você frequentou? Como é que era? Você se lembra bem da época?
R - Eu sempre estudei em escola pública, toda a minha vida, minha formação toda foi em escola pública, meu primeiro grau, que é aquele infantil com primário até a oitava série, que agora é nono ano, eu estudei na escola Leonor Posada em Marechal Hermes, depois segundo grau, eu fiz o segundo grau técnico no Visconde de Mauá também em Marechal Hermes, e fiz a faculdade no CEFET que é o Federal que é em São Cristóvão. Toda a minha vida sempre eu sou muito grato às escolas públicas, e posso dizer que a Escola Municipal que eu estudei nessa infância que é a Leonor Posada ela era, se não é ainda uma das melhores escolas públicas do Rio de Janeiro, se ela não é ainda, eu posso te afirmar que era, era uma escola sensacional, as pessoas, a diretora, coordenadora, as professoras, eu tive um ensino que eu depois de anos reencontrei, depois de uns 30 anos eu reencontrei essa turma da Leonor Posada, a gente acabou se encontrando por rede social a gente marcou um encontro, e nos reencontramos depois de 30 anos, o pessoal que estudou na Leonor Posada, e quando eu olho para essa turma, todos nós morávamos ali no subúrbio do Rio de Janeiro, então você pensar qual é a chance que alguém teria de se tornar alguém na vida, de construir alguma coisa, ter uma carreira não era fácil, não era fácil. Um filho de um cara bem sucedido, que tem dinheiro, Zona Sul, eu acho que a obrigação para essas pessoas é construir uma vida, mas para o suburbano, o pobre é luta, é luta, e eu reencontrei essa galera e posso dizer que 90% são pessoas muito bem formadas, não é só formada no sentido de ter feito uma faculdade, são pessoas muito bem instruídas e com uma carreira, eu tenho engenheira química atuante, tenho advogados atuante, tenho nutricionistas atuantes, tenho engenheiro, quase todo mundo tem uma vida, entre aspas ninguém tem uma vida tranquila, mas todo mundo está melhor do que estavam os pais entende? Todo mundo conseguiu avançar na vida, e eu tenho certeza absoluta, sem sombra de dúvida, que a nossa formação quando criança, na Leonor Posada foi que ocasionou isso. Nós fomos formados, nós fomos instruídos a pensar, nós fomos instruídos a querer conhecer. Eu lembro que eu tinha uma professora de ciências, eu soube depois que essa professora faleceu, professora

ngela de ciências, eu lembro que a nota dela era composta por duas coisas, à prova e uma segunda coisa que era um trabalho que era pesquisa científica, a gente tinha que ler jornal e escolher uma matéria de cunho científico e dissertar sobre aquilo, escrever um resumo e fazer uma apresentação sobre aquilo que eu tinha lido, o que eu achava, fazer um comentário sobre aquilo, aquilo me despertou, aquilo me despertou para física, para química, se eu depois fiz engenharia foi muito por conta dessa questão de física, de matemática, de química, de querer conhecer mais sobre essa área e foi muito da professora

ngela com esses trabalhos. Então a escola Leonor Posada, foi ela que me formou, ela que me moldou como estudante.

01:14:54
P/1 - E quando mais ou menos você decidiu que ia fazer engenharia, que ia prestar CEFET, foi a partir dessa conversa que você teve com seu pai, lá com uns 15 anos?
R - Não, com 15 anos eu já estava fazendo, porque eu saí da Leonor Posada eu tinha 14, e como eu faço aniversário em julho, eu sempre estou meio ano, eu estava meio ano adiantado, então eu saí do primeiro grau com 13, ingressei no segundo grau com 13 fazendo 14, então essa conversa foi com 15, eu já estava fazendo Visconde de Mauá que é o segundo grau técnico. Eu ingressei nessa área por quê? Porque meu pai por ser da Petrobras ele falava assim para mim, “você tem que buscar um segundo grau técnico”, quando estava acabando, “você tem que buscar um segundo grau”, ele falava muito isso pra mim, “você tem que buscar um segundo grau técnico para ter uma profissão, para sair de lá já formado com uma profissão”. Eu fiquei naquela, falei - o que eu vou fazer de segundo grau técnico? Na época, o que se tinha de opção? Você podia fazer aquele normal para ser professor. Eu lembro que tinha um, que era um colégio segundo grau que formava para contabilidade, e tinha o Mauá que era voltado para área de indústria, que era mecânica, elétrica e eletrônica, e eu sempre fui uma pessoa, eu sempre gostei muito de montar e desmontar as coisas. Por exemplo, as minhas bicicletas depois que meu avô faleceu, eu te contei que era meu avô que levava a minha bicicleta para consertar. Depois quando eu me vi sozinho eu já com meus 07, 08, 10 anos, eu mesmo me virava com as minhas bicicletas, eu gostava de bicicleta, eu mesmo me virava, desmontava, montava, montava guidom, botava o banco, aumentava, baixava, esticava a corrente, trocava a corrente, trocava raio de bicicleta. Então, eu comecei a mexer com bicicleta, e aquilo acabou me despertando para outras coisas. Eu pegava relógio despertador, que na época tinha aqueles de dar corda, que usava-se isso, e às vezes davam defeito, eu gostava de pegar aquilo e desmontar para ver como é que era por dentro, como é que aquilo funcionava? Aproveitava que estava quebrado, que não ia ter conserto, vou desmontar para ver como é que funciona isso por dentro e desmontava, eu gostava de ficar desmontando coisas, ficar montando, e quando eu me vi na dúvida sobre o que fazer, eu pensei assim, acho que eu vou fazer mecânica, é um negócio legal, eu me imaginava como mecânico montando e desmontando coisa, para uma criança era essa a lógica, e foi quando eu decidi fazer mecânica no Mauá, eu já saí do primeiro grau entrando no segundo grau já fazendo a mecânica no Visconde de Mauá que eu não me arrependo nem um pouco, porque eu gosto muito, amo mecânica, não só pela mecânica em si, mas principalmente pela física, pela parte da física, da mecânica, eu gosto muito, muito mais do que elétrica e eletrônica e ótica eu gosto muito da parte mecânica.

01:18:43
P/1 - E nessa época você já era adolescente, já tinha quase maior idade, como é que era namorar nessa época? Onde vocês iam, onde vocês saíam, como é que era esse lance todo aí?
R - Olha, como eu falei a rua que eu morei, eu vou falar para você que eu namorei, eu não sou bonito, eu não sou bonito, mas olha, eu namorei todas as meninas da rua, todas, eu vou citar nomes aqui, eu namorei a

ngela, namorei não estou falando namorei, mas pelo menos dá uns beijinhos eu dei,

ngela, Justini, as duas Janaina's, Viviane, todas essas meninas eu namorei, namorei pelo menos uns beijinhos dei numa festinha, tinha muito na época essa festinha americana em que os garotos levavam o refrigerante, e as meninas levavam pratinho de salgado, geralmente aqueles pãezinhos com patê, aqueles biscoitinho com pasta, e a gente fazia muita festa americana, e nessa época era uma tradição você ter as músicas de dançar, e tinha um momento que se chamava o momento mela cueca, que era um momento que era música lenta e você chamava a garota para dançar, e quando a garota aceitava dançar contigo já era meio caminho para você, se ela aceitou dançar com você a música lenta já está meio caminho andado, então tinha muito disso, eu lembro dessas festinhas e sempre rolava um clima com uma, com outra, rolava um beijinho aqui, beijinho ali, e a gente viveu uma época, essa época eu com 12, 14, 16 anos, a minha juventude, adolescência, e foi muito gostosa, a gente vivia um mundo diferente, a maldade era outra, não tinha o perigo que tem hoje, a gente podia sair da nossa rua, ir para uma rua atrás, uma rua na frente, uma rua um pouco mais distante, para uma festinha americana na casa de fulano que você podia ir e voltar e não tinha risco. Hoje é muito difícil isso, mas eu vivi bastante coisa nesse sentido. Mesmo sendo feinho assim

01:21:31
P/1 - E aí você saiu do Visconde de Mauá, é isso? E foi prestar CEFET?
R - Eu quando saí do Mauá, eu já saí do Mauá fazendo estágio em Furnas, apesar de eu ter construído toda a minha trajetória estudando em escola pública, mas quando você sai do segundo grau para a faculdade, quase nunca, a não ser quem tem muita condição vai para escola pública, porque teve uma boa estrutura de ensino para poder passar na prova, mas eu não, eu saí do Mauá ingressei em Furnas em 93, saí do Mauá em 92 com 18 anos, e eu ingressei em Furnas em 93 com 18 para 19 anos para fazer estágio, porque quando você saia da escola, e isso foi uma opção minha, eu poderia ter feito estágio cursando o último ano, ou eu poderia concluir todo o estudo e depois fazer o estágio, essa foi a opção que eu tracei para mim, foi pensado, porque na minha cabeça era assim, eu não quero estar estudando e fazendo estágio, eu quero me dedicar a uma coisa só, então eu vou me formar na parte de estudo, depois eu faço estágio, e quando eu saí do Mauá terminei os estudos em 92, em 93 eu fiz o estágio que era só estágio, não estava mais estudando e foi a partir dali do estágio, que logo depois eu fui contratado por Furnas, na época não era efetivado por concurso, mas eu fui e tinha aquela parte terceirizada igual a Dani que está junto com a gente na entrevista era terceirizada, eu também fui terceirizado, eu entrei em Furnas em 03/01/1994 como terceirizado, e a partir dali é que eu primeiro paguei minha faculdade, eu comecei a faculdade cursando a Souza Marques em Madureira em engenharia mecânica, só que eu cursei ali não chega a ser um ano, aí logo depois o CEFET tinha uma janela para ingresso por análise de currículo vindo transferido de instituições, e era uma só análise curricular, veio as notas e a grade de matéria se batia, e se as notas que você tinha era compatível com satisfatório para eles, eles faziam uma análise e aprovavam a transferência de aluno, que era muito assim, tinha um concurso para o CEFET, ele preenchia as vagas. A medida que ia tendo evasão de aluno, que iam desistências, iam surgindo vagas durante o curso e não tinha concurso para aquelas vagas no segundo, terceiro período, eles abriam para transferência e nessa que eu entrei no CEFET, eu fiz uma transferência do Souza Marques para o CEFET e passei a cursar engenharia mecânica, eu não lembro o ano. eu entrei em 94, deve ter sido em 95, 96 eu entrei no CEFET.

01:25:15
P/1 - Me conta uma coisa, como é que você soube do estágio em Furnas? Como é que foi o processo para aprovar o estágio e você entrar? Me conta em que área você entrou também?
R - Tudo gira em torno da rua Sivici, o meu vizinho eu lembro que nós, eu ia com meu pai para uma academia, que a gente fazia academia juntos, meu pai fazia lá o aeróbico dele lá, na época era...como é que era o nome que dava, esqueci o nome que dava, que era música, e ficava fazendo os exercícios lá e eu fazia natação na academia. Eu sempre gostei também muito de nadar, de piscina, então eu fazia natação nessa academia, e o meu pai fazia lá os exercícios deles de dança com exercício físico, e eu lembro que no final da aula a gente se encontrava, a aula dele terminava na mesma hora que a minha aula terminava, e a gente parou em uma lanchonete e o nosso vizinho, o vizinho do lado mesmo da casa do lado, também fazia academia, e a gente acabou se encontrando os 03 na lanchonete, e aí conversa vai, conversa vem, aquela coisa toda…”Como é que está o Anderson? O garoto já está com seus 18 anos, terminou o segundo grau, como é que está isso aí?”. Aí meu pai, “a gente estava procurando um estágio para ele”, eu ia fazer estágio, olha como é que são as coisas, eu ia fazer estágio em uma empresa que é ali em Guadalupe, pertinho de Marechal, em uma empresa que fabricava máquinas de escrever, não era Olivete não, era uma outra empresa que era concorrente da Olivetti que era uma das maiores fabricantes de máquinas de escrever na época. Essa fábrica era ali em Guadalupe, eu ia fazer estágio nessa empresa que um amigo meu conseguiu para mim, e essa empresa simplesmente faliu, ela abriu falência naquele tempo em que eu estava fazendo inscrição para aquela coisa de vou, não vou, já estava quase tudo certo de que eu faria o estágio lá e acabou que não rolou, e eu fiquei meio que a deriva e nessa conversa na lanchonete meu pai comentou, “não, a gente está procurando estágio, ele ia fazer estágio nessa empresa”, que eu não lembro o nome, e aí ele falou, esse nosso vizinho, “meu irmão trabalha em Furnas nessa área aí de manutenção, eu posso ver com ele”, o nosso vizinho o nome dele é Henrique, até hoje eu tenho contrato com ele, aí ele falou, “eu vou ver com meu irmão”, conseguiu um contato com o irmão dele e me indicou, eu fui fazer a inscrição para trabalhar na área que o irmão dele era subgerente na época, Carlos Alberto de Souza Gomes, ele era o subgerente da divisão de manutenção de Furnas, eu fiz a inscrição, aquele trâmite todo, acabou aprovando. Na época em Furnas tinham 02 tipos de estágio. O tipo A e o tipo B, o tipo A era aquele estágio que eu acho que era um concurso em que você passava e você era remunerado, e o tipo B era um estágio sem remuneração, então esse era mais fácil entrar e não ia ter custo para Furnas, era sem remuneração, e eu consegui esse estágio não remunerado em Furnas, não recebia nada, absolutamente nada. A única coisa que Furnas me dava era o direito a comer no refeitório, o restaurante que tinha em Furnas, eles me davam um prato de comida, eu fiz o estágio por um prato de comida, eu lembro até que meus amigos da Sivici ficavam me zoando, me encarnando, “você vai pagar para trabalhar, tá maluco? Nunca vi isso”. Eu falava assim - rapaz eu estou investindo no meu futuro, eu fiz um estágio em Furnas, para mim é um investimento. Ainda que eu não fique lá é um investimento, acabou que eu fiquei, e eu construí a minha vida dentro de Furnas, a partir daquele estágio não remunerado que o meu vizinho da Sirici me indicou para o irmão dele, Carlos Alberto Souza Gomes é um amigo até hoje, a gente se fala até hoje, que conseguiu para mim esse estágio não remunerado em Furnas, em que eu trabalhava por um prato de comida.

01:30:23
P/1 - Como é que foi então o teu primeiro dia? Como é que você foi recebido lá? Quem que trabalhava com você? Você foi entrar na área de manutenção pelo que eu entendi, era em que unidade de Furnas?
R - Eu já ingressei em Furnas na divisão de manutenção, é ligada a diretoria de serviços gerais, antiga dimã, divisão de manutenção, eu lembro, vocês podem achar que é loucura, mas eu lembro a comida que eu comi no meu primeiro dia em Furnas. Eu lembro com quem eu falei, como eu estava vestido, aquele meu primeiro dia eu revivo ele na minha mente a qualquer momento, é só eu querer lembrar eu lembro, eu comecei trabalhando na oficina mecânica junto com o saudoso seu Edson Coelho, foi o meu primeiro encarregado, Edinho, e eu lembro que eu cheguei na oficina e ele que me recebeu, o Edinho que me recebeu, o Edson Coelho, quem me levou até a oficina foi o Souza Gomes que era o subgerente da divisão na época, o gerente era o Joaquim, saudoso Joaquim também faleceu, o substituto dele era o Souza Gomes que era o irmão do meu vizinho, ele que me conduziu até os oficina, quando eu entrei me apresentou o Edinho e falou assim, “é aqui que você vai trabalhar”, me apresentou ao seu Edson e a partir dali é que tudo começou em Furnas, mas eu lembro da roupa que eu estava, estava com um blusão, eu gosto muito de usar, hoje nem tanto, mas eu gostava muito de usar roupas da Tulon, da marca Tulon, eu lembro que eu estava com um blusão na época, era cada moda né? Era um busão florido, todo florido, um blusão da Tulon, uma calça jeans e um tênis Nauru, não sei qual é a tua idade, não sei se você viveu isso, mas quem é da minha época vai saber, eu estava com sapato, que era um sapato robusto da Nauru da época e uma camisa da Tulon. Eu achava que eu estava super bem arrumado, meu primeiro dia, eu tenho que entrar muito figura, porque como eu ia trabalhar em oficinas, eu já cheguei recebendo aquela pilha de roupa, “está aqui, 03 blusas, 03 calças, botina, toma, pode ir se arrumar”, então aquela roupa que eu achava que estava bonitão não serviu de nada, porque na mesma hora botei aquela roupa azul, a gente era conhecido, era chamado lá no central em Botafogo de azulão, porque a roupa era toda azul, logo no meu primeiro dia botei meu azulão e fomos trabalhar, e fui conhecer a empresa que é a Furnas. Eu lembro, como eu estava falando, a primeira comida foi o nhoque, a primeira comida em Furnas foi o nhoque.

01:34:11
P/1 - Eu tenho 28, eu lembro mais ou menos dessas marcas e principalmente da Tulon, meu pai, meu irmão mais velho gostavam de usar também lá nos anos 90, na minha época é o Nicoboco, é o disparado assim, umas roupa, e Nauru são os tênis de couro, de camurça se eu não me engano é isso? E a dimã era onde? Era no escritório central em Botafogo, é isso?
R - É isso, em

Botafogo, a divisão que é a gerência e a parte administrativa da divisão, ela ficava no sexto andar do bloco C, junto com as outras divisões que compunham o departamento de serviços gerais, mas a divisão de manutenção ela tinha os setores de manutenção que ficavam espalhados dentro do histórico central como por exemplo, as oficinas de mecânica, refrigeração, telecomunicações e elétrica ficavam em um galpão que era aquele galpão anexo que dá acesso ao serviço médico, a oficina de carpintaria, pintura, que ficava ali próximo ao bloco B, tinha o setor de operação de centrífuga que era a central de água gelada que estava no subsolo do C, era uma divisão e como era manutenção, cada oficina ficava no seu espaço dentro do escritório central, e a gente trabalhava para o escritório central todo, apesar de ter as oficinas, a gente quase não ficava nas oficinas, que os nossos serviços eram nas salas dos outros funcionários, fazendo um serviço de mecânica, de esquadrias de alumínio, de ar condicionado, de armário, mesa, pintando, cada oficina na sua atividade, mas o nosso trabalho em si quase nunca era nas oficinas, era fora das oficinas, oficina era mais o ponto em que a gente pegava ferramenta, ou então precisava fazer alguma coisa em bancada, que a gente chamava fazer alguma coisa na bancada tirar uma peça, levar para oficina, consertar e voltar com ela, era mais nesse sentido, mas o nosso trabalho era mais fora, ficava praticamente o dia todo fora da oficina fazendo os serviços para os funcionários nas sala, minha vida toda foi assim praticamente, eu ingressei na divisão de manutenção, e eu só saí da divisão de manutenção, ela depois mudou de nome, alguns outros nomes, ela acabou assumindo, mas na essência era a manutenção predial, manutenção do escritório central, eu só vim sair da divisão de manutenção quando eu na verdade resolvi sair da divisão de manutenção, e fui convidado a vir trabalhar aqui em Santa Cruz, nesta na obra aqui de expansão da usina.

01:37:57
P/1 - É um trabalho essencial para Furnas, essencial para o escritório central. E como é que era a relação sua e do pessoal da área de manutenção com os outros funcionários, eu imagino que você tenha conhecido gerências e departamentos. Como é que era a relação com os outros funcionários de Furnas?
R - Olha, eu trabalhei no escritório central durante 25 anos, e eu trabalhei na divisão de manutenção que a gente andava tudo aquilo ali. Eu posso dizer para você que eu conheço cada buraco daquele lugar lá. O escritório central eu conheço cada espaço, eu fui em todos os lugares possíveis e imagináveis dentro do Hospital Central. E quando eu falo todos os lugares possíveis e imagináveis, é mesmo todos os lugares possíveis e imagináveis. Eu lembro de uma situação, eu fazia faculdade, fazia o CEFET e o CEFET por ser uma escola pública não tinha essa coisa de a noite, o horário do CEFET era de dia, mas como eu trabalhava na manutenção a gente tinha uma certa flexibilidade em horário, porque podia-se criar um turno diferente para manutenção de coisas que de repente só podiam ser

manipuladas fora do horário de expediente. Então o que o gerente fez na época? Era eu e mais 02 rapazes que faziam CEFET, ou eu e mais 04, eu e mais 03, uma coisa assim, e ele criou um horário que era de uma às dez, de uma da tarde às dez da noite, em que a gente ia pegar parte do expediente de horário comercial, ou seja, até cinco horas, a partir das cinco até às dez horas a gente só pregava braba vamos dizer assim, porque era tudo aquilo que não podia ser feito durante o dia, porque não podia desligar, porque era uma coisa que era essencial para o funcionamento do escritório central, aí quando chegava às cinco, seis horas que desligava, é que a gente podia fazer manutenção. Então todas as brabas, essa turma fazia, eu pegava uma hora da tarde e saía às dez. Quando eu comecei no CEFET então imagina tudo quanto é braba a gente pegou, e eu lembro de uma em que eu já estava quase pronto para ir embora, já estava me arrumando para ir embora, já tinha tirado o azulão e começou a inundar um andar com água, tava surgindo uma água, minando uma água sabe-se lá de onde era, e estava inundando um andar lá e poderia pegar a casa de máquina, de elevador, que podia dar uma pane séria e fui eu, eu era o único ali na época, na hora e acabou que eu tive que ir lá resolver, eu lembro que eu entrei em um buraco que eu jamais imaginei que existisse dentro de Furnas. Era um buraco entre laje, ficava entre o piso de um andar e a laje do andar de baixo existia um vão, que entrava alguém só se arrastando nesse vão, tinha uma tubulação de água que alimentava um sistema lá qualquer e essa tubulação tinha rompido, e foi eu entrar nesse buraco, eu acho que ali é o lugar mais apertado e difícil de alguém já ter ido e eu fui, por isso que eu digo que cada buraco daquele lugar lá eu já fui, alguém fala assim, “mas tem esse lugar assim”, eu já fui, eu já fui, eu já andei por debaixo dali do escritório central existe um lugar que o pessoal de manutenção conhece bem, que a gente chama de tubovia, é onde passa todo o sistema de tubulação de parte elétrica, tudo passa por ali, é como se fosse o sistema nervoso nosso, que passa na coluna vem desde o cérebro até a pontinha do dedo, nosso sistema nervoso que passa ali por dentro da coluna é a tubovia, tudo passa por ali, água, energia, tudo,

eu já andei aquilo tudo, cada buraco dali eu conheço, 25 anos ando trabalhando. E você falou também de pessoas, eu construí uma trajetória dentro da divisão, eu digo até que muito bacana, eu me orgulho, eu me orgulho de ter construído a minha trajetória dentro da divisão de manutenção, eu comecei como estagiário, de estagiário eu passei para mecânico, de mecânico eu fui a técnico, de técnico eu fui encarregado de setor, eu cheguei a ser um encarregado do setor, e depois nesse período em que eu era encarregado, foi quando eu prestei o concurso para Furnas e fui aprovado no concurso, eu passei no concurso de Furnas e eu ingressei, eu deixei de ser contratado para ser efetivo, foi quando eu passei no concurso de Furnas, e quando eu passei no concurso de Furnas, eu fui convidado a ser coordenador de operação, depois coordenador de engenharia, e eu fui subgerente da divisão de manutenção e é curioso, eu costumo dizer, a pessoa que me abriu as portas para Furnas era subgerente da divisão de manutenção, e eu cheguei ao cargo posto na divisão que ele me proporcionou entrar, eu cheguei ao mesmo cargo posto em que ele era quando ele se aposentou, que era o subgerente da divisão de manutenção, então eu costumo dizer que eu consegui percorrer todas as funções e cargos possíveis dentro daquilo que me foi proposto quando eu

ingressei lá como estagiário em 03/03/1993, eu penso que eu cheguei ao máximo em que aquele garoto de 18 para 19 anos poderia pensar em chegar, eu acho que esse garoto chegou, pensa, quando um garoto de 18 anos e quem te recebe é o subgerente da área eu pensava assim, se eu for o que esse cara é, eu estou bem e eu cheguei sabe? Eu me vi no lugar do Carlos Alberto Souza Gomes que me colocou em Furnas, me abriu as portas em Furnas, eu cheguei no lugar que ele me recebeu, a pessoa que me recebeu em Furnas eu cheguei até o posto dele, eu acho isso muito legal, muito, foi Furnas. Quando eu recebi o convite para dar essa entrevista eu fiquei pensando no que falar, eu resolvi depois não pensar tanto, mas uma coisa que eu pensei sobre o que eu gostaria de falar, é que para mim é fato, é a base, e é isso que eu vou falar para mim é a base de ser o que eu sou hoje, de estar onde eu estou hoje, são pessoas. Eu tive na minha infância, eu tive na minha juventude, eu tive na minha carreira profissional pessoas, Furnas é uma potência, Eletrobras, Furnas é uma potência, é uma empresa extraordinária, mas contudo essa empresa não seria o que é se não fossem as pessoas, eu tive pessoas sensacionais que para um garoto de 18 para 19 anos, que eu sempre fui muito estudioso, como eu disse sempre gostei de estudar, a consciência, o conhecimento teórico eu tinha, mas o conhecimento para trazer o conhecimento teórico para prática, isso não é na escola que ensina, é o relacionamento, são as pessoas que ensinam, eu tive pessoas ao meu lado sensacionais. Eu quando fiz meus 25 anos de Furnas eu postei na minha rede social, eu fiz um post eu apontando para o lago de Furnas, e fiz um agradecimento especial a algumas pessoas no texto, e talvez seja essa hora, eu gostaria até de refazê-lo, refazer os agradecimentos aqui pelas pessoas do seu Edson Coelho meu primeiro encarregado, o Carlos Alberto Souza Gomes que foi quem me abriu as portas e até hoje nós somos amigos, o Luiz Carlos Assado de Oliveira, que foi primordial para minha formação, Julinho, Júlio César da Costa, tem uma coisa interessante que o Julinho me falou, eu lembro que eu trabalhei com um cara que ele era todo bronco, todo da força bruta, e a gente pegou um trabalho muito técnico de desmontar um equipamento que era muito técnico, muito delicado, e esse cara tudo com ele era na força, e ele acabou quebrando mais ainda esse equipamento. O que era para consertar ele acabou estragando mais. E eu lembro que o Julinho, que era o nosso encarregado, ele vendo aquilo, ele vendo o cara metendo a marreta nas coisas ele ficou parado, ele não teve reação de mandar parar, porque ele já tinha dado a primeira pancada e já tinha estragado, aí o Julinho deixou acontecer, mas o Julinho usou aquilo como uma forma de me ensinar, depois que o equipamento já estava todo quebrado, que já não tinha jeito, a gente ia ter que trocar mais peça do que o que estava proposto primeiro, o Julinho me chamou em um canto e me falou uma coisa que eu tomei aquilo para minha vida profissional. Ele virou para mim e falou, “um bom técnico antes de pegar a ferramenta ele usa a cabeça, então antes de meter a mão pensa o que você vai fazer, nos recursos que você vai precisar, as ferramentas que você vai precisar, no tempo que você vai precisar para fazer aquela atividade. Antes de meter a mão na ferramenta, um técnico usa a cabeça”. Aquilo ali eu tomei para minha vida, e isso eu falo para você que não é só na nossa vida profissional, na nossa vida como um todo, se você vai comprar uma casa, você antes tem que pensar, se você vai comprar um carro, você antes tem que pensar, se você vai casar, antes tem que pensar, se você vai fazer um investimento, financeiro, você antes tem que pensar. Então aquilo para um garoto, eu tinha meus 19 anos na época, 20 anos. Aquilo entrou e me formou, me ajudou a formar. Então, eu falo para você de novo, as pessoas me formaram, Furnas que são as pessoas, essas pessoas que me formaram. Eu construí dentro de Furnas as pessoas, eu falei do Júlio César, falei do Assad, falei do Carlos Alberto, falei do Edson Coelho, um cara que foi especial para mim, dois caras, e esses não eram encarregados, nem chefe, era peão junto comigo, foi PC e o Josafá, esses dois caras que foi par comigo, parceiro de azulão junto, de sofrer junto, esses dois caras foram sensacionais para minha vida profissional. Se eu posso ser grato a Furnas, eu sou grato a Furnas por ter me proporcionado conviver com pessoas sensacionais que me transformaram no profissional que eu sou hoje, na pessoa que eu sou hoje, essas pessoas, que você teve relacionamento com muita gente, conheceu muita gente, conheci muita gente, eu galguei todos os postos de carreiras e cargos possíveis dentro de Furnas, e isso me proporcionou conhecer gente, e foram essas pessoas, essa gente que me formou, que me moldou com caráter de homem, caráter profissional. e na minha carreira profissional.

01:52:23
P/1 -

E conta pra gente, para quem não conhece o prédio, o escritório central, que inclusive teve essa mudança recente, e infelizmente talvez nem tenha mais muito a chance de conhecer, mais pra frente, os funcionários novos, enfim, uma pergunta que eu estou fazendo para quem teve essa relação íntima com o escritório, e você de longe teve a relação mais íntima até agora que eu estou vendo aqui com o escritório, me descreva como é que era o escritório central, os blocos, para quem não viveu, para quem não viu isso. Que blocos tinha o que? Qual é a especificidade de cada um, como é que era viver nesses prédios, nesse conjunto de prédios lá em Botafogo, Anderson?
R - Eu acredito que como você falou, essa pergunta você tenha feito para outras pessoas que você entrevistou, e talvez a ótica de cada um seja na sua área, dentro da sua vivência. Eu gostaria até de deixar aqui um pesar, um lamento profundo, o fato de hoje Furnas ter abandonado, ter deixado essa história, esse vínculo, esse elo que tem com o escritório central. É lamentável isso para mim, é lamentável, Furnas não estar no escritório central. Eu acho até que Furnas, e eu era um defensor disso, eu como manutenção por conhecer manutenção, por saber os problemas crônicos que o escritório central tinha, como infraestrutura, eu até fui um defensor de que nós procurássemos algo fora dali, mas que jamais abandonássemos aquilo, eu acho que aquilo ali tinha como se manter para um grupo, porque poderia, teria capacidade técnica estrutural para isso, mas uma outra parte da empresa procurar algo novo, prédio novo, feito para, com a finalidade de receber Furnas, ou também com uma identidade de Furnas, com a característica de Furnas, pensada e construída para Furnas, e não usar um prédio que foi de uma outra empresa, alugado, adaptado para gente. Eu acho que Furnas tinha que ter construído algo dela, com a identidade dela para ela, e permanecido no escritório central. Sob a ótica de cada um dos entrevistados talvez eles tenham dito as características de cada prédio, de cada espaço ali. Eu talvez passe o relato de quem conheceu Furnas na sua estrutura, nas suas entranhas, na sua infra, para mim o prédio principal de Furnas é o bloco C, apesar da diretoria e presidência ocupar o bloco A, mas é no bloco C que o coração pulsa, é do bloco C que sai praticamente tudo que alimentava o escritório central, a parte de ar condicionado, saia do bloco C, a subestação era anexa ao bloco C, subestação de energia elétrica era anexa ao bloco C, a parte de rede, telefonia, processamento de dados, aquele banco de dados era no bloco C. As entranhas, o pulsar de sangue e de vida do escritório central saiam do bloco C, e era isso, o presidente que seria o mais alto posto daquele complexo estivesse lá no décimo sexto andar do bloco A, que era o lugar que ele ocupava, se não saísse a rede lá do bloco C, rede cabeada, internet, telefone para sala dele, ele não ia ligar para ninguém, não ia acessar a internet, se não saísse a água gelada lá do bloco C, chegasse no ar-condicionado do décimo sexto andar para alimentar o ar condicionado dele, ele estaria passando calor, se não saísse a energia elétrica e alimentasse a tomada, a iluminação, não teria iluminação para ele. Então o coração do escritório central para mim era o bloco C. Então, em falar de infraestrutura o prédio principal para mim era o bloco C,

era ali que tudo acontecia, tudo começava ali, tinha turno 24 horas. Eu lembro que eu fui supervisor de operação da parte da central de água gelada. A gente tinha procedimentos que o funcionário não sabia, mas que 05 horas da manhã por exemplo, um operador ligava todos os ar condicionados, ligava iluminação, ligava o ventilador, para quando chegasse o primeiro funcionário que chegasse mais cedo, sei lá, umas 07 horas, 07:30, o nosso expediente era às 08:30. Mas tinha sempre gente que chegava mais cedo para poder pegar a vaga no poeirão, no estacionamento, o pessoal chegava às vezes 07 horas, 06:30 da manhã já tinha gente no escritório central. Então quando esse funcionário chegava ele não sabia de nada, mas tinha um grupo de pessoas que estava ligando o ar-condicionado, cuidando da água gelada, do sistema de ar-condicionado, e era algo que ninguém conhecia, ninguém sabia, mas a gente estava ali trabalhando para isso. Quando ele passava o crachá dele na portaria, é porque alguém passou a madrugada cuidando dos painéis elétricos, entendeu? Aquilo lá era uma cidade, era uma mini cidade e eu trabalhei na divisão que cuidava daquilo, nós éramos uma prefeitura, nós tínhamos jardinagem, nós tínhamos limpeza, nós tínhamos segurança, nós tínhamos telefonia, iluminação, ar condicionado, fornecimento de água, água de beber, água de uso, tudo que uma cidade tem, só que concentrada em sei lá quantos metros quadrados nós temos ali, eu não lembro, eu até tenho esses números no meu computador ainda, mas esses metros quadrados todos é uma mini cidade concentrada, em que tudo que uma cidade tem, nós temos, nós tínhamos ali. É muito triste ver hoje a gente fora daquilo ali.

02:00:19
P/1 - Vamos relembrar um pouquinho mais desse escritório central. Que espaços dos blocos todos e anexos eram mais famosos, eram mais circulados, né? Digamos assim, espaços que estavam na boca do povo, esses espaços sociais, você falou por exemplo do poleirão, falaram para mim também dos refeitórios. Onde e quais os espaços eram mais marcantes, que reuniam mais gente ali?
R - Acho que o ponto de encontro das pessoas que eu me recordo era o refeitório. Eu entrei em uma época em Furnas, eu vivi o refeitório sobre alguns aspectos diferentes, de épocas diferentes, eu frequentei o refeitório quando era bandejão mesmo, aquele que você recebia uma bandeja que ela já tinha as separações, que você botava o arroz no lugar, o feijão noutro lugar, a carne em outro lugar, a sobremesa, então era aquela coisa típica de quando você vê um filme assim, aquela bandejão, um monte de gente em uma fila pegando comida, era isso, você não pagava pela comida, nós não pagávamos pela comida, era de graça, pelo menos para mim era de graça, porque eu era estagiário, então todo mundo comia no bandejão, não tinha essa coisa de ir na rua comer em restaurante, todo mundo comia no bandejão, era o lugar em que todos estavam, então quando se via às vezes fulano, beltrano, pessoas distintas, era ali que se via, quando você não ia na sala deles, era ali que se via, e pulsava o bandejão, era muita coisa, servia-se muita, era muita comida que servia. Eu lembro de situações, é engraçado, eu trabalhei com o senhor, falando isso, eu nem sei como anda esse senhor, nem sei se ele está vivo ainda, mas Manoel Moura da Silva, ele era o mecânico responsável pelos equipamentos da cozinha, e como eu era novo, estagiário depois de mecânico, novo eu trabalhei um pouco com cada um que tinha os especialistas entende? Tinha o cara que era especialista em manutenção na cozinha, tinha um cara que era especialista em manutenção do ar condicionado, tinha um cara que era manutenção do sistema de antena, então eu trabalhei um pouquinho com cada um desses, eu trabalhei com um senhor que cuidava das persianas, das janelas, só ele mexia nas persianas. Imagina o que é uma pessoa chegar às 08:30 da manhã, sair às 05 horas da tarde. O que ele faz? Ele só conserta persiana, era o expediente dele consertando persiana, e assim também era, esse que consertava a persiana era o Roberto Roberto Maluco, e esse senhor que cuidava dos equipamentos de cozinha, que era o Manoel Moura da Silva, eu trabalhei com ele algumas vezes, eu lembro que a gente ia às vezes, porque as manutenções elas chegam a acontecer antes de ferver a coisa, antes de explodir o negócio. Então a gente ia bem cedo e a cozinha já funcionava bem cedo. Então quando a gente estava lá fazendo manutenção por exemplo em um descascador de batata, o Moura tinha muito acesso a cozinha, ele ia lá na menina, na cozinheira, falava, “o que você vai fazer hoje? Ela, “hoje nós vamos fazer um frango assado”, ele, “dá um franguinho aí para eu levar lá para as oficinas”, aí a gente saia com cardápio do refeitório antes do pessoal saber, a gente já chegava nas oficinas, tirava da bolsa de ferramenta aquele pedaço de frango, a bolsa de ferramenta cheio de ferramentas, sacava um frango de dentro, aí todo mundo beliscava um pedacinho e falava, “caramba, o almoço hoje vai ser bom, o frango está gostoso”. Então pessoal já ia para o almoço tendo provado a comida, era muito bacana. Então assim, o refeitório era um lugar de encontro, era um lugar de encontro, era muita gente, era muita gente que comia lá, depois mudou, eu participei também da reforma, eu lembro que tem até uma história curiosa, eu tenho um problema em um dedo, eu acho que é esse aqui que eu prendi debaixo de uma máquina que a gente tinha nas oficinas, que ela dobrava a chapa, e a gente estava fazendo a reforma do refeitório, do restaurante, e nesse serviço a gente ia ter que trabalhar no carnaval, o restaurante, a gente estava com prazo para entregar a obra, e a gente ia ter que trabalhar o Carnaval todo, e eu tinha alugado uma casa na Região dos Lagos, eu já tinha pago a casa, e eu falei meu Deus do céu, vou perder a casa, vou perder o aluguel aquela coisa toda e na quinta-feira antes do carnaval eu já sabendo que eu ia trabalhar o carnaval, eu sem querer eu machuquei o dedo, eu arranquei a unha do dedo nessa máquina, e eu fui dispensado durante 15 dias, porque eu machuquei o dedo, aí o pessoal fala que eu botei o dedo na máquina só para liberar o Carnaval, para poder curtir o carnaval, porque eu estava escalado para o carnaval para reforma do restaurante, que foi exatamente quando mudou o restaurante, e passou a ser um restaurante em que você pagava por ele. O restaurante passou a ser pago e não era mais no crachá, você podia pagar o restaurante, mudou todo o conceito do bandejão, mudou completamente, foi quando começou as pessoas comeram fora, Furnas passou a pagar tíquete que não pagava, aquela coisa que a história de Furnas, a parte de benefícios.

02:06:53
P/1 - Anderson quem eram as figuras, você já falou de muita gente né? Mas as empresas sempre tem aquelas figuras que são famosas, as pessoas são um pouco às vezes excêntricas ou só figuras por vários motivos, digamos assim. Você tem na sua memória algumas figuras de Furnas nesse sentido?
R - Tenho, tenho, eu tenho um senhor que me marcou muito, eu nunca convivi com ele, eu nunca nem conversei com ele, mas tinha um senhor que eu não lembro o nome, eu acho que era Seu Paixão, era Paixão, eu não me recordo, ele trabalhava na ASEF, ele era matrícula 03 ou 02, se não me engano, esse senhor ia trabalhar de terno e gravata, já velho, velhinho, ele trabalhando eu lembro disso, ele trabalhando em Furnas e ele era matrícula 02, 03, matrícula bem baixinha, foi um dos primeiros funcionários de Furnas, ele estava lá trabalhando, provavelmente já tinha se aposentado de Furnas e tinha voltado trabalhando pela ASEF na época ou pela pós-Furnas. Eu não me recordo muito bem, mas era um senhorzinho magrinho, aquilo ali eu falei assim, meu Deus do céu o que é uma pessoa se a matrícula 03, que seja 010, matrícula inicial de Furnas e está aqui até hoje, é sinal que esse negócio vale a pena, é sinal de que vale a pena, valia a pena estar em Furnas, e aquele senhor para mim era o reflexo disso, era a demonstração de que valia a pena está em Furnas, fora ele tinha figuras folclóricas dentro de Furnas, tinha a Fátima, Fátimão que era assessorista, aquela pessoa muito divertida, tinha o Jorge Mônica, Jorginho, tem histórias muito engraçadas com Jorge Mônica, eu tive um companheiro de trabalho, pensa em um cara sacana, eu tive um amigo de trabalho Jorge Veras, pensa em um cara sacana, era o Jorge Veras muito sacana, e eu fui trabalhar, foi minha primeira semana em Furnas, eu estava trabalhando com o Roberto que era esse que cuidava das persianas, e aí o Roberto me levou para um prédio, para um lugar lá que a gente estava desmontando, que era onde funcionava a cooperativa de Furnas o SICOOB, o BANCOOB, a SECREMEF, que era a cooperativa dos desempregados de Furnas, ela funcionava em um lugar, e ela estava mudando daquele lugar para um outro, então o Roberto Maluco que é quem cuidava da persiana, me escalou para trabalhar com ele para desmontar as persianas desse lugar que estava desmontando para montá-lo no lugar novo, e aí nisso que a gente estava indo para esse lugar, a gente cruzou com Jorge Mônica que era um cara folclórico dentro de Furnas, uma pessoa dez, pensa em uma pessoa carinhosa, uma pessoa espetacular, não sei como é que ele está hoje, mas ele é homossexual, então quando chegava garoto novo o pessoal botava pilha para apresentar para o Jorge Mônica. “Ó, mas o menininho novo aí para você Jorge”, aquela coisa toda. E eu lembro que eu fui trabalhar nesse lugar com o Roberto Maluco e o Roberto puxou o Jorge Mônica para me levar para falar assim, “ai um garotinho para você”, aquela coisa toda. Aí imagina um garoto de 19 anos, todo sem jeito, e tendo ali o cara, que era tudo um teatro, mas que para mim era sério, “e aí Jorge, para você garoto novo”, e o Jorge meio que dando em cima de mim, eu sem jeito, - deixa eu trabalhar aqui, aquela coisa toda e chegou esse cara que é sacana, que é o Jorge Veras e ele começou agarrar o Jorge Mônica, e o Jorge Mônica louco com ele, e o ambiente que a gente estava, era um ambiente que estava em obra, então estava fechado, não tinha gente ali, era só a gente, o Jorge Veras virou para o Jorge Mônica e falou assim, “ cara eu vou pegar você hoje, eu vou te pegar, fica aqui que eu vou ali fechar a porta”, e o Jorge Mônica ficou ali preparado, tudo teatro, preparado para ter o Jorge Veras, e o Jorge Veras saiu e apertou o botão de emergência, que tocava na central de emergência da brigada de Incêndio de Furnas, que ficava no bloco A, estava eu, o Jorge Mônica e o Roberto dentro de uma sala, e entra a brigada de emergência achando que está pegando fogo, e eu um garoto novo, como é que eu vou explicar que não era eu que estava com o cara ali, foi uma situação que o Jorge Veras criou apertando o botão de emergência e partindo, deixou a gente na maior roubada, até a gente explicar que focinho de porco não é tomada, foi uma situação inusitada para mim ali. Eu lembro do Jorge Mônica, depois a gente acabou criando um vínculo de amizade forte, ele tinha um acesso a manutenção bacana, eu lembro muito dele como figuras folclóricas, figuras marcantes do cotidiano, eu não estou falando, quando eu falo figuras marcantes, eu não falo de importantes. Importante a gente pensa no diretor, no presidente, no superintendente, esses já são por natureza da função, mas pessoas assim que eu lembro de pessoas folclóricas, que eu via sempre circulando, passando, que às vezes as coisas giravam em torno dessas pessoas, por exemplo, Jorge Mônica, toda a parte de coffee break no prédio, que era o prédio em que tinha os cursos e treinamento ele era o responsável, o Jorge Monito cuidava dessa parte de coffee break, as coisas ali giravam em torno do Jorge Mônica. A Fátima que era ascensorista, tu ia para o bloco A, estava ela no elevador, tu ia no bloco C, estava ela no elevador, você ia no bloco B, estava ela no elevador, mas essa mulher é onipresente, em tudo quanto é lugar ela estava, e era uma pessoa que você entrava no elevador, ela já puxava o assunto, puxava a gente em 02, 03 andares que você subia, às vezes você já falava da vida como um todo, era sensacional a Fátima, sem contar nas pessoas que eu já citei, as pessoas que passaram pela minha vida, que foram diretamente ligadas a mim, ou indiretamente ligadas a mim, eu tive um chefe de departamento que para mim foi um dos mais importantes na minha trajetória, que foi o Batal, Alexandre Batal, que foi exatamente na época em que eu era subgerente, foi com quem eu mais convivi em um nível gerencial, foi o Alexandre Batal, que veio a substituir o Paula Lima, que depois foi a diretor ou assessor de diretor uma coisa assim. Eu convivi com muita gente, eu convivi desde o faxineiro até o presidente, eu tive situações em que eu me reunia com o presidente de Furnas, eu falo para você que eu sendo estagiário, entrando como estagiário, eu convivi e tinha relação não só pessoal, como de trabalho, tanto com o chão de fábrica, quanto com o presidente da empresa, eu fechei cronograma de obra em reunião diretamente sentado à mesa do presidente de Furnas, na sala do presidente de Furnas. Então assim, eu acho, penso que de um universo de sei lá quantos dois mil, sei lá, mil e quinhentos, três mil funcionários existem em Furnas, poucos são aqueles que tem que tratar de negócio, negócio da empresa sentando à mesa para tratar e negociar diretamente com o Presidente, é lógico que eu não estava ali sozinho, estava representando um órgão, então comigo tinha outras pessoas, mas eu como pessoa estava ali. Então penso que eu vivi o que eu pude, e o que eu tinha para viver em Furnas eu já vivi.

02:17:11
P/1 - Agora, você acha que tem algum bloco, ou algum equipamento, ou algum setor ali do escritório central na sua experiência que era mais desafiador trabalhar, ou que dava mais problemas, enfim que você tinha que prestar mais atenção, teve situações especiais em algum desses lugares? Se tinha situações mais recorrentes ou mais especiais que você tinha que lidar no seu dia a dia?
R - Vamos lá, em se tratando de manutenção que era a minha área, trabalhar com manutenção é algo muito dinâmico, você tem aquelas coisas corriqueiras que está dentro da sua rotina de trabalho, mas acontecem coisas que você não prevê, então para mim o maior desafio de trabalhar, o tempo em que eu estive dentro de Furnas, foi exatamente com aquelas coisas que estavam fora do cotidiano, fora da rotina, nós passamos por algumas situações principalmente, a gente já citou aqui que eu fui um defensor de que Furnas tivesse algo fora do escritório central, por justamente conhecer as dificuldades que era para manutenção manter aquilo lá, porque era uns prédios da década de 70, são prédios antigos que demandava mais energia, demandava mais manutenção, mais rotinas para que mantivesse ele funcionando. Então, por defender isso, exatamente por conhecer os desafios que era manter aquele complexo de prédios funcionando a contento. Eu lembro de uma situação em que eu vivi, foi até uma bandeira que eu tive que levantar, e eu lutei para isso, não sozinho, mas eu fui primordial, vamos dizer assim, para que isso acontecesse. Eu lembro que a gente estava pensando em fazer manutenção em uma máquina que refrigerava a água, funcionava o sistema de ar-condicionado de Furnas, chama de ar-condicionado de Furnas central, é o que se chama de ar condicionado indireto, você tem uma máquina que refrigera água, e essa água é que refrigera o ambiente, então o ar condicionado não refrigera o ambiente, a máquina de refrigeração não refrigera o ambiente, ela refrigera a água, a água circulando é que refrigera o ambiente, então é o chamado refrigeração indireta, essa máquina que refrigerava a água é uma máquina monstruosa, o volume de água que passava por essa máquina era absurdo, era uma máquina que deve ter o que, uns 06, 07 metros acho que talvez isso de comprimento, por uns 02 ou 03 de largura, aquilo era monstruoso, o motor enorme, existiam 04 máquinas dessa. Funcionavam duas máquinas paradas, duas funcionando, duas paradas e às vezes no verão forte, no verão pesado mesmo, funcionavam 03 máquinas e ficava uma de reserva, a gente ficava ciclando essas 03 no conjunto de 04, e uma dessas máquinas que era a mais potente de todas, ela ficou obsoleta por conta de todas as dificuldades que a gente já falou aqui do escritório central, de ser um prédio antigo, e eu fui um defensor, eu fui alguém que levantou uma bandeira da gente reformar a máquina, o chamado retrofit, modernizar, dar um upgrade na máquina, e a engenharia que não era a minha área, eu era de manutenção, mas existia engenharia de projeto, e a engenharia queria trocar a máquina, ela queria que colocasse uma máquina nova. Qual é a diferença de preço entre comprar uma nova? Seria um outro projeto, tubulação nova, bomba nova, tudo novo e reformar aquela era metade, cinquenta por cento do valor. Reformar é cinquenta por cento, por incrível que pareça, por conta de todo o projeto que envolvia o entorno dela, reformar era cinquenta por cento do valor da máquina, mas a engenharia não queria reformar, e eu fui um defensor ferrenho da reforma, cheguei a preparar alguns relatórios, alguns trabalhos, algumas apresentações para convencer os pagadores, quem iria bancar a ideia, os talk road da empresa, eu tinha que convencê-los disso, e a gente reformou esse equipamento que está, deve estar funcionando lá até hoje, e eu lembro quanto que eu gastei, eu lembro que nós gastamos só com essa reforma na época, isso já tem alguns anos, foi setecentos e oitenta mil reais o valor dessa reforma, e eu lembro que no primeiro ano de funcionamento dessa máquina, eu montei esse estudo, eu tinha esse estudo, eu lembro que no primeiro ano de funcionamento dessa máquina ela já tinha gerado uma economia de energia, que ela demandava muita energia, era muita antiga, antes de reformar, então a economia que ela gerou para Furnas no primeiro ano foi de quinhentos mil reais. Então foi um projeto em que nós gastamos setecentos e oitenta, fora os periféricos, mas basicamente setecentos e oitenta, e que já no primeiro ano ele trouxe uma economia de quinhentos mil reais, o sucesso dessa minha empreitada foi muito marcante dentro da minha carreira, ali eu digo que eu posso ter ganho em alguns pontos com o alto escalão da empresa, porque eles viram o resultado do trabalho que não foi só meu, claro que não foi só meu, mas eu fui um, eu encabecei esse negócio, tomei para mim, abracei e fiz acontecer, foi muito legal.

02:24:44
P/1 - Me conta um pouco agora também como era trabalhar na manutenção e fazer engenharia? A CEFET qual foi a importância dela na tua carreira você acha?
R - Olha, eu não concluí o CEFET, exatamente por essa questão, era muito difícil, você trabalhar e estudar, sempre foi muito difícil, e o CEFET como eu falei era no turno da manhã, e eu tinha até esse horário que foi criado para gente de uma às dez, mas chegou um período no CEFET em que eu tinha aula de algumas matérias na parte da manhã, e eu já estava com algumas matérias na parte da noite, era quase integral, e eu me vi, ou eu estudo ou eu trabalho, eu já estava casado, e eu falei assim, não dá para manter o estudo no CEFET, foi quando eu abandonei o CEFET no sétimo período e não me formei, mas até chegar a essa conclusão de que não dava mais, foi muito ralado, estudar e trabalhar é muito ralado. Eu lembro que outro dia eu estava conversando com a minha filha, e eu estudava na madrugada, porque eu saia do CEFET e ia para Furnas, chegava em Furnas , saia do CEFET meio-dia, meio-dia e vinte. Era o tempo de chegar em Furnas uma hora, chegava em Furnas comia rapidinho no refeitório, trocava de roupa e trabalho. Aí trabalhava das 13:30 até às 10 da noite, 10 da noite eu pegava o ônibus para Marechal Hermes morto, cansado, chegava em casa às vezes tendo que estudar para prova no dia seguinte, da matéria que eu teria a prova no CEFET, virava a madrugada, era muito ralado, era muito difícil, é muito difícil trabalhar e estudar, mas o CEFET, apesar de não ter concluído a engenharia no CEFET, o CEFET foi algo sensacional dentro da minha formação. Eu conheci alguns professores lá que foram professores sensacionais, o Pedro de resistência dos materiais, o professor de desenho técnico, eu esqueci o nome dele, mas eu lembro que nesse de desenho técnico foi muito interessante, ele ajudou muito nessa questão de você pensar em um projeto como um todo, porque ele fazia um desafio, toda a turma dele tinha um desafio, no início do período ele já propunha o resultado final do período, que era você apresentar uma ideia, então essa ideia ela estava desde da concepção até a finalização de um protótipo dessa sua ideia, seja ele virtual ou seja ele palpável, físico, mas um protótipo, e eu lembro que ele dava algumas ideias de coisas, dificuldades que o mundo enfrentava, como ele também deixava livre, e eu lembro que ele propôs dentro das opções uma máquina que lavasse garrafões de água mineral, esses garrafões de 20 litros, ele queria que nós propuséssemos a criação de uma máquina, ou a inovação de uma que já existisse, em que fosse possível lavar esses garrafões de água mineral, o grupo era eu e mais dois amigos que estudavam comigo, e nós nos debruçamos sobre isso, o trabalho ficou sensacional, tanto que ao fim do período ele quis levar a nossa ideia a uma indústria, para que a indústria optasse, de repente pensasse em fabricar aquela ideia, lógico, que iria melhorar muita coisa porque a gente só pensou como um conceito, a gente não fez os cálculos finais, a gente só pensou como conceito a coisa básica do equipamento, a gente pensou que tipo de mecanismo, eu lembro que eu e a equipe foi uma tarefa minha, eu lembro até o nome do sistema mecânico que eu escolhi, foi uma roda de Genebra, é uma roda em que mistura um movimento contínuo de rotação em um movimento intermitente, ele transforma o movimento contínuo em um movimento intermitente, em que movimenta para, movimenta para, movimenta para, e eu que fiz os cálculos, quando ele viu os cálculos, ele ficou impressionado com a gente, foi muito bacana mesmo. Ele ficou muito interessado na máquina, nem sei se ele levou de fato, não sei se isso avançou, a ideia avançou, mas que o CEFET foi fundamental dentre tudo, não só o CEFET, como eu falei a escola Leonor Posada primeiro grau, o Mauá que me formou como um técnico, e o CEFET na parte de engenharia ele me ajudou muito na minha formação, principalmente cabeça, inteligência, de pensar fora da caixinha foi muito legal, muito bom.

02:31:10
P/1 - Anderson, em que altura da sua carreira você foi mudar de área? Você está hoje na termoelétrica de Santa Cruz, pelo que eu entendi. Em que altura da sua carreira você fez essa mudança e por quê?
R - Vamos lá, se você me perguntar assim, você queria ter mudado, eu falaria para você que não. Hoje eu poderia estar ainda trabalhando com infraestrutura, poderia. Não estou por conta, Furnas, apesar de ter uma tradição e ser tradicional em muita coisa, ela também mudou muito, e principalmente porque outras pessoas assumiram Furnas e diante do novo conceito e não digo ideológico, mas político e até o conceito administrativo da empresa, muita coisa mudou dentro da empresa. Furnas é outra hoje, isso é um fato, Furnas é outra e eu vivi isso, e como eu falei aquele treinamento que eu fiz quando eu conheci o meu pai, que foi um treinamento de liderança, Furnas eu acredito, tá? Tudo que eu estou falando aqui é o que eu acredito, e quando eu falo Furnas, eu falo de pessoas, quando eu falo Furnas são pessoas que gerenciam Furnas, então Furnas acreditou que eu tinha um potencial para avançar, para ir além. Só que as pessoas mudaram, as pessoas foram outras. Quem estava, entre aspas, no poder, mandando, foram substituídas, e as que entraram por não me conhecer e não ter dado o tempo para me conhecer, optaram por outras pessoas, eu lembro que eu fui meio...eu me senti assim meio que colocado de lado, chegou um ponto em que me deram uma sala, uma mesa e falaram assim, “ó, fica aí”, e eu nunca gostei disso, eu sempre fui uma pessoa de trabalhar, sempre fui uma pessoa de fazer, e me vi em uma sala, um telefone, um computador, uma mesa, mas qual era a minha função? Nada? Não tinha função, eu não tinha o porque estar ali. Eu já não tinha mais o porquê estar ali, e foi uma opção deles, opção de quem estava acima de mim, e aí eu falei assim, - não vou mais ficar aqui, eu quero trabalhar, eu ser importante para isso daqui, eu não estou aqui para ganhar meu salário, eu estou aqui para fazer, para trabalhar, para ter atividade, e eu lembro que o meu gerente direto, que é uma das pessoas que eu agradeci, que é o Assad dos carros da cidade, ele se aposentou, e assim estava tudo encaminhado para que eu assumisse, tudo pavimentado, vamos dizer assim, e o meu chefe de departamento na época que era o Roberto Campos, ele chegou a propor isso que eu assumisse aquela função, aquele cargo mas optaram por não fazer isso, trouxeram uma pessoa de outra área, de outro órgão que não tinha a história vivida dentro da manutenção para cuidar da manutenção, mas queriam que eu ficasse como substituto dessa pessoa, e não é pela pessoa porque eu falo dessa pessoa até hoje, não tem problema nenhum, não é a pessoa que assumiu a função, era além dela, e queriam que eu ficasse como substituto dela, para que no final eu só fosse o trabalhador mesmo, quem fosse fazer a coisa acontecer seria eu, e a pessoa na função recebendo, eu falei, - não, não preciso, eu não estou aqui pelo dinheiro só, é lógico que a gente trabalha para receber, a gente sempre quer algo mais, mas eu não estou aqui simplesmente para ganhar, para receber o meu salário no final do mês, eu estou aqui por um propósito, por um sentido, por um vínculo, por uma razão, se essa razão já não existe mais, não faz sentido eu estar ali. E aí foi quando eu fui até a minha gerência, foi uma conversa até um pouco dura, um pouco pesada, que eu disse, eu sou um cara muito sincero, sempre fui e talvez essa tenha sido uma das dificuldades que eu tive, eu falo exatamente o que eu penso, com um jeito, sabendo dosar as palavras, mas ser claro naquilo que eu penso, e eu fui claro naquilo que eu penso e resolvi sair. Foi quando eu falei assim, - eu aqui com vocês eu não trabalho mais, não sei nem para onde eu vou, mas uma coisa é certa que com vocês eu não trabalho mais! Já foi quando eu decidi sair da parte de infraestrutura, de manutenção e procurar um lugar para ficar, no mesmo dia, eu lembro que eu fui a 05 lugares, a 05 órgãos, cada um dentro de uma área que eu julgava bacana para mim, que eu gostava, e foi em um dos órgãos que eu fui, foi esse que é o órgão que cuida dessa parte de obra, então nos 05 órgãos que eu fui, todos os 05, quando eu falei assim, - estou querendo sair lá de onde eu estou, e estou procurando um lugar pra mim. Os 05 abriram a porta. “Não, venha para cá, tem esse trâmite, de vaga, de se ter o posto, se tem a vaga no lugar certo, se vai trazer a vaga, ia ter toda essa história, mas os 05 se colocaram abertos a me receber, aí o superintendente com quem eu fui conversar, que é o órgão que cuida aqui da obra, ele me fez o convite, ele nem sabia que eu morava aqui há 25 minutos da obra, ele me fez convite para vir trabalhar aqui na obra e na época eu ponderei, achei razoável, interessante, até um desafio também para mim, porque é um desafio apesar de eu sempre ter trabalhado com mecânica, com obra, mas era no âmbito de manutenção predial, aqui não, aqui a gente está falando de uma usina, de uma termoelétrica, aqui é uma usina a gás, implantando o ciclo combinado com um gerador a vapor, uma turbina a vapor, é uma coisa muito complexa, e para mim foi um desafio, está sendo um desafio até hoje na verdade, estar aqui, conhecer algo que é atividade fim da empresa, acho muito interessante, muito bom, então eu vim para cá, resolvi vir para cá, aceitei o convite, eu não me arrependo nem um pouco, tenho amigos ainda na manutenção, às vezes converso com uns e outros, lá as coisas não são como eram antes, as pessoas são outras claro, mas eu não me arrependo nem um pouco de ter tomado a decisão que eu tomei.

02:39:43
P/1 - Antes de comentar sobre essa nova fase da sua carreira, eu queria te perguntar uma coisa, um pouquinho antes você viajou muito pela empresa, você deu muito curso, então queria que você me contasse os lugares onde você foi, se tem algum que foi mais especial para você, e o que você foi fazer nessas viagens, e em segundo lugar se você já tinha visitado outros empreendimentos da empresa como as usinas, as subestações antes de estar na que você está hoje, e o que que você achou disso?
R - Furnas teve um projeto eu não lembro o nome, mas em que Furnas incentivava e criou um roteiro de visitas às áreas, eu não lembro exatamente qual foi o nome desse projeto que Furnas teve, mas foi interessantíssimo, e através desse projeto eu conheci acho que duas, ou três áreas regionais, eu lembro que eu conheci Funil, eu lembro que eu conheci Jacarepaguá, e conheci acho que Adrianópolis todas aqui no Rio de Janeiro, mas tinha projeto para conhecer a usina de Furnas, Marimbondo a parte de almoxarifado e materiais que era em Campinas. Achei muito bacana aquele projeto, pena que Furnas não faça mais isso, mas independente desse projeto, eu também já tinha conhecido a usina de Furnas e a Usina de Marimbondo, porque em um desses treinamentos como em Marimbondo, eu nem sei se funciona ainda, mas era um centro de treinamento de Furnas, de operação, e centro de treinamento era em Marimbondo, Furnas em Marimbondo, não sei se ele ainda tem, mas na época tinha um centro de treinamento técnico, e eu lembro que eu fui fazer uns 02 cursos nesse centro de treinamento, foi quando eu conheci a Usina de Furnas ainda voando pelo avião de Furnas, Furnas tinha um avião, um bandeirante que fazia um roteiro em algumas usinas, saia aqui do Rio de Janeiro, aí descia em Furnas, Marimbondo, Serra da Mesa, e tinha um roteiro que ela fazia corriqueiramente, constantemente e a gente que pegava o avião, acho que ele ia segunda-feira e voltava na sexta, então a gente ia segunda, fazia o treinamento na sexta-feira para pegar o primeira avião voltando, eu voei pelo avião de Furnas, indo fazer um treinamento na usina de Marimbondo, um treinamento sobre lubrificação muito legal, eu fiz muito treinamento com Furnas, eu sou muito grato, a minha vida forte, não só por ter me formado, porque apesar de eu ter estudado em uma instituição de ensino, mas quem me formou como profissional foi Furnas através das pessoas claro, mas quem me formou foi Furnas, teve muitos treinamentos, eu fiz treinamento nas usinas como eu falei, Marimbondo e Furnas, eu fui para São Paulo, eu fui para Curitiba, eu participei em alguns, eu lembro esse foi até interessante do Abraman, Associação Brasileira de Manutenção, e ela de tempo em tempo abre para um seminário em que os membros apresentam trabalhos técnicos, e nós, lá na manutenção, nós estávamos implantando um sistema novo da parte de ar condicionado, em que nós geramos economia, lembra que eu falei até do equipamento, aquilo ali era só uma peça dentro de um de todo um contexto, em que nós já estávamos em economia, em uso racional de recursos, a gente reduziu absurdamente o consumo de energia, consumo de água, e um cara que foi sensacional nesse processo foi o Carlos Roberto. Então, a gente tinha uma equipe junto com o órgão que tinha em Furnas, que era ACE, assessoria de conservação de energia, a gente tinha uma parceria muito grande com esse órgão dentro de Furnas, que a gente implantou alguns projetos lá visando economia de recursos. Tanto energia, água, gás, eu apresentei um trabalho, e um desses trabalhos técnicos que a ABRAMAN abria um concurso para apresentar no congresso, e nós apresentamos 02 na parte elétrica, e 01 na parte de ar condicionado, e o meu trabalho, quando eu falo meu trabalho é porque foi eu que preparei todo o trabalho, as informações e o trabalho em si é de um grupo, mas eu é que elaborei aquele trabalho técnico, redigi o trabalho técnico, apresentei na ABRAMAN, eram três mil trabalhos técnicos, e no primeiro filtro passavam 150, e passar em um congresso da ABRAMAN não era coisa simples, e depois desses 150 selecionavam 50 trabalhos técnicos que iriam compor o livro, um book de trabalhos técnicos e seriam apresentados no congresso de manutenção, mas infelizmente o nosso trabalho não passou no segundo filtro dos 50, mas isso foi uma coisa, mas eu fui no congresso, participei do congresso não como palestrante, mas assistindo o congresso, e foi uma das situações em que isso abriu muita porta pra gente, porque ser visto, eu lembro que foi comentado, tinha um amigo que era de uma área de telecomunicações, ele era incrivelmente inteligente e absurdamente competente, esse cara sempre apresentava trabalhos, e alguns dele passou, alguns desses trabalhos passaram pela ABRAMAN e quando ele viu a listagem estava lá esse nosso trabalho, ele veio nos parabenizar porque era muito difícil mesmo. Eu já viajei bastante, posso dizer que bastante e o mais marcante, você perguntou da questão de ter sido marcante, sem sombra de dúvida não foi pelo curso, apesar do curso ter sido muito bom, esse de liderança que eu fiz em Brasília, ter sido um curso muito bom pelo curso, mas principalmente por ter sido a janela de acontecimento em que eu conheci o meu pai. Aquele curso me marcou por toda essa história, e eu lembro que quando eu conheci o meu pai, fui no último encontro, e eu lembro que o fechamento do curso, do treinamento, como era um treinamento de liderança, ele tinha muito essa parte de autoconhecimento, de você se conhecer, de você entrar nas suas entranhas para se conhecer, para poder mudar o teu exterior, as coisas que estão a sua volta, imagina, eu estava prestes a ter uma experiência de vida ímpar, que era conhecer o meu pai depois de 37 anos, meu pai biológico. Em meio a um processo de autoconhecimento, que foi esse treinamento de liderança que foi muito bom. Então, assim, me marcou muito pela junção dessas duas coisas, foi muito bom esse treinamento, foi muito bom, foi o que mais me marcou na carteira foi esse, foi patrocinado pela UNISE, eu não lembro, eu tenho até hoje ali o material, de vez em quando eu até dou uma folheada nele, dou uma folheada que eu falo no computador, eu não tenho ele impresso, mas eu tenho todo o material ali, treinamento sensacional. Então, conheci Brasília, conheci Curitiba, São Paulo, Espírito Santo,Minas, bastante coisa, Furnas me proporcionou isso de ter conhecido, fui a Foz do Iguaçu conhecer Itaipu, eu fazia parte de um grupo, eu fui convidado exatamente pelos trabalhos que a gente desenvolveu de conservação de energia, quando veio a ser extinto a assessoria de conservação de energia ACE, a Eletrobrás tinha um grupo que o nome era CIEEZ, Comitê Integrado de Eficiência Energética do sistema Eletrobras, e esse comitê era composto por 02 ou 03 membros de cada uma das rounds, então tinha 02 ou 03 de Furnas, 02 ou 03 da Chesf, 02 ou 03 da Eletrosul, Itaipu, Eletrobras, Eletronorte, CGTE, então tinha 02 ou 03 membros de cada uma dessas empresas que a gente se reunia a cada 03 meses. Eu acho que esse grupo ele está ativo até hoje, e desse grupo que saiam as diretrizes por conta de um...que a gente fazia entre a gente, de coisa que deu certo lá, que a gente pode de repente tentar fazer aqui e vice e versa, foi um grupo em que eu aprendi muito, e que também me proporcionou conhecer muita coisa, porque a gente se reunia a cada 03 meses por videoconferência, mas a reunião de final de ano a gente escolhia uma das sedes das empresas que compunham a round, e a nossa reunião era presencial nessa série, então teve reunião aqui no Rio de Janeiro em Furnas, teve reunião em Itaipu na Binacional, teve reunião em Brasília, na Eletronorte, a última que seria antes da pandemia quando estourou, estava previsto a gente ir para Recife, para Chesf, teve em Santa Catarina, foi muito rico o convívio com esse grupo.

02:51:42
P/1 - Você está em que função ? Você trabalha em que área? Quais são seus desafios hoje, e em que ano exatamente você foi para a termoelétrica de Santa Cruz Anderson?
R - Eu vim para cá em 2018, hoje eu estou trabalhando no órgão BCGS, que é o órgão responsável por obras de higienização e transmissão, de geração e transmissão do sistema aqui da região sudeste, então tem um órgão que irmão é esse no centro do Brasil, que é o DCGC, a gente que cuida das obras por região, a região que nós cuidamos é essa Sudeste que pega Minas, Rio, Espírito Santo, São Paulo, pega essa região aqui, é a gente que cuida de todas as obras de empreendimento que aconteçam, seja ela de um novo empreendimento, seja ela de uma reforma de um empreendimento existente. Por exemplo, a última obra que aconteceu foi um empreendimento novo, que foi a constituição da usina de Simplício e Anta. Então foi um empreendimento novo, essa obra durou alguns anos, eu não peguei essa obra, quando eu entrei para DCGS foi um período em que estava terminando Simplício e Anta, e iniciando a reforma aqui da termoelétrica em Santa Cruz. Foi quando o superintendente Calixto me convidou para vir para cá, hoje essa obra na região que está acontecendo aqui, é uma ampliação da capacidade de geração da usina de Santa Cruz, em que a gente está implantando o ciclo combinado, em que gera energia através de duas turbinas a gás, e o resíduo dessas turbinas que seria um vapor, o calor gerado por essas turbinas, a gente reaproveita esse calor para gerar vapor, para rodar uma turbina a vapor, e dar um upgrade de geração na usina, essa obra deve acabar nós esperamos até o início do ano que vem, já era para ter terminado, mas se tudo correr bem até o início do primeiro trimestre, primeiro quadrimestre de 2022, talvez a gente esteja entregando essa usina operando já pelo ciclo combinado. Eu estou aqui desde 2018 como fiscal da parte mecânica dessa obra, quem está fazendo essa obra é uma empresa contratada, e nós Furnas, somos os responsáveis por verificar, controlar e fiscalizar que o projeto está sendo executado na forma que deve ser executado pela empresa contratada. A gente teoricamente não precisa, a gente não é de campo diretamente da execução da obra. É uma empresa contratada para isso, mas a gente é co-responsável junto com essa empresa para que os o projeto saia como tem que sair, e que dê resultado técnico financeiro para empresa. Tem sido um desafio para mim. Você fala de desafio, quais os desafios que você tem? Para ser sincero, eu hoje por conta de tudo que eu vivi e já expôs aqui, hoje não alimento muita coisa assim de galgar cargos. Hoje o meu maior interesse dentro de Furnas é tão somente conhecer. Eu quero adquirir conhecimento, o cargo eu já não me interesso mais, eu nem quero,

ser sincero, eu nem quero mais. Eu penso que já vivi o que eu tinha que viver nessa loucura, entre aspas, de crescer, função, cargo, o que for. Eu já vivi isso, já aconteceu o que tinha que acontecer, já não aconteceu o que não tinha que acontecer, hoje estou cumprindo a minha função da melhor forma que eu posso, que eu sempre sou assim, eu sempre fui assim, eu sou assim, eu faço sempre o meu melhor. Então, eu estou aqui fazendo o que eu puder fazer no meu melhor, mas sem hoje pensar em crescimento de função, porque o crescimento hoje é de conhecimento. Eu vim aqui para conhecer essa nova atividade, tenho aprendido muito, as pessoas aqui por já ter essa experiência tem me ajudado bastante, tem sido muito enriquecedor essa parte de dobra, é uma atividade fim da empresa, é muito legal trabalhar aqui com o Luiz que é o nosso gerente, e tem um cara que está até aqui do meu lado que começou comigo as oficinas, foi azulão comigo nas oficinas, eu vim encontrá-lo aqui que é o Moacir, trabalha junto comigo aqui, que também tem me ajudado muito, a gente firmou uma parceria muito bacana de trabalho, então é isso desafio diário, o desafio é diário de um novo conhecimento, de conhecer algo novo, sempre.

02:57:54
P/1 - Você falou que entre coisas que aconteceram na sua vida que foram importantes, teve
alguma questão que aconteceu com o seu olho direito, se eu não me engano, você quer contar essa história?
R - Eu vou te falar, quando eu terminei a minha fala aqui dos desafios eu pensei nisso, eu falei assim, eu tenho que tocar nesse assunto, e você logo puxou não foi à toa, eu digo para você que hoje eu sou a pessoa que sou, muito por conta desse acidente. Eu tinha 11 anos de idade, e não só a pessoa que eu sou, a minha relação com o meu pai, o biológico, mas o meu pai mudou completamente a partir desse episódio, porque pensa, eu não era filho dele, ele conheceu minha mãe, me aceitou na vida dele, e minha mãe junto com ele foi construindo a vida dela, eu devia ter como eu falei meus 03 para 04 anos, quando ela começou a se relacionar com o meu pai, quando eu tinha 05 anos, o meu irmão depois de mim nasceu, que é filho dele com a minha mãe, e quando eu tinha 10 anos nasceu a minha irmã, que é outra filha dele com a minha mãe, então nós éramos 03 eu, meus 02 irmãos, eu com 10 anos, mas até aquele momento apesar do meu pai ter me aceitado na vida dele, não existiu entre a gente um elo, um vínculo, um uma ligação, mas eu sofri o acidente, eu tinha 11 anos de idade, 10 para 11 anos de idade, foi o dia das mães, eu estava com ele, houve um acidente de carro, ele não teve de culpa, um carro em sentido contrário, na contramão com 05 caras bêbados dentro do carro pegou a gente de frente em uma via, eu na época não tinha essa coisa de cinto, de 03 pontas obrigatório, não tinha nada disso eu estava sentado na frente com 11 anos, magrinho, os vidros hoje em dia são vidros laminados, quando você quebra eles ficam colados, as lâminas de vidro elas ficam coladas uma na outra, mas na época quando quebrava um vidro de carro ele estilhaçava todo, então nesse impacto, um desses vidros entrou na minha vista, no meu olho, me cortou o rosto de fora a fora, eu tenho um corte que vem desde aqui até o queixo até a ponta do queixo, eu tomei mais de 60 pontos no rosto, esse olho ele acabou saindo da órbita, além de ter furado pelo corte do vidro, ele saiu da órbita, ou seja um estrago, o outro olho também sofreu algumas coisas mais menos, mas sofreu alguns machucados, e eu com 11 anos de idade passando por essa luta. Eu lembro que eu estava na Leonor Posada na quinta série, ou sexta série, eu lembro que a minha mãe recebeu os livros, ela lia os livros para mim, eu tentava guardar as histórias, guardar os conceitos, guardar de cabeça e eu fiz todas as provas orais, até prova de matemática, eu fazia o X igual a não sei o que, não agora joga o valor para lá, divide tanto por tanto que dá tanto, tudo assim de cabeça, eu fazia prova de matemática de cabeça, a pessoa ia escrevendo o que eu falava que era para fazer, eu perguntava, - como é que ficou a equação? Ela “ficou X é igual a tanto, tanto, tanto”. Não, então agora faz isso que dá tanto, foi assim, mas aquilo mudou minha vida, é assim, eu apesar de ser novo, 11 anos, mas a relação com meu pai eu acho que por ele ter se sentido culpado, apesar dele não ter tido culpa alguma porque o carro veio na contramão, mas eu acho que ele de certa forma se sentiu co-responsável, poderia ter evitado de alguma forma, não sei, mas ali ele me abraçou como filho, a partir desse momento ele me abraçou como filho, e eu não tinha pai, né? O meu pai biodiológico eu não conhecia, eu já tinha perdido o meu avô, então eu não tinha, só tinha mãe, só tinha a minha mãe, e a partir daquele episódio eu tive de volta a figura de pai para mim, eu acho que ele me abraçou, se sentiu co-responsável por aquela situação, para mim foi muito difícil tudo, todo o processo de recuperação, de entender que eu estava cego de um olho, de não criar revolta no mundo. Porque eu? Porque comigo? Já sofri tanto, tive um pai que me abandonou, meu avô que era o cara referência para mim morre, aí sou criado por um cara que não é meu pai, e aí agora sofro acidente, fico cego. Só tem eu aqui para apanhar? Mas eu nunca pensei assim, como eu disse também no início da nossa conversa, eu não olho para trás, não sou o cara que olho para trás, tudo que eu fiz de bom ou de ruim eu não olho para trás, eu olho agora, se eu mudo agora e vou viver o agora, até penso no passado, mas para viver o presente, mas não lamento o passado sabe? Não remou o passado, eu não vivo o passado, e aquilo mudou a minha vida completamente, a minha perspectiva de ver o mundo, de entender o mundo, de entender principalmente a minha relação com o ser que foi fundamental na minha vida que é Deus, eu lembro que eu li um texto bíblico, eu não me recordo exatamente como é, mas eu era novo, me desculpa eu não saber, mas ele dizia exatamente assim, que nós temos um pai independente de ter o pai, nós temos um pai e é ele que cuida de nós. Então eu me senti abraçado por esse pai, e eu não me achava digno de lamentar qualquer coisa que acontecesse comigo, que apesar de tudo, eu estava ali vivo com saúde, cego ok. Mas quem não é cego ou completamente? Quem não é aleijado completamente? Quem às vezes não é mentalmente incapaz e vive coisas muito piores do que simplesmente perder a visão de um olho? Então eu tive aquilo como uma virada de chave, sabe? Uma forma de ver a vida diferente. Eu lembro que me perguntavam assim, eu falo isso sempre que eu conto essa história, me perguntavam assim, “você não fica revoltado com Deus de ter ficado cego de um olho?” Aí eu falei assim, - pelo teu ponto de vista talvez, mas pelo meu ponto de vista, eu prefiro agradecer por ele ter deixado outro, eu poderia ter sido, ter ficado completamente cego e ele preservou uma das vistas, é mais ou menos aquela história do copo meio cheio, meio vazio, um enxerga o copo meio vazio, outro enxerga o copo meio cheio. Eu sempre escolhi na minha vida pensar positivamente,

enxergar que eu poderia ter ficado completamente cego, poderia ter morrido e não, eu continuo enxergando, se eu estou aqui te dando essa entrevista, vendo você, podendo viver para trabalhar, foi porque ele, o pai, meu pai celestial me permitiu permanecer enxergando de um olho e não completamente dos dois. É assim que eu vejo a vida, eu vejo sempre com otimismo, olhando o que tem de bom, o que há de melhor para gente viver o presente.

03:07:56
P/1 - Como é que você conheceu a sua esposa Anderson?
R - A minha esposa, um pouco antes de conhecê-la, a gente já frequentava o mesmo ambiente, nós frequentávamos uma mesma igreja, eu tive um relacionamento com uma menina nessa comunidade de igreja, e foi um relacionamento muito conturbado. Eu sai quebrado desse relacionamento, sai muito machucado, e um pouco depois apesar de já conviver com ela, mas eu nunca me relacionei próximo a ela, e a gente acabou se aproximando em um evento, a gente se aproximou e eu de novo falando do pai, o pai celestial estava reservando alguém especial, porque a Simone que é minha esposa é a pessoa perfeita para mim, eu já estou casado com Simone há 22, 23 anos. Faço 23 anos agora em setembro, eu casei em 99, então 22 anos, faço 23, não é fácil 22 anos estar casado, ainda mais hoje em dia, talvez a anos atrás isso fosse até mais fácil, mas hoje em dia estar casado por 22 anos não é fácil, a vida nos proporciona muitas oportunidades, a gente é tão dinâmico no cotidiano, a rotina as vezes é sufocante, mas Deus colocou na minha vida alguém especial que me completou, acho que nós nos completamos, eu a ela e ela a mim, e apesar de todas as dificuldades que é estar casado, ela é a pessoa perfeita. Acho que não tem outra pessoa com tamanha perfeição para se encaixar nos meus defeitos, vamos dizer assim, ela me completa, ela me molda nos meus defeitos, e eu conheci a Simone em 97, a gente começou a ter essa aproximação, namoramos e ficamos noivos, em um período de 02 anos a gente namorou, noivou, casou, casamos em 04/09/1999, e não me arrependo nem um pouco, faria tudo de novo, voltaria lá e casaria novamente com ela, já esses vinte e tantos anos juntos, e dessa relação surgiram as minhas preciosidades, que são as minhas duas filhas, a Júlia de 18 anos, Luíza de 13, cada uma completamente diferente da outra. Como é que pode? Eu sempre me perguntava como pode duas pessoas criadas juntas, mesmo ambiente, mesmo pai, mesma mãe serem tão diferentes, assim são as minhas duas filhas. A minha mais velha é muito parecida comigo, de aparência, mas é bonita, mas é gaiata, brincalhona, zoadora, igualzinha a mim, já a mais nova é toda, hoje nem tanto que chegou no período de adolescência meio rebeldezinha, mas ela era toda princesinha, toda delicada, carinhosa, toda cheia de coisinha, mas são completamente diferente.

03:12:10
P/1 - Como é ser pai Anderson?
R - É um desafio, acho que o maior desafio de um homem é ser pai. Engraçado que o fato de não ter conhecido meu pai biológico e ter enfrentado todas essas dificuldades de ter um pai, toda essa história que eu já contei aqui, me fizeram ter a consciência de ser um pai participativo para as minhas filhas, se eu pudesse ter um Big Brother da minha casa, vocês iriam perceber que a minha relação com as minhas filhas é quase que de 03 crianças, porque eu sou muito, a gente brinca de tapa na cabeça, de fazer cosquinha, de botar pilha, de se jogar em cima, coisa que eu nunca tive com o pai, primeiro porque o meu pai biológico eu não conheci na minha infância, e segundo que o meu pai que me criou ele era meio bronco, meio turrão, não tinha abertura, era um pai que me educava, mas que eu não tinha relação de vou sair para jogar bola junto, para brincar, não tinha essa coisa, e eu com minhas filhas sou assim, eu entro na piscina, que eu tenho uma piscina em casa, vou para piscina em casa, eu brinco com a minha filha e minha filha me chama para ir para piscina com ela. “Meu pai, vamos para a piscina pra gente brincar? O pai, vamos ver essa série juntos?” Porque elas querem que eu esteja junto com elas, porque se sentem amigas de um pai amigo, e isso muito eu criei por conta das dificuldades de não ter tido esse pai presente, eu falei assim, eu quero fazer o que eu gostaria de ter recebido, de ser um pai participativo, um pai amigo, um pai presente. Eu sou um cara que dou bronca, eu sou firme em muita coisa, mas eu sou um pai muito parceiro, muito, muito, e talvez isso é que tenha feito dessa minha relação com as minhas filhas algo especial, porque elas sentem confiança em mim de sentar e de expor o coração, abrir o coração delas e falar, eu lembro de um episódio recente, minha filha mais nova brigou com as amiguinhas e aí chegou em casa péssima e eram amiguinhas muito próximas dela, e aí ela veio chorando, deitou no meu braço, na cama comigo, eu estava deitado na cama, ela já veio deitou e começou a lamentar o fato de ter brigado com as amigas, estava muito triste e ela falou, “nunca mais a gente vai voltar a ser amiga”, porque a briga ia ser feia segundo ela, e a briga foi feia, eu falei para ela, - filha, semana que vem...ela chama de praça, que é onde mora umas amiguinha em uma praça que tem perto de casa, eu falei, - filha semana que vem você está na praça, hoje é sábado, segunda-feira uma amiga vai te ligar falando que exagerou, te ligando, “mas isso não vai acontecer pai, ela já me bloqueou no WhatsApp". Falei, - filha, ouve o que o papai está te falando, segunda-feira uma está te ligando, na terça-feira, quarta-feira uma outra vai te ligar, daqui a pouco vão te convidar para o grupo de WhatsApp de novo. Semana que vem você vai estar na praça. Eu cheguei em casa na sexta-feira, não, sábado, porque eu trabalhei sábado, este sábado passado eu trabalhei, isso foi final de semana retrasado, quando foi este sábado que eu trabalhei, quando eu cheguei em casa ela estava toda arrumadinha.
- Eu falei, vai aonde?
Aí ela, “sabe para onde eu vou?”
- Não, onde você vai?
Ela, “para a praça, pai, aconteceu exatamente o que você falou”.
- Falei, filha eu lembro que eu falei para ela assim, relacionamento entre pessoas é isso filha, aprenda, é isso, você vai passar por isso o resto da sua vida, seja ela nossa relação como pai e filha, como irmã e irmã, irmão, como marido e mulher, como chefe e subordinado ou subordinado chefe, como amigo, relação entre pessoas gera conflito, é só dar tempo, só respeitar o tempo que a coisa se ajeita, e ajeitou.
Ela, “você tinha razão, é isso mesmo”.
Então isso traz confiança para ela de um relacionamento aberto com o pai, é muito legal, é muito bom ser pai.

03:17:39
P/1 - Anderson, infelizmente eu vou ter que, pelo andar da carruagem fazer uma última pergunta só para você, mas é do coração mesmo, perguntar o que você achou de contar um pouco da sua história, e um pouco da história da empresa também, uma faceta da empresa e da sua vida hoje aqui para gente. Como é que foi para você?
R - Olha, foi uma experiência, é lógico que a gente, eu não crio expectativa nem nada, mas eu ficava pensando assim, -o que será que vai ser? Que tipo de pergunta vai ter? Como é que vai ser a condução? a gente sempre fica preocupado, eu tento agir com a maior naturalidade, acredito que eu tenha respondido da maneira mais sincera e clara as perguntas que me foram feitas, mas eu resolvi não criar expectativas, mas a gente fica meio apreensivo, e para mim foi muito gostoso também, não sei se para quem estava junto aí, se foi bom, foi legal conhecer, mas para mim foi gostoso, foi legal, o tempo passou e eu nem percebi, eu acho, eu penso que falando de empresa, sabendo da importância e entendendo que a empresa somos nós funcionários, (A empresa é o prédio? é o prédio. A empresa é a usina? É a usina. A empresa tem a turbina que está aqui? É a turbina que está aqui). Mas nada disso existiria ou funcionaria ou estaria aqui se não fossem as pessoas que pensaram, que projetaram, que executaram, fiscalizaram, que coordenaram, que pensaram na empresa como ela é hoje. A gente às vezes lamenta o fato de ter saído do escritório central e ter ido para um outro prédio, mas alguém pensou isso, e quem pensou isso foi pessoa, não foi o prédio de lá que pensou em receber a gente, alguém que pensou, alguma pessoa pensou. O que isso vai trazer de fruto para empresa? Talvez a gente não enxergue hoje, pode ser que traga resultado prático para gente amanhã, a gente lamenta pela história, pelo vínculo que a gente tem pelo local, mas pode ser que isso traga mais resultado. A gente está passando por novas mudanças, foi aprovada a privatização lamentavelmente, e a gente não sabe o que está reservado a nós como empresa, mas conhecer o que é a empresa que são as pessoas, é fundamental para que a gente consiga continuar crescendo, continuar caminhando, continuar sendo o que nós somos, uma empresa de referência, uma empresa ímpar dentro do sistema, dentro do país, dentro da América do Sul, não sendo modesto, dentro do contexto do mundo. A Eletrobras é uma das maiores empresas de energia elétrica do mundo, e ela só é o que é por conta da minha história, por conta da história do Medina, que eu já vi que ele já falou aqui, por conta da história do Trindade, que sei que já falou aqui, por conta da história do Misiara, que eu sei que já falou aqui, e por conta das histórias de todos os outros que virão aqui contar as suas histórias. A gente carrega na nossa essência, a gente deposita, a gente planta aqui em Furnas. Isso tem que trazer fruto. Então, eu achei sensacional esse tempo, acho isso enriquecedor para quem fala e para mim foi bom falar, eu volto no tempo, reafirmo alguns pensamentos que às vezes você deixa no passado, você se lembra e ratifica ele para o presente, mas também para quem está por vir, para quem não conhece, não viveu, não sabe o que nós éramos, de onde nós viemos, e que vai conhecer através das nossas histórias. Achei muito bacana e enriquecedor para mim e acredito que vai ser bom para quem vai ouvir.

03:22:20
P/1 - Certeza, vai ser ótimo. Eu que agradeço viu Anderson? Muito obrigado pelo seu tempo, pela sua paciência, pela alegria, acho que todo mundo sai mais rico dessa história sua, com certeza!