Museu da Pessoa

Herança da avó

autoria: Museu da Pessoa personagem: Maria Natalícia Mota

Projeto Kinross Paracatu
Depoimento de Maria Natalícia da Mota
Entrevistada por Fernanda Prado e Carol Margiotti
Paracatu, 07/06/2017
Realização Museu da Pessoa
KRP_HV10_Maria Natalicia da Mota
Transcrito por Mariana Wolff


P/1 – Então, pra gente começar, eu queria agradecer mais uma vez, mas agora de você ter aceitado o convite para essa entrevista e aí, eu queria que você falasse pra gente o seu nome completo, local e a data de nascimento.

R – Maria Natalícia da Mota, nasci em Patos de Minas (MG), no dia 24 de dezembro de 61.

P/1 – Como é fazer aniversario no dia 24 do doze?

R – É ruim, né, porque as pessoas só lembram do nascimento de Jesus, quem nasceu no dia 24 fica meio que esquecida, pouquíssimas pessoas lembram, não é uma coisa muito boa, não, coisa que na vida inteira eu achei que a gente fica meio esquecido, né? Não é muito lembrada como quem nasce outro dia, tipo, 20 de dezembro. Vinte e quatro é dia de comprar presente, comemorar o Natal, quem tá fazendo aniversario vem por acréscimo.

P/1 – Fala pra gente o nome dos seus pais, Natalícia.

R – Arlindo Luiz da Mota e Maria Azevedo da Mota.

P/1 – E qual a atividade deles, o que eles fazem?

R – O meu pai faleceu, ele era agricultor, faleceu muito novo, ele faleceu com 32 anos, eu tinha nove anos quando ele morreu. A minha mãe é dona de casa, mora em Patos, uma pessoa maravilhosa que criou a gente assim, sendo pai e mãe ao mesmo tempo.

P/1 – E você tem irmãos?

R – Tenho, seis irmãos. Nós somos em seis, nós somos cinco sanguíneos e uma de coração. Todos, somos seis casados, a de coração casou agora, tem um mês, minha mãe ficou sozinha de novo, né? Ela criou os seis, mas agora tá só. É um homem só com cinco mulheres.

P/1 – E você tá em que lugar dessa escadinha?

R – Eu sou a… Na verdade, nós não somos só seis, na verdade, nós somos oito, porque ela teve uma filha antes de mim que veio a falecer logo que nasceu, então eu sou a segunda, eu sou a segunda filha, sendo que a primeira faleceu. Aí depois vem o meu irmão e depois, mais quatro mulheres.

P/2 – Quais são os nomes?

R – Primeira que morreu, Maria Filomena, eu, Maria Natalícia, José Antônio, Ana Amélia, Marli, Maísa e Regiane.

P/1 – Fala pra gente como é que era um pouco a sua infância, como é que era a casa…

R – Por incrível que pareça, a casa da minha infância, que eu vivi até casar, porque, na realidade, mesmo eu tendo ido para a cidade, para estudar, mas férias, finais de semana, eu passava numa casa que era isso aqui, entendeu? Era isso aqui, era uma casa de fazenda, nesse estilo, parecia muito com essa aqui, a única diferença é que ela não era baixa como essa, ela tinha um assoalho que levantava essas janelas tipo para um segundo piso, mas tinha muito a ver, muito a ver mesmo com esse madeiramento, com essas janelas grandes, assoalho de tábua, né, que essa aqui hoje não tem mais, mas ela era de tábua corrida. Fui criada em fazenda, vivi uma história de infância, de adolescência no meio rural mesmo, vivendo tudo que naquela época era o bom, o que era gostoso.

P/1 – O que tinha nesse meio rural? Como é que você define ou conta ou lembra desse lugar?

R – Eu me lembro desse lugar com uma casa enorme, com muita gente trabalhando, o meu avô era um agricultor de grande porte e ele mantinha essa casa bem movimentada, tinha dois vaqueiros, tinha duas, três casas nessa fazenda, que naquela época chamava meeiros, né, as pessoas moravam dentro das fazendas e tocavam uma roça, uma roça de milho, de feijão, colhiam e dividiam com o patrão. Naquela época, era isso aí. E sim, fui criada com muita fartura, com minha vó fazendo colchas de algodão, tecendo no tear, fiando, cardando, cortando lã de carneiro, matava porco, matava frango, fazia doce, fazia pamonha, então assim, eu sou de um meio de fazendo mesmo, eu fui criada em um meio em que era uma coisa bem movimentada a vida que eu vivi na infância e na adolescência.

P/1 – E quando foi que você começou a fazer os primeiros experimentos culinários, assim, servia a sua mãe, a sua vó?

R – Com uns oito, nove anos de idade, que a minha vó deixava. Ela achava bom ensinar a gente, então, ela me deixava, eu e as minhas irmãs a fazer comidinha, entendeu, eu tinha o joguinho de panela, a chapinha com as panelas e a minha vó proporcionava pra gente esse aprendizado e eu passei a gostar de cozinha, a curtir isso que eu faço hoje com a minha avó, a herança é da minha avó. A minha avó que me ensinou a gostar. Inclusive, eu comento assim, sempre, que eu acho que ela é uma presença viva na minha vida. Viva aqui dentro, sabe, ela é uma força espiritual que eu tenho constantemente, porque ela era muito boa na cozinha, ela gostava muito, ela fazia tudo com muito carinho, era muito caprichosa e dava a gente, liberdade de aprender.

P/1 – Primeiro, eu vou querer que você fale pra gente o nome dessa sua vó e se ela era mãe da sua mãe ou mãe do seu pai.

R – Ela é a mãe da minha mãe. Ela chamava Ana e era conhecida como Nika, dona Nika.

P/1 – E qual é o sabor, o cheiro que você se lembra quando você pensa nela, né, nessa sua vó Nika?

R – Açafrão, cheiro de açafrão, não tem nada que me faz lembrar dela do que refogar um frango caipira com açafrão. Me lembra muito dela. Outra coisa que me faz lembrar dela é fazer pão de queijo, que eu aprendi a fazer pão de queijo com ela e ela era a rainha do pão de queijo, entendeu? Fazia pão de queijo naqueles fornos de barro grandes, de fazenda e o pão de queijo era assim, era do tamanho de uma roda de bolo, não tinha uma explicação, então são os dois momentos que eu lembro muito dela, ou quando eu faço um doce de figo. Também eu lembro muito dela, porque ela que me ensinou fazer, sabe? Colocar o figo no tacho de cobre, cobrir com pano, ferventar, deixar pro outro dia, não deixar que o pano não saia do lugar, porque senão, o vento amarela o figo, aquela coisa toda, sabe? Isso aí eu aprendi com ela, ela que me deu as orientações.

P/2 – Tem algum segredo que ela te ensinou ou alguma primeira lembrança da senhora junto com ela na cozinha?

R – Picar frango, me ensinou picar frango, sabe assim? Ela mata o frango, aí ela vem: “Pica assim, tira a asinha, tira a ponta da asinha, depois tira a coxa, depois tira assim, depois abre aqui. Uma das maiores lembranças que eu tenho dela também é isso aí, me ensinar a picar frango e eu aprendi isso aí menina, menina de dez anos mesmo. Depois que o meu pai morreu, a gente passou a ficar mais na casa dela e ela começou a me ensinar e uma das coisas que eu lembro é disso, ela me ensinando a picar frango. Nunca esqueci, até hoje eu faço na boa.

P/1 – E nessa sua infância, qual que era a sua brincadeira favorita?

R – Naquela época, as brincadeiras favoritas era pular a marré, né, não sei se vocês chamam o mesmo nome, aquele de fazer os quadradinhos, jogar a pedrinha, né? Pular corda, não tinha bicicleta, não tinha celular, não tinha carrinho, não tinha nada. Brincar de boneca, fazer roupa de boneca. Outra coisa também que eu na infância eu fui estimulada foi aprender a costurar, fazer roupa de boneca, fazia “n” roupas pras bonecas, brincava de casinha cozinhando, costurando, tudo.

P/1 – E quais são as suas primeiras lembranças da escola?

R – Minhas primeiras lembranças de escola é uma escola rural, longe da minha casa, eu tinha que ir a cavalo, sabe? E como era longe, o meu irmão, que é o José Antônio, que a gente toda vida chamou ele de Tonho, tinha que ir comigo. Ele não tinha idade para ir para a escola, mas ele tinha que ir comigo a cavalo para servir de companhia para eu não ir sozinha. Uma das lembranças que eu tenho muito dessa escola é a seguinte, era uma escola tão precária naquela época que a professora deixava, nós, os alunos lá na escola no horário de recreio para ela ir na casa dela fazer comida para quem tava trabalhando para ela, lá, na fazenda, sabe? Porque na época não tinha empregada, não tinha nada, eram as próprias pessoas que faziam as coisas. Então, a gente ficava na escola brincando e ela ia lá fazer a comida, depois, ela voltava para terminar o horário de aula.

P/1 – E como é que foi se desenvolvendo essa sua carreira escolar, mais velha, um pouquinho, quando já saiu dessa escola rural?

R – Aí, eu fiquei na escola rural até os dez anos, que foi quando o meu pai morreu que a gente foi pra Patos. Aí, lá em Patos, a coisa já fluiu normalmente, né? Eu estudava na escola pública até a quarta série. Até a quarta série, eu estudei em escola pública, na quinta série até a oitava, eu estudei no colégio das irmãs, que tem até hoje lá, o Colégio Nossa Senhora das Graças, é um colégio de irmãs e no ensino médio, eu fiz no colégio marista e fiz o meu curso superior no UNIPAM [Centro Universitário de Patos], lá em Patos. Essa foi minha trajetória de escola.

P/1 – E como você escolheu o curso de História? O que te decidiu ou te motivou a escolher esse curso?

R – Olha, na realidade, assim, o meu sonho da época, que era um sonho bem longe não era História, eu tinha muita vontade de fazer Medicina. Meu sonho era fazer Medicina, eu sempre gostei muito, mas na época, não tinha condição. Assim, eu passei a gostar de História em função de uma professora de História que eu tinha no ensino médio, que chamava Maria José que até já veio a falecer, ela era excelente professora e ela me fez gostar. Aí, quando eu terminei o ensino médio, era também o que eu podia fazer e eu fiz e gostei. Eu nem conclui o curso, eu só fiz a licenciatura curta, porque aí eu casei, vim para Paracatu e não fiz a plena.

P/1 – E você falou agora que casou, conta pra gente como você conheceu o seu marido.

R – Eu conheci o meu marido porque eu tenho um tio, irmão da minha mãe, mais novo, ele casou e a mulher dele tinha um irmão que é o meu marido. Eu conheci ele através do casamento do meu tio, sabe? Esse meu tio morou com a gente em Patos com a minha mãe, juntamente com a gente e, logo, ele casou e eu fiquei conhecendo ele através da minha tia, né, que ela e minha tia, casada com o meu tio.

P/1 – Qual o nome dele?

R – José da Mota Magalhães.

P/1 – E o quê que ele faz?

R – Ele é farmacêutico há 32 anos aqui em Paracatu. Formou em Ouro Preto, em 1984, aí teve um serviço de um ano numa cidade perto de Belo Horizonte e, depois, ele comprou a farmácia aqui e veio e tá aqui até hoje, fez agora 32 anos que ele tá em Paracatu.

P/1 – O quê que fez ele escolher Paracatu pra ser o lugar de ter a farmácia?

R – O que fez ele escolher Paracatu foi um relacionamento que o pai dele tinha um tio que o genro dele morava aqui, que é o dentista que eu te falei, Doutor Geraldo Mariano e essa prima do Zé que é casada com esse dentista, ela viabilizou abrir essa farmácia aqui porque há 32 anos atrás só tinha uma ou duas farmácias e era uma área que tava em ascensão aqui em Paracatu, era farmácia. Aí, com o convite do Doutor Geraldo, como ele era farmacêutico, ele veio para Paracatu, eles fizeram sociedade, que até hoje, são sócios na farmácia. Uma sociedade de 32 anos.

P/1 – E como foi pra você deixar a sua cidade e vir acompanhando o seu marido até Paracatu?

R – Olha, pra mim não foi difícil, primeiro porque eu vim e já tinha um emprego, né, porque em 1985 eu fiz um concurso do Estado e eu passei nesse concurso para área administrativa e no final de 85, eu tomei posse. Só que quando eu casei, aqui não tinha área administrativa, aí eu tive que assumir aqui em Paracatu como auxiliar de saúde, eu trabalhava num posto de saúde, que é aqui no Alto do Córrego, chama até Posto de Saúde do Alto do Córrego. Naquela época, a gente tinha lá dois médicos: Doutor Elmo e Doutor Romualdo e Doutor Joaquim, dois não, eram três e eu assumi, nesse posto de saúde como auxiliar de saúde, fiz um treinamento e trabalhei lá durante dez anos como auxiliar. Naquela época, a sociedade aqui era muito carente, a cidade era muito precária. O posto lá, por exemplo, era numa rua que não tinha nem calcamento, era uma poeira que não tinha condição, não tinha recursos, não tinha ambulância na cidade. O hospital era um hospital municipal, mas era bem pequenininho, atendia pouquíssimas pessoas e eu adorava o que eu fazia porque era uma forma de eu estar ajudando, sabe, porque lá, a gente atendia aquelas pessoas que não tinham nenhum recurso, às vezes, chegava lá uma mãe com dois filhos que veio da fazenda com febre e não tinha médico. Acabava que você acalentava aquela mãe, pedia pra voltar no outro dia, então, eu peguei Paracatu na área da saúde numa precariedade total, naquela época era muito fraca mesmo a assistência de saúde. Não tinha recurso, não tinha médico, né?

P/1 – E pra você fazer esses trabalhos, quer dizer, com formação superior em História com licenciatura como é que foi mudar…

R – Eu tive que fazer um treinamento, eu fiz um treinamento… Não só eu, teve outros casos também que foram iguais ao meu. Eu tive que fazer um treinamento durante três meses aqui em Unaí (MG) que era a sede da diretoria, eles fizeram um treinamento para várias pessoas que também estavam no mesmo caso que eu durante três meses, a gente passou por lá durante três meses fazendo esse treinamento pra trabalhar como auxiliar de saúde, que na verdade, era mesmo enfermeira, né? A gente ajudava, fazia curativo, aplicava injeção, naquela época, era a área nobre da cidade naquela época. Naquela época, eu não sei se vocês já têm conhecimento, já viram, que tem o que se chama de Alto do Córrego, que é onde eu moro. A cidade não tinha de lá do córrego, era uma única rua que dava acesso a esse posto de saúde e aí, a cidade foi crescendo, foi ampliando os loteamentos, foi construindo, inclusive, quando nós compramos esse lote onde a gente mora hoje, era um loteamento do Alto do Córrego, foi o primeiro loteamento que teve, que as pessoas começaram a construir casas mais bem construídas, com um padrão melhor. Esse loteamento era no meio de um mato, quando eu construí a minha primeira casa. Hoje, não, hoje, no mesmo lugar, é um bairro nobre da cidade, é um lugar que as casas são boas, moram pessoas que têm um poder aquisitivo melhor, e a cidade cresceu muito, muito. Depois que eu vim para Paracatu, a Rua Goiás era calçada de pedra, depois, passaram o asfalto, construiu o hospital, melhorou demais em relação à época em que eu cheguei aqui, até mesmo em questão de restaurantes, tudo, transformação total, nossa, tá muito grande, de 30 anos pra cá, isso aqui virou uma capital.

P/1 – E como é que foi a receptividade? Como foi, para alguém de outro lugar, chegar aqui pra você se adaptar com o seu marido?

R – Não tive nenhuma dificuldade para adaptar, fui muito bem recebida em Paracatu, muito bem, mesmo, sabe, tanto pelos paracatuenses, quanto por pessoas que eram de fora e moravam aqui também, porque Paracatu é uma cidade que tem muita gente de fora, muito, né? Assim, eu diria que uns 30% da população de Paracatu ou mais não são daqui, são de fora, mas, sempre, desde o primeiro dia que eu cheguei em Paracatu, eu fui bem recebida e gosto muito de Paracatu, me identifico hoje muito mais com Paracatu do que com a minha cidade natal, sabe? Muito mais, tenho muito mais a ver com Paracatu.

P/1 – E assim, como é que era a farmácia do seu marido e como é que foi ver ela funcionando?

R – A farmácia do meu marido naquela época era uma segunda farmácia da cidade. Tinha na época o seu Dedé, aqui da farmácia, que é a Farmácia Santiago e a segunda farmácia da cidade seria a nossa, que era a Farmácia Paracatu, era não, é, né, até hoje a Farmácia Paracatu, sempre assim. Ele chegou como farmacêutico, comprou uma farmácia e tinha por trás dele, o Doutor Geraldo Mariano que é o dentista que chegou aqui bem antes da gente, que também já tinha conquistado uma confiança dentro da cidade, uma credibilidade muito grande, então a gente não teve problemas com instalar a farmácia em Paracatu, até porque quando nós compramos a farmácia, ela já existia, ela não foi montada, nós compramos de outra pessoa.

P/1 – E como é que era o espaço dessa farmácia? Tinha balcão?

R – Tinha. Era uma farmácia bem montada, aqui na avenida, ao lado aqui da lotérica, de onde é hoje a Avenida Calçados, era uma farmácia bem montada, grande, com todas as medicações, naquela época, como médico era restrito na cidade, as pessoas procuravam muito indicação de farmacêutico. E graças a Deus, a gente só tem que agradecer muito, mesmo, a farmácia, a vinda da gente pra aqui, porque hoje, o que a gente tem, o que a gente tem em Paracatu, a história nossa em Paracatu é em consequência da farmácia, da história da farmácia.

P/1 – E o que te motivou a procurar a abrir o seu próprio negócio, também, quer dizer, vocês já tinham o negócio do seu marido… mas o quê que motivou a…?

R – A minha afinidade por cozinha, sabe assim? E Paracatu não tinha muitos restaurantes. Hoje não, hoje, em Paracatu, tá é sobrando restaurante, mas naquela época, não tinha, há dez anos, a gente tinha o restaurante Fornalha que já existia, o Casarão, que era restaurante Casarão, eram esses os restaurantes e como a cidade veio crescendo, a população foi aumentando, chegou a Kinross, tava de vento e popa, muita gente trabalhando, aí todo mundo que me conhecia assim, que sabia do meu dom, do meu gosto por cozinha, me estimulava, e eu conheci uma pessoa que também gostava. Inicialmente, assim, o meu restaurante era até uma sociedade, depois, a gente desfez a sociedade. Uma amiga minha chamada Ivani, ela já faleceu e a gente montou esse restaurante aqui do lado da farmácia, num cômodo menor do que esse salão aqui, era do tamanho daquele ali, ó, lá era do tamanho do de lá. E a cozinha era minúscula e em um ano, o restaurante não tinha espaço para atender a demanda, de forma nenhuma, ele não cabia, entendeu, não cabia não era o cliente, porque o cliente ficava na porta esperando, ele não cabia era os funcionários, era o deposito, eram os fogões, não cabia nada, e nisso, o seu Zotti que era o dono desse Casarão, ele faleceu e a família não quis manter o Casarão, eles preferiram vender e aí, nós compramos, adquirimos essa casa que era uma casinha assim, nossa, pequenininha, parece que hoje, ela dobrou de tamanho depois da reforma. A gente comprou essa casa e transformou isso aqui, aí trouxe o restaurante para cá, o restaurante veio pra aqui quando ele tinha três anos, ele ia fazer quatro anos de aberto em junho, dia primeiro de dezembro, eu passei pra aqui, então, quer dizer que ele ficou três anos e meio apenas lá, no primeiro espaço. E aí, a gente veio pra aqui com três anos e meio. E nós dobramos ou mais que dobramos… Não, nós triplicamos o tamanho do restaurante. Lá, eu tinha 50 lugares, aqui eu tenho 150. No início, quando passei pra aqui era assim, era muito cheio, o restaurante era cheio todo dia, muito cheio, era fila para servir, era fila na churrasqueira, era fila na balança… Eu trabalhava com dois caixas, a gente trabalhava em dois caixas, dois churrasqueiros, era cinco garçonetes e assim, hoje, eu não reclamo de forma nenhuma, porque eu acho que eu ainda tenho um movimento muito satisfatório, sabe? Mas assim, o restaurante já foi muito mais movimentado, muito mais cheio, sabe, com muito mais demanda.

P/1 –Antes então, da gente falar assim, desse movimento atual, eu queria voltar lá no começo da história do restaurante para você contar quando que fez o plim, né, você tinha esse gosto por comida, as pessoas te incentivavam, mas quando que você falou: “É agora, é agora que eu quero ter e ele vai chamar assim”?

R – Foi… Esse ponto culminante foi porque a minha irmã abriu lá em Patos um restaurante, sabe? Ela abriu em janeiro de 2007 e o restaurante dela lá em Patos foi uma coisa estrondosa, ele pegou de uma vez. E como aqui não tinha restaurantes, ela ficava me incentivando: “Abre, abre um restaurante em Paracatu, eu tenho até o nome do seu restaurante”, porque o dela lá chamava Alecrim, chama, só que hoje não é mais dela, mas na época, o nome era Alecrim, Restaurante Alecrim. Aí ela: “Abre, abre, você vai ver, é muito bom, é uma coisa gostosa e vai chamar Flor de Alecrim”, então foi esse impulso dela, né, ela foi impulsionada lá em Patos por alguns amigos que incentivaram ela a abrir e ela com seis meses, ela começou a me incentivar. E aí, nós abrimos, até porque eu já tava na farmácia há muitos anos e a filha do nosso sócio tinha acabado de formar em Farmácia, tava voltando para dentro da farmácia, não tinha necessidade, não tinha espaço pra nós duas, então foi assim, eu sai, abri uma coisa porque assim, a farmácia pra mim já tinha dado o que tinha, eu já tinha tido lá o tempo necessário.

P/1 – Quanto tempo você ficou na farmácia?

R – Na farmácia? Dez anos. Quando eu cheguei em Paracatu, eu cheguei em 86, novembro de 86, aí eu comecei já a trabalhar no posto de saúde, trabalhava no posto de saúde, em agosto de 87, eu fui chamada para dar aula no Dom Eliseu, onde eu trabalhei durante seis anos como professora de História e Geografia, aí quando só meus filhos nasceram, que eram dois, eu deixei tanto o posto, quando o Dom Eliseu e vim para a farmácia e fiquei na farmácia durante dez anos e depois, vim abrir o restaurante. Minha história é de 30 anos, são 30 anos de história.

P/1 – Aí quando você tava na farmácia com os meninos pequenos, eles cresceram ali, então?

R – Cresceram lá, cresceram lá dentro. Lá, eu trabalhei durante dez anos, fazia tudo, serviço administrativo, ajudava, se fosse preciso fazer uma injeção, porque eu tinha treinamento, né, tinha um bom contato com os clientes, porque é igual essa história aqui, isso aqui nasceu porque eu converso demais, né? Porque se eu não conversasse tanto, a Márcia nunca ia saber que eu tinha chegado a Paracatu há 30 anos, que eu tinha sido professora, que eu tinha trabalhado na farmácia, ela puxou um assunto ali e o assunto começou e eu sempre fui assim. Sempre fui muito de conversar, de bater papo, de contar, de puxar assunto.

P/1 – E como foi a primeira refeição do restaurante aberto, quer dizer, abrir a porta e falar: “Tá pronto aqui”?

R – Nossa, foi emocionante! O meu marido é maçom e a maçonaria, não sei se vocês conhecem, a linha da maçonaria é dar apoio aos maçons, uns aos outros, estimular. E eu me lembro, direitinho quando no primeiro dia, dia 27 de junho, quando abriu o restaurante, entrou assim, uns dez maçons de uma vez. Foram dez maçons que entraram mais uns cinco acompanhantes, eu sei que de 50 cadeiras, umas 20 ficaram cheias em 15 minutos. Aquilo pra mim e pra minha amiga que era a minha sócia, a Ivani, foi a coisa mais gratificante do mundo, né? Foi um momento marcante, porque dali pra cá, o restaurante só ficava cheio, só cheio. Cheio, cheio, sabe? Assim, eu já tive aqui, momentos de não ter uma cadeira vaga dentro desse restaurante, muito cheio, sabe?

P/2 – E quais eram as comidas servidas nesse primeiro momento do restaurante?

R – O restaurante, eu nunca mudei a cara da comida do restaurante, desde o primeiro dia, é isso que vocês veem aqui, que vocês estão comendo aqui, que vocês estão vendo. Eu sempre priorizei a qualidade, a aparência, a variedade e eu não acho que mudou, não, desde o primeiro dia, é isso aí, sabe? Eu nunca deixei, de por exemplo, por mais apertada que eu esteja, por mais difícil que seja a situação, eu nunca fiz, por exemplo, contrafilé no lugar de filé, eu nunca fiz frango caipirão e falei que era frango caipira, não. Sempre, em dez anos, é isso que vocês estão vendo aqui.

P/2 – Conta pra gente, então, qual é o cardápio que é servido…

P/1 – Pra quem não conhece e não pôde vir comer aqui.

R – Olha, o restaurante fornece todos os dias, a gente tem de segunda à sexta, a gente tem três tipos de arroz, três tipos de feijão, temos duas massas, que é uma lasanha e um outro prato, um fricassé, um assado de babata, um escondidinho de mandioca com carne seca, todos os dias, a gente tem dois macarrões, a gente tem uma variedade de verdura na fornalha, verdura refogadinha, não é salada. Nós temos a média de cinco verduras. É padrão, pode vir aqui de segunda a segunda, que você não vai deixar de encontrar o chuchu, o quiabo, o jiló, o molhozinho de mamão, hoje, por exemplo, teve molho de mamão, que é uma comida de Paracatu, não sei se vocês vieram aqui hoje, mas hoje teve molho de mamão, um cará, um inhame, um alho-poro e uma farofa, todo dia tem farofa, todo dia tem quatro tipos de carne na fornalha, fora a churrasqueira, porque a gente mantem a carne de boi, de frango, de porco e peixe. Todo dia tem, ovo frito, omelete, o bolinho de arroz, o bolinho de legumes, o torresmo, a banana frita e isso não é agora, isso é desde o primeiro dia, é isso aí, o empadão de frango que é também uma comida típica de Paracatu.

P/1 – Aí, você falando das comidas típicas, esse molho de mamão, empadão, o que mais que você poderia dizer que é daqui?

R – Que é de Paracatu, além do mamão? O empadão é de Paracatu, deixa eu ver o que mais que é típico de Paracatu…

P/1 – O quê que vai nesse molho de mamão?

R – Mamão com açafrão, mamão picadinho, pequenininho com açafrão.

P/1 – E vai com a carne, é isso?

R – Pode ser com carne, pode ser puro, você pode fazer ele com carne, você pode fazer ele só o molho, hoje era só o mamão com uma pimentinha, um cheiro verde, uma salsinha e só.

P/1 – E é bom?

R – É uma delícia! Com arroz, com feijãozinho, é muito bom. Gostoso, mesmo.

P/2 – Mas com quem que você aprendeu essa receita do mamão?

R – Com o paracatuense, sabe, com o pessoal de Paracatu. As funcionárias, assim, algumas funcionárias que já passaram por aqui são daqui, então elas tinham essa indicação. E outra com quem eu aprendi, também, que o molho de mamão é ótimo pra saúde foi com um médico que quando eu cheguei aqui, chamava Doutor José Quintino, ele, quando o paciente chegava lá no posto: “Doutor, eu tô com prisão de ventre”, aí ele receitava: “Coma molho de mamão três vezes por semana”, mas eu não sabia fazer, mas eu escutei isso dele e aprendi depois.

P/1 – E quem toma conta da cozinha aqui do seu restaurante?

R – Eu, né? Eu que tomo conta, eu que chego lá e falo: “Hoje vocês vão fazer isso, hoje é desse jeito, isso aqui não tá certo, muda isso aqui, essa salada desse jeito não tá certo, tá faltando sal”, e a minha cozinheira, que é única, desde o primeiro dia que abriu o restaurante, dez anos que lá tá comigo, chama Cida, Maria Aparecida, Cida. Ela é a minha cozinheira e a minha gerente, na minha ausência, é ela quem manda, coordena o restaurante. Ela é uma pessoa esplendorosa, ela é semianalfabeta, ela sabe ler, mas o básico, mas tem uma memorização, uma capacidade de aprendizado que é invejável a muitos doutores que eu conheço, viu? Eu vejo, tô lá em casa, tipo assim, à tarde, eu vejo uma receita, aí no outro dia de manhã, eu ligo pra ela e falo: “Cida, eu vi isso ontem na televisão, vamos fazer?” “O que é?”, aí eu falo: “Uma batata, você faz assim, assim, assada e tal”, aí eu chego aqui, ela fez como se ela tivesse visto ou tivesse pegado a receita, sabe, ela tem muita capacidade, muito, muito, muito. E eu tenho os funcionários que sem eles, eu não daria conta mesmo de manter. Agora, tudo aqui no restaurante, passa na minha mão. Toda a montagem da fornalha é feita por mim, todo dia. Sou eu que ponho o nome, sou eu que ponho as panelas no lugar, sou eu que provo a comida se não tiver bom, eu mando de volta: “Esse aqui não tá bom, pede para pôr um pouquinho de água, pede pra voltar no forno de novo”, sabe? Tudo passa na minha mão, tudo, tudo, tudo. E sei fazer tudo do restaurante, sabe? A única coisa no restaurante que eu não faço é picar a carne da churrasqueira para o cliente, eu não dou conta, eu preparo a carne, eu espeto a carne, eu ascendo a churrasqueira, eu asso a carne, mas o corpo a corpo, se tiver dois na fila, eu não dou conta, se for só um, eu vou lá e corto, mas se for por exemplo, se for uma fila, eu não dou conta. Mas o resto tudo, eu dou conta de fazer.

P/1 – E qual que é o segredo, até uma brincadeira com a palavra, né, de satisfação e satisfazer tanto fisicamente com a comida, como também pelo ambiente, pelo atendimento, então, como deixar um cliente satisfeito?

R – Eu vou falar como cliente. O cliente fica satisfeito quando ele chega num ambiente harmonizado, que eu acho que é uma das coisas que mantem o cliente é harmonia, é ele chegar aqui e o forno não estar sujo, sabe, é ele olhar para o chão e ver que tá limpinho, né, brilhando, que foi limpo, que foi lavado, ele olhar que as mesas estão alinhadas, ele ver que a comida tem aparência, ele ser bem atendido pela garçonete, por quem tá no caixa, por quem tá na balança, pelo churrasqueiro, pelas meninas que circulam na fornalha o tempo todo, que eu não sei se vocês já observaram, mas assim, as funcionárias circulam consertando a comida, porque uma coisa que eu falo pra elas sempre, o primeiro cliente vê a comida bonita toda maravilhosa, agora, o último vai ver uma comida pouca na fornalha, porque já comeram, já tá pouca, mas aquela comida tem que ter a mesma aparência do cliente que chegou primeiro. O cliente não pode chegar lá e o feijão tá virado, a panela tá suja, a fornalha tá toda suja, o chão tá sujo. Nisso aí eu sou muito exigente com os meus funcionários, sabe, eu exijo muito, muito. O atendimento do cliente, a atenção ao cliente pra mim é prioridade. É o que eu falo para os meus funcionários todo dia, o mantenedor disso aqui é o cliente. Se você tratar um cliente mal e ele for embora, você vai perder, porque é ele que paga o seu salário.



P/2 – Tem algum cliente fiel aqui?

R – Muitos. Muitos. Eu tenho uma senhorinha que ela come aqui todo dia e ela odeia que entre alguém antes dela, Dona Antônia. Ela não gosta que entre ninguém antes dela, entendeu? Ela tem que ser a primeira. Aí, quando você abre as três portas de lá, assim, que não abriu a de cá, você fica enxergando a carinha lá dela pra você mandar ela entrar, sabe, Dona Antônia, cliente VIP. Mas, sem ser Dona Antônia, tem “n” outros clientes que estão comigo há muito tempo. Eu tenho cliente aí que tá comigo desde o início, tem o gerente da Kinross, que chama Luciano, tem clientes aqui que formaram na escola de Medicina comendo aqui desde o primeiro dia e já foram embora, ficaram aqui seis anos, sabe? Tem o pessoal dos bancos aqui comem também que é fiel. Tem muitos clientes, famílias que não comem todo dia, mas final de semana, se saem pra comer, é aqui que vêm. Tem uma fiscal do trabalho, Alessandra, que a menininha dela, hoje tá com dez anos, chama Juliana e quando ela veio pra aqui transferida, o marido dela veio para trabalhar na Kinross, parece, não sei se é na Kinross que ele veio e ela veio para o Ministério do Trabalho, a Juliana tinha quatro anos e ela começou a vim aqui no restaurante, hoje a Juliana tá com dez. Hoje, ela chega aqui, ela almoça rapidinho pra ficar ou na balança ou no meu lado no caixa, porque ela cresceu aqui dentro, sabe? É uma gracinha, ela se sente a dona do restaurante. Então, tem vários, vou citar nome aqui, são muitos.

PAUSA

P/1 – Você contou como é que foi adquirir essa casa, que teve que fazer reforma, como que ela tava antes?

R – Olha, a casa, a estrutura da casa é isso que vocês estão vendo aqui, só que quando nós compramos, ela era dividida. Ali, era o comércio, você entrando ali, aí tinha uma parede bem rente à porta de entrada e tinha um comércio nas três portas que vocês estão vendo lá, era o comércio, era a venda, era a venda do seu Zotti. O seu Zotti era aquele vendeiro que vendia as coisas naquela concha assim, naquela cuia? A venda dele era aquela venda. E, depois ele ficou velho, desistiu do comércio, ele passou a alugar esse cômodo. Inclusive, a farmácia funcionou aqui um tempo quando a gente construiu o prédio ali, nós funcionamos a farmácia aqui nesse cômodo. Aí tinha a parte do comércio que era lá e de cá, era a casa do seu Zotti com a família. Isso aqui, você entrando ali, isso aqui era a sala, tá vendo aqui as divisórias? Ali era um quarto, de lá era outro quarto e aqui também era outro quarto. Então, da sala, você passava de um quarto pra outro, era tudo ligado. As casas antigas eram desse jeito. Quando nós compramos o imóvel, que a gente fez o projeto pra reforma, a gente queria tirar, abrir o espaço todo para restaurante, só que o IPHAN [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional], o município também, o órgão do município não permitiu, eles liberaram pra gente tirar as paredes internas e manter a estrutura da madeira. É o que vocês veem, isso aqui. Olha, era tudo de madeira de adobe dividia, e liberaram, nós cortamos, tiramos as madeiras, o adobe e manteve a estrutura só da madeira. Do outro lado, onde era o comércio, não tinha parede dividindo, mas era só a parede dividindo a entrada da casa. A casa é original da parede de lá, daquela parede do fundo lá pra cá, ela é toda original. A cozinha não era, ele tinha a casa original e ali, na entrada da cozinha tinha uma escada que tinha uma meia-água onde funcionava a cozinha da casa dele, que foi demolida com a reforma. E aí, quando nós fizemos o projeto, tudo isso aqui passou por mão de engenheiro, de arquiteto, do conselho, sabe, foi meio que traumática a reforma daqui. Pra você ter uma ideia, o piso aqui era descaracterizado, tinha parte que era taco, tinha parte que era tábua corrida, tinha parte que era cerâmica, a parte do comércio era cerâmica. E nós pedimos pra unificar o piso. Pra gente conseguir transformar esse piso num único piso, a exigência foi a seguinte, o taco nós tivemos que usar, se você for lá no banheiro, você vai ver que tem uma parede de taco. A tábua corrida teve que utilizar, essas mesas desse lado daqui são feitas com tabua de demolição, era a tábua corrida da casa. Eles exigiram algumas coisas da gente pra gente poder melhorar o piso, o forro, sabe, manter a estrutura, a cozinha é toda na estrutura do colonial, você pode ir lá para você ver que até não foi uma coisa muito bem planejada para restaurante, porque se tivessem pensado na Vigilância Sanitária, na higiene, tudo, aquilo não podia ser daquele jeito, porque é muito difícil telar aquela janela, é muito difícil limpar aquelas paredes naquela altura, mas assim, foi uma exigência na reforma do conselho. Mas a gente manteve a casa original, ela é toda original, mesmo. A única coisa que não é original aqui são duas peças de madeira naquele telhado lá, ó, do lado de lá que elas são lisas, dá pra ver direitinho, elas diferenciam das demais.

P/1 – E como você se sente aqui, nesse ambiente, sabendo que ela é toda original, sendo historiadora, quer dizer, meio que de fato, deu para conciliar, né?

R – É, muito bem. Eu amo o que eu faço, amo o lugar que eu estou, né, que eu montei o restaurante, vejo aqui dentro, assim, que é um ambiente extremamente limpo, sabe, acho que o seu Zotti que era o dono do Casarão, ele era uma pessoa quer tinha uma índole maravilhosa, ele era uma pessoa que vivia para fazer o bem e eu tenho certeza absoluta que de onde ele está, ele tiver visão, ele tá muito feliz com isso aqui. A família dele é maravilhada com o restaurante, inclusive, ele só tem um filho homem, chama Fausto, ele vem almoçar aqui todo domingo. Ele entra, serve a comida e fala: “Vou sentar hoje lá no meu quarto”, o quarto dele era aquele ali, “Hoje eu vou comer lá no meu quarto”. Às vezes, ele chega, a mesa ali tá ocupada, ele fala: “Hoje vou comer no quarto de paizinho”, sabe? Então, assim, a família vem muito e curte isso aqui, assim, são super agradecidos por a gente ter mantido e estar com isso aqui vivo, porque não deixa de ser uma lembrança para eles, do pai, né, para a cidade inteira isso aqui é a casa do seu Zotti. Ele era músico da Orquestra de Paracatu, era uma pessoa sábia, uma pessoa inteligente, sabe? Que tinha um relacionamento social na cidade, assim, maravilhado mesmo, ele era muito do bem. A única pessoa da família que não vem aqui é a Dona Ivone, que é a viúva, ela não consegue vir, sabe, por questões sentimentais, ela não vem, sabe? Mas as filhas, o filho, os netos amam vim aqui, almoçar aqui.

P/1 – E como é que foi o contato e a relação dom a Dália, né, que…

R – Foi a que fez a reforma. Eu conheço Dália… conheci Dália desde pequena, mesmo, como ela mora aqui na frente, não sei se você já conversou com ela, ela mora logo aqui na frente e eu vivia nesse meio aqui, que a farmácia era perto, eu conhecia ela. E a Dália é uma pessoa que sempre admirou o colonial, ela sempre admirou e ela faz assim, reformas faraônicas dentro de Paracatu. Quando nós compramos a casa, a primeira pessoa que veio na mente para administrar a reforma foi a ela, sabe, e foi assim, muito bom, muito bom mesmo, porque ela foi dez nessa reforma, sabe, dez!

P/2 – Durante a reforma, teve a descoberta de algum objeto que tava guardado ou alguma descoberta da própria estrutura da casa?

R – Não, não que eu me lembre. Eu acho assim, que teve algumas descobertas assim, um parafuso numa porta, aquele negócio de cavalo, né, tá até pendurado ali…

P/1 – Ferradura?

R – Ferradura, a ferradura, uma chave grande, a chave da porta aqui era aquela chave grande, desse tamanho assim, essa chave foi encontrada, mas a própria Dália ficou com ela, eu nem sei cadê. Teve algumas coisas que assim, que acha. Temos aqui, ó, na área do restaurante, uma externa, né, um poço que é todo calcado com pedra tapiocanga, né, que eles fazem, aquela pedra redonda sem nenhum polimento, nada, ela foi calçada por escravos, ela é calçada de cima até embaixo. Hoje, o restaurante funciona quase que na totalidade com a água desse poço. Nós temos hoje, dentro desse poço três bombas, tem uma bomba que joga para caixa dos banheiros, aqui, do banheiro do público, tem uma bomba que joga para caixa do banheiro dos funcionários que é lá em cima e tem outra bomba que joga na mangueira que faz a limpeza da área toda na mangueira. É uma coisa que é de contar para os outros, é de mostrar, sabe? É impressionante. E às vezes, eu cismo, quando começa a ficar muito tempo sem chover, eu falo assim: “Nossa, o poço deve estra com pouca agua”, aí por curiosidade, eu vou lá, e abro a tampa, as três bombas estão funcionando e a água tá no mesmo nível, sabe, ela não baixa o nível da água, uma água de boa qualidade, é muito bonito.

P/1 – E tem aqui também na área do restaurante um pé…

R – De figo. Um pé de figo que eu acredito que ele deve ter uns 40 anos, sabe? Porque eu tenho 30 de Paracatu, desde que eu cheguei em Paracatu, o pé de figo do seu Zotti é aqui no fundo, a gente passava no beco, o pé de figo tava carregadinho, ele apanhando figo e tá aí o pé de figo, duas vezes por ano, eu faço doce com o figo, mando podar, sabe, agora ele tá feio, agora ele tá seco, né, porque nessa época, cai todas as folhas, mas daqui uns dias, ele flora, vem os brotos, ele fica lindo, lá pelo mês de outubro, ele fica maravilhoso, maravilhoso.

P/1 – E você sempre foi festeira?

R – Adoro festa, coisa que eu mais gosto no mundo é fazer festa, ir em festa, amo! Pode juntar só dois que eu faço festa. Por isso que eu faço uma festa todo dia, né? Todo dia eu faço uma festa.

P/1 – Com o restaurante?

R – Com o restaurante, é, todo dia. Eu gosto muito de festa.

P/1 – Mas eu perguntei de festa porque ocorre que a gente já tá em junho, né, e aí aqui, a gente tem percebido a movimentação das festas, das quermesses, eu queria que você contasse a sua participação nessas festas, como que é o envolvimento da cidade, o seu envolvimento…

R – Olha, eu sempre participei dessas quermesses, tanto do São Benedito, quanto a do Santo Antônio, que são as duas mais famosas na cidade, que movimenta a cidade, mesmo. Se vocês quiserem, precisarem fotografar, filmar isso aí para esse documentário, tá o momento certo, o ambiente é lindo, sabe, as pessoas curtem o momento mesmo, é uma força comunitária muito grande, faz-se a festa com doações e eu me envolvo muito, até porque eu sou parte do departamento feminino da loja maçônica, hoje eu tô lá como presidente pela terceira vez, tá quase sendo hereditário (risos). Lá, a gente ajuda muito. Então assim, a minha participação nisso aí é grande, a minha não, a nossa participação do grupo feminino da maçonaria. A gente faz muito trabalho filantrópico e como a gente sabe que a igreja usa parte desses recursos pra filantropia, para estar ajudando, a gente sempre ajuda, sempre. E além de ajudar, eu vou, gosto, participo, acho lindo, adoro, sabe?

P/1 – E aí, antes da gente entrar numa parte de avaliação, assim, conta dos seus filhos, que você nem falou deles ainda.

R – Eu tenho dois filhos…

P/1 – Quer dizer, falou deles na farmácia.

R – É, eu tenho dois filhos, Maria Fernanda e Pedro Henrique, são gêmeos, 25 anos, Pedro trabalha comigo aqui e a Maria Fernanda fez Medicina, formou o ano passado, tá fazendo residência em Brasília, no Hospital Regional de Sobradinho em Ginecologia Obstetrícia, são a minha vida os dois. É tudo que eu tenho de maravilhoso na minha vida, sabe? Tudo de bom, é o meu ouro, são os meus filhos.

P/1 – E como é que foi ser mãe logo de dois, assim, gêmeos?

R – Bom demais, né? Três anos praticamente sem dormir, um chorava, o outro acordava, o outro calava, o outro chorava, mas voltaria de novo e viveria de novo tudo outra vez, se fosse preciso.

P/1 – E como é que foi vê-los crescendo aqui também, né, quer dizer, você montou o restaurante, eles começaram na farmácia, mas aos 15 anos deles, você abriu o restaurante, então, como e que eles lideram com isso?

R – Lidam naturalmente, me ajudam, a Maria Fernanda, mesmo estudando, né, durante o curso dela inteiro, ela nunca deixou de dar a contribuição dela aqui no restaurante, sempre presente, fazendo a folga da menina do caixa, porque antes eu tinha a menina no caixa, hoje que eu não tenho, ela fazia, dando a parte que ela podia, contribuindo, Pedro tá sempre aqui, então assim, eles são parte importante aqui dentro da história do restaurante. Tanto eles, quanto o meu marido, né, quanto a minha família que vem curtem muito isso aqui.

P/1 – E como é que você se sente vendo que o seu filho tá aqui, tá tomando conta do restaurante, sabe, participando mais ativamente?

R – Eu acho assim, tomando conta do restaurante hoje, eu ainda não posso falar que ele tá, mas a minha expectativa é que ele venha a tomar conta, até porque ele não quis estudar, ele fez o ensino médio. Eu acho que o futuro dele como homem, como empreendedor é isso aqui, né? Então, ele tá devagarzinho, mas eu acredito que é ele que vai manter isso aqui, se Deus quiser.

P/1 – Ele cozinha, também?

R – Não, não, não, faz Nissim miojo (risos) e frita ovo.

P/1 – E aí, você falou daqui, da reforma e tudo, né? Qual que é a importância da manutenção desse centro histórico para a cidade, para Paracatu, essa cidade em relação as cidades do entorno, como um atrativo, de repente.

R – Eu acho, Fernanda, que isso aqui para Paracatu é a menina dos olhos, mas eu vejo, infelizmente, que o poder público, ele não dá muito apoio pra gente que tem um imóvel desses, porque nós temos um imóvel que a manutenção dele é cara, é difícil. Por exemplo, se eu for pintar um restaurante desse hoje, eu vou gastar um valor altíssimo e eu acho que como é a menina dos olhos do município, o poder público podia muito ter aí um incentivo, uma ajuda, a gente não tem, não tem nada, sabe?

P/1 – E como foi pra você receber o título de Cidadã Paracatuense?

R – Foi uma surpresa, né, até porque eu nunca esperava isso, nunca fiz nada em Paracatu pra isso e de repente, chegou aqui um vereador na época, o João Macedo, me dizendo que ele ia me indicar pra receber o título de cidadã e se eu aceitava. Aí, na hora, eu assustei, falei: “Mais eu?” “Você sim, o seu trabalho merece ser valorizado”, e aí, eu recebi, eu recebi, meu marido recebeu.

P/1 – Você alimentou tanta gente!

R – É, é exatamente isso aí, né, eu alimentei muita gente, então, acho que foi até por isso, né? Na época, ele disse que mais pela questão do investimento, de ter transformado a casa num ponto turístico, de ter feito disso aqui um grande restaurante, então assim, eles valorizaram isso aí, né? E eu, assim, independente do restaurante, eu sempre, dentro de Paracatu, eu fui uma pessoa que trabalhei muito no social, muito. Eu sempre trabalhei no social, sempre ajudei muito, sempre tive muita solidariedade às pessoas que precisavam, sabe? Sempre fui solidária a tudo, então, eu acho que também por isso, né?

P/1 – E qual a responsabilidade de ter um restaurante que carrega, assim, a imagem da cidade, quer dizer, alguém que passa em Paracatu, ou um turista, ou alguém que vem trabalhar pontualmente fala assim: “Vai lá, que lá é bom, a gente recomenda, é a cara da cidade”?

R – Eu não vejo isso aí com dificuldade, não, pelo contrário, isso me engrandece, sabe? Quando chega alguém aqui e fala assim: “Eu saí de Brasília e quando eu tava chegando aqui, eu digitei no Google lá um restaurante e apareceu o seu e eu vim e não me arrependi, tô muito feliz porque vim, porque cheguei aqui”, assim, pra mim é muito gratificante, eu fico feliz demais. O dia que eu fiquei mais feliz foi o dia que chegou um casal e disse pra mim assim: “Nós saímos de férias de Brasília, estamos indo para o Rio [de Janeiro] e, na saída, nós compramos o guia Quatro Rodas e quando nós nos aproximamos de Paracatu no horário de almoço, eu disse pra minha mulher: ‘Abra o guia aí, vamos ver um restaurante’ e só tinha o seu indicado pelo guia”, sabe, aí eu falei: “O quê? Eu, no guia?” “É, a senhora não viu?” “Não, não vi”, até porque eu não tinha hábito, né, não tenho hábito de pegar guia, aí ele falou: “A senhora tá indicada no guia Quatro Rodas”, e foi lá no carro e buscou o guia, era o mais novo que tinha, foi o momento, assim, de maior felicidade que eu já tive dentro do restaurante, foi isso. Porque assim, o que eu pensava do guia era que era indicação ou que era pago, né, alguém pagava pra você estar em destaque lá dentro e como eu tinha certeza que eu nunca tinha feito nada pra estar lá, nunca paguei pra ninguém, nunca procurei ninguém, nunca fui procurada por ninguém, aquilo pra mim foi assim, muito gratificante, nossa, foi muito, muito mesmo, fiquei feliz demais, tanto é que eu mantenho ali ao lado do caixa a indicação lá do guia Quatro Rodas.

P/2 – Dona Natalícia, a senhora que foi uma criança que aprendeu a cozinhar muito cedo com a vó, com a mãe, teve toda essa trajetória até chegar aqui, abrir um restaurante, conta como é que é depois de um dia longo de trabalho, fechar o restaurante e ir para a casa. O quê que vem na cabeça da senhora?

R – Mais um dia de uma missão cumprida, sabe? Mais um dia que eu posso embora e chegar na minha casa e dizer pra Deus: “Obrigada por mais esse dia, consegui vencer”, porque assim, não pensem que é fácil, não é, isso aqui funciona, começa a funcionar às sete da manhã e, geralmente, eu vou embora tipo cinco horas, quatro e meia da tarde, depois de tudo organizado, mas é uma satisfação muito grande viver um dia após o outro, sabe? E receber os clientes todos os dias e ver que os clientes saem satisfeitos, isso é uma coisa que dinheiro nenhum paga, sabe? Hoje mesmo, assim, uns quatro que passaram aqui que não são daqui, passaram pra almoçar, passaram por mim no caixa e: “Dá parabéns para as meninas da cozinha, pra turma da cozinha, a comida é maravilhosa, o ambiente é lindo…”, e não sei o que, entendeu? Sabe assim? E isso aí enche a gente de vaidade, né?

P/1 – E a gente falou rapidinho das festas, né, que você é festeira, tem alguma história de festa que ficou marcada, que você lembra sempre?

R – De Paracatu?

P/1 – É. De uma especial, assim.

R – Uma história… A festa de Paracatu que mais me marca desde que eu cheguei em Paracatu é a quermesse de São Benedito, sabe, que é assim, um momento único na cidade, que assim, é bonito, é grandioso, sabe? Esse me marca desde quando eu cheguei, desde quando eu cheguei, essa festa de São Benedito é grandiosa.

P/1 – O que você sente quando tá no meio dessa grandiosidade toda, né, ali com todos da cidade, em confraternização, esse sentimento gostoso, bonito de comunidade?

R – Eu sinto alegria de estar convivendo isso e agradecida a Deus por ter me dado a chance de estar aqui, né, porque assim, nada na vida da gente é por acaso, eu acho que a vida da gente é um livro que é escrito por Deus e a gente vai só passando as páginas e eu acho que uma das páginas da minha vida é vim para Paracatu e isso é muito bom, eu gosto muito de Paracatu.

P/1 – E você trabalha em alguma barraca, assim?

R – Trabalho.

P/1 – Vendendo comida?

R – Vendendo comida, trabalho sim, eu trabalho vendendo comida, fazendo a comida, por exemplo, na barraquinha de São Benedito, esse departamento feminino da loja maçônica, um dia da barraquinha, a gente faz toda a comida e nós fazemos, sabe, o grupo feminino da maçonaria que faz, que executa e lá, a gente cozinha 50 quilos de arroz, 30 quilos de feijão, 100 quilos de frango e tudo passa pelas nossas mãos, e depois que a gente faz lá na nossa cozinha lá do salão, a gente desce pra barraquinha pra ajudar a vender, é gratificante, é muito bom.

P/1 – E tem que ir com alguma indumentária ou alguma…

R – Tem, eles têm lá, na barraquinha lá tem, eles fazem tipo um jalequinho pras pessoas que estão trabalhando.

P/1 – Chapéu, nada?

R – Não, chapéu não. É, tem muita gente que usa, ontem mesmo tinham umas duas lá de chapéu, lá na barraquinha, que estavam trabalhando.

P/2 – Mas qual é a parte da festa que a senhora mais gosta?

R – Das celebrações, são maravilhosas. A de ontem foi maravilhosa, sabe assim? Cada dia… São nove dias de novena, cada dia é um padre que celebra com um tema, com uma benção especial e é diferente, é uma coisa muito bem elaborada, muito bem planejada pela equipe, os padres dão o melhor deles, fazem as coisas assim, as bênçãos, a celebração, assim, do fundo mesmo do coração, você vê que é uma coisa que todo mundo quer fazer melhor, sabe?

P/1 – E toda essa energia volta pra você?

R – Com certeza! Eu saio e acho que todo mundo que vai lá sai de lá de alma lavada, sabe assim? É uma coisa que faz bem pra cidade. Espiritualmente falando, é uma força positiva, muito positiva, sabe?

P/1 – E aí, pra gente encerrar, minha última pergunta é quais são os seus sonhos, o quê que ainda você quer, você pensa, você deseja de ver nesse livro?

R – Ah! Meu sonho hoje, meu maior sonho hoje é aposentar (risos), não para eu parar de trabalhar, mas é porque eu acho que já tá na hora de eu buscar uma parte daquilo que eu já passei, né, eu já trabalhei muito, eu comecei a trabalhar muito nova e aposentar pra mim hoje é uma questão de realização pessoal. E não aposentar para deixar de fazer o que eu faço, porque eu amo o que eu faço, mas para eu me sentir bem, mesmo, sabe? Quanto trabalhadora, quanto contribuinte, quanto funcionária pública que fui, sabe, chegar um ponto que eu posso dizer assim: “Olha, eu estou recebendo de volta aquilo que eu plantei, aquilo que eu fiz a vida toda”. Hoje mesmo, eu disse para o meu churrasqueiro, que é um jovem, ele é estudante de Engenharia Civil e trabalha comigo como churrasqueiro, na minha ausência, ele é o meu caixa e é um menino que tem muita vontade de vencer e ele hoje me procurou pra vender as férias: “A senhora me compra minhas férias?”, eu disse pra ele: “Compro, sabe por que eu compro? Porque na minha vida, eu nunca tirei 30 dias de férias”, porque eu era pobre, de família pobre e eu não podia, porque era com o dinheiro das minhas férias que eu tinha pra inteirar e pagar a faculdade, pra no caso, dele, que ele tá querendo, casado, muito novo, tá precisando. Era com isso que eu movimentava alguma coisa diferente na minha vida e eu disse pra ele: “Não mata ninguém, você vai se realizar e isso vai fazer bem pra você, pra te ajudar, eu compro as suas férias”, então assim, pra mim é gratificante e trabalhar pra mim é gratificante, sabe? Estar aqui todo dia é gratificante, receber o cliente é gratificante, receber elogios é gratificante, receber críticas é gratificante, porque eu não sou aquela pessoa que quando o cliente chega e reclama de alguma coisa, eu fico chateada, pelo contrário, eu fico super agradecida de falar: “Aconteceu isso”, ontem mesmo a cliente entrou, almoçou: “Hoje, eu não tomei suco, a garçonete não foi lá”, porque ela entrou bem na hora que abriu, entrou com a Dona Antônia, e aí, como a Dona Antônia não toma suco, acho que a menina não percebeu que ela tinha entrado já, sabe? E aí, assim, mas é a vida, né, a gente vai levando, mas eu sou muito feliz na minha vida.

P/1 – Eu mudei de ideia, vou fazer só mais uma, se você pudesse definir essa sua relação com a cozinha, com o restaurante em poucas palavras, o que você diria desse seu ambiente, da sua relação com a comida, com esses cheiros e sabores?

R – Eu diria pra você o que a minha irmã escreveu num quadro quando eu recebi o título de Cidadã Honorária: “É o meu laboro satisfazer a necessidade de alimentos das pessoas”, é a minha missão, isso não veio para a minha vida por acaso, não veio porque eu quis, não veio porque me indicaram, não, veio porque Deus achou que eu era capacitada e porque era a minha missão, a minha missão era essa e eu vejo como missão, porque eu acho que quando você vê as coisas como missão e gosta do que faz, aí você não tem preguiça de fazer, você não reclama de fazer, sabe, eu não reclamo em nenhum momento ninguém me vê reclamar do que eu faço. Posso reclamar da crise financeira, posso reclamar dos problemas, das dificuldades, dos apertos, dos funcionários que têm preguiça, das coisas que não são bem feitas, do que não… mas assim, do que eu faço, da minha profissão, eu sou realizada, sabe? Muito realizada.

P/1 – Então, com isso, em nome da Kinross e também do Museu da Pessoa, a gente, apesar de poder ficar mais à noite adentro fazendo perguntas, a gente agradece a sua entrevista. Muito obrigada.

R – Eu que agradeço, como eu disse pra vocês, antes de começar a filmagem, que eu caí nessa rede por acaso, né, por conversar demais, mas eu acho que se eu pude contribuir com vocês em algo, eu fico feliz por isso e agradeço por vocês terem me escolhido e se eu tiver contribuído com alguma coisa positiva, já me deixa feliz, tá?

P/1 – Tá certo, pode ficar bastante feliz que contribuiu sim e é a gente que agradece.

R – Muito obrigada e estamos aí.



FINAL DA ENTREVISTA