Museu da Pessoa

Gratidão pela empresa

autoria: Museu da Pessoa personagem: Nilva Luzia dos Santos

Projeto CTBC Telecom
Depoimento de Nilva Luzia dos Santos
Entrevistada por Luiz Egypto de Cerqueira e Rosali Henriques
Uberlândia, 19 de abril de 2001
Realização Museu da Pessoa
Código: CTBC_HV050
Transcrito por Marcília Ursini
Revisado por Joice Yumi Matsunaga

P/1 - Luiz Egypto
P/2 - Rosali Henriques
R - Nilva Luzia

P/1 - Bom dia Nilva.

R - Bom dia.

P/1 - Eu queria que você começasse, por favor, me dizendo o seu nome completo, o local e a data de seu nascimento.

R - Nilva Luzia dos Santos, nasci em Uberlândia, 13 de dezembro de 1961.

P/1 - Certo. O nome do seu pai e da sua mãe, por favor?

R - Benedito Jacinto dos Santos e Dagmar dos Santos.

P/1 - Os seus avós, você conheceu?

R - Só por parte de pai.

P/1 - Você sabe o nome dos seus quatro avós?

R - Por parte de pai, sim. Por parte de mãe, não. Eu não me lembro porque foi muito pouco comentado, nem a minha própria mãe conheceu eles. Eles morreram quando ela era muito pequena. Agora, por parte de pai, a gente conheceu, viveu um pouco com eles, esse eu sei.

P/1 - Qual é o nome deles? Como eram?

R - José Jacinto dos Santos e Marina E. dos Santos.

P/1 - Você se lembra da atividade dos seus avós?

R - Meu avô, por parte de pai, ele era motorista e a minha avó era dona de casa.

P/1 - Você tem informação de... se eles eram daqui mesmo da região, ou se vieram para cá, de algum lugar, se migraram?

R - Por parte do meu pai, eles eram daqui de Uberlândia, nascidos e criados aqui. Por parte da minha mãe, eles eram de Goiás, Bela Vista de Goiás, uma cidadezinha perto de Goiânia. Eles nasceram lá. Depois é que a minha mãe veio para cá, para estudar, mas ela também é de lá.

P/1 - Bela Vista.

R - Ah, rah.

P/1 - E o seu pai, qual era a atividade do seu pai?

R - O meu pai era motorista até pouco tempo. Hoje, ele é aposentado.

P/1 - E a sua mãe?

R - A minha mãe, no começo, era costureira. Hoje, ela é dona de casa. Não trabalha mais.

P/1 - Seus irmãos? Você tem irmãos?

R - Tenho três irmãs.

P/1 - E você é a primeira, segunda, terceira, quarta?

R - Eu sou acima da caçula. Eu tenho duas mais velhas do que eu e uma mais nova do que eu.

P/1 - Certo. Como é que era essa casa em que vocês viviam em Uberlândia, essa casa da sua infância? Como é que era... Onde era, como é que ela era?

R - Ah, era assim, era complicado. Eu quase não lembro direito, né? Porque a minha infância foi uma infância muito pobre, né? A minha mãe e o meu pai tinham muita dificuldade e a gente mudava muito porque era casa de aluguel. Então, sempre que ia aumentando, a gente tinha que estar mudando, né? Mas, eu morei ali no Bairro Martins na... Sempre moramos ali porque o meu pai trabalhava ali perto também e conseguiu uma casa assim, tipo nos fundos da rodoviária onde ele trabalhava, né? Então, a gente morou ali, cresceu, praticamente foi tudo ali.

P/1 - Você poderia descrever essa casa? Como é que ela era?

R - Era uma casa bem velha, eu me lembro assim. Era uma casa bem velha. (choro) Era uma casa, bem assim, rústica, ela não tinha banheiro, era uma casa bem velha. (choro) Eu lembro assim, tinha um quintal bem grande com bastante plantação, mas era uma casa assim, só com uma sala, uma cozinha, era um fogão de lenha. Era uma casa bem velha assim. As janelas eram muito... Quase não tampava, os telhados... Era uma casa bem rústica mesmo. Assim, uma casa no fundo que a gente morava. A gente viveu, praticamente, ali.

P/1 - Você e as suas irmãs brincavam como? Como se divertiam?

R - A gente brincava ali no quintal mesmo, né? Porque tinha muitas árvores, árvores, realmente, tinha muito. Tinha pé de goiaba, pé de manga, eu lembro que a gente tinha assim, gangorras, né? O meu pai fez gangorras para a gente em um pé de manga. Então, a gente brincava ali mesmo, né? Normalmente, a gente brincava só ali porque a gente não podia sair para a rua porque naquela época, a gente não tinha essa liberdade que essas crianças têm hoje, né? Que a gente saía somente para ir para a escola e ficar em casa mesmo. A gente não tinha outra atividade. Então, a gente brincava ali no fundo mesmo do quintal, de gangorra, ou de boneca, ou de alguma outra coisa assim, mas ali mesmo no quintal.

P/1 - Certo. E a escola, essa primeira escola que você frequentou? Fala um pouquinho dela.

R - Era perto também, né? Era bem perto da nossa casa, era ali também. Era uma escola pública, né? E eu ia... A gente, todos nós estudamos lá também. Era uma escola... Era boa, né? Eu me lembro assim, que lá na escola eu me destacava muito, né? Porque eu era muito levada na época, né? Então, quando eu chegava na escola, eu sempre me destacava porque, quase todos os dias, tinha que ter reunião chamando a minha mãe lá porque eu era muito custosa na escola mesmo. (risos) Então, eu apresentava muito na escola. Normalmente, quase que um dia sim, um dia não, o meu nome era citado na escola porque eu era muito custosa. Mas, era bom, era bom. A gente ficava meio conhecido. Foi bom.

P/1 - Você se lembra de alguma professora assim, que tenha te marcado?

R - Eu me lembro da minha primeira professora, a minha professora do primeiro ano primário. Foi uma professora que marcou bastante para mim. Eu lembro o nome dela; Maria Célia Borges, foi uma professora assim, que eu gostei muito, eu me identifiquei bastante com ela. Foi a minha primeira professora, tanto é que nos anos seguintes, sempre eu queria que a professora fosse a mesma, não queria que mudasse, né? E eu gostei muito dela. Eu me lembro dela. Eu me lembro, às vezes, das outras de memória, mas não consigo mais lembrar de nome. Somente do nome dela.

P/1 - Sei. Essa sua característica de ser custosa, ser tão levada assim, te causava muito problema, além desses que você criava na escola?

R - Não, na escola me causava problemas assim, que, às vezes, eu me machucava muito, né? Eu fui uma criança que machuquei muito. Então, direto eu estava dando problema porque eu era muito inquieta, eu corria muito, eu brincava muito e, na escola, eu me machucava demais. Era quase todos os dias, estava sendo chamada a minha mãe lá porque eu tinha caído e machucado, cortado a cabeça, cortado o braço, era assim. Então, o fato de eu ser muito custosa me prejudicava assim, que eu era muito inquieta. Então, eu me machucava muito. No meio de muitas crianças, no recreio, então ficava tumultuado assim, e eu me machucava muito. Às vezes, até em casa, brincando também, eu fui uma criança que se destacou que eu me machuquei muito, né? Então, tudo que eu fazia, eu levava a má sorte de estar machucando. Mas, era só.

P/1 - As suas irmãs faziam alguma espécie de círculo de proteção em torno de você ou te deixavam à vontade?

R - Não, me deixavam à vontade porque a minha irmã mais velha, a diferença dela para a segunda é quatro anos e, da segunda para mim, que eu sou a terceira foi diferença de um ano. Então, eu tinha mais contato com essa irmã minha de um ano porque, praticamente, nós somos criadas juntos, né? A nossa diferença era muito pequena. Então, convivia eu e essa irmã mais junto, né?

P/1 - Certo.

R - Mas, não tinha nenhuma proteção assim não. Era mais solta mesmo.

P/1 - Por isso que você se machucava tanto. Deixa eu só, um detalhe anterior; o seu pai era motorista, mas ele era motorista... Trabalhava em alguma empresa? Era um ônibus, caminhão?

R - Ele trabalhava de caminhão...

P/1 - Ah sim.

R - Ele sempre foi funcionário de empresa.

P/1 - Viajava muito?

R - Ele viajava muito. Quando a gente era pequeno, ele viajava de caminhão e ele fazia entrega. Ele ia muito para o Mato Grosso, Goiás, ele viajava bastante. Ele carregava qualquer tipo de mercadoria. Aí, depois com o passar do tempo, aí ele começou a trabalhar em empresas mesmo, mas viajando de caminhão e transportando mercadorias específicas de acordo com a empresa que ele estava trabalhando. E a última empresa que ele trabalhou até aposentar era uma empresa de pneu onde ele viajava entregando pneus, quase que no Brasil inteiro.

P/1 - Sempre passou muito tempo fora de casa então?

R - Sempre, sempre passou. Quando a gente era pequeno então, a grande parte era fora de casa. Depois que a gente foi crescendo um pouco mais, ele já viajava, mas não ficava tanto tempo. Ele já vinha os fins de semana, ou às vezes, ele ia um dia sim, um dia não porque as viagens eram mais perto. Mas, quando a gente era pequeno, as viagens, principalmente, para o Mato Grosso, ele ficava bastante tempo fora.

P/1 - Como era a sensação de chegar em casa e o pai chegar em casa?

R - Ah, era ótima. Era maravilhosa. Ele já buzinava de longe e todo mundo conhecia, né? Ele já tinha uma maneira própria de buzinar e aí, quando ele já ia chegando lá na esquina, ele já buzinava e estava todo mundo no portão. Todo mundo já conhecia. (chorando)

P/1 - Está certo. Vamos continuar com as suas escolas.Se você quiser um lencinho, pega aqui. A partir dessa escola, você fez então, o curso primário, eu suponho, né?

R - Fiz.

P/1 - E aí, como é que foi a continuação dos seus estudos?

R - Eu nunca parei. Os meus estudos sempre foram direto, né? Eu nunca tomei bomba, então eu fiz o primário nessa escola. Depois, eu fiz o primeiro grau também, na Escola Estadual de Uberlândia. Eu fiz o primeiro e o segundo grau lá, né? Eu fiz os dois direto e depois que eu terminei, aí que eu fui prestar vestibular. Até então, sempre foi em escola municipal, nunca tinha sido pagas as escolas que eu fiz e, como eu nunca tinha tomado bomba, foi fácil chegar no vestibular. Aí, eu só vim a ser reprovada no primeiro vestibular que eu fiz, né? Foi quando, efetivamente, eu tive que pagar um cursinho. E aí, foi quando eu decidi, realmente, começar a trabalhar porque eu teria que pagar um cursinho e aí, não tinha condição.

P/1 - Até então, você não trabalhava?

R - Até então, não trabalhava.

P/1 - Mas, tinha obrigações em casa?

R - Sim, com certeza.

P/1 - Que obrigações eram as suas?

R - Lá em casa era revezado, né? A gente tinha assim: o dia de limpar a casa, o dia de fazer o almoço e o dia de fazer a janta e assim, automaticamente, né?

Porque a minha mãe, quando a gente era pequena, era costureira. Então, ela ficava, praticamente, costurando e a gente se revezando, né? O dia de uma arrumar a cozinha era o dia da outra fazer o almoço, ou da outra arrumar a casa, ou da outra lavar a roupa. Então, sempre foi tudo dividido. A gente sempre teve atividades em casa.

P/1 - Certo.

R - A minha mãe começou a ensinar cedo para gente já as atividades de casa, principalmente, a cozinhar.

P/1 - Certo. O que é que vocês mais gostavam de cozinhar?

R - Na verdade, não tinha um prato predileto assim não. Na verdade, a gente tinha que fazer o que tinha ali na hora, mas a gente nem não conhecia assim, pratos prediletos para se fazer, normalmente, não. Naquela época, era assim; era fazer frango, mais ou menos, no fim de semana, mas assim, prato predileto não tinha isso, não existia não.

P/1 - Está certo. Esse teu primeiro trabalho, quando você já está ingressando na universidade, foi o quê? O que é que você foi fazer?

R - Eu já fui trabalhar direto no escritório, né? Porque o meu pai pagou para mim um curso profissionalizante e, nesse curso, eu conheci tudo que se fazia dentro de um escritório, né? E o meu primeiro emprego já foi trabalhar direto no escritório.

P/1 - Escritório. Curso profissionalizante de quê? De contabilidade...

R - Na verdade, antigamente ele era tudo. Ele contava contabilidade, faturamento, contas a receber, contas a pagar, ele era um curso que pegava tudo, né? Eles falavam auxiliar de escritório, mas, na verdade, você aprendia tudo que se fazia no escritório, desde um faturamento, um fechamento de caixa, ele era um curso profissionalizante que abrangia tudo isso.

P/1 - E isso foi feito onde?

R - No SENAC

P/1 - E de onde é que veio essa tua motivação de fazer um curso dessa natureza? Quer dizer, por que você não se tornou uma costureira, por exemplo?

R - É, costureira realmente, eu não dava, eu nunca gostei, eu não tenho muita paciência de ficar fazendo trabalhos manuais, eu não sou muito assim, né? Na verdade, eu queria mesmo ingressar no trabalho, eu queria trabalhar fora. Eu achava que ganhava mais e ficava mais fácil para mim. E aí o meu pai falou: “Bom, se você quer trabalhar fora, você vai ter que fazer um curso profissionalizante”. E aí pagou o curso profissionalizante para mim porque, lá na época, até isso eles, depois do curso profissionalizante, dependendo da sua posição, eles conseguiam uma colocação para a gente começar a trabalhar. Aí, eu fiz.

P/1 - O currículo desse curso te encantou, ou você achou que era aquilo mesmo que você queria fazer?

R - Foi... Foi muito bom. Eu gostei porque, realmente, era tudo aquilo que eu queria aprender, né? Eu queria aprender alguma coisa que eu pudesse trabalhar no mercado e fazer qualquer coisa. E esse curso me mostrava e ele tinha assim, você podia trabalhar como se fosse em uma miniempresa. Então, você ia vivenciando. Aí, eu gostei, gostei muito e ele me ajudou muito.

P/1 - SENAC aqui em Uberlândia?

R - Aqui em Uberlândia.

P/1 - Você sempre viveu em Uberlândia?

R - Sempre vivi em Uberlândia.

P/1 - Como é que era essa Uberlândia da sua infância? Como é que era a cidade?

R - É, era uma cidade atrativa, tranquila, né? Hoje, a gente sente até saudade porque era uma cidade calma, com pouco movimento na rua, né? As crianças brincavam, ainda no passeio. Normalmente, à tarde você sentava no passeio ainda. Era muito bom. Eu me lembro, a gente não tinha muita atração. A gente não saía, a gente não ia, né? Mas eu gostava porque, mesmo assim, a gente tinha... Ficava no passeio brincando, à tarde ia nos parques, normalmente, existia parque, né? Assim, era Uberlândia para mim, que eu não saí muito não. Eu vivi, não tinha acesso assim, aos cinemas, alguma coisa assim não. Normalmente, às vezes, quando o meu pai chegava, ele levava a gente para comer pudim, né? (choro) Que naquela época, para mim era ótimo. Ele levava a gente para comer pudim e eu gostava. Para mim, é uma recordação fantástica.

P/1 - Legal.

P/2 - Deixa eu fazer só uma pergunta, o seu pai levava vocês para passear com o caminhão no final de semana assim, ou não?

R - Quando ele chegava, às vezes, ele dava umas voltinhas com a gente, mas não chegava a ser um passeio assim, não, né? Às vezes, ele saía com a gente sim, de caminhão.

P/2 - E vocês gostavam?

R - Adorava. Para nós era ótimo.

P/1 - Levava na boleia ou na carroceria?

R - Depende. Às vezes, ele queria levar na boleia, mas a gente, às vezes, queria ir na carroceria porque, para a gente, era ótimo ver aquele vento no rosto, podendo balançar o cabelo, aquilo era ótimo. Então, muitas vezes, ele queria levar dentro e a gente queria ir em cima, mas a gente entrava em um acordo lá e, às vezes, ia em cima e, às vezes, ia em baixo.

P/1 - Ele, em casa, contava histórias, peripécias das viagens, assim?

R - Contava, contava bastante. Só que naquela época, as viagens eram assim, muito difíceis, né? Era tudo estrada de chão, não tinha esse movimento que tem hoje. Então, normalmente, as viagens dele até demorava mais por causa disso, porque o caminhão quebrava. Ele tinha todo aquele problema de ter de consertar o caminhão porque as estradas eram todas de terra, de buraco. E os locais em que ele passava para poder tomar alguma refeição, ou comer alguma coisa porque ele demorava muito de uma cidade para outra, uma distância muito grande. Então, as histórias dele eram normalmente isso, que ele tinha passado na viagem, né? O que tinha acontecido com ele na viagem.

P/1 - Certo. Perfeito. Bom, vamos voltar ao nosso curso profissionalizante. Aí, você terminando o curso, quanto tempo durou esse curso?

R - O curso, ele demorou um ano.

P/1 - Um ano.

R - Era duração de um ano.

P/1 - Aí você saiu com um trabalho já engatilhado?

R - Na verdade, ele tinha esse propósito da gente já sair com o trabalho engatilhado, mas, na época, tinha algumas indicações, mas nenhum já foi engatilhado. Passaram o meu nome para algumas empresas que solicitavam esse trabalho na época, mas, assim, falava: “Você vai trabalhar na empresa tal, não”. Eu tive que sair do curso e começar a procurar emprego mesmo.

P/1 - Certo. E a tua opção pela universidade? De onde é que veio a motivação de ter escolhido o curso que você escolheu?

R - É, com um certo tempo, né? Depois disso, porque, na verdade, quando eu fui prestar o meu primeiro vestibular, eu prestei vestibular para Medicina, né? Eu achava que eu queria ser médica, que eu tinha tudo para ser médica. Eu queria ser médica e, na época também, Medicina era um curso que era o auge, todo mundo queria ser médico, né? Tanto é que eu prestei o meu primeiro vestibular e não passei. E hoje, eu agradeço por não ter passado, que, realmente, eu acho que eu não tenho nada de Medicina. Eu não posso nem ver sangue, né? E aí, eu prestei para Medicina, eu não consegui passar, né? Aí, eu fui procurar o mercado de trabalho e pensei comigo assim: “Eu vou ter que fazer alguma coisa para não ficar parada porque, na verdade, eu não queria parar de estudar, né?”. Mas, Medicina é um curso muito procurado hoje. Na época que eu fiz, deu sessenta e dois por um e naquela época já era muito procurado. Hoje, às vezes, dá até mais, mas naquela época era um curso anormal para se dar isso, né? Então, eu pensei assim: “Já que eu quero trabalhar, eu vou ter que mudar de curso para eu prestar vestibular e não ficar parada”. Porque se eu quero entrar no mercado de trabalho, Medicina não é o meu curso nesse primeiro momento, até porque eu não tinha nem dinheiro para pagar, ou para manter um curso de Medicina. E o que é que eu fiz? Eu prestei um vestibular, mas aí eu já não prestei para Medicina mais. Eu prestei para Geografia na época, justamente, para não ficar parada, né? Aí, para Geografia eu passei, né? Entrei na universidade e aí comecei, paralelamente, procurar emprego junto com isso. Tanto é que eu cheguei a formar em Geografia, eu fiz o curso até o final. Só depois é que eu vim fazer Economia e formar para Economia, mas, no primeiro instante, eu fiz Geografia e me formei em Geografia.

P/1 - Ambos os cursos aqui em Uberlândia na Federal?

R - Ambos os cursos... Economia, eu fiz na UNIT e Geografia, eu fiz na Federal.

P/1 - Na Universidade Federal de Uberlândia, a UNIT é a Universidade do Triângulo?

R - Isso.

P/1 - Perfeito. Durante o curso de Geografia, aí você conseguiu e foi trabalhar aonde?

R - Não, aí a minha trajetória para entrar no mercado de trabalho foi uma trajetória meio complicada, né? Porque eu procurava, eu ia nas empresas, eu fazia os testes, né? Eu, às vezes, até era aprovada, mas eu nunca tinha trabalhado. Então, aí as pessoas falaram: “É, a gente precisa de uma que tem experiência, ou de uma, que pelo menos, tenha referência. É meio complicado colocar assim, alguém, né?”. Aí, eu comecei a ter muita dificuldade para arrumar emprego, justamente, porque eu não tinha experiência, era o meu primeiro emprego e eu não tinha referências, né? Que todo mundo queria uma referência. E aí um dia surgiu a oportunidade, né? De substituir, não era uma vaga. Eu tive a oportunidade de substituir umas férias em uma empresa. O rapaz me chamou, era só trinta dias, que a secretária dele iria estar entrando de férias... Aliás, ela iria casar e estava entrando de férias e ele precisava por trinta dias. Se eu não me importaria que era só trinta dias. Eu falei: “Não, eu não me importo, até porque eu estou tendo dificuldade porque eu não estou tendo referência, né? E mesmo que seja por trinta dias, eu vou ter referências”. E aí ele falou: “Não, então tudo bem. Você não vai ser minha funcionária, você vai ser só uma substituta, não tem necessidade de uma referência nesse primeiro instante”. E aí, foi onde ele me chamou para substituir as férias da secretária dele e eu fui. Neste primeiro instante, eu não era funcionária não. Eu só ia substituir as férias.

P/1 - Que empresa era essa?

R - Rolf Esquadrias Metálicas. Hoje, ela não existe mais. Hoje, ela já desapareceu.

P/1 - E esses trinta dias, a sua função básica era de secretarial...

R - É, basicamente, era de secretarial dono da empresa nessa época, né? Eu fiquei por trinta dias e aí quando a secretária dele voltou, a funcionária do caixa resolveu sair da empresa, né? Ela não quis ficar mais, ele resolveu sair e aí, ele me falou, ele me falou assim: “Eu posso até deixar você concorrer à vaga, mas só que é caixa e você não tem referência e eu vou precisar de uma referência”. E aí, eu não tinha. (choro) Aí, ele pediu para o meu pai dar a casa dele de garantia para que eu pudesse trabalhar no caixa e o meu pai deu a casa dele. Assinou um documento de que eu iria trabalhar no caixa e que eu não iria roubar, e a casa do meu pai ficou no documento para garantir, já que eu não tinha referências. E o meu pai pôs a casa dele de garantia, né? Para que ele pudesse dar o emprego de caixa e aí, ele me deu o emprego alienado à casa do meu pai que, caso não acontecesse nada com o caixa, não teria nenhum problema com a casa do meu pai. E aí o meu pai fez isso e ele me deixou trabalhar no caixa. E aí, eu já passei a ser funcionária dele, daí eu trabalhei no caixa lá durante seis anos.

P/1 - Durante seis anos, esse documento ficou na mão dele?

R - Ficou, praticamente, na mão dele, que eu fiquei lá seis anos, seis anos esse documento ficou com ele porque aí, ele tinha a garantia de que nada iria acontecer.

P/1 - Mesmo depois de você ter ficado esse tempo e ter ganhado a confiança dele?

R - Sim. Ficou lá. Era tipo assim, uma carta de garantia.

P/1 - Poxa.

R - E aí, ele me deu o emprego de caixa, que foi o meu primeiro emprego... Que, na verdade, era caixa, mas a gente mexia com tudo lá no escritório; era faturamento, era caixa, era de tudo que a gente fazia lá dentro. Eu fiquei lá durante seis anos, foi quando eu saí de lá para ir para o Grupo, que eu só tive dois empregos até hoje.

P/1 - E como é que foi essa chegada à CTBC? Como é que você deixa esse trabalho... Primeiro, antes que você me conte sobre a CTBC, você convivia com uma pessoa que nutria por você um tal nível de desconfiança?

R - Era assim, na verdade, no começo eu achei estranho, né? Mas, a minha mãe falava: “Não Nilva, porque você não... Ninguém te conhece, você nunca trabalhou. Normalmente, o primeiro emprego é assim, é complicado, né? Até que todo mundo te conheça, você vai ter que ter isso e o primeiro emprego sempre vai ser mais difícil. Depois do segundo, já fica mais fácil porque aí, você já vai ter uma referência, a pessoa já te conhece”. No começo não foi fácil porque quando ele me pediu essa carta, eu não tinha nada para dar de garantia para ele. Nem eu e nem a minha família. E a única coisa que a gente tinha na época era a casa, né? E que o meu pai falou: “Não, eu vou colocar a casa sim, se é isso que ele quer. Para mim é indiferente”. E colocou como garantia a casa que a gente tinha, né? E aí, foi convivendo, naturalmente, até porque a gente vai esquecendo e depois, passou. Eu trabalhei com ele seis anos. Depois, ele foi muito bom, eu aprendi muita coisa, conheci muita coisa lá dentro, eu peguei uma experiência muito grande de trabalho fora que até então, eu não tinha, né? Mas, foi bom, não foi ruim não. No primeiro instante foi só estranho, mas depois, a gente se adaptou.

P/1 - Certo. E ali durante esse tempo que você ficou lá, fez algum curso a mais, foi quando você...

R - É, não, assim, curso profissionalizante não, né? Porque aí, eu já estava paralelo à faculdade, eu terminei a faculdade de Geografia. Foi o tempo todo que eu estava lá, eu estava fazendo a faculdade de Geografia.

P/1 - Os teus pais devem ter ficado muito orgulhosos com o teu diploma, né?

R - Ah, com certeza e lá em casa nós somos quatro e só eu que tenho curso superior. As outras três não quis, chegaram só até o vestibular e pararam.

P/1 - Essa tua... Essa tua volta à universidade posterior para fazer Economia foi um pouco suscitada também por essa... Por essa sua experiência profissional?

R - Foi, exatamente. Foi porque aí eu comecei a perceber que eu precisava de um outro curso, né? Porque Geografia não era assim, para entrar no mercado de trabalho, aquilo que eu queria, né? Então, eu precisava de um outro curso. Aí, foi onde eu voltei a fazer Economia, que Economia foi uma coisa que eu sempre me identifiquei, eu sempre gostei de mexer com números, eu sempre tive muita facilidade com números... No mercado de trabalho, eu sempre trabalhei com números. Então, era um curso que me interessava muito e foi onde eu voltei para fazer Economia.

P/1 - Certo. Como é que foi essa transição da empresa onde você estava para a CTBC? Como é que se deu essa...

R - Na verdade, eu conheci a empresa porque existe aquela revista Teleco, né? Da CTBC e ela envia essas revistas para as empresas, normalmente, conhecerem o trabalho da CTBC como um todo e, lá nessa empresa que eu trabalhava, eu recebia essa revista Teleco, né? Eu sempre lia ela e tinha muita curiosidade de saber tudo que acontecia na empresa e lá falava das oportunidades de trabalho e tudo mais e lá em baixo, sempre vinha o endereço, né? Para se ter uma correspondência, ou saber alguma coisa daqui de Uberlândia, né? Um dia, eu fiz o currículo e mandei para lá, né? Porque eu pensava assim: “Não, eu ainda vou trabalhar nesta empresa. É uma empresa legal, a gente vê que conhece pela revista, é uma empresa maior que dá mais oportunidades, então eu quero trabalhar nessa empresa”. Mandei o currículo na época e fiquei aguardando, né? Porque naquela época tinha muitas vagas, mas foi muito difícil. Deve ter demorado de dois a três anos para aparecer alguma vaga e chegarem no meu currículo e me chamarem para fazer algum teste. Deve ter sido, mais ou menos, por volta de dois a três anos, mas eu conheci a empresa através da revista Teleco, né? Que ela enviava para onde eu trabalhava e eu lia ela toda.

P/1 - Certo. Nesse momento que você ainda continuava nesse seu primeiro emprego, você usava muito telefone? O teu trabalho exigia o uso intensivo de telefone?

R - É, usava bastante, mas não chegava a ser intensivo. Usava assim, bastante telefone.

P/1 - Fazia muito interurbano?

R - Fazia. Fazia muito interurbano porque, às vezes, eles faziam venda por telefone, né? E eles vendiam para Goiás, para o Distrito Federal, a gente usava muito telefone.

P/1 - E como é que eram esses interurbanos, eram rápidos? Já tinha DDD naquela época?

R - Já, já tinha DDD.

P/1 - É mesmo.

R - Já tinha DDD, não era tão difícil não. Talvez, era até mais fácil do que hoje porque o movimento de tráfego era menor, né? Ele não era tão difícil, já tinha o DDD, já era mais fácil.

P/1 - Pois bem, no momento em que o seu currículo foi acolhido, como é que foi essa notícia para você? Como é que você foi avisada aqui?

R - É, eles me chamaram, né? Que tinha uma vaga e que eu poderia estar concorrendo, e eu cheguei a fazer, né? Os testes todos, concorri, mas não me lembro com quantas pessoas e aí, eles falaram: “Não, agora você tem que aguardar mais um pouco para a gente poder ver como é que vai ser e te chamar”, né? E esse pouco, eu acho que foi, mais ou menos, uns seis meses. Eu já tinha desistido, né? Quando, novamente, eles entraram em contato comigo me chamando. Só que aí, quando eu cheguei lá, eles falaram: “Olha, você... Os testes que você já tinha feito já não servem mais, você vai ter que fazer tudo novamente”. E eu tive que fazer todos os testes novamente e aí, nessa segunda tentativa, eles me ofereceram aí, apareceu uma vaga. Eles falaram: “Se você quiser vir, essa vaga já dá para você?”.

P/1 - Essa primeira vez, você estava disputando que tipo de colocação?

R - Era assim, antigamente não tinha uma separação como é hoje, dos cargos, né? A gente fazia de tudo dentro de uma sala... A gente fazia de tudo, a gente batia cheque, a gente fazia pagamento, era praticamente tudo misturado assim, não tinha uma separação do que era hoje. E era para isso, que na época era assim, era chamado de tesouraria, né? Que fazia cheque para fazer pagamentos, não só de funcionários naquela época, como de fornecedores. Os cheques eram todos batidos à mão. Então, era exatamente para isso, né? Uma pessoa que tivesse agilidade em máquina de escrever porque ia estar sempre batendo cheque, fazendo pagamento e atendendo fornecedor. Era para exatamente isso, na época quando eu fui chamada.

P/1 - Era máquina elétrica, era máquina manual?

R - Era máquina elétrica.

P/1 - Eu queria que você dissesse um pouco, como é que funcionava esses testes? Em que consistiam esses testes? Como é que eram?

R - Ele era um teste de redação. Eles davam um tempo e você tinha que redigir sobre aquele tema. Era um teste de datilografia, né? Era um teste cronometrado de datilografia, que se eu não me engano, você podia ter de três a quatro erros somente, né? E um teste de conhecimentos gerais que era abrangente assim; matemática, português, conhecimentos da época, perguntava assim, qual era o ministro de tal coisa na época? Eram esses testes; conhecimentos gerais, datilografia e um teste de redação.

P/1 - Você lia bastante, lia jornal, gostava de acompanhar?

R - É, eu não lia muito porque eu só lia quando eu estava na empresa porque em casa não tinha, mas eu sempre lia bastante. À medida do possível, eu lia muito.

P/1 - E nesse momento em que você foi aceita, você foi aceita para que área? Você foi trabalhar em que setor?

R - Era um setor já financeiro, né? Que naquela época era se chamado tesouraria. Já era área financeira mesmo.

P/1 - E você se reportava a quem, lá?

R - Na época era o senhor Carlos Ávila que se reportava à dona Ilce, mas, na verdade, o meu imediato era o seu Carlos e o seu Carlos tinha a dona Ilce como imediata porque, na verdade, a tesouraria era da dona Ilce.

P/1 - Certo. E onde funcionava isso?

R - Hoje, é lá onde é a Algar, né? Era lá em cima, na área industrial.

P/1 - E você morava no Martins?

R - É.

P/1 - E como é que você se deslocava para lá?

R - Na época, existia um ônibus que a gente pagava e nos levava até lá porque era muito o número de funcionários. Então, tinha um ônibus na época que passava recolhendo os funcionários para levar para lá. Eu ia de ônibus.

P/1 - Você se lembra do primeiro dia que você chegou no trabalho, o primeiro dia de trabalho?

R - Lembro, lembro do primeiro dia.

P/1 - Conta para nós.

R - Foi assim, para mim era tudo novidade, né? Porque era uma empresa muito grande. A Rolf era uma empresa pequena, era quase que, praticamente, uma sala só, né? E lá era muito grande. Na verdade, quando eu cheguei, eu fui encaminhada ao TH, né? Para poder fazer uma identificação e o próprio TH me levava ao local onde é que eu iria trabalhar, né? Mas, para mim era tudo novidade, né? Era tudo novo. Era assim, espantoso também porque era uma empresa muito grande e era como se fosse, realmente, o meu primeiro emprego, né? Porque a outra foi muito... É uma empresa pequena, era uma visão completamente diferente, mas para mim era tudo muito espantoso. Mas, eu achava ótimo. Aquilo para mim era maravilhoso.

P/1 - Certo.

R - Que era uma novidade muito constante e, na verdade, eu pensei: “Poxa, é isso que eu estou querendo mesmo. Para mim, eu estou no caminho certinho”. Então, foi muito bom.

P/1 - Que ano era esse mesmo?

R - Era em 1986, foi em 1986.

P/1 - Você se lembra do mês?

R - Era dezembro.

P/1 - Certo.

R - Dezembro de 1986.

P/1 - Você entrou em uma época meio conturbada já? No Plano Cruzado II, as finanças já deviam estar meio suscetíveis.

R - É, já estava meio complicado, tanto que para eu sair do meu emprego, para ir para a Algar, o meu pai e a minha mãe não queriam, né? “Você vai largar um emprego de seis anos, que você ganha, mais ou menos, bem, né? Que todo mundo já te conhece para ir para uma empresa grande, que as empresas grandes são diferentes. Você não sabe como é que é. Na verdade, se fôssemos nós, nós não iríamos, né?”. Era essa a intenção. “Você sabe o que realmente você está querendo? O que você vai fazer?” Eu falei: “Não, eu sei, eu vou, é realmente o que eu quero, né?”. E larguei porque, para eles, aquela empresa era segurança e fui para lá.

P/1 - Certo. E como é que se transcorreu esse... Desse primeiro momento de dezembro de 1986 em diante, como é que você foi... Foi se deslocando dentro da empresa?

R - É, eu peguei essa área, né? Que era uma área assim, de bater cheque, fazer pagamento. Então, a gente chegava a bater quase que duzentos, trezentos cheques por pessoa em um dia, né? Era muito tumultuado e era muito movimento. Então, a gente quase que não tinha tempo, né? A gente entrava às sete e meia na época e ficava até, às vezes, oito, nove, dez horas da noite. Tinha dia de eu ficar até dez, dez e meia direto batendo cheque. Então, a gente não tinha muito tempo para pensar assim, não. E lá também, o meu tempo até de ler foi reduzido porque, realmente, a gente chegava, sentava na frente de uma máquina de datilografia e ficava batendo cheque o tempo inteiro, né? Para depois, fazer pagamento aos fornecedores porque, naquela época, até pagamento de funcionários era feito ali por nós. Então, era um volume muito grande de cheque. Era, mais ou menos, uma sala com... Devia ser de oito a dez pessoas em uma máquina de datilografia batendo cheque o dia inteiro para a gente fazer o pagamento.

P/1 - E quem trazia esses boletos para que fossem datilografados, quem...

R - Na verdade era assim, a gente tinha uma mesa, né? A sala era composta, tinha uma mesa que o seu Carlos ficava nela, logo depois tinha uma outra mesinha que ficava uma pessoa, né? Essa outra pessoa ia fazendo uma triagem dos pagamentos, né? Ela ia vendo se era fornecedor, se era funcionário e, na verdade, ia se destacando os cheques dos talões e colocando nos documentos, anexando os seus documentos formando uma pilha de documentos assim, de cheque para bater. E, logo em seguida, é que ela ia passando para as pessoas das máquinas irem efetuando o pagamento. Então, quer dizer, ficava uma pessoa na primeira mesa que era onde ela ia fazendo, tirando os cheques dos canhotos e anotando para ver de qual banco ia ser tirado o cheque e tal, e anexando aos documentos que depois eram sendo passados para nós. Então, na verdade, essa pessoa que ficava ali na frente era uma outra função. Era uma função diferente de quem estava batendo o cheque. Que depois, a gente foi se revezando, eu já saí de bater cheque e já passei para essa mesa, que era onde você já fazia uma triagem. Então, a gente ia se revezando e daí para frente é que a gente começou a andar.

P/1 - Certo.

R - Até com a evolução da empresa.

P/1 - E como é que se tinha o controle, quer dizer, dos fundos de cada uma das contas para a emissão desses cheques? Era essa pessoa atrás do seu Ataíde, lá?

R - Exatamente, era ela. Na verdade, chegava assim, como se fosse um fluxo de caixa lhe posicionando de quanto ela podia sacar de cada banco, né? Até esse valor, você pode sacar deste banco, ou deste banco e ela ia controlando ali, o saldo para ir se sacando de tal banco e tal banco. É onde ela ia anexando e colocando nos documentos.

P/1 - Qual foi a primeira evolução que você se lembra desse processo, quer dizer, desse processo de datilografia de cheques para um processo um pouco mais... Um pouco mais viável? O primeiro upgrade que você se lembra disso?

R - Em termos de tempo do que eu fazia?

P/1 - Não, digamos de processo. Quando que para fazer esses pagamentos não se precisou mais de oito datilógrafas e... Teve... A primeira mecanização desse processo, teve alguma coisa que... A primeira evolução que esse processo teve?

R - É, aí a primeira evolução que esse processo teve, foi que saiu a maquininha de fazer cheque. E aí, a gente começou a fazer os cheques pela maquininha, né? Foi a primeira evolução que a gente teve, foi para isso.

P/1 - Como é que era essa maquininha?

R - A máquina, ela existe até hoje. Ela só foi adaptada, né? Que é aquela máquina quadrada que você digita o valor do cheque e para quem vai ser a emissão do cheque. E dava um comando, que no nosso caso, ela era ligado no computador para andar mais rápido porque a gente digitava na tela do computador, colocava o cheque e mandava imprimir, ela já saía impresso. Então, aí começou a ter uma evolução maior, já conseguia fazer um número maior de cheques com menas pessoas.

P/1 - Quem é que assinava essa quantidade de cheques?

R - Bom, na época ainda, assim que eu entrei, ainda era assinado pelo seu Alexandrino de próprio punho. Sempre essas assinaturas dos cheques foram de dois... Sempre foram de dois. Na época quando eu entrei, que eu ainda fazia cheque, ele era assinado de próprio punho pelo seu Alexandrino e tinha uma outra pessoa na época que eu não me lembro. Mas, eram assinados de próprio punho porque logo depois que a gente batia esses cheques... Durante o dia, a gente ia batendo, a gente levava lá para a diretoria para ir assinar. Eram todas assinadas de próprio punho. Então, a gente ia levando uma remessa, a secretaria passando para ele e, depois, levava outra remessa. Quer dizer, praticamente ficava assim, o dia inteiro só assinando cheque de próprio punho, que tudo passava por ele.

P/1 - Você conheceu o seu Alexandrino nessa época? Assim, de perto, conviveu com ele?

R - Conheci, conheci ele de perto, né? Porque a gente ficava ali, muito perto, se bem que ele já estava assim, bem velhinho já, mas ele ainda ia para a empresa. Ele ainda se assentava, ele ainda assinava cheque, né? Mas, eu tive uma convivência pequena, mas eu ainda tive uma convivência com ele, sim.

P/1 - Que impressão que você guarda dele?

R - Eu guardo uma impressão boa, entendeu? Ele me lembra muito os meus pais, né? Ele era uma pessoa muito conservadora, uma pessoa que lutou para ter tudo aquilo que ele teve. Era uma pessoa assim, que queria garantir aquilo que ele tinha, vigiava a gente bastante, ele vigiava a gente o tempo inteiro. Ele queria saber aonde é que a gente estava indo, quanto tempo a gente estava no banheiro, se estava demorando demais, se o serviço estava parado. Mas, ele era uma pessoa agradável. Ele era assim, muito rígido, né? Ele olhava para a gente assim, com um olhar assim, já chamando atenção, né? “Você não está trabalhando. Você está passando o tempo”. Mas, era uma pessoa agradável.

P/1 - Você se lembra de um episódio assim, que tivesse te marcado, em função dessa personalidade dele?

R - Não, com ele, especificamente, não. Ele era assim, né? A gente... Porque a sala dele ficava de frente, a sala dele tinha uma cantina, né? Onde fazia o café. Então, ele ficava da sala dele olhando todo mundo que estava ali tomando café e demorando, né? Que o café tinha que ser rapidinho, pegar e sair. E mesmo o banheiro também, né? A gente tinha que entrar e sair rapidinho porque a sala dele, a visão da sala dele dava tanto para o banheiro, para a porta do banheiro, como para a porta da cantina, né? E ele olhava o tempo inteiro mesmo, se a gente estava demorando, se a gente estava de conversinha, né? E, às vezes, quando ele achava assim, que a gente estava demorando, estava meio de conversinha, ele levantava da sala dele e passava no meio da gente, né? E dava uma passadinha no corredor assim, para dar uma despertada: “Ó, eu estou aqui.”

P/1 - Passava um olhar assim.

R - É, um olhar assim e passava pela gente. Ele não chegava nem a comentar, mas passava pela gente assim e logo se dispersava, já sumia todo mundo ali, do corredor.

P/1 - Vocês entendiam os gestos e os olhares dele?

R - Ah, com certeza. Ele, só dele olhar, a gente já sabia.

P/1 - Está certo. Me diga uma coisa, a partir desse momento que começa a mecanizar, vai, entre aspas, informatizar o teu trabalho, como é que a sua evolução se deu dentro da empresa? Quer dizer, aí você foi assumindo outras funções, eu suponho.

R - É, na verdade, eu fui assumindo novas funções porque aí, lá, né? Para bater cheque já não necessitava de tantas pessoas assim, mas aí para pagamentos de fornecedores já precisava. E aí, a dona Ilce me levou para trabalhar diretamente com ela. Porque ela mexia com a tesouraria propriamente dita, com o dinheiro na verdade e ela precisava de gente mais ligada a ela. E aí, ela tinha assim, algumas pessoas, não era todo mundo também, que ela levava, né? Para trabalhar direto com ela e eu fui uma das pessoas que ela levou para estar trabalhando diretamente com ela na tesouraria, né? Que era um ambiente menor, mais fechado porque naquela época ainda existia dinheiro dentro dos cofres. E aí, eu fui uma das pessoas e fui trabalhar direto com ela, mexer com o dinheiro propriamente dito, porque naquela época ainda se trabalhava com o dinheiro vivo, né? E eu trabalhei muito tempo com ela, direto, ligada na tesouraria.

P/1 - A que você atribui essa escolha dela por você, essa ligação que ela teve com você?

R - É, na verdade, foi assim, ela teve confiança, né? Porque, na verdade, ela levava só quem ela realmente tinha mais confiança e também pela minha esperteza, o meu trabalho, ela gostava de gente que fazia tudo certinho, mais rápido, tudo correto. Eu acho que foi isso que chamou atenção, né? E ela me levou para trabalhar com ela.

P/1 - Fala um pouco da dona Ilce, que impressões você guarda dela...

R - Ah, eu guardo ótimas impressões dela. Praticamente tudo que eu aprendi foi com ela. Ela é uma pessoa maravilhosa. Eu adorei trabalhar com ela. Ela é uma pessoa rígida, uma pessoa assim, mas tudo que ela fazia, para mim ele estava correta, entendeu? Mesmo assim, na exigência dela, na cobrança dela, eu me identificava perfeitamente com ela. Eu concordava com tudo que ela, porque ela sempre... Ela vivia nos ensinando. Na verdade, ela nos ensinou porque ela sempre falava: “Gente, vocês tem que gastar o que vocês ganham”. E na maioria das pessoas que vem aqui, na tesouraria porque naquela época, se pedia vale ainda, né? As pessoas gastam mais do que têm. “A pessoa tem que aprender a gastar o que ela ganha. Se vocês não aprenderem isso, vocês não vão ter nada na vida”. E ela vivia falando isso e ensinando isso para a gente e eu concordava plenamente com ela. Porque quando a pessoa chegava lá, que tinha que fazer vale com ela, a pessoa... Ela ouvia coisas porque ela falava: “Vocês estão gastando mais do que vocês ganham e isso, vocês não vão conseguir nada”. Chamava muito a atenção da gente, mostrava para gente o lado correto. Ela era muito amiga, apesar dela ser brava porque todo mundo achava que ela era muito brava. Tinha até dificuldade, às vezes, para falar com ela. A gente aprendia muito porque, na verdade, essa braveza dela era entre aspas porque ela era uma pessoa muito boa, muito amável, uma pessoa que foi ótimo trabalhar com ela. Eu fiquei um bom tempo trabalhando com ela, fiquei um bom tempo.

P/1 - Como é que era o processo de trabalho ali, nessa sala mais reservada? Como é que era o seu dia a dia?

R - Ali, a gente mexia praticamente com o dinheiro vivo da empresa, até porque tinha-se dois cofres enormes dentro da sala e esses cofres eram cheios de dinheiro, né? A gente olhava assim, eu nunca tinha visto tanto dinheiro. E naquela época, a gente ainda saía de lá para buscar dinheiro no banco. Hoje, eu comento para as meninas, eu falei: “Gente, fazia coisa que hoje, eu jamais faria”. Eu ia direto, ela fazia... A gente fazia o cheque... Cheque ao portador e ia-se até o banco descontar e trazer o dinheiro para alimentar o cofre. Então, eu fui inúmeras vezes ao banco buscar dinheiro para colocar no cofre. E saía com um saquinho cheio de dinheiro na época, do banco. Saía pela porta da frente com aquele monte de dinheiro para colocar no cofre. Mas, foi inúmeras vezes, várias vezes. E a única condução que a gente tinha era o motorista que ele pegava a gente lá na portaria, levava-se até o banco. Enquanto eu entrava com o cheque, ia até a tesouraria, pegava-se o dinheiro e saía de novo. Lá, a gente mexia com o dinheiro porque, às vezes, a gente fazia vale, a gente fazia acerto de viagem, fazia acerto para as pessoas e isso era tudo em dinheiro na época, né? E só o pagamento mesmo do fornecedor era em cheque, que também a gente guardava tudo no cofre e tudo com dois cofres enormes que tinha lá na época.

P/1 - Quantas pessoas trabalhavam nessa sala?

R - Na época era quatro com a dona Ilce. Eram três funcionárias e a dona Ilce, quatro pessoas.

P/1 - E essas idas ao banco para sacar numerário, dinheiro, você trazia isso em uma bolsa?

R - Não, em um envelope comum. Um envelope comum mesmo, que o banco colocava o dinheiro, né? E a gente saía do banco e levava esse dinheiro.

P/1 - Nunca te ocorreu assim, algum tipo de receio...

R - Na época, não. Na época, eu fazia com a maior naturalidade do mundo. Não me passava em momento algum, né? Que poderia acontecer alguma coisa e que eu estaria com aquela quantidade de dinheiro na mão. Na época, eu fazia com muita naturalidade. A única coisa que a gente fazia... Quer dizer, a gente não fazia é ir no caixa imediatamente, mas a gente ia direto à tesouraria do banco. Lá na tesouraria, a gente já tinha ligado previamente, falando quanto era a quantia que a gente estava querendo... Hoje, eu jamais faria, até porque a empresa nem no trabalho anda com dinheiro mais. Mas, na época, a gente fazia isso muito natural.

P/1 - Quando é que se deu a transição dessa forma de trabalho com dinheiro vivo para uma forma menos, digamos menos... Menos concreta?

R - É, porque aí, os anos foram se passando, já foi começando a se modificar, já começou a ter mais perigo. Já não dava mais para sair e ir assim, naturalmente no banco pegar dinheiro vivo. E aí já começou a mudar também, os processos. Já não se fazia mais vale, né? Em dinheiro para funcionário e aí, a gente já começou a fazer cheque para viagens. Já não era mais dinheiro. Então, aí já começou a diminuir o volume em dinheiro em caixa propriamente dito e aí já começou a trabalhar mais com cheque mesmo, né? Que já passava ao cheque para a pessoa, se fosse um caso de viagem, uma coisa assim, que a própria pessoa já dava um jeito de descontar, ou de depositar para se gastar, né? Mas, aí foi com a evolução do tempo mesmo, já começou a ficar mais perigoso, já não se valia mais trabalhar em dinheiro vivo. Os processos foram mudando e aí foi-se diminuindo o processo para não trabalhar com o dinheiro e só cheque até praticamente acabar, e ficar só efetivamente cheque. Porque, na época, a empresa trabalhava com o recebimento das contas telefônicas, ela não trabalhava com o banco. Ela trabalhava com o recebimento na boca do caixa, tanto é que a gente... Eu fui caixa muito tempo, né? A gente fazia... abria três, quatro caixas para receber conta porque a CTBC não trabalhava com banco. Então, as contas venciam-se praticamente em dias determinados do mês. Por exemplo, todo dia 20 era vencimento de conta telefônica. Então, no dia 20, enchia-se de gente lá na CTBC para poder pagar conta. E aí, a gente fazia caixa e tinha aquelas filas enormes. As pessoas, às vezes, ficavam até de fora porque não cabiam lá dentro. Fazia aquelas filas enormes lá de fora para poder receber conta porque só se pagava conta na CTBC. Não se pagava conta em banco, que era exatamente onde a gente trabalhava com dinheiro porque as pessoas pagavam com dinheiro. E depois, foi-se mudando as formas de pagamento.

P/1 - Esses recebimentos de conta eram... Ocorriam lá em cima, na industrial?

R - Não, eles eram aqui embaixo. A gente trabalhava lá em cima, mas no vencimento das contas, eu vinha aqui para baixo para abrir caixa aqui embaixo para receber conta.

P/1 - Para onde?

R - Hoje é aqui na João Pinheiro, onde é a 236 hoje. Ali existia um caixa, né? Que era aberto todo vencimento para recebimento de conta. Então, ali sempre funcionou o caixa, né? Que recebia contas esporadicamente, mas nos vencimentos, eu que trabalhava lá em cima, vinha aqui para baixo para fazer recebimento das contas. Na verdade, a dona Ilce mandava duas funcionárias dela, lá de cima aqui para baixo para poder receber conta, que era exatamente o dia de pico dos vencimentos. Que aí, tinha um caixa aberto aqui em baixo, a gente vinha e abria mais dois caixas porque era recebimento só aqui, só na CTBC e aí era feito mais um caixa aqui em baixo e a gente ficava o dia todo, só recebendo conta, o dia inteiro. Aquelas filas enormes na nossa frente, aquele tumulto de gente, todo mundo para pagar conta.

P/1 - As pessoas não reclamavam?

R - Reclamavam e como reclamavam. Ficavam no sol o dia inteiro porque na empresa não cabia, o volume era muito grande. Eles ficavam no sol, às vezes, chovia. Eles tomavam chuva porque eles estavam na fila para pagar conta. Eles reclamavam sim e como. Reclamavam bastante.

P/1 - E como é que era o seu diálogo com o cliente quando ele vinha, por exemplo, com uma reclamação dessa?

R - A gente tinha que contornar a situação, né? Porque realmente era complicado porque era muita gente. Eram poucos caixas, né? Na verdade, a gente era um volume muito pequeno de caixa e o cliente reclamava. E normalmente quando ele vinha reclamar, ele nem falava da conta ou da chuva. Na verdade, quando ele vinha reclamar, ele falava era do seu Alexandrino, por que é que ele deixava aquilo ali acontecer. Era um homem tão rico na cidade e virava aquela confusão, aquele monte de gente, né? Na verdade, eles reclamavam mais é do seu Alexandrino, a gente ficava achando interessante porque eles reclamavam era do seu Alexandrino na pessoa dele, né? Mas, a gente tentava contornar, tanto é que a gente [foi] tentando mudar até acabar com essas filas todas lá para recebimento das contas.

P/1 - Certo. E esse tipo de... Essa mudança ocorreu a partir do testemunho de vocês que estavam na linha de frente?

R - Foi. Na verdade, foi a partir da gente é que foi acabando esses caixas para recebimento de conta e aí passou autorização para o banco para o recebimento das contas. Mas, antes era só na empresa.

P/1 - Certo. Você se lembra de quando essas autorizações, esses convênios com os bancos foram firmados?

R - Não, em data eu não consigo me lembrar, eu não consigo me lembrar de data não. Mas, aí já foi uma mudança bastante grande porque passou a não receber mais conta na CTBC e aí foram para os bancos autorizados a receber. E aí, engraçado é que o cliente reclamava também, porque ele queria ir na CTBC para pagar. Ele tinha o banco e ele queria ir na CTBC para pagar porque ele já estava acostumado, que toda vida, ele foi na CTBC para pagar as contas. Daí, que agora ele tinha que ir no banco e o banco também tinha fila. Na verdade, ele queria voltar a pagar na CTBC de novo, né? Mas, aí ficou só em banco realmente e fechou-se efetivamente os caixas para recebimento de conta, que diminuiu mais ainda o volume de dinheiro nosso. Porque nessa época, o dinheiro era muito grande. A gente fechava caixa, quase que três, quatro vezes no dia para já ir recolhendo o dinheiro.

P/1 - Certo. Como é que era o procedimento para receber uma conta? O cliente chegava com uma conta...

R - A gente, na verdade, a gente não tinha nem autenticadora naquela época. O cliente chegava com a conta ali na boca do caixa, a gente carimbava a conta dele de paga. Era um carimbo e assinava no meio deste carimbo a assinatura de quem estava recebendo, né? E recebia em dinheiro, que normalmente, era pago em dinheiro. Naquela época, quase que não se movimentava cheque, o volume em dinheiro era muito grande na nossas mãos. Então, a gente batia o carimbo, né? Tirava um canhoto, que ele vinha um canhoto que ficava no caixa que era o nosso e levava a conta carimbada para a casa. Na verdade, não tinha nem autenticação naquela época. A gente trabalhava com carimbo.

P/1 - Essas contas eram emitidas já mecanicamente, ou eram feitas uma a uma? Como é que eram?

R - Não, elas eram feitas... Elas já eram mecânicas, mas eram muito rudimentares ainda. Então, ela saía uma por uma, não tem essa evolução que tinha hoje. A conta era uma conta compridinha assim, fininha. Então, ela tinha várias vias para uma mesma pessoa porque o papel era muito pequeno, né? E era um processo assim, demorava bastante para se imprimir, tanto é que tinha só, eu acho que dois ou três vencimentos dentro do mês. Não era opcional como é agora com esse monte de vencimento. Então, ele tinha o dia de pico. Normalmente, que eu me lembre, assim, eram dois dias no mês que eram bastante o pico porque os vencimentos das contas todas, independente do prefixo ou não, venciam naquela data ou naquela outra data. Então, era exatamente as datas de pico que a gente chamava lá na época, que era a época que a dona Ilce mandava a gente para reforçar o caixa.

P/1 - Quando você voltava para o convívio com a dona Ilce depois desses dois, três dias de pauleira, digamos assim, você comentava com ela sobre as dificuldades, sobre as...

R - A gente comentava, a gente comentava bastante. Eu até me lembro que quando ela me mandou a primeira vez para ir ficar nesse caixa, eu não queria, né? Eu falava: “Não, dona Ilce, eu não quero ir. Aquilo lá é uma loucura, o movimento, as pessoas conversando o tempo inteiro, eu não tenho aquele costume, eu não quero ir”. Ela: “Não, você vai sim, você tem que ir. Você vai, você vai”. E aí, eu fui. Das primeiras vezes, eu fui até praticamente emburrada, eu não queria ir. Depois, eu acostumei porque aí, praticamente, eu já tinha me adaptado ao caixa. Então, eu já tinha aquele monte de gente na minha frente, mas já não me espantava mais. Eu acho que o primeiro momento foi só quando ela me mandou ir pela primeira vez e eu não queria ir. Mas, eu me lembro que umas três ou quatro vezes sucessivamente, eu sempre falava para ela: “Esse mês, eu não vou”. E ela: “Você vai sim”. (risos) Porque eu não queria ir, né? Eu achava complicado aquele tumulto de gente, aquele monte de gente reclamando e eu falava: “Não, eu não quero ir”. Mas, ela: “Não, você vai sim”. Depois, eu, naturalmente, eu comecei a ir e depois eu já estava indo naturalmente. Quando era data de pico, eu já nem perguntava, que era eu que ia. Normalmente, já era eu que ia mesmo. Então, eu já descia naturalmente para ir para o caixa.

P/1 - Até quando você trabalhou com ela?

R - Eu trabalhei com ela... Eu não me lembro data, mas até eu ser transferida para a CTBC porque até então, ainda trabalhava na antiga Impar, que hoje é a Algar, né?

P/1 - Impar, né?

R - É, na época era Impar quando eu entrei, né? E eu trabalhei com ela um bom tempo, bastante tempo, eu acredito que quase seis anos, mais ou menos, eu devo ter ficado com a dona Ilce ligada diretamente com ela.

P/1 - E por qual motivo você foi transferida?

R - Na época era muito natural fazer transferência dos funcionários da CTBC para Algar, da Algar para a CTBC, era muito natural. Eles faziam isso, né? Cotidianamente. Um tempo você ficava na CTBC, um tempo você ficava na Algar. Isso era muito natural. Então, eu fui transferida para a CTBC na época, não foi nem solicitada por mim. Era mesmo um procedimento natural deles, né? Eu fui transferida para a CTBC.

P/1 - O que é que a dona Ilce achou dessa transferência?

R - É, na verdade, não teve assim, um impacto maior não porque era uma coisa natural da empresa, ia se fazendo e os processos estavam mudando também. Estava-se diminuindo as pessoas para ficar com ela, até porque foi diminuindo o trabalho também, direto a ela porque foi fechando os caixas. Então, foi começando abrir uma outra área financeira, de uns processos novos, né? E aí, com a CTBC, como eu fui transferida para a CTBC, a CTBC começou a rodar o espaço físico dela também, porque antes a gente ficava lá na industrial e aí, a gente já veio para a 236. Então, a gente já se separou do espaço físico e já começou a separar, efetivamente, o que era a Algar da CTBC porque antes era tudo natural. Era junto, o espaço físico era o mesmo, o trabalho era o mesmo. Só existia assim, algumas pessoas que eram registradas na Impar, que era a Impar antigamente e algumas pessoas que eram registradas na CTBC. E aí quando eu fui transferida para a CTBC efetivamente, aí sim começou a separar efetivamente o que era a Algar do que era a CTBC, até o espaço físico.

P/1 - Certo.

R - Começou a separar, efetivamente, mesmo.

P/1 - Certo.

R - E a gente veio aqui para baixo e a dona Ilce ficou.

P/1 - Certo. Em parte, você se refere à ABC Impar que era a holding, que era...

R - Que era naquela época.

P/1 - Certo. Isso nós já estamos falando dos anos noventa?

R - Mais ou menos.

P/1 - Perfeito. Nilva, quando é que nesse processo você sentiu a necessidade de cursar Economia, que foi o outro curso que você fez?

R - É, na verdade, com a mudança dos processos, né? E se bem que, antes de mudar todos os processos, eu sentia a necessidade de fazer outra coisa porque eu nunca quis ficar parada de estudo. Então, automaticamente, eu já quis me ingressar em outra faculdade e já me interessei. Mas, aí veio a calhar que, com as mudanças dos processos da empresa efetivamente, começaram a se exigir curso superior ligado à sua área. E aí, para mim já tinha sido mais fácil, já tinha colocado a Economia no meu caminho e eu sempre trabalhei na área financeira, então já ficou mais fácil. Se bem que o meu processo foi mais intuitivo da minha parte do que da empresa propriamente dita. Eu já tinha procurado para fazer uma outra coisa ligada ao que eu gostava de fazer, que é a área financeira porque eu sempre trabalhei na área financeira.

P/1 - Certo. E como é que você conviveu com aquele processo de reestruturação havido nos inícios de 1990?

R - É, foi complicado, um momento de muita insegurança. A gente ficava assim, meio... Não sabia o que é que ia ser, como é que ia ser, quem eram as pessoas iam ficar? Porque aquela primeira mudança foi assim, teve várias demissões porque hoje os processos já são mais amenos, mais calmos, mas naquela época foi muito complicado. Foi um período assim, muito conturbado, a gente ficava muito inseguro, a gente não sabia o que é que ia acontecer. O emprego já estava começando a ficar escasso e difícil no mercado. Então, foi um processo bastante difícil para nós. A gente viveu momentos muito conturbados naquele primeiro momento.

P/1 - Como é que você superou tudo isso?

R - É, a gente ia trabalhando assim, na medida do possível, o melhor que a gente podia fazer. A gente tentava fazer da melhor forma para poder estar entre os escolhidos para ficar, né? E na verdade, a gente acabou sendo um dos escolhidos para ficar pelo serviço que a gente fazia, pela confiança que a gente já tinha adquirido. E a gente acabou por ficar na empresa.

P/1 - Quando você sai da alçada da dona Ilce, você foi fazer exatamente o quê?

R - Quando eu saí da alçada da dona Ilce, eu fui... Eu continuei na área financeira, né? Mas, aí a gente começou a ser uma área assim, já estruturada, já em setores, né? E que eu passei a ser ligada diretamente à Marineide, que hoje é a diretora financeira e naquela época era coordenadora. Ela ainda não tinha sido diretora, ela era coordenadora. Então, eu já fui ficar ligada a ela propriamente dita.

P/1 - Na CTBC?

R - Na CTBC.

P/1 - E no que consistiam as suas responsabilidades ali, no teu trabalho?

R - Lá era mais assim ligado a fluxo de caixa, a fechamento de mútuo, entendeu? Já não tinha ligação mais com tanto cheque, com tanto dinheiro, mas era mais administrativamente. A gente tinha que fazer o fechamento do mútuo, a gente tinha que fazer o fechamento da contabilidade, a gente tinha que fazer a parte contábil, financeira. Era mais administrativo mesmo ligado à Marineide.

P/1 - Mas, afeito a um setor determinado dentro da CTBC, ou cuidando de toda a empresa?

R - Não, há um setor determinado da CTBC, que na verdade, já começou a se dividir e aí era praticamente a área financeira mesmo. Aí, já começou aparecer área financeira, controladoria, já começou a aparecer o CPD e assim sucessivamente. Então, a gente ficava ligado à área financeira, eu trabalhando com a área financeira mesmo da empresa. Na verdade, a gente fazia um fechamento depois geral de tudo, de todas as empresas. Fazia um fechamento geral, mas era mais ligado já à área financeira, ou seja, à coordenação da Marineide mesmo.

P/1 - Certo. E o processo de trabalho, o processo de produção, como é que foi se desenvolvendo nesse meio tempo? Você já não datilografava mais cheque, mas no que foi melhorando o teu processo ali?

R - Não, aí na verdade, a gente já não datilografava mais cheque. Aí, já entrou o computador e aí a gente já começou a fazer tudo através do computador. Aí, já era mais via Excel,

já era mais tudo no computador propriamente dito. Aí, a máquina já tinha sido deixada de lado. Então, todo o fechamento, a gente trabalhava mais com o Excel que era um de fazer cálculo, fechamento de fluxo de caixa, fechamento do contábil, já era mais via computador mesmo e no Excel, que antigamente ainda não tinha tanto... Tantos recursos que a computação tem hoje. A gente utilizava muito o Excel em forma de planilha.

P/1 - Certo. Isso não te fazia recordar dos teus tempos heróicos atrás?

R - Ah, com certeza. Até hoje, ainda a gente fala daqueles tempos heróicos. Hoje, a gente até sente falta daquilo, mas a gente ainda lembra com certeza. Porque a gente percebe que mesmo com aquele movimento todo, com aquela correria toda, a gente percebe que ainda era assim, mais familiar. Até hoje, a gente percebe que está muito mercado. Hoje, visa muito mercado e naquela época era mais familiar. A gente tinha aquela correria, mas a gente percebia que as pessoas estavam mais perto. A gente sentia mais calor humano. Hoje, já é mais aberto, já é mais mercado. Hoje, você está aqui, amanhã você está em outro. Então, já não tem aquela ligação familiar. A gente, que é ainda mais antigo, a gente ainda tem essa ligação. A gente ainda percebe mais familiaridade, a gente ainda sente falta de estar mais ligado, mas hoje, a gente percebe que é mais aberto, é mais mercado, você está onde melhor convêm, ou onde melhor te paga, né? A gente que ainda tem uma ligação com a empresa de amor mesmo.

P/1 - Você se refere a essa característica familiar no ambiente de trabalho, ou no contato com as pessoas com os clientes, com os fornecedores?

R - Dos dois lados. No trabalho que eu percebia, que antigamente tinha mais familiaridade, mais conhecimento, as pessoas eram mais chegadas na gente e até nos fornecedores também. Porque, hoje, a gente percebe que tem a concorrência, já não é mais aquilo porque, antes, a gente era único, só tínhamos nós. Então, a gente nem se preocupava. Agora não, agora já é mais complicado, tanto para o cliente quanto para nós funcionários. A gente já percebe que o mercado, às vezes, fala mais alto. Então, a gente já começa a se sentir mais insegura, já não tem mais aquela... Aquela parte familiar, aquela parte assim, tão... Que a gente se sentia meio assim, meio no colo mesmo, né? Era a nossa casa, era a nossa mãe ali, né? Então, para nós era mais prático, era mais fácil. Hoje, a gente já percebe que, às vezes, não vai ser tão assim, que de repente, já não é o nosso colo, já não é a nossa casa. Porque, de repente, se você não tiver dando aquilo que a empresa espera, ou o que a empresa está querendo, de repente, você vai estar fora daqui uns dias, ou você vai ter que estar procurando outra coisa. Que antigamente, a gente percebia isso mais familiar, mais ameno.

P/1 - Você consegue conceber alguma forma de manter esse diferencial, quer dizer, de conseguir, mesmo com essa presença mais ostensiva do mercado, manter esses vínculos mais consistentes entre as pessoas nas relações humanas? Você acha que dá para subverter esse quadro de distanciamento das pessoas e manter ainda esse vínculo mais pessoal, mais familiar que você fala?

R - Eu acho que sim, eu acho que sim. Eu ainda tenho pessoas que trabalhou comigo desde a época da dona Ilce, nós ainda estamos juntas até hoje. Eu acho que sim. Eu acho que ainda tem. É lógico que a pessoa não pode estar parada no tempo, ela tem que estar desenvolvendo, ela tem que estar se adaptando ao mercado, mas eu acho que tem sim. Eu acredito muito, sabe? Eu acho que essas pessoas que estão lá mais antigas, a gente percebe nelas e na gente também, que, às vezes, a gente está lá até mais por amor, sabe, do que por mercado porque a gente já teve provas disso, de pessoas que estão desde a época que a gente esteve, ou até mais tempo do que a gente, já se ofereceram cargos melhores, salários melhores que falaram “não.” Então, a gente percebe claramente que essas pessoas estão mais por amor à empresa do que propriamente por mercado. Porque foi uma geração que foi criada lá dentro. Então, tudo que a gente tem hoje foi criado, foi desenvolvido lá dentro. Então, realmente, a gente sente um lado familiar. Então, isso é forte, ainda é forte na gente, né, que somos mais antigos.

P/1 - Nesse momento em que você já passa a trabalhar com a coordenadora Marineide, daí que evolução você teve no seu trabalho? Ela ascendeu, hoje ela é diretora e você... E você como é que percorreu a sua trajetória na empresa?

R - É, hoje, eu sou analista financeira. Até hoje, eu sou analista financeira. Hoje, eu já trabalho mais com análise. Já não tenho aquele operacional tão grande que a gente tinha. Eu já... Principalmente depois que eu terminei a faculdade, eu já tive um desenvolvimento bem grande. A gente já percorreu bastante espaço, mas eu ainda não cheguei aonde eu quero porque ainda falta um pedaço para eu percorrer. Porque na verdade, eu ainda não sou um sênior na empresa e eu ainda quero ser. Então, na verdade, eu ainda não terminei, mas hoje, eu já andei bastante. Hoje, eu já sou um analista, que já foi uma evolução bastante grande.

P/1 - E no que consiste o teu trabalho hoje?

R - Hoje, eu ainda continuo mexendo com a parte de dinheiro da empresa, mas mais controle em banco. Hoje, eu controlo todo o recebimento bancário que entra para a empresa. Todo o dinheiro que entra para a empresa... Lógico que hoje, controlando o saldo bancário. Não tem dinheiro e efetivamente o único cheque só praticamente. Mas, o meu trabalho hoje, que hoje eu estou locada no Contas a Receber é praticamente a entrada de dinheiro na empresa como um todo, que a gente trabalha. Mas, hoje é tudo via transmissão de arquivo, não tem... Não coloca a mão em nada mais. Mas hoje, eu trabalho com isso, com efetivamente toda a arrecadação da empresa na rede bancária.

P/1 - Certo.

R - Eu faço controle disso.

P/1 - Quantas pessoas trabalham com você?

R - Hoje, nós somos cinco pessoas no Contas a Receber.

P/1 - Certo. E como que é a relação com os parceiros de banco, como é que se dá essa relação, ainda tentando buscar para aqueles vínculos que você chamou de familiares? Como é que se dá a relação com aquele gerente, com aquele tesoureiro do banco, ou com aquela pessoa com quem você tem uma interlocução mais frequente?

R - É boa, é muito boa, principalmente quando a gente fala em nome da CTBC fica sempre mais fácil. É muito boa mesmo. A gente tem um contato muito grande. O meu contato efetivamente é rede bancária. Praticamente, eu converso com toda a rede bancária todos os dias. Então, é um contato muito bom. É um contato bom, principalmente, porque a gente usa o nome da CTBC, então ainda fica mais fácil para a gente conversar e entrar no mercado. Se bem que hoje, a gente percebe até uma certa dificuldade. A gente já foi bem mais aberto no mercado, mas hoje é bem mais complicado, né? A rede bancária já está uma rede assim, mais difícil de entrar porque hoje, tudo, até para você entrar, você tem que pagar. E a CTBC não fica de fora disso. Então, a gente tem que estar o tempo inteiro negociando com o banco que, para tudo, eles querem cobrar e querem cobrar uma taxa acima do normal e a gente está o tempo inteiro brigando com essas taxas. O tempo inteiro tentando achar alternativas para sair das taxas de mercado para que a gente possa ter um lucro maior. Então, hoje na verdade, a gente briga com o banco. Na verdade, a gente era um parceiro até então. Hoje, a gente passou a ser um inimigo porque o tempo inteiro, nós estamos brigando. Nós, do nosso lado, tentamos reduzir as tarifas e o banco, do lado deles, tentando aumentar o máximo a tarifa porque, tudo lá dentro, eles cobram. Então, já fica mais complicado hoje para a gente estar lidando, mas a gente tem que ter um jogo de cintura porque, na verdade, a gente não pode ficar sem eles efetivamente. A gente só poderia se a gente tivesse um meio financeiro para estar trabalhando, que não é o caso hoje. Mas, a gente tem essa briga hoje com o mercado financeiro, justamente por causa das tarifas.

P/1 - Tornaram- se, assim, uma espécie de inimigos cordiais?

R - Mais ou menos. Exatamente.

P/1 - Agora, você acha... Quer dizer, essa relação acabou se despersonalizando, isto é, você já não está mais conversando com uma pessoa que, eventualmente, possa tornar-se sua amiga, mas você está conversando com uma pessoa que defende os interesses do banco, apenas isso?

R - Sim, com certeza. Com certeza sim. Uma pessoa que está defendendo os interesses de ambos os lados. Eu, no caso da CTBC e ele, no caso, do banco porque hoje, vem assim, ou pelo menos, tem um lucro quem consegue reduzir, quem consegue ter isso. Então, na verdade, eu tenho que estar mostrando o tempo inteiro que ele está se cobrando a mais pelo o que ele está fazendo e eu não posso pagar acima do mercado, acima de um preço X. Então, hoje, a gente realmente ficou sendo assim, parceiros cordiais entre aspas porque, na verdade, cada um defende o seu interesse. Porque esse é o mercado hoje, né?

P/1 - E como é que faz essa conta de chegar, como é que dá a liga no final desse processo?



R - Ah, ela está boa hoje, tanto é que hoje, a gente ainda está trabalhando com a rede bancária, mas eu não sei. Tem hora que eu penso além desse momento, eu acredito, que talvez, a gente mais na frente vá chegar a um ponto que talvez até... Eu não sei, mas talvez até o grupo seja necessário chegar a um ponto de abrir uma casa bancária para ele, entendeu? Porque vai se estreitando os laços que, talvez, eu não sei. Talvez, eu esteja até viajando, mas, talvez, vá chegar a um ponto disso porque as tarifas vão ficando muito caras e quando você vê, você está pagando acima do que você deveria pagar e o custo disto é muito alto. Corrói qualquer receita, então eu não sei, mas lá na frente, de repente, possa ter uma virada, ou alguma mudança. Se bem, que hoje, a gente percebe que não é interesse do grupo, né? Mas, de repente, pode-se chegar a um ponto de ver isso.

P/1 - Que não é atividade fim, né?

R - Que não é atividade fim dele, hoje.

P/1 - A gente não falou da sua vida pessoal, você casou, teve filhos?

R - Casei, eu casei, tive filhos... Filhos, eu tenho só um, mas casei. Quando eu casei, eu conheci o meu marido no grupo, eu casei no grupo depois que eu entrei. Eu casei no grupo e o meu marido trabalhava no grupo até o ano passado, que no ano passado ele saiu para trabalhar por conta própria. Mas, até o ano passado, os dois faziam parte do grupo ainda.

P/1 - Certo.

R - E nós nos conhecemos no grupo.

P/1 - Na mesma área assim?

R - Não, ele trabalhava no TH, como trabalha até hoje e eu na área financeira. Somos dois extremos praticamente. (risos)

P/1 - Nilva, como é que você consegue projetar o futuro da CTBC e... Como é que você vê, do ponto de vista, da tua experiência, da tua canxa nessa área financeira, como é que você vê o estado atual da companhia hoje e as suas perspectivas para o futuro?

R - Eu vejo o estado atual dela muito bom, sabe? E eu vejo no futuro também, que ela consegue sobreviver, principalmente, porque a concorrência está entrando muito grande. A partir do ano que vem, já tem concorrência da telefonia fixa, mas a CTBC tem um lado muito bom que ainda isso ajuda ela muito, que é o lado de confiança das pessoas. Aqui, em Uberlândia tem um forte propósito disso. As pessoas confiam na empresa, as pessoas querem trabalhar com a empresa, entendeu? Tem aquelas mais curiosas que saem para ir conhecer o concorrente e voltam para ela. Então, isso é muito bom. Ela não pode perder isso porque exatamente em cima disso que ela vai trabalhar para ficar no mercado. Porque ela tem a confiança dos usuários. Os usuários confiam nela, é uma empresa de confiança. Então, ela tem isso e ela tem tudo para estar no mercado, ela é uma empresa campeã em praticamente tudo que ela faz. Então, ela tem tudo para sobreviver no mercado eu vejo ela sobrevivendo, entendeu? Eu não vejo ela, em momento algum, saindo do mercado. Muito pelo contrário, eu vejo ela entrando cada vez mais no mercado. Conquistando o seu cliente, que hoje ela já tem e não deixando perder ele.

P/1 - Está certo. O que você diria para uma pessoa que fosse começar amanhã, trabalhar na CTBC?

R - Ah, a gente só diz coisa boa, né? Principalmente porque a pessoa que está entrando na CTBC, ela só conhece coisa boa mesmo porque uma empresa superdiferente. A gente comenta a todo instante. É uma empresa que não tem aqui, em Uberlândia, uma empresa. Talvez, nem só em Uberlândia, fora também, a gente não consegue porque é uma empresa assim, que dá total liberdade. A gente percebe isso. A gente tem total confiança lá dentro. Um empresa que, realmente, faz com que a gente cresça... Porque eu praticamente tudo o que eu tenho hoje foi construído na CTBC, de lá pra cá, porque hoje eu me casei, tenho um filho, tenho uma casa para morar, um apartamento, tenho o meu carro. Então, quer dizer, eu construí isso tudo lá e a pessoa que entra hoje, na verdade, ela sonha com isso, né? De entrar lá para construir tudo isso que a gente constrói lá dentro porque a gente tem oportunidade de mudar, de subir, de ter alguns degraus para você passar e para você ir montando a tua vida, que na verdade, a minha, praticamente, foi montada lá, que tudo que eu tenho hoje, eu consegui lá dentro.

P/1 - Você tem sonhos?

R - Eu tenho, eu tenho sonhos. Eu não tenho muitos sonhos assim, porque eu sou mais pé no chão. Eu gosto de viver mais no concreto, mas eu tenho sonhos, eu tenho sonho ainda de construir uma casa que eu comecei e tive que parar porque eu não dei conta. Mas, eu tenho sonho ainda, de construir, de terminar ela. Eu tenho sonho de ter uma chacrinha, um lugar para descansar no fim de semana. Nada coisas muito estrondosas não porque eu não sonho tão alto assim, também não. Mas, eu tenho, eu tenho sonhos sim.

P/1 - Está certo. Você gostou de ter dado esse depoimento?

R - Sim, com certeza. Eu acho que isso tem que ser guardado, né? Há muito tempo atrás, a gente já comentava que isso tinha que ser guardado, que isso tinha que ser documentado, até para poder perpetuar a geração da família Garcia, que a gente tinha isso, né? Ninguém melhor do que a Ilce para falar do... A dona Ilce porque ela viveu com ele o tempo inteiro, né?

P/1 - Foi a nossa primeira entrevistada.

R - Ela viveu com ele porque ela, praticamente, foi a primeira funcionária, porque ela vinha já da antiga Teixeirinha, né? Quando ele comprou, já era funcionária. Então, ninguém melhor do que ela para falar e ela é um exemplo vivo disso porque ela, praticamente, viveu. A vida dela foi aquilo ali, né? Tudo, ela nem se casou porque na época não podia. Então, ela, praticamente, foi aquilo ali. E ela ama, a gente percebe nela até hoje que ela ama aquilo ali como ninguém porque ela criou realmente um membro da família, né? E para o doutor Luiz, ela é um membro da família, né? Mas, é muito bom, muito bom.

P/1 - Você teria alguma coisa que você gostaria de ter dito e não foi estimulada a dizer?

R - Não, eu acredito que não. A Norma é que tinha comentado comigo, que uma outra amiga minha, uma outra entrevistada comentou da minha gravidez, mas não sei se há necessidade de falar, você acha, não?

P/1 - Ah, claro que sim. Você teve uma gravidez que foi escondida, né?

R - É, na verdade, eu tive uma gravidez escondida, mas na época, a minha gravidez escondida não foi nem mais pela empresa, sabe? Na época, foi mais pela a minha família do que pela empresa propriamente dita porque a CTBC como um todo, ela não podia se casar naquela época, assim que a dona Ilce entrou, não podia se casar porque a mulher ia ter filhos e filhos ia deixar de licença à maternidade, né? Então, tinha todos esses preconceitos na época porque era, praticamente, telefonistas naquela época. Então, se fosse começar a sair de licença à maternidade, praticamente ia chegar a um ponto que não ia ter ninguém para trabalhar. Mas, eu já tinha passado essa fase. Eu não... Quando eu entrei na empresa, eu já tinha passado essa fase, mas assim, eu fiquei grávida logo depois que eu entrei na empresa, né? Eu entrei 1986, o meu filho nasceu em 1987. Eu entrei em dezembro de 1986 e o meu filho nasceu em novembro de 1987. Então, praticamente, eu escondi porque pelos os meus pais, né? Porque era a primeira gravidez na família e teve um monte de problemas, mas assim, a minha gravidez, ela foi... Eu que escolhi, tá? Na verdade, eu falei: “Eu quero ter um filho. Eu acho que é agora, mas eu não quero casar”. Porque, na verdade, não me passava pela cabeça em nenhum momento me casar. Mas, eu queria ter um filho. Eu achava que era fundamental para aquele momento e na minha cabeça passava assim: “Eu quero ter uma produção independente”. E foi exatamente o que eu fiz. O meu filho foi uma produção independente, o pai da criança nem sabe que ele tem um filho porque, na verdade, ele não ficou sabendo que eu estava grávida. É, eu me engravidei e daí, a partir desse primeiro momento, eu, praticamente, tomei conta, né? Terminei com a pessoa, não comuniquei que eu estava grávida, nunca mais vi a pessoa, que depois, ele teve alguns dois, três contatos comigo, mas, efetivamente, eu cortei esses contatos e ele nem sabe que ele teve um filho porque realmente foi uma produção independente. E quando eu cheguei a casar, que eu casei depois, eu casei... O meu filho tinha dois anos. Quando eu casei, o meu filho já estava com dois anos... O meu marido hoje, sabe de tudo, não teve nenhum problema, né? Agora, na empresa como um todo, realmente eu causei um problema, né? Porque, na época, a gente não tinha quem fizesse o serviço, né? Era só um para fazer aquele serviço. E aí quando eles me viram que eu estava grávida, que, na verdade, quando eles souberam, eu estava ganhando o nenê. O meu nenê já estava nascendo, não tinha outra pessoa para fazer o meu serviço porque eu nem engordei. Eu estava até comentando com a Norma, né? Eu engordei quatro quilos na minha gravidez. Então, praticamente, as minhas roupas e o meu corpo ficou o mesmo. Não teve diferença nenhuma. E aí quando eu falei que estava ganhando nenê, praticamente eu já estava no hospital com o nenê e não tinha quem fizesse o meu serviço. E aí teve que arrumar uma pessoa urgente para fazer o meu serviço porque não tinha quem fizesse o meu serviço e eu tinha que sair de licença, mas mesmo assim, eu tive que voltar à empresa para poder ensinar o meu serviço e com isso, o meu nenê já tinha nascido. Com uma semana que o meu nenê já tinha nascido, eu estava lá na empresa repassando o meu serviço para outra pessoa porque não tinha dado tempo para colocar uma outra pessoa e foi meio corrido. Eles contrataram uma pessoa para estar no meu lugar e, com uma semana, eu estava lá repassando o serviço.

P/1 - Não se tratava daquela velha norma com relação às telefonistas...

R - Não, não, não.

P/1 - Você correu o risco de perder o seu emprego em um momento desse, né?

R - Sim, com certeza.

P/1 - Deveria ter comunicado.

R - É, foi exatamente o que o TH me falou, né? O TH, realmente eu fui chamada a atenção... Foi tido um... Porque, realmente, eu deixei a empresa porque eu tinha que ter comunicado a tempo de eles contratarem uma outra pessoa para estar me substituindo. E, na verdade, só foi comunicado no dia que a criança praticamente nasceu. E até o TH, alguns cuidados especiais que a mulher grávida tem que ter e algumas coisas assim, né? Então, o TH, realmente, ficou muito bravo comigo na época, mas aí a gente contornou, não teve nenhum problema. Com uma semana de nascido, eu estava lá na empresa passando o serviço para outra pessoa até ela aprender para depois, efetivamente eu sair.

P/1 - Tirou a sua licença regulamentar, né? Para amamentar a criança e tudo mais.

R - Tirei, tirei. Naquela época não se tinha esse tempo que tem hoje, né? Naquela época era só trinta dias que se ficava, né? Que era o prazo para a criança estar amamentando, mas eu tirei sim. Foi normal depois... O resto foi normal, que é o único filho que eu tenho até hoje. Do meu casamento, efetivamente, eu não tive filhos. Até hoje, ainda não.

P/1 - E a sua criança ficava com quem enquanto você trabalhava?

R - Com a minha mãe e com a minha irmã que quem olha até hoje, no caso, porque eu trabalho o dia todo e ele ainda fica na casa da minha mãe. Vai para escola, volta, almoça, vai para o inglês, faz inglês, mas ainda fica com a minha mãe até a noite, que é a minha mãe e a minha irmã que olham. E que olharam até hoje. Inclusive, chama a minha irmã de mãe porque ele era muito pequeno quando eu voltei a trabalhar e, praticamente, ele acostumou a chamar ela de mãe.

P/1 - Como é o nome dele?

R - Alex. Hoje, ele está com treze anos. Já está um hominho.

P/1 - Está certo. Está bem Nilva. É isso então. Te agradeço muito a gentileza e a sensibilidade do seu depoimento.

R - Está joia.

P/1 - Está bom. Muito obrigado.