Museu da Pessoa

Focado desde criança

autoria: Museu da Pessoa personagem: Afonso Celso Montesanti

Projeto Conte a Sua História
Depoimento de Afonso Celso Montesanti
Entrevistado por Karen Worcman e Rosana Miziara
São Paulo, 26/05/2017
PCSH_HV567_ Afonso Celso Montesanti
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Claudia Lucena
Revisado por Viviane Aguiar
Publicado em dd/mm/aaaa
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P/1 – Bom dia, Afonso.

R – Bom dia.

P/1 – Primeiro, obrigada por reservar esse tempo para fazer essa entrevista conosco.

R – Claro.

P/1 – Eu acho que eu gostaria de começar por uma coisa muito simples, que você contasse pra gente o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.

R – Eu me chamo Afonso Celso Montesanti, nasci em São Paulo, em 16 de dezembro de 1964.

P/1 – E o nome dos seus pais?

R – João Batista Montesanti Júnior e Adeli Arantes Montesanti.

P/1 – Montesanti é um nome italiano, né?

R – Italiano, a origem da minha família é de Paliano, na Itália. Eu também tenho a cidadania italiana, passaporte italiano, por conta do meu bisavô, que saiu da Itália no começo do século, 1901, 1902, e veio para o Brasil, obviamente fugido da recessão que existia à época, vamos dizer, do sistema político da Itália. Em função, obviamente, dessa vinda ao Brasil e de nunca ter se naturalizado brasileiro, eu também pude obter a cidadania italiana, mas, em função das últimas duas ou três gerações, somos eminentemente brasileiros, né?

P/1 – O que você se lembra da origem, além dessa que você contou, da sua família, da presença da coisa italiana, desde que você conhece isso?

R – Na verdade, independente da origem italiana, eu também tenho, por parte de mãe, a origem eminentemente brasileira, quer dizer, os meus avós, bisavós por parte de mãe são descendentes de bandeirantes. Então, eu também tenho uma influência muito grande da cultura brasileira, a qual talvez tenha feito mais parte da minha vida do que a italiana, na medida em que a família italiana, ela era muito pequena, e os irmãos do meu pai acabaram não se casando, não tendo filhos. Ele foi o único que teve filhos e com isso, obviamente, eu não tinha primos. Então, quer dizer, ela meio que se dissipou ao longo dos anos, e restou muito a parte brasileira, onde aí sim eu tenho mais conhecimento e bastante influência por parte dos meus avós maternos, que sempre me contavam a história dos bandeirantes, a história no interior de São Paulo, de onde é a origem dos meus pais – da minha mãe, na verdade –, e dos meus avós, que é de Álvaro de Carvalho, no interior de São Paulo, e depois viveram por toda aquela região de Bauru, de Laranjal, de Botucatu. Eu circulei, quando criança, por várias dessas cidades, pra conhecer a origem, inclusive, dos irmãos da minha avó: era uma família de 11, ela era a mais nova. Então, tinha irmãos muito mais velhos que eu, muitos primos mais velhos, e tive a oportunidade de viver durante muito tempo, durante a minha infância, nas fazendas dos meus tios-avôs, no interior de São Paulo, andando de cavalo, conhecendo a cultura e a vida que eles sempre tiveram no interior. A minha avó, entre os irmãos que ela tinha – eles eram 11 –, foi a única que veio pra São Paulo, quer dizer, todos os irmãos da minha avó permaneceram com a origem no interior, e ela é a única que veio desbravar a cidade de São Paulo, por uma circunstância pessoal. Ela, casada na época, o marido, meu avô, veio a falecer por um problema renal, que à época não tinha tecnologia de transplante, tampouco de troca de sangue, hemodiálise. E com isso ela teve que vir pra São Paulo pra poder criar bem as crianças, com uma boa educação e, por isso, nós acabamos constituindo família aqui em São Paulo, mas eu tenho uma origem muito grande no interior de São Paulo.

P/1 – Ela veio pra São Paulo, ela tinha quantos filhos?

R – Três filhos: minha mãe, mais velha, com 12 anos, meu tio com dez e outro tio com oito. Era professora primária, porque à época as mulheres não tinham muitas opções, no caso da minha avó, que é nascida em 1911, né? Formou-se professora primária, veio pra São Paulo e começou a viver a vida aqui, a dar aula aqui e educando as crianças, pra que elas pudessem ter uma educação um pouco melhor do que aquela que era oferecida no interior, em face talvez das possibilidades que eles teriam aqui versus as do interior. À época, também ela, por ser mulher, abriu mão da parte que lhe correspondia em termos de herança de fazenda – acabava ficando nas mãos dos irmãos, que tocavam o negócio, o que naturalmente fazia com que as mulheres ou se dedicassem ao matrimônio ou se dedicassem a uma vida que estava muito restrita a ser professora ou algumas outras profissões da época, e ela optou por isso. Quer dizer, abriu mão, sempre teve o apoio dos irmãos no que era necessário, mas ela praticamente constituiu a vida dela aqui em São Paulo.

P/1 – Então, andando daí, vamos falar um pouquinho da sua mãe. Fale de novo o nome dela e o que ela acabou fazendo e como ela encontrou o seu pai. Depois a gente volta para o seu pai.

R – Ok, a minha mãe chama-se Adeli Arantes Montesanti.

P/1 – Adeli?

R – É, meu avô chamava-se Adelino e minha avó Eli, então ficou Adeli, é a combinação dos dois nomes. E veio aqui pra São Paulo junto com a minha avó e os irmãos. E minha mãe, ela também acabou seguindo a carreira de professora, estudou inglês, português, mas acabou tendo uma carreira mais voltada pra secretariado. Minha mãe era secretária executiva, sempre exerceu essa profissão, tanto em ambiente empresarial quanto em ambiente acadêmico, sendo que ela trabalhou mais em ambiente acadêmico, principalmente na Universidade Mackenzie, onde ela trabalhou por muitos anos e onde, inclusive, eu fiz o ginásio e o colegial. A minha mãe optou mais por essa carreira, enquanto os irmãos dela, no caso, o meu tio já foi mais pra uma carreira de economista e meu outro tio, teoricamente, não se formou, inclusive veio a falecer cedo por conta de problemas de saúde. Então, na verdade, são a minha mãe e meu tio, e minha mãe exercendo, como eu mencionei, a carreira de secretária executiva e trabalhando em universidades como o Mackenzie, a Universidade Anhembi Morumbi, as Faculdades Santa Marcelina, sempre nesse ambiente educacional.

P/1 – E o seu pai?

R – O meu pai era professor de Geografia e História.

P/1 – Na escola?

R – Não, ele é formado, ele era professor formado e ele dava aula para ginásio e para colegial e ele foi professor do Colégio Batista Brasileiro por muitos anos, ali em Perdizes, onde eu morava quando criança. Eu não tenho tanta memória assim; ele conheceu a minha mãe, quando morava aqui em São Paulo, mas eu não tenho riqueza de detalhes, porque era o tipo de assunto que, à época, eu acho que eram coisas que não se comentavam com tanta naturalidade, no sentido de como conheceu, onde foi, como foi. Devem ter se conhecido, se eu tenho alguma recordação, provavelmente em alguma igreja, porque eu sou protestante, porque minha avó era protestante – na medida em que ela se casou com o meu avô, que era protestante, virou protestante porque fugiu do seminário, porque estava estudando pra ser padre, aí ele não concordou com alguns dogmas do seminário, fugiu e se converteu em protestante. Então, provavelmente, a minha mãe deve ter conhecido o meu pai frequentando as igrejas à época. Enfim, se conheceram. Ele é bem mais velho do que ela, acho 12 anos mais velho do que ela, mas, independente disso, se conheceram, se casaram, tiveram quatro filhos. Eu sou o mais velho, depois tem a minha irmã, outro irmão e outra irmã. São dois casais. Ele já é falecido, porque já era bem mais velho do que a minha mãe, e minha mãe hoje tem 80 anos.

P/1 – Ela, então, não te teve tão nova assim, né?

R – Não, não teve tão nova. Quer dizer, eu tenho 52; com 30, 30 e poucos anos.

P/1 – E você é o mais velho?

R – Eu sou o mais velho.

P/1 – Então, ela viveu bastante tempo antes de ter filhos, né?

R – Sim, sim, mesmo porque à época as condições financeiras também não eram tão favoráveis, no sentido de já poder constituir matrimônio, comprar e ter uma vida adequada. Demorou um pouco mais, mas não foi um impeditivo pra ter os quatro filhos e criar os quatro filhos, todos os quatro bem formados e saudáveis e todos felizes.

P/1 – Vamos voltar um pouco pra essa casa de infância. Então, são quatro filhos, vocês moravam onde?

R – Ali em Perdizes.

P/1 – Se você fizer um exercício de lembrar como é que era casa, tente descrever um pouquinho pra gente quem dormia onde, qual era o cheiro da casa. O que você se lembra dessa casa? Você morou muitos anos lá?

R – Morei muitos anos lá, os quatro estavam morando nessa casa, nesse apartamento, na verdade, em que mora a minha mãe hoje, mas antes disso, nós moramos em outros dois apartamentos, antes mesmo dos meus dois irmãos mais novos terem nascido. Quer dizer, os dois mais novos, quando nasceram, nós já morávamos nesse apartamento em Perdizes. Na medida em que eles nasceram e eram dois casais, eu ficava num quarto com o meu irmão, a minha irmã ficava no outro quarto com a irmã dela e o meu pai e minha mãe no outro quarto. É um apartamento ali na zona de Perdizes, extremamente agradável, confortável, perto do colégio onde nós estudamos, pelo menos no primário eu estudei, que era o Colégio Batista Brasileiro e também perto, não tão longe, do Mackenzie, Universidade Mackenzie, o Colégio Mackenzie, em Higienópolis, aonde eu também ia de ônibus ali de Perdizes. Enfim, um bairro, uma casa, um apartamento superagradáveis, na medida em que era um bairro bastante residencial, calmo, independente dos colégios e universidades que ali existem, o Colégio Brasileiro e a Pontifícia Universidade Católica, mas um local superagradável. E as memórias que eu tenho do apartamento são as melhores, porque eu ainda vou e visito a minha mãe nesse mesmo apartamento, onde nós morávamos em seis pessoas. Hoje moram lá minha mãe e um dos meus irmãos, que não se casou, é solteiro, acabou ficando lá com a minha mãe, inclusive ajuda a cuidar da minha mãe, que tem saúde, tem toda uma vida independente, mas, obviamente, inspira cuidados a partir de certa idade.

P/1 – Vamos voltar, então. Eu queria que você descrevesse pra gente um pouco de como era você na infância, do que você gostava de fazer, o que te deixava feliz, mas também o que te deixava triste. Como era a sua vida como pessoa interior, o que você se lembra de você mesmo?

R – Eu lembro, por ser de uma família de classe média, de classe média baixa, não era nem uma classe média alta, mas numa época em que, no Brasil, as classes médias, sendo ela baixa ou alta, viviam de uma forma adequada. Quer dizer, existia muita estabilidade. Nós morávamos num bairro onde eu tinha vários amigos e em que a atividade principal era ou jogar futebol no próprio colégio em que a gente estudava ou andar de bicicleta ou brincar no edifício com diversas atividades, que podiam ser jogos de War ou Banco Imobiliário, que são coisas que me remetem à infância. Eu era feliz da forma como a gente vivia à época e dentro das condições que existiam, em termos de atividades, e que são muito distintas das atividades do dia de hoje. Quer dizer, angústias ou preocupações? Sim, angústias ou preocupações em sempre querer – eu, particularmente – querer olhar ao longe, sempre tentando ver como eu vivia e tentando me projetar como eu seria, sabendo que dependeria fundamentalmente de mim. Eu sempre tive uma educação muito pragmática, começando pela minha avó e depois vindo pela minha mãe, onde eles falavam: “Você tem que estudar e estudar e estudar, você tem que ler, ler, ler, porque quem lê vê ao longe e a única forma de você vencer na vida é estudando e estudando e estudando.” Eu me lembro, quando criança, que às vezes eu descia – eu podia descer era depois das quatro horas; eu chegava, eu fazia colégio de manhã, ia pra casa, almoçava, tinha que ficar estudando, e só podia ir brincar depois das quatro horas. E mesmo depois de ter estudado, depois de ter ficado em casa lendo etc., às vezes eu saía pra brincar com dor na consciência. Eu falava: “Mas será que eu estudei o suficiente?”, porque eu ficava com aquele martelinho da minha avó falando: “Você tem que estudar, você tem que estudar”, e a minha mãe. Minha avó morava a um quarteirão de distância do apartamento em que minha mãe vive, então, eu sempre ia visitar minha avó, caminhando, de bicicleta, e a primeira coisa que ela falava: “Quanto você estudou hoje, filho?” (risos) A preocupação da minha avó, inclusive até pelos percalços que ela teve que viver, em função da perda do marido, ter que dar educação e assegurar que a educação seria uma forma adequada de sustento pra família, ela sempre pegava no meu pé. Muito do que eu sou hoje eu devo muito à persistência, não só da minha avó, do meu tio, mas da minha mãe também, no sentido de não deixar essa chama da educação, da leitura e do conhecimento apagar em benefício de outras atividades e prazer, como lazer, esporte ou qualquer que fosse a situação.

P/1 – A leitura, por exemplo, era importante na sua vida?

R – Leitura sempre foi importante, é muito importante.

P/1 – O que você gostava de ler?

R – Quando jovem, eu lia os livros que eram bastante demandantes, já do próprio primário e ginásio, principalmente Jorge Amado ou Monteiro Lobato, toda essa literatura que era mais ou menos obrigatória. Mas a minha avó incutiu o prazer da leitura diária de jornais e revistas para atualizar-se, né? Então, eu, desde criança, acho que desde o ginásio, eu já fugia um pouco da curva em relação aos meus amigos, porque eu lia muito, lia sobre política, lia sobre economia, tentava entender alguns conceitos, por mais difíceis que fossem, motivo pelo qual eu até me formei em Economia. É uma área que sempre me estimulou muito, pela oportunidade que você tem de poder ver ao longe, tentar vislumbrar oportunidades que vão se materializar dependendo das variáveis com as quais você trabalha. Eu sempre li muito jornal e revista, leio diariamente e hoje, obviamente, minha leitura, ela é muito concentrada, muito técnica no dia a dia e procuro ter leituras mais amenas, com livros que tratam da vida, talvez, de tenistas – que, como eu gosto de tênis, eu procuro ler –, a vida do Guga, a vida do John McEnroe, ou vejo livros sobre vela, esportes aquáticos. Eu tenho uma leitura um pouco mais branda, fora do ambiente de trabalho, na medida em que aqui eu preciso ficar bastante concentrado, não só em leituras sobre o ponto de vista técnico, mas sob o ponto de vista econômico, político e que afetem o Brasil e o mundo, porque isso aqui é uma multinacional, que tem ramificações com o resto do mundo. É a maior subsidiária da Colgate fora dos Estados Unidos.

P/1 – É aqui?

R – A segunda maior, com um grau de importância, no conglomerado, muito grande.

P/1 – Voltando um pouco, você disse que você já lia política, se falava de política na sua casa.

R – Sim, se falava muito abertamente de política. Eu nasci em 64, quer dizer, ali no berço do AI-5, na ditadura militar. Eu lembro, já nos idos de 75 a 80, que eu perguntava: “Mas por que as coisas têm que ser dessa forma?”, e se falava abertamente de política, no bom sentido, de entender o momento. A partir, inclusive, muito dos anos 80, eu já tinha uma leitura, vamos dizer, ácida e diária sobre temas políticos, até para poder entender o contexto do Brasil. Em 80, eu já fazia o colegial técnico, fui fazer Contabilidade, no Mackenzie era técnico, eu optei por Contabilidade e, entre as muitas disciplinas, dentro do curso técnico, tinha Economia já. Então, eu era uma pessoa que já discutia um pouco mais, de uma forma mais ácida, os aspectos econômicos e políticos, já em 1980. E também por ter o irmão da minha mãe, que foi, é um grande economista, foi aluno do Delfim Netto, trabalhou no governo e na iniciativa privada, é uma pessoa com uma cultura incrível, economista. Então eu também conversava muito com o meu tio, para poder aprimorar e assentar conceitos e dogmas e conhecimentos e paradigmas para poder ter massa crítica quando conversando com pessoas mais velhas. Mas sempre foi a parte mais agradável das leituras ler sobre política e ler sobre economia, e tentar ver como o político e o econômico conseguem conviver, e a gente está tendo um laboratório hoje mais do que amplo para poder ver como são duas ciências que, se não houver harmonia, realmente não existe um caminho fácil, independente de serem independentes (risos).

P/1 – Desse período todo – até a gente vai andar pra frente – você consegue se lembrar de uma história específica, alguma cena que te faz feliz, te faz sorrir, te faz bem lembrar? Dessa sua vida de infância, algum momento que ficou forte na sua cabeça?

R – Olha, eu tenho vários momentos que eu posso dizer. Eu sempre sorrio pra vida, principalmente pelos encantos da vida. A gente sabe que a vida, ela não é fácil na sua essência, na medida em que o mundo se converteu num ambiente muito complexo, mas, para quem tem oportunidade de fazer bom uso da vida e ser agraciado com momentos de felicidade, realmente você pode sorrir. Entre vários deles, eu lembro, por exemplo, um, quando eu tinha 12 anos, eu acho. Talvez vocês até se lembrem quando a Caloi lançou a Caloi Dez aqui no Brasil. Caloi Dez era uma bicicleta que tinha dez marchas, porque até então não existiam marchas, o que facilita a vida das pessoas. E eu ganhei da minha avó. Eu fui o primeiro menino no prédio a ganhar a Caloi Dez. Então, é a mesma sensação de você ganhar um carro, que você chega com o seu carro. A hora que eu cheguei com aquela Caloi Dez lá, os meus amigos olharam, aquela cara de espanto (risos) e todo mundo querendo andar na Caloi Dez, e eu falei: “Não, não, ninguém pode tocar na bicicleta.” Eu lembro que a gente andava muito de bicicleta em Perdizes e Perdizes, pra quem não conhece, é um morro, tem muitas ladeiras e subidas. E, com a Caloi Dez, em função das marchas, eu subia aquelas ladeiras e os meus amigos (risos) ficavam assim: “Espere, por favor!” Era assim, era uma sensação que eu jamais esqueci aquele dia que chegou a minha Caloi Dez. Tinha até um comercial na televisão que falava: “A minha primeira Caloi”, e eu fiz parte dessa “minha primeira Caloi”, mas não que fosse a primeira Caloi, foi a primeira Caloi Dez, né? Depois disso, passou a ser não um brinquedo, mas uma bicicleta a que todos tinham acesso, mas não era fácil ter acesso a isso e eu lembro que eu ganhei isso, até os meus irmão falaram: “Mas por que você ganhou?”, eu falei: “Ah, talvez porque eu seja o mais velho (risos), vocês vão ganhar depois”. Isso daí me marcou bastante, a minha primeira Caloi Dez, né?

P/1 – Quando você entrou na faculdade, você já sabia que queria fazer Economia, como é que foi?

R – Sim, eu entrei na faculdade, quer dizer, quando eu me formei no colegial, eu já estava endereçando minha carreira mais para o lado de ciências humanas, embora eu também tivesse aventado a possibilidade de fazer Medicina. Mas a carreira de Medicina era uma carreira bastante sacrificante, sob o ponto de vista pessoal e também sob o ponto de vista financeiro, porque é uma carreira que requer aporte familiar, coisa que os meus pais não teriam condições de sustentar. Então, eu tive que buscar uma carreira que me fizesse me sentir bem e, ao mesmo tempo, que pudesse me dar uma perspectiva de me desenvolver. Como eu lia muito sobre política e economia, eu fui fazer Economia, na medida em que eu já fazia um colegial técnico que era de Contabilidade, onde eu sou contador também. Fazendo Economia, em função do colegial técnico, que me deu essa base, foi a carreira que eu vislumbrei como uma oportunidade de poder aprimorar todo aquele meu conhecimento de leitura política e econômica da fase de adolescente, aliado a professores que pudessem me dar um horizonte mais amplo sobre a carreira, mesmo porque é uma carreira que você pode também dirigir tanto para o lado das ciências humanas quanto para o lado das ciências exatas. Eu fui mais para o lado das ciências exatas, na parte de Matemática Financeira, Estatística, Macroeconomia, Microeconomia e menos, um pouco, na parte trabalhista, a história da economia etc., porque eu pretendia ter uma carreira na iniciativa privada e que poderia ser tanto em bancos quanto na indústria.

P/1 – Você já tinha essa clareza?

R – Sim, porque eu, desde pequeno, como eu te falei, eu sempre tive, vamos dizer, essa formiguinha dentro de mim dizendo: “Você tem que olhar ao longe, você tem que pensar amanhã, você tem que pensar amanhã.” Então, eu sempre vislumbrava o que eu queria fazer anos à frente. Quando eu comecei a carreira, a universidade, na verdade, eu já trabalhava, mas eu sabia que eu tinha que fazer a universidade, concluir a universidade e entrar num programa de trainee numa grande multinacional. Bingo! Aconteceu, eu me formei, entrei numa empresa sueca, fabricante de rolamentos, que é a SKF, e, logo que eu me formei, entrei num programa de trainee, onde, dentro da empresa, eu fui muito bem treinado, né? E lá fiquei oito anos trabalhando, me desenvolvendo, quando então eu falei: “Eu preciso dar novos saltos, na medida em que essa empresa está com limitações de crescimento aqui no Brasil”, por conta dos anos e anos em que a economia foi fechada e depois o Collor veio, o Plano Collor veio e abriu as fronteiras. Era uma empresa que concorria com muitos rolamentos importados e ela não se preparou para esse momento. Foi quando a Colgate me chamou, e aí eu estudei um pouco a Colgate, eu falei: “Não, essa empresa, ela é uma empresa que investe, teoricamente, nas pessoas.” Conversei com alguns amigos que aqui trabalhavam e eles falaram: “Não, é uma empresa que, com o seu potencial, eu creio que você vai se desenvolver.” E, realmente, quando eu comecei a trabalhar aqui, eu já comecei a vislumbrar também quais seriam os meus próximos passos. O dia que eu coloquei o pé aqui na Colgate, depois de alguns meses, eu conversei com o meu chefe e falei: “Eu quero ser expatriado.” Quer dizer, eu já vi ao meu redor o horizonte de pessoas expatriadas, que já trabalhavam aqui, já vi o fluxo de pessoas que se movimentavam dentro do universo da Colgate, que são 37 mil pessoas no mundo, é uma empresa que opera em 223 países. Então, desde o dia em que eu entrei aqui, eu comecei a vislumbrar. Em dois anos eu já estava nos Estados Unidos fazendo um short term assignment de seis meses, que já me colocaram aí. Voltei para o Brasil, e depois a minha carreira já decolou, mas dentro sempre dessa perspectiva de ver ao longe, de planejar, e agregando valor ao momento em que eu vivo, às pessoas que trabalham comigo, agregando valor à empresa, mas também procurando agregar valor à família. Porque essa vida de expatriado, ela é muito benéfica sob o ponto de vista pessoal e trabalhista, te enriquece muito, porque você trabalha com várias culturas, com várias pessoas, mas familiarmente também é uma oportunidade de você criar pessoas com visão de mundo, e foi o que eu quis para os meus filhos, junto com a minha esposa. Onde a gente vislumbrou a oportunidade de eles terem uma educação de primeira linha, vinda das melhores escolas americanas e, ao mesmo tempo, vivendo em países com culturas diferenciadas, que pudessem criar cidadão para o mundo, e é o que eles são hoje, né? Quer dizer, eles já viveram em três países, o networking deles, a relação deles com colegas do mundo inteiro permite que eles estejam em contato com qualquer pessoa, desde o extremo oriente, na Ásia, até o extremo oeste lá dos Estados Unidos. Eles têm amigos pelo mundo inteiro, de várias nacionalidades. Eu acho que esse é um outro sorriso que eu tenho pra vida, que foi a oportunidade de conhecer o mundo, trabalhando e, ao mesmo tempo, enriquecendo culturalmente a mim mesmo, minha esposa, meus filhos, para que eles possam perpetuar esse conhecimento, essa riqueza do saber e a riqueza também de poder contribuir com pessoas que estão ao seu redor.

P/1 – Conta um pouquinho mais do seu trabalho na Colgate. Exatamente o quê você entrou fazendo e o que foi se transformando.

R – Eu entrei aqui como analista de planejamento financeiro, na área de orçamentos, que é o coração da área financeira.

P/1 – Que é exatamente o quê? Explica um pouco.

R – É o departamento que vê ao longe, é o departamento que faz todas as projeções financeiras de médio, curto e longo prazo. O departamento de orçamentos ou, como eles chamam, budget é formado por pessoas que têm essa capacidade de poderem trabalhar o presente, olhar o presente e projetar o futuro. Eu tive essa experiência na empresa anterior à Colgate e tive sempre essa formação e essa sensibilidade de poder vislumbrar quais são os caminhos que a gente tem, pra poder traduzir isso em números e em perspectivas para um negócio, uma marca, um projeto, um produto. Eu entrei na área de orçamentos e lá fiquei por dois anos; quando fui para os Estados Unidos, fiquei lá seis meses, também na divisão da América Latina, mas com uma visão de toda a América Latina, o que se fazia em termos estratégicos e de negócios na América Latina. E aí, regressando para o Brasil, a companhia falou: “Bom, agora nós precisamos investir em você em outras áreas”, e aí eu comecei a circular por diversos departamentos. Eu saí da área de orçamentos, eu fui pra área de custos na fábrica, por quê? Porque, independente de você estar em orçamentos, pra você ter uma visão clara do futuro, você precisa saber como é que funciona a realidade, e uma das realidades que existe é a contabilidade de custos na fábrica, quer dizer, como é que se faz o produto, quais são as matérias-primas e ingredientes, como é que isso ingressa, como é que isso se reflete nos resultados da companhia, o que que é necessário, entender dentro desse contexto pra que você tenha os seus custos sob controle. Então, eu trabalhei aí como plant controller alguns anos e, nesse interregno, houve também a aquisição da Kolynos por parte da Colgate, o que criou uma musculatura muito grande pra empresa aqui no Brasil. Ela passou a ter, vamos dizer, um domínio de mercado.

P/1 – Porque a Kolynos já era bastante grande.

R – É, a Kolynos era a líder de mercado à época. Ela tinha 50% de participação no mercado, contra 25% da Colgate. Na hora em que a Colgate adquiriu a Kolynos, ela passou a ter 75% de participação no mercado, então, quer dizer, o nível de musculatura foi muito grande. E aí, por ocasião da união dessas duas empresas, a empresa aqui ficou muito grande, nós somos 3,3 mil funcionários hoje e, à época, após a aquisição, me tiraram da área de custos e me trouxeram de volta para o escritório, para cuidar da parte de impostos e contabilidade, também para poder fortalecer essa minha, não lacuna, mas, vamos dizer, esse meu conhecimento que sempre existiu na parte de contabilidade, mas eu nunca exerci, como contador. Então, eu passei a cuidar da área de contabilidade, da área de impostos, que cuidam do quê? Do registro do dia a dia da companhia e das suas atividades e assegura que você está em regra com todas as obrigações fiscais. Eu tinha o conhecimento estratégico, fui pra contabilidade de custos, depois eu vim pra contabilidade fiscal e tributária e esses são os três pilares que você precisa ter pra ser um diretor financeiro dentro dessa companhia. Você precisa ter uma fortaleza enorme na parte de planejamento estratégico, você precisa ter uma fortaleza enorme na parte tributária, porque você precisa conhecer a parte de impostos, não só do país em que você atua, como, no caso, o Brasil, mas dos impostos americanos, que é o conceito tributário americano, porque é uma empresa americana, você precisa saber como esses conceitos conversam com os brasileiros e precisa conhecer contabilidade. Eu fui treinado dentro desse contexto, preparado para ser expatriado, para me converter num diretor. Por quê? Porque a Colgate é uma empresa que ela tem todos os seus diretores e cargos de comando que vêm obrigatoriamente da base, ela não contrata pessoas do mercado e, se o faz, é com raras exceções. Então, para você se converter num diretor, você tem que sair da base. Agora, não necessariamente você vai ser diretor no país em que você atua. Você vai ser diretor, se você for expatriado, dependendo da área – no caso da área financeira é assim, na área de marketing ou na área de mercado é assim, na área de vendas é assim. Os diretores, na maioria dos países, tanto o diretor financeiro quanto o diretor de marketing quanto o diretor comercial e também, algumas vezes, o diretor de manufatura e de logística, todos são expatriados. Por quê? Porque eles vêm de outras origens, com muita experiência, com muita bagagem, para aprender e também contribuir. Foi o que eu fiz aqui na Colgate. E, uma vez treinado, eu cheguei à posição aqui de assistant controller, quer dizer, eu estava a um passo de ser diretor, quando aí eles me expatriaram como diretor lá para o Cone Sul, que era Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai. Eu fui montar esse hub da Colgate, fazendo a união dos quatro países e morando na Argentina e, a partir daí...

P/1 – E lá? Então, agora, conta pra gente desse momento, dessa chegada, levar a família. O que aconteceu?

R – Foi a primeira expatriação, com filhos, né? Então, foi realmente um choque cultural pra família, que havia concordado e que falou: “E agora, como é que é?” E realmente foi uma experiência, no começo, muito difícil, porque eu lembro, eu fui antes para desbravar os caminhos no que diz respeito não só ao trabalho como a parte de moradia, escola etc., com todo o apoio da companhia. Mas eles ficaram aqui organizando a mudança, minha esposa com meus filhos. E aí eu lembro que nós fomos no dia 29 de abril, eles saíram 30 de abril daqui, 29 de abril, desculpa, chegaram lá no dia 30 de abril e, no dia 1o de maio, que era um feriado, nós falamos: “Não, vamos conhecer Buenos Aires, eu vou levar vocês para alguns lugares.” E diferente talvez um pouco do Brasil, 1o de maio é um feriado em Buenos Aires assim: muito vivido na sua essência, no que diz respeito ao dia do trabalho, literalmente ninguém trabalha, fica tudo fechado (risos). Então, o 1o dia em Buenos Aires com a família, “vamos conhecer”, a gente não conseguiu ir a lugar nenhum (risos). Um frio, mas um frio, as crianças morrendo de frio, sem poder ir a qualquer que fosse o lugar, e tivemos que voltar pra casa. E aí, no dia seguinte, que foi o dia 2 de maio, que eles teriam que ir pra escola, eles acordaram, um frio, mas um frio de rachar – como a gente diz no Brasil – coco, e a minha esposa acorda, e a gente ainda estava morando num apartamento temporário, não era o definitivo, e morando na Capital Federal e o colégio deles ficava a 13 quilômetros da Capital Federal, que foi um dos erros que a gente às vezes comete na primeira saída, que é não escutar as pessoas que dizem: “Morem perto do colégio”. Enfim, as crianças acordaram acho que cinco e meia da manhã, seis horas elas estavam na frente do prédio pra esperar o ônibus, que passava às sete e meia, pra poder chegar, às seis e meia, pra poder chegar às sete e meia no colégio, e congelando na rua e minha esposa virou e falou: “O que eu estou fazendo aqui? Qual foi a parte que eu errei?” (risos) Você, como executivo, você olha aquilo, você fala: “E agora? Bom, eu vou pro escritório, tchau.” Quer dizer, para o executivo é fácil, você vai para o escritório e você deixa a bomba atômica em casa, né? Bom, não precisa dizer que a minha esposa falou: “Nós não vamos morar aqui na Capital Federal.” Nisso, eu já tinha alugado apartamento, tinha contrato, tudo pronto: “Você veja lá com a companhia como é que a gente faz, como é que a gente rescinde e eu vou buscar uma casa ao lado do colégio.” (risos) Então, foi assim a primeira experiência. Quer dizer, já começa morando errado, as crianças com um frio enorme, minha esposa já criando algumas determinações no que diz respeito à família, que têm implicações financeiras, porque eu tive que rescindir contrato pagar etc. e tal. Por sorte, a companhia sempre apoia esse tipo de coisa, não houve nenhum tipo de problema e aí sim conseguimos morar numa casa que ficava ao lado do colégio e a vida parece que fez um clique (risos).

P/1 – E as crianças gostaram da escola ou chegaram com uma bomba atômica também?

R – Não, eles adoraram a escola, a escola americana, eles já tinham a base aqui do Brasil, mas era um ambiente diferenciado, além de que eles tinham que também falar o espanhol e aí eles tiveram que também, além do português e do inglês, agregar o espanhol e obviamente que eles tiveram um pouco de dificuldade, um pouco de barreira, mas, por se tratar de um colégio americano, com várias nacionalidades, isso foi uma questão de tempo. Se você escuta hoje a minha filha falando espanhol, parece uma argentina, é uma portenha. Meu filho é outro. Então, eles falam três línguas fluentes, sem nenhum tipo de sotaque, entre o inglês, o espanhol e o português eles mudam como se fossem native speakers, como língua materna. Então, quer dizer, o começo é sempre difícil, mas eu, no fundo do meu coração, até por essa visão que eu sempre tive estratégica, eu falei: “Crescer dói, mas o dia que vocês crescerem com essa formação, vocês não vão se arrepender.” E doeu mesmo no começo, eu sempre sabia que crescer ia doer, eles cresceram com essa dor, mas dentro de um ambiente que permitiu que também eles crescessem como pessoas. Foi difícil, eles não esquecem, principalmente alguns daqueles professores que acham que a criança já nasceu sabendo, já deveria estar num estágio de sabedoria que o professor não tem que perder tanto tempo, e eles tiveram problemas com alguns deles, com os quais eu tive que ir ao colégio conversar, explicar. Eu falei: “Eu preciso de um pouco mais de paciência nesse sentido, não pode existir esse tipo de perseguição em função da criança, que tem que saber isso e aquilo, isso e aquilo.” Mesmo porque eles tinham oito e dez anos, respectivamente, tinha acabado de completar oito o meu filho, e a minha filha, dez anos. Então, era tudo muito novo pra eles, você expor uma criança de oito a dez anos assim, da noite para o dia, em um ambiente totalmente diferente, sem amigos, sem nada. A sorte da Argentina é que, por ser um país latino e também de muitos brasileiros que vivem lá, rapidamente eles tiveram amigos brasileiros, rapidamente amigos também argentinos e eles conseguiram criar uma relação de amizade com vários deles até hoje e que permitiu que a coisa fosse crescendo de uma maneira menos dolorosa. Pra eles foi muito bom. Pra minha esposa, no começo, também foi um pouco difícil, porque você renuncia a toda a sua vida pregressa, eu também, né? E nós já éramos mais velhos, eu tinha 40 anos à época, ela, 38. Então, você deixa tudo pra trás e começa amizades do zero. Por sorte, também, como eu falei, muitos brasileiros vivendo lá e o grau de amizade que a gente tem hoje com as pessoas que conhecemos lá é pra sempre. Então, sob o ponto de vista familiar, foi a melhor coisa viver na Argentina, pela proximidade com o Brasil, a quantidade de brasileiros lá e a oportunidade de poder estar num ambiente às vezes diferente do seu, pra poder te enriquecer culturalmente, pessoalmente, enfim, dentro dessa vida terrena aqui, que tem limite, né?

P/1 – Dali você foi pra África do Sul?

R – Sim. De lá, eu fui pra África do Sul, mas teve até um período anterior – a cada quatro anos, eles me mandam pra um lugar diferenciado, pra um novo país e aí, ao final dos quatro anos, eu ia pra América Central, mais especificamente na Guatemala. Nessa época, eu estava fazendo o MBA pela Colgate e eu estava viajando pelo mundo. Quando eu fui comunicado que eu iria pra Guatemala, eu também tinha que fazer uma viagem pra China e pra Índia, por conta do MBA. Então, eu falei pra Heloísa, minha esposa, eu falei: “Bom, você pega as crianças, pega um avião e vai fazer o que a gente chama de look and see, quer dizer, fazer o reconhecimento do ambiente.” Então, ela pegou um avião, foi lá, foi pra Guatemala, olhou casa, matriculou as crianças na escola, olhou o país. Eu seria o responsável pela América Central, são seis países: Guatemala, Honduras, Panamá, Equador. Equador não, desculpe. São seis países, incluindo a Guatemala, o maior deles é Guatemala, Panamá e outra ilhas periféricas ali. E ela foi com as crianças, fizeram tudo, voltaram pra Argentina. Eu estava, nessa época, na Ásia, e aí depois veio a notícia de Nova York de que a minha ida pra Guatemala não se materializaria, porque o diretor que lá estava desistiu de sair de lá pra ir pra Nova York. Então, nós tivemos que fazer o caminho de volta, quer dizer, vamos voltar pra Argentina, já tinha feito matrícula na escola etc. Enfim, ficamos na Argentina mais um ano e aí sim fomos pra África do Sul, também pra substituir uma pessoa que de lá saiu e foi pra Venezuela. E foram dois anos bárbaros, a qualidade de vida lá é excepcional, nível de segurança melhor do que São Paulo, eu diria, apesar das histórias de que se fala, do problema que existiu do apartheid, que não existe mais, mas é um país maravilhoso sob o ponto de vista cultural, onde existe muito respeito entre as pessoas. O Mandela fez um trabalho excepcional lá, no sentido de apaziguar tensões e apaziguar desentendimentos do passado, para que as pessoas, a partir de determinado momento, vivessem em harmonia. E vivem em harmonia. Infelizmente, é um país que foi assolado por um regime racista, onde as pessoas foram privadas de educação, então, o que acontece? É um país com uma qualidade de mão de obra, de educação terrível, foi a pior experiência que eu tive em termos de mão de obra para se trabalhar, por quê? Porque as pessoas, infelizmente, durante o regime do apartheid, elas não tinham acesso à educação e, depois que terminou o apartheid, também continuaram não tendo acesso à educação. Então, é uma sociedade onde o conhecimento, ele está na mão de poucas pessoas, mas, ao mesmo tempo, você tem que empregar 80%, no mínimo 80% da população que é negra e que, por força de lei, tem que ocupar todos os postos de trabalho na companhia. Então, você imagina, você ter que trabalhar com pessoas com educação bastante aquém da necessidade do negócio e com dificuldade de comunicação, por quê? Porque, apesar de o inglês ser a língua oficial, eles têm 11 idiomas lá, dos quais, vamos dizer, três seriam o oficial, que seria o inglês, que é o primeiro, depois eles têm o africâner, que é uma combinação do inglês com holandês, e o zulu, que é a língua, vamos dizer, dos negros. Então, infelizmente, vamos dizer, os negros, eles vão aprender o inglês, às vezes, quando eles estão na iminência de entrar na faculdade. Então, você fala inglês com pessoas que mal sabem falar o inglês ou mal sabem escrever em inglês, realmente é um desafio muito grande sob o ponto de vista profissional. O país está evoluindo, eles estão agora dando a educação adequada pra que daqui a 20 anos, mais ou menos, eles já estejam num patamar melhor, mas é um país extremamente dependente de mão de obra importada, por quê? Porque é a mão de obra que tem o conhecimento.

P/1 – Tem algum fato marcante, culturalmente, esse choque de cultura? Você deve ter vários casos desses.

R – Tem. Lá no escritório, eles são bastante festivos, eles são bastante alegres, independente de sofrimento, independente do passado etc. E existe um feriado, feriado não, um dia especial que é comemorado lá na África do Sul, que é o Dia da Raça, quando se comemoram todas as raças, não porque tenham muitas, é que existem muitas etnias também dentro da África do Sul e a África do Sul também é formada não só pelos sul-africanos, como pelos hindus – existem muitos hindus lá na África do Sul. Foi engraçado porque, nesse Dia da Raça, a minha secretária, que inclusive cada dia ela vinha com uma peruca de uma cor, o que é muito comum na África do Sul, as mulheres usam perucas, as negras usam perucas e de cabelos lisos e às vezes coloridos. Você olha assim, você fala: “Mas é você?” (risos) Então, no Dia da Raça, a minha secretária, no dia anterior, falou: “Olha, você tem que vir assim, vestido simbolizando mais ou menos a sua raça, a sua cultura.” Eu falei: “Bom, eu, brasileiro, o que eu vou fazer? Ah, vou pôr a camisa do Brasil, né?” E pus a camisa do Brasil, eu falei: “Ah, eu acho que deve estar bom.” A hora que eu chego no escritório, as pessoas, elas estão vestidas a caráter, as mulheres e os homens, com aquelas vestimentas de tribos, com chapéu, com vestido todo colorido. Eu me senti um peixe fora d’água (risos) com aquela camiseta do Brasil e me olhavam e falavam: “Mas é esse o seu conceito de raça?” Porque, pra eles, exteriorizar o Dia da Raça era exteriorizar de uma forma bastante forte, sob o ponto de vista de vestimenta, sob o ponto de vista de atitude, de gestos. A minha secretária, inclusive, ela estava com um chapéu, um chapéu da tribo dela, que remetia ao interior da África, que era uma coisa estonteante, que você vê em festa talvez de Jockey Club, quando as mulheres vão com aqueles chapéus maravilhosos. Mas o engraçado é que estava dentro do ambiente do escritório, e você andava no escritório, todo mundo vestido a caráter e trabalhando daquele jeito. Você não conseguia vislumbrar um ambiente de trabalho com as pessoas vestidas daquela forma. Então, foi interessante esse choque que eu tive de cultura nesse Dia da Raça. Agora, fora isso, o que me impressionou na África do Sul é a civilização, a civilização antiga que existiu lá, porque lá você tem o berço da humanidade, quer dizer, é considerado o berço da humanidade, é lá. E também a parte do regime racista que houve lá, que é o apartheid, que realmente foi uma coisa horrorosa e que só visitando o Museu do Apartheid pra poder saber o que passou efetivamente com essas pessoas. Tive muita satisfação em viver lá, fiz boas amizades, tenho grandes amigos lá até hoje, mas é um país que realmente padece – e ali é um laboratório interessante de ver isso – padece por falta de educação. A educação, nessas horas, você vê que é tudo na base da sociedade, é o que faz com que um país e uma sociedade tenham um objetivo em comum pra poderem evoluir, se não elas ficam reféns das migalhas, teoricamente, do sistema capitalista, que gira em torno de poucos e que concentram renda, e tem uma concentração de renda muito grande. A África do Sul, nesse aspecto, foi também fantástica pra educação dos meus filhos, porque lá você tem que fazer muitos programas de caridade, até patrocinados pela própria Escola Americana. Então, por exemplo, a minha filha ia dar aula de inglês em favelas, só que favela lá não é Cingapura, que nem a gente tem aqui, é feita de cartolina mesmo, é um negócio feio. A minha mulher se envolveu também numa atividade de caridade junto à Embaixada do Brasil e com a própria embaixadora e criaram uma organização, que é a Mizanze Brasil, onde eles arrecadavam fundos pra construir cozinhas nas escolas públicas, porque as cozinhas que existiam pra dar a merenda, a comida pras crianças, era de uma qualidade terrível. Então, a África do Sul, nesse aspecto, tanto para os meus filhos quanto para a minha esposa, foi bom, no sentido de também poder retribuir à sociedade um pouco do que a gente tem. Eles trabalharam muito em programas dessa natureza, se engajaram muito lá, e isso mostrou pra eles que o mundo, às vezes, ele não sorri de forma tão agradável pra uns quanto pra outros. Tem muita gente necessitada, e é preciso dar um pouco de volta à sociedade, então, isso os meus dois filhos aprenderam bastante lá em atividades comunitárias, junto à escola, junto às pessoas do bairro, junto a uma comunidade muito pobre que existia perto de onde a gente morava, pra poder crescer como pessoa, né? Saber que o mundo não gira em torno de você, gira em torno de outros também, que talvez não tenham tido a oportunidade, porque são pessoas que eu acho que, se tivessem oportunidade, estariam numa situação melhor. Infelizmente, governos e políticos às vezes não trabalham na mesma velocidade que a iniciativa privada ou da forma como a gente pensa.

P/1 – A Colgate tinha algum programa com essa comunidade?

R – Não com essa comunidade especificamente.

P/1 – Com os funcionários?

R – Tinha mais com os funcionários. A gente sempre tinha o que a gente chama de Giving Day, que é o dia que você dá pra alguém, né? Então, os funcionários da companhia, um dia por ano, nós nos juntávamos em várias atividades, nos separávamos, existiam alguns que iam para, por exemplo, um lar de idosos, a gente ia lá ajudar os idosos com atividades físicas ou com doações ou com contar história ou ler. Íamos pra escola, onde a gente fazia a reforma da escola, no que diz respeito à pintura, às carteiras etc. Quer dizer, a gente organizava as atividades, a Colgate organizava essas atividades com os funcionários e que se chamava o Giving Day. Além disso, a própria companhia tinha um trem que ela patrocinava, que era Phelophepa Train, que era um trem que circulava por toda a África do Sul com um consultório dentário, pra poder dar também higiene oral pras pessoas menos privilegiadas. Além dos programas em que a gente se engajava no que diz respeito ao combate à AIDS, ajudar as pessoas contaminadas pelo vírus do HIV – 30% da população da África do Sul é contaminada pelo HIV, né? É uma situação triste, essas pessoas inclusive dependem de ajuda humanitária, porque o sistema de saúde pública também não é eficiente, e acabam ou desfalecendo ou sendo tratados à margem da sociedade. Então, existiam programas dentro da Colgate no sentido de ajudar também essas pessoas no que diz respeito não só à higiene, mas também ao tratamento médico.

P/1 – Qual era o seu desafio profissional lá?

R – O maior desafio profissional lá era ensinar as pessoas. A hora que eu sentei lá e eu comecei a ver o nível de formação, o nível de conhecimento e a qualidade do trabalho, eu falei: “O meu grande desafio aqui é saber quem é que tem potencial pra aprender o que eu preciso que essas pessoas saibam, pra que a gente tenha segurança de o que a gente está fazendo está correto.” Esse foi o meu maior desafio. Inclusive, os profissionais que vão à África do Sul, pra conseguir visto de trabalho, eles têm que mostrar credenciais educacionais muito sólidas pra poder justificar o profissional lá, caso contrário, eles não dão. Por quê? Porque, pra trazer um empregado normal, que tem uma formação básica: “Não, você tem que contratar aqui”. Então, você tem que ter um nível de formação que justifique a sua entrada no país, porque eles querem fazer uso dessas pessoas, justamente pra poder formar os outros. Eu tive o privilégio, a oportunidade de trabalhar com algumas das pessoas lá, que eu ensinei muito, e dois deles já fazem sucesso no mundo de expatriados da Colgate, sendo um deles nos Estados Unidos – e que é uma das pessoas que abraçou a causa e trabalha e, agora, sempre está em contato comigo – e uma outra pessoa que também saiu dentro de um conceito diferenciado, não como expatriado, mas pra fazer um período fora, trabalhando num projeto e voltar. Mas são pessoas que eu tive a oportunidade de ensinar, e eles aprenderem e me perguntaram. E a cultura da subserviência que eles tiveram por muitos e muitos anos impede que essas pessoas sejam proativas, então, você tem que ensinar proatividade pras pessoas. Quer dizer, você tem que ensinar as pessoas a se desafiarem, e essa foi uma barreira muito grande, porque a cultura do apartheid fazia com que eles não perguntassem, eles só executassem, e pra mudar dessa linha pra linha onde a pessoa tem a proatividade realmente é uma barreira muito grande, sob o ponto de vista mental e até cultural, porque eu fazia isso dentro do escritório, mas aí as pessoas chegavam em casa e voltavam pra linha anterior da subserviência e de um respeito que não permitia ser proativo, né? Então, esse foi o meu maior desafio lá, ensinar e fazer com que isso fosse uma coisa do dia a dia das pessoas, quer dizer, que eles fizessem bom uso da informação. Eu acho que eu fui bem sucedido lá, o negócio estava sob controle, eu trabalhava muito, sob o ponto de vista pessoal, pra poder gastar tempo em trabalhar e em ensinar, mas era uma atividade que eu diria prazerosa.

P/1 – O que você aprendeu lá?

R – Eu aprendi que o mundo, ele é pior do que a gente imagina em alguns aspectos, quando você se depara com uma pobreza extrema, extrema. Isso eu estou falando em função de viagens que eu tive oportunidade de fazer fora da África do Sul, onde eu visitei países periféricos. Eu era responsável também pela Namíbia e Botsuana, então, eu visitei, mas também tive oportunidade de ir para Moçambique, para a Zâmbia, para o Zimbábue. E aí o que você vê? Você vê também esse problema de educação espalhado de uma forma mais intensa em países periféricos da África. Por quê? Porque a África do Sul é o país que tem o maior sistema financeiro de todo o continente africano, a moeda é reserva de valor, é o país mais desenvolvido. Na hora em que você sai desse ambiente, que você acha que já é difícil, e se depara com outros ambientes dessa natureza, você fala: “Onde a humanidade errou? Por que a África é considerada esquecida? Por quê?” Porque lá deixaram as pessoas criarem feudos, criarem tiranos, fazendo exploração dos recursos naturais, e em detrimento de muita gente que não pode participar dessa riqueza. Na hora em que você vê o continente africano, você fala: “Por que as pessoas feitas de carne e osso, que são todas iguais, quando nascem são constituídas do mesmo tecido, dos mesmos embriões etc., de repente vivem num ambiente que é totalmente o oposto daquilo que você vê pelo mundo?” O que me chocou muito é realmente essa miséria extrema e a pobreza extrema e a falta de consideração com o ser humano, no que diz respeito a dar oportunidade pra que a pessoa tenha o mínimo, o básico. Você vê crianças totalmente desnutridas, largadas, em países com recursos naturais imensos na mão de poucos, que são os tiranos, né? E o continente está lá, quer dizer, pra mim, é um continente que está à revelia do mundo, considerando, inclusive, a Ásia, onde eu já estive em vários países, onde existe às vezes pobreza, mas não é uma pobreza extrema como você na África, no continente africano, nos países periféricos. E essa política de ditadores, que eu não sei de que forma o mundo permitiu que lá ficassem e lá se constituíssem. Então, isso é o que incomoda um pouco lá. Tirando esse aspecto negativo, o continente, sob o ponto de vista geográfico, sob o ponto de vista de recursos naturais, sob o ponto de vista de locais pra se visitar, é maravilhoso, maravilhoso. A savana na África do Sul, a vegetação baixa, o Cabo da Boa Esperança, que a gente sempre estuda (risos) quando dobraram lá o caminho para as Índias, eu estive literalmente ali onde se dobra e realmente as ondas ali se encontram, o Mar Índico com o Atlântico, com o Índico, realmente eu imagino aquelas caravelas tentando passar ali à época (risos). Mas isso eu acho que foi um pouco o que me incomodou lá na África do Sul, quer dizer, como a gente mantém pessoas alheias ao desenvolvimento, à sociedade, à educação, e vivendo, às vezes, nem de migalhas, de nada, absolutamente nada, né?

P/1 – Aí depois você ficou dois anos?

R – Eu fiquei dois anos lá, deveria ter ficado mais, mas, em 2014, por conta dos eventos políticos e econômicos aqui no Brasil e da companhia, que, sendo administrada por um diretor americano, e ele querendo se aposentar, eles pensaram que eu talvez estivesse mais preparado diante do momento político e econômico para estar aqui do que talvez um outro expatriado. E aí tive a grata felicidade de poder voltar por algum tempo aqui ao Brasil, como expatriado, não sei até quando eu fico ainda, mas, enquanto eles necessitarem, eu vou estar aqui. E aí vim pra cá, estou há três anos já. Eu cheguei em 2014, eu lembro até hoje, no jogo do Chile com o Brasil, na Copa do Mundo (risos). Saí do avião, e o jogo estava acontecendo.

P/1 – Pelo menos não foi no da Alemanha, né? (risos)

R – Ainda bem que não foi no da Alemanha. Mas, enfim, tenho memórias (risos) um tanto quanto negativas dessa época aí. Mas feliz de estar aqui e podendo até dar oportunidade para o meu filho mais novo, que saiu muito cedo – ele tinha sete anos –, de poder ter voltado ao Brasil, fazer algumas amizades aqui e eventualmente conhecer um pouco mais da cultura do Brasil, estando aqui antes de partir para os Estados Unidos.

P/1 – O que você sentiu quando chegou ao Brasil?

R – Eu senti uma angústia muito grande, porque eu acompanhava a distância todos esses desdobramentos políticos e econômicos. Eu sempre fui um estudioso da política e da economia, eu sabia de todas essas fragilidades do governo de esquerda, principalmente pela forma como eles pensam, porque eu estudei com muitos deles na faculdade. E eu achava que... E sempre falava isso de forma aberta, que esse governo era um engodo. Quer dizer, o Lula, ele teve o benefício da economia mundial, que o ajudou no governo, e isso demonstrou que, depois do fim do governo dele, a coisa começou a transparecer de uma forma diferente. Então, quando eu cheguei, eu senti essa pressão de ter que conviver com uma situação que eu sabia que não era boa, que era ruim e não ia terminar bem, e, ao mesmo tempo, tendo a responsabilidade de gerir um negócio que tem que olhar o Brasil sem esse viés político. Eu tenho que olhar sob o ponto de vista de negócio econômico. Por ser multinacional, é uma companhia que não se envolve no aspecto político, nós estamos aqui para fazer negócio, dar à população a melhor qualidade de produto que a gente tenha. Mas, como brasileiro, eu não poderia deixar de me contaminar sob o ponto de vista político, coisa que não existia comigo lá fora e isso é uma sensação até que esqueci de comentar e que existe na vida do expatriado. Quando você vai pra um outro país, e isso é uma característica da Colgate, do expatriado, você não se envolve emocionalmente com o país, politicamente falando, tanto é que suas decisões são eminentemente técnicas. Então, você não fala com o coração, você fala com a razão, e todas as decisões que eu sempre tomei em outros países... Eu não tinha esse sentimento político ou qualquer que fosse o sentimento que justificasse eu ter que pensar um pouco mais. Por quê? Porque é uma decisão racional. Aqui no Brasil, a hora em que eu sentei, eu comecei a ver que eu estava sendo contaminado por esse aspecto e não poderia deixar contaminar a razão, em função do ambiente político. Por quê? Porque eu não posso pensar assim. Só que, como brasileiro, acabou me contaminando um pouco. Então, esse também é um dos motivos em que a Colgate é mister, e que eu concordo em que ela tem que ter expatriados em determinadas posições, justamente por quê? Porque você tem que vislumbrar o negócio. Na medida que você é um executivo dentro do seu próprio país, invariavelmente você acaba pensando também com o coração, o que é natural, somos seres humanos e assim o fazemos, mas você faz de uma forma natural estando no seu país. No outro país, parece que tem uma chavinha que desliga, porque você não foi educado, você não tem referência pra poder fazer uso de informações que talvez justifiquem uma olhada diferenciada pra qualquer que seja o problema. Então, o que, às vezes... O que pegou quando eu desci do avião, eu falei: “Caramba!” Eu já comecei a ler o jornal, já comecei a me envolver politicamente com as coisas (risos). Mas eu soube administrar de uma forma bastante pacífica, e a gente viu, pelo desenrolar dos fatos, que a coisa se ajustou e espero que agora volte a se ajustar novamente, em função dos novos fatos que vêm aparecendo e que acabam contaminando o dia a dia, né? Pra vocês terem uma ideia, nós tivemos nessa semana apresentação pra toda a divisão da América Latina de todos os resultados, justamente na semana em que eclodiram fatos novos, que poderiam contaminar de uma forma gigantesca o que nós preparamos pra apresentar e o futuro. Felizmente, a coisa está dentro de um âmbito administrável ainda, mas eu fico muito mais nervoso trabalhando aqui, em função desse aspecto político, onde eu também tenho que dar satisfação pra matriz do que está acontecendo, como é que eu vejo etc. A hora que você vai falar de uma forma sentimental fica difícil, né? Quando eu falava de política em outros países, eu falava de uma forma muito fria: “Não, é isso, isso, isso e isso”. Aqui eu tenho um pouco mais de sentimento pra poder colocar uma pitada de sal na equação (risos). E, aí, eu tenho que saber bem, pra não ficar salgado esse molho. Então, isso é o que me marcou um pouco quando eu voltei ao Brasil.

P/1 – Então, hoje, aqui, o seu trabalho, ele é exatamente... Qual é a sua função?

R – Eu sou vice-presidente financeiro da Colgate Brasil e aí eu tenho duas áreas de foco: uma é a estratégica e a outra é a operacional. A estratégica, ela está mais focada na área do planejamento financeiro e da parte comercial, onde eu tenho que assegurar que o planejamento financeiro que foi feito está em linha com as atividades comerciais. Em linha com as atividades comerciais no sentido de que o que está sendo feito no campo está sendo bem executado e que não representa um risco financeiro em função daquilo que a gente pensou. Então, o meu primeiro foco é o estratégico, eu tenho que dar muito suporte pra área comercial, que depende da área financeira, pra assegurar que a gente está fazendo, que estamos executando atividades rentáveis e que vão gerar retorno pra companhia. Esse é o primeiro foco. O segundo foco é o operacional, onde eu tenho que assegurar que a empresa, ela está cumprindo todas as regras tributárias, contábeis, pra que nós não sejamos objeto de autuação por parte da Receita Federal, do município, do Estado. Quer dizer, garantir que todos os impostos estão pagos, toda a contabilidade está sendo bem executada. Não existe a contabilidade criativa que a gente viu aqui no Brasil, que foi perpetrada amplamente pelo governo federal. E aí, com isso, ter os profissionais certos nas posições certas, e um terceiro vetor é desenvolver pessoas. Na minha posição, onde eu estou desenvolvido e continuo ainda me desenvolvendo, eu tenho a obrigação de saber quem são as próximas pessoas que vão estar sentadas na cadeira de cada um dos gerentes e, dos gerentes, quem vai estar sentado na minha cadeira no futuro. Então, eu também tenho a obrigação de fazer, criar um corredor de potenciais talentos que a companhia possa fazer uso no médio e longo prazo, porque, se não, a gente vai ter que começar a recrutar no mercado e não é a filosofia da Colgate. A Colgate, ela cria na base profissionais com a cultura da empresa, o conhecimento da empresa, pra que eles estejam aptos a tomarem decisões que remetam não só ao passado como também ao futuro. Quer dizer, para tomada de decisões, a gente sempre consulta a história, mas tem que ser uma história que você tenha vivido, principalmente pelos anos que você tem de companhia, que é o meu caso, e também, obviamente, tendo a capacidade de poder olhar ao longo prazo. Então, são três vetores ou responsabilidades maiores que eu tenho, além de ser ponto de comunicação entre a matriz e a subsidiária, no sentido de assegurá-los de que a coisa está bem, não está bem, o que precisa ser ajustado ou não. Então, eu sou, vamos dizer, o olho da corporação no que diz respeito à execução das atividades comerciais e ao cumprimento das obrigações assessórias fiscais, no que diz respeito às leis brasileiras. Quer dizer, sem esses dois vetores e o terceiro, que é criando pessoas, sem esses três vetores, eu não estaria aqui. Eu tenho que ter habilidade pra trabalhar nos três flancos.

P/1 – Você disse que você tem que estar sempre analisando a história pra desenvolver esse trabalho. Como você vê a Colgate fazer 90 anos no Brasil?

R – É uma empresa que veio numa época difícil. Primeiro, ela veio em 1927, quase perto da queda da bolsa de Nova York, em 1929. Quer dizer, é uma multinacional que começou expandindo numa época muito difícil sob o ponto de vista econômico. E, depois dessa primeira expansão internacional, ela construiu a primeira fábrica em 1945, aqui nesse prédio onde vocês estão agora, aqui na Vila Mariana. Não existia absolutamente nada, em plena Segunda Guerra Mundial, ela veio aqui, em 1945. Então, eu vejo a Colgate como uma empresa visionária, que começou lá em 1927, com o William Colgate, já vislumbrando que o futuro não estava essencialmente dentro dos Estados Unidos. Era uma empresa que já tinha um viés expansionista, independente até dos momentos em que ela viveu à época. Então, eu vejo a Colgate fazendo 90 anos aqui no Brasil de uma forma muito sólida e de uma forma muito bem planejada e que começou muito tempo atrás, dentro de uma cultura de empresa americana que hoje poucas têm, no que diz respeito a saber que o ativo mais importante que ela tem hoje são as pessoas. Por quê? Porque são as pessoas que sustentam a marca, a marca é o que faz a empresa ser uma empresa bem-sucedida. Por quê? Porque a tecnologia hoje de produção, que seja de creme dental, de sabonete, não é nenhuma tecnologia que fábricas menores ou marcas menores não conheçam. Mas a qualidade, como se faz isso, a forma como se faz isso, o grau de inovação que se coloca por detrás de cada um dos produtos, é isso que faz a diferença, e eu acho que é esse o sucesso que a Colgate vem tendo ao longo dos seus 90 anos de Brasil. Quer dizer, é uma empresa que sempre se preocupou com o aspecto técnico e a qualidade de produto, com o aspecto pessoal, das pessoas, no que diz respeito a desenvolvimento, e também com a sociedade que circunda a empresa, no que diz respeito a atividades sociais, no que diz respeito à educação. Nós temos um plano que é o “Sorriso Saudável, Sorriso Brilhante”, que está há mais de 30 anos no Brasil, percorrendo escolas, percorrendo o interior de várias regiões do Brasil, no sentido de dar educação em higiene oral pras crianças na escola. Temos parceria com o governo nesse sentido, para os agentes comunitários que visitam comunidades mais pobres, no sentido de dar higiene oral pras pessoas, mostrar a importância da higiene oral. Então, o conjunto da obra dos 90 anos da Colgate, ele não aconteceu alguns anos atrás, ele vem acontecendo ao longo de muitos anos, em função da cultura empresarial. E a Colgate está fazendo 90 anos de Brasil junto com Colgates que estão fazendo muitos outros anos em vários outros países também, em função da mesma filosofia, a filosofia da qualidade do produto, da inovação, da tecnologia e principalmente do reconhecimento das pessoas aqui dentro da companhia, que são o que sustenta o ativo e a marca da empresa.

P/1 – O que você acha de estar participando desses 90 anos, estar fazendo parte desses 90 anos, e contando sua história para o Museu da Pessoa?

R – Eu me sinto jovem – independente dos 90 anos da Colgate – ainda e eu acho que é uma oportunidade ímpar, não só de participar da história da Colgate nos 90 anos, como do Museu da Pessoa, que é um museu que eu acho que é pra sempre. E você pensar que você pode, pelo menos com algumas palavras, com o depoimento, contar um pouco dessa história e saber que alguém, um dia, no futuro, ou vai estar escutando ou vai saber por intermédio de alguma publicação aquilo que eu estou falando aqui. Pra mim, já me faz sorrir e me sentir emocionado sabendo que eu fiz parte da história, não só sob o ponto de vista profissional. Mas eu tenho certeza que não só aqui no Brasil, em outros países em que eu trabalhei, eu vou ser lembrado não pelo que eu fiz, mas pela oportunidade que eu dei pras pessoas de crescerem, como aqueles que me deram oportunidade aqui também, né? Então, eu acho que esse é o meu papel, e o papel de construir uma história junto com a empresa e também de desenvolvimento de pessoas, que vão poder, talvez, replicar aquilo que eu penso que é o correto, que é poder ajudar pessoas em determinado estágio da sua vida, pra que essas pessoas cresçam, e a sociedade cresça como um todo.

P/1 – Pensando agora na sua vida, e a gente ouviu uma parte dela, quais foram os momentos mais marcantes que você acha que te fizeram chegar até agora? E, nesse sentido, quais desses momentos te fazem se sentir satisfeito, sorrir também?

R – É, sorrir. Chegar onde eu cheguei exigiu muito sacrifício da minha parte. É como eu sempre falo para as pessoas: as pessoas às vezes só veem as pingas que a gente toma, não veem os tombos que a gente leva, né? O que eu sempre disse para as pessoas é o seguinte: “Você tem que fazer algum tipo de sacrifício pra você conseguir alguma coisa”, na medida em que você ou não nasceu em berço de ouro ou não ganhou na loteria. Então, qual é esse sacrifício? O sacrifício é estudar e trabalhar muito. Em que época? Quando você é jovem, quando você tem mais aquela vontade de querer e aproveitar a vida. Eu renunciei a muito da minha juventude pra poder estudar, pra poder trabalhar, sabendo que, para estar onde eu estou, eu teria que sacrificar. Então, eu diria que entre os 20 e os 30 e poucos anos, eu tive muitos sacrifícios, mas não em detrimento do que eu poderia aproveitar, mas em benefício do que eu vislumbrava para o futuro. Os momentos de satisfação, obviamente, foram quando eu comecei a ter uma ascensão mais vertiginosa aqui dentro da companhia e que coincidiu, por exemplo, com o nascimento da minha primeira filha, onde eu assisti o parto, fiz o parto. Depois, o nascimento do meu segundo filho, que são coisas que você realmente não esquece, principalmente quando você participa do parto. Depois, com as oportunidades que eu fui recebendo aqui, de poder ser exposto à comunidade internacional, que eram os executivos de fora que vinham e que, de alguma forma, te testavam e, quando te testavam, você chegava à conclusão: “Será que eu fiz certo? Será que eu fiz errado?” E eu tive a satisfação de ver que não foi em vão um pouco do sacrifício que eu fiz pra poder estar naquele momento, quando tecnicamente o cavalo selado não passa duas vezes, quer dizer, você pega aquele lá ou não vai. E, dentro de um crescimento profissional, foi a minha primeira expatriação com a família o reconhecimento da companhia do potencial que eu tinha pra poder executar a tarefa de fazer um hub lá no Cone Sul da América Latina e também o MBA que eu fiz aqui pela Colgate, quando eu estudei por um ano, deixando meio que o trabalho de lado. Eles me colocaram como um potencial candidato dentro de um programa que eles chamam de Global Leadership Training 20 30, quer dizer, são os próximos líderes, os líderes dos próximos 20 ou 30 anos. Isso eu fiz em 2012, 2011 pra 2012, em Dartmouth, que fica em New Hampshire, nos Estados Unidos, é a Tuck Business School. E por um ano, junto de um grupo de outros executivos da Colgate, nós fizemos esse MBA, trabalhando num projeto da corporação, que foi muito bem recebido. Então, foram momentos que realmente são inesquecíveis, e eu lembro da minha graduação. Foi interessante porque nós nos mudamos da Argentina pra África do Sul em 2012, isso foi no mês de julho. Eu deixei a minha esposa sem cartão de crédito, sem conta bancária, com uma pilha de dinheiro, um carro que ela tinha que dirigir do lado direito – porque lá se dirige ao contrário –, duas crianças, dois adolescentes pra irem pra escola, e eu fui para os Estados Unidos por um mês pra fazer a graduação, o trabalho de conclusão e a apresentação. Então, você imagina como eu estava lá, a família lá na África do Sul sozinha, num país totalmente diferente do que a gente tinha vivido, e no final deu tudo certo. Eu fiz a graduação, recebi o diploma das mãos do Ian Cook, que é o CEO mundial aqui da Colgate, e a partir daí foram satisfações adicionais, no sentido de poder me relacionar mais com os executivos de Nova York, na medida em que você ganhando conhecimento, networking. Enfim, eu poderia dizer que os momentos de Colgate foram esses, e os momentos pessoais eu poderia dizer que o aniversário de 15 anos da minha filha foi um momento inesquecível, porque ela fez 15 anos na Argentina e se celebra de uma forma muita intensa. Parecia um casamento. Dancei com ela, tive que ensaiar, foi uma época muito interessante. Teve o aniversário de 40 anos também da minha esposa lá na Argentina, que também fizemos uma festa. Depois teve agora o aniversário do meu filho, que recém completou, que são momentos interessantes. Eu fiz um aniversário de 40 anos, que foi uma festa bárbara, antes de sair do Brasil, e depois tive a grata satisfação de ser transferido para o Brasil quando eu completei 50 anos. E aí, quando eu cheguei no Brasil, fiz uma festa enorme de 50 anos, onde eu tive a oportunidade de convidar não só amigos de longa data como pessoas aqui da Colgate. Então, a celebração dos 50 anos aqui no Brasil foi muito especial. E eu gosto muito de fazer festa junto da minha esposa, em casa, receber as pessoas, justamente pra poder sorrir e celebrar a vida diante de qualquer motivo, por menor que seja. A gente senta, conversa e celebra.

P/1 – Qual é o sonho que te faz sorrir?

R – Sonho que me faz sorrir? É uma pergunta bastante profunda, mas sonho... Meu sonho hoje é poder ver os meus filhos se desenvolverem como eu me desenvolvi e sem os percalços que eu tive que passar. Isso me faz sorrir, vendo que eles podem aproveitar e se desenvolver até de uma forma um pouco mais ampla, sabendo que muitas das dificuldades que eu tive eles não vão ter que ter. Então, isso me faz sorrir, porque eu vejo que não foi vão o meu sacrifício em função daquilo que eu vislumbrava pra mim, isso me faz sorrir bastante. Obviamente, ficaria mais feliz ainda se a gente pudesse ver o mundo um pouco melhor para aqueles que não são tão privilegiados ou que não tiveram a oportunidade adequada pra poder conquistar o mínimo que seja pra poder ser feliz. Então, eu acho que o que me faria muito feliz é ver que o mundo, ele tem mais oportunidade e, se eu puder colaborar com oportunidades pra outros que estão ao meu redor, eu sempre vou colaborar, como sempre colaborei com a minha esposa para os mais necessitados. Mas eu acho que isso me faria sorrir ainda mais, sabendo que a gente caminha pra um mundo um pouco melhor.

P/1 – Você ainda é religioso?

R – Sim, eu sou protestante, minha esposa é católica, nós tivemos um casamento ecumênico, mas aí, durante o casamento, eu tive que me comprometer a dar uma educação católica aos meus filhos. Então, eles fizeram a primeira comunhão, mas não sou uma pessoa praticante etc. Quer dizer, eu vou à igreja de vez em quando com a minha esposa, vou à Igreja Católica. Eu acho que, independente dos credos e das diversas religiões, eu acho que o sentimento, ele supera qualquer tipo de rótulo que possa existir. Eu não tenho absolutamente nada contra nenhum tipo de religião, mas não sou um praticante ativo, de todo domingo estar na igreja, não.

P/1 – Você gostaria de falar alguma coisa além, que a gente não te perguntou?

R – Não, eu acho que...

P/2 – Deixar registrada alguma história?

P/3 – Algum fato pitoresco que aconteceu na sua vida que você possa contar detalhadamente, alguma coisa que te marcou?

R – Olha, muitas coisas, como eu falei, me marcaram. Pra uma pessoa de 50 anos, existem tantos fatos na vida que, e um eu acho que não elimina o outro, e todos foram fatos agradáveis, nunca nenhum... Obviamente, dissabores na vida a gente tem, mas não a ponto de poder impedir que você seja feliz. Mas, enfim, fatos talvez corriqueiros, não corriqueiros, mas talvez reminiscências de infância, por exemplo. Eu lembro que, e isso até tem relação com o telefonema que eu recebi do meu filho ontem, que é interessante isso, eu acho que a história se repete. Quando nós morávamos na África do Sul, o meu filho, como o pai, dirige desde os 14 anos – quer dizer, eu dirigia acho que desde os 14 anos, louco por carro, é umas das outras paixões que eu tenho, talvez um dos meus grandes sonhos seja poder ter dinheiro o suficiente pra poder comprar um carro esportivo pra poder acelerar no fim de semana (risos). Mas, então, eu sempre dirigi, desde pequeno, e lá na África do Sul, o meu filho, já com 14 anos, falou: “Pai, vou dirigir.” Eu falei: “Vamos!” E o interessante é que ele sentou no carro, pegou o carro e saiu, e eu, ao lado do meu filho, eu olhava aquilo, eu falava: “Caramba, deve ser o mesmo DNA, é impossível.” Quer dizer, como é que entra num carro, pega e já sai? Está certo que era automático, não é manual, da minha época. E, lá na África do Sul, ele pra cima e pra baixo no condomínio com o carro etc. E minha filha mais velha, ela, pra dirigir, acho que vai ter que entrar numa autoescola especial, porque ela não tem a mínima noção (risos) e nem precisa, porque é um conceito, eu acho, dos jovens hoje, de mobilidade, nem tanto de necessidade de carro. Ela, em Nova York ainda, há menos ainda a necessidade. E ela até falou comigo esse dias, fala: “Pai, será que um dia eu vou aprender a dirigir?”, eu falei: “Fica tranquila, eu te ensino”. Mas, voltando às reminiscências de infância, eu tinha acho que 18 anos, no interior, com o carro do meu tio, e lá eu dirigia, e bateram em mim. Eu não tinha carta ainda, mas já, por sorte, eu tinha 18 anos, e o culpado foi quem me bateu, porque eu dirigia superbem. Passou numa preferencial, e a gente acomodou a situação e não houve maiores prejuízos, mas é uma coisa que sempre me marcou, aquela batida, né? E aí o meu filho, agora com 18 anos, antes de ir para os Estados Unidos, começou a querer tirar carta para poder validar lá nos Estados Unidos, porque é menino, dirige, quer dirigir e está fazendo agora as aulas teóricas, ainda não entrou em aulas práticas. E ontem ele me ligou, falou: “Pai, eu vou sair com uns amigos. Posso ir de carro?” E aquilo me remeteu imediatamente na linha do tempo a quando eu tinha 18 anos, quer dizer, há mais de 30 anos, lembrando daquela situação onde bateram em mim, eu não tinha carta, mas já era maior. E ele, tendo que se formar hoje, amanhã tem outra festa. Eu fiquei com aquele dilema: será que eu deixo? Me deu uma razão de dois segundos, eu falei: “Não” (risos). Mas me deu uma dor no coração. Por quê? Porque eu, quando tinha 18 anos e saía de carro, você se sentia como o rei do ambiente, em relação aos seus amigos que talvez não tivessem ou não pudessem. E ontem eu senti que o meu filho queria fazer isso, sair de carro, ir para o shopping com os amigos, e eu acho que podei esse momento, mas eu podei eu acho que em função da situação onde eu falei: “Não pode acontecer nada entre hoje e amanhã, porque você vai se formar, depois tem uma festa, vai que batem em você.” Você começa a pensar, mas foi um fato engraçado que aconteceu esses dias e que, entre muitos outros, eu poderia ficar aqui discursando, mas que conecta com os meus 18 anos, os 18 anos dos meus filhos aos meus 50 anos (risos).

P/1 – Eu queria agradecer em nome do Museu da Pessoa.

R – Não, muito obrigado, eu que fico feliz de poder participar.

P/1 – Muito bacana a sua história de vida, inspiradora.

R – É, vida de sacrifícios, mas eu posso sorrir (risos). Eu sorrio por ela, é isso. Muito obrigado, Karen, Rosana, é um prazer.