Museu da Pessoa

Floresta ativa

autoria: Museu da Pessoa personagem: Edgard Campinhos Junior

Memórias Aracruz
Depoimento de Edgard Campinhos Júnior
Entrevistado por Edvaldo Melo e Maria Aparecida Mota
Aracruz, 11 de dezembro de 2003
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número ACZ_HV026
Transcrito por Marcília Ursini
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães

P/1 – Bom dia, Edgard.

R – Bom dia, Edvaldo.

P/1 – Eu gostaria de começar perguntando seu nome completo, data e local de nascimento.

R – Meu nome é Edgard Campinhos Júnior. Eu nasci em Linhares, no estado de Espírito Santo, em 1937, dia 31 de outubro de 1937.

P/1 – Qual é o nome dos seus pais?

R – Meu pai Edgard Campinhos e o nome da minha mãe Maria Oliveira Campinhos.

P/1 – Você lembra o nome do seus avós?

R – Avô materno é Joaquim da Rocha Oliveira e minha avó (Lionide Melicuzo?) de Oliveira. O meu avô paterno era Eurico Campinhos e minha avó é Carlota Campinhos.

P/1 – Qual era atividade profissional dos seus pais?

R – Meu pai, ele estudou numa escola agrícola em Juiz de Fora. Ficou órfão muito cedo e depois que ele se formou, ele foi convidado pelo governo do estado do Espírito Santo para trabalhar numa estação de pesquisa em Linhares, na fazenda Goytacazes. Então ele veio muito cedo para cá. O irmão dele também veio. Terminou seus estudos. Foi ser professor e ele foi ser chefe da estação de pesquisa do governo do estado do Espírito Santo em Linhares. E a minha mãe era professora de Vitória. Então eles se conheceram. Casou, se casaram e vieram morar nesta estação de pesquisa em Linhares. Isso foi... Eu nasci em 1937, eles se casaram no começo do ano, eu nasci em outubro. E depois eu nasci nessa estação de pesquisa. Fiquei lá até com um ano de idade, quando eles se mudaram para o Rio.

P/1 – E os seus avós? Eles tinham alguma área, trabalhavam em uma área específica?

R – Não, o meu avô materno, ele era um conferista. Fazia conferência de café em Vitória. Era uma atividade muito grande café, né, num armazém muito importante. E a minha avó era do lar. Costurava. E os meus avós paternos, eles morreram cedo, com aquela gripe espanhola. Então os meus pais... O meu pai ficou órfão logo cedo. Ele tinha atividade em Juiz de fora. Ele tinha um teatro naquela rua (Realfit?), o cinema, né? Aí depois morreu e tudo se acabou lá.

P/1 – Você tem irmãos?

R – Eu tinha um irmão. Ele morreu com 50 anos de idade. Era médico.

P/1 – Mais velho, mais novo que você?

R – Era mais novo seis anos do que eu.





P/1 - __________ como é que era a rua e o bairro onde você cresceu?

R – Bom, a origem do meu pai é agrícola, né, era técnico agrícola. E ele era... Passou a ser administrador de fazendas. Eu nasci em Linhares numa fazenda, numa estação de pesquisa, que vai ter muito a ver com o meu futuro. Então ele sendo administrador de fazenda, ele foi trabalhar na fazenda do Grupo Peixoto de Castro, que depois foi ser meu padrinho, Peixoto de Castro, do Rio de Janeiro, na Fazenda Bela Vista em...

P/2 – Como é que era a fazenda, Edgar?

R – Uh?

P/2 – Como é que era essa fazenda?

R – Era Fazenda Bela Vista, em Bananal. Tem água aí?

(pausa)

P/1 – Edgar, como era a fazenda onde você cresceu?

R – A fazenda era chamada Fazenda Bela Vista. Era uma grande fazenda no estado de São Paulo, no município de Bananal, que pertenceu anteriormente a Edmundo Bittencourt. Foi comprado pelo meu padrinho, Peixoto de Castro, e o meu pai foi administrar a fazenda. E a minha infância foi passada ali até os seis anos, sete anos, quando fui para o Rio estudar. Não havia escolas naquela época próxima. Então fui estudar no Rio, na casa da minha avó, lá no bairro de Laranjeiras. Estudei no Externato (São Calixto?), que é um colégio muito bom, um colégio francês, na rua Paissandu. E aí, então, eu vivi lá no Rio de Janeiro uns três anos. Depois fui para outras escolas e sempre passando férias em fazenda, me apegando muito a essas atividades agrícolas. E me identifiquei muito com isso. Aí depois fui morar em outra fazenda em Angra dos Reis. Meu pai também foi administrador da fazenda. Aí estudei em outros locais, como em Barra Mansa. Mais tarde, meu pai mudou-se para outra fazenda no sul de Minas, em Passa Quatro, numa fazenda chamada São Bento, que era do senhor Antônio Ermírio de Moraes. Atividade era madeira e carvão para a siderúrgica deles em Barra Mansa e Saudade. E eu sempre estudando fora, fora de casa. Fui interno Salesiano Santa Rosa em Niterói e depois meus pais se mudaram para Vitória, no Espírito Santo e eu estudei em Itajubá, anteriormente, Científico, dois anos de Científico em Itajubá. Terminei em Vitória e trabalhei depois na prefeitura municipal de Vitória por uns dois anos, três anos. E juntei um dinheiro... Aí fui para Viçosa, estudar em Viçosa.

P/1 – Mas Edgar, vamos voltar um pouquinho na infância ainda, como eram as brincadeiras na sua infância, tanto na fazenda, quanto no Rio de Janeiro?

R – Brincadeira... No Rio de Janeiro era muito restrito. A gente ficava mais em apartamento, ficava muito seguro, né? Era ir a praia do Flamengo com os meus filhos. E na fazenda era molecagem o dia inteiro. Era caçar passarinho... Não tinha criança e a tarde ia brincar de roda. Tinha um terreirão de café. Então eles juntavam os filhos de empregados, todas as crianças, né? De tarde ia brincar e ficar em atividade o dia inteiro em férias lá, né, na fazenda subindo em árvore, caçando passarinho etc.

P/1 – E como era o cotidiano da sua casa? A família se reunia para o almoço, no café? Como era o dia a dia na sua casa?

R – É, sempre na fazenda a gente almoçava junto, tomava café junto e jantava. Tinha fazendeiro vizinho que vinha, às vezes, tocar piano à noite, né? E naquela época, claro, não tinha televisão, não tinha nada. Era dormir cedo, acordar cedo, ir para o curral de pijama. Ia lá tomar leite no peito da vaca e era o dia inteiro solto na fazenda com a turma toda. A mãe nem sabia onde é que a gente andava, tomar banho em rio, andar a cavalo.

P/1 – E o senhor falou que estudou em vários colégios...

R – Estudei em muitos colégios. Pelas mudanças do meu pai, tive que estar mudando...

P/1 – Como era isso para você estudar em vários colégios? Era difícil...

R – Era difícil, que era, depois passou sempre em colégio interno e aprendi a ser muito independente porque tive que desde cedo, desde... Fiquei na casa da minha avó dois anos, três anos. Com oito anos já fui para colégio semi-interno. Então eu tinha que me virar. Era um semi-interno, eu morava no colégio, né, em Barra Mansa. Então você tinha que fazer o seu ____ de roupa, controlar as suas coisas, tomar conta de tudo, estudar e depois fui interno no Salesiano lá em Niterói. Também a mesma coisa. Tem que... Era aquele regime de padre e era horário para estudo, hora para levantar, para café, todo dia missa, especialmente em maio, né? Então a gente aprende a ser bem disciplinado e tomar conta das suas coisas.

P/1 – E quais são as lembranças mais marcantes que você guarda dessa época, assim, do colégio, da escola?

R – De escola era... Digamos, em Niterói, a gente saía programadamente para fazer piquenique em praias. Ia a turma toda de ônibus com os padres. Ia visitar museus e era um aprendizado bastante interessante. Muita disciplina, muito bom. E depois... Nas férias eu gostava muito de estar sempre especulando as coisas. Meu pai tinha... Depois teve uma indústria. Eu mexia muito na oficina. Fazia... Mexia em ferramentas, em máquinas e numa fazenda, quando eu era pequeno, sofri um acidente. Perdi uma falange de um dedo. E estar sempre mexendo com coisas diferentes. Fazia pólvora e fazia canhão. Aí em Itajubá, fazendo uma bomba, perdi mais uns pedaços de dedo e sempre inventando coisa, né? E sempre gostando de parte de mecânica e parte de plantas, parte agrícola. Mas nunca me interessei por parte, digamos, a parte... As matérias de Biologia, como se fosse área de Medicina, Odontologia, eu não me adaptava com essas áreas. Mas sempre com a parte de minerais, com plantas, com máquinas, com explosivos e brincadeira desse tipo. E desde cedo, desde criança, fazia enxertos e com isso, acho que tem muito a ver com o que eu fui fazer depois. Foi criada a escola de Florestas em Viçosa, na época do presidente Juscelino Kubitschek e fui levado para Viçosa, na terra de (Artur Bernardo?). E ali eu estava lá me preparando para o vestibular, quando foi criada a Escola Nacional de Florestas. Aí fiz o vestibular e cursei o curso de Engenharia Florestal, que iniciou-se em Viçosa e terminou em Curitiba, né, pela transferência da escola para lá. Me dediquei, então, muito a essa área de viveiros de plantas, é o que me atraía muito, né?

P/1 – Você disse que foi atraído, mas o seu pai incentivou a essa escolha?

R – Não.

P/1 – Sua família como um todo?





R – Não, não incentivou porque foi uma consequência por morar em fazenda, estar sempre ligado a plantas, a assuntos, escutava sobre plantio, sobre colheitas, sobre animais. Então aquilo me despertou bastante, mas meus pais nunca influenciaram “faz isso, faz aquilo”.

P/1 – Na sua juventude você falou dos passeios, tudo mais. Você tinha um grupo de amigos, assim, que conservava com mais afinco, de férias, por exemplo?

R – De férias tinha os meus primos, né? Era da família da minha mãe, foi ela que casou primeiro. Então eu sou o mais velho de todos os primos. Então a gente se juntava, às vezes, no Rio, passar férias no Rio, com... Na casa da minha tia. Aí juntava com os primos, Armando, Fernando. E brincadeira lá no Rio era mais soltar papagaio, soltar balão, essas coisas todas, né? E brincar na rua à noite, isso é lá no Meyer, né? Depois a gente ia para a Urca. Eles mudaram para a Urca. Então a gente frequentava muito com os amigos de rua ali, o Forte São João, a praia da Urca lá dentro do Forte, né? Então sempre passava as férias lá. E, às vezes, eles, a metade das férias, eles iam para fazenda, né? Vinham os primos, os tios e amigos. Então era isso. Fazia...

P/1 – Praticava esporte também?

R – Esporte, na época, era mais natação, né? Depois crescia um pouco era mergulho, mergulho na praia, era no mar para a pesca depois de lagosta. Isso foi mais aqui no Espírito Santo, quando eu mudei para cá, com os meus primos aqui de Vitória, né? A gente saía de barco pelas ilhas, mergulhava, pegava lagosta, peixe. Esse era o esporte que a gente fazia mais. E depois vôlei, basquete. Futebol nunca me atraiu muito.

P/1 – E esses esportes, assim, vôlei, basquete, jogava na rua, tinha um clube, como era?

R – Era clube, né? Quando estava em Passa Quatro, a gente tinha o clube. A gente formava um grupo e dava o nome de uma equipe, né? E jogava lá em Passa Quatro, no sul de Minas, né? Era mais assim.

P/1 – Como é que você se vestia? Como era a moda nessa época, na sua juventude?

R – Era calça curta, né? Calça curta quase o tempo todo. Tênis, não tinha esses tênis sofisticados. Era o chamado Keds, né? Usava Keds. E no colégio usava sapato que a gente chutava pedra e não conservava nada. Era um sapato bem bruto. Era o sapato chamado Tanque, da época, né? E a minha mãe botava pregos embaixo.

P/2 – Para quê que ela botava prego?

R – Para não gastar muito.

P/2 – Como que era na faculdade em Viçosa? Você morava em República?

R – Morava interno na escola. A escola, na época, ainda tinha alojamento para todos. Depois foi crescendo, aumentaram os alojamentos, mas tinha que morar na rua, né? Aí morava em pensões, em república, né? Lá em Viçosa a gente morava em alojamentos, apartamento para quatro estudantes, ou sete estudantes, oito estudantes.

P/2 – Era muito puxado o estudo em Viçosa?

R – Era e era bem puxado, especialmente, muito interessante porque você morava dentro da universidade, né? E os professores utilizavam seu tempo integral só para atender às pesquisas, os departamentos, aos alunos, né? Então você tinha sempre uma equipe a sua disposição, tinha sempre a disposição. Então você se dedicava mesmo. Tinha que pesquisar, ir na biblioteca, ir para o campo. Tinha aula prática, né? Era muito interessante. Tinha uma forma de estudo formidável.

P/2 – Por que ela se transferiu para Curitiba?

R – A minha escola, Escola Nacional de Florestas, né? Porque a nossa escola era uma escola federal e a universidade na época era estadual. Era Universidade Rural de Minas Gerais. Então, por problemas administrativos, a FAU, que era quem suportou a nossa escola com os professores estrangeiros, porque no Brasil, na época, não tinha especialistas em florestas, nas matérias de Floresta. Resolveu transferir para Curitiba, que era Universidade Federal e atividade florestal e madeireira era muito mais intensa no Paraná, né? Então a escola foi para lá. Mas logo em seguida o governo de Minas Gerais criou outra escola para atender a expectativa de Minas Gerais. Tinha muito plantio de eucalipto para carvão e tinha os professores. Aí foram se criando outras escolas no Brasil. Hoje tem cerca de 22 escolas de Engenharia Florestal no país.

P/1 – O senhor lembra de onde vinha essas professores estrangeiros?

R – Eles eram todos contratados pela FAU. A maioria era, praticamente, todos eram europeus, né? Tinham professores da Holanda, professores da Alemanha, professor de Portugal. São especialistas em florestas. Tinha professor austríaco, né? E as cadeiras básicas eram dadas por professores brasileiros mesmos, ligados à escola de agronomia, como os dois primeiros anos eram comuns. Depois os outros três anos, que era um curso de cinco anos, já era professores de cadeiras específicas. Até se formar alunos para se tornarem professores e ocuparem as cadeiras como ocorre hoje, né?

P/1 – O senhor deslumbrava essa possibilidade para o seu futuro?

R – Não, de professor não. Não gostei de lecionar não. Eu queria trabalhar em pesquisa, trabalhar no campo e nem fiz uma pós-graduação. Resolvi logo começar trabalhar e desenvolver as atividades que eu tinha visto em outros países, que eu tinha viajado também e tinha lido muita literatura, né? Aí comecei logo a trabalhar. Também eu não tinha muito tempo para estudar porque eu tinha um pouco de dificuldade financeira, né? Eu tinha que trabalhar logo.

P/1 – Vamos voltar nisso daqui a pouco, mas eu quero voltar na juventude. Na faculdade de Viçosa, o que vocês faziam no tempo que tinha vago? Que locais vocês frequentavam na cidade?

R – Ah, sim. Em Viçosa, Viçosa é uma cidade muito acolhedora, né? E atividades ali, dentro da escola, era piscina. Tinha muito esporte, basquete, vôlei. Tinha o centro estudantil, tinha música, tinha muito baile e na cidade também a gente frequentava clubes, né? Tinha clubes na cidade, que os estudantes eram bem vindos. E cinema era... Por exemplo, na quarta-feira e depois ao sábado e domingo passear na praça encontrar com os amigos porque na universidade era todo mundo conhecido, né? E não eram muitos estudantes naquela época, né? Só tinha escola de Agronomia, escola de Floresta, a escola de Ciências Domésticas, das moças e técnico agrícola. Então era um grupo bem reduzido. Hoje são mais de 15 mil alunos lá. Então a gente ia sábado à noite. À noite era estudar mesmo porque era puxado. Tinha que estudar e malhar mesmo. E sábado e domingo ia para a cidade, para praça, cinema. Depois do cinema bater papo, ir ao clube. Domingo era... Tinha missa na escola, tinha padre Mendes, que era o capelão, né? Ou, então, missa na cidade, na praça, igreja matriz na praça. E as atividades eram essas assim.

P/1 – E os namoros?

R – É, tinha bastante namoro. A meninada ficava querendo pegar um agrônomo lá.

P/1 – O agrônomo era visado pelas meninas?

R – É, pessoal estudava, namorava. Depois vieram os engenheiros florestais também, né? E tinha as meninas que eram as pica-couve, chamada pica-couve, porque era o apelido que se dava, né? As moças da Economia Doméstica eram as pica-couve. Os estudantes de Agronomia eram os pica-fumo e depois engenheiro florestal chegou lá, deram o apelido dele de pica-pau.

P/1 – E o senhor falou que viajou bastante nesse período para conhecer. Como é que foram essas viagens? Conta para gente.

R – É, dentro do Brasil, nós fizemos... Procurei fazer sempre estágios durante o curso em todas as férias para se ambientar um pouco com a futura profissão, conhecendo empresas florestais, que já haviam várias no Brasil. Empresas de papel, celulose, como a companhia Melhoramentos, companhia Cambará do Sul. A Champion e Belgo Mineira, Acesita e todas as empresas. A gente procurava conseguir o estágio durante as férias para já ir praticando e conhecendo, aprovar a futura profissão, né? Então viajava bastante fazendo isso pelo Brasil.

P/1 – Mas havia algum interesse específico em alguma área para o senhor nessa época? Que rumo o senhor queria para a sua carreira?

R – Eu já vislumbrava essa área de silvicultura, dentro da Engenharia Florestal, você pode seguir política florestal, manejo florestal, silvicultura, a parte de indústria, a parte de papel e celulose, pesquisa florestal, solos, nutrição de plantas, fitopatologias, entomológicas. Então tem uma série de atividades que são desenvolvidas em Engenharia Florestal, né? E o que eu gostava mesmo era da área de silvicultura, que era a silvicultura, melhoramento florestal, área de genética, né, que envolve viveiro, produção de mudas, plantio, preparo dos solos, pesquisa em genética, produção de plantas, propagação de plantas, que posteriormente, eu vim me dedicar a Aracruz para introduzir, aperfeiçoar a tecnologia da clonagem aqui dentro. Então o que eu vislumbrava era essa área da Engenharia Florestal.

P/1 – Então vamos falar de trabalho agora. Como é que foi que você saiu da faculdade, já foi conseguir logo um trabalho, como foi a sua trajetória?

R – Nós nos formamos e já tínhamos feito contato anteriormente sobre possibilidade de trabalho lá em Minas Gerais, no estudo estadual de florestas. Mas foi se postergando, foi demorando, até ser aprovada admissão desses técnicos e aí me surgiu possibilidade de trabalhar na Bahia, no Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário, no núcleo colonial em Ituberá, na Bahia. E aí nesse núcleo, a atividade que eu desenvolvi, porque o núcleo era composto de lotes de pequenas chácaras, pequenas fazendinhas, que o governo estabeleceu essas famílias para trabalhar e tinha uma administração central e lá tinha o objetivo de plantar o mais adequado àquele clima, àquele solo, àquelas região. E o lote tinha parte de florestas ainda, parte de madeira que tinha que ser manejada, preservada e bem cuidada. Então a minha atividade, então, foi para cada lote fazer um tipo de manejo e separar as áreas de preservação permanente, as áreas de preservação de água das nascentes, para que fosse um trabalho, um trabalho de produção sustentada, né? E aí eu trabalhei durante dez meses, quando estabelecemos os trabalhos diversos, lotes desse núcleo colonial. Aí eu fui chamado para trabalhar no Instituto _____ de Florestas em Minas Gerais. Como já tinha feito, solicitação anteriormente, né? Aí nesse instituto, o objetivo era, foi... O estado de Minas Gerais foi dividido em regiões e cada região desta, cerca de umas 15 na época, foi um engenheiro florestal para desenvolver os trabalhos de montagem de viveiros florestais em dez municípios para cada um, né? Eu fui para o sul de Minas, que era aonde eu já tinha morado anteriormente em Passa Quatro, né? Então naquela região eu fui morar em Santa Rita do Sapucaí e naquela região, sul de Minas, estabeleci dez viveiros; Poços de Caldas, Passa Quatro, Itajubá, Santa Rita do Sapucaí e outros, né? Era para produção de mudas de eucalipto. Cada viveiro deveria produzir 500 mil mudas no total de cinco milhões de mudas, que eram distribuídas aos fazendeiros para a produção de madeira para construções, carvão, serraria, né? E assim foi, né?

P/1 – E qual era a análise... (pausa) Edgar, nessa época, a gente está falando que ano é esse que você trabalha nesses viveiros em Minas Gerais?

R – Isso foi em 1967, em Minas Gerais, né?

P/1 – Analisando, você era há pouco formado, como era visto o eucalipto nessa época para Engenharia Florestal?

R – O eucalipto em Minas Gerais sempre foi muito bem vindo porque foi muito utilizado. O eucalipto foi introduzido em São Paulo, em Rio Claro, no começo do século passado, né, pelo doutor Edmundo Navarro de Andrade, principalmente para produzir lenha para as locomotivas da Estrada de Ferro Paulista e as áreas estavam sendo ocupadas por cafezais e cana. E lenha e madeira estava ficando escassa e se tornando longe, né? Então foi introduzido eucalipto lá. Em Minas Gerais, a utilização de carvão na siderúrgica era com base em madeira nativa e depois que foi rareando, foi ficando mais difícil. Então passaram a usar eucalipto, com crescimento rápido, um plantio ordenado e se tornou imprescindível plantio de eucalipto para a produção de carvão. E depois serviu para serraria, para MDF, para outras atividades como hoje, que é uma espécie muito importante, né? E no sul de Minas, em diversas regiões de Minas, começa a siderúrgica no Vale do Aço. É muito importante, onde se planta muito ainda. É uma espécie bastante importante porque hoje se tem restrições. Isso já na época não tanto, mas... Vamos dizer, em 1967 foi criada a Lei dos Incentivos Fiscais, que era para incentivar reflorestamento com _____ no imposto de renda. Com base nisso foi criada Aracruz. Inicialmente passou utilizar os incentivos fiscais para reflorestamento. Várias empresas florestais foram formadas para plantar madeira, plantar eucalipto, plantar Pinus, especialmente essas espécies de rápido crescimento para suprir as necessidades porque a utilização anteriormente, normalmente, era feito as matas nativas, que era legal. Hoje tem restrições. Então eucalipto veio para... Veio repor essas fontes de madeira, né?

P/1 – Nesse período, você trabalhou nesse viveiro quanto tempo de maturação de uma árvore dessa?

R – O eucalipto para carvão, em média, pode ser um pouco mais, um pouco menos, é em torno de cinco a sete, nove anos, oito anos, dependendo da espécie e da região e do manejo que ela requer. Para celulose, em média, sete anos. Então você produzia as mudas. As mudas eram vendidas e também doadas para os fazendeiros. Eles plantavam com orientação do técnico da região, do engenheiro da região para suas utilidades, como construção de cerca, energia etc. Então espécie de rápido crescimento. Cresce bem rápido em comparação com as espécies nativas daqui do Brasil, o que não atrai muitos. Vai plantar uma madeira nativa normalmente demora muito tempo. O eucalipto é uma planta que tem o metabolismo muito rápido e cresce bem rápido. Eucalipto, Pinus, né?

P/1 – Engenharia Florestal brasileira nessa época estava se dedicando, em especial, ao eucalipto?

R – Não, a Engenharia Florestal ministra cursos de uma maneira geral. Hoje, evidentemente, com... Isso na época, né? Hoje já existe até estudo mais específico. As escolas se dedicam à pesquisa do eucalipto, depois que tornou-se um vulto muito importante. Já estuda a parte ecológica do eucalipto, faz comparações entre suas origens, vamos dizer, Austrália ou Timor com o Brasil, as latitudes, as precipitações, tipo de solo, as altitudes, né? Então tem os estudos de ecologia específico de eucalipto, dos Pinus, para você já estabelecer uma floresta já com um maior conhecimento e suas atividades. Em função disso, a introdução foi necessária fazer a reintrodução do eucalipto de novas procedências da Austrália, que o eucalipto ocorre quase em toda Austrália, a mesma espécie em vários locais. Então a mesma espécie, cada local desse uma procedência ocorre num tipo de clima, num tipo de solo, num tipo de precipitação e temperatura. Então você tem que procurar qual daquelas procedências adapta mais no nicho que você vai trabalhar. Então a Engenharia Florestal se dedica muito a ecologia das espécies, nos estudos de procedência e depois os cruzamentos, a produção de híbridos e os testes de progênese, estabelecimento dos pomares de sementes, pomares clonais.

P/1 – E o senhor, depois, foi convidado a trabalhar na Aracruz. Como se deu esse ingresso do senhor na Aracruz?

R – Já havia um colega meu que trabalhava aqui na Aracruz, o Roberto Mesquita, e ele iniciou trabalhar aqui em metade de 1967 e a empresa começou em 1967 a produzir suas mudas na metade de 1967, para iniciar os plantios e a primeira árvore foi plantada no dia primeiro de novembro de 1967, né? Eu vim em janeiro, primeiro de janeiro de 1968. E pelo que eu me lembro, havia... E vim especificamente para trabalhar na área de viveiro porque eu sempre me dediquei a propagação de plantas, viveiros em meus trabalhos anteriores, né? E esse colega e os diretores já sabiam das minhas atividades e me convidaram, então, para fazer parte da equipe para dinamizar mais o trabalho de produção de mudas porque foi importado, digamos assim. Não havia nada na região sobre eucaliptocultura aqui em Aracruz. Havia uns eucaliptos plantados aqui na região pela Companhia Ferro Brasileira, uma siderúrgica em Vitória, que plantava para produzir carvão. E plantou algumas árvores. O que ela usava mais era a floresta nativa, como era permitido na época. Depois com a mudança lá do sistema, então ela tinha plantado uns eucaliptos aqui. Aí ela vendeu as áreas para a Aracruz. Então de eucalipto não se conhecia nada de tecnologia aqui na região, desse clima, né? Então quando foi criada a Aracruz precisava de técnicos, de pessoas que entendessem de eucalipto para a produção das mudas, de viveiro, plantio, preparo do solo, das espécies. Então foi trazido um grupo de São Paulo, descendentes do Navarro de Andrade e parentes dele que continuaram trabalhando nessa atividade em São Paulo, com um bom conhecimento lá para a região e transferiram para cá a tecnologia até se adaptar aqui porque não tinha nada. Você tinha que começar de alguma forma. E aqui, então, com clima diferente, altitude diferente. Eucalipto lá é plantado há 600 metros. Aqui nós estamos a zero metros, ao nível do mar aqui, né? No máximo 60 metros aqui. Então a história era outra. Aí as três espécies tradicionalmente plantadas lá, transferidas para cá, se comportaram diferentemente de lá. Apareceram doenças, muita heterogeneidade, baixo crescimento, má forma. Então... Com isso então, a mesma coisa foi com a tecnologia de viveiros. O mesmo sistema de viveiros lá foi trazido para cá, que era semear no canteiro com terra, esterco e com clima quente e úmido aqui, ecologia diferente, dava muita doença, descontrolava doença, e poucas mudas eram produzidas na verdade. Depois a doença era transferida para o campo e morria muita planta. Então eles resolveram dinamizar a produção de mudas. Me convidaram, aí foi uma luta para a gente trabalhar. Quase nem dormia para ver o que ia fazer, que era uma situação diferente para mim também aqui. Mas, felizmente, fomos testando, testando. Eu ficava dentro do viveiro permanentemente. Fomos testando outros sistemas até resolver o problema. Em seis meses depois já tínhamos um novo sistema e já deslumbrava novos caminhos para a produção da muda aqui. Aí reformulei toda produção de muda e conseguimos fazer mudas sem doenças. E, posteriormente, passamos a trabalhar bastante na área de genética. Aí foi confiado a mim também a área de pesquisa, já que eu era muito pesquisador, mexia muito e futucava muito. Então a área de pesquisa florestal ficou comigo e envolveu vários departamentos. Aí passei a ser gerente da área de silvicultura, que era o viveiro, estabelecimento da floresta, preparo de solo, plantio e manutenção e área de pesquisa. Então, para mim foi muito bom porque de um lado você pesquisava e do outro lado você aplicava sem grandes dificuldades de... Como, às vezes, ocorre em outras empresas em que área de pesquisa não está bem compatibilizado com a área de operação, pessoal de operação. E depois, graças a isso, foi a disciplina colocada na empresa pelos nossos diretores, muitos lúcidos, e com grande visão viram que era preciso fazer. E assim foi determinado. Aí, a partir daí, tive que viajar muito para buscar know-how, conhecer e trazer as tecnologias e adaptar às nossas condições.

P/1 – Eu queria que o senhor falasse, o senhor falou que encontrou a solução para essas mudas. Qual foi a solução?

R – Foi basicamente a eliminação do sistema de produção de mudas que era usado em São Paulo, que a muda era semeada em canteiro e depois a muda era transplantada, chamada repicada, transplantada para um tipo de embalagem que era feito com bloco de barro e esterco de boi. Então, quer dizer, muita matéria orgânica. Matéria orgânica facilita muito o desenvolvimento de microrganismo, né? E as mudas retiradas, tinham as suas raízes cortadas, que era porta de infecção, apesar de defensivos químicos colocados, não se controlava a invasão dessa infestação. E o clima é quente e úmido, isso facilitava. Aí passei a utilizar. Então utilizava esse bloco chamado Torrão Paulista, que era um bloco feito numa prensa e plantava mudinha dentro do oco com um pouco de terra e esterco e ela crescia ali. Esse bloco era levado para o campo. Tinha uma série de inconvenientes, mas foi utilizado na época. A tecnologia na época era aquela, né? Então pensávamos: “Agora nós temos que modificar isso porque a empresa falava: O Campinho, nossos planos é depois plantar...” O primeiro plantio foi 1300 hectares. O segundo foi 2500, depois 3500. Um dia nós vamos plantar 20 mil hectares. Eu falei: “Isso vai ser impossível. Como é que nós vamos fazer?” 20 mil hectares são 30 milhões de mudas. Aí como é que nós vamos plantar isso. Então eu já nem dormia mais. Então eliminei o problema da doença, utilizando, então, terra de subsolo. Pesquisei todos tipos de substratos. Substrato é o nome que se dá ao meio em que a planta cresce. Ou esterco, ou casca decomposta, ou vermiculita, ou terra orgânica, ou terra inorgânica. Então passei a pesquisar terra inorgânica, vamos dizer, terra de barranco, terra de subsolo, que não está contaminada por terra orgânica que é a parte de cima da superfície do solo, né? Aquela terra bem crua, né? E bem pobre aqui nessa região. Se fosse em São Paulo seria um pouco diferente porque terra de subsolo, daquela região de solos agrícolas de Campinas, aquela região, é bastante rica. Então aqui tinha que adicionar um pouco de fertilizante para estimular um pouco o crescimento. Então a planta crescia e não era contaminada por doença e fazia a semeadura direta. Não fazia mais a repicagem. Tinha uma época fazendo uma torronetezinho, que era como se fosse um dedo de barro, cortava, plantava a mudinha ali dentro. Em seguida passamos a usar um saco plástico cheio com essa terra orgânica. Inventei uma máquina que é para... Até chamada de moega ou tramóia, porque ninguém gostava de trabalhar na máquina, porque era muita poeira que dava. A terra seca colocada no depósito, que ela fluía, tinha que ser seca para ela fluir numa bica controlada com pedal. A pessoa botava o saquinho ali, enchia de terra. Aí depois encanteirava o saquinho plástico e plantava a mudinha ali dentro ou semeava. Depois passava a semear a semente. Fizemos uma espécie de uma seringa, um dosador, ia apertando, jogando algumas sementes em cada sacolinha. Era coberto com areia peneirada e um pouco de casca do arroz, quando você pila o arroz, sai a casquinha, que funciona como isolante térmico e mantenedor da umidade. Aí a mudinha nascia a pleno sol. Não ficava abafada, não sofria trauma de transplante. Já nasci a pleno sol com a dosagem de fertilizante adequada para ela chegar a um certo tamanho e não disparar o crescimento porque ela tem que crescer no campo, não no viveiro. No viveiro para você ter condições de ver o seu estado de forma, fitossanitário e tamanho e rusticidade. Então a mudinha crescia a pleno sol. Não tinha doença, não tinha nada. Então acabou-se o problema de doença em viveiro e sempre participando de congressos nacionais, internacionais e se apresentava trabalhos. Divulgou todo, passou a usar o sistema que não dá doença na planta, né? E ainda não estava satisfeito. Nós vamos ter que plantar 30 mil hectares. Como é que nós vamos fazer 30 milhões de mudas, 20 milhões de mudas? E Aracruz, São Mateus, Conceição da Barra e depois Bahia e era tudo a minha área. Todo esse trabalho de preparo de solo, plantio dos viveiros. Chega uma época tinha cinco viveiros em Aracruz. Aí pensei: “Nós temos que concentrar num só, que aqui o pessoal fica especializado.” E como é que nós vamos trabalhar aqui. E eu sempre viajando três, quatro viagens internacionais para assistir congresso, conhecer e visitar outras empresas e Austrália, coletar sementes. Fico sete dias na Austrália, tinha o Timor, ex-_____ português, né, para coletar sementes de eucalipto _____. Na Austrália conhecer as florestas e outras tecnologias. Então fomos trazendo e aqui adaptando às novas tecnologias. Então o objetivo era fazer um viveiro industrial realmente e depois um grande passo que nós demos foi o desenvolvimento que eu fiz de fazer plantio irrigado. Nós tínhamos cinco postos meteorológicos na Aracruz, deve ter ainda hoje, para a coleta de temperatura e chuva, umidade. Então não havia nada na época. Não sabia nem quanto chovia. Perguntava na cidade: “Aqui chove muito?” “É, chove.” “Chove quanto?” “Ah, chove, né?” Nem sabia se era muito, se era pouco, quando chovia porque não tinha equipamentos meteorológicos na cidade. Tinha algumas ____ você via numa cidade longe, outra perto, aí olhava mais ou menos pelo mapa. Tinha uma idéia que chovia, mas não sabia exatamente. Então estabelecemos postos meteorológicos e para plantar essa área toda, pensava. Como é que nós vamos plantar? Só em época de chuva? Você faz a muda a partir de julho, agosto, setembro, começa fazer as mudas. Em outubro, normalmente é tempo de chuva. Vem a chuva, outubro, novembro, dezembro, janeiro. Aí se planta todas as mudas debaixo de chuva. Depois vem seca. Como é em Minas Gerais, que o clima é mais definido lá é mais seco no meio do ano e chove e tem o período de chuva. Aqui a gente não conhecia, passamos a conhecer. Aí eu falei: “Não, nós podemos plantar, estender o período de plantio, né?” Mas mesmo assim você tem uns períodos de seca. Às vezes no inverno, a chuva é um pouco menos, é mais frio, venta, tem o vento sul, né? Aí chove um pouco menos. Aí eu passei a pesquisar os plantios, para fazer plantio diário com irrigação. ______ do viveiro, abria uma área experimental. Aí plantava com um litro de água, dois litros, três litros, poucas mudas, umas fileirinhas, todo dia, todo dia, todo dia, todo dia. Aí via que todas elas pegavam. Molhava só uma vez. Como o solo é argiloso e tem bastante capacidade de reter água e bem plantado, e conforme umidade do momento, você colocava um pouco mais de água ou um pouco menos. Então isso permitiu você fazer plantio diário e passamos a operacionalizar isso. Com isso, o viveiro passou a trabalhar de janeiro a dezembro. As pessoas passaram a ser especializados no seu trabalho de produção de mudas. Trabalhava o tempo todo. O trabalho não era sazonal. O pessoal trabalhava tranquilo. “Tem viveiro.” “Não, agora é época de muda. Manda embora o pessoal, traz o pessoal, vai para o campo. Você agora, então, vai capinar.” Então ninguém sabia o que ia fazer. Então você ia aproveitando mão de obra. “Vamos plantar hoje.” Choveu. Aí vinha aquele mutirão. Pessoal de roçada, de capina, motorista de trator, vinha todo mundo plantar e saía uma salada. Quer dizer, o pessoal não está especializado. Aí especializamos turma de plantio,

turma de viveiro, turma da irrigação. Foi um trabalho, foi uma roda viva. Não parou mais.

P/2 – Mas Edgar, quando você veio para cá, você já era casado?

R – Eu já era casado.

P/2 – E como é que era a sua vida aqui? Onde é que vocês moravam?

R – Eu morava em Aracruz, cidade de Aracruz, que era uma cidade bem pequena, né? Não tinha rua calçada, só tinha um carro. A BR 101 passava dentro da cidade. Tinha um médico. Não tinha cinema, não tinha nada. Muito precário, muito pequeno a cidade.

P/2 – E você passava o dia todo no viveiro?

R – É, morava na cidade de Aracruz e tinha uma lotação, daquelas antigas do Rio de Janeiro, levava a gente lá para o viveiro e ficava uns 12 quilômetros da cidade, numa estrada bem sinuosa. Hoje tem asfalto, tudo certinho. E ia para lá, ficava lá, vinha às vezes na hora do almoço, almoçava em casa ou levava comida, né? Tinham os caminhões que levavam os funcionários para lá, tudo. O trabalho nosso era no campo, no campo. Aí a empresa construiu uma casa para mim na cidade. Morei na cidade, como para os outros técnicos também que vieram. Não tinha coqueiral, não tinha praia aqui, não tinha nada disso, não existia nada. Aí morava lá. Os meus filhos nasceram em Vitória, mas foram criados aí. Estudaram o Primário em Aracruz. Depois a cidade cresceu, foi um boom.

P/2 – Fala um pouco disso. Como é que era antes e como é que ficou depois a cidade, a região? O que você falou o “boom”.

R – É, porque com a atividade da Aracruz surgiram outros trabalhos, como oficinas mecânicas para atender os trabalhos de manutenção dos caminhões de empreiteiros que levavam o pessoal para o trabalho. Havia muita serraria na época ainda, mas logo em seguida haviam... Muitas já tinham fechadas. Tinha algumas serrarias ao longo da cidade e as florestas foram acabando. As florestas nativas acabando, eles foram mudando para o Pará, para o próprio norte do Brasil. E a cidade não tinha outra atividade. Então, com a vinda da Aracruz deu muito emprego para quase a cidade inteira. Então começou circular dinheiro, veio negócio, foi abrindo lojas. Passaram a calçar a cidade e oficinas cresceram. Vieram algumas fábricas para dar suporte aos trabalhos florestais. Tinha muita máquina, muito empreiteiro aqui. Nisso, a cidade foi crescendo. Foi feita a estrada BR 101, que passa de Vitória, de (Mirasul?) vai para Linhares. Antes a estrada passava por aqui. Vinha pela praia, passava dentro da cidade de Aracruz e seguia para Linhares. Essa era a antiga BR 101, digamos. Depois fizeram a estrada de Aracruz até Ubiraçu, que facilitou muito o transporte, as ligações entre as cidades aqui. Então foram aparecendo hotéis, restaurantes, bancos. Só tinha o banco do Estado do Espírito Santo e colégios. Hoje a cidade tem faculdades, tem vários bancos e o centro da cidade é asfaltado e o município cresceu bastante. Isso depois da... Na época da construção da fábrica, que iniciou-se em 1975 e a primeira fábrica foi inaugurada em 1978 houve um crescimento também muito significativo para a construção da fábrica. Foram três anos e pouco, foram quase três anos para a construção da fábrica, então vieram muitos empreiteiros para cá. E depois o porto também aí, né? E as vilas, as cidades todas, como Barra do Riacho, Vila do Riacho, Barra do Sahy, cresceram muito em função da fábrica. A fábrica era também nessa época... Antes construíram o bairro Coqueiral para receber os técnicos estrangeiros que, de acordo com o contrato da empresa, os estrangeiros vinham participando da construção. Então não havia disponibilidade de casa. Tinha que morar, mais ou menos, próximo. Então foi escolhido aquela área para fazer as residências e com isso nós nos mudamos para lá também e estamos lá até hoje. E não havia ponte que atravessava o Rio Piraqueaçu. Era uma balsa e tinha a balsa que atravessava os carros. Mas o volume de carro foi começando, aumentando, aumentando. A balsa, às vezes, quebrava. Você perdia avião e era muito difícil. Então o governo fez essa ponte, que facilitou todo o trabalho. Ligou muito a parte com o norte de Espírito Santo com Vitória, né? Isso foi muito interessante. Depois surgiram pousadas, essa parte turística da orla da praia aqui. Vai até Linhares e a empresa fez a ligação da fábrica com a BR 101 com a rodovia asfaltada. A exportação de celulose da Cenibra também foi necessária fazer essa estrada de ferro que vem até o porto para exportar celulose ou levar madeira, comprar madeira, transportar madeira. Foi muito interessante.

P/1 – Edgar, com quem você trabalhou nesse começo da Aracruz Florestal? Qual era a sua equipe de trabalho?

R – A equipe... Meus superiores era o doutor (Nelmagri?) dos Santos que, posteriormente, veio a falecer. O antigo cargo era... Não era diretor, tinha um outro nome. Superintendente. (Nelmagri?) dos Santos. O nosso diretor era doutor Leopoldo Garcia Brandão. Ele que coordenava todo o trabalho, decida sobre compra de terra, as estratégias, os programas, os plantios e o contato com os investidores que investiam aqui na empresa, que eram empresas principalmente do Rio de Janeiro. Era o doutor Leopoldo Garcia Brandão e era mais diretamente a gente aqui, né? E meus colegas de trabalho, os parceiros eram o Roberto Mesquita, também engenheiro florestal. O Luís __________, economista. Ovídio Moreira era advogado da parte de Recursos Humanos. Rafael José dos Santos também já faleceu. Edvar que era o topógrafo para fazer o levantamento, verificação das áreas, marcação dos talhões. Enfim, tinha outras pessoas. Depois os pesquisadores, o pessoal que trabalhava comigo era a Yara (Kiemi Kimori?), que é formada agrônoma, formada em São Paulo, veio recém-formada para cá. Se dedicou muitos aos trabalhos de genética, na área de melhoramento. Veio primeiro para a área de fitopatologia, pelos problemas de doenças que surgiram aqui nos eucaliptais, né, que depois resolvemos com a seleção de matrizes que ainda gostaria de falar um pouco mais depois sobre isso, sobre a nova floresta. Yara, então, veio trabalhar na área de fitopatologia, mas depois nós resolvemos os problemas das doenças. Ela assumiu a parte de melhoramento genético do laboratório. Lá foi construído um laboratório para se trabalhar, especialmente na área de seleção das árvores também, fazer análise da madeira ou por __________. Tinha o Cândido Moreira Matos, trabalhou... Um agrônomo também, trabalhou na área de solos e nutrição de plantas. Jorge Edson Machado Alves trabalhou na área de entomologia para a gente acompanhar o controle dos insetos da floresta, para verificar também a resistência das plantas ao meio ambiente, não para matar todos os insetos, mas para você controlar formiga, verificar as plantas que eram... Se adaptavam ao ecossistema. Alberto Jorge Laranjeiras também trabalhou com Jorge Édson na área de entomologia. Renato Maciel na área de estatística, que todo nosso trabalho precisava ter um estatístico para você fazer o delineamento das pesquisas, acompanhar, medir e da área de inventário florestal. A floresta está plantada, mas e aí, está crescendo quanto, quanto cresce por ano, qual é a espécie que cresce melhor e que solo que é o melhor. Depois tivemos também consultores externos da Embrapa para... O doutor Rafael que nos auxiliou muito no levantamento de solos para... O solo parece ser muito uniforme, que essa formação Barreiras é uma região sedimentar, diferente da outra formação que começa a partir de Aracruz, que é o Cristalino, onde ocorre os granitos e aqui, a parte Norte de Vitória, surge essa região da formação Barreiras, que sobe pela Bahia e vai até o norte, uma região sedimentar. O solo foi colocado aqui em outras eras, no período Terciário e Quaternário. Então foi feito levantamento das áreas, a identificação dos solos, os grupos de solos a nível semidetalhado. E a partir desses solos foram feitos estudos específicos de colocação das espécies e os clones mais adaptados.

P/1 – Você pode falar dos clones, dessas novas florestas? Como é que foi isso? Essa superação da doença que foi superada por seleção? Explica para a gente.

R – É, como falei anteriormente, a floresta foi plantada inicialmente utilizando-se material genético, sementes, material genético, os propágulos, no caso, eram sementes, produzidas em São Paulo. O Horto de Rio Claro onde o Navarro de Andrade que esteve no começo do século na Austrália, Indonésia, trouxe sementes para o Brasil de muitas espécies de eucalipto. Plantou-se lá. E ali essas parcelas das diferentes espécies que ele trouxe, foram cerca de 200 e pouco da região de Sidney, que a Austrália é um país novo e só a região de Sidney era, mais ou menos, conhecido, e hoje eu já viajo pela Austrália inteira. Então eu trouxe daquela região mais fácil de conhecer em Jardim Botânico de Sidney, plantou lá. E as melhores espécies foram, então... Não se conhecia muito bem à respeito de cruzamentos, as espécies se cruzavam, não cruzavam, que na Austrália todas as espécies elas ocorrem em grupos, vão variando de acordo com o clima. Elas se sobrepõem, mas raramente elas se cruzam, que elas têm época bem definida de florescimento. Uma floresce agora, outra floresce depois. Então não há cruzamento. A hibridação é muito difícil. Vieram para o Brasil, clima diferente, altitude diferente, regime de chuva diferente, ecologia diferente, e com espécie que florescia mais que as outras, como é Ouro Fino, caso do Timor, Portugal, né? Ela ex- ______ português. Eles passaram a se cruzar e aquelas que cresciam mais eram coletadas as sementes. Não se percebia muito bem sobre esses problemas de cruzamento e eram plantados, estabelecidos florestas em São Paulo, por Minas. Mas já foram hibridizadas, já foram hibridizadas. Aí foram trazer a semente para cá, daquelas que cresciam mais, se adaptavam lá mais para cá. Foi trazido Eucalipto Alba, entre aspas, que depois não era mais Alba. Era um descendente de Orofila, que passou para o IAC depois. O Saligna que é da região mais fria da Austrália, do Norte, a partir do norte... Do sul do estado de (Queensland?) e norte de (Nova Gales?) do sul, região baixa, onde até tem geada foi trazida para cá. Plantou em São Paulo, se adaptou mais ou menos. Aqui foi um desastre. É mesma coisa você trazer um esquimó, botar em Copacabana lá tomar banho de mar, que não vai gostar. E o Grandis, que esse adaptou, mais ou menos, que ele tem um clima um pouco mais parecido com São Paulo, mas aqui, mesmo assim, foi um crescimento intermediário. Aí foram plantadas as florestas, aquele entusiasmo, cresceu um metro, dois metros, vamos ver a floresta. Todo dia a gente olhava. Aí de repente começaram aparecer a doença do Saligna. Foi todo dizimado com um cancro. É uma doença que dá na casca, provocado... É um fungo, (Diaporthe cubensis?), que ele mata a casca, um fungo que mata a casca. Expõe o lenho entre os insetos e a planta acaba caindo, apodrecendo, morrendo. Quando não morre, fica toda defeituosa. E o Grandis também não era 100% adaptado. Também sofreu um pouco. E o Alba, apesar de sua mistura, que Orofila cruza muito, ele se mostrou mais resistente. Então isso foi medido e aí foi aquele desespero: “O que é que nós vamos fazer? O que é que vamos plantar?” E não tinha saída porque... A saída seria ir na Austrália. E me mandaram para a Austrália. Fui lá para coletar semente, conhecer a ecologia das espécies. Fui com o professor (Golfaire?), que estava no Brasil a serviço da FAO. Ele é um ecologista florestal e com o outro funcionário da FAO, da Embrapa, o Vicente Moura, né? Então fomos nós três e fomos visitar as florestas na Austrália e verificar, especialmente, pela Aracruz. A Aracruz financiou toda viagem dos outros técnicos. Aí passamos 100 dias viajando pela África do Sul para conhecer as tecnologias porque a África do Sul era bem mais adiantado que o Brasil na área de floresta, especialmente eucaliptos e Pinus. País inglês, foi mais fácil, Austrália inglesa também, para transferir material genético para lá. Passamos na África do Sul, fomos para a Austrália, depois tivemos em Papua, Nova Guiné. Tivemos na Indonésia, visitamos algumas ilhas da Indonésia, especialmente Timor, Timor é português, fomos muito bem recebido lá pelo pessoal. E foi uma festa na chegada a Timor. E fomos ainda para Taiwan, Hong Kong, viajando, vendo literatura sobre as plantas. E evidentemente passamos por Bali. Ia passar na Indonésia, passamos um fim de semana em Bali. Saímos de Timor por ______, para poder passar na Ilha de Bali. Aí viajamos as ilhas. Foi uma viagem barra pesada, especialmente em Nova Guiné. Você em Nova Guiné quase fomos trucidados lá. Vamos lá com os chefes florestais. A gente tinha sempre contato. Austrália organizou todo o serviço, toda a viagem para gente, o ________, que é órgão do governo, que organizou a viagem para gente e fez os contatos em Papua. Papua era ainda assistida pela Austrália, né? Aí fomos para Papua, com os técnicos florestais de Papua. Fomos para as montanhas. Chega lá, uma serraria queimada, pessoal escondido no mato, com armas: “Vocês descem”, gritando. Jogaram pau, pedra na estrada. Descemos correndo de jipe Quase nos pegam lá. Aí fomos embora para... Descemos a serra lá, né? Aí, então, estabelecemos aqui as pesquisas com sementes. Depois fiz outras viagens sozinho. Passava 45 dias na Austrália, fazendo coleta de sementes nas diversas procedências, que já tinham sido testadas aqui e, precocemente, fomos trazendo material genético e plantando. Mas um trabalho de genética baseado em sementes demora cerca de uns 25 anos. Tem que plantar as sementes, estudar as progênses, selecionar, propagar, botar no pomar, elas vão se cruzar. É um trabalho muito demorado. Demora uns 25, 30 anos. E dos plantios feitos com sementes de São Paulo, até perto do viveiro, viveiro com quadros, vocês vão ver lá, todo fechado com floresta, aí vinha aquelas árvores que já estavam lá, plantadas em 1967, 1968, que já estavam já com cinco anos, seis anos. Aí pensava... E surgiam umas árvores espetaculares. Árvores com sete anos, com 45 centímetros de diâmetro, 40, 35, 30 metros de altura, sem doença, sem nada. Falei: “Poxa vida, como é que a gente pode ter uma floresta com árvores assim e ao lado dela outra doente, retorcida.” Era uma miscelânea. Você pegava 100 árvores. Eram 100 árvores diferentes. Mas apareciam árvores espetaculares. Aí, uma das minhas viagens em congresso, encontrei com os franceses. Vi literatura que eles estavam já fazendo clonagem de eucalipto e iniciaram isso em 1954 no Marrocos com outras espécies de eucalipto, fazendo clonagem, propagação vegetativa de eucalipto, né? Clonagem é você pegar uma parte da planta e fazer ela vegetar e crescer, como você faz com mandioca. Mandioca você pega um talo da mandioca, um pedaço das haste, planta, ela é idêntica à planta mãe. A cana é a mesma coisa. Você pega a cana, corta em toletes, planta, todas elas são idênticas geneticamente. Não houve intervenção sexual, não houve cruzamento, como é a semente. A semente tem o pai, tem a mãe. As sementes você planta, como numa família, né? Uma família de irmãos, você vê, não são idênticos. Um é mais gordo, mais baixo, devido às cargas genéticas. Já na clonagem não houve interferência genética. Então a carga genética é a mesma, todos eles nascem iguais, idênticos. É como você faz com propagação de laranja. Você mantém a laranja lima já não é plantado por semente, mas você faz uma clonagem. Você faz uma enxertia. Pega um galho, enxerta, só vai dar laranja igual a laranja mãe. Com isso você mantém a qualidade do seu produto vegetal para atender o consumidor para sempre. Existe castas de uvas, de uva, que já tem séculos e séculos e é a mesma uva. Já não planta de semente, planta de galho. Faz o enxerto, então você vai ter sempre mesma qualidade da uva, do mesmo vinho etc. Então os franceses estavam fazendo. Muitas plantas se faz isso, propagação. Mas eucalipto no Brasil ninguém sabe, nem falava nada. Então eu conheci os técnicos me deram literatura, informações, como fazia. Conseguiram visita depois. Fomos até ao Congo posteriormente sobre a clonagem do eucalipto. Aí, então, foi possível pegar aquelas árvores enormes, selecionar e clonar e estudar o comportamento dela, fazendo plantio nos talhões. Talhões são as parcelas onde se plantam, separados por estradas. São parcelas operacionais. Então cortava uma árvore, começamos selecionar pela forma, pela ausência de doença, ausência de ataque de inseto, boa adaptação, refere boa adaptação ao solo porque todas receberam o mesmo tratamento. Aquela que cresceu mais, está se destacando, ela tem uma boa adaptação, uma resistência ao clima, não tinha doença, não tinha nada. Tirava amostra de madeira para estudar qualidade de madeira para celulose, densidade e verificar depois quais são os parâmetros que a fábrica ia precisar para produzir a celulose para maximizar a produção. Então, com isso, no primeiro plano nosso foram seis mil árvores que nós selecionamos. Montamos equipes de pesquisa, que iam igual um batalhão na floresta, procurando, marcando essas árvores boas, cortando, tirando amostra. Marcava no talhão, trazia amostra para o laboratório. A gente cozinhava a madeira, fazia densidade, via o teor de celulose, o rendimento de celulose e estudamos. E com isso nós iniciamos o estudo. Logo, logo ______ com os técnicos, estudo de propagação vegetativa, que era cortar árvore, esperar brotar, que é uma característica importante para eucalipto. Você pode ter vários cortes do mesmo plantio. Pegava a brotação, tratava com hormônio, que é para estimular o enraizamento e é um hormônio artificial, o mesmo hormônio que a planta tem em suas raízes, né? Então para estimular mais ainda, depois tratava com hormônio. É uma estaquinha com par de folha, depois vocês vão ver no viveiro. Hoje tem outro sistema, que é com miniestacas. E elas enraizavam e plantava. Aí fomos plantando, fazendo testes com várias árvores, dessas 12 mil.

Aquelas que não tinham características aceitáveis para... Nesse primeiro estágio para celulose já eram descartadas. Então com isso a floresta produzia... Uma floresta antiga produzia, digamos, em torno de cinco toneladas de celulose por hectare/ano, com uma floresta clonada passou a produzir 12 toneladas de celulose por hectare/ano, porque aumentou o volume, que todo o incremento da floresta foi maior. Você teve mais madeira por hectare. Dentro dessa madeira você teve mais celulose e mais uniforme. E com isso a fábrica pode trabalhar, evidentemente, muito mais linearmente, muito mais fácil de você trabalhar com uma madeira heterogênea, com densidade alta. Você chega numa floresta, árvores diferentes, uma tem densidade 450, outra tem 550, 580. Então você vai como se fosse cozinhar numa panela chuchu com abóbora. _________ estraga. Ou você perde por cozinhar demais, ou perde por cozinhar de menos. Vai ter muito rejeito, né? Aí com isso a fábrica passou, aumentou muito a sua produção. Primeira fábrica produzia... Foi instalada para produzir 400 mil toneladas de celulose por ano e também com a diminuição de casca, ela passou a não usar a casca e usando já floresta clonada, que iniciamos o plantio, as pesquisas de 1973. Em 1978 já estavam... A primeira fábrica foi inaugurada já tinham um milhão de plantas clonadas. E essa fábrica, então, passou a produzir 500 mil toneladas por hectare/ano com o mesmo equipamento, utilizando madeira, que teve uma grande contribuição no desempenho da fábrica. E para produzir esse viveiro todo, como eu falei anteriormente, tendo sacolinha plástica, esse recipiente, não satisfazia ainda. Então eu saí pelo mundo procurando novo tipo de container para muda. Pesquisamos de papelão, tubo de papelão, tubo de plástico de várias formas. Aí fui convidado por um amigo que estava trabalhando no Havaí, que trabalhou na FAO, anteriormente, conosco aqui, doutor (Charles Rhodes?). Ele me convidou para ir ao Havaí para ver os plantios de eucalipto. O Havaí tem necessidade de biomassa para... Porque lá não tem rios, são ilhas, né, tem pouca água. Então para as usinas de açúcar de lá e energia urbana e das fábricas eu preciso de termelétricas. Então eles têm plantio de eucalipto para fornecer energia. Então me convidou para ir lá para ver as florestas, opinar e ir conseguir clones para ele Então levamos, mandamos, despachamos já estacas pré-enraizadas. Eles plantaram lá. Hoje tem excelente floresta também clonada. Então estive lá. Aí me mostrou os tipos de container que eles tinham desenvolvido, Serviço Florestal Americano, Departamento de Agricultura lá, tinha desenvolvido para produção de mudas de florestas para Pinus e eucalipto e me forneceu os projetos, os desenhos das máquinas, amostra que era um tubete de plástico, que vocês vão ver no viveiro hoje, quando vocês forem lá. É um tubete de plástico que tem umas ranhuras com umas costelas internas, em que a muda cresce e dirige a raiz para o fundo. E com isso você pode mecanizar a sua produção de lavagem, enchimento, semeaduras, semear tudo com computador, tudo com máquinas como vocês vão ver lá e plantio das estacas. Tem a vantagem de ser leve e você não precisa usar... Você pode usar vários tipos de substrato naquele tubete, né? Então eu trouxe isso para o Brasil e com a fábrica em São Paulo eles desenvolveram esse sistema e passaram a usar. Eles não exigiram eu manter a patente deles em segredo, nada. Deixaram espalhar, que foi uma grande coisa, que hoje está no mundo inteiro, na área de eucaliptos se usa esse tubete, né? Então com isso não houve mais problemas você produzir milhões e milhões de mudas num viveiro com uma pequena área mecanizada.

P/1 – Edgar, você falou da importância desse trabalho aí, da pesquisa de clonagem, melhoramento genético. Como resposta você foi premiado, né, o prêmio Marcus (Wallenberg?).

R – É, o Marcus (Wallenberg?).

P/1 – Como foi essa premiação, que sentimentos você teve?

R – Isso foi uma grande surpresa para nós porque eu trabalhava com uma equipe, especialmente com a Yara, que eu falei. Ela trabalhava na área de genética, propagação de plantas, muito inteligente, muito disciplinada, muito criativa também, que vai se aposentar agora também nesse próximo ano. Então nós trabalhávamos com muito afinco, porque a gente tinha que resolver o problema, como resolvemos evidentemente. Mas nunca pensamos em trabalhar para ganhar prêmio. Aí foi uma surpresa muito grata. Vinham aqui... E nós tínhamos consultores americanos, muito amigo nosso, que é o professor (Bruce Zobel?), ele, esposa dele, dona Bárbara. Eles com a grande experiência dele, professor emérito da Universidade de Carolina do Norte, na área de Florestas, Escola de Florestas, né? Ele passou nos congressos internacionais, a ver na África do Sul, ele falou: “Campinho, gostaria de conhecer sua empresa.” E ele também fazia consultoria. Então ele via falar da Aracruz, eu apresentava os trabalhos e ele ficou abismado, gostava, vibrava com a coisa. Aí passou a vir na Aracruz. Convidamos, veio trazer idéias, que tinha muito conhecimento. Ele conhece o mundo inteiro e larga experiência. Então ele veio e ficou muito amigo nosso, do doutor Leopoldo, e trouxe outras idéias também. Então ele passou a frequentar. Todo ano ele vinha, passava uma semana e ele foi convidado para fazer parte do grupo de seleção da Fundação Marco (Valemberg?) na Suécia. Aí começou aparecer, vinha pessoas aqui: “Ah, eles querem fazer uma entrevista com vocês, tal. E quer saber como é que vocês fazem a coisa, como que é isso, como que é aquilo, explicar, explicar.” Falei: “só com autorização da diretoria.” Mas não sabia o que era tanto que eles perguntavam, perguntavam, perguntavam. Aí fomos explicando tudo. Vinha outro, perguntava, perguntava, olhava, olhava, media, não sabia o que é que era. Eu falei: “Esse pessoal é espião. Acho que eles estão querendo fazer outra floresta, mas está tudo aberto, não tem segredo.” Publicações, pedia tudo da gente, poxa vida. Aí veio a notícia, que nós tínhamos sido escolhido pelo comitê de seleção lá do (Valemberg?). O (Zobel?) fazia parte desse comitê, como outros conhecidos nossos e eles indicaram a Aracruz para ser um premiado. Aí eu, a Yara, doutor Leopoldo e o doutor Ney, né? E doutor Leopoldo evidentemente, que ele sempre acreditou em pesquisa, sempre investiu em pesquisa e, às vezes, até criticado. “Gasta muito em pesquisa, tal.” Mas não tinha saída. Você tem que pesquisar, tem que fazer. Não podia fazer o feijão com arroz, que você ia ficar sem madeira e a empresa não ia... Ela teve que quase que parar inicialmente. Isso me falaram, que não conseguia fazer muda. “Poxa, não conseguiu fazer muda. Vamos fechar esse projeto, não dá certo.” Aí resolvemos, com a ajuda de todos, resolvemos os problemas das mudas e viveiro. Passou aquela fase. Depois a clonagem. Aí depois e até universidade, professores, catedráticos, não acreditavam muito em clonagem de árvore porque achava que podia, que a floresta ia ter baixa variabilidade genética. Então você ia ter só uma floresta de só uma árvore. Se desse uma doença ia matar tudo. É verdade. Você selecionou plantar a região, tal, mas pode ser que um dia se adapte um inseto e mata a sua floresta. Mas usamos a estratégia, nós não vamos plantar somente um clone, uma matriz clonada, né? Nós vamos selecionar muitas matrizes, testar essa matriz nos diversos tipos de solo, como falei anteriormente, porque ela foi uma árvore selecionada naquele ponto ali. Daí a dez metros você não sabe se o solo é diferente, se ela vai bem ali. Daí a dez quilômetros você não sabe, quando você saiu da base você não sabe. Então com mapa de solos nós fomos salpicando as nossas pesquisas dos clones, as melhores árvores, melhores matrizes em todos tipos de solo e todas as regiões e observando. Tinha árvore que cresce muito bem em Aracruz. São Mateus não cresceu. Mas a empresa falou: “Nós assumimos os primeiros plantios. Nós vamos assumir, vamos plantar e tudo blocos monoclonais.” Um clone, outro clone, outro clone, clone, clone e aqueles que não forem bem, corta, planta outro. Nós não podemos esperar. E assim fizemos. Tivemos pouco insucesso, poucos clones que não cresceram bem. Aí fomos fazendo a seleção de clone, adaptação de solo e clone, solo-clone. É (site-clone?). (Site?) é o conjunto que envolve solo, clima, meio ambiente, tudo. Aí hoje... E vai se aperfeiçoando isso. Então é só clonar. Então aí que foi feito. Aí, então, fomos premiados. Foi uma grande surpresa. Fomos para lá em 1984 receber o prêmio das mãos do Rei Gustavo e a Rainha Sílvia, né? Foi uma comemoração inesquecível. Foi muito bom.

P/1 – Você entrou em 1968 na Aracruz Florestal...

R – É, primeiro de janeiro de 1968.

P/1 – Nesse período já se tinha idéia de qual seria o fim da madeira que estava sendo plantada? Seria celulose para uma fábrica ________?

R – Já, já, porque a Aracruz foi imaginada pelo escritório que chamava-se Ecotec do Rio de Janeiro, pelo professor Dias Leite, professor Tafuri. Trabalhava lá o doutor Leopoldo, trabalhava o doutor Ney e então esse escritório passou a pesquisar. Eles faziam bolações, né? Estudos de projetos de viabilidades, né? O que seria interessante? E até o professor Dias Leite, eles lá, esse escritório, eles estimularam a criação da lei do incentivo fiscal para florestas, né? Aí foi criado essa lei, o que veio favorecer os plantios das florestas posteriormente. E esse escritório estudou, por que surgiu essas idéias? Porque estudaram como é que estava o mercado de fibra de celulose no mundo, fibra curta, né? Pegaram relatório da FAO e verificaram que poderia haver uma falta, poderá haver uma falta de fibra curta daí há tantos anos. Fibras curtas são das espécies folhosas, que é eucalipto, o (bert?). e fibra longa são as coníferas. São os pinheiros, que fornecem as fibras longas. Fibra curta, fibra de eucalipto, é, mais ou menos, meio milímetro. Essa é a fibra curta. E do Pinus chega a dois, três, quatro milímetros. Cada uma tem uma finalidade. Fibra longa para papéis mais resistente, papel-jornal, papel de embrulho, saco de cimento e misturam para cartões, embalagens. E fibra curta para papéis mais finos, de impressão, de escrita, né? E papel-moeda etc. Então estudaram isso. Então isso foi dirigido. Então começaram a criação da Aracruz Florestal para captar recursos de investidores, que aplicavam o imposto de renda aqui na Aracruz. E além disso eu soube que eles tinham que botar mais dinheiro no bolso porque somente aquela parcela do imposto de renda não daria. E foi uma luta. Então os acionistas muito entusiasmados, como o dono da (Sloper?), o seu Olivar Fontinelli, o Álvaro e outros. Eles estavam sempre aqui acompanhando. Então Aracruz tinha o objetivo, desde a sua criação. É plantar para produzir madeira para celulose, fibra curta, branqueada, celulose branqueada e utilizar bem o dinheiro dos investidores. Outras empresas, nós soubemos, _______ foram criadas para aplicação do imposto de renda em florestas, mas eles não tiveram muito sucesso porque plantaram numa terra pobre, não tinha tecnologia, não tinha capital, não tinha um objetivo para plantar. Plantavam, mas a Aracruz tinha o objetivo, tinha que dar certo. Então nós estávamos embarcados num negócio sério.

P/1 – E a construção da fábrica? O que é que mudou na rotina de vocês da Aracruz Florestal quando começaram construir a fábrica?

R – É, a fábrica começou a ser construída em 1975, se não me engano. Foi até em 1978 foi inaugurada. Dia 31 de outubro de 1978, dia do meu aniversário. Aí foi inaugurada a fábrica. Então a Aracruz Florestal ainda era encarregada de cortar madeira, existia Aracruz Florestal. Depois é que foi absorvida pela celulose. Então foi um grande movimento. Todo trabalho próprio, moto-serrista, treinamento, suecos aqui, treinamento, treinando caminhoneiro, treinando moto-serrista, entrega de madeira na fábrica, ajuste da fábrica. Foi uma revolução muito boa. Depois que a fábrica começou a produzir as suas primeiras levas de celulose houve, assim, uma necessidade de aumentar a produção de madeira? Houve um novo desafio?

R – Houve o aumento de área necessário porque já se previa a duplicação da fábrica. Então já passamos a plantar mais em Aracruz e depois ao norte de Aracruz, São Mateus e Conceição da Barra, naqueles municípios, onde tinha muita terra disponível, atividade agrícola muito baixa, muito pouco. Conceição da Barra solos muito arenosos e pouca atividade. E São Mateus e Conceição da Barra. Então passamos também a plantar lá. Instalamos viveiro naquela região inicialmente. Aí depois aperfeiçoamos viveiro aqui, passamos a ter só um viveiro central e com caminhões, pela facilidade do tubete, leve, você num caminhão com trailer e o reboque, com um caminhão com reboque e um trailer, você pode transportar 200 mil mudas numa viagem, que o tubete é muito leve, fácil de embalar, fácil de transportar, de plantar. Aí fizemos lá em São Mateus só uma área para recepção dos tubetes. Eles eram estacionados lá, recebe irrigação, daí era liberado para o campo. Então fizemos viveiro lá e os plantios começaram lá. Depois mais tarde, no sul da Bahia, já se pensava em nova fábrica, por questões políticas e ambientalistas não estava muito satisfeita com o aumento da área de plantio de eucalipto no Espírito Santo, o que não chegava a ser acho que 3%, ou 1,5, 2,5 % do estado. Mas hoje aceita-se bem, que o eucalipto é uma planta que veio substituir mata nativa, dá muito emprego, serraria, fábrica de móveis hoje, que é (Movelar?) em Linhares utiliza 100% eucalipto. Aracruz instalou uma serraria de eucalipto. E agricultores produzem caixas de madeira de eucalipto para embalar verduras. Então houve uma grande disseminação da utilização de eucalipto e creio que hoje tem uma consciência muito clara que o eucalipto não é aquele bicho-papão, que eles dizem que seca terra, que é isso. É uma cultura. Eucalipto não é uma floresta, vamos dizer, uma floresta no sentido de uma floresta tropical, uma floresta nativa. Você tem variações de muitas plantas, muitos animais, é um ecossistema diferente. Eucalipto é uma cultura, é um plantio, como plantio de seringueira, que é homogênea, plantio de cana, plantio de café, plantio de cacau. Então é como uma cultura, você tem que manter, tem que cuidar dos solos, tem que fazer a preservação das águas, controle de erosão, reposição dos minerais do solo. Você tem que controlar o meio ambiente todo, né? Eucalipto é assim.

P/1 – Edgar, Aracruz tem uma área de preservação de mata nativa dentro das suas áreas, ou ao lado das área de plantio de eucalipto...

R – É, entremeadas tem. São áreas muito grandes.

P/1 – Você poderia falar sobre essas reservas? O senhor visita com frequência?

R – Essas áreas são especialmente em áreas inclinadas. Como eu falei, a formação aqui é Barreiras. É um chapadão que tem drenagens, chamado de Grotas, que vem do oeste para o leste, corre aqui para o mar. Esses valões chamados de Grotas. E a exploração da madeira nativa nessas áreas era mais difícil. Então cortava-se a madeira no plano, retirava-se e aquelas foram deixadas para depois. Depois pegaram fogo, mas ainda sobrou muita vegetação dessas calhas e que são onde tem as drenagens. São as drenagens, tem os rios, que depois a Aracruz... Onde estava tudo limpo ainda plantou um pouco de eucalipto, mas também fica caro a exploração. Então essas áreas ficaram como preservação. Você faz o contorno em cima da área plana, área inclinada, existe a floresta nativa que hoje desenvolve e foi enriquecida, de acordo com a Lei de Reflorestamento, era necessário você plantar plantas nativas. Então foi plantado muito Jacarandá. Plantamos cerca de um milhão de árvores de Jacarandá pelas Grotas, plantas nativas, ________ coletas de sementes, compravam sementes nativas, fazia as mudas e plantava, como se faz até hoje, para enriquecer essas áreas. E áreas _________, na área plana que ainda quando a empresa comprou a área tinha alguma floresta significativa, elas permanecem até hoje. Dentro de tem pomares, são áreas de preservação da vegetação nativa aqui na região.

P/1 – Edgar, estamos aproximando da parte final da entrevista, eu queria que você dissesse quais foram os momentos mais marcantes ao longo da sua carreira da Aracruz? Ou o mais marcante ou os mais marcantes.

R – O mais marcante foi ter trabalhado numa empresa com objetivo e oportunidade que eu tive de desenvolver, digamos, o meu talento. Eu me identifiquei muito com a área de florestas e desenvolvi. Tenho trabalhos publicados, que comprovam todo meu trabalho publicado no Brasil e no exterior, como os trabalhos de viveiro ou adaptação e aperfeiçoamento do sistema de clonagem, que os franceses e a primeira vez eu vi na Austrália a clonagem do eucalipto e depois identifiquei quem estava fazendo mais, que eram os franceses também. Aliás, os franceses fizeram primeiro em 1954 no Marrocos, depois eu vi na Austrália vi umas árvores clonadas, né? E vi no Congo também, mas eram plantios, evidentemente, pequenos, iniciais, um viveiro muito rústico, né? Era a nível de pesquisa evidentemente. Não era uma produção industrial de mudas. Então marcante para mim foi ter trazido essa tecnologia para o Brasil e ter adaptado para produção em larga escala, desenvolvendo aí sistemas de produção de mudas evitando essas doenças, como eu falei. Os plantios irrigados que proporcionaram plantios ininterruptos, trabalho de viveiro também ininterrupto, ao longo de todo ano. Você produz sempre muda e planta. Hoje é utilizado no Brasil inteiro e em outros países também fazem plantio irrigado. Por trazer esse sistema de container, de tubete para a produção de mudas do Havaí para cá. Nós devemos muito a atenção deles e que hoje também se disseminou pelo Brasil inteiro. Até estão fazendo tubetes fora do padrão original, muito diferentes, que não atende bem ao objetivo, né? Pensam em fazer melhor, mas não está bem melhor ainda não. Isso foi o trabalho marcante, pois a clonagem e utilização dessas árvores que, anteriormente, pensavam que era uma floresta péssima, que trazia sementes de São Paulo, mas foi um grande legado de São Paulo. Criou, né?

P/1 – E o que significa hoje para o senhor ter trabalhado na Aracruz?











































R – Foi uma realização total para mim. Gostaria de ter permanecido por mais tempo ainda.

P/1 – Realizou o sonho...

R – Aí depois me aposentei até precocemente. Aposentei com 30 anos de serviço. Mas ainda gostaria de ter continuado e colocar em prática outras ideias que ficaram na cabeça.

P/1 – Que ideias? Pode falar ou tem que patentear primeiro?

R – Ein? Não. São idéias a respeito de silvicultura, de novas seleções de árvores, cruzamentos, novas tecnologias de viveiros e, especialmente, na área de silvicultura.

P/1 – Se você fosse definir Aracruz em poucas palavras, quais seriam as palavras?

R – Aracruz foi e é uma empresa de grande sucesso, pelo trabalho sério que desenvolveu e que pensa muito nos seus empregados, no meio ambiente e que trouxe e traz um grande progresso em torno, um grande progresso para a região, para o Brasil e para o mundo também. Exportou muita tecnologia e, graças aos seus primeiro diretores, pela grande visão que eles tiveram, de desenvolver esse projeto, e dar grande atenção a tecnologia e desenvolvimento florestal.

P/1 – Qual é o seu cotidiano hoje? O que o senhor faz, trabalho e na hora do lazer também?

R – Lazer eu gosto de praia. Eu tenho uma pequena propriedade rural, produz algum leite e tem poucos empregados. O pessoal também satisfeito. Eu gasto algum tempo lá. Não é coisa que dá muito dinheiro, mas dá para divertir. Planto algumas árvores também lá ainda. Eu tenho aceitado alguma consultoria também em outros países e aqui dentro do Brasil também. Atualmente eu tenho dado umas aulas para o curso de pós-graduação de lato sensu, para a Universidade de Viçosa, para outras empresas florestais e moro em Coqueiral e viajo, gosto de viajar pelo exterior, pelo Brasil.

P/2 – E qual é o seu maior sonho, Edgar?

R – Uh?

P/2 – Qual é o seu maior sonho hoje?

R - Maior sonho? Maior sonho, qual seria? É ver a minha família bem, meus filhos, netos, digamos, e um país melhor. Viajei tanto, tantos lugares espetaculares e o Brasil com tanta oportunidade.

P/1 – Se o senhor pudesse mudar alguma coisa na sua trajetória de vida, o que mudaria?

R – Seria poder colaborar mais com a área florestal brasileira.

P/1 – O que o senhor acha que falta ainda?

R – Eu acredito que falta uma política florestal do Brasil muito mais atuante, mais atuante. Órgãos mais poderosos na área de floresta. Muitos países que estive eles têm Ministério de Florestas separado da área de Ambiente. Tem a parte ambiental, que define a política ambiental do país, tem a área de florestas preocupada em produzir madeira, tecnologia. Hoje você tem 20 tantas escolas de Floresta no Brasil e os engenheiros florestais estão aí trabalhando em trabalhos que não estão muito ligados a sua área, como agrônomos também estão vendendo adubo, estão fazendo trabalhos pouco significativos. Ou pelo excesso desses técnicos ou pela falta de uma política melhor. Mas a área florestal do Brasil, viaja pelo Brasil, você vê, tem áreas espetaculares produzindo madeira e é um produto renovável e muitas áreas estão sem utilidade e continuam sendo cortadas floresta nativa e você tendo possibilidade de produzir madeira muito mais rápido. Evidentemente pode cortar madeira nativa, fazer um bom manejo, como fazem na Austrália. A floresta não é para ficar estática também, só você ficar olhando, a não ser que seja específica, área de preservação permanente ou parque florestal tem que ficar ali. Mas você tem outras áreas, como na Austrália, a floresta é dividida em lotes e elas são manejadas. Vai o dendrometrista, o pesquisador, faz o inventário da floresta, você verifica as árvores que já estão maduras, corta aquelas árvores, deixa as menores. Daí há 20, 30, 40 anos volta a área para colher a outra. Está certo, você precisa de uma diversidade de espécies, não é só eucalipto para fazer móveis. Então você tem que utilizar a sua floresta porque a árvore cresce, fica velha, morre, vira matéria orgânica, vira gás carbônico, cresce, desce. Então está certo. Não é preciso uma floresta nativa ficar estática, ficar lá como um símbolo. Então acho que precisa ter um órgão muito mais atuante, que seria um Ministério de Florestas, com objetivo bem traçados. Então seria autoridades a conhecer, através da FAO, visitar esses países que têm atividades florestais muito significativas como é que eles funcionam, né? Temos muito que aprender.

P/1 – Para o senhor, qual é a importância de um trabalho como esse de registrar...

R – Como é?

P/1 – Para o senhor, qual é a importância de um trabalho com este de registrar a memória da Aracruz Celulose?

R – Isso é muito importante porque, como os museus, você tem que preservar hoje para mostrar amanhã aos descendentes, né? Porque nada surgiu do nada. Então como foi a história. Muita coisa a gente vê que foi perdida, não sabe mais quem é a pessoa, não sabe mais nada. “Como é que surgiu isso?” Ninguém sabe. Não foi assim, né? Foi gasto fosfato de muita gente, né? Muito importante, muito importante.

P/1 – E o que o senhor acha de ter participado dessa entrevista?

R – Foi com grande prazer, uma grande oportunidade da gente poder colaborar e registrar esses fatos e colaborar com a Aracruz, empresa que eu devo muito, trabalhei muito e me aposentei nela e moro aqui perto ainda. A gente sente ainda o progresso aqui.

P/1 – Edgar, queria agradecer, então, a sua participação aqui hoje, em meu nome, em nome da equipe do Museu da Pessoa e da Aracruz Celulose, foi muito bom estar aqui com você hoje, tá?

R – Tá. Muito obrigado a vocês. Um bom trabalho para vocês.

Fim da entrevista