José Marques Sarmento

sobre

José Marques Sarmento (Zé Sarmento) morador da periferia da zona sul de São Paulo. Cresceu nos campos irrigados e serras da cidade de Sousa, PB. Trabalhou como boia fria até aos 19 anos. Por ter pais analfabetos e falta de escolas, alfabetizou-se somente aos 14 anos e de lá pra cá nunca mais parou de ler e escrever. São Paulo foi à saída, onde se fez profissional de iluminação do audiovisual em longa-metragem, curta e publicidade. Casado, pai de quatro filhos. É graduado/licenciado em História com bolsa do PROUNI, depois de voltar a estudar quase aos cinquenta anos. É escritor de oito romances publicados em papel que anda por aí em sites de literatura e na mochila. Publicados: Um Homem Quase Perfeito; A Revolução dos Corvos; Urbanóides-Um Caos Paulistano; Paraisópolis-Caminhos de Vida e Morte; O Sequestro do Negativo Exposto; Bixiga-Um Cortiço dos Infernos; Ângela-Um jardim no Vermelho e GUERREIRA. Frequenta saraus das periferias e centro, onde fala seus textos que escreve para tal e o chama de PROSIA. Faz palestras em bibliotecas e escolas públicas e outros para alunos do ensino fundamental, médio e EJA. ----------------------------------------------------------------------------------- SONHAVA...SONHAVA... Já disse e repito fui um menino e jovem muito infeliz e revoltado. Sonhava EU que todas as cachaças do mundo fossem bebidas num só dia pro meu pai não encontrar ela mais pra beber e quebrar os trastes de casa e tentar bater na minha mãe. Sonhava em comer um saboroso bife a cavalo, coisa que só aconteceu depois dos 20 anos quando cheguei em São Paulo. Sonhava assistir televisão, o que aconteceu só depois dos 15 anos. Mas antes via filmes no cinema local quando algum adulto tinha-me dó e pagava a entrada, ou eu fazia algum favor para o exibidor. Sonhava entrar como os bacanas da cidade no circo pela porta da frente, mas entrava pulando a cerca quando o vigia dava as costas. Sonhava ler um grande livro, mas infelizmente só tinha revista de fotonovela na casa de umas primas, minha casa não tinha porra nenhuma de nada, apenas muitas crianças, meus irmãos choromingando, segurando na saia da minha mãe querendo alguma comida. Sonhava morar numa casa de alvenaria, como muitos colegas, mas a de taipa era meu refugio, como era refúgio para o bicho barbeiro. Sonhava não me esconder no mato, por vergonha da miséria, quando aparecia alguns colegas de escola pedindo água na porta de casa. Sonhava entrar pra escola da noite - o ginásio - mas isso só aconteceu quando comecei defender meu próprio dinheiro trabalhando de bóia-fria e pagar as mensalidades. Sonhava em meio aos campos agrícolas da minha região vir para São Paulo e fazer sucesso como ator, escritor, mas até hoje continua nos sonhos. Sonhava namorar com a moça mais bonita da classe, mas não tinha coragem de dizer do meu desejo, e sofria quando a via beijando outro. Sonhava ganhar muito dinheiro quando chegasse a São Paulo, ficar rico e ajudar minha família, também ficou apenas nos sonhos, mas de todo modo consegui ajudar até onde pude.(Lá eles sonhavam, como eu sonhava, que o menino que saiu às 20h de casa para viajar para cá, voltaria depressa, pois a vida prega peça. Não voltei. Só fiz isso depois de 7 anos. Meus irmãos que pegaram estrada, não conseguiram suportar a barra pesada como retirantes e voltaram todos mais cedo). Sonhava EU fincar pé aqui, e aqui estou até hoje, continuando sonhando na minha particular semiose. Sonhava não ter filhos, formar família, formei e tive quatro. Sonhava escrever um grande livro, ainda hoje corro atrás do meu sonho. Zé Sarmento