“Joguei no Sport Clube do Recife, joguei no Santa Cruz e vim para São Paulo para ser jogador. Chegando aqui, não deu certo a transação, os empresários começaram a brigar e eu falei comigo mesmo: ‘Cidade louca! Vou embora daqui.’ Nesse intervalo, liguei para um amigo, o Léo; ele trabalha...Continuar leitura
“Joguei no Sport Clube do Recife, joguei no Santa Cruz e vim para São Paulo para ser jogador. Chegando aqui, não deu certo a transação, os empresários começaram a brigar e eu falei comigo mesmo: ‘Cidade louca! Vou embora daqui.’ Nesse intervalo, liguei para um amigo, o Léo; ele trabalhava no primeiro Martín Fierro, que hoje é o Bar Empanadas. ‘Não, fica mais um tempo; se não gostar, você volta.’ Cheguei lá, o pessoal tudo cabeludo, né? Raul Seixas, Antônio Marcos, os cineastas da Tatu Filmes. Achei esquisito. Só tinha três bares na Vila Madalena: o Martín, o Sujinho e o Bartholo Bar. Bom, fui lá, comecei a trabalhar. Meu patrão chileno falava tudo enrolado: ‘Solta a lechuga!’ Que era a alface. E eu: ‘Meu Deus, o que que é lechuga?’ No começo achei que ia ficar louco, mas com o tempo peguei gosto. Fui gostando da coisa. Aí no ano 92, quando o Collor era presidente, quebrou tudo, o país parou! Você precisava ver, parou tudo. Teve aquele impeachment, o chileno falou: ‘Vou vender o bar para vocês.’ ‘ Mas a gente não tem dinheiro! ’Aí ele: ‘Não, vocês vão me pagando aí.’ E fizemos negócio. Muita gente quebrou naquela época, mas para nós ela foi de sorte, porque nós arrendamos o bar. Aí os cineastas ficaram contentes: ‘Ó, os terra seca pegaram o Empanadas.’ Aí já era Empanadas, não era mais Martín Fierro. E os caras traziam gente à beça; muito, muito. E engrenou; engrenou porque pegou também aquele crescimento do bairro. O cara está em um voo, pega uma revistinha e está lá falando da Vila Madalena, dos bares, dos restaurantes, das baladas. Com isso faz mais de 20 anos que estamos aqui. Agora só quero que Deus abençoe a minha casa, para manter a clientela sempre boa, e não quero mais nada. Eu vim para São Paulo para ser jogador, mas o que não deu certo deu certo. E foi melhor. Teve um dia, lá no começo ainda, no ano 85, apareceu no bar um empresário. Tinha um jogo no campo da USP, Palmeiras e Flamengo, sub-17. Eu tinha acabado de chegar, estava em forma. Fui lá, joguei e nós ganhamos de cinco a um do Flamengo. Aí no outro dia veio a perua do Palmeiras e encostou aqui em frente; tinham vindo me buscar para alojar, para tudo. Aí eu falei: ‘Ó, não jogo mais futebol. Virei botequeiro.’”Recolher