Museu da Pessoa

Valorizar o passado

autoria: Museu da Pessoa personagem: Wagner Freire Oliveira e Silva

Bom dia. Meu nome é Wagner Freire Oliveira e Silva. Eu nasci em Belém, em 20 de fevereiro de 1932.
FAMÍLIA
Meu pai era Manoel Freire, carpinteiro de profissão. Minha mãe, Iracema Marques de Oliveira, professora, como era comum naquele tempo. Basicamente isso.
Meu avô morava no interior... Essa primeira fase da minha vida foi no interior do Pará, na cidade de Castanhal. Claro que conheci bem o meu avô, conversei bastante com ele. Era o que talvez se chamasse um velho político do interior do Estado. Sim, conheci os meus avós maternos realmente. O nome deles... Pôxa, já faz tanto tempo. Alfredo, Alfredo.
A minha família é uma família, digamos, de muitos anos... Quer dizer, uma família tradicional. Não vou dizer tradicional, mas uma família paraense. O meu avô materno tinha 13 filhos, e muitos deles seguiram até carreira política. Muito me orgulho de ter um primo meu, já segunda geração, que foi governador do Estado do Pará até recentemente, até o ano passado na verdade, que é o Almir Gabriel, por exemplo. Não aparece Oliveira no nome, mas Almir de Oliveira Gabriel, que aliás, eu diria um bom governador durante oito anos para o Estado do Pará. Então, realmente, minha família teve algumas pessoas com mais destaque nessa área. Uma coisa interessante, o Almir Gabriel foi... O primeiro emprego dele foi como médico da Petrobras na Amazônia. Depois, evidentemente, muitos anos depois, saiu da carreira de medicina propriamente dita, passou pelo Congresso Nacional, foi senador, foi vice-presidente quando Covas foi candidato a presidente. Enfim, esse talvez um lado político um pouco afastado da minha atividade.
DO PARÁ AO RIO
Passei parte da infância no Pará. A minha casa era uma casa de interior. Castanhal é uma pequena cidade. Eu saí de lá, digamos, aos cinco anos de idade, mas a memória foi marcante, especialmente a viagem. Era um tempo que havia... Você viajava de navio. Então, eu saí de Belém, peguei, como diz a canção, eu peguei “um Ita no norte” e vim morar no Rio. E nunca mais voltei. Na verdade, eu voltei a Belém várias vezes, mas aí já na minha atividade profissional na Petrobras. Atividade, por sinal, na Amazônia da Petrobras foi intensa, não só na parte terrestre da Bacia Amazônica como também no offshore da Bacia Amazônica. Então, essa ligação, esse link com o Pará, sempre, digamos assim, pautou a minha atividade profissional de um modo ou de outro.
CASARÃO
Eu tinha quatro irmãos, mas um morreu relativamente cedo. Nossa casa no Pará era uma casa grande, que o avô morava quase sempre com algum dos seus filhos. Era um casarão na verdade. Não tenho uma memória mais forte disso aí porque na verdade eu saí de lá cedo.
PRIMEIRAS LETRAS
Mas eu me alfabetizei lá no Pará. Eu acho que com cinco, seis anos, eu já conseguia escrever alguma coisa. Antigamente, havia uma preocupação muito grande de alfabetizar os filhos logo. Então, eu diria que me alfabetizei muito cedo.
SEGUNDA GUERRA
Na verdade a transferência de minha família para o Rio de Janeiro não difere muito, mas as pessoas, quando se esgotavam as oportunidades de emprego, elas acabavam migrando para as grandes cidades. Por alguma razão, o meu pai preferiu vir morar no Rio de Janeiro e aqui conseguiu um bom emprego efetivamente e pouco depois ele resolveu trazer a família. E assim nós viemos todos morar aqui no Rio de Janeiro. Isso aí foi no ano de 1937, um pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, que foi outro fato marcante na vida da gente.
A Segunda Guerra marcou, nada particular, mas é claro que eu tinha... Eu tinha um dos nossos tios prediletos, ele era marinheiro da Marinha de Guerra. Ele esteve em ações na Guerra. Por sinal, teve uma outra característica desse tio porque ele chamava-se José Freire. Característica interessante porque quando acabou a guerra, ele saiu da Marinha. Ele passou um tempo em Volta Redonda. Um tempo em que Volta Redonda estava num processo de desenvolvimento. Pouco depois, ele entrou na Petrobras na área de, evidentemente, ele sendo da Marinha, entrou na Fronape. Ele foi um dos técnicos destacados na Fronape durante muito tempo. Morreu alguns anos atrás. Enfim, mas ele já aposentado da Petrobras. Teve esse link também familiar.
FRUTAS ESTRANHAS
Agora, dessa viagem que falei, nesse navio, no Ita, algumas coisas foram marcantes. Olha, não, nada, nada, digamos especial. Mas é interessante, a gente tem contato com as primeiras coisas um pouco diferente, tipo comer pêra e maçã, isso eu me lembro. Porque pode parecer uma coisa estranha, mas na verdade não é. Pêra e maçã, coisas importadas naquele tempo e no navio. No navio você tem esse detalhe. Naturalmente o Pará, hoje em dia... Antigamente, açaí por exemplo era pouco conhecido, mas agora você compra açaí até nos Estados Unidos. Então, é considerada uma das frutas mais interessantes. Mas são coisas, assim, memórias antigas de fato.
NO RIO
Aí nós viemos para o Rio de Janeiro. Eu morei em São Cristóvão. Era uma casa, evidentemente, de gente, digamos, pobre. Morei em Campo Grande também.
COLÉGIO INTERNO
Claro, completei o curso primário em escola pública no Rio de Janeiro. Hoje em dia tem aquele plano político: "Pôxa, você estudou em escola pública?" "Não, eu estudei em escola pública." Uma das escolas públicas em que eu estudei, por sinal, fechou. Acabou já. Chamava-se Escola... Grupo Escolar ou Escola Epitácio Pessoa. Ficava ali no Viaduto dos Marinheiros atualmente. Mas... Quer dizer, meu pai... Minha mãe morreu muito cedo. Eu tinha 10 anos de idade e meu pai morreu alguns anos depois também. Eu fui educado por alguns filhos... Por um tio e isso teve um papel importante também na minha formação. Esse tio era, além de funcionário da alfândega, ele também era professor... Professor de português, latinista na verdade. E ele tinha realmente uma vocação muito grande pela pesquisa ligada a essa área. Era um lingüista na verdade e talvez isso também tenha influído um pouco na minha profissão... Na minha carreira futura. Enfim, foi ele que me educou numa certa fase. Aí, por volta dos 12, 13 anos, finalmente consegui fazer um concurso para o Colégio Pedro II e passei. Não era uma coisa fácil e naquele tempo também era comum você ir para internato. Hoje em dia não existe mais a figura do internato. Mas naquele tempo havia. Eu diria que na minha formação foi fundamental essa passagem, pela qualidade do ensino no Colégio Pedro II. Eu até, esse domingo, eu estava me lembrando de uma passagem muito interessante. No jornal, no “Globo”, tem uma folha inteira explicando por que em estando no presente, você não diz "Nós viemos aqui. Nós vimos." Eu estou lembrando isso porque eu estava representando uma comissão de alunos e fomos falar com o diretor do Pedro II. Eu devia estar no quarto ano... No terceiro ano ginasial, uma coisa assim. E o diretor era o Clóvis Monteiro. Fomos falar com o diretor, e eu, representando os alunos, disse assim para o diretor: "Nós viemos aqui..." Ele disse: "Meu filho, não é nós viemos. É nós vimos." Isso aí, digamos assim ficou marcado, mas tive professores importantes. Pedro II realmente é um grande colégio... Outro que me marcou bastante foi o Vandick Londres Nóbrega, um professor de latim. Tinha o Haroldo Lisboa, professor de matemática. O Haroldo Lisboa tem uma passagem interessante, que uma vez, desenvolvendo um polinômio no quadro, que era comum isso, eu errei num sinal lá, ele falou: "Pô, você jamais vai ser um engenheiro." Eu devo ter me esforçado para provar para ele que eu podia ser um engenheiro sim. "Esse aí jamais vai ser engenheiro." Então, tem essas passagens, assim, do colégio que são, digamos assim, marcantes. Mas entre meus colegas estava Francisco José Calazans Falcon. Eu me lembro que no ginásio nós andamos disputando quem é que sabia mais história, se era eu ou ele. Mas a partir de um determinado momento, achei que a minha vocação era para ser historiador. Então deixei por conta do Francisco. Mas essa, talvez, são... Eu diria que a passagem no Pedro II foi realmente fundamental para minha formação posterior.
Nos quatro primeiros anos, nós éramos internos, regime interno. Você fica uma semana lá, uma semana eu ia para a casa do meu tio. Já no científico era externo, embora tenha continuado no Colégio Pedro II... No campo de São Cristóvão, onde era o colégio naquele tempo.
MORRO DO ALEMÃO
Nesse tempo, interessante, nós morávamos em Olaria. Meu tio, eu, a gente morava na rua Uranus, no tempo que o Morro do Alemão, a empregada morava lá, a gente ia lá na casa da empregada, não tinha problema nenhum. Hoje em dia, o Morro do Alemão nem falar, mas houve uma diferença realmente tremenda de lá para cá.
DIVERSÃO ESCASSA
A vida nesse bairro não tinha nada de especial, eu diria, porque evidentemente mudou muito. Se você está no colégio interno, você no fim de semana vai para a casa dos pais ou de quem está cuidando, tomando conta de você. A atividade de uma família de classe média, por aí, não é nada de especial, a não ser você ir ao cinema o fim de semana. Não tinha nada de fato, assim, marcante que eu me lembre. Na verdade, a vida fosse, talvez, estudar mesmo, não sei. O que eu mais fazia era isso.
O Carnaval é um Carnaval clássico que vocês já ouviram falar das revistas aí. O Carnaval se brincava no bonde. Não tinha esse negócio de bloco. Era completamente diferente. Ou talvez pelo tipo de vida que a gente tinha, mas o Carnaval do meu tempo eram os rapazes, as moças e tal, brincava era no bonde mesmo, nos clubes ocasionalmente. Mas nada de muito, enfim, especial.
DANDO AULA
Bom, a gente, no científico, eu andei trabalhando... Claro que você não tinha tempo integral. Então você já podia fazer alguma coisa. Evidentemente, eu andei dando algumas aulas. Você dava aulas particulares para... De qualquer coisa que você dominasse de um modo ou de outro. Matemática principalmente. Eu tive muitos alunos particulares, digamos assim. Essa era uma atividade acessória.
FORMAÇÃO HUMANÍSTICA
Também, outra coisa que o ensino realmente... Caiu o ensino? Não, porque o ensino não mudou. Não posso dizer que o ensino caiu, mas naquele tempo se estudava bastante inglês e francês. Latim também. No tempo que eu estudei latim... Para que serve o latim? Realmente quantas pessoas poderão questionar isso, mas o latim foi... Enfim, foi, eu sei, eu estudava quatro anos de latim e depois quando você faz a opção para o chamado científico, eram três anos que você estudava outras coisas. Basicamente matemática, física, química, essas coisas. E tinha sempre inglês e francês. Foi um tempo... A formação humanística era muito boa nesse tempo.
Na verdade, eu lia muito, eu estudava muito também. E você começa a desenvolver um espírito mais crítico talvez e você acaba caindo nas ciências exatas. Na verdade, eu gostava muito de física, e os apelos foram sempre grandes. Estamos aí numa fase de desenvolvimento pré-nuclear justamente. Então, eu fui muito voltado para física, de certo modo. Na verdade, eu no primeiro vestibular que eu fiz, eu fiz vestibular para física, depois é que eu fiz para engenharia logo a seguir. Mesmo na minha carreira, na Escola de Engenharia, estudei na Escola Nacional de Engenharia, o que me fez levar para engenharia foi justamente essa maior, digamos assim, aproximação ou interesse na área de ciências exatas, basicamente física, química, matemática. E é interessante que quando eu fui para a Escola de Engenharia, eu também tive um curso, tive uma predileção muito pessoal pelos cursos básicos de física. Você faz física durante dois anos e ao chegar, assim, por volta do quarto ano da escola, eu resolvi me dedicar um pouco mais... Estava em moda a questão de aplicação nuclear da física ou desenvolvimento nuclear, digamos assim, centrais nucleares. Naquele tempo, e eu acabei indo para o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, como bolsista e fiz curso de... O primeiro curso de Engenharia Nuclear que houve na Escola de Engenharia eu fiz como um curso paralelo.
OFERTAS DE EMPREGO
Eu entrei na escola em 1953. Ao terminar o curso, eu estava bastante preparado na área de Engenharia Nuclear chamado. Aí eu tinha duas opções na hora do emprego. Falei que... Nesse tempo, nós formamos em 1950... Me formei em 1957, tinha 220 alunos na Escola de Engenharia e eu diria que todos empregados praticamente com mais de uma opção de emprego. Em particular, eu tinha uma atividade... Outra coisa, assim, interessante porque como tinha uma atividade profissional, quer dizer, eu trabalhava, isso aí te obriga a otimizar melhor seu tempo. Então, mesmo trabalhando - eu trabalhava seis horas como funcionário público -, dava tempo de estudar. É claro que se estudava bastante, também dava tempo de estudar e dava tempo para, enfim, até para as atividades de lazer obviamente. Mas... Ao me formar, eu tinha duas opções; ou ia para a área de engenharia nuclear, quer dizer, fazer reatores ou ir para... Não bomba atômica obviamente, ou iria para a Petrobras. A Petrobras, talvez, teve um apelo mais forte. Eu acabei saindo da área nuclear, mas foi interessante porque esse background nuclear também me deu, me ajudou muito na minha carreira na Petrobras, porque também é um dos embasamentos da atividade, de certo modo.
CENSO
Meu primeiro emprego, por excelência, é interessante. Foi como auxiliar... Foi recenseador no Censo de 60. Na verdade, eu fiz concurso para recenseador e passei e fiz concurso para a etapa seguinte, que era auxiliar censitário. Mas eu não pude ser admitido porque eu não estava, como se fala, quite com o serviço militar. Então, não pude ser... Para a etapa seguinte. Nessa primeira etapa, eu diria que a experiência foi muito interessante porque eu estava no Colégio Pedro II ainda

e foi no mês de julho, mês de férias, eu tirei esse um mês para fazer o recenseamento. Eu gosto de citar essa passagem também porque na hora de escolher, você era designado para um setor para fazer... Ia de casa em casa preenchendo a ficha, aquele negócio que vocês conhecem. Na hora de escolher o setor, eu olhei, assim, na lista e tinha setores que tinham... Em geral, tinham 240 domicílios. Aí eu olhei assim, tinham 360. Discretamente eu olhei assim, "360, eu vou escolher esse que dá mais dinheiro." PegueI 360, o cara olhou para mim: "Pô, mas espera aí, esse setor aqui é muito grande para você. Você não vai dar conta disso." "Eu quero..." Consegui, peguei esse setor. Ele ainda imaginou "Você não vai dar conta." Então, na verdade, não só dei conta como entreguei muito antes do prazo. E alguns que tinham pegado os setores com 240 casas, não terminaram. Então, falou assim: "Pô, já que você terminou mais cedo, você não quer pegar?" Então, eu diria que foi um sucesso. O setor ficava em Engenho de Dentro. Não era no bairro onde você mora, mas Engenho de Dentro, Meyer, Engenho de Dentro por ali. Enfim, não tinha problema nenhum. Nessa época, a cidade era tranqüila. Mas em decorrência disso, eu fui, digamos assim, premiado, embora não estivesse quite com o serviço militar, premiado para fazer, trabalhar como auxiliar censitário. Na verdade, o trabalho é feito na Praia Vermelha, numa daquelas instalações que tem lá... Naqueles edifícios antigos da Praia Vermelha; ali se instalou o IBGE, um serviço de alta eficiência na apuração do Censo 1950. Eu fiquei durante um ano, trabalhando como recenseador. Aí estamos aí em 1950, ainda estava, digamos assim, no Colégio Pedro II, portanto era um trabalho part time, um trabalho de seis horas, por exemplo. Essa foi, talvez, uma experiência, digamos, profissional, interessante, inclusive pela interação pelas pessoas. Você sai daquele Colégio Pedro II meio fechado, começa a interagir com a comunidade. Foi muito bom. A outra experiência interessante, eu fiz concurso para o que se chama auxiliar de escritório do IAPI, Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários, que era um dos institutos mais bem organizados nesse país, naquele tempo em que a opinião social era classificada por institutos. Então eu fui auxiliar censitário e aconteceu que eu fui designado para um setor que cuidava dos benefícios que tinham sido negados e por incrível que pareça, o objetivo dessa seção, desse serviço, era fazer todo esforço para recuperar o direito dos associados que tinham o benefício negado, ter o benefício. Isso hoje em dia me parece quase inconcebível, porque a impressão, a imagem que a gente tem dos institutos, do Instituto de Previdência é que ele faz tudo para negar os benefícios. Então, a minha função era recuperar os benefícios que tinham sido negados, encontrando alguma justificativa que merecesse e daí eu também desenvolvi muito a minha habilidade de redação porque consistia em você fazer uma série de argumentos bem fundamentados para ter o benefício, afinal de contas, aprovado. Essa foi uma experiência também profissional muito interessante. Uma outra experiência que não tem muito a ver e que hoje em dia já não se faz mais, foi você entrar para as Forças Armadas. O serviço militar obrigatório. Nós estamos aí, em plena crise da guerra da Coréia, 1953, 1954, e eu fui para o CPOR. Escolhi Arma de Engenharia como era natural, era estudante de engenharia e eu fiz o CPOR. O CPOR era diferente do que é atualmente. O CPOR era feito aos domingos - e durante o período de férias, que é janeiro e fevereiro e julho, eram períodos contínuos. Então você ia todo dia. Eu acho que foi uma experiência interessante essa aproximação com as Forças Armadas, numa época em que havia, realmente, um risco de guerra de certo modo. Foi, então, evidentemente, eu passei dois anos. Saí, o que se chama, aspirante oficial da reserva e a seguir ainda tinha um estágio obrigatório. Foi num ano que havia possibilidade de mobilização para guerra e eu fui parar na Companhia Escola de Comunicações e fiz, o que se chama, estágio de aspirante. Obviamente no fim de três meses ou seis meses, não me lembro, eu saí como segundo-tenente da reserva. Função interessante, segundo-tenente da reserva do Exército. Essa foi uma experiência, sem dúvida, interessante que hoje em dia não se tem mais experiência desse tipo, até porque o CPOR depois de um certo tempo, passou a ser contínuo durante um ano. Então, praticamente era impossível estudar.
BAILES
Olha, quando era jovem tinha lazer, é verdade, mas eu diria que não como hoje. Não sei se as opções eram menores, se era o meu jeito, mas basicamente o que se fazia era cinema. Não sei se tinha alguma outra coisa, assim, muito diferente. Praia, cinema, como hoje. Mas obviamente uns bailes aqui, ali. Chamava-se de baile. Mas eu diria não com a badalação de hoje. Televisão é uma coisa muito mais limitada do que é atualmente. Eu não diria que seria... Não foi atividade chamada atividade lúdica, não tinha esse desenvolvimento todo, que eu diria, essas opções que tem hoje em dia, namorar e etc. Mas as pessoas eram mais... Bom, a própria revolução sexual só apareceu muito depois. Pelo contrário, na minha época havia uma época de repressão.
RIBALTA
Eu tive uma experiência na Metro Golden Meyer. É uma experiência interessante. Na verdade, quando eu tinha, assim, meus 18 anos, não era fácil arranjar emprego porque por incrível que pareça, ninguém dava emprego para quem não estava quite com o serviço militar. Serviço militar era uma coisa significativa nessa época. Então, um dia... Aí você vê dezenas de empregos no jornal, você se aplicava lá na hora da entrevista, o cara: "Pô, mas não está quite. Então não serve." Era mais ou menos assim. Por que estar quite? Porque se você é convocado para o serviço militar, o empregador tinha que garantir a tua vaga. É como mulher grávida que sai para ter filho... Licença-maternidade. Tem que garantir a tua vaga. Mas um dia eu atendi uma convocação... Convocação não, um anúncio da Metro Golden Meyer, cujo escritório ficava no Cinema Metro, ali no Passeio Público, ali no Passeio Público no Centro, e eu fui lá. Fui atendido: "Ah, e você tem... Você disse que estudou estatística por conta própria." "Sim, eu estudei estatística. Estudo no Colégio Pedro II." "E o serviço militar?" "Ah, não." "Mas olha, vou fazer uma exceção contigo para pegar." Então conseguir um emprego na Metro Golden Meyer, cuja função magicamente era de trabalhar na programação dos filmes, na época em que os filmes da Metro, talvez, eram dos mais cotados na praça. No fim de três meses ou quatro meses, eu saí de lá e eu para a grande decepção, até minha e do próprio chefe: "Pô, você vai sair?" Digo: "Pois é, eu fiz concurso para o IAPI, passei, tal. É um emprego melhor." Assim eu desci... Deixei a minha vida de artista, quer dizer, trabalhar nessa área. Mas teve um outro aspecto também; como eu estava no recenseamento, aí por volta de 1950 como eu falei, um certo grupo de pessoas estava ligado ao teatro: "Você não quer trabalhar no teatro?" "Trabalhar no teatro? Eu, um cara doido para estudar engenharia, trabalhar no teatro?" Então, eu tive um convite insistente para eu trabalhar o teatro. Acho que devia ter aceitado. Talvez tivesse dado mais certo. De repente, entrava na televisão depois. Talvez tivesse dado mais certo. Mas, enfim, a minha vida, a minha possibilidade de entrar no teatro abortou com uma rapidez tremenda. Digo: "Pô, que pena... Devia ter ido para lá, quem sabe." Mas, enfim, esses são aspectos ligados a essa vida pré-dedicação exclusiva à Petrobras que apareceu depois. Aí, interessante, estamos em 1957, me formei na Escola de Engenharia. Naturalmente, eu tinha uma noiva e acabamos. E aí, casa ou não casa. O curso de Geologia de Petróleo era na Bahia. Então eu tive que ir para a Bahia...
INGRESSO NA PETROBRAS
É interessante meu ingresso na Petrobras. Estamos aí em 1957, a única atividade significativa de exploração e produção de petróleo... De produção de petróleo era na Bahia. Petróleo foi descoberto na Bahia, por volta de 1939. Quando a Petrobras assumiu as atividades do Conselho Nacional de Petróleo, justamente em 1954, só havia produção de petróleo na Bahia. Tinha alguns campos que produzem até hoje. O campo de Água Grande já tinha iniciado a produção, Campo de Candeias. Então, eu estava na Escola de Engenharia ainda, quando recebi um convite para visitar a Petrobras, as operações da Petrobras na Bahia. E assim eu fui convidado da Petrobras para visitar as operações de campo, em Mata de São João, Catu, no Recôncavo. Nós fomos muito bem tratados: "Oh, maravilha.” Visitamos sondas de perfuração, não sei o quê. A companhia estava em pleno processo dinâmico de crescimento e aquilo ali, de certo modo, nos empolgou, nos empolgou bastante. Talvez tenha sido uma... O que nos levou a escolher essa opção Petrobras, quando tinha opção nuclear também., uma das principais. Bom, em 1958, como eu disse, por volta de 1957, atividade preponderante era na Bahia com produção. Também havia uma atividade intensa na Amazônia, paleozóico. Porque a Bacia Sedimentar na Amazônia é imensa bacia, empolgante em muitos aspectos. Mas a atividade lá era essencialmente de exploração. Quer dizer, só se fazia alguma geofísica e alguma perfuração. Não havia nenhuma atividade de produção. Na verdade foi nessa ocasião que houve indício de petróleo. Na verdade, jorrou como diz o vulgo, "petróleo novo olinda." Isso aí causou um rebu muito grande de intensificação dos trabalhos no Amazonas. Mas foi mais ou menos nesse clima aí que houve a decisão de eu ingressar na Petrobras. Na verdade, nesse ano de 1957, a Petrobras ia nas escolas de engenharia fazer os recrutamentos, interessar os alunos e havia duas opções básicas; uma era pelo curso de refino de petróleo. Era um curso de um ano, dado aqui no Rio de Janeiro, por sinal para a área de refinaria e um curso de... Que era uma inovação, curso de dois anos de geologia do petróleo. Note bem, nessa época não havia escola de geologia no Brasil. Quando muito, você tinha engenheiro de minas que se dedicava, de um modo ou de outro. Essa dos primeiros profissionais entrarem nessa área, era oriundos da área de engenharia de minas sobretudo de Ouro Preto, da Universidade de Ouro Preto. Nessa ocasião, houve uma mudança de estratégia. A Petrobras tinha por norma mandar pessoal para as universidades americanas. O regimento era muito precário. Primeiro porque quando você ingressa na universidade americana, não propriamente num curso de mestrado, de pós-graduação, você se enquadra na universidade, há muita dispersão dos objetivos do curso em si. E com freqüência mandava as pessoas que nem inglês falavam. Então, isso aí já trazia alguma dificuldade. Então era um processo muito pouco rendimento. Foi aí que o coração do Juracy Magalhães, primeiro presidente da Petrobras, contratou o Walter Link, que foi um geólogo depois que deu origem, uma contribuição muito grande na Petrobras. Mas o Walter Link era um geólogo de alto gabarito na verdade, e o objetivo dele realmente era descobrir petróleo nesse país, e ele resolveu mudar o sistema. Em vez de mandar um ou outro, todo ano, alguém para os Estados Unidos, trazer os professores dos Estados Unidos e colocar aqui, que a transferência de informação seja muito mais efetiva. E de fato deu certo. Eu diria que a Petrobras, a primeira turma, temos 12 ou 13 graduados, porque também não tinha muita gente interessada nessa área. E na segunda temos 16 - foi a minha. Tínhamos uma defasagem de um ano entre uma turma e outra. E assim nós fomos parar na Bahia. A minha chegada na Bahia foi cercada de uma certa decepção porque aquela recepção que eu tive na visita que eu fiz seis meses antes... Não tinha ninguém me esperando no aeroporto. Estava chovendo, deixei a minha noiva lá no Rio, vim para cá, que desgraça. Essa foi a primeira sensação. Depois você... O curso era duro para danar. Poxa, realmente a gente estudava muito. O curso era dado inteiramente em inglês, e evidentemente eu já tinha um razoável background em inglês aqui, adquirido aqui no Rio. Eu não tive maior problema nesse aspecto.
CURSO ACELERADO
O curso era todo em inglês, pois os professores eram todos americanos, não falavam português obviamente. A literatura toda era em inglês também. Não havia essa atividade no Brasil. Quando eu fiz escola de engenharia tinha um professor chamado Rui de Lima e Silva que tinha um compêndio. Chamava assim, Compêndio de Geologia de Petróleo. Numa das páginas lá dizia o seguinte: "No Brasil não há possibilidade de petróleo porque não tem anticlinais, uma feição geológica. Anticlinais. Então no Brasil não há possibilidade de petróleo." Está dito no livro dele aí. Como essa questão evoluiu tremendamente aqui nesse país. Então essa foi a atividade... Que dizer, esse foi, digamos assim, o meu início na Petrobras, porque no fundo, pouco depois, os gringos, digamos assim, começaram a chegar. Inclusive o professor chefe desse curso aí era o professor... Bom, no momento esqueci o nome dele, mas era o vice-reitor da Universidade de Stanford. Não era um camarada qualquer, digamos assim. Vice-reitor da Universidade de Stanford. Então, o time era realmente de alto nível, os professores eram de alto nível. O curso tempo integral. Então se estudava sábado, domingo, feriado, segunda-feira. Foi um curso duro, porque na verdade era você ensinar em dois anos todo um curso de geologia de petróleo, normalmente dado em quatro, cinco anos. Então era extremamente, tremendamente, comprimido.
O DIA DA ENTRADA
Quer dizer, eu já entro como funcionário da Petrobras e faço esse curso... A data da minha entrada na Petrobras é 15 de janeiro de 1958, um pouco depois de formado.
CASAMENTO
Como eu disse, eu deixei a minha mulher aqui no Rio... Minha mulher, minha noiva aqui no Rio, ficamos um ano... De vez em quando eu ia ao Rio, evidentemente porque o curso também não dava muita chance. Era um curso, período de três meses. Os períodos de seis meses da universidade foram comprimidos em três meses, basicamente isso aí. Então não havia muita chance de vir ao Rio, mas enfim, depois de um ano eu acabei casando, levando a mulher para lá. E uma outra experiência interessante porque... Porque coincidiu do chamado período de campo. Eu casei em dezembro, e o período de campo era janeiro, fevereiro. E no período de campo você ia para expor geologia de campo efetivamente. Isso foi lá em Sergipe. Então nós fomos para o interior de Sergipe, na área de fronteira entre embasamento e a bacia sedimentar. Foi também uma outra experiência interessante, porque significaria deixar mulher em Aracaju e ir para o interior.
VÃO-SE OS ANÉIS
A primeira experiência foi chegar no hotel em Aracaju e evidentemente nesse tempo não era comum você ter quarto junto ao... O banheiro no quarto, né? O banheiro era um lugar separado e obviamente eu fui tomar banho no banheiro e tira anel, relógio... Enfim, aquele anel de formatura que antigamente se usava, cheio de troço. E deixei o anel e... O anel de formatura e o anel de casamento - a aliança - no banheiro. Quando eu voltei para o quarto: "Cadê a minha aliança?" Eu voltei no banheiro, não tinha mais, sumiu. Então a primeira experiência é perder aliança e anel... Aliança eu tive que comprar no dia seguinte. O anel de engenheiro, que foi um presente, nunca mais tive. Então isso aí foi uma experiência dura para danar. Mas, enfim, a outra experiência é ir para o campo. Foi uma experiência muito interessante porque era geologia de campo por excelência e também atividade muito dura durante o dia todo, descrevendo as rochas, mapeando etc.

MAPEAMENTO
Mapear é fazer mapeamento, escrever... Enfim, é estudar como é que controla a acumulação de petróleo.
INTENSIVÃO
Me lembro que a turma de 16 era dividida em grupos de três e tinha um americano que fazia tudo, orientava os alunos no campo. Eu me lembro, hora do almoço, todo mundo comendo sanduíche, meia dúzia de pessoas, e um professor de inglês muito difícil falando uma porção de coisas. Aí, ele, de repente, deu uma pausa assim, ninguém respondeu nada. Aí ele falou: "I’m asking you a question!" Isso para mostrar... Ninguém entendeu nada. O americano ficou furioso realmente. Mas essa foi uma experiência também, vivências extremamente interessantes. Nós entramos... Quando nós entramos na atividade profissional propriamente dita, dois anos depois, eu diria que nós estávamos muito bem qualificados, porque eram pessoas que tinham, pelo menos, sete anos de experiência universitária. Você teve cinco anos de engenharia, mais dois anos, e nós entramos já com toda aceleração possível. Nós nos julgávamos bastante capacitados para exercer atividades ligadas à áreas de exploração.
OS GRINGOS
Nesse tempo, a Petrobras tinha uma quantidade enorme, digamos assim, de gringos trabalhando. Nessas alturas, só na Bahia por exemplo tínhamos 20 geólogos estrangeiros. A maioria americano, mas tinha também alguns que não eram... Tinha alemães, por exemplo. Tinha vários alemães. Certas especializações, paleminologia, que é estudo de pólen para identificação das rochas, paleontologia, micropaleontologia, eram os alemães que estavam lá. Geodésia era alemão também. Então é uma atividade interessante.
SACRIFÍCIO FAMILIAR
Eu fiquei na Bahia entre... Morei oito anos na Bahia. Bom, tem aqueles problemas familiares, porque a minha mulher, que estudava na Faculdade Nacional de Filosofia... Minha mulher se chama Alda. Ela teve que... Ela teve que, enfim, ela saiu, trancou a matrícula na Faculdade Nacional de Filosofia e foi para Faculdade de Filosofia da Universidade da Bahia. Mas aí começa aquele negócio de gravidez e tal, não sei o quê. Acabou o curso. Minha mulher, diga-se de passagem, ela teve um intervalo grande sem atividade, até que os filhos praticamente se formaram. Aí ela resolveu estudar direito, já no limite de idade, e hoje em dia ela é uma excelente procuradora de Justiça do Ministério Público Estadual aqui no Rio, muito bem conceituada. Enfim, fez parte da formação da família.
OS FILHOS
Até me orgulho muito, porque também os meus filhos têm uma excelente formação profissional. O mais velho acabou... O mais velho se formou no Instituto Militar de Engenharia. Depois ele se formou no Impa, Instituto de Matemática Pura e Aplicada. Saiu da área de engenharia para ir para a área de matemática. Acabou indo fazer um doutorado nos Estados Unidos. Fez um doutorado em Princeton, se graduou em Princeton em matemática pura. E atualmente ele é professor na universidade americana já há alguns anos, muitos anos. Recentemente, ele foi... Recebeu um convite e trabalha na National Science Foundation, que é um órgão do governo americano em Washington e está lá numa designação de dois anos, que é um órgão de alto nível do governo americano para a área científica. Então, ele é um dos diretores na National Science Foundation. O nome dele é

Alexandre Freire. O meu filho do meio, Haroldo, ele também estudou no IME, também fez mestrado no Instituto de Matemática Pura e Aplicada. Fez um curso... Bom ele foi mais ligado ao Exército. Trabalhou muito no desenvolvimento de jogos de guerra para escolas

do Comando Maior do Exército. Eventualmente, ele fez um curso na Inglaterra também, pelo Exército. Uma exceção, porque esse curso era dado para o pessoal da Nato [North Atlantic Treaty Organisation – em português, Otan, ou Organização do Tratado do Atlântico Norte]. O Exército brasileiro não pertence à Nato, mas foi aberta uma exceção e passou um tempo lá na Inglaterra. Hoje em dia eu tenho uma firma de informática aqui no Brasil. A minha filha, a mais nova, ela é bióloga. Fez várias missões na Antártica já e atualmente ela é professora de biologia na Universidade Federal.Tem doutorado na Universidade de São Paulo e oceanografia, e é professora de biologia da Universidade de Florianópolis, Santa Catarina, universidade federal. O nome dela é Andréia. Então... Todos nasceram na Bahia.
NA GEOFÍSICA
Esse foi um período interessante sob muitos aspectos. Bom, nos integramos na atividade na Bahia. Inicialmente eu fui para o campo, uma atividade de geologia. Eu era, inicialmente, classificado como geólogo, até que eu fui... Eu trabalhei numa equipe de geologia de superfície, mapeamento da geologia do Recôncavo, no tempo que se fazia isso - hoje em dia não se faz mais. Isso porque a atividade... Fotografia por satélite está muito mais... Você vai ao campo só para fazer verificações. Então trabalhei durante um ano na atividade de geologia de campo na Bahia. Tem um detalhe interessante que um dia, às 5h da tarde, atolado até a alma, num mangue lá da Bahia, sozinho num Jeep, cheio de mosquito, eu digo: "Eu não vou mais trabalhar em geologia de superfície de jeito nenhum. Vou mudar para geofísica, que é um negócio muito mais sofisticado. Deixa esse negócio de geologia para lá." Então, nesse dia eu decidi e saí. "Não quero mas ser geólogo." E geofísica na verdade é uma atividade ligada à geologia. É uma especialização da geologia, só que ela trabalha com outros métodos. Trabalha com método sísmico por excelência, e assim eu fui para numa equipe de refração sísmica na Bacia de Tucano, também na Bahia. Trabalhei lá durante um ano. Depois de um ano nessa atividade, eu também acabei vindo para o escritório para trabalhar mais na área de interpretação.
OS RUSSOS
Estamos aí, 1963, uma grande contestação. O Link foi substituído. Pedro de Moura era o geólogo chefe, antigo geólogo brasileiro que assumiu o Departamento de Exploração. E havia: “Pô, os americanos não querem descobrir óleo no Brasil.” Essas bobagens assim. E um dia resolveu-se fazer um acordo com os russos e veio uma missão russa aqui no Brasil para fazer uma avaliação das possibilidades petrolíferas no Brasil. Isso estamos em 1963.
Então veio uma equipe de alto nível dos russos estudar aqui. Eu fui designado para acompanhá-los de perto nesse trabalho de meio de campo, digamos assim, e

também preparar os relatórios etc. Então trabalhei com equipe de geólogos russos durante alguns meses aí. Bom, aí aconteceu um evento que todo mundo conhece, que foi a famosa Revolução de 1964 e... Na verdade, e talvez essa aproximação com os russos me fez: "Vamos estudar um pouquinho de russo?" Nós falávamos em inglês. Nós falamos inglês, um inglês um pouco macarrônico aqui, ali, mas a comunicação era em inglês. Mas eu resolvi estudar russo para - enfim, resolvi estudar russo. O cara me perguntou: "Para que que você quer estudar russo?" Enfim, então essa foi a minha passagem de eu estudar russo. Mas o fato é que nós colaboramos na feitura desse relatório... Enfim, o relatório teve uma certa repercussão, mas no fundo não tinha muita coisa diferente do que estava sendo feito, digamos, com a tecnologia americana, o que seja. Os russos não eram... Inclusive, em alguns aspectos, eles nem tinham esse adiantamento tecnológico. Estudo tudo em geofísica, eles não tinham a sofisticação que as companhias ocidentais tinham. Não as companhias americanas, mas as companhias de geofísica de um modo geral, que por excelência, uma das melhores companhias é a companhia francesa ou companhia alemã, Prakla outra companhia importante. Então, essa tecnologia aqui no mundo, chamado fora da União Soviética, era muito mais avançada do que era utilizada pelos russos. Mas na Rússia, enfim, tinha muito petróleo. Então, a contribuição deles acabou, de fato, sendo interessante, mas com uma visão um pouco diferente da geologia do Brasil. Estamos aí por volta de 1960...
DETIDOS PELAS FORÇAS ARMADAS
Ah, tem um episódio interessante aí. Num belo dia, logo depois que estourou a revolução... Nós estamos saindo da Petrobras numa Rural Willys, não é isso? Os técnicos mais velhos podiam ir para casa na Rural Willys da Petrobras, com motorista. Passamos, saímos da Petrobras, passamos defronte de um quartel do Exército. Aí tinha uma patrulha, obviamente; parando lá, inspecionou o carro e verificou que tinha cédulas de eleição sindical. "Ah, está preso." Levou todo mundo para o quartel. Baioneta em cima da gente, e ficamos lá durante uma hora, sendo... Perguntaram alguma coisa: "O que é que vocês estão fazendo?" Bobagens assim. Depois de uma hora, liberaram a gente. Aí estava eu e dois alemães, um paleontólgo e palinólogo e saímos... Enfim, pegamos o carro de novo e mais adiante passamos no corpo de fuzileiros navais; prenderam a gente de novo. Inspeciona o carro, tira isso, viraram tudo quanto era troço, não tinha nada. E acabaram achando os canivetes dos alemães: "Pô, mas isso é trabalho, esse aí é instrumento de trabalho dos caras." "Não, deixa preso." Assim, nós fomos mais uma vez detidos, eu e os dois alemães. Mas depois, obviamente, liberados. Mas foi o primeiro entrevero com a revolução. Aí a gente, desperta um sentimento muito importante, a que a gente não dá valor, a não ser quando perde ele, que é o direito de liberdade. Quando você sente os seus direitos tolhidos, isso dói muito, né? É liberdade de não poder se defender. Isso é uma coisa... Quer dizer, liberdade não, coerção dos direitos de defesa e uma arbitrariedade num sentido. Mas na verdade toda revolução era um tanto quanto arbitrária. Não há como você ser condescendente porque você não sabe quem é grego, quem é troiano. Então, você: "Todo mundo é do mesmo saco." É quase sempre assim. Agora mesmo no Iraque, a gente vê toda hora situações desse tipo, como é que sabe se o cara é terrorista ou se é um... Então você tem que se cuidar. Mas, então, foi essa passagem pitoresca.
NA RÚSSIA
Houve uma outra passagem pitoresca com os russos porque o russo depois nos visitou, no prédio da Petrobras, na Bahia. Fomos ao terraço e tal, mostramos. Aí ao longe, ele viu as instalações portuárias do Porto de Salvador, ele perguntou: "Pode tirar fotografia?" "Claro que pode tirar fotografia." "Tira o que você quiser." Esse é um geofísico russo. Interessante que mais tarde ele...Houve um congresso mundial de... Congresso mundial... Esse congresso mundial de petróleo, que houve há uns dois anos atrás aqui no Brasil. É um congresso que você faz de quatro em quatro anos. Nesse ano em particular foi em Moscou, 1971. Já estamos em 1971, e fui a esse congresso e lá encontrei esse geofísico que tinha visitado a gente, conversamos... Aliás, é por isso que eu aprendi russo antes de ir ao congresso. Aliás, eu fui um camarada muito corajoso, porque eu já estava aqui no Rio e eu fui fazer o curso no Instituto não sei o quê Brasil-Rússia, não sei o quê. O curso de russo lá. Eu já tinha aprendido alguma coisa. Aprendi pelo menos a ler, porque o alfabeto russo é diferente, mas você aprende a ler, isso é importante. Aí você descobre que tem um monte de palavras que são latinas, mas que você não consegue ler se não souber o alfabeto russo. Mas, enfim, encontramos com esse russo lá e ele... Aí eu notei que ele extremamente com medo de entrar em contato conosco. Talvez o sistema de repressão lá, ele... Pô, um russo entrando em contato, quase que ele dizia: "Não me procure, não me procure". Uma coisa mais ou menos assim. “Não me comprometa, não me comprometa.”
Um outro detalhe que marcou para mim, nós fomos escoltados por esses geólogos que estiveram no Brasil. Aí você anda com os carros deles e uma das coisas assim; a primeira providência que você toma para tomar um carro era ele abrir o carro, tirar o limpador de pára-brisa, que estava num banco e colocar de novo no lugar. Porque alguém, algum dia, roubou o limpador de pára-brisa, então ninguém sustenta mais. Ali é um rodízio de roubar, limpador é a coisa mais difícil. Mas, enfim, isso era a Rússia. Então, não sei a que ponto vocês gostariam de perguntar um pouco mais.
CONGRESSOS INTERNACIONAIS
A participação nos congressos funciona assim: na verdade, a Petrobras normalmente manda uma meia dúzia de pessoas para esse congresso dessa natureza, ainda mais a Rússia, era mais difícil. Foram uns seis representantes. Eu fui um deles, naturalmente. Nessa ocasião, eu era chefe da geofísica. Foi outro avanço importante aqui na minha carreira. Eu estava na Bahia, quando uma vez eu fiz um estágio aqui no Rio de Janeiro, na área de processamento de dados sísmicos. Processamento é uma palavra um pouco pesada

porque nessa época, estamos aí em 1967, não havia, assim, muito esse negócio de computador ainda. Mas eu fiz um estágio aqui no Rio e eu condenei o sistema que era usado aqui, um sistema completamente ultrapassado, do ponto de vista da indústria. Então fiz um relatório meio violento, como um jovem costuma fazer, contra o sistema que estava sendo adotado pela Petrobras. Aí os caras, de algum modo, gostaram, disseram assim: "Bom, você... Nós vamos transferir você para o Rio, você quer vir para o Rio?" "Era o que eu mais queria.”

Mas aí houve a revolução de 1964. Em 1965, eles prenderam o geofísico, o principal geofísico lá de Aracaju, foi preso, doutor Moisés Bentes. Foi preso... Moisés Bentes, foi preso. É interessante, porque o escritório da Petrobras ficava não muito longe da prisão. Então da prisão , ele dava tchauznho, assim, para a gente. Foi preso, e eu disse: "Bom, precisamos de um geofísico de categoria lá." Aí alguém aqui no Rio, eu sem querer ouvi o despacho, dizendo o seguinte: "Vai haver um estágio de geofísico na França e na Alemanha. Mandamos o Wagner para esse estágio e depois transferimos ele para Maceió". Eu fiquei uma fera, mas fiquei na moita. "Bom, está bem. Então vamos para o estágio." Então, na verdade, eu fui a um estágio na França e na Alemanha. Passamos uns dois meses na França, uns dois meses na Alemanha. Aí, naturalmente, eu procurei.. O meu francês, a gente já fala porque, inclusive, educação antigamente era essencialmente mais francês do que inglês. Então o francês eu falava bem. Alemão, comecei também a procurar me interessar mais. Mas isso aí independente de falar francês ou alemão, a linguagem é mais ou menos inglês que predomina nessas coisas também. Tem uma passagem interessante na França, porque estava havendo um congresso... Um congresso de petróleo importante, em Mônaco: "Le petroile em la mer, petróleo no mar." Estamos aí em 1965, e as atividades novas estavam começando na plataforma continental, nos oceanos. E o mar Norte começou a chamar muita atenção com uma província potencialmente petrolífera, e a Petrobras, pelo seu presidente, que vocês ouviram falar, que é o Ademar de Queirós, que era o marechal Ademar de Queirós, foi designado para... Foi designado, foi ao congresso. Ele perguntou: "Tem alguém aí da Petrobras, por acaso?" "Tem um cara, um tal de geofísico novo aí fazendo estágio." "Ah, então chama ele." Então eu estava na França, eu fui lá, pela primeira vez fiz um contato com um presidente da Petrobras, uma figura admirável, Ademar de Queirós, que aliás ele botou muita ordem na Petrobras. Foi um dos bons presidentes que a Petrobras

teve, o Ademar de Queirós. Então, assim eu tive uma interação com o presidente da Petrobras no início da minha formação.
REVOLUÇÃO NA GEOFÍSICA
Esse congresso de Mônaco foi importante porque foi um marco na indústria também, porque o petróleo não havia sido descoberto ainda no Mar do Norte, a não ser na Holanda, próximo ao litoral, mas não no Mar do Norte propriamente dito. Era uma fronteira nova, e a geofísica a partir desse ano passou a ter um desenvolvimento extraordinário, não só as técnicas dos navios lançarem os cabos para a obtenção dos sinais. O processo de digitalização que começou. Começou justamente nessa... Em torno aí de 1965, os processos chamados de informatização da geofísica. Então havia sempre aqueles debates: “Digital é melhor do que analógico?” Aquele negócio; hoje em dia ninguém vai fazer uma pergunta dessas. Mas esse congresso teve um marco importante, que foi, digamos assim, o início da digitalização intensa da geofísica, que é uma atividade básica da indústria de petróleo. A outra coisa, que o Mar do Norte foi dividido geograficamente entre os diversos países antes da descoberta. Esse é um outro aspecto relevante. Então o que era da Noruega. Noruega foi à linha divisória entre Noruega, Holanda, Dinamarca, Inglaterra ficou muito bem caracterizado, de modo que quando o petróleo acabou sendo descoberto em 1959, não houve mais disputa. Sempre que isso não é feito há uma disputa muito grande. Por exemplo o que está ocorrendo no Mar Cáspio, em que o Irã e aqueles países novos da ex-União Soviética se digladiam ali para saber como é o limítrofe. Isso daí dá certos problemas, como teve nas Malvinas ou Falkland, aqui na Argentina. Isso é sempre um problema muito difícil de ser... E como dá inclusive em nível estadual, porque há uma briga entre o Estado do Paraná e Santa Catarina, por causa das descobertas no litoral e que o IBGE fez uma divisão, que eu diria absurda quase, e protegendo de uma forma, diria, um tanto estranha, o Estado do Paraná. Então hoje em dia essa disputa está em Brasília, no Supremo Tribunal Federal. Mas isso é um detalhe que não vem ao caso. Então esse congresso foi importante porque, eu diria, foi um start up do processo digital geofísico, que não parou mais. Esse processo é tão importante, que alguns perguntam: “A indústria de informática...” Agora nem tanto. “A indústria de informática se ampliou por causa da necessidade da geofísica ou a geofísica usou a ampliação da atividade de informática? Quem nasceu primeiro?” Eu diria que nessa época a geofísica dependia de computadores supergigantes, chamados supercomputadores. Supercomputadores, uma coisa ridícula porque o supercomputador dessa época não é nada. Mas, enfim, esse foi um marco importante e, talvez, um marco importante de algum modo na minha carreira. Aí desembocamos aqui.
PLATAFORMA CONTINENTAL
Voltando aqui ao Brasil, um marco importante, eu fui convidado em 1968 para chefiar a geofísica no Brasil, num tempo em que se dizia que... Tinha a figura que se chamava geofísico chefe. Hoje em dia não se fala. É geólogo chefe, geofísico chefe, é o cara que comanda a atividade. Eu fui, digamos, para o equivalente a essa função. Eu acho que ela foi muito importante, porque foi o início da atividade na Plataforma Continental Brasileira. Então nós começamos a varrer esse país do Oiapoque ao Chuí, uma atividade muito tímida inicialmente. Hoje em dia os maiores recursos petrolíferos no Brasil estão no mar, não estão na parte do continente. Então esse foi, digamos, um marco expressivo.
DO ANALÓGICO AO DIGITAL
Nós também digitalizamos o processo aqui no Brasil - uma coisa interessante, porque nessa minha investida de fazer, enfim, de modernizar a geofísica, e como eu tinha dito, nessa visita de 1965 ao Rio de Janeiro, eu condenei o sistema aqui. Então estamos em 1968, nós criamos... 1967, 1967 já estamos no Rio. Nós compramos a mais moderna central analógica de processamento de dados geofísicos. O processamento era analógico, não vale a pena explicar isso em detalhe, mas compramos a central mais moderna que havia. Essa central foi inaugurada em dezembro de 1968, por aí, dezembro de 1968 provavelmente. Mas aí já estava aquela febre digital. Aí nós fizemos uma outra revolução importante; nós compramos o primeiro computador dedicado para fazer processamento digital aqui no Brasil. Aí foi um paradoxo, porque depois da central analógica mais moderna do mundo estar funcionando durante seis meses, nós a substituímos por um computador digital. Então, isso mostra também, eu diria, a rapidez com o que se conseguia fazer isso nessa ocasião. Hoje em dia seria impossível isso, seria impossível. Então num prazo relativamente curto, nós mudamos inteiramente um sistema de processamento.
MESTRADO PARA GEOFÍSICOS
Aí teve todo aquele problema de treinar pessoal. Tivemos que mandar muita gente para os Estados Unidos. Foi um processo também, em que nós começamos a especializar o pessoal da geofísica. Eu tenho alguns traumas profissionais, que eu vou contar brevemente. Quando eu saí da geologia e resolvi ir para geofísica, eu comecei a acompanhar a trajetória de um dos geofísicos que estavam na minha frente, que era da primeira turma. Então, ele saiu da geologia, foi para a geofísica. Um ano depois, ele pediu para ir fazer um mestrado nos Estados Unidos em geofísica, na Universidade de Stanford, e a turma do Link na ocasião achou que era uma boa. Então mandou ele para lá. Aí eu fiz a mesma coisa. Fazer um ano de geologia, um ano de geofísica. Aí fiz uma carta para o chefe da exploração no Brasil, um geólogo de nome... Agora esqueci o nome do geólogo, que nem vale a pena lembrar, mas escrevi uma carta: “Eu gostaria de fazer um curso de mestrado na Universidade de Stanford, não sei o quê.” Aí veio um despacho curto e grosso: “Geofísico não precisa fazer mestrado.” Para você ver como é que era a concepção desse troço aí. Eu me vinguei... Tive essa frustração porque eu não consegui fazer o mestrado em Stanford, mas eu me vinguei - logo que eu assumi a chefia da geofísica, eu passei a mandar um monte de gente fazer mestrado e doutorado. Quer dizer, foi uma forma enfim... Mas, enfim, para os primeiros naturalmente não foi uma coisa muito fácil, porque eu peguei os melhores profissionais que nós tínhamos já na atividade, os quatro melhores, e mandei para um curso de mestrado nos Estados Unidos. Então isso aí também fez parte desse processo de modernização da companhia. Eu acho que nós tivemos sempre na ponta desse negócio aí. Então estamos aí, 1968...
INOVAÇÕES NA GEOFÍSICA
Eu fiquei nessa chefia sete anos, sete anos, até a criação dos contratos de risco, quando eu mudei. Sete anos era muita coisa numa chefia, até porque eu normalmente deveria sair daí para ser chefe da exploração. Como nunca tive oportunidade, dizia: “Vamos fazer um desvio lateral.” Mas, enfim, eu acho que nós temos uma enorme contribuição para, digamos, a formação do geofísico da Petrobras, fomos inovadores em muitas coisas.
A DESCOBERTA DE GAROUPA
Enfim, talvez, o evento mais significativo dessa época tenha sido a criação... Não, a descoberta do Campo de Garoupa na Bacia de Campos. Garoupa foi descoberto em 1974. Repare, 1974, o Brasil produzia algo como 120 mil barris por dia e consumia algo em torno de um milhão de barris. Então a maior parte do petróleo era importada. Quando houve o segundo Choque do Petróleo, em 1978 para 1979, a situação era muito ruim, porque nós importávamos muito mais petróleo... Dependíamos muito do petróleo do exterior. De modo que quando veio a descoberta de Garoupa, em 1974, nós achamos que era a salvação da lavoura. Na verdade, não foi. Garoupa acabou não sendo um campo grande. Um campo relativamente pequeno, mas felizmente foram descobertos sucessivos campos na Bacia de Campos. Então, entre 1974 e 1979 foram descobertos vários campos da Bacia de Campos, em águas relativamente rasas. O evento, talvez, mais significativo aí, a minha participação não foi direta, mas eu tive uma influência mais tarde, foi quando... Foi introduzido na Petrobras o primeiro sistema flutuante de produção, porque até então você usava plataformas fixas, caríssimas e com limitação. Não podia ir em águas muito profundas. Em 1977 foi instalado na Petrobras o primeiro sistema flutuante na Bacia de Campos, no Campo de Enchova. E de novo foi um recorde de, digamos assim, de cronograma, porque o Campo de Enchova, Enchova 1 foi descoberto em janeiro, em agosto deste ano nós começamos a produção. Isso é um recorde histórico, que jamais a Petrobras conseguiu repetir depois. Porque havia muito mais. Não havia, primeiro lugar, esse processo complicado de fazer licitações. Era um processo muito mais simples. Segundo, havia pessoas no comando da atividade com empenho para fazer... Se desenvolver rapidamente. Isso aí, eu diria, foi um sucesso notável. E a partir daí, a Petrobras começou a desenvolver tecnologia de águas profundas. Isso notabilizou. Eu diria que, de um modo ou de outro, eu tive uma participação, digamos, significativa nisso aí.
CONTRATOS DE RISCO
Bom, aí houve uma certa pausa ou uma interrupção aí porque em 1970... Na verdade, em outubro de 1975 foram anunciados os contratos de risco. Foi uma decisão do presidente Geisel para permitir que as companhias estrangeiras também atuassem aqui no Brasil, as companhias de petróleo estrangeiras. Esse foi um marco importante na história da companhia. Quebrou, digamos, uma exclusividade da Petrobras nesse setor aí, porém era uma participação estrangeira cheia de limitações. Na verdade, as companhias estrangeiras eram contratadas da Petrobras para prestação de um serviço, digamos assim, que era exploração de petróleo, sujeito a um prêmio, caso... Se descobrisse nada, não pagava nada. Se descobrisse alguma coisa, aí teria os benefícios proporcionais à descoberta que tinha sido feita. Essa era a essência do contrato de risco. Foi uma decisão difícil do presidente Geisel, e até se pergunta: “Poxa, mas logo agora que descobriu Garoupa?” Depois que descobriu Garoupa, verificou-se que dificilmente a gente atingiria um nível de produção satisfatório dentro da demanda, porque o Brasil estava crescendo... Brasil crescia numa taxa de 7% a 10% ao ano na área de petróleo. Então o consumo... E coincidiu também, logo depois, em 1979 com o Choque de Petróleo, que os preços partiram de, digamos, de 12 para 30 dólares. Então foi... Criou o Proálcool, uma porção de coisas aí.
CONTATOS INTERNACIONAIS
Quando foi criado esse contrato de risco, foi um negócio meio traumático, como eu disse, mas escolheram um técnico da Petrobras, um geólogo para ser o gerente da área, e a seguir eu fui convidado para ser o adjunto dele. Houve um certo trauma aí, porque: “Pô, mas você é o chefe da geofísica. Sair da geofísica para entrar nesse negócio de contrato de risco?” Eu diria que a decisão foi certa e eu... Porque outras pessoas poderiam assumir a posição na área de geofísica, como de fato assumiram com toda eficiência. E eu já estava havia muito tempo na mesma área, sem, enfim, sem fazer outra coisa, e passei para a área dos contratos de risco. Do ponto de vista de formação minha, eu diria que foi muito bom, porque eu passei a ter interação com as companhias internacionais. Embora na geofísica a gente tivesse uma razoável interação, mas era interação na área de tecnologia, na área de prestação de serviços, não na área de interação com as companhias de petróleo. Então eu diria que isso foi um passo importante, essa interação com as companhias de serviço. E também, talvez, porque eu tenha me dedicado bastante a isso aí, eu logo verifiquei que eu já tinha feito algumas missões da Braspetro no exterior e, inclusive, o contrato que serviu de base para os contratos de risco no Brasil foi o contrato do Iraque. Eu tinha ido várias vezes ao Iraque já. Mas em missão da Petrobras ou da Braspetro, mas não como empregado da Braspetro.
ACERTOS E ERROS
Como eu disse, esse modelo do Iraque foi adotado lá, mas eu cedo vi que era um modelo inadequado, porque era um contrato de serviços, em que você tinha um monte de restrições para atuação das companhias. Elas não podiam se associar, que é a prática normal na indústria de petróleo. Como tinha em mente os modelos que eram adotados no Mar do Norte, estava um sucesso fantástico. Nós procuramos introduzir esses modelos aqui. Então, para mim, foi uma atividade muito importante, porque permitiu essa interação com as companhias estrangeiras, ter uma visão mais ampla do mercado, que infelizmente falta a muita gente na Petrobras essa vivência. Claro que aí foi de caráter limitado. Os contratos de risco não foram... Acabou sendo uma atividade não muito bem sucedida em alguns aspectos, mas foi em outras. Primeiro lugar, foi uma coisa interessante. O contrato de risco pressionou a Petrobras a ser tornar mais eficiente, porque existia uma competição na tua porta, e seria um vexame muito grande ver uma Shell da vida aí descobrir petróleo lá, onde você tinha procurado, não tinha descoberto nada. Por outro lado, quem escolheu as áreas para dar para as companhias estrangeiras foi a própria Petrobras. Aí, evidentemente, procurou-se dar as áreas julgadas menos interessantes pela Petrobras. E uma das áreas que foi aberta extensivamente foi a Bacia de Santos. A Bacia de Santos é uma bacia geológica sedimentar que se estende do Rio de Janeiro, divisa de Cabo Frio por exemplo, até o arco de Florianópolis, que é na divisa com o Rio Grande do Sul. Imensa bacia com característica diferente da Bacia de Campos. Então, essa interação com a Shell, com a Esso, com as majors de um modo geral, BP, trouxe uma enorme, digamos assim, Texaco, experiência para gente e para o país também. Ela teve muitos benefícios, porque inclusive se você investe, procura petróleo, não acha, aquela área fica mais ou menos stand by até que alguém ache alguma coisa diferente nela. Então, desse ponto de vista aí, o contrato de risco deu uma contribuição importante para a avaliação do potencial petrolífero do Brasil.
FOZ DO AMAZONAS
É uma coisa interessante, voltando um pouquinho antes, em 1968, nós fizemos um levantamento geofísico, primeiro levantamento geofísico na foz do Amazonas. Amazonas é tido com uma área que: “Ah, deve ter petróleo demais aí porque no delta do Niger tem, no delta do Mississipi tem. Então por que na foz do Amazonas não tem também?” Então havia esse conceito, mas o Amazonas foi um desafio enorme para a geofísica, porque nos primeiros trabalhos de geofísica feitos lá, o posicionamento do navio é feito por um sistema triangular de rádio, que fica no continente. E esse sistema não deu certo, porque ele depende, entre outras coisas, de propagação de ondas para água salgada, e o Amazonas leva água doce até a duzentas milhas da costa. Então o sistema não deu certo, e quando veio o primeiro navio de geofísica fazer o trabalho e ele não conseguiu se localizar direito, diz assim: “Esses gringos não querem achar óleo aqui nesse país.” Era gozação mais ou menos essa, mas não tinha nada disso. Foi pura, foi pura dificuldade de ordem tecnológica. Com o tempo isso foi superado, e hoje em dia, hoje em dia os navios se localizam por satélite. Anote bem, 1968, não tinha esse troço chamado satélite para localização. Não havia isso. Então, vê como as coisas evoluem, é interessante isso aí.
VALEU COMO EXPERIÊNCIA
Mas voltando ao contrato de risco, eu diria que a experiência foi muito interessante, experiência de você fazer uma licitação e ficar na dúvida: “Será que vai aparecer alguém?” Que o contrato de risco era horrível. Também... Horrível para as companhias, embora a gente tenha feito várias melhorias, mas eu me recordo que houve uma célebre reunião, em que as companhias apresentaram as suas propostas e fizeram suas observações do que era permitido sobre o contrato. Aí nós resolvemos chamar, em primeiro lugar, a companhia que tinha feito menos observações, que foi a BP. Aí fomos novatos na profissão de discutir com a BP, com aquela experiência deles, e minha Nossa Senhora! Aí o cara diz assim: “Esse contrato...” O cara chegou aí: “Esse contrato é uma porcaria.” Mais ou menos assim. Isso aí num bom inglês, obviamente... Porque o contrato era em inglês, e as discussões eram em inglês também. Todas elas feitas no Brasil - você acha que os gringos falam português? Não, e quem vai discutir são os gringos. Os brasileiros que trabalham com os gringos não entendem de exploração de petróleo. Não tinha saída. Agora nós falamos bem inglês, então sem problema nenhum. Escrever inglês bem, também escreve. Então as negociações eram feitas em inglês. Difícil foi arranjar advogado que falasse inglês, porque os advogados eram todos domésticos aqui. Mas sempre tinha um cara que tinha estudado não sei onde. Mas, enfim, é interessante porque aí... Aí o chefe foi embora, entrou o negociador, disse: “Não acredito no que esse cara está dizendo, não. Nós viemos aqui para fazer um contrato com vocês, né?” Então foi, foi uma boa, eu diria. Nós fizemos... O segundo a chamar foram os franceses, e dos franceses: “Esses caras não pediram muito, muita coisa, não. Então vamos conversar com os franceses.” Os franceses foram danados assim. “Não, isso aí era apenas a primeira parte. A segunda parte nós temos aqui, um rol...” “Puuu.” Eu diria o seguinte; para mim e para nós foi uma grande experiência, porque essa interação com as companhias estrangeiras e também a vinda dos estrangeiros para aqui, como eu disse, pressionou a Petrobras a se virar mais, a ser mais competitiva. Foi bom para a Petrobras também sob esse aspecto. Também trouxeram muitas tecnologias novas com que a Petrobras não estava muito familiarizada. Então, foi, eu diria, que foi um período ótimo. Infelizmente, as companhias não descobriram muita coisa. Descobriram... A única descoberta significativa foi a da Shell, na Bacia de Santos, no Campo de Merluza, uma descoberta quase marginal, mas que eles resolveram desenvolver. E depois abriram também para as companhias brasileiras. Isso aí foi um outro aspecto importante também, porque aí criaram a figura do minirrisco. Os blocos eram menores. Puseram os mini-riscos lá no Nordeste. Pusemos lá no Nordeste. Aí veio a pergunta: “Mas é mini-risco por que o bloco é pequeno ou por que o risco é menor?” O fato é que as companhias brasileiras nunca ouviram falar nisso. Então entraram umas companhias de engenharia e todas elas deram com os burros na água. Não deu certo, não deu certo. A única que deu certo foi uma chamada Azevedo Travassos, que pegou uns bons geólogos brasileiros para colocar na companhia e ela fez as primeiras descobertas na Bacia Potiguar, no Rio Grande do Norte, em áreas que não eram da Petrobras. Ela teve... Ela passou por momentos de... Foram as únicas que acharam alguma coisa. Bom, eventualmente, os contratos de risco foram banidos na... Começou a haver um movimento muito grande contra os contratos de risco e, afinal, eles foram banidos na Constituição de 1988, foram banidos...
NA BRASPETRO
Um belo dia, eu estava bem no contrato de risco, me convidaram para ser diretor da Braspetro. Quer dizer, me designaram diretor da Braspetro. Então eu fui parar na Braspetro como diretor. Tinham designado momentos, um ano antes, o Shigeaki Ueki tinha designado o Rennó, que trabalhou com ele, como vice-presidente da Braspetro, substituindo uma figura tradicional, que é o Geonísio Barroso, que... De origem baianas e tal. Bom, assim eu fui parar na Braspetro. Eu diria que a minha participação na Braspetro também com esse embalo que eu já vinha dos contratos de risco e relacionamento com as companhias internacionais, ela trouxe... Enfim, eu me senti, quase que à vontade, digamos assim, para entrar nessa área internacional.
GUERRA IRÃ-IRAQUE
Entrei na Braspetro na época em que a Braspetro estava praticamente confinada ao Iraque, Argélia, Egito e a Líbia. Então aconteceu também um evento muito grave logo que eu entrei lá. Esse evento grave foi a guerra entre o Irã e o Iraque. Nós tínhamos, quer dizer, um pouco antes, eu cheguei a ir ao Iraque como diretor da Braspetro já. Nós tivemos uma descoberta significativa no Iraque. Na verdade, a Petrobras, Braspetro descobriu um campo gigante, aliás, dois campos, Majnoon e Nahr Umr. Esses campos ficam junto da cidade de Basra, essa que a gente vê no noticiário a toda hora, e junto com a fronteira com o Irã, sendo que a fronteira com o Irã, uma fronteira artificial, não é uma fronteira geográfica. Uma fronteira, um meridiano, e esse campo, ele toca fronteira com o Irã na verdade. Ele fica naquela área de mangues, de que vocês talvez tenham visto fotografia no jornal, que aliás, é um dos crimes do Saddam Hussein, que praticamente acabou com aqueles manguezais... Quer dizer, os habitantes dos mangues, desde o tempo dos sumérios, há 5.000 anos, né? Eles foram praticamente dizimados. E viviam lá como viviam há 5.000 anos, quase isso. Eu cheguei a visitar esse pessoal, lá nos chamados mangues do Iraque. Então houve essa descoberta desses campos gigantes lá, mas na crise de 1979 a situação do país estava muito difícil, preço do petróleo lá em cima, e o governo iraquiano fez pressão para que a gente devolvesse as concessões. Aí foi, o mais forte levou a melhor. Então, na verdade, o governo... Houve um entendimento com o governo brasileiro. As concessões foram devolvidas com uma certa benesse para a Petrobras, na medida em que o preço do petróleo... Também foi uma época difícil de conseguir petróleo, e houve uma indenização na ordem de US$ 250 milhões de dólares, traduzidas em fornecimento de petróleo e tal. Na ocasião foi considerado um negócio razoável, até porque o contrato de risco que nós tínhamos na época, um contrato extremamente duro. Mas houve, foi um momento de glória, na medida que nós fizemos uma das maiores descobertas de petróleo dos últimos anos. Sem dúvida, é um campo aí, os dois campos têm reserva de 25 bilhões de barris. Você vê: mais de duas vezes e meia a reserva total brasileira. Mas, enfim, os campos foram devolvidos. Aí nós partimos para um processo de desenvolver os campos para os iraquianos, como prestação de serviço. E nessa qualidade, nós tínhamos... Eu visitei algumas vezes o Iraque nessa ocasião, nós chegamos a ter 160 pessoas residindo em Basra, com engenheiros, famílias, cachorro, mulher, aquela história. Um belo dia houve a guerra com o Irã, o Irã quebrou o pau lá, e nós tivemos que tirar o pessoal de Basra na raça e às pressas. Esse foi um evento também muito duro, porque você imagina, de repente, entra todo mundo aqui no Rio de Janeiro, cada um pedindo mais coisas. Botar num hotel, lá no Luxor. Foi, talvez, uma estréia um pouco dura para mim na Braspetro, mas eventualmente conseguimos administrar bem isso. Ainda mantivemos alguma coisa no Iraque, mas acabamos acabando com aquele negócio lá. Na Braspetro, talvez, a minha principal missão foi trocar um pouco esse negócio de ficar só no Oriente Médio. Então nós começamos a olhar outras coisas, olhar o Mar do Norte, olhar... Olhar os Estados Unidos. Então, eu diria... Olhar a América Latina, Equador, Colômbia, Angola e assinamos contratos, os primeiros contratos com os angolanos. Foi uma época, digamos, de aumento da atividade. O primeiro contrato fora desse... Aí disse: “Ah, agora vamos ser como Helena Rubinstein".Mais ou menos isso.
MAR DO NORTE
Eu diria que a província mais importante era, na verdade, o Mar do Norte, porque todas as majors estavam lá, todo o desenvolvimento tecnológico era lá. O berço realmente foi no Mar do Norte, o Golfo do México também, Estados Unidos de certo modo. Então essa interação foi muito importante. Eu vou dizer como é que nós entramos no Mar do Norte. Primeiro, nós entramos no setor norueguês. Entramos no setor norueguês com um pouco de pretensão, de algum modo, que nós lideramos de venda de tecnologia para os noruegueses porque nós estávamos começando esse processo de trabalhos em águas profundas, completação submarinas, equipamentos flutuantes de produção. O equipamento flutuante de produção é um sistema que você pode usar em qualquer profundidade de água. As plataformas fixas, elas não vão além - que você encaixa no fundo do mar -, não vão além de 100, 150 metros. Depois daí, ela fica tão cara que é impossível. Você não vai fazer um negócio de 1.000 metros, uma torre de 1.000 metros. Então os sistemas flutuantes nasceram... A origem não é Petrobras. A origem foi no Mar do Norte, mas nós copiamos o modelo do Mar do Norte, implantamos aqui. Enchova, que produziu em nove meses, foi copiado do Mar do Norte, um campo chamado Argyrl, que foi desenvolvido em 1975, o Enchova... Esse Enchova foi em 1977. Então nós nos arvoramos de aparecer na Noruega, vendendo tecnologia para os noruegueses. Usando uma firma chamada Brasnor, como se diz. E foi um negócio meio ousado, né? Mas a gente conseguiu fazer alguma coisa lá. A minha dificuldade, que acabamos desenvolvendo uma certa tecnologia e na hora, lá mesmo, que fazia... Os noruegueses insistiam nisso, só que na hora de vender essa tecnologia para a Petrobras, era difícil para danar, por incrível que pareça. Então eu digo: “Pô, não dá.” Nós resolvemos um sistema sofisticado de controle de árvore de Natal submarina na Noruega e não conseguimos vender. A minha companhia, Braspetro, não conseguiu vender esse troço para a Petrobras. Eu digo: “Pô...” Porque essa Petrobras é uma companhia complicada para danar. Mas voltando às vacas frias, então nós... O governo inglês, a British Petroleum, colocou à venda um campo chamado Magnus - por quê? Por razões tributárias com o governo. Se eles tivessem uma participação assim, assado, era melhor eles venderem um pedaço do seu campo, porque tinha benesses fiscais. Então eles colocaram à venda 10% do campo de Magnus, em parcelas não superiores a 2,5%. Aí nós nos candidatamos a uma dessas parcelas e ganhamos 2,5% no Campo de Magnus. Essa negociação foi feita em 1988, em fins de 1988. Negociamos essa parcela no Campo de Magnus. Aí criamos, tivemos que criar uma companhia na Inglaterra para gerir esse negócio aí. Esse Campo de Magnus... É interessante a aquisição, porque ela ocorreu quando os preços do petróleo estavam lá embaixo, portanto, foi favorável a compra por nós. Embora seja um percentual pequeno, por outro lado, ela... As reservas, mediante perfurações adicionais, aumentaram. Então nós tínhamos direito a esse aumento de reservas. Então, foi quase que um negócio da China para nós. Eu considero isso aí, um dos grandes marcos nossos, porque a entrada no Mar do Norte era, digamos assim, o supra-sumo da atividade de exploração de petróleo.
NA NORUEGA
Nós já estávamos na Noruega e criamos lá a Petrobras North, uma companhia de exploração e produção com concessões lá, porque os noruegueses tinham enorme respeito pela gente. Entramos na Noruega, mas eram todos contratos de exploração. Não tinha produção. Então isso aí tornava muito difícil a atividade. Então nós propusemos à Petrobras a compra de reservas, para ter início a produção prontamente. Foi muito difícil esse negócio aí. Nós... A companhia aqui reagia de uma forma muito conservadora, não queria esses troços. Então, nós acabamos não... Ficando difícil a posição na Noruega, porque nós não tínhamos onde abater os investimentos de exploração contra atividade rentável de produção. Mas voltando, eu acho que essa ida para a Inglaterra foi um marco importante porque, inclusive... Junto conosco entraram outras companhias. Entrou uma companhia canadense, uma companhia espanhola, a Spain Oil, que hoje é a Repsol que a gente vê nos postos de gasolina aqui. Ela entrou nessa ocasião. Eu fiquei também muito satisfeito porque, apesar da Repsol ter comprado um porcentual maior, na hora de fazer a saudação em nome dos entrantes, quem fez fui eu. Então, eu diria que foram marcos significativos da nossa presença.
ESTADOS UNIDOS
Me deixa voltar um pouquinho aos Estados Unidos. Estados Unidos foi outra coisa interessante, porque a Texaco nos ofereceu algumas áreas lá e nós examinamos e não foi fácil vender esse peixe na Petrobras de novo. Mar do Norte teve uma outra dificuldade. É que houve a reforma... Houve a Constituição de 1988, e a Constituição de 1988 fez duas coisas: primeiro, ela baniu os contratos de risco, a não ser aqueles que já estavam implantando, em vigor. E segundo, ela proibiu... Proibiu não. Atividade no exterior tem que ter autorização do Congresso, que... Imagina, você... A dinâmica da indústria não permitiria um negócio desse aí. Aí nós usamos alguns artifícios jurídicos, dizendo o seguinte; quem vai assinar o contrato é uma subsidiária da Petrobras no exterior e, portanto, ela não está ferindo as leis brasileiras. Então nós assinamos o contrato do Campo de Magnus com... Brasoil, que é uma subsidiária da Braspetro. Então resolveu o problema jurídico. Nos Estados Unidos foi um pouco antes de entrar no Mar do Norte, e nos Estados Unidos, de novo, nós conseguimos uma série de concessões, que se chama farm-in. Entramos em contratos, concessões, que a Texaco tinha lá no Golfo do México, e foi uma atividade bem-sucedida até. Eu designei... Nesse tempo, eu era diretor na Petrobras, designei o Coutinho para ser o gerente, que depois foi diretor da Petrobras, para ser o gerente dessa área nos Estados Unidos. Se deu muito bem lá. Mas a atividade lá se desenvolveu de uma forma muito tímida, infelizmente. Quer dizer, o nosso... Motivação toda é para águas profundas e chegou lá num... Ficou em águas rasas. Quer dizer, um negócio... Enfim, eu não consegui, quer dizer, ir além disso. Nós estamos... Então esses pontos significativos da nossa, digamos assim, gestão aí, foi a tirada do Oriente Médio e a colocação, não para o Oriente Médio, mas uma colocação no teatro em que as grandes companhias estão envolvidas. Angola também, nós desenvolvemos, Colômbia, Equador. Bom, aí as outras descobertas no Brasil em si.
ÁGUAS – MUITO - PROFUNDAS
Bom, a descoberta mais significativa - porque chegamos a um ponto em que todos os campos de águas rasas já tinham sido praticamente descobertos. E aí, tem mais alguma coisa? Foi aí que começaram aparecer águas profundas, mas águas muito profundas. Você tem uma Plataforma Continental, que vai a até 200 metros, depois ela afunda abruptamente para o platô continental. Então você está numa faixa de 800, 1.000, 2.000 metros - e essa atividade geofísica começou a ser desenvolvida com muita força aí. Em março de 1985 foi descoberto o Campo de Marlim, que foi uma descoberta sensacional, porque o traçado geofísico dele era perfeito, era facílimo de identificar, que provavelmente tinha um campo aí. Mas é difícil achar plataformas de perfuração capazes de fazer isso aí, porque também os navios... Ocorreu no Brasil a primeira utilização de navio de posicionamento dinâmico. O que é um navio de posicionamento dinâmico? Os navios são... As plataformas são ancoradas no fundo do mar, mas não dá para ter âncora 800... Agora já pode, dá para ter âncora a 800 metros. É muito. Então, passou-se a usar uma técnica que se chama posicionamento dinâmico. O que é um posicionamento dinâmico? É um navio ou uma plataforma que tem vários, como é que chama, que tem vários jatos de água, acionados por compressores, que a mantêm na mesma posição. Existe um referencial no fundo, e ela, com o auxílio desses jatos, ela não se desloca. É uma coisa incrível de tecnologia, porque ela não é ancorada. Então isso aí foi com um navio desse, que se descobriu esse petróleo aí. Isso foi em fevereiro ou março de 1985.
EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO
Estamos no governo Sarney, e o Sarney nomeou para presidente da Petrobras o Beltrão. E o Beltrão... Enfim, talvez eu conversando com ele sobre a Braspetro, ele achou: “Pô, dá uma chance para esse cara.” Então eu fui convidado para ser diretor da Petrobras, para substituir o Carlos Walter, que é amigo meu, de certo modo. Mas, enfim, mudou. Então, eu fui substituir o Carlos Walter na chefia da diretoria de Exploração. Inicialmente, apenas exploração. Depois o Rennó saiu e eu peguei a parte de produção também. Então eu fiquei na chefia da Exploração-Produção da Petrobras.
COMPLETAÇÃO SEM MERGULHADORES
O grande desafio desse período foi em primeiro lugar, o desenvolvimento de Marlim. Aí aconteceu uma coisa, um tanto, digamos, não vou dizer inusitada, mas que causou uma certa... Eu estava muito mais familiarizado com as atividades da Petrobras de tecnologia de águas profundas que o próprio pessoal da Petrobras, que os próprios diretores da Petrobras, por incrível que pareça. Porque a diretoria foi mantida, o único cara substituído foi eu, contrariamente do que aconteceu agora. Mas isso é um detalhe. Então eu estava com todo aquele embalo de vender tecnologia para os noruegueses. Então eu sabia exatamente o que a Petrobras estava fazendo. Numa famosa reunião de diretoria, a primeira reunião informal, diz um dos diretores - eu não vou dizer o nome -, ele disse assim: “Pô, para que descobrir essa porcaria de Marlim? Porque esse troço não vai desenvolver nunca. Não tem como produzir”. Eu digo: “Pô, espera aí. Você está por fora”. Literalmente isso aí. Porque aconteceu o seguinte: a tecnologia que se usava era chamado completação submarina. Você tem árvores de Natal, chamadas equipamentos de controle da produção. Que é árvore de Natal? Fica no fundo do mar e por meio de uma tubulação, flexível, ela vai para a plataforma, que, por sua vez, está ancorada. Então por isso era um sistema flutuante. O chamado great truth, ou chamada a “grande inovação”, foi feita pela Petrobras exatamente em meados do ano anterior, anos de 1985, 1984. Ela fez a primeira completação submarina sem usar mergulhadores, que é o seguinte detalhe: você usa até 300 metros, você pode usar mergulhador, mergulho humano, para fazer as conexões etc. Acima de 300 metros, não há condição de usar. É muito complicado. Você usa o recorde mundial, 500 metros, sei lá o que seja, mas é um mergulho muito especial. Mergulho de trabalho, não existe mergulho acima de 300 metros. Qual foi o chamado great truth? É quando nós conseguimos... A Petrobras conseguiu fazer uma completação submarina sem auxílio de mergulhadores. Então, se você faz uma completação sem auxílio de mergulhadores a 400 metros, foi no Campo de Marimbá, então você pode levar essa tecnologia para... Não tem mais limite, certo? Exatamente isso que aconteceu. Então quando vieram me falar que 800 metros. Marlim ficava a 800 metros, não tem condição, eu digo: “Você está por fora, porque a Petrobras acabou de... Essa Petrobras em que você está aqui acabou de fazer uma completação diverless, quer dizer, sem mergulhador, a 400 metros. Portanto, essa tecnologia pode ser aplicada ao Marlim, sim.” Então a minha primeira atuação da Petrobras foi justamente aplicar essa tecnologia no Campo de Marlim. E nós nos preparamos para o primeiro desenvolvimento de Campo de Marlim já foi na minha gestão. Mas nessa mesma ocasião foram descobertas vários campos de águas profundas. Foi descoberto Marlim Sul, foi descoberto Albacora, Albacora Leste, o Barracuda. Todos esses campos foram descobertos aí na minha gestão, entre 1985 e 1990.
URUCU
Uma palavra sobre Urucu. Urucu é importante para burro, porque é o coroamento de um processo longo, que vem desde os tempos... Até do Conselho Nacional do Petróleo, trabalho no Amazonas. Tradicionalmente, no Amazonas, diziam o seguinte: “Se petróleo houver no Amazonas, vai ser no chamado médio Amazonas.” Era onde ficava Nova Olinda, que houve uma descoberta subcomercial anos atrás. Mas a gente insistiu um pouco mais e resolveu fazer trabalho de geofísica, fora da chamada área de maior probabilidade. Nesse trabalho detectaram anomalias espetaculares, quer dizer, porque o difícil no Amazonas é você encontrar uma estrutura bem mapeada. A geofísica tem um trabalho sensacional. Mapeamos uma área formidável lá e perfuramos, e foi a descoberta de Urucu. Foi em 1987, é uma descoberta extremamente significativa, porque foi o primeiro petróleo comercial descoberto na selva Amazônica, a 600 quilômetros de Manaus. É bacia paleozóica e óleo de excelente qualidade. O óleo do Amazonas é um dos melhores óleos produzidos no Brasil. Um óleo leve, melhor que o Brent, que é a referência internacional. Então isso aí foi, de fato, um achievement. Petrobras produz hoje 60 mil barris por dia de óleo de excelente qualidade. Produz gás também, que é injetado, porque não foi acertado o esquema de uso do gás. Mas eu não podia deixar de mencionar isso aí, porque foi uma realização importante no nosso período. E também nós conseguimos, um ano depois, começar a produção, que é uma coisa muito difícil. Hoje em dia seria impossível de novo. Um ano depois nós estávamos produzindo no campo de Urucu, mediante processos expeditos de fazer as coisas.
PETROBRAS AMERICAS
Mas você estava falando da atividade que se seguiu quando eu saí da Petrobras. Um pouco antes de sair, depois que eu saí da diretoria, eu fui designado para ir para a Petrobras América. Na verdade, substituí o Coutinho lá, que voltou para o Brasil, e eu passei um pouco mais de um ano na Petrobras.
Foi uma atividade muito interessante, porque essa foi a companhia que eu ajudei a criar, a Petrobras América. E outra coisa que eu vejo com muito orgulho é você ir para os Estados Unidos com uma companhia brasileira. Hoje em dia a gente acha isso, mas tem um simbolismo enorme. É uma companhia brasileira, criada aqui, com técnicos nossos, que vai procurar petróleo nos Estados Unidos. A Petrobras América foi um marco. Um detalhe também, que eu a partir daí eu já comecei a criar um outro sistema, é o seguinte: esse nome Braspetro é horrível. Aliás, Braspetro é Petrobras ao contrário. Então não vou usar isso aí. Então as subsidiárias da Braspetro no exterior, no meu tempo, passaram a ser designados Petrobras. Então a subsidiária da Braspetro nos Estados Unidos era a Petrobras América. A subsidiária da Braspetro na Noruega era Petrobras North, porque o nome que você está vendendo é Petrobras. Não era Braspetro. Não existe isso. Custaram a acabar com a Braspetro, mas felizmente acabaram.
FORA DA PETROBRAS
Bom, aí falamos um pouco da nossa atividade pós-Petrobras... Eu saio da Petrobras em 1992. Um ano um pouco difícil. Eu comecei a dar alguma consultoria, fazer conferência, nada muito significativo.
PARA QUE O MONOPÓLIO?
Até que por volta aí de 1995 começou a haver um movimento... Quando o Fernando Henrique foi eleito, ele foi eleito em outubro de 1994, a plataforma dele era muito clara. Está em todos os jornais da época: “Um dos nossos objetivos é acabar com o monopólio da Petrobras.” As palavras não são exatamente essas, mas o objetivo era esse aí. Na verdade, essa reforma acabou passando na Constituição, diante de um evento que foi realmente, causou um abalo muito grande nesse país. Quando foi esse evento? Foi uma greve da Petrobras, que durou mais de um mês. Então o pessoal se deu conta de que você não pode estar na mão de uma única companhia, que faz o que quer. Enfim, essa greve da Petrobras, eu diria, foi, digamos assim, a gota d’água que permitiu que o monopólio fosse aberto. Eu não vejo, a rigor, nada. Acho que o monopólio é um benefício... Abertura do monopólio, ao meu ver, foi um benefício para a Petrobras e não um malefício, note bem. E nós começamos a trabalhar bastante junto aos congressistas, junto ao Instituto Brasileiro de Petróleo, para que a legislação criada fosse adequada para o país. Inclusive o modelo adotado do país para a indústria de petróleo é o mesmo modelo que prevalece no Mar do Norte, é o mesmo modelo que prevalece nos Estados Unidos. Não é o modelo que prevalece nos países em desenvolvimento, assim chamados, porque lá o que você faz é chamado production share, ou contrato de partilha da produção. O nosso contrato não é de partilha de produção. O nosso contrato é de concessão. Então você tem direito a concessões e as concessões não... Apenas você tem mais... A companhia estatal não participa desse processo necessariamente. Ela pode ser sócia, pode ser parceira, mas não é ela que comanda o espetáculo. Quem comanda o espetáculo é a Agência Nacional do Petróleo. Então essa foi a grande, digamos, mudança. Onde nós aparecemos aí? Primeiro que nós atuamos bastante nesse processo de consolidação da lei. Não, não, de feitura da lei. Ela pode até dizer que algumas coisas que não estão boas lá não foram culpa nossa, porque nós não conseguimos mudar ou introduzir. A segunda coisa foi que lá pelas tantas a Petrobras abriu o chamado portifólio de oportunidades. Quer dizer, uma série de concessões que a Petrobras achava que iam ser mantidas com ela, campos em produção, campos em desenvolvimento e áreas de exploração. Ela realmente teve esse direito reconhecido e ela teve direito também de transferir parte das suas participações para terceiros. E foi aí que nós entramos, negociamos com a Petrobras o Campo de Coral, Estrela do Mar, que iam ser desenvolvidos na Bacia de Santos, e um bloco de exploração.
STARFISH
Bem, aí nós resolvemos... Nós estamos dando assessoramento a uma companhia estrangeira, chamada Proplex, nesse processo, aí nós pensamos: “Por que a gente não cria uma companhia brasileira nós mesmos?” Aí nós reunimos, meia dúzia de pessoas, ex-Petrobras e um que não era da Petrobras, e criamos uma companhia. Nós demos esse nome, StarFish, que é um nome, parece sofisticado, porque um dos campos que nós discutimos, negociamos com a Petrobras e obtivemos a concessão chama-se Estrela do Mar, que em inglês é StarFish. Registrar o nome Estrela do Mar é impossível, porque todos os terreiros aí, todas as casas, seria um nome comum. Então, mas StarFish não tem em lugar nenhum.
Então nós conseguimos registrar. Essa é a razão e a justificativa. Mas nós criamos essa companhia... Mas ela não é 100% brasileira. Não, não é 100% brasileira porque nós temos muitos amigos na Noruega, muitos amigos na Inglaterra, muitos amigos na Angola. E: “Você não quer entrar nessa companhia aqui?” A companhia é brasileira porque a base dela é brasileira. Toda administração é brasileira, todos os membros do conselho de administração são brasileiros, todos os diretores são brasileiros, é uma companhia brasileira. Agora, tem acionistas estrangeiros, não tem nada demais, que são minoritários. Não chega a 30% do capital estrangeiro. Mas esses caras conheciam a gente, tinham confiança na gente - “Pô, vamos nessa.” Então foi assim que a gente vendeu essa companhia. É o que na indústria de petróleo nos Estados Unidos se chama companhia independente, que só atua em exploração-produção. Ela não atua em refino. Ela só atua... E tem 8 mil companhias desse tipo nos Estados Unidos, e essas companhias são responsáveis nos Estados Unidos por 65% da produção de gás nos Estados Unidos e 45% de óleo dos Estados Unidos. Estados Unidos produz quase 8 milhões de barris de óleo por dia. Então, você vê, não é coisa pequena. Essas companhias estão no exterior, estão inclusive no Brasil, e também nós queremos ir para o exterior. Então nós criamos essa companhia, primeiro, como uma limitada, com meia dúzia de pessoas. Fomos crescendo, à medida que as negociações avançavam com a Petrobras, transformamos numa sociedade anônima e transformamos numa sociedade anônima voltada para um novo mercado. Ela só tem ações ordinárias, ela faz contabilidade de acordo com as normas internacionais. É uma companhia moderna, de acordo com os parâmetros internacionais. E, enfim, temos um monte de acionistas que não são brasileiros, o que não tem nada demais, porque 70% do capital está em mãos de brasileiros. Então é uma companhia típica brasileira. Nós nos orgulhamos muito disso, mas não é fácil fazer uma companhia. É muito difícil, porque você, nessa atividade, depende apenas do dinheiro dos acionistas. Cada um põe um trocadinho lá, e como nós fomos criados em 1999, nós tínhamos 24 mil reais de patrimônio líquido. Quer dizer, 24 mil reais em caixa, 24 mil reais, tá? Atualmente, o capital é de 24 milhões de reais. Então, nesse período, nós trabalhamos para danar. Não é uma coisa fácil. É extremamente desafiante, e você dificilmente consegue financiamentos nessa fase porque você está numa fase de risco. Então o banco... Então eu acho... É magnífica essa companhia.
OBRA DE TODOS
Olha, primeiro eu agradeço aos organizadores que incluíram o meu nome, porque queira ou não queira, eu passei 35 anos nessa companhia e fiz parte, digamos assim, dessa história de desenvolvimento, às vezes, como ator, às vezes como ouvinte ou sei lá o que seja. Mas eu fiz parte desse processo. Eu acho que esse depoimento é importante para as gerações futuras verem como as coisas se desenvolveram. As coisas não caíram do céu. Essas coisas foram construídas aos poucos, não é? E por gente que deu seu esforço enorme. Eu sou apenas um desses atores aí, mas a quantidade de pessoas que deram seu amor pela Petrobras. Eu vou lembrar uma frase do presidente que eu citei lá na França, o Ademar de Queirós. Ele depois da Presidência passou a fazer parte do Conselho de Administração da Companhia. Um belo dia, um presidente - não vale a pena mencionar o nome - disse: “Escuta aqui, esse enorme edifício que nós temos aqui, o Edise, esse edifício aqui... Por que a gente não vende esse edifício e aluga? Porque nós estamos imobilizando um capital tremendo aqui, sem necessidade. Posso vender esse edifício, alugo e o meu capital de giro...” Aí um velho conselheiro, no caso, o Ademar de Queirós, disse assim: “Meus filhos, isso é a casa da gente. Esse é bem de raiz. A casa da gente a gente não vende. A casa da gente é nossa. Sou contra.” Bom, eu não preciso dizer que... Eu acho isso aí, digamos assim, memorável. Então são essas pessoas que ajudaram a construir a Petrobras. Alguns anônimos, muitos anônimos, a maioria anônima, pessoas que morreram ali, morreram acolá. Eu acho... O esforço, todo mundo, os trabalhadores, do cara humilde que vai lá, abre o poço e fecha o poço, todos esses têm o seu valor.
O DESAFIO ATUAL
Então eu acho que essa é uma companhia que é um bem, é um patrimônio do país. Eu acho que, na medida também que ela está no mercado competitivo, isso é bom para ela. Petrobras hoje em dia é numerada pelos preços de mercado internacional. Isso aí é uma coisa, estrutura de preço complicadíssima. Agora é um negócio relativamente simples, e ela tem que ser eficiente, porque os preços flutuam no mercado. Então ela tem que tirar partido disso aí. Eu acho que ela tem todas as condições para ser eficiente. Uma companhia espetacular, com quadro de profissionais, com um quadro de trabalhadores, de técnicos, sem nenhuma... Que tem passado dificuldades como toda companhia, parece. Só o fato de não ter havido recrutamento para a companhia durante vários anos, isso traz uma enorme dificuldade. Engenheiros entre 10 e 15 anos são raridade na companhia. No entanto, são esses caras que puxam o dia-a-dia da companhia também. Então houve problemas desse tipo, tem, continua havendo problema, mas cabe à direção da companhia administrar e sair vitoriosa desse negócio.
MEMÓRIA DOS TRABALHADORES
Olha, veja, eu tenho 70 anos, eu posso dizer que metade da minha vida eu passei na Petrobras. Então ela significa muito para nós, significa muito para o país. Eu espero que esse símbolo continue preservado dessa forma. A companhia é tipicamente brasileira, nascido com o esforço de brasileiros. Repara, eu comecei a nossa conversa aqui mostrando que não tinha geólogos quando a Petrobras foi criada. A Petrobras foi criada, ela produzia 1.500 barris quando... Foi o que ela herdou do Conselho Nacional do Petróleo e fez uma companhia que é uma multinacional. Petrobras é respeitada no mundo inteiro, como uma companhia que tem uma tecnologia de ponta em muitos aspectos, e as outras também têm. Então, na verdade, o que é bom no mercado é você interagir, competir. Então a Petrobras representou e representa muito para mim, e apesar de eu não estar mais na Petrobras, a gente ainda considera que é a nossa empresa. É muito difícil a gente separar essas coisas. Fico muito satisfeito quando interajo com ela e achei que a iniciativa de fazer isso é formidável porque ela serve para as pessoas. Não sei se as pessoas se dão o trabalho de ler esses depoimentos, verem esses depoimentos, mas é um pouco de valorar o passado, porque é a chave para o futuro também.
Eu que agradeço a você essa atenção toda e a parafernália...