Museu da Pessoa

Unindo forças, podemos nos tornar melhores

autoria: Museu da Pessoa personagem: Geraldo Pereira Sete

Projeto: Camargo Corrêa, Responsabilidade Social Faz Parte do Nosso Negócio

Entrevistado por: Cláudia Leonor Oliveira

Depoimento de: Geraldo Pereira Sete

Local: União Bandeirantes

Data: 16 de agosto 2013

Realização: Museu da Pessoa

Código: CC_TM005

Transcrito por: Iara Gobbo

Revisado por: Tarcila Lucena


P/1 – Senhor Geraldo, boa tarde.


R – Boa tarde.


P/1 – Obrigada por ter aceito o convite, em nome do Instituto Camargo Corrêa e do Museu da Pessoa.


R – Estamos à ordem, é importante pra gente nesse momento.


P/1 – Deixa eu perguntar pro senhor, pra gente registrar. O seu nome completo, o local e a data de nascimento.


R – O meu nome é Geraldo Pereira Sete, sou nascido no dia 29 de Janeiro do ano de 55, em Itabirinha de Mantena, Minas Gerais.


P/1 – E o senhor cresceu num ambiente rural? Como é que foi, seu Geraldo?


R – Sim, sou filho de agricultor e fui criado junto com o trabalho da lavoura. Meus pais eram cultivadores de café, lavoura de café, então foi uma coisa que a gente aprendeu e adotou desde cedo.


P/1 – Era café lá em Minas?


R – É, café.


P/1 – E o que o senhor fazia, qual era o papel do senhor na plantação de café?


R – No início, a gente, usa lá, carpir. A gente já carpia desde dez anos de idade. A gente iniciou, estudando parte do dia e a outra parte a gente ia ajudar os pais na lavoura.


P/1 – E, seu Geraldo, quando que o senhor veio aqui para Rondônia?


R – Eu vim para Rondônia no ano de 1985.


P/1 – Por que o senhor veio? Quais foram as condições em que o senhor veio para cá?


R – É mais à procura, em busca de terra. Lá nós só possuíamos dois alqueires de terra e a nossa família era bastante grande, o número de irmãos, né, eu e mais seis. No caso, nós éramos sete irmãos e meu pai sentiu a necessidade de migrar para uma região nova, onde ele conseguisse uma propriedade, pra gente trabalhar numa propriedade própria.


P/1 – E como é que foi esse processo de ganhar propriedade, receber a propriedade? Foi através do Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária]? O senhor lembra?


R – É, foi sim. No ano de 1986, a gente conseguiu um pedaço de terra que dava em média de 50 hectares, e aí a gente procurou desenvolver logo aquilo que já tinha, aquela lavoura. A gente já tinha conhecimento com ela. Foi a primeira lavoura de café. A gente formou a lavoura e em seguida cultivou. Fizemos várias colheitas nessa lavoura.


P/1 – Quantos irmãos? O senhor falou que eram muitos irmãos.


R – Nós somos sete irmãos. No caso, eu sou o mais velho e os outros abaixo. Foi uma família sempre maravilhosa, sempre unida. Quando viemos para Rondônia, veio o meu pai, minha mãe e todos os irmãos.


P/1 – Como foi a adaptação? Sair de Minas, uma cultura, uma região e vir para Rondônia desbravar um pedaço do Brasil?


R – No início, a gente sentiu uma diferença, principalmente do clima. Minas Gerais tem um clima mais diferente, um clima mais frio. De repente o calor. O excesso de calor de Rondônia deu uma preocupação que a gente nem continuaria morando em Rondônia, mas logo em seguida a gente começou a trabalhar e produzir. A primeira lavoura de arroz que eu plantei, por exemplo, fiquei admirado com a produção, a grande produção. Então, a partir daí a gente superou as outras dificuldades e levou em frente sempre a parte de agricultura. A gente é sempre motivado pela agricultura.


P/1 – Vamos falar da cooperativa, né, que é o nosso tema de hoje. Como é que surgiu o assunto cooperativa aqui na região? O senhor já morava em União Bandeirantes?


R – Já sim. Com o surgimento do projeto Tempo de Empreender Rondônia, no início de 2011, a gente foi convidado a fazer parte desse projeto. Logo que a gente participou das primeiras reuniões, eu fui sorteado, meu nome foi sorteado para fazer uma visita em Belém do Pará, num cultivo de açaí. A partir daquele momento, a gente se sentiu prestigiado pelo projeto, pelo Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas], pelo Instituto Camargo Corrêa, enfim, por quem estava levando em frente esse projeto. A gente se sentiu prestigiado de ter oportunidade de fazer uma viagem daqui para Belém do Pará, né? Fazer uma visita numa área de plantio, do cultivo de açaí, que eu ainda não conhecia e a gente teve essa oportunidade. Então, a partir daí a gente passou a fazer um compromisso com o projeto. Logo em seguida, houve a necessidade de formar a cooperativa, porque até então o projeto precisava investir os recursos; e só seria possível investir os recursos em uma empresa registrada, reconhecida. Então tomamos a iniciativa de formar a cooperativa. Chegou aquele momento da escolha para diretores. Eu, pela minha idade, pelo tempo de trabalho que eu já tinha, me senti assim um pouco com dificuldade para assumir a responsabilidade de diretor. Mas enfim, os companheiros me escolheram para ser o presidente da cooperativa. Eu fui escolhido por unanimidade e enxerguei – não só por isso, de ter sido escolhido – enxerguei que era uma oportunidade que nós tínhamos diante daquilo que o projeto oferecia, que seriam os recursos que iriam dar para nós a oportunidade de crescer e crescer junto o grupo, levar em frente este trabalho que está sendo levado.


P/1 – Seu Geraldo, como foi o processo de agregar os cooperados, os agricultores? Eles eram muito dispersos, cada um tinha a sua propriedade, o seu plantio? Como é que foi esse processo de agregar as pessoas?


R – Não só foi como ainda é. É bastante difícil, porque até então a região aqui que a cooperativa abrange, os cooperados, é bastante grande. Por exemplo, nós temos cooperados que moram a 40 quilômetros daqui da sede. Então até, mesmo na parte de comunicação, de organização, costuma ter essas dificuldades, mas sem dúvida alguma, a boa vontade, a força de vontade de cada um faz com que, nas oportunidades certas, a gente resolva as questões, as situações.


P/1 – O que é que o modelo de cooperativa propiciava para vocês que estavam aqui, que já tinham as suas lavouras?


R – Porque antes a gente não contava com alguns recursos. Por exemplo, o primeiro recurso que a gente recebeu do projeto foi a destoca de um alqueire para cada produtor. Com a destoca, nós tivemos também a gradagem do terreno. Tivemos também a correção do terreno, o calcário e o adubo. A partir daí ficou mais fácil pra gente fazer um plantio seguro e ter uma produção com certeza.


P/1 – Por que na região da União Bandeirantes foi escolhida a banana comprida?


R – É porque até então já tinha uma grande produção. Acho que quando foi feito o levantamento, as próprias pessoas que dirigiam o projeto, enxergaram que em Bandeirantes tinha uma grande produção de banana. E eles quiseram, no início, até implantar mais no sentido de comercialização da banana. Mas quando surgiram as primeiras reuniões, sentiram que também precisavam dar sustentação na produção, e foi feita a proposta de preparar um alqueire, que seria, ou é, dois hectares e meio para cada produção. E que fizesse o plantio e passasse a produzir com mais tecnologia. Aí então nós tivemos o acompanhamento técnico, assistido pelos técnicos da Emater [Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural].


P/1 – O que o senhor já tinha ouvido falar do Instituto Camargo Corrêa, desse consórcio de empresas e instituições que viabilizam o projeto? Tem o Instituto, tem o Sebrae e tem a Emater, né? Como é que cada instituição chegou para propiciar isso para vocês?


R – A gente... sobre a Camargo Corrêa eu já tinha algumas informações, e que é uma grande construtora. Agora, eu não sabia, não tinha o conhecimento, a função do Instituto. Aí, através dos encontros que tivemos, das palestras, foi possível a gente passar a conhecer o lado do Instituto, a função do Instituto Camargo Corrêa. O Sebrae, também, a gente conhecia por nome, tinha algumas informações. Mas, através das oportunidades de reuniões e discussões, a gente passou também a entender o quanto é importante o trabalho do Sebrae na formação de empresas – no caso, nós como produtores que, ao mesmo tempo, passamos a ser empresários. A iniciativa de cooperativismo já vinha de um período em que eu morei em Mirante da Serra, no ano de 1982 até o ano 2003. Então teve um período em que fiz parte da diretoria de uma, considerada grande, associação de produtores de café em União Bandeirantes. E tivemos um êxito muito bom na questão de associativismo. Então a gente enxergou que não era muito diferente o sentido de cooperativismo para associativismo. E a gente abraçou, porque entendeu que era uma boa oportunidade de formar um grupo em que a gente poderia desempenhar esse trabalho e ter oportunidade de valorizar aquilo que a gente produz.


P/1 – Quais foram as dificuldades? O que emperrava avançar o trabalho dos associados, cooperados?


R – Foi mais a questão burocrática da questão governamental, muita das vez. Principalmente para nós aqui de União Bandeirantes, pois as nossas propriedades rurais ainda não são... ainda estão legalizadas com documento. Então o problema fundiário foi a trave mais grande, assim, mais alta que nós tivemos. Tivemos também os atrasos por parte de licenças. Isso aí faz também sentido junto com a questão fundiária, porque nós não tínhamos documento da propriedade, então tínhamos dificuldade para conseguir uma licença ambiental. A dispersão de alguns companheiros que à vezes não tiveram, assim, a paciência de esperar acontecer aquilo que estava previsto acontecer. Seriam os recursos.


P/1 – Ah, tá. Eles esperavam mais recursos?


R – É, com prazo menor, e de repente alguma coisa demorou. O diretor do Sebrae citava que esses caminhões. No caso... não, o superintendente do Instituto, dizia que esses caminhões estavam marcados para serem entregues em fevereiro, né, no início do ano. Mas, para nós, desde o ano anterior já esperávamos esses caminhões, e agora está acontecendo essa oportunidade. Isso dá pra gente, assim, um sentido muito importante de que a gente está dando mais um passo na vida da organização.


P/1 – Vamos voltar um pouquinho, depois a gente fala do dia de hoje, que é muito importante mesmo, né?


R – Então, a gente está até um pouco entusiasmado nisso aí.


P/1 – Com quantas pessoas começou a cooperativa? Mais ou menos.


R – Essa cooperativa, ela foi fundada no dia 9 de julho de 2011, com 83 cooperados registrados. Então, foi o nosso pontapé inicial, um grupo de 83 produtores que se cooperaram na cooperativa Unicoop [Cooperativa Agrossustentável de União Bandeirantes].


P/1 – E quando os consultores chegaram à conclusão de que o melhor produto era a banana, como que os cooperados.... Porque o senhor falou assim: “Eu plantava arroz, já plantei café”. Como que os cooperados receberam essas orientações?


R – De repente, o produtor, ele depende muitas vezes de recurso. Então, mesmo cultivando o café, a gente deu oportunidade pro cultivo da banana também, porque a gente sabia que era através daquele incentivo é que a gente poderia conseguir esses recursos que estavam previsto para vir pra cooperativa.


P/1 – Ah, maravilha. Quais foram os passos? Primeiro formou a cooperativa, depois legalizou os títulos de terra, né? Quais foram os outros passos do trabalho da cooperativa junto com o Sebrae e a Emater?


R – Os cursos de formação foram muito importantes na vida. Eu, por exemplo, costumo dizer para alguns companheiros, na oportunidade, que o que mais me fez assumir a responsabilidade de presidir uma cooperativa do nível da nossa foi justamente a formação que nós... a oportunidade de ter uma formação da forma que tivemos. Nós tivemos uma formação através do Siscoop e junto com o professor João Bosco – que presta serviço pro Sebrae e que é uma pessoa de muita capacidade para deixar claro o que era cooperativismo, quais são os direitos, quais são os deveres para participar da organização. Então, isso aí deu bastante tranquilidade pra gente assumir essa responsabilidade.


P/1 – Aí veio a legalização das terras, a formação. Aí tem a câmara fria?


R – É, logo no início do ano passado, a gente... aliás, não bem no início, foi em outubro do ano 2011, que não é o ano passado, ano passado foi 2012. Nós recebemos a câmara fria. Só que a gente tinha uma proposta de fazer a maturação da banana através da câmara fria; ela dava possibilidade da gente fazer a maturação da banana e entregar nos mercados. Mas nós tivemos, logo em seguida, a decepção do transporte, porque a gente primeiro procurou socorro com a Semagric [Secretaria Municipal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento], secretaria do município. Eles até cederam os caminhões para transportar. Mas o caminhão carga seca, chamado, com carroceria, não é possível transportar a banana madura. Ela não aguenta o calor, a poeira e daí por diante. Ela chegaria lá, assim, em más condições de consumo. Então, foi aonde a gente reivindicou junto ao projeto que nós precisaríamos de um caminhão com câmara fria. Essa foi a demanda, a gente solicitou e eles disseram: “Nós vamos fazer essa tentativa de conseguir atender vocês”. Então foi por aí.


P/1 – Então por que hoje é um dia importante, senhor Geraldo?


R – Sem dúvida porque é mais um passo que a nossa organização está dando. Antes sofríamos com essa dificuldade de não ser possível levar em frente a nossa comercialização, até mesmo com a rede de mercado com que foi feito o contrato. Nós tivemos que desistir do contrato, porque não tínhamos um transporte suficiente pra banana madura; e hoje, através do empenho, nós conseguimos receber esses caminhões. Sem dúvida alguma, a gente quer sempre agradecer os colaboradores que investiram, acreditaram e estão acreditando na nossa organização.


P/1 – A gente vê seus cooperados felizes hoje, né?


R – Sem dúvida. Cada um tem um motivo, né? E juntos esse motivo se une, porque, sabe, a gente conhece a fundo o quanto é importante ter uma condução própria. Eu acho que a pessoa hoje, por exemplo, que anda de a pé, às vez não tem um veículo próprio para andar, quando ela sempre luta para ter. É a mesma coisa de nós, que tínhamos a nossa produção, já tínhamos a produção, mas tínhamos dificuldade de transportá-la pro mercado e onde a gente poderia ter... Eu até frisei, na minha palavra, que, na oportunidade, meu discurso é que é uma oportunidade de a gente eliminar o atravessador. Onde nós vamos vender, vamos poder entregar nossa produção diretamente pro consumidor, que vai poder receber um produto com um preço menor. Ao mesmo tempo, nós vamos poder entregar o nosso produto, vender o nosso produto por um preço mais razoável e bom.


P/1 – O senhor estava falando do atravessador. Toda produção era vendida pro atravessador e que, aí, impunha um preço?


R – Sim, toda a produção passava pelo atravessador, porque até então a gente não tinha um meio de transporte para transportar a produção até no centro.


P/1 – Hoje queria que o senhor deixasse registrado de onde vinha a banana consumida aqui no estado de Rondônia, principalmente Porto Velho, e o que acontece agora com a produção de vocês.


R – Foi o seguinte. Ultimamente, a gente teve o conhecimento que, por mês, vinham em torno de 18 a 20 carretas de banana de Minas Gerais para Porto Velho, abastecer Porto Velho. Isso por quê? Tinha uma produção boa aqui, na região, mas nós não tínhamos o incentivo de poder competir com a banana que vinha de Minas Gerais. Isso no sentido que a gente não tinha, muita das vezes, um acompanhamento técnico suficiente para ter uma boa produção, de qualidade. Com o projeto, a gente passou a ter. Nós tivemos também a oportunidade de receber 50 mil mudas de banana certificadas, vindas de Minas Gerais. Inclusive é da mesma banana que antes já abastecia Porto Velho, e com isso a gente reproduziu de 50 mil mudas para aproximadamente 250 mil mudas. Isso já com cada produtor cooperado.


P/1 – Vocês têm uma escola-viveiro?


R – É, nós temos uma escola-viveiro.


P/1 – O que é uma escola-viveiro?


R – Escola-viveiro foi justamente nesse sentido, de que nós recebemos 50 mil mudas, no caso 30 mil mudas de banana prata anã, mais 10 mil

mudas de banana nanicão e mais 10 mil mudas de banana maçã, com resistência à doença do Panamá. Então deu para nós uma oportunidade de plantar uma qualidade, passar a trabalhar com uma qualidade que está sendo mais aceita no mercado. Aí, com o grupo, a gente fez uma proposta de que a gente faria primeiro o viveiro destas 50 mil mudas que reproduzisse mudas para que cada cooperado fizesse o seu plantio no próprio lote, da própria propriedade, né? Então foi retirada parte das bananeiras que tinham sido plantadas quando elas já estavam perfilando, para levar pro sítio de cada um. E permaneceu na área que pertence à escola, em média, 8 mil bananeiras, que vão produzir... da produção da própria banana. Nós tivemos também, através da organização do Sebrae, da instrução, que nesse viveiro poderia ser feito um trabalho de escola de unidade. Então é o que a gente está tentando levar em frente.


P/1 – O que seria essa escola?


R – Essa escola, antes de tudo, daria oportunidade de pessoas interessadas passar a conhecer a realidade da cooperativa, da organização, das próprias iniciativas de onde veio, que foi o projeto. E para que os nossos jovens tivessem um acompanhamento junto a essa escola, oportunidades com um técnico especializado pra cultura. E também dar oportunidade de ela ser visitada por outras comunidades, ter um sentido do que significa uma unidade escola.


P/1 – Hoje, aqui, teve uma festa de duas cooperativas, né? Dos bananicultores e dos abacaxicultores, né?


R – Certo.


P/1 – Como é essa convivência entre vocês, de comunidades que são perto, porém com transporte difícil? A gente vê, assim, que tem uma convivência harmônica entre vocês. Como é essa convivência?


R – É muito agradável quando a gente tem oportunidade de trocar experiências e, muitas das vezes, participar de encontros juntos. A gente passa a ter um conhecimento e passa a ter mais confiança naquilo que a gente está fazendo. É muito uma troca de experiência. Talvez, aquilo que eu tenho dificuldade, de repente na outra eles têm mais facilidade. Aí vai descobrir de que forma eles estão fazendo para aquilo se tornar mais fácil para eles, né? E da mesma forma, a gente retorna dando também a oportunidade para que eles fiquem sabendo a forma de desenvolver mais fácil aquilo que eles estão com dificuldade.


P/1 – Senhor Geraldo, o senhor conhecia muito as pessoas aqui da região, ou a cooperativa aproximou um pouco as pessoas, as famílias? Como é que foi isso?


R – Olha, até parece que você está adivinhando uma tese que eu sempre tive, que quando fui escolhido para ser o presidente da cooperativa, eu conhecia em média 20% do pessoal. “Por visão”, a gente conhecia, mas o nome, o endereço, a gente não conhecia. Então, hoje, a gente chega naquele quadro de foto que estava sendo apresentado aí, a gente conhece um por um e sabe onde eles moram. Isso dá pra gente uma oportunidade, e eu tenho o privilégio de ser bastante respeitado pelos companheiros. Eu, ao mesmo tempo que respeito a opinião, a própria pessoa, a tese, a vontade, também, graças a Deus, sou bastante respeitado. Aquele que a gente... não que é a gente é aquele mão de ferro que fala: “Isso tem que ser isso”. Mas da maneira que Deus me deu um dom para conviver com as pessoas, eu tenho muita facilidade hoje, graças a Deus, sou muito prestigiado por isso.


P/1 – E a gente vê as esposas dos agricultores, as crianças juntas, eles acompanham bastante os eventos da cooperativa?


R – Sim, sempre tem. Já diretamente por parte do Sebrae e da própria Emater, eles valorizam muito a questão do lado da mulher, que é a esposa, também dos jovens e das crianças. Então dá condições pra gente não precisar se preocupar muito, porque, normalmente, quando a gente recebe a visita de um técnico, de alguém que dá assistência pra gente, ele se aproxima também bastante da família e procura valorizar o máximo. Então, sem dúvida alguma, aqui as famílias hoje... não é só o cooperado, são famílias cooperadas, né? E também tem, por parte do trabalho que a gente vem fazendo, o incentivo de se conscientizar a questão da agricultura familiar, sendo trabalhada junto com as famílias. Isso é muito importante.


P/1 – Seu Geraldo, o que esse trabalho todo propiciou na vida dessas famílias? O que o senhor percebe de transformação pessoal, financeira, da propriedade?


R – Eu vejo que é oportunidade de melhorar. Quando a gente produz e tem o resultado de valores diferenciado, a gente se incentiva mais em levar em frente o trabalho. Sabemos que ainda faltam algumas, ou várias, né, situações para serem resolvidas. Mas sem dúvida alguma, através de uma organização, se tratando de cooperativismo, de associativismo, a gente vê oportunidade de ter sempre melhora na questão financeira e na questão do convívio do dia a dia. A família, quando é bem assistida com aquilo que é necessário de cada dia, se torna uma família mais amiga, mais compreensiva um com o outro.


P/1 – Hoje fechou um elo da cadeia produtiva, a parte de entrega, de transporte, não é?


R – Isso.


P/1 – Quais que são os planos para o futuro, da cooperativa?


R – A gente tem como futuro, em questão de patrimônio – já está assim até bem divulgado –, que nós vamos ter um barracão industrial, onde vai ser possível montar uma agroindústria para aproveitar os produtos que não tiverem condições de ir para o mercado, mas que servir para agroindústria, transformando em balas e doces. Aí vai ter a oportunidade muitas das vezes, das senhoras... Aí volta a questão da esposa e do jovem terem a oportunidade de desenvolver um trabalho. Na questão mais... Eu gostaria de dizer, assim, na questão mais dinâmica, seria a oportunidade de nós passarmos a fazer compras conjuntas no mercado, se der oportunidade. Porque normalmente o produtor, homem do campo, consome o arroz, o feijão. Esses são produção do próprio sítio. Mas de repente ele tem que comprar açúcar, o óleo, o arame para cercar o pasto, o mineral para dar pro gado. Então já houve até discussão com essa finalidade, da gente organizar; e hoje a nossa cooperativa tem uma documentação legal para trabalhar nesse campo aí.


P/1 – Que legal.


R – Como produção, a gente tem também firmado já de nós fazermos um apelo entre os cooperados, de produzirmos outras culturas também, que seria o maracujá, seria o mamão, a abóbora e outras. Tipo de produção frutífera, que é possível que nós passamos a produzir.


P/1 – Diversificar.


R – É, especificar. Nós temos um grupo aí de 80 cooperados, em média, e nós poderíamos trabalhar da forma dividida, não dividindo a questão mente, mas sim a função. Que um grupo plantasse, cultivasse o maracujá, outro grupo cultivasse o mamão; que outro grupo cultivasse a melancia, a abóbora e daí por diante. Isso dá um sentido que, ao nós termos o caminhão para transportar, ficaria mais fácil pra gente levar pro mercado.


P/1 – Agora pra gente encerrar, uma pergunta, assim, bem pessoal. O senhor, como presidente da cooperativa, como se sente vendo esse trabalho todo que foi realizado? Vendo essas melhoras todas, como o senhor se sente pessoalmente?


R – Eu me sinto muito feliz, até certo ponto emocionado, de poder ter essa oportunidade de tá junto com esse grupo. Eu sempre me precavi de não, como diz o outro, extrapolar, porque de repente fica visado: “É o presidente da cooperativa”. Mas eu me considero uma peça junto ao desenvolvimento da cooperativa. Então, sem dúvida alguma, pra gente é uma vitória muito importante.


P/1 – Na sua fala, o senhor falou uma coisa, eu gostaria que o senhor pudesse repetir. É da rede do peixe.


R – A rede do peixe?


P/1 – É.


R – Eu fiz uma comparação, porque, no início da implantação do projeto, nós fomos convidados para participar de algumas reuniões, ou até então foram várias. Diante das discussões nas reuniões, foi havendo as definições. Por fim, formou-se um grupo no qual nós poderíamos ou teríamos que formar uma cooperativa, fundar uma cooperativa. E aí, quando fomos chamados pra questão de compromisso e responsabilidade, vários saíram fora. Eles não aceitaram e permaneceram, em média, um grupo de 80 cooperados, de produtores, que até então não eram cooperados. Assumimos essa situação e aí procuramos levar em frente. A gente sabe que hoje nem todos os 80 têm compromisso com a cooperativa. Mas um bom número desses 80 continuam cooperados e ativos diante da organização. Então por isso eu fiz uma comparação como quando se lança ou quando se arma uma rede no rio. Os peixes pequenos, eles vão escapar pelos crivos, porque eles são pequenos, não têm condições. Os grandões, eles vão romper a rede, porque até então eles enxergaram que a cooperativa, para eles, não é interessante, porque eles tinham poder aquisitivo para montar um negócio próprio. Mas aquele grupo médio, o que eu faço parte deles, sentiu que seria uma oportunidade de se tornar mais forte. Por isso a gente está levando em frente esse trabalho,


P/1 – Está joia.


R – Seria isso.


P/1 – O senhor acha que ficou faltando alguma coisa da cooperativa pra gente falar, que o senhor queria deixar registrado?


R – Eu queria ressaltar o apoio que eu já disse aí, eu frisei como respeito. Mas de qualquer forma, o apoio de cada cooperado, principalmente os companheiros da diretoria, porque, no caso, eu sou o presidente da cooperativa, mas eu não dirijo sozinho, tem mais quatro: o diretor executivo e temos também os diretores fiscais. Então a gente procura sempre trabalhar em conjunto, ter opiniões concluídas junto e definições também concluídas junto. Seria isso aí.


P/1 – Está joia seu Geraldo. Então obrigada pela entrevista, viu?


R – É eu que agradeço de ter essa oportunidade. Espero não decepcionar. Quando a gente tem oportunidade assim, como tivemos hoje, através do evento, a gente procura lembrar que essas pessoas que estão presenciando, eles esperam muito da gente, e a gente espera não decepcionar, e sim levar em frente o trabalho.