Museu da Pessoa

Uma voluntária cheia de energia

autoria: Museu da Pessoa personagem: Josileine da Cruz e Silva

Museu da Pessoa – Conte sua história
Histórias de Esperança – 29 anos do Projeto Criança Esperança
Depoimento de Josileine da Cruz e Silva
Entrevistado por Tereza Ruiz
São Paulo 03/09/2014
Realização Museu da Pessoa
Entrevista HECE_HV_013
Transcrito por Ana Carolina Ruiz

P/1 – Primeiro, Josileine, vou pedir pra você falar o seu nome completo, data e local de nascimento.

R – Joseleine da Cruz e Silva. Nasci em São Paulo em 19 de março de 1961.

P/1 – Agora o nome completo dos seus pais, seu pai e sua mãe, e se você lembrar data e local de nascimento também. Se lembrar.

R – Dos dois?

P/1 – Isso.

R – José da Cruz. Ele nasceu em 31 de janeiro de 1919 em São Paulo. E Domingas Bertini da Cruz, nasceu em São Paulo em 16 de julho de 1917.

P/1 – O que os seus pais faziam profissionalmente?

R – Então, meu pai era militar. Ele entrou na aeronáutica e também se aposentou na aeronáutica. Quando ele se aposentou ele começou a trabalhar com um tio meu numa loja de materiais de construção, mas se aposentou na aeronáutica.

P/1 – E sua mãe?

R – A minha mãe sempre costurou vestidos de noiva. Então aí depois que ela casou ela parou um pouquinho, que ela tinha o que seria um ateliê que seria hoje, só pra noivas, com as minhas tias. Aí ela ficou só pra cuidar dos filhos mesmo.

P/1 – Onde que era esse ateliê?

R – Era na Vila Guilherme mesmo ali.

P/1 – E tinha um nome assim ou era dentro de casa?

R – Não. Era dentro de casa mesmo. Era coisa bem mais antiga, então não tinha esse negócio de famoso. Ela costurava mais vestidos de noiva, bordava. Então sempre ali na Vila Guilherme.

P/1 – E depois de casada quando ela parou de costurar pra fora ela costurava pra vocês em casa?

R – Não muito. Fazia algum conserto, mas não muito. Era mais as minhas tias que continuaram com a costura mesmo.

P/1 – E fala um pouco pra gente como é que os seus pais eram assim de personalidade, temperamento. Como é que você descreveria os dois?

R – Meu pai sempre, você sabe, filha de militar tem que seguir um pouquinho o que os soldados seguem. Então meu pai era um pouco rígido, minha mãe já era mais maleável. Mas eu acredito que a educação que eles nos deram foi assim, bem assim... Como é que eu posso dizer? Não foi rígida, mas também não foi aquela muito de liberdade. Tinha que ter os limites, ele não admitia que a gente fosse mal educado com os demais, principalmente com os mais velhos. Então eu acredito que tenha sido uma boa educação.

P/1 – Você sabe qual que é a origem da sua família?

R – Sim. Minha mãe é italiana, o meu pai é português.

P/1 – E aí quem que veio pra cá pro Brasil primeiro? Foram avós, bisavós?

R – Foram os avós. Mas a minha avó da parte do meu pai ela era brasileira, mas ela tinha um pouquinho de indígena. Então aí casou com um português. Meu avô era português mesmo. E os meus outros dois avós os dois eram italianos, da parte da minha mãe.

P/1 – Você sabe por que eles vieram pro Brasil?

R – Assim, eu acho que melhores condições de vida na época. Acredito que era isso sempre que eu ouvia. Não sei se tinha, além disso, outro motivo.

P/1 – E quando eles vieram eles contavam pra você o que eles vieram fazer assim como atividade mesmo pra ganhar a vida? Assim que eles chegaram no Brasil pra que lugar eles foram, o que eles foram fazer profissionalmente, os seus avós?

R – Então, o meu avô paterno eu não o conheci, ele já tinha falecido quando nasci. E meu avô materno também já havia falecido. Eu só tive contato com as duas avós. Uma era do Paraná, a do meu pai, ela morava em Curitiba, então não tinha como eu ter muito contato assim pra ela me contar muito as coisas. E minha avó materna morava com a minha mãe, com os meus pais. Então dela eu conheci um pouquinho mais. Meu avô era mecânico, então ela que falava um pouquinho mais dele, mas não muito também.

P/1 – E você tem irmãos?

R – Tenho. Dois irmãos. A mais velha é psicóloga e o do meio, eu seria a mais nova, do meio trabalha na CPTM, administrador.

P/1 – Qual que é o nome deles?

R – É Joseli e ele José Antônio. Todo mundo com J.

P/1 – Conta um pouquinho pra gente como é que era a casa em que você passou a infância. Descreve mesmo a casa, o bairro.

R – Quando eu nasci minha mãe já tinha voltado aqui para São Paulo, porque como ela acompanhava meu pai em todos os quartéis que ele ia, então ela morou muito tempo em Minas Gerais, em Barbacena. Mas quando eu nasci eles já estavam com essa casa em construção, sempre na Vila Guilherme. Era uma casa grande porque como morava com a gente a minha avó, mãe da minha mãe e mais uma tia minha solteira que morava também junto. Então era uma casa grande, tinha muito espaço pra brincar e no fundo da casa tinha a casa da minha tia, que tinha uma passagem. Então eu sempre tive muito espaço pra infância. Lembro-me muito de jardim, de poder brincar muito, tá? Brinquei bastante mesmo, principalmente ao ar livre.

P/1 – E quais que eram as brincadeiras? Do que você brincava e com quem que você brincava?

R – Muito de boneca. Eu lembro que na minha época eu brincava bastante de boneca, de casinha que falavam antigamente. Mas assim, sempre no jardim, sempre fazendo comidinha com folhagens, com terra. Então eu lembro muito disso. E sempre com crianças da rua, que moravam na mesma rua. Então eram essas minhas amizades. Mas eu fui pra escola muito cedo, porque como os meus irmãos já estavam na escola minha mãe me colocou com cinco anos. Quer dizer, há 53 anos, então com cinco anos eu era novinha, eu fui pro Jardim da Infância, mas eu gostava bastante de ir pra escola. Então eu acho que foi uma infância assim de muito brincar.

P/1 – Quais que são as primeiras recordações que você tem da escola?

R – Da escola eu tenho assim muita recordação da roupinha que eu ia, do uniforme que eu gostava muito, sentia-me bem naquele uniforme. E também de lá das brincadeiras na escola, que eu achava que eram... Assim, não vi isso mais. Eram mais brincadeiras mesmo mais de pintura, mas ligada muito a casa, a família. Isso eu lembro bastante.

P/1 – Como é que era seu uniforme que você gostava?

R – Era um vestidinho xadrez verde e branco de babadinho. E eu gostava muito dessa roupinha. Quando eu tive que tirar essa roupinha pra ir pro primeiro ano, mudar eu não queria. Então isso me recorda muito, do uniforme da pré-escola, do jardim da infância.

P/1 – E como é que você ia pra escola nessa época?

R – Minha mãe levava. Era próximo. Então sempre levava e ia buscar.

P/1 – Ia e voltava caminhando então?

R – Sim. Caminhando. Umas duas quadras, três talvez.

P/1 – E você falou dessas atividades assim, falou que eram mais família, em que sentido? Qual que eram essas atividades na escola?

R – Eu lembro que eu pintava muito a casa, casinha, e fazia a família dentro da casa. Então sempre acho que numa época em que as mães quase nunca trabalhavam, então eu via sempre a minha mãe dentro de casa. Então eu me espelhei assim, pra fazer os desenhos era sempre a família dentro de casa e o pai trabalhando. Era diferente do que é hoje, atualmente.

P/1 – Você teve algum professor marcante nessa fase?

R – Não. Assim, porque a gente tinha um professor só. Atualmente que tem vários professores. Então era uma professora só desde o jardim, depois mesmo o pré, mantinha a mesma e depois acho que comecei a ter vários professores mais na quinta série. Então era sempre uma professora. Eu lembro que fiz catequese na escola, porque aí não era na igreja, era na escola. Lembro-me da catequista que ia à escola dar. Então isso são algumas lembranças, mas assim nomes pra te falar todos eu não consigo lembrar.

P/1 – Mas teve alguém em especial assim, algum professor especial ou dessa fase ou um pouco mais pra frente no ensino básico?

R – Não. Eu acho assim que me diferenciou não. Não teria nenhum pra falar: “Esse foi...”. Não. Não tenho.

P/1 – Você falou que você fez o catecismo nessa escola, era uma escola religiosa então?

R – Era uma escola particular e elas eram religiosas, as donas eram religiosas. Então elas faziam a catequese na escola. Eu não sei se na época isso era comum. Não sei te dizer assim ou se era um diferencial da escola, mas aí eu fiz a primeira comunhão na igreja ali onde eu trabalho atualmente como voluntária. Mas toda, como é que é? A catequese mesmo foi feita dentro da escola. Era uma aula só pra catequese.

P/1 – E você se lembra dessa catequista?

R – Lembro da catequista pelo seguinte, quando eu fui colocar os meus filhos na catequese eu lembrava muito do livrinho, que era um livrinho muito assim explicativo e a forma que ela deu a catequese, o que eu já achei que não é o que é atualmente, quando eu fui colocá-los. Então isso eu me lembro, do livrinho. Parece que eu o vejo assim, o livrinho na frente. São coisinhas bobas, mas que a gente lembra.

P/1 – Você falou que você acha que é diferente da maneira como é feito hoje, o que você vê de diferente assim com...

R – Sim. Eu vejo diferente que eram mais figuras. Eu acho que quando a gente tem uma figura para demonstrar, eu acho que grava mais, junto com o texto alguma figura. A criança eu acho que ela consegue gravar mais do que só o texto. Ela vendo a figurinha, o que ela está representando o que o texto diz, eu acho que grava mais rápido.

P/1 – E você se lembra das imagens desse livro que você menciona?

R – Lembro-me das imagens, por isso que eu estou te falando, é uma coisa que me gravou.

P/1 – Como é que eram essas imagens? Como é que era o livro?

R – Ah, eram desenhinhos pequenininhos como se fossem umas figurinhas de uma criança entrando numa igreja, ajoelhando perante uma cruz. Eram coisinhas simples, mas eram de gravar. Lembro coisinhas básicas, mas bonitinhas.

P/1 – Você frequentava a igreja desde pequena? Sua família sempre foi católica?

R – Sim. Eles sempre foram católicos e eu não tinha o costume de ir, meu pai queria que a gente fosse sempre, mas quando não dava não tinha problema. Mas principalmente em Natal, Páscoa, essas datas mais presentes a gente tinha que ir a igreja. E sempre meu pai era muito devoto de São Judas Tadeu, então todo dia 28 a gente ia com ele até a igreja de São Judas Tadeu. Isso é muito marcante pra mim, a gente ia sempre com ele no dia 28. Agora, a missa aos domingos a gente frequentava até assim, o que eu posso dizer, até quando os pais conseguem nos levar. Depois você acaba dispersando, já tem um compromisso aqui, um compromisso ali, mas eu lembro que eu fui criada dentro de uma fé católica.

P/1 – Você sabe qual que é a história de devoção do seu pai a São Judas Tadeu? Tem alguma história?

R – Não. O meu pai ele era assim muito mais fechado no falar assim o porquê. Então ele dava pra gente assim a noção da fé que a gente tinha que acreditar, mas ele nunca falou o porquê exatamente de ser São Judas Tadeu. Embora ele fosse José seria mais provável que fosse de São José. E eu ainda nasci no dia de São José. Então depois que eu nasci ele ficou muito mais ligado ao São José, entendeu? Porque acho que sei lá, calhou de eu nascer no dia.

P/1 – E o bairro naquela época? A Vila Guilherme como é que era naquela época?

R – Ah, a Vila Guilherme era de terra quando eu era menorzinha. Demorou um pouquinho a ter asfalto na rua, mas assim, eu considero um bairro gostoso. Gosto de lá, tanto é que quando me casei voltei a morar lá porque eu acho que é um bairro gostoso de se morar.

P/1 – Mas já tinha luz elétrica...

R – Tinha. Luz elétrica tinha. Só a rua que a gente morava que não era asfaltada, depois acho que eu devia ter uns dez anos, ela foi asfaltada. Mas a gente nunca teve problema de não ter luz elétrica.

P/1 – E as refeições na sua casa nessa época? Quais são as lembranças que você tem assim do momento da refeição? O que vocês comiam? Quem cozinhava em casa?

R – Então, a princípio na infância era a minha avó. Minha mãe dizia que não gostava muito. Como minha avó sempre gostou de fazer, sempre minha avó fazia. E assim, a maioria das vezes a gente foi acostumado a sempre comer de tudo, não tinha muita frescura porque não éramos assim de cada um escolher sua comida, então a comida era aquela e a gente tinha que experimentar pra saber se gostava ou não. Porque meu pai tinha, eu acho que por ser militar mesmo, que a gente não podia ter frescura pra comer porque tinha que agradecer o que tinha na mesa. E fazia questão que as refeições fossem sempre juntos, nunca cada um comer num horário, a não ser que tivesse um problema de trabalho. Mas eu me lembro de criança da gente sentar a mesa todos juntos e aos domingos sempre reunia a família toda, inclusive tios e tias que moravam ali por perto, e aí nas datas especiais vinham todos pra casa porque era onde estava a minha avó. Então eu me lembro de Natal e Ano Novo com bastante gente. Por isso que eu gosto de muita gente. Eu gosto de festa porque eu acho que é um momento de você reunir a família e assim, ter um bom relacionamento. Infelizmente isso vai se perdendo porque a partir do momento que os filhos vão crescendo, cada um quer seguir um caminho, mas eu acho isso assim muito bom pra pessoa, pra gente se definir como pessoa. A união da família.

P/1 – Como é que eram os Natais na sua casa? Que lembranças você tem dos Natais na infância?

R – Ah, eu tenho lembrança que eu sempre ganhava boneca. Eu sempre ganhava boneca que tava assim... Meu pai sempre fazia questão de tentar dar a boneca igual pra minha irmã, embora a gente tivesse nove anos de diferença, a gente sempre ganhou, quando eu já tinha um entendimento melhor e ela ainda não era uma mocinha, a gente sempre ganhou a boneca igual pra não haver brigas de uma querer a boneca da outra. Mas eram muito alegres, a gente tava sempre juntos, era como eu falei, a união dos outros membros da família que não moravam na mesma casa.

P/1 – E vocês enfeitavam a casa?

R – Sim. Sempre enfeitamos com árvore de Natal. Eu não estou lembrada se já na época tinha luzinha. Não sei. Não vou lembrar, mas sempre com muitos enfeites, coisas simples, mas sempre bonitas. Colocar uma guirlanda na porta, enfeitar a mesa, colocar vela. Isso eu lembro muito bem desse detalhe da decoração.

P/1 – E nessa fase de infância assim tem alguma história, algum episódio, alguma coisa que você viveu que tenha ficado, especialmente marcante? Sabe essas histórias que a gente nunca esquece, às vezes a família lembra?

R – Ai meu Deus. Eu não lembro agora pra dizer. Deve ter, né? Mas agora de momento eu não lembro.

P/1 – Pode ser um episódio na escola ou uma coisa de brincadeira, um momento na família.

R – Não. Não to lembrada assim alguma coisa que diferencia assim pra eu te contar. Não lembro.

P/1 – Tudo bem.

R – Tá.

P/1 – E aí na passagem então dessa fase de infância pra adolescência eu queria saber assim, na adolescência e juventude é uma fase de transição, costuma mudar bastante coisa nos hábitos, nos relacionamentos. Queria saber assim, na sua juventude o que mudou, na adolescência e juventude, em termos de amigos, ciclos de amizade, lazer, o que você fazia pra se divertir.

R – Então, quando eu cheguei na quinta série a minha mãe... Tinha inaugurado uma escola estadual perto de casa e todo mundo achando que a escola era boa, meu irmão foi pra lá, minha irmã não, minha irmã continuou, ela quis fazer o normal que seria na época, professora. E ela me mudou e o meu irmão pra essa escola estadual. Eu realmente fiz novas amizades, mas também continuei com algumas amizades do colégio particular, embora vieram bastantes amigos pra essa escola. Eu então fiz da quinta a oitava nessa escola, foi quando a escola decaiu, minha mãe me voltou pro colégio particular. Nessa época eu então já tava acho que com 15 anos, então aí esse grupo de amizades me marcou mais, que foi o grupo que a gente saía, começou a frequentar as festas de 15 anos na época. Eram aquelas festas mais assim nas casas, porque não existia buffet, salão, mas era nas garagens, nas casas e aí eu fiz um grupinho de amizade em que a gente saía domingo à tarde, porque eu também tinha limite de horário pra voltar pra casa. Então foi aí que eu fiz o meu ensino médio, com essa turma que umas vieram do estadual pra cá e outras se perderam. A gente não tem como às vezes ficar com todos os amigos, uma parte acompanha e outras não. Mas esse grupo a gente começou a fazer o cursinho junto com o terceiro ano e eu lembro bem que a gente ia de perua. Os nossos pais ao invés de a gente ir de metrô, que já tinha o metrô, contrataram uma perua. Então essa fase era muito legal porque a gente se encontrava seis horas da manhã e íamos com uma perua, com motorista. Ele levava a gente no cursinho, ficava lá esperando, voltava e a gente conseguiu nessa escola ao invés de a gente fazer o período da tarde ela montou um horário vespertino das cinco às dez. Então a gente ficava com um pedacinho da tarde pras cinco horas entrar e fazer o terceiro ano do ensino médio. Foi quando eu fiz o cursinho e o ensino médio. Então foi assim um grupinho que marcou mais por quê? Porque aí você já guarda mais, adolescente, você tem todo aquele papo diferente de uma criança. Mas era um pessoal bem legal que a gente tinha muito contato, morávamos bem perto, íamos a pé uma na casa da outra e aí as saídas mesmo eram pra essas festinhas que tinha. Quase todo final de semana tinha uma festinha na casa do outro. E fazíamos muito trabalho em grupo, que a gente se lembra das casas que a gente ia. Então ia à casa de um, de outro, vinham em casa. Então isso eu acho que é importante pra você ter um relacionamento com pessoas da sua idade.

P/1 – E essas festinhas que você mencionou como é que elas eram? Descreve um pouco pra gente o que vocês faziam, o que tocava, se consumia alguma coisa de bebida e comida, como se arrumava pra ir. Qual que era o...

R – Então, foi quando a gente começou a usar o longo, que todo mundo não via a hora de colocar um vestido longo. Os meninos sempre de smoking, embora fosse festa assim em casa, elas eram bem programadas. O que a gente comia? Bebida não se via porque antigamente não tinha muito isso de bebida aparecer. Os pais mesmo ficavam ali, tinha um escurinho porque a luz era mais baixa exatamente assim talvez, não sei se tinha toda essa... Tinha aqueles globos que começaram a existir e ali ficava, um dançava com o outro, mas era alguma música lenta, algum música separada, mas eram pessoal todos conhecidos. Não era muita gente de fora.

P/1 – E você lembra o que tocava? Quais eram as músicas, quais eram os grupos?

R – Exatamente assim eu não lembro. Aos 15 anos não.

P/1 – O que você gostava de ouvir? Você ouvia música nessa fase de adolescência e juventude?

R – Eu gostava da música sim. É o que eu digo, tinha muita música da época, não sei agora o grupo, mas eu sempre gostei muito, eu não sei se é porque eu era filha mais nova, muito de música popular brasileira. Então eu ouvia muito Vinícius, Toquinho. Então isso eu fui criada dentro dessas músicas e também muita música instrumental, porque meu pai gostava muito de Glenn Miller, Frank Sinatra. Então eu fui acostumada a ouvir essas músicas. Mas não que eu não gostasse das músicas da minha idade. Agora, o meu aniversário de 15 anos eu não fiz em casa. Nós éramos sócios do Clube Espéria e lá eles tinham aquele baile de debutantes, antigamente, em que várias meninas faziam o baile juntas. Aí eu optei por fazer assim. Então esse baile a gente teve aulas de etiqueta, de como sentar, de como andar e depois foi a noite do baile. Isso também algumas amigas fizeram comigo dessa forma. Então isso também é uma coisa que ficou na lembrança, do baile dos 15 anos, mas as outras meninas não, eram mais assim em casa mesmo, né?

P/1 – Conta um pouco então como é que foi o seu baile de 15 anos.

R – Ah, eu gostei mais da preparação que as aulas eram muito interessantes. Eu aprendi muita coisa de como andar, como sentar, como me comportar porque eram dadas umas aulas de etiqueta pra você poder guardar isso pra você mesmo. E a primeira vez que eu ia usar um vestido branco, longo, e você conversando com as outras, se não me engano eram umas eu acho que quase 40 meninas, todas da mesma idade, aí você fica naquela expectativa com será o vestido de uma, como será o vestido de outra, né? Foi assim, eles contrataram um paraninfo que fez toda a parte de apresentação das debutantes e você passava por uma passarela, o pai recebia na ponta e depois você se sentava a mesa com os familiares e aproveitava o baile. Então foi muito gostoso, foi diferente, uma opção que eu pedi pro meu pai, meu pai fez do jeitinho que eu tinha pedido, então eu achei que foi muito bom.

P/1 – Teve valsa?

R – Teve valsa. Isso. Valsa na hora em que o pai pegava, ficavam aguardando as demais, daí teve a valsa.

P/1 – E nessa fase assim de adolescência e juventude, nesse lado mais amoroso assim, teve alguém que tenha te marcado, um primeiro amor, um primeiro namorado?

R – Não. Eu acho que eu era assim muito... Como a gente tinha essas amigas elas tinham vários primos, irmãos, então a gente sempre teve um bom relacionamento, mas nunca nada assim ligado realmente a um namoro, entendeu? A gente saía todo mundo junto, mas nunca pensando em namoro. Então não tive.

P/1 – E você mencionou algumas canções que você escuta em casa, na verdade alguns compositores, cantores e tal.

R – Isso.

P/1 – Teve alguma música que tenha te marcado ou uma música que seja importante pra você, uma canção preferida?

R – Não. Nessa fase não. Não tenho assim que eu lembre pra falar que ficou marcado. Gostava de várias, mas nenhuma marcou, não.

P/1 – E posteriormente tem alguma canção que seja significativa?

R – Depois a gente vai... Mais na época de namoro, que você vai guardando algumas canções, mas antes disso não.

P/1 – Na infância ou na juventude você pensava o que queria ser quando crescesse? Tinha uma projeção assim: “Ah, quando eu crescer eu quero ser tal coisa.”?

R – Então, eu era muito assim, não sabia se eu gostaria de ser assim... Como é que eu vou explicar pra você? Se eu iria mais pra área médica. Eu gostava muito de cuidar, mas eu não sabia se eu ia ter coragem de cuidar de uma pessoa doente. Então eu não sabia, realmente não sabia. Escolhi Economia. Por quê? Porque eu achei que eu era mais pra escritório mesmo, sabe? Mas uma parte mais exatas. Mas eu não tinha assim uma coisa muito certa, tanto é que quando eu prestei vestibular, prestei Administração e Economia pra depois optar pela Economia. Mas não tinha assim de criança falar eu vou ser tal coisa e seguir isso.

P/1 – Você lembra como é que você tomou essa decisão assim? Se teve algum fato, alguma situação que tenha te feito escolher prestar Administração e Economia?

R – Então, eu tenho um primo que é economista. Eu conversando com ele uma vez achei que eu iria melhor para a Economia. Mas até então entrar e ter que optar, porque daí eu tinha entrado em Economia e em Administração, aí eu optei pela Economia. Eu fiquei na indecisão mesmo até entrar. Aí foi opção mesmo.

P/1 – E você mencionou uma fase de namoro, que você falou que não foi com essa idade de 15 anos, foi posterior, isso foi depois de você entrar na faculdade ou foi...

R – Não. Eu conheci meu atual marido no cursinho, entendeu? Eu não tinha assim muita... Como é que eu vou usar o termo? Pretensão ali de encontrar um namorado. Eu acho que tudo aconteceu. E aí foi com ele que vim a me casar, mas o conheci nessa fase do cursinho, quando eu fiz esses seis meses em paralelo com o terceiro ano.

P/1 – E como é que vocês se conheceram? Conta pra gente?

R – Então, eu tinha umas amigas que eu fiz o cursinho pra Humanas e elas queriam Exatas. Eu fiquei sozinha na classe de Humanas e aí na hora dos intervalos eu ia encontrá-las na classe de Exatas e eles estavam fazendo Exatas. Então eu o conheci através das minhas amigas, dessa turma que ia na perua Kombi pro cursinho. Então o conheci através, a gente começou a conversar, tudo, mas viemos a namorar mesmo no ano seguinte. Não foi nesse semestre.

P/1 – E aí como é que foi essa aproximação? Teve um pedido de namoro?

R – É, então, existia ainda o pedido de namoro. A gente resolveu sair, um dia ele me ligou pra ir me buscar, eu estava fazendo vestibular na FAAP, ligou pra me buscar, tinha que pedir permissão porque eu era menor ainda, não tinha 18. Aí pedi permissão pro meu pai se ele podia ir, ele deixou, ele foi me buscar no vestibular. A gente saiu, conversou, depois quando ele me pediu em namoro a gente começou namorar.

P/1 – E aí vocês namoraram quanto tempo?

R – Bastante. Seis anos e meio.

P/1 – E como é que foi esse namoro? O que vocês faziam juntos?

R – Então, a gente só saía mesmo de sábado ou domingo e não era sempre, porque ele também não tinha o carro todo final de semana. E aí o meu pai também não cedia o carro pra gente sair com o carro, a gente que tinha um carro só pra todo mundo. Então ele ficava lá em casa ou a gente saía de ônibus. E não me arrependo assim de a gente sair, entendeu? Era difícil? Era. Ter que ir, procurar, ir pra algum lugar, tudo, mas foi uma fase gostosa. Deu pra gente se conhecer bem porque seis anos e meio dá bastante, né? Aí viemos a nos casar.

P/1 – E você tinha falado lá atrás que na época de namoro talvez tivesse alguma canção, alguma música.

R – Então, tem uma música que eu estou até tentando me lembrar do nome dela, era do Bee Gees, mas eu não sei o nome dela. Se eu ouvir um pouquinho depois, já eu vou lembrar. Então, essa música marcou a gente, assim, não sei, porque talvez a gente ouvindo em algum bar, algum lugar que estivéssemos juntos, é uma música que nos marcou.

P/1 – Você não lembra nem de um trechinho assim pra cantarolar?

R – Meu Deus, você quer que eu cante.

P/1 – Não?

R – Ah, é difícil. Já, já eu lembro.

P/1 – Tá bom.

R – Porque acho que era uma fase de Bee Gees. Então acho que a gente marca porque era na época que eles estavam bem no top lá, então acho que foi uma música que marcou.

P/1 – Durante essa fase ainda que a gente está conversando, um pouco antes de chegar na faculdade assim, de adolescência e de juventude, eu queria saber se você também trabalhava ou não, só estudava. Teve alguma experiência de trabalho nessa fase?

R – Não. Eu não trabalhava. Eu comecei a trabalhar quando eu entrei na faculdade... Não. Não foi nem quando eu entrei, foi no último ano de faculdade que eu precisava fazer um estágio, foi aí então que eu comecei a trabalhar como estagiária. Mas eu não trabalhei. Eu ajudava, é lógico, minha mãe em casa porque não tínhamos empregada e como a minha tia continuava costurando vestido de noivas, a minha mãe a ajudava nos bordados. Então eu sempre tava por ali, mas trabalhar mesmo fora não.

P/1 – Você borda também? Você bordava?

R – Eu aprendi a bordar, mas atualmente... Já fiz bastante bordado, mas agora no momento não mais por causa talvez da vista, né? Que também pela idade já começa a ficar a vista meio cansada.

P/1 – Mas nessa fase você ajudava com os bordados?

R – Mas não dos vestidos de noiva, que a minha tia não deixava. Mas eu aprendi a bordar com elas, com as duas, minha mãe e minha tia. Mas eu adorava ver as noivas que vinham provar os vestidos. Eu achava assim tão bonito! Então tinha muita revista e eu gostava de ficar ali e ver as roupinhas das noivas. Então isso era muito legal, acho que foi um aprendizado.

P/1 – Como é que era esse ambiente assim do ateliê de costura das suas tias, as noivas?

R – Assim, ela atendia na casa dela. Ela tinha lá no fundo a salinha de costura dela, mas ela atendia as noivas na sala de visitas dela. Então ela tinha umas revistas importadas que ela comprava pras noivas, que era a Bride, então essas revistas eram muito bonitas. Eu acho que até ela existe ainda, essa revista, mas ela era muito bonita. Então é muito legal você ver uma noiva escolhendo o seu vestido. Então é o sonho da noiva ali. Eu tive muito esse contato com noivas, mas aí ela também foi diminuindo porque meu tio não gostava também que ela ficasse trabalhando muito por causa da idade e tudo. Então aí ela foi deixando, ela só costurava pra sobrinhos, amigas assim muito próximas. Era bom, um relacionamento bom.

P/1 – E nesse contato que você teve com as noivas teve alguém que tenha te marcado assim?

R – Não. Assim, especial não.

P/1 – Uma história no ateliê?

R – Não.

P/1 – Queria saber um pouquinho da sua relação com a igreja nessa fase também de adolescência e juventude. Se você continuou frequentando, se você fazia parte de algum grupo ou se isso foi um intervalo. Como é que foi?

R – Não. Depois da primeira eucaristia eu ainda... Enquanto eu ia com o meu pai tudo bem, depois a hora que eu comecei com cursinho, colégio, eu me distanciei um pouco da igreja. Isso eu distanciei mesmo, mas nunca deixei de ir nessas datas de Páscoa, dia dos pais, dia das mães eu sempre ia, mas não era uma frequência muito grande. Era mais espaçado.

P/1 - Qual que é o nome da igreja?

R – É Nossa Senhora da Anunciação, na Vila Guilherme.

P/1 – Então vamos falar um pouquinho da sua fase de faculdade então. Queria saber como que foi quando finalmente você entrou, passou no vestibular e o que mudou na sua vida essa fase de faculdade assim, como é que foi a experiência com a vida universitária.

R – Então, na época pra mim, sempre num colégio não muito grande, então quando você vê aquela baita sala... Eu sou tímida, mas não tive muita dificuldade de fazer amigos porque sempre tem alguém que também é tímido, que está ali. Então a faculdade muito bonita, então você acaba... Como é que eu vou explicar? Assim, você indo com vontade praquilo e, poxa, eu só tinha isso pra fazer, eu só tinha a faculdade pra ir. Então eu comecei de manhã aí eu ia de carona com a irmã de uma amiga minha que já fazia faculdade lá, ela já dirigia, rachava o combustível e eu ia com ela e voltava com ela ao meio dia. Quando ela voltava em horário diferente eu voltava de ônibus, mas eu sempre gostei muito de ir a faculdade. Eu acho que era gostoso de você estudar, só que quando foi no último ano foi quando eu comecei a trabalhar, que daí precisava fazer o estágio. Um pouquinho antes de eu começar nesse estágio, eu queria trabalhar numa joalheria. Não sei o porquê eu me encantava por uma joalheria. Eu até fui fazer um teste numa joalheria na Praça República e quando me chamaram, que eu vi no jornal e mandei, eles me chamaram, mas não me escolheram. Isso achei meio triste, porque eu queria trabalhar, ainda mais quando eu fui lá naquela joalheria, falei: “Nossa, um ambiente gostoso de trabalhar, coisas bonitas”. Mas não escolherem. Foi aí que depois começa a ficar mais puxada a faculdade, aí então eu só comecei mesmo a trabalhar no último ano de faculdade. Aí eu comecei como estagiária e depois fui efetivada na empresa.

P/1 – E aí qual que era essa empresa, esse estágio? Qual que era sua função?

R – Eu fui contratada como estagiária no Banco Geral do Comércio, que seria do Grupo Camargo Corrêa na época, e hoje ele é Santander. Aí eu entrei como estagiária em recursos humanos pra trabalhar em cargos e salários. Então estagiário já diz tudo, né? Eu não sabia nada. Eu entreva na faculdade às cinco horas, cinco e meia, desculpa. Então eu ficava das oito as cinco, não fazia o horário de almoço, fazia só meia hora e pegava um ônibus ali na Líbero Badaró e já ia direto pra faculdade pra terminar o último ano. Mas foi uma fase muito gostosa, eu aprendi bastante, tive muitos bons amigos lá dentro que sempre me ajudaram, nunca eu tive problemas, tanto é que quando eu me formei eu fui efetivada já como trainee. E aí eu fiquei lá no Banco Geral do Comércio 13 anos e fui crescendo lá dentro. Então, quer dizer, eu acho que foi assim, mas dentro de recursos humanos, de certa forma eu não utilizei minha formação de economista, mas eu trabalhei sempre dentro do escritório. E aí que eu me identifiquei muito o serviço social e eu falei: “Eu deveria ter feito Serviço Social”. Por quê? Porque a pessoa que eu mais me relacionei dentro do banco era uma assistente social. Como a gente trabalhava no mesmo andar e no mesmo departamento, de recursos humanos, eu vi que o serviço social é um trabalho assim muito gostoso de se fazer. Então eu participava muito do que ela fazia e gostei muito desse trabalho, mas não me arrependo da formação que eu tive e do trabalho que eu fiquei lá dentro da empresa, dentro de cargos e salários. Mas eu acho que serviço social... Por isso acho que também um pouquinho da minha veia pra voluntariado, né? Mas eu via a forma que ela trabalhava e eu tenho uma amiga hoje que mora no mesmo prédio que eu moro, que também é assistente social e eu me identifico muito com o trabalho dela. Então eu acho que foi muito bom. O período que eu trabalhei foi muito gostoso.

P/1 – E essa experiência no banco, esse contato que você teve com essa colega de trabalho que era assistente social que você acabou se identificando, você lembra assim de algum episódio, algum momento ou alguma coisa do trabalho dela que você tenha acompanhado que tenha sido um momento que você percebeu: “Nossa, isso seria bacana.”? Alguma coisa que tenha te marcado que tenha sido...

R – Então, o que me marcou muito nela é que ela tinha muito contato com os hospitais, às vezes encaminhar uma pessoa, a pessoa que passasse mal. Então isso me marcou muito, que eu achei que era um trabalho que você fazia algo pelo próximo, entendeu? Então isso me marcou, do trabalho dela.

P/1 – Quando você começou o seu estágio no banco, você lembra o que você fez com os seus primeiros salários? Como é que você gastou esse dinheiro, se você juntou, comprou alguma coisa que queria?

R – Então, meu primeiro salário foi de meio mês, isso eu lembro bem, que eu entrei num dia 15. Então eu fui, eu comprei uma roupa pra mim e um presente pra cada um da minha casa. Isso eu lembro, que era uma coisa assim que eu, sei lá, comprei uma lembrança, mas eu gastei todinho nisso. Uma coisa pra mim e um presentinho pra cada um, pra minha mãe, pros meus irmãos, comprei uma coisinha pra cada um.

P/1 – Você lembra quais foram os presentinhos?

R – Ah, não. Não lembro exatamente, não. Não. Não lembro.

P/1 – E nesse tempo... Quanto tempo foi de faculdade, quatro anos?

R – Quatro anos.

P/1 – Onde você fez faculdade?

R – Na FAAP.

P/1 – E aí então quatro anos, você casou um pouquinho depois então de terminar a faculdade, né, foi isso?

R – Isso. Casei um pouquinho depois. Eu me formei em 80 e... Eu me casei em 86, eu me formei um ano antes.

P/1 – E aí como é que foi a decisão de se casar? Conta um pouco assim como é que surgiu, se foi um pedido, como é que vocês decidiram se casar.

R – Então, um ano antes do casamento a gente começou a ver que já dava pra gente se casar com os nossos salários. Aí eu tinha assim uma vontade de casar em determinada igreja, então a gente foi um ano antes e reservou aquela igreja. Era uma coisa que eu queria muito era me casar sozinha. Sozinha quando eu digo assim, só eu de noiva, entendeu? Então por isso que eu fechei tanto tempo antes. Eu falei: “Se não der certo a gente desmarca”. E aí foi que a gente foi e comunicamos meu pai, que a gente gostaria de ir, tudo, aí a gente marcou, ele pediu, fez um pedido ao meu pai e a gente marcou o noivado praquele ano. Aí eu me casei no ano seguinte no meio do ano.

P/1 – Teve uma festa de noivado?

R – Teve um almoço. Foi a família dele, a minha e a gente fez um almoço na casa dos meus pais.

P/1 – Qual que era a igreja que você queria se casar?

R – Eu queria casar aqui na São José do Jardim Europa. Sei lá, uma vez eu passei por ela e entrei e eu achei linda aquela igreja. Uma igreja pequena, não é muito assim, uma coisa... Mas era uma igreja que me marcou por eu ser assim, gostar muito de São José. Então eu falei que eu queria casar naquela. E quando eu fui pedir a transferência nessa paróquia que eu trabalho hoje, tinha um padre lá chamado José na época e ele ele queria que eu casasse lá. Ele falou: “Mas eu me chamo José”. Isso me marcou bem, mas eu falei que não, que eu queria essa igreja aí ele dá a transferência. O meu marido morava na Penha e lá também tem uma igreja muito bonita, mas ele fez a minha, deixou-me escolher. Aí foi que eu fiz o casamento na São José mesmo.

P/1 – Quando você fala a transferência é pro padre poder fazer a cerimônia lá? Não sei...

R – Não. É assim, quando você quer casar em determinada igreja que você não mora na diocese daquela paróquia você tem que pedir uma transferência pra onde você mora, da igreja que pertence a sua residência. Eu não sei bem o porquê isso, não, mas eu acho que sempre tem que ser pedido assim.

P/1 – Eu não sabia. Nunca tinha escutado.

R – É. Então.

P/1 – E aí como é que foi o seu casamento? Descreve pra gente, conta um pouco como é que foi o dia do casamento.

R – Ah, meu Deus. Ah, foi bom. Eu acho que tudo que eu esperava aconteceu. Eu não quis me trocar no salão, eu quis me trocar em casa, então eu fui e me arrumei com o cabeleireiro que eu estava acostumada, mas eu vim me trocar em casa e saí de casa. Eu tenho um primo que na época ele era casado com a consulesa do Paraguai e ele morava lá e veio pro meu casamento. Eu tinha pedido pra um amigo do meu marido me levar pra igreja que ele tinha o carro mais bonito, mas quando o meu primo chegou um dia antes do casamento, ele falou que não, que ele queria me levar pra igreja. Eu: “Tudo bem”. Pedi desculpas pro outro e ele me levou, ele com a mulher dele que era a consulesa. Só que, eu não sei se você conhece onde é essa igreja São José do Jardim Europa. Ela fica num miolinho ali do Jardim Europa e ele não conhecia porque ele era de Curitiba. Eu atrás, nós nos perdemos, que eu cheguei na porta da igreja faltava um padrinho, então pediram pra eu não ficar parada ali na porta da igreja, pra eu dar uma volta no quarteirão. Eu quase que chego atrasada porque eu não conseguia voltar pra igreja e meu primo também não, não existia celular, né? Então isso são coisas que me marcaram, mas assim, o vestido ficou do jeito que eu queria, a festa foi do jeito que eu queria. Então foi muito bonito assim, inesquecível a meu ver.

P/1 – Que músicas tocaram na hora da cerimônia, você lembra?

R – Ai, meu Deus do céu! Então, eu entrei com a Marcha Nupcial com clarinetes, que era uma coisa que eu queria, e na hora das alianças teve a Ave Maria com um coral. Porque a minha mãe quando era mocinha ela também cantava Ave Maria nos casamentos, só que no meu ela não tinha mais condição de cantar. Mas era uma Ave Maria de Gounod, que é uma Ave Maria muito bonita e foi tocada na hora das alianças. Isso me marcou bastante. Agora as outras músicas eu não lembro todas.

P/1 – E depois teve uma recepção, uma festa?

R – Teve. No próprio salão da igreja porque tinha muita gente de Curitiba, porque meu pai morou muito tempo lá, meus avós, tudo, minhas tias todas. Então veio muita gente de lá e pra gente deslocar muita gente, então a gente optou por fazer no salão da igreja mesmo, com o buffet que a igreja oferecia, indicava. Então fizemos uma festa lá.

P/1 – E como é que foi essa festa?

R – Ah, foi gostoso. É assim, são diferentes das festas atuais. Não tinha uma música pra se dançar como tem hoje, mas foi uma festa muito gostosa, todo mundo se divertiu, gostou. Então eu acho que a gente saindo feliz e os convidados também, acho que é bom. Ganhei muito presente, muito mesmo, bastante presente. Então foi bom.

P/1 – Vocês já tinham uma casa pra se mudar logo que vocês casaram?

R – Sim. A gente alugou uma casa na mesma rua que eu morava, porque pra comprar a gente não tinha condições. Então a gente optou por alugar uma casa até a gente conseguir comprar alguma coisa nossa. Então nós moramos lá um período.

P/1 – Assim que vocês se casaram vocês se mudaram pra essa casa?

R – Sim. Já estava montada antes da gente casar.

P/1 – E vocês tiveram lua de mel?

R – Sim.

P/1 – Como é que foi?

R – Foi bom. Foi pra Foz do Iguaçu. Também é um episódio. A gente viajou no domingo, eu casei no sábado, a gente viajou no domingo, a hora que a gente subiu no avião teve um problema no aeroporto de Foz, de muita chuva, porque eu casei em julho, então tava muita chuva, muito frio. Voltamos pra Londrina, ficamos parados em Londrina, aí quando levantou voo de novo, chegamos lá de novo teve que voltar, o avião ficou passeando pelo ar. Então a gente perdeu o domingo inteirinho nesse aeroporto e voo, mas chegamos a Foz. Lá a gente tinha se encaixado numa excursão, só que como a gente estava num hotel e a maioria da excursão em outro, ficou um grupo de 15 pessoas nesse outro hotel com a gente, então nós e mais 13. A gente formou um grupinho muito gostoso, tinha um casal comemorando 40 anos de casados e a gente ficou muito junto essas 15 pessoas pra fazer os passeios. Então deu pra gente conhecer, eu quis ir conhecer Assunção, a gente fez um pacote à parte, fomos pra Assunção. Fui um pedacinho da Argentina. Então deu, foram assim sete dias só, mas deu pra passear bastante.

P/1 – E você gostou? Você já conhecia alguma dessas regiões?

R – Não. Não conhecia. Fui eu que optei...

P/1 – Qual que foi sua impressão assim?

R – Ah, Foz do Iguaçu é muito lindo, aquelas quedas d’água são muito bonitas. Então foi um passeio muito gostoso, embora a gente pegou muito frio, mas tava muito bom. Deu pra conhecer bastante.

P/1 – Tem alguma coisa que você tenha vivido que você sempre se lembre nessa situação, não tem nenhuma história, um episódio marcante com esse grupo de amigos ou só você e o seu marido?

R – Não. Foi tudo assim, a gente tava sempre junto com eles e foi muito gostoso porque assim, quando você tem muita gente na excursão, que tinham dois ônibus, nós ficamos num micro-ônibus então a gente tinha mais liberdade de escolher os passeios. Porque quando é muita gente, o próprio guia falou: “Se vocês quiserem se manter separados, só junta quando forem passeios onde caiba todo mundo”. Então foi gostoso por isso, a gente conseguia se entender em 15, saber onde era melhor ir ou não, né? Então é uma fase assim... Foi muito gostoso.

P/1 – E desses passeios teve algum que tenha te causado maior impacto assim?

R – Ah, foram as quedas d’água mesmo. Naquelas passarelas lá que a gente tem que por uma capa lá pra ir, mas é uma coisa muito bonita. Uma coisa que você não imagina, aquela água toda ali. Então foi bom.

P/1 – Qual que é o nome do seu marido?

R – É Alcino.

P/1 – Vocês têm filhos?

R – Tenho. Eu tenho o Henrique que está com 25 anos e a Mariana com 19.

P/1 – E como é que foi a gravidez do seu primeiro filho? Assim, como é que aconteceu?

R – Aconteceu mesmo, né? A gente não tinha preparado e quando eu descobri já tava grávida e aí muito inexperiente, mas eu continuei trabalhando. Aí o Henrique nasceu em janeiro, foi assim... Foi muito legal porque foi uma experiência diferente, porque eu estava trabalhando quando a minha bolsa estourou e aí é uma coisa assim, você fala: “O neném vai nascer quando a bolsa estoura”. Sempre tem a bolsa, né? A bolsa estourou mesmo, é um aguaceiro violento, assustei o andar inteiro e dali já fui pra maternidade. Então aquilo que você prepara, vou arrumar tudo bonitinho pra ir, ele nasceu com 36 semanas, então... Mas aí foi muito bom porque eu trabalhava ali próximo a maternidade, isso foi três horas da tarde, quando foi seis horas o pessoal do banco saiu todo e foi todo mundo lá, e eu tava esperando pra ser parto normal. Então o pessoal foi todo me visitar. Isso é muito legal. É um carinho das pessoas que estão no dia a dia com você, viram a sua gravidez toda passar e naquele momento está todo mundo ali. Mas infelizmente não deu pra ser parto normal porque sem água o bebê começa a entrar em sofrimento, eu tive que optar por uma cesárea, mas foi tudo bem, ele nasceu bem, grande. Então foi muito querido, né? Porque assim, embora não tenha sido planejado veio com muito amor.

P/1 – Você lembra como é que foi a sensação assim de vê-lo a primeira vez, de segurar nos braços?

R – Quando ele nasceu eles não colocam no braço logo de cara, há 25 anos, que faz tempo, né? Então, eles só colocam encostadinho em você porque cesárea você está com o braço preso, está um pouquinho anestesiada, ainda tem que fazer toda a sutura, então eles só encostam, colocam a pulseirinha do seu lado e já o levam pra fazer. Diferente do que agora, você fica com ele nos braços mesmo na cesárea. Então assim, eu me lembro dele sujinho, então é uma lembrança que você fica na memória. Então foi muito bom.

P/1 – E a sua filha? Depois é uma menina, que você teve?

R – Isso. No meio dos dois eu tive um aborto espontâneo. Quando ele tinha cinco anos eu engravidei, aí perdi o bebê naturalmente. Aí eu achei que eu não ia mais engravidar e apareceu aí a Mariana. Eles têm sete anos e um mês de diferença. Aí a Mariana também foi inesperada. Achei que não ia mais engravidar e aí veio a Mariana. A Mariana eu saí afastada, como era um carnaval, ela nasceu em pleno carnaval, eu estava em casa. Mas também foi assim, já foi diferente do dele, eu tive contrações, não foi estourar a bolsa, mas também não consegui ter parto normal. Quer dizer, é uma frustração assim eu não ter conseguido, não por opção minha nem do médico, porque o médico tinha toda a paciência do mundo, mas a constituição não deu certo, então teve que ser as duas cesáreas. Então está aí agora, os dois.

P/1 – E como é que foi ser mãe? O que mudou na sua vida? Como é que é ser mãe?

R – Olha, eu tinha um grupo de amigos, eu e o meu marido, que trabalhavam comigo. Então a gente saía quase todo final de semana, ou ia pra casa de um, de outro, ou íamos pra restaurante. O Henrique foi acostumado a ir comigo pra onde eu fosse, porque essa minha amiga assistente social tinha uma menina um pouco mais velha que ele só. E eu enquanto eu grávida eu via todo lugar que ela levava a menina e o Henrique sempre foi acostumado assim. A ir pra todo canto que eu ia, porque de certa forma um só é bem mais fácil. Quando veio a Mariana, aí a vida da gente fica diferente, porque dois já é mais difícil, ainda mais com sete anos de diferença. Um já tem os amiguinhos da escola e um bebezinho que depende da gente. Então assim, o grupo de amigos a gente deu uma afastada de certa forma, mas já nesse período você já tem outro grupo de amigos, aí os amigos são pais dos amigos do seu filho. E aí a Mariana eu viajei bem menos. Com o Henrique eu viajava bem mais, a gente conseguia sair, passear muito mais, ir pro hotel fazenda, ir pra um monte de lugar. Agora, com dois já não dá. Primeiro pelo financeiro e também que viajar com duas crianças com uma idade muito diferente assim, tem período escolar, então aí já ficou mais difícil. Mas é bom ser mãe, só que assim, eu acho que eu estava mais preparada quando eu tive a segunda, né? Eu acho que eu era muito nova, tive o Henrique então eu dependia muito da minha mãe. Eu trabalhava, ele ficava com ela, eu não arrumei ninguém pra ficar com ele em casa, ele só foi pra escola com dois anos e meio. Então até os dois anos e meio eu trabalhava e ele ficava com ela. Agora, a Mariana eu já tive que abrir mão do trabalho. Eu tive que optar, porque o Henrique começou a me dar um pouquinho de trabalho, ele começou assim... Como é que eu vou usar o termo? A se isolar um pouquinho dos amigos da escola. Então eu tive que colocá-lo numa psicóloga pra ele entender e eu tive que ouvir da psicóloga que ele precisava um pouquinho de mãe, que ele precisava da mãe. Então eu tive que tomar uma decisão na minha vida. Muitos foram contra, muitos foram a favor e meu marido se isentou da minha decisão. Falou que a decisão que eu tomasse ele ia me apoiar, mas que ele não ia optar por eu parar ou não. Eu ouvi de muita gente que eu estava jogando um salário pela janela, mas naquele momento eu ouvi da psicóloga e de um médico meu que a criança precisava de mãe, então eu acho que aí você tem que ponderar mesmo. Eu estava com um bebezinho, eu abria mão dela, deixava lá, vinha com ele pra psicóloga, passeava com ele pra ver se eu conseguia, mas eu tive que optar. Aí quando ela completou quatro meses pra cinco que eu ia voltar a trabalhar, meu diretor me deu mais dois meses de licença não remunerada, pra eu tomar a decisão. E foi nesse momento que eu achei que eu tinha que abrir um pouquinho mão do trabalho pra ser mãe. Porque eu sempre tive horário para entrar na empresa, mas nunca para sair e isso é uma coisa assim que eu não sou ninguém pra dizer para ou não para. A gente não pode se arrepender da atitude que tomou, mas eu acho que o momento que eu parei foi o momento certo. Não me arrependo de ter parado para olhar meus filhos. Às vezes a gente se arrepende pelo financeiro, porque é um dinheiro que acabou, mas assim, são opções que só a gente mesmo naquele momento pode tomar. Então foi nesse momento que eu tomei a decisão de não voltar a trabalhar e aí fiquei em casa.

P/1 – E aí como é que começou o seu envolvimento com o voluntariado dentro da Pastoral? Queria que você me contasse nessa trajetória que você falou pra até agora pra gente, em que momento que isso voltou, esse seu vínculo com a igreja, trabalho como voluntária.

R – Então, aí eu fui colocá-lo na catequese, na igreja. Quando eu fui colocá-lo ele tinha nove anos, a Mariana já tinha quase dois, aí eu cheguei, coloquei e tinha que ir a missa todo o final de semana. Ele fazia catequese no dia da semana, tava ele e duas amiguinhas da escola que a gente colocou junto na mesma igreja, então eles iam os três no mesmo horário. E eu tinha a Mariana pequena que não parava na igreja, então a minha mãe ia com ele assistir a missa e eu ficava lá no fundo pra andar com ela, porque senão ele não conseguia se concentrar no que estava sendo feito. A catequista dele, dona Terezinha, essa eu lembro bem, uma senhora, pediu pra ir na minha casa e nessa época eu já morava num apartamento. Aí já era nosso, a gente já tinha conseguido comprar o apartamento e era um apartamento com uma sala pequena, e ela quis vir nos visitar. Com duas crianças em casa que adoravam brincar com Lego, um com pequenininho, outro com grande, a sala ficava um tapete de Lego. Eu lembro que ela entrou na minha casa e fez assim. Eu falei: “Ah, dona Terezinha, desculpa, mas a pequenininha quer, né?”. Ela: “Não, eu gosto de entrar aqui porque isso não é uma casa, é um lar e é isso que você precisa. Você está dando atenção pra eles e assim”. Eu sempre orientei as crianças a que não mexessem no que não era pra mexer. Então sempre mostrando que se eles mexessem naquilo... Tanto é que eu nunca tirei nada da minha casa, enquanto as crianças estavam, nem da minha, nem da minha mãe. Aquilo não pode mexer porque quebra, porque machuca, então eles brincavam com os brinquedos deles, mas sem se interferir. Ela que era mais “mexilhona” que gostava de mexer em CD, mas assim coisas de vidro, nada não eram de mexer. E ela entrou e falou isso pra mim e eu criei um vínculo com essa catequista e ela começou a me chamar pra ir trabalhar com cestas básicas. Uma vez por mês a igreja dava uma cesta básica pras famílias cadastradas. E eu comecei a ir ajudar, comecei eu a ir toda uma vez por mês, a gente ia num dia, montava as cestas, no dia seguinte entregava pras famílias. E aí foi que foi criando um vínculo com a igreja novamente. Até que um dia veio uma senhora pra dizer que queria dar um curso da Pastoral da Criança. Foi aí que eu resolvi fazer esse curso. Foi um final de semana inteirinho, aí eu tive que deixar os dois com o meu marido e fui fazer esse curso. Foi quando eu me identifiquei assim com o trabalho de voluntariado.

P/1 – Como é que foi esse curso? Como é que foi a experiência de fazer esse curso? Qual que era o perfil das pessoas? Conta um pouco pra gente.

R – Quando foi chamado pra gente fazer o curso foi aberto na igreja, pra comunidade. Então algumas pessoas já trabalhavam na cesta básica e outras foram da própria comunidade que frequentava a paróquia. Quem foi nos dar o curso já eram coordenadoras da Pastoral da Criança, então eu não conhecia em si o trabalho da Pastoral da Criança quando eu entrei pra esse curso. Mas o curso foi assim muito gostoso. Foi uma capacitação muito bem elaborada, muito bem feita. Eu aprendi muito. Muito mesmo a ponto de saber que eu tinha feito muitas coisas erradas com os meus filhos. Então eu aprendi coisas pra mim e aprendi a passar isso também pras mães, né? Coisas simples...

P/1 – Dá um exemplo pra gente alguma coisa que você tenha aprendido.

R – Assim, olha, uma coisa que eu vou dizer que até hoje quando eu dou capacitação pra novos líderes da Pastoral eu lembro, que é uma coisa que eu sempre fiz foi assoprar a comidinha da criança. Isso a gente nunca deve fazer porque a bactéria que você tem, o adulto tem, você está passando para a comida da criança. Uma chupeta cai no chão, isso eu vou dizer eu nunca fiz, mas eu vi muita gente fazendo, colocar na boca da gente pra tirar a sujeira do chão. Além de você estar pegando uma doença, está passando a bactéria de um adulto pra um bebê. Então são coisas que me marcaram. Que nem o aleitamento materno, se eu tivesse sido orientada no meu primeiro filho como eu sei hoje orientar uma mãe, que você deve amamentar até o sexto mês de gestação, de idade da criança, eu teria amamentado o meu filho mais. Eu o tirei com quatro meses do peito tendo leite e não sabia que eu podia doar esse leite e armazenar esse leite. Coisas que a gente orienta hoje, que a melhor coisa é o leite materno. Então são experiências que você vai aprendendo e você vê o quanto você... Não que eu tenha errado, mas eu não tinha conhecimento de como era amamentar. E olha que, sabe, a gente ouve pediatra, ouve a mãe que já teve filhos, mas eu o desmamei com quatro meses, coisas que na outra não. A Mariana já mamou muito mais, embora eu não tivesse ainda o curso de Pastoral da Criança. Mas eu acho que a Pastoral me ajudou muito a orientar uma mãe, a acompanhar mesmo ela, como que ela deve proceder, o que ela está sentindo naquele momento da gestação dela. Então a gente consegue acompanhar uma mãe e também acompanhar aquele nascimento daquele bebezinho. Isso foi muito importante pra mim. E essa capacitação que eu fiz esse final de semana inteirinho foi cansativo, mas a gente teve vários momentos de algumas brincadeiras em que você podia se envolver mais com a outra pessoa, que às vezes você não tinha muito contato. Então foi muito bom.

P/1 – Fala pra gente um pouquinho assim de uma maneira geral qual que é o trabalho da Pastoral da Criança.

R – Então, o trabalho da Pastoral da Criança é a gente acompanhar as famílias e as crianças no desenvolvimento das crianças. Então a gente acompanha a gestante desde o momento em que ela nos comunica que está gestante. A gente a orienta o pré-natal, a ela saber como ela lidar com o corpo dela e também com o parceiro dela, seja o pai, o namorado do bebê que ela está esperando. Aí a gente a acompanha, nasceu o bebê, como ela deve amamentar o bebê, como ela deve trocar o bebê, cuidar de uma assadura, da própria higiene do bebê. De uma limpezinha na boca, de uma... Cuidado com a cabecinha do bebê. Como ela deve cuidar desse bebezinho depois de um mês, dois meses, três meses. Então a Pastoral da Criança faz uma visita mensal. Nessa visita ela faz uma série de perguntas que é o acompanhamento e, nesse acompanhamento você vai olhando esse bebê e o acompanhando, se ele está tendo respostas do que é esperado pra aquela faixa etária. Um exemplo, o bebê tem que dormir de barriguinha pra cima, que a gente já percebeu em estudos que o bebê que dorme de barriga pra cima tem menos chances de ter uma morte súbita, porque ele não tem como engasgar, você vai perceber. E se o bebê está de lado ele pode regurgitar e aquilo fazer ele se sufocar. E aí você vai acompanhando-o, até um ano, até dois, até ele completar seis anos de idade, sempre acompanhando a mãe, sempre a ensinando como ela deve fazer pra alimentar, higienizar, educar a criança, né? Pro desenvolvimento da criança. Então é uma série de perguntas que vão mudando a cada faixa etária.

P/1 – Você disse que tem um acompanhamento mensal...

R – Mensal.

P/1 – São as pessoas que trabalham na Pastoral da Criança que fazem a visita individual, é isso?

R – Não. A gente vai sempre de duas em duas. Então são suas líderes que vão às casas das famílias. Aí quando você chega nessa casa, é lógico, você tem que criar um vínculo com essa família. Então você cadastra essa família e passa a visitá-la uma vez por mês. Se necessário mais vezes, né? Quando o bebezinho é menor é necessário até visitar mais de uma vez, porque às vezes a mãe é muito insegura de como ela deve proceder com esse bebê. Então a gente faz a visita, nessa visita às vezes você tem mais do que observar do que perguntar pra mãe, e muitas vezes você tem que ouvir a mãe, porque ali a gente está indo para ouvi-la também. Ela às vezes tem muitas dúvidas. Muitas. Às vezes ela larga de amamentar um bebê porque ela não sabe se ela está dando certo ou não o leite. Então é essa orientação que a gente deve passar pra mãe e acompanha-la pra ver se ela está aceitando essa orientação. Depois ela tem que vir até nós no salão paroquial, a gente monta o dia da celebração da vida. Então ela traz a criança lá, a gente pesa numa balança própria e acompanha o peso mês a mês da criança e coloca num gráfico pra poder responder as perguntas da folha de acompanhamento que é mandada todo mês também para Curitiba. Então nesse momento elas vão com as crianças, ali as crianças brincam, a gente tem um momento de espiritualidade que a gente as ensina a rezar uma oração do Santo Anjo ou uma própria oração da Ave Maria e Pai Nosso. Aí elas brincam ali, as maiorzinhas de pintar, as menorzinhas a gente coloca um tapete no chão com brinquedos e depois é servido um lanchinho, um almoço, o que a gente consegue fazer praquelas crianças naquele dia. A gente comemora os aniversariantes e também alguma... Como é que eu vou dizer? Algo que aconteceu pra aquela família. Um exemplo que eu possa dar, uma criança que estava com um probleminha meio sério, estava perdendo peso ou ganhando peso demais e ela recuperou, aí a gente comemora nesse momento. E também a gente acompanha as crianças que têm um pouco de necessidade maior, uma mãe que está com dificuldade pra um atendimento num posto de saúde, a gente tenta acompanhar pra que ela consiga um atendimento. Uma mãe que está com problema com uma criança que não consegue uma cirurgia, então a gente também acompanha a mãe, mostra o caminho. Não fazemos por ela, a ensinamos a fazer.

P/1 – E nesse tempo que você tem acompanhado, que você faz parte da Pastoral, que você tem acompanhado essas mães e crianças, tem alguma história que tenha te marcado, uma família em especial, uma mãe, uma criança?

R – Ah, sim. Tem vários. Eu coloco dessa forma, que eu acho que desde que eu estou na Pastoral eu tenho mais aprendido do que ensinado. Porque a gente sempre pensa que a gente tem problemas na vida e nós não temos problemas... Nós quando eu digo eu assim, porque as mães e as crianças às vezes tem alguma coisa que você precisa ajudar que você nunca... Ajudar não. Orientar, né? Que você acha que aquilo nunca iria cair na sua mão. Um exemplo, uma vez apareceu uma gestante, ela já tinha dois meninos, estava grávida da terceira criança. Ela chegou pra nós dessa forma: “Eu não quero essa criança, eu não gosto dessa criança. Eu já bati, eu já fiz de tudo, já tomei tudo que tinham pra mim, eu já tomei até chá de maconha e eu não quero essa criança”. E a gente conversando com ela, temos uma cartela chamada laços de amor que mês a mês da gestação é lida essa cartelinha pra mãe. É como se o bebê tivesse conversando com ela, e nesse momento a gente começou a conversar com ela, que ali era uma vida, que ela tinha que aceitar, que o bebezinho ia vir pra ela, era um presente de Deus pra ela. E essa mãe foi compreendendo, sabe? Essa mãe não tinha noções de higiene, as crianças estavam sujas, a casa tava suja e a gente foi conversando ensinando o que ela tinha que fazer. E a gente teve a felicidade de que nasceu o terceiro menininho, tínhamos muito medo que ele fosse nascer com algum problema porque ela já tinha tomado muita coisa, mas não, a criança nasceu saudável. Então quer dizer, isso é gratificante pra gente, porque de certa forma a gente conseguiu salvar uma vida. E quando eu digo a gente é a Pastoral da Criança. Eu nunca digo assim nome, eu, a Josi, que eu sou mais conhecida como Josi, né? Eu não faço nada por ninguém, a Pastoral da Criança é que acompanha as crianças. Então tudo que a gente faz é em nome da Pastoral da Criança. Então a gente acompanha as mães a acharem um caminho pra uma criança que precise de uma cirurgia, de uma fisioterapia, de um dentista. A gente acompanha pra elas seguirem o caminho e também acompanha quanto a alimentação. Então às vezes uma mãe chega: “A criança não quer comer.” “Então, mãe, olha, você vai no horário da feira da xepa”. Porque a gente sabe que a situação financeira é difícil. “Vai lá, você consegue comprar esse legume, tenta fazer pra criança”. Então essa orientação quanto a alimentação saudável. Porque não é só de leite que vive uma criança maiorzinha, então ela tem que ter uma alimentação saudável, então a gente dá noções de alimentação saudável. E quanto também a higiene do lavar uma roupa, que a criança tem que tomar um banho, ela tem que ser trocada todos os dias, a roupinha dela tem que ser lavada. Então todo esse tipo de orientação a gente dá pras mães.

P/1 – Pode falar, você quer completar?

R – Não.

P/1 – Eu queria te perguntar assim, como é que as mães chegam até a Pastoral? E como que a Pastoral chega a cada uma das igrejas? Como é que é essa relação? Atua. Como é que a Pastoral da Criança atua? Ou então no caso específico da sua igreja, da paróquia que você frequenta.

R – Lá chegou dessa forma, foi pedido através do padre que fosse ter Pastoral da Criança dentro da igreja. Assim, como foi o início lá que a gente fez esse curso, a gente trabalhava com a cesta básica, então nós, de certa forma, tínhamos as famílias cadastradas. Então a gente pegou essas famílias já cadastradas pelas famílias que recebiam as cestas e víamos as que tinham, ou estavam gestantes, ou tinham crianças de zero a seis, e fomos até elas perguntar se elas aceitavam a Pastoral da Criança. A partir do momento que elas aceitavam a gente fez o cadastro como a Pastoral da Criança e a partir desse momento começamos a acompanhar. Agora, através dessas famílias a gente foi pra outras. Por quê? Porque como eu digo, ali na Vila Guilherme tem muitos cortiços, então você ia num quintal quando tem uma mãe cadastrada, do lado tem outra, aí você já ia perguntando. Então você consegue essas famílias mais ou menos uma perto da outra, e de boca em boca das próprias mães. Elas mesmas falam pras outras: “Lá na igreja tem Pastoral da Criança”. Então elas vêm até a gente. E a gestante, um modo que você possa... Porque a gestante, de certa forma, você não consegue que ela venha até você se não tiver um boca a boca, ou então você vai no posto de saúde. No posto de saúde no dia que tem consulta com o ginecologista você tem as gestantes lá, aí você as convida a participar da Pastoral da Criança. Aí se ela falar quero você começa acompanha-la na casa e é assim, a visita consiste em você entrar na casa e ver a criança. Então se você vai lá, a mãe está, mas a criança está dormindo, então você vê a criança, só que você precisa vê-la acordada. Por quê? Porque uma pergunta pra um bebê, um exemplo, a criança quando você coloca de bruços consegue levantar a cabeça? Se você não vê a mãe pode falar que sim e você não está vendo. Então o importante é você ver a criança. Então quando você fez essa visita bem feita, que você viu a criança, respondeu as perguntas, você fala pra mãe que tal dia vai ser a celebração da vida. Aí a mãe leva a criança ou quem cuida da criança. Às vezes não é a mãe, é a avó, é a vizinha, mas o importante é você ver a criança. Ela leva a criança até onde a gente está fazendo a celebração. Aí nesse dia é pesada a criança e ela participa daquela manhã com a gente. No nosso caso lá é um sábado de manhã por mês. Depois que é feito tudo isso a gente se reúne, as líderes que acompanham as famílias, numa tarde onde elas vão passar os dados. Nesse dia é que a gente vai comentar algum assunto referente àquelas famílias. Nunca no dia da celebração da vida porque eu não posso que uma mãe escute o problema da outra. Então nesse dia a gente senta lá com todas as líderes e ali a gente coloca; “Tal família está acontecendo isso, não alcançou tal indicador”. Aí sim a gente vai conseguir conversar e tentar arrumar uma solução praquela família.

P/1 – Queria saber dessas visitas, você já contou essa história dessa mãe que era terceiro filho, não queria a criança, eu queria saber dessas visitas a casa mesmo se teve também alguma história, algum episódio que tenha te marcado, de repente no início que...

R – Então, é muito difícil você criar um vínculo com essa mãe, tá? Ainda se é uma mãe que você conhece, tudo bem, agora, uma mãe que nunca te viu na frente se abrir com você. Então você tem que ter muito jeito, muito assim carinho por essa mãe, porque você pode tanto ter ali uma pessoa que vai se tornar sua amiga, confiar em você pra se abrir, como você pode ter uma pessoa que não quer mais te ver na frente, né? Então eu digo assim, que você tem que ir com muito amor. Eu acho que a Pastoral da Criança você tem que ter amor pelo que faz, porque você vai entrar em casas que você vai encontrar de tudo ali e também você vai encontrar mães que não estão nem aí pra Pastoral da Criança, entendeu? “Ah, essas mulheres chatas de novo?”. Então você tem que estar preparada pra isso, pra não magoar a mãe e também você estar bem consigo mesma. Então eu digo sempre que esse trabalho da pastoral da criança é um trabalho que é feito por amor e com amor.

P1 – Teve alguma situação de resistência que você lembre agora que vocês tenham conseguido contornar?

R – Ah, tem. Tem algumas que não deixam entrar na casa. Nesse caso assim, muito assim na região da gente lá tem muito boliviano e eles têm um pouquinho de resistência quanto a deixar você entrar na casa. Talvez por estarem ilegais ou por estarem trabalhando ali. E eu acho que são essas crianças é que precisam de mais ajuda, mais acompanhamento porque muitas vezes essas crianças não são estimuladas a se desenvolver como têm que se desenvolver, entendeu? Porque muitas vezes elas não têm nem espaço físico pra se desenvolver e a mãe não tem tempo. Então essa resistência às vezes o que acontece? Você começa a insistir muito aí elas não querem mais participar. Então uma forma que a gente vê às vezes é que ela traga a criança até você na porta. Mas o mais que você tem que insistir é entrar, pra você não perder essa mãe, mas a resistência existe.

P/1 – Você se lembra de algum em específico agora?

R – Tem. Tem um caso sim. Assim, ela não deixava entrar, ela passava por uma frestinha da porta que mal a mãe passava, entendeu? Aí ela colocava a criança pra fora e é bem assim mesmo pra gente não ver o que ela está fazendo. Então essa criança a gente a acompanha vendo ela ali, mas você não tem condição de ver o desenvolvimento dela dentro da casa. Em compensação tem outras que você entra, senta onde você quiser, responde tudo. Então tem as compensações. É bem da família mesmo.

P/1 – E a partir dessa capacitação como é que foi que você passou a trabalhar na pastoral, queria saber como é que foi que você começou a fazer o trabalho e também em que ano, pra gente localizar mais ou menos.

R – Então, foi em 2002. A partir do momento que eu em paralelo a cesta básica eu era voluntária numa... Como é que eu vou dizer? Uma creche que tem lá perto que tem umas senhoras que se reúnem de quinta-feira à tarde para bordar. Aí que eu boto meus dotes de bordado. Então através de umas conhecidas eu passei a ir lá todas as tardes, porque aí a Mariana e o Henrique estavam na escolinha e eu ia pra passar um pouco o meu tempo, né? Ia bordar. A partir do momento que eu fiz essa capacitação, no domingo à tarde quando foi encerrada essa capacitação tinha que ser escolhido um coordenador pra coordenar aquela paróquia. E quem ia escolher esse coordenador era o pessoal que estava dando o curso porque teriam que ter três nomes, que é uma lista tríplice, pra escolha, e aí foi feito ali junto com o padre uma escolha. Eu fui naquele dia escolhida. Eu fiquei meio assim porque é um trabalho que você... No papel é uma coisa, mas e aí? Mas deram a maior força, tudo, fiquei eu e mais duas colegas da paróquia e mesmo na outra paróquia que estava junto, porque foi feito na nossa paróquia essa capacitação, mas tinham outras pessoas de outras paróquias que juntou ali. E assim foi feito com as outras paróquias também. Então a partir daquele momento eu fiquei coordenando e a gente fez a primeira celebração da vida, então a partir desse momento é que você começa a viver mesmo a Pastoral da Criança. Saber como que aquilo vai funcionar. Então colocar em prática o que você aprendeu assim, não é impossível, mas no início é difícil. É difícil.

P/1 – Hoje você coordena ainda?

R – Ainda coordeno. Porque é assim, a cada dois anos tem que ser feita uma nova eleição de um novo coordenador, mas eu sempre digo assim que o coordenador ele só tem um nome e uma responsabilidade, mas entre nós lá, nós somos todas líderes. A gente não tem isso de que: “A Josi coordena, ela resolve”. Não. A gente tem uma união lá dentro que eu não tomo nenhuma decisão sem perguntar pra elas, porque eu acho que é a união que vai você fazer, porque ninguém trabalha sozinho. Então não adianta eu falar eu sou a coordenadora. Não. Eu acho que isso nem doutora Zilda queria isso, porque você é a coordenadora você manda. Eu acho que não é bem por aí. Então nós somos muito unidas e sempre trabalhamos juntas. Nenhuma decisão lá é tomada sem a outra dar a sua opinião e acho que é por isso que a gente tá funcionando. A gente começou em 2002, então esse ano agora em setembro, porque a gente começou em setembro, a gente está completando 11 anos de Pastoral da Criança. Então eu acho que é um tempo grande e assim, eu vejo que a minha vida, eu como pessoa, mudei bastante. Mudei assim, não que eu tenha mudado, o que eu quero dizer é que eu aprendi muito com a Pastoral da Criança. Eu acho que eu aprendi a ver que nós temos que sempre olhar pro nosso lado. Nós nunca temos que falar não, eu só tenho problemas e você fechar os olhos pro outro. Porque eu me considero uma pessoa assim que não tem problema nenhum perto do que a gente vê. Então a gente sempre tem que estar eu acho que assim, quando a gente vai fazer uma visita da Pastoral, se eu tiver com alguma coisa, algum problema, é melhor eu não ir naquele dia. Então vamos deixar pro dia seguinte quando eu tiver bem. Porque não adianta eu sair da minha casa e ir cheia de... Tem que ter um termo pra te colocar. Eu tenho que mostrar alegria e felicidade pra aquela mãe, aquela paz, né? Porque não adianta eu ir de cara feia. Assim mesmo quando a gente está recebendo as crianças lá na celebração da vida. Eu tenho que sorrir pra ela porque ela está vendo em mim uma pessoa que está querendo o bem dela. Então eu acho que eu tenho que receber, acolhê-la da melhor forma possível. Por isso que quando eu digo quando a gente está fazendo tudo por amor é que a gente consegue transmitir esse amor e essa paz pra criança e pra mãe. Então eu digo assim que como eu moro ali perto da maioria das famílias, às vezes eu estou no mercado e eu vejo uma criança chamar, né? “Mãe, olha a tia da Pastoral”. E vem correndo pra gente. Então isso é muito... Aquela criança vem, te abraça, te beija, é porque você está acolhendo bem ela, então ela confia em você. É isso.

P/1 – Eu queria que você falasse um pouquinho pra gente agora da aproximação entre a Pastoral e o Criança Esperança. Em que momento que começa esse relacionamento e o que esse recurso do Criança Esperança modifica ou ajuda no trabalho da Pastoral.

R – Então, a última ajuda do Criança Esperança pra Pastoral da criança foi em 2012. Atualmente esse recurso é pra essas ações básicas que são feitas, que são as compras das balanças, são mantidos uns missionários que saem daqui de São Paulo pra ir trabalhar com a Pastoral da Criança lá no Norte, Nordeste. Então esses missionários são leigos que vão lá para ajudar. Então esse tipo de ajuda é muito importante pra Pastoral da Criança pra poder manter, e manter também as próprias comunidades nessas ações que elas têm que praticar. Eu acho que é imprescindível que eles continuem ajudando, porque tem umas ações, que nem a que eu citei do bebê de barriga pra cima, tem a outra ação que é a primeira dose do antibiótico que agora é obrigatório quando uma criança é diagnosticada com uma pneumonia, por exemplo, que ela precise tomar antibiótico ela tem que sair do posto com o antibiótico já tomado, a primeira dose. E também aí entra a Pastoral da Criança da gente ajudar aquela mãe a não perder os horários. Ela tem que dar continuidade a esse tratamento, então é outra ação básica. A gente tem a dos mil dias, da importância dos mil dias na vida da criança, que são os nove meses de gestação, o primeiro e o segundo ano de vida. Então são essas ações que precisa do recurso do Criança Esperança pra manter. Então eu acho muito importante.

P/1 – Desde quando que a Pastoral recebe esses recursos do Criança Esperança?

R – Desde quando, exatamente quando começou eu não lembro, mas o último recurso que foi dado foi em 2012. Então importância da continuidade desse curso. Agora, o ano que começou a entrar o recurso eu acho que foi desde que iniciou a Criança Esperança, né? Porque a Pastoral da Criança esse ano está completando 30 anos. Eu acho que é suma importância.

P/1 – Vocês estão ligados... Só pra entender um pouquinho a estrutura, vocês estão ligados a Pastoral da Criança na zona norte, é isso? Ela é zoneada? Tem essa...

R – É assim, ela tem uma coordenação nacional que fica em Curitiba, aí ela tem a coordenação de cada cidade, que a nossa está aqui na Sé, que é ali na Arquidiocese São Paulo. Daí eu tenho a coordenação de setor, que é a que fica em Santana, que aí é regional, aí eu tenho a coordenação de ramo que seria na paróquia, depois eu tenho a coordenação comunitária que é abaixo, que fica comigo trabalhando em conjunto. Mas vamos supor que a minha paróquia, a paróquia que pertenço, a Nossa Senhora da Anunciação, tivesse outra comunidade ligada, aí eu teria duas comunitárias, deu pra você entender?

P/1 – Entendi.

R – E abaixo da comunitária são as líderes. Então ela tem toda uma estrutura e eu tenho que prestar contas do meu trabalho para a região de Santana, que é a região episcopal Santana. Embora a Pastoral da Criança esteja ligada a igreja católica, ela é ecumênica. Então eu recebo lá também crianças que os pais são de outra religião, tá? Mas não falamos nada de religião com as crianças. A gente reza, como eu falei, o Santo Anjo, o Pai Nosso, Ave Maria, a mãe que não quer não é obrigada a fazer isso.

P/1 – Qual que é a oração do Santo Anjo?

R – É aquela: “Santo anjo do senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou, a piedade divina sempre me rege, me guarda, me ilumina. Amém”. Rapidinho.

P/1 – Acho que eu não conhecia também.

R – Não conhecia?

P/1 – Acho que não. Só pra falar um pouco dessa coisa do Criança Esperança, você já deu um panorama pra gente, mas entender assim de uma maneira concreta em todas essas ações qual que é a importância desse recurso, como é que ele é utilizado?

R – Então, ele é utilizado na compra das balanças, por exemplo. A balança a paróquia tem que ter essa balança porque isso é importante pra gente pesar as crianças, pra gente saber o desenvolvimento dela. Essa campanha do barriga pra cima é feito todo um acompanhamento e você tem que ter um material pra dar esse suporte pra poder você colocar pras líderes, pras líderes passarem pras mães.

P/1 – Quando você fala em material você está falando assim de publicação? Só pra entender.

R – Isso. Exatamente. Se você quiser depois eu lhe mostro alguma coisa que eu trouxe. O do mil dias também, é feita uma ação, você tem que pegar as líderes, capacitá-las para que elas possam aprender a passar pras mães. Que nem, eu também sou capacitadora do guia do líder. Eu hoje posso capacitar um leigo a se tornar líder da Pastoral pra Criança. Então essa capacitação toda envolve eu ter um recurso pra poder capacitar essas pessoas. Também faço uma oficina de saúde bucal. Como eu faço de saúde bucal tem de hortas caseiras, então tudo isso tem que ter um suporte pra essas ações. Nisso envolve o custo desse curso e mais de todo o material utilizado. E também pra essa missionária, uma missionária que vai daqui lá pro Nordeste pra fazer esse acompanhamento das crianças de lá. Então ela precisa ter um recurso pra manter essa missionária lá e aqui de São Paulo tem ido bastante gente pra lá. Então é nisso que eu acho que o Criança Esperança tinha que olhar assim pra Pastoral da Criança.

P/1 – Qual que você acha... Você falou que vocês receberam o recurso até 2012, né?

R – Isso.

P/1 – Então atualmente vocês não estão recebendo o recurso, há dois anos já, né?

R – É. Agora, eu acho que esse ano talvez retorne.

P/1 – E aí nesse tempo em que vocês receberam o recurso que você acompanhou qual que você acha que foi a importância desse recurso pro desenvolvimento, pra manutenção do trabalho da pastoral?

R – Então, a manutenção do trabalho, né? Eu acho que fica assim mais restrito, você precisa ter mais... Talvez outro tipo de recurso, teria que ir atrás, então...

P/1 – Mas nesses anos em que vocês receberam, eu digo, qual que você acha que foi a importância enquanto vocês ainda recebiam o recurso...

R – Certo. Então, eu acho que o recurso vem, você consegue praticar todas essas ações que eu falei com uma folga, de fazer o trabalho da melhor forma possível pra que você, quando você capacita uma pessoa eu acho que você tem que ter assim condições, vamos supor, eu to pedindo pra uma pessoa ser líder da Pastoral da Criança, ela se interessou, eu tenho que dar um recurso pra ela, pra ela poder começar esse trabalho na paróquia. Então eu tenho que fornecer a capacitação em si e mais os recursos pra ela iniciar uma capacitação lá até ela caminhar sozinha dentro daquela paróquia e da comunidade.

P/1 – Claro. E de uma maneira geral qual que você acha que é a importância de uma iniciativa como o Criança Esperança desse aporte, desse recurso tanto pra Pastoral da Criança quanto pra outras entidades ou instituições que trabalham também com causas sociais assim?

R – Bom, eu acho assim, a meu ver, a partir do momento que você está se dispondo, um Criança Esperança, a ajudar essas entidades, eu acho que elas vendo que a entidade é séria, tem uma boa índole para utilização desse recurso, eu acho assim imprescindível que ela tenha, entendeu? Sendo séria, vejo assim a Pastoral da Criança 30 anos aí caminhando, eu acho que é uma entidade séria como qualquer outra... Como é que fala? Outro programa que possa. Então a partir do momento que eu acho que eles veem que a gente é sério, eles têm que manter o recurso.

P/1 – Tá certo. Eu vou encaminhar agora pras perguntas finais, antes de chegar nas duas perguntas finais, queria saber se tem alguma coisa que você não tenha perguntado, mas que você gostaria de dizer. Qualquer coisa, pode ser pessoal, profissional, sobre o seu trabalho como voluntária.

R – Então, espera aí. Eu acho assim olha, que a partir do momento em que você... Falando do trabalho. Por exemplo, eu abri mão de um trabalho remunerado ficando em casa. Então eu acho que a pessoa, quando você tem que abrir mão de um trabalho pra se dedicar a casa, em algum momento você vai sentir falta de alguma coisa. Então eu acho que o trabalho voluntário entra, pra quem não tem assim naquele momento, é lógico, tem todo um lado que às vezes é a necessidade de você procurar um trabalho remunerado, mas se você tiver a oportunidade de fazer um trabalho voluntário, você deve fazer. Porque eu acho que além de isso ser melhor pra você do que ao próximo, eu acho que não há coisa melhor de você poder ajudar o próximo, tá? Eu vejo isso porque eu também faço em paralelo outro trabalho que é a Missão Clara e Francisco, que é um trabalho de café da manhã pro morador de rua. E é uma coisa assim que o que você faz pelo próximo com certeza você está fazendo pra você. E assim, quando você precisa de alguma ajuda, você pode crer que você vai ter essa ajuda. Então você tem que ter fé, confiar, porque não há coisa melhor do que esse amor que você dedica ao próximo. E assim, eu sei que várias pessoas falam que são contra: “Poxa, você fica fazendo isso e aquilo pra uma pessoa que você não conhece”. Você pode crer que é uma coisa assim muito boa pra você. Você vai se sentir melhor, vai, sei lá, vai ser uma coisa assim que você vai passar pros seus filhos esse espírito de amar ao próximo como a si mesmo, né? Então eu acho que vale muito a pena, tá?

P/1 – Esse outro trabalho voluntário que você faz o café da manhã pros moradores de rua, conta alguma situação pra gente. Como é que é essa experiência?

R – Esse trabalho o padre lá da nossa paróquia começou esse trabalho em outra paróquia, na Vila Albertina. Chama Missão Clara e Francisco. Então assim, uma vez a cada 15 dias a gente sai pela nossa paróquia, Nossa Senhora da Anunciação, no sábado à noite é feito café, pão e é levado para o morador de rua na Praça Princesa Isabel. Chega lá, monta uma mesinha, antes de eles comerem eles fazem uma oração, rezam, agradecem, cantam e ali é dado um café. Pão, leite, fruta. E em paralelo tem algumas pessoas que conversam com morador de rua e assim, é um trabalho também de muito assim amor pelo próximo, porque a gente não sabe o que vai encontrar naquela praça. Mas é muito bom, esse trabalho eu me afastei um pouquinho uns meses por causa de doença, mas continuo dando um suporte para o pessoal que está continuando.

P/1 – E nessa experiência você se lembra de algum morador, de alguma dessas conversas que tenha te marcado em especial?

R – Olha, o que marca mesmo é uma vez apareceu uma mulher com criança. É muito difícil você ver criança na rua de manha, no domingo de manhã. E apareceu essa mulher com três meninas e eu falei pra ela que não tinha nada de menina, de criança no carro naquele dia, mas se ela viesse dali 15 dias eu ia trazer alguma coisa. E aí quando a gente chegou depois de 15 dias eu não a vi. Eu levei brinquedo e roupa pra criança, porque a gente tem doação, então a gente colocou no carro e levou. E aí quando a gente estava quase encerrando ela apareceu. Eu tirei uma boneca e dei pra uma das meninas e a alegria que essa menina pegou nesta boneca, e a boneca não tinha roupa, a bonequinha tava meio sem a roupinha porque como foi doação tava sem a roupa. Mas era uma bonequinha linda e ela abraçou aquela boneca, ela foi seguindo com os olhos até eu chegar perto da mesa do café, ela... Eu não vou esquecer o rosto dessa menina nunca mais, porque acho que assim, uma coisa tão simples, eu dar uma boneca, e tava um frio, a menina tava de shorts, a mãe vestiu uma roupa nela. Então isso são coisas que marcam muito, marca bastante mesmo você ver. Então eu digo assim que tanto a Pastoral da Criança que marca a gente como qualquer outro trabalho voluntário que a gente possa fazer por nós, tá?

P/1 – Então nossa penúltima pergunta agora é quais são os seus sonhos.

R – Os meus sonhos? Não são muitos, tá? Eu gostaria muito de ver... Um filho já formado eu tenho, mas a minha filha tem um sonho, que é ser médica e ela fala isso desde os dois anos de idade. Ela está se esforçando bastante, então é meu sonho que ela consiga o que ela quer. Porque eu acho que a gente vendo nossos filhos felizes eu acho que é muito gratificante. E assim, eu acho que um sonho... Eu acho que eu tenho mais até do que eu merecia, eu acho que a gente estando bem com a gente, estando bem com a família, a gente lá em casa é muito unido, então eu acho que isso já é um sonho realizado. Então é isso.

P/1 – Tá certo.

R – Tá certo?

P/1 – E por fim como é que foi contar a sua história?

R – Ah, foi muito legal, né? Foi muito bom mesmo, tá? Agradeço muito assim a oportunidade de poder... Eu acho que se eu tivesse sabendo que seria assim eu não teria conseguido falar tanto, entendeu, porque a gente cria uma expectativa. Mas foi muito bom. Muito obrigada.

P/1 – Tá certo. A gente que agradece na verdade. Obrigada viu, Josi. Então a gente encerra aqui.


FINAL DA ENTREVISTA