Museu da Pessoa

Uma vida, um banco e uma história

autoria: Museu da Pessoa personagem: Cleonice Rodrigues Fernandes dos Reis

Projeto: BB 200 anos de Brasil

Entrevistado por: Aurélio Araujo e Eliete Silva

Depoimento de: Cleonice Rodrigues Fernandes

Local: Brasília

Data: 10 de setembro de 2008

Realização: Instituto Museu da Pessoa

Código: BB200_HV001

Transcrito por: Karina Medici Barrella

Revisado por: Daniel Vieira de Andrade


P/1 – Cleonice, boa tarde.


R – Boa tarde.


P/1 – Primeiro, obrigado por ter aceitado em fazer essa entrevista conosco, essa História de Vida. Eu queria começar pedindo pra você falar o seu nome completo, local e data de seu nascimento.


R – Eu que agradeço essa oportunidade. Estou bem feliz! Meu nome completo é Cleonice Rodrigues Fernandes dos Reis. Eu nasci em 29 de julho de 1958, fiz 50 anos agora. Eu nasci em João Pinheiro, Minas Gerais.


P/1 – Qual o nome dos seus pais?


R – Meu pai é João Rodrigues Martins, a minha mãe Geralda Fernandes Martins.


P/1 – E o que eles faziam no dia-dia-dia, profissão?


R – Meu pai é agricultor. Ele tinha uma fazenda e morava nela. E minha mãe, dona de casa.


P/1 – E você sabe a origem da sua família, sempre foram da região?


R – Sempre. São agricultores. Toda a origem é assim, dos meus avós. Então, toda aquela estrutura na fazenda. E os tios também ali perto. Então era uma cidade do interior, bem do interior mesmo. A gente era bem da roça.


P/1 – Família bem rural...


R – Bem rural.


P/1 – Você tem irmãos?


R –Nós somos oito irmãos. É uma família grande.


P/1 – E por onde é que andam?


R – Todos aqui em Brasília! Nascemos lá, todos nós, aquela escadinha. E na época de estudar foi que a gente veio pra Brasília. Porque Brasília é mais fácil do que Belo Horizonte. Foi quando a gente veio pra estudar. Viemos todos e aqui a gente fez a vida, estudou, passou em concurso e todos nós trabalhamos aqui em Brasília hoje.


P/1 – Como que era a sua infância na roça?


R – Gente, era pobre-pobre de marre-marré-marré, eu digo [Risos]. Aquela liberdade da roça, muitos irmãos. Então, a gente tinha muita companhia, de muito brincar e tudo. Aquele convívio com terra, roça, animal, toda aquela liberdade, simplicidade. Aquela vida que hoje eu não vejo os meus filhos levando. A gente ainda tem a fazenda, eu levo muito. É como se fossem dois mundos, mas a gente vivia alienada. Não sei se é a palavra certa, mas não tinha televisão, luz elétrica. A gente não conhecia o mundo, sabe? Era aquele mundo mais fechado. Eu vim ver televisão, conhecer asfalto, essas coisas assim, já com 15 anos, quando eu vim pra cá. Aí eu começo a chorar [Risos].


P/2 – Do que vocês brincavam, você e seus irmãos?


R – Ah, brincadeira de roda, isso que a gente vê hoje. A gente brincava no rio e tinha aqueles brinquedos que a gente mesmo construía: boneca de sabugo de milho, carrinho de madeira feito daqueles negócios de abóbora, aquelas brincadeiras, que a gente inventava muito. E tinha bola, boneca, mas as brincadeiras a gente inventava bastante ali. E tinha muito primo também que era ali vizinho, então, éramos, como que eu posso falar? A gente era isolado um pouco do mundo, mas tinha o nosso meio ali, de viver. E até hoje eu tenho um contato bem grande, a gente encontra-se nas festas, lembra quando era pequeno [Risos].


P/1 – Você frequentava a escola já nessa época, né? Como é que era a relação do campo com a escola, como era essa época?


R – É bem interessante. Era escola rural. E na escola rural o que acontece é que na sala de aula tem todas as turmas na mesma sala, com a mesma professora. Então, ela acompanha aluno por aluno. Porque não é uma turma da primeira série, uma turma da segunda, cada um vai se desenvolvendo. Então, ao mesmo tempo que é difícil o recurso, pra professora, pra tudo aquilo, mas esse contato direto com aluno traz uma proximidade tão grande, que eu acho que nós, lá em casa, tivemos todos dessa cultura, de Escola Rural e ali perto. E quando a gente chegou em Brasília, todos nós nos saímos bem na escola, apesar daquela diferença, que estudava naquela escola rural uma turminha, 20 pessoas na sala, tudo da mesma idade. Eu cheguei aqui e fui pro Objetivo, que lá em São Paulo também tem, aquela escolona toda. Aquele primeiro impacto, daquela diferença toda. Mas, depois que a gente pegou o ritmo dessa mudança cultural, pra acompanhar o ritmo da escola foi legal. Assim que eu fiz 18, 19 anos, eu já passei no concurso do Banco. Meus irmãos passaram no concurso do Tribunal, do TCU [Tribunal de Contas da União]. O outro passou na Embratel [Empresa Brasileira de Telecomunicações]. Então, todos nós, com esse aprendizado na escola rural, e talvez essa proximidade com a professora, esse carinho todo, a gente chegou aqui em Brasília e nós nos demos bem, nas oportunidades que nos deram, de passar no vestibular logo. E aqui em Brasília, muita oportunidade de concurso, todos nós hoje somos funcionários públicos.


P/1 – E quais as lembranças mais fortes que você trás dessa época de escola?


R – Olha, é bem engraçada essa lembrança. É que Geografia era na imaginação. Quer dizer, você estudava sobre o Mundo, mas era só na imaginação, sabe? Assim, você imaginava a Europa, não sei o que. Daí a professora mostrava o museu e a gente viajava na História, na imaginação. Então, essa lembrança. E hoje eu vendo com meus filhos, quando você fala um local no mundo, ele consegue ir com a imagem, porque eles já viram isso na televisão, alguma coisa que a gente mostrou, ou até visitou... E pra gente era pura imaginação. E a gente imaginava, e quando você depara com a realidade e repara isso. E até hoje a gente conversa isso com meus irmãos, né? “Gente, eu imaginava uma coisa diferente...”. Como que seria, assim, um aeroporto, por exemplo. Aí você vê a história e depois você se deparar com a realidade. Então, essa diferença dessa escola rural, desse aconchego, tem todas as dificuldades. Da imaginação também, porque você não vive o que você tá aprendendo, você só imagina. É interessante. Ah!, vou chorar [Risos].


P/2 – Cleonice, você saiu de João Pinheiro e foi pra Brasília com 15 anos?


R – Sim, com 15 anos.


P/2 – E você veio pra Brasília por quê? Você veio pra estudar?


R – Foi. Lá, a gente tinha a oportunidade até o Primeiro Grau, não tinha o Segundo Grau. Eu sou a quarta filha, os meus dois irmãos mais velhos já tinham vindo, assim que terminou o Primeiro Grau, pra estudar. Aí, foi a minha vez, eu e meu outro irmão. Essa mudança nossa pra Brasília foi pra estudar, que foi a hora de fazer o Segundo Grau.. E gradativa também. À medida que um terminava o Primeiro Grau teria que vir estudar. Aliás, meus dois irmãos mais velhos ainda estudaram em Belo Horizonte, foram pra Belo Horizonte, estudaram um pouco. Porque um é quatro anos mais velhos e, o outro, seis anos. Fizeram lá uma parte e depois que a gente veio pra Brasília, mas pra estudar.


P/2 – Você já tinha família aqui em Brasília?


R – Tinha um tio, mas quando chegou a minha vez de vir pra Brasília, o meu pai já mostrou a estrutura pra gente morar. Meus dois irmãos mais velhos ainda moraram com meu tio. Quando chegou a minha vez, que já eram quatro, aí a gente já teve casa, montou uma estrutura pra gente morar aqui, só.


P/1 – E o seu pai veio junto pra Brasília ou só mandou vocês?


R – Não, só mandou. Porque ele era agricultor e só sabia trabalhar na roça e continuou lá.


P/2 – E como foi esse impacto de chegar na Capital?


R – Olha, foi um impacto mesmo, sabe? [Risos]. Um impacto, assim, de conhecer e, por a gente ser muito pobre. Então, não tinha férias, não tinha viagem. E a dificuldade também da época, de você viajar e conhecer. Eu não tinha esse contato com a cidade. E já vim de vez morar em Brasília, uma cidade grande, estudar numa escola grande. E na época a gente ganhou bolsa nessa escola. Meus dois irmãos já estavam aqui e o Objetivo deu bolsa pra mim e pro meu irmão... Muita sorte. E aquele mundo todo, foi um impacto mesmo, sabe?


P/2 – Você era adolescente, 15 anos, em Brasília. Você fez amigos quando chegou ou ficou só estudando...


R – Foi só estudando.


P/2 – Você não saía, não se divertia...


R – Sim, sim.


P/2 – Pra onde você saía?


R – Tinha algumas pessoas aqui da minha cidade, e como meus irmãos já estavam aqui há dois anos, tinha muito turismo à hora que eu cheguei. Quando tinha um tempinho iam mostrar a cidade, né? A gente andava muito, de conhecer a cidade. Não muita festa porque não era a nossa cultura, e acho que eu também nunca fui muito festeira. A gente saía, sim; passeava. Conhecer todo esse mundo enorme, tudo muito grande. Então, tinha esse lazer. E da escola, também. Amigos que eu conheci nessa época, eu tenho amizades até hoje, de pessoas que foram meus vizinhos, quando a gente morou, com que eu fiz o Segundo Grau junto. E, quando eu entrei no Banco, a minha chefe na época, e a turma. Nós estamos viajando no fim do mês agora pra Buenos Aires pra comemorar o aniversário, nós somos amigos há 25 anos [Risos].


P/1 – E onde você veio morar em Brasília, quando você chegou?


R – Eu vim morar em uma cidade-satélite.


P/1 – Qual delas?


R – Taguatinga.


P/1 – Como era Taguatinga naquela época?


R – Era assim, deixa eu ver como eu vou descrever Taguatinga naquela época... Porque era uma cidade pequena, era uma satélite de Brasília, mas, na minha visão, já era uma cidade grande. E era uma cidade independente. No tempo que eu morei em Taguatinga eu estudava lá, eu fiz o Segundo Grau lá mesmo. E a gente vivia lá. Quando vinha à Brasília, era mais pra Turismo, pra conhecer os pontos turísticos. Era uma cidade independente. Hoje também é uma cidade-satélite, mas ela é bem independente. Porque tem umas cidades em Brasília que são umas cidades-dormitório: você só vai lá e dorme. No caso de Taguatinga, não. Você tinha escola, mesmo o Objetivo tinha lá em Taguatinga. Eu também estudei na escola pública lá de Taguatinga e fiz Técnico de Estatística na escola pública e estudava no Objetivo. Então, eu fazia duas coisas na época.


P/1 – E você fez Curso Superior?


R – Eu fiz Curso Superior.


P/1 – Você fez o quê?


R – Eu fiz Economia na UDF, Universidade do Distrito Federal, nessa época também. Com 18 anos eu passei no vestibular.


P/1 – E o que levou a você a tomar essa opção, fazer Economia?


R – Olha, na época, a gente não tinha muita alternativa de curso. Na UDF, por exemplo, tinha Economia, Administração e Direito. Então, hoje eu falo que não foi muito uma escolha pessoal, não. Foi o que a vida deu, a oportunidade que a gente teve. E eu até nem me afinei muito com a Economia, apesar de ir pro Banco. Logo no Banco eu tive a oportunidade de trabalhar com Tecnologia e que foi onde eu me afinei e trabalhei o tempo todo com Tecnologia.


P/1 – E quais as coisas que você lembra da época de Faculdade? Como era estudar em faculdade naquela época aqui em Brasília? O que você lembra de bom dessa época?


R – O que mais me lembro é que esse tempo inteiro eu estudei muito junto com meus irmãos. Então, eu era muito dependente, os meus irmãos, tudo junto, a gente na escola. O Segundo Grau também. Na Universidade já foi a minha independência, aí eu me vi sozinha, estudando sozinha. No primeiro semestre eu tive um namorado que foi o meu único namorado, casei com ele, até hoje. [Risos]. Imagine, no primeiro semestre a gente se conheceu, mas ele era dois semestres à frente. E a oportunidade de conhecer gente muito diferente porque Brasília, pessoas de todos os Estados. Então, assim, eu tinha uma amiga carioca, que era totalmente diferente de uma outra que era de Recife, sabe? Aquela oportunidade. E aquele mundo inteiro abrindo na minha frente, né? De conhecimento e de oportunidade de abertura de consciência. E essa turma. Assim, tinha uma turma do Banco, também, nós passamos no concurso no início da faculdade. Tem uma menina, que é a Antonia (talvez até vocês vão conversar com ela). Ela estudou comigo o Segundo Grau, depois a gente foi estudar junto e passamos no concurso juntas e a gente se relaciona no Banco até hoje, também. Então, eu consigo ter amizades desse tempo que eu entrei no Banco; pessoas que passaram no concurso na mesma época. E a gente convive junto até hoje.


P/2 – E você chegou a trabalhar em outro local antes do Banco do Brasil?


R – Sim. O Banco demorou muito a chamar. Como aqui em Brasília tem muita oportunidade de concurso, eu passei em dez concursos nessa fase 18 a 19 anos [Risos]. Porque você já tá no vestibular, concurso e todos eles nessa oportunidade. Eu trabalhei três meses na Fundação Hospitalar, que foi o primeiro

que me chamou. Depois o GDF [Governo do Distrito Federal] me chamou, o outro concurso que eu tinha passado, pra ser Técnica de Estatística, que tinha sido o que eu tinha feito no Segundo Grau. Aí, eu fiquei lá um ano e dez meses que foi o tempo que o Banco me chamou. Então, eu ainda tive dois empregos públicos antes: um na Fundação Hospitalar e o outro no Serviço de Limpeza Urbana, que era a Técnica de Estatística. E foi um emprego muito bom porque eu tinha feito

curso Técnica de Estatística, trabalhava com isso. Só que eu passei no concurso do Banco. Eu fui pro Banco pra ganhar menos, até. Mas, nesse época, o status do Banco, ir pro Banco do Brasil... E tinha salários indiretos. Eu não me arrependo, não. Apesar de ter ido pra ganhar menos, eu acho que eu fiz uma carreira e as oportunidades foram maiores do que se eu tivesse lá no GDF.




P/2 – Isso foi em que ano?


R – 1978. Eu trabalhei em 1977, eu lembro até a matrícula da minha faculdade [Risos]: 771257. Até lembrei isso. Foi em 1978. Eu fiquei de 1978 a 1980 no Serviço de Limpeza Urbana trabalhando como Técnica de Estatística.


P/2 – Qual foi o sentimento quando você recebeu a notícia que você passou no Banco do Brasil?


R – Olha, eu sou chorona, mas eu chorei [Risos]. Antes do Banco, eu passei também no Concurso da Caixa Econômica. E o resultado saiu numa semana e no outro era prova de datilografia, e eu não conhecia direito datilografia, não trabalhava com isso. E eu fiquei super nervosa e fiquei reprovada na prova de datilografia. Então, quando eu passei no concurso do Banco, só vinha aquele medo de ser reprovada de novo na prova de datilografia. Mas o Banco tinha a oportunidade, ele deu um mês para ir fazer a prova, se não passasse tinha mais um mês e, se não passasse ele dava um curso de datilografia. Fala hoje curso de datilografia é coisa de museu, né? Porque hoje não existe, mas naquele tempo existia [Risos]. Curso de datilografia que você aprendia a digitar. Aí, essa tranqüilidade de que eu tinha três alternativas, eu acabei passando na primeira. Mas eu tinha o trauma da Caixa que eu tinha ficado reprovada em datilografia. Olha, foi uma emoção muito grande. Eu me lembro que lá no trabalho todo mundo comemorou muito junto comigo e lá, eles, o meu chefe, o pessoal que trabalhava comigo, dizia que fazendo Economia, lá eu tinha oportunidade de ser economista. Eu tava trabalhando como Técnica de Estatística e tinha o cargo de Economista, que tinha um pessoal trabalhando lá. Então, eles diziam que depois que eu formasse eu poderia ficar de economista e aquilo me enchia os olhos. Mas, por eu ter passado no Banco, todos eles me incentivaram a sair de lá e ir pro Banco, que era uma boa oportunidade e tudo. E eu acho que foi mesmo uma boa decisão, hoje eu sou feliz com isso.


P/1 – Quando você ingressou no Banco, em que área você trabalhava?


R – Eu comecei trabalhar no Departamento de Cadastro do Banco. Porque eu tinha limitação de horário porque eu tava fazendo a faculdade, morava longe, que o Banco era aqui em Brasília, a faculdade era aqui em Brasília e morava ainda em Taguatinga nessa época. Então, eu tinha essa limitação, essa dificuldade. E nesse local, o horário era conveniente, porque eu saía de lá dez pras seis, aí eu ia pra faculdade às seis, pegava uma aula especial às seis. Essa aula especial é a primeira pra eu ir pra casa, porque se eu fizesse horário normal eu chegava muito tarde em casa. Então, por conveniência, eu fui trabalhar nesse Departamento. Aí, próximo quando eu tava terminando a faculdade, que tinha que fazer o estágio, eu fiz o estágio no Ministério da Indústria e Comércio, eu fui trabalhar na Central Brasília, na agência. Trabalhar na agência pra fazer seis horas, pra dar tempo de eu fazer o estágio. E foi uma experiência, assim, da Agência, a acolhida, a turma. Então, aquela meninada, estudante, tava tudo lá. Nesse Departamento de Cadastro era todo mundo muito velho e formal, sabe? Porque era um Departamento assim... E eu me sentia meio peixe fora d´água, ali, meio patinho feio. Mas quando eu cheguei na Central, que era aquela meninada, estudante, o tipo de trabalho, que era mais descontraído, olha, eu me achei [Risos]. E essa turma, hoje, a gente ainda se relaciona. Esse desse Departamento de Cadastro, eu não me lembro de ninguém. eu fiquei lá um ano, na Central eu fiquei seis anos.


P/2 – Onde ficava esse Departamento de Cadastro? Em qual prédio?


R – Ficava no Edifício Sede Um. São três prédios ali no centro, um, dois, três. Tem aquele preto e verde, é o Sede um. Era o Decad [Departamento de Cadastro].


P/1 – Você lembra do seu primeiro dia de trabalho?


R – Lembro [Risos].


P/1 – Como é que foi?


R – Ah, lembro [Risos]. Eu acho que eu choro até de lembrar. Ichi. [Risos]. Era assim, porque... Ai, péra só um pouquinho, deixa eu chorar aqui. Porque era um mundo, era um outro mundo, sabe? A emoção e aquilo tudo grande, grande. Aquele prédio enorme. E eu me sentindo assim, bem o patinho feio [Risos]. Chegando, achando. Apesar de já estar vindo do GDF, já não era o meu primeiro emprego, mas o tamanho... Ah, eu vou sair chorando desse jeito, é? [Risos]. Mas a estrutura era outra, o status era outro, o tipo de pessoa, e na época, Elder, que é o meu marido, a gente já namorava, ele foi comigo. Nossa, eu tomar posse ali, nossa. Ah! Era uma emoção muito grande de um mundo totalmente diferente para mim, sabe?


P/2 – Cleonice, agora, como era essa vida de trabalhar no Banco do Brasil e estudar?


R – E morar longe, que eram esses três requisitos é que era difícil...


P/2 – E morar longe. E como você conseguiu enfrentar esse desafio. Você conversou com seu chefe, o setor, como era isso, assim? Havia uma flexibilidade no Banco pra quem trabalhava?


R – Havia uma flexibilidade e um incentivo muito grande pra isso. Tanto é que quando eu fui tomar posse, eu fui pra esse departamento em função de adaptar ao meu horário de escola. Eu fui pra esse que tinha um horário desse jeito, pra adaptar o horário de escola. E logo que eu cheguei, se ofereceram alguns para me dar carona, para me levar até a faculdade que era lá também. E até o tempo pra estudar também. Onde eu tava ali, me incentivavam, ajudavam. Na época do estágio, acabei não fazendo estágio lá no Banco, mas o Banco também daria oportunidade pra isso. É que eu achei mais conveniente esse do Ministério da Indústria e Comércio. Mas essa oportunidade de formação, estudar, de incentivo, o Banco ajuda muito a gente mesmo. Muito. Então, o que eu tinha mais difícil eram as distâncias. Porque o Banco era distante da Universidade e a Universidade distante da minha casa. E sem carro pra estudar.


P/2 – Você ficou um tempo no Departamento de Cadastro, depois você foi pra Agência. Você ficou quanto tempo na Agência Central?


R – Na Agência Central... Formei em 1982, meu filho nasceu em 1986. Fiquei quatro anos na Central. Eu fui pra lá na época do estágio, porque eu precisava desse horário especial também de seis horas e lá que eu tinha oportunidade. Aí eu fazia estágio do Ministério da Indústria e Comércio. E depois eu fiquei. Foi quando eu me casei. Eu trabalhava na Central, essa turma toda, tive meus filhos, por isso que estou conseguindo associar legal as datas. Eu fui morar numa outra cidade-satélite quando eu me casei, que era o Núcleo Bandeirante. Foi quando eu tava com dois meninos e amamentando, eu pedi transferência dessa Agência Central para uma perto de casa, por conta dos dois meninos. Aí, eu fiquei nessa agência e foi quando eu tive oportunidade de ir pra área de Tecnologia.


P/1 – Que agência era essa?


R – Agência Núcleo Bandeirante. Agora, de quando eu fui pra Tecnologia eu tenho que fazer as contas aqui. Foi 1992, eu acho. Eu tenho uns 15, 16 anos de Tecnologia.


P/2 – Cleonice, como era a vida de uma bancária e mãe? Assim, você ficou com a licença maternidade, aquela de três meses, ou você pediu mais um tempo? Como você conseguiu lidar essa vida de mãe e bancária?


R – Olha, é um malabarismo, mas mãe, pra mim, tinha prioridade. Então, eu abdiquei um pouco da carreira no Banco porque pra assumir alguns cargos você tinha que fazer oito horas. Com dois meninos em casa, eu optei por sempre ficar fazendo seis horas. Então, eu fiquei mais na Agência, fui pra essa Agência próximo de casa em função das crianças. E para as comissões no Banco, que eles ofereciam, tinha que trabalhar no Banco o dia inteiro, dedicação exclusiva, e eu sempre recusei. Eu fiquei cuidando dos meninos até que eles é que não queriam mais essa mãe pegando no pé [Risos]. Mas eu sou muito feliz com essa minha decisão também. Meus dois meninos, meus dois filhos são – para dizer como toda mãe - são filhos maravilhosos, mas o meu mais velho hoje trabalha no Banco. Ele, com 17 anos, passou no concurso do Banco, o Banco também demorou a chamar. Ele tem 24 anos. O mais novo tem 22, ele faz Medicina aqui na Federal e são dois meninos muito equilibrados, muito tranqüilos, me deixam hoje bastante independente, assim, de ter de preocupar com eles. E isso foi, acho que na época, a minha opção. Entre conciliar o trabalho e dona-de-casa e mãe, eu optei por ser mãe e, no Banco, eu fiquei fazendo seis horas esse tempo todo. Eu vim pegar comissão no Banco já quando os meninos eram grandes. Às vezes eu penso, tipo a Glória, que hoje é Diretora, nós trabalhamos juntas, e toda essa oportunidade. E

no meu caso eu não tenho uma comissão alta foi por uma opção, e eu sou feliz por isso. Eu acho que meus dois meninos são meus diplomas, e foi ganhar na Loteria [Risos].


P/2 – Você foi pra Tecnologia em 1992. Você saiu da Agência, Núcleo Bandeirante. Como foi essa transição, essa mudança? Por que você mudou? Porque o cotidiano de Agência é diferente, né? Conta isso um pouquinho pra gente.


R – Isso. Na Agência é bem diferente porque o ritmo é acelerado. Eu fui pra Agência pra opção de ficar perto de casa e por causa dos meninos. Quando os meninos cresceram um pouquinho, eu tava coordenando a bateria de caixa. Eram 30 caixas que eu coordenava. Então, aquilo era coisa de louco. De não ter hora pra chegar em casa, não ter hora pra... Apesar de morando ao lado, não ter hora pra sair do Banco, porque se tinha alguma diferença de caixa... Então, era um ritmo que eu não tava conseguindo acompanhar, esse de coordenar. E na época foi meio sob pressão porque... Pra você pegar comissão no Banco, você tinha que estar num nível. Eu entrei como nível básico, depois tinha nível médio e nível superior. E eu tinha passado nesse concurso pra nível superior. Então, pronto: você passou no concurso para nível superior, agora você vai pegar comissão. Eu falei: “Eu não quero, eu não posso porque eu tenho que cuidar dos meninos”. Aí isso começa a ser visto como desinteresse, porque você tem os requisitos pra comissão e não pega. Aí eu resolvi assumir. Olha, eu pirei. Eu pirei de ter que conciliar isso, a cobrança, e eu também me cobrando. Dava pra eu fazer o que o Banco tava querendo do trabalho, e os meninos em casa, meio adolescente. E quando eu vim pra Direção Geral, já foi pra ver se eu tinha horário de trabalho. Mesmo mais longe de casa, mas as condições eram mais favoráveis também. Aí foi quando eu saí da Agência e nunca mais voltei porque eu me adaptei bem à Tecnologia, gostei do horário do trabalho e tudo.


P/1 – Como é que foi essa transição pra Tecnologia? Como é que surgiu essa oportunidade?


R – Olha, foi na sorte. Assim, eu tava meio cansada da Agência, eu tava estressada na época, porque eu peguei um estado de estresse mesmo, de tanto trabalho e tentar conciliar com a casa. Eu peguei o catálogo do Banco, e falei: “Eu vou ligar para um desses e ver se tem vaga”. Aí, eu liguei. Tinha um outro nome na época. Eu liguei, me identifiquei, perguntei se tinha vaga e ele disse: “Vem aqui pra uma entrevista”. Aí, eu fui pra entrevista, eles aceitaram pra eu vir. Eu não sabia nem direito o que fazia, foi na sorte mesmo. Eu abri o catálogo porque eu queria sair dali para um lugar mais tranqüilo. E aí, com bastante convencimento, a Agência me liberou pra eu vir trabalhar. Mas eu tava com estresse na época. Eu acho que mais por isso que a agência me liberou, porque a agência nem liberava muito pra você vir pra Direção Geral, que chama aqui. Tem a rede de agência e a Direção Geral, foi essa transição. E quando eu cheguei, eu não tinha as qualificações pra esse Departamento de Tecnologia. Eu não conhecia nada de Tecnologia, tinha essa cultura de agência e eu fui trabalhar na parte administrativa. E aí me pediram pra trabalhar na Recepção, ser secretária de um chefe daqui. Eu digo: “Deus me livre, é a última coisa do mundo que eu quero! Eu não tenho esse perfil, não quero trabalhar com isso, de secretária”. Pediram pra eu fazer um favor. “Dá pra você ficar porque não tem ninguém que fique. Lá tem um homem. Fica lá pelo menos duas semanas”. E eu fui assim: “Ai, meu Deus, o que eu estou fazendo aqui?”. Eu lembro que eu reclamei pro meu marido: “Gente, eu vou ser secretária, recepcionista”. Que a recepcionista não fazia nada ali. Quer dizer, nada do meu conceito, porque eu trabalhava em Agência, ou do que eu aprendi, pra ser uma recepcionista. E ele até brincou assim: “Seu salário vai diminuir?”. Eu disse: “Não”. Ele disse: “Então, você vai ser a recepcionista mais cara do Brasil. Fique, relaxe”. [Risos]. Porque o salário não caiu, na época era meio ali de favor. E isso foi uma abertura também. Porque aí, era o Kepler na época, que foi meu primeiro chefe, sabia que eu não queria, e dizendo pra ele, falando: “Não, pra fazer favor ali de ajudante”. E eu lembro que, logo no primeiro dia, ele falou assim: “Arruma alguém pra levar isso lá na Presidência”. Eu digo: “Na Presidência? Posso levar?” [Risos]. Doida pra ir conhecer a Presidência do Banco. Eu fui toda feliz conhecer a Presidência do Banco, lá pra falar com o presidente. E quando eu cheguei, ainda eu tive uma sorte, porque estava o time de vôlei. Quando eu desci do elevador, na Presidência do Banco, com o time de vôlei: “Ô sorte!”. [Risos]. E aí, esse contato lá e com o Kepler , ele é uma pessoa bem relacionada, eu comecei a me relacionar muito com as pessoas do Banco, sabe? Era mandar uma carta pro presidente, pro ministério, pro Diretor de uma área, pro Diretor de outra e isso me deu um conhecimento muito grande, de que eu me valho até hoje. Pra esse trabalho que eu estou fazendo hoje, de Museu, de juntar as pessoas, de fazer essa rede de contato que eu comecei a montar nesse época, num trabalho que eu não queria nem aceitar, sabe? Porque eu achei que não era o meu perfil. E como diz, “se faz do limão uma limonada”. Foi isso mesmo porque pra mim era ruim ficar assim, mas essa oportunidade de conhecer as pessoas, de aumentar a rede de conhecimento, foi muito bom. E eu não tinha a formação técnica, e o Kepler

me deu a oportunidade de fazer o curso de Analista e três meses depois eu já tava Analista de Sistema, ele me deu a oportunidade de fazer parte do grupo de técnicos. E eu fui trabalhar com os técnicos, que antes eu era ali recepcionista, eu tive uma aceitação muito boa, de todos quererem me ajudar e, saber que eu não tinha a formação prática, era só teórica. Então, eu tive uma aceitação boa junto com os técnicos e a gente tem um relacionamento bom até hoje.


P/1 –Você ficou nessa parte de Análise de Sistemas quanto tempo? Como analista, dentro da Tecnologia?


R – Até hoje, mas não de análise mesmo, porque eu fiquei até com essa função. Fiquei sempre na Área Técnica. Tem a área de Produção, de Suporte. Hoje mesmo eu trabalho na área de Produção. Então, lá mesmo dentro da Área de Tecnologia. A Tecnologia tem 2400 funcionários, é praticamente uma cidade, é uma área muito grande no Banco. Então, dentro da área de Tecnologia, eu trabalhei em vários setores. Hoje o cargo é Assessor de Informática, mas só uma alteração no nome do cargo, a função que a gente fazia. Então, até hoje trabalhando nessa área de Tecnologia.


P/2 – Cleonice, você fez outro Curso Superior, então? Você fez Analista de Sistemas?


R – Não, esse é um curso que o Banco mesmo dava.


P/2 – Você fez um espécie de pós-graduação?


R – Não, era um curso técnico de especialização dado pelo Banco. Não era pós-graduação, não. Era interno.


P/2 – E como foi fazer essa transição: Economia pra Analista de Sistemas?


R – Pois é. De Economia, como eu te falei, lá no outro emprego, eu tinha essa oportunidade. Quando eu vim pro Banco, eu comecei a trabalhar mais administrativa. Então, eu nem trabalhei como Economista, nesse conhecimento. Era meio de administrativo pra técnico, pra essa área técnica. O Banco deu os treinamentos internos e todos nós lá onde começou a Área Técnica era assim. Porque, eram muitos estudantes, também. A menina que trabalhava comigo era médica e tava fazendo o curso de analista. Enquanto ela tava estudando, ela veio trabalhar nessa área por conta das seis horas e acabou ficando. O outro que trabalhava comigo era formado em Lingüística, aí teve a formação em Análise de Sistemas. E também nessa época não tinha muito curso de Processamento de Dados. Então, eram pessoas de outras áreas e o Banco dava treinamento interno.


P/1 – E como é que você acabou se envolvendo com essa história do Museu da Tecnologia aqui do BB [Banco do Brasil]?


R – Isso também foi uma história engraçada. Eu sempre trabalhei com coisas que tinha assim: era festa, era organização, sempre me chamavam, e eu fazendo. Eu tava liderando uma equipe de Autodesenvolvimento. Quando veio esse projeto dos 200 anos, eles precisavam de um líder e eles me convidaram. Quando eu fui falar lá na diretora que eu tinha recebido esse convite e eu ia aceitar eles disseram: “Cleonice, não tem ninguém melhor do que você, porque você já tem 200 anos de Tecnologia, então dá pra ir fazer esse trabalho” [Risos]. E o Dedé, que é o líder do projeto a nível de Brasil, quando eu fui trabalhar nessa área Tecnológica. Eu tinha trabalhado com ele, ele me conhecia. Eu liguei: “Dedé, aqui na Tecnologia, eu que vou fazer esse trabalho”. Ele também ficou contente. Eu disse: “Olha, eu não sei o que tem que fazer, não”; “Não, eu te ajudo”. E aí começamos a ver o que a gente poderia fazer. A proposta do projeto era que valorizasse as pessoas, e lá na Área Tecnológica, você acaba meio sem querer dando um status grande às máquinas e aos sistemas. E o meu papel era, nesse projeto, tentar procurar valorizar as pessoas que fizeram a história e dar um sentido pra isso. E isso mexeu muito comigo, eu gostei desse trabalho. Foi quando a gente teve a idéia de fazer um museu. E lá já tinha um museu antes, já tinha umas máquinas, e quando nós pensamos em revitalizar, colocamos no projeto como revitalziar o museu, dando foco nas pessoas que fizeram uma história. Se tinha um acontecimento importante no Banco, um salto que o Banco deu, a gente ia resgatar quais foram as pessoas que foram responsáveis por aquele fato, aquele evento ou aquela mudança na maneira de processar ou...


P/1 - Mudança na estrutura tecnológica.


R – Isso, mudança na estrutura tecnológica. Às vezes, a gente mudou o Parque Tecnológico, mas a gente não pensa no que já tinha registrado até então, que era dando foco: “Ah, comprou tal máquina, com tal potência, do fornecedor X”. E sim, quem foram as pessoas que tiveram a idéia, que trabalharam, que doaram pra isso. Com essa proposta, olha, todo mundo comprou a idéia. Quando a gente mostrou que o nosso projeto era esse, que era essa a idéia, nós ganhamos status enorme. E todo mundo gostou e comprou a idéia e nós soltamos uma mensagem no nosso Boletim Interno pedindo voluntários pra ajudar a gente a fazer esse trabalho. Com três dias tinha 30 voluntários que queriam ajudar a reconstruir essa história.


P/2 – De que setor?


R – Da Diretoria. Tivemos oportunidade de soltar um comunicado a nível nacional, dizendo que a gente ia resgatar essa história, porque tem pessoas que não estão mais na Tecnologia, já passaram por lá; outros que aposentaram. Então, nós colocamos isso, que o nosso trabalho pros 200 anos era resgatar a história da tecnologia com foco em pessoas e em sustentabilidade, também. E começamos a receber doações do Brasil inteiro, muita máquina, muita foto. Porque a gente pediu muita fotografia da época, que resgatasse as pessoas que estavam ali, e o ambiente. Alguns filmes também, mais filmes amadores, que tinha uma festa na época, alguém filmou e guardou aquilo de lembrança... Algum documentário... Aí, começou a aparecer coisas do Brasil inteiro. E chamamos atenção do Banco como um todo. Foi quando a TV BB fez uma reportagem com a gente, também mostrando isso que a gente tava interessado em fazer. Teve umas entrevistas com umas pessoas lá na Tecnologia, falando da importância, que gostavam do projeto e do trabalho. A TV BB veiculou isso um tempo. Com isso veio mais doações, mais colaborações. Então, ficou um círculo legal porque, à medida que a gente ia ganhando mais confiança e o acervo aumentando, a gente tinha oportunidade, na Rede de Comunicação Interna, e mais pessoas entravam em contato e, mais material. Você viu até o livro que eu trouxe hoje, que eu recebi ontem, de um livro que eles fizeram, acho que em 1990. E nós temos um acervo grande. Acervo de máquina, peças, relatórios e livros, que a gente não tem o ambiente físico, não tava preparado esse ambiente físico pra isso. Mas a gente está valorizando muito, incentivando que as pessoas mandem fotos e filmes, porque nós vamos fazer mais um museu virtual. Aí a gente não tem limitação de espaço, trabalhamos na tecnologia, a gente tem tecnologia pra isso, e todos bem dispostos. Aí, nós partimos pra fazer um museu mais virtual, com o depoimento das pessoas contando as histórias. E, no primeiro evento que nós fizemos convidando os aposentados, quem já trabalhou, quem já passou pela Tecnologia, fizemos uma rede de contato, porque quando eu entrava em contato: “Você se lembra de alguém, você tem o contato de alguém?”, porque já eram aposentados. E, de repente, fizemos um evento onde estava cheio de pessoas e um em contato com o outro, que já trabalharam em várias épocas no Banco. Fizemos uns documentários. Aqueles que não tiveram oportunidade, a gente está criando essa oportunidade de novo, ou talvez até permanente, porque ninguém quer que a gente acabe com essa estrutura de fazer filmagem. E copiamos a idéia do Museu da Pessoa, porque quando o Dedé mostrou no projeto que ele fez, ele mostrou que existia uma iniciativa dessa que ele conhecia, que era o Museu da Pessoa, que ia dar esse foco nas pessoas. Aí, nós entramos no site, gostamos da idéia. O Dedé trouxe uns folhetos de vocês que tinha até uma foto com o estúdio, parecendo um lugarzinho lambe-lambe, né? E alguém fez o comentário de lambe-lambe e nós chamamos o nosso estúdiozinho de “Cantinho Lambe-lambe” [Risos]. Quem vai lá e dá entrevista. E sempre que a gente fala com alguém, que a nossa idéia é essa, a gente dá como referencial o Museu da Pessoa: “Olha lá como é que é. E é mais ou menos assim que a gente quer fazer, onde o nosso acervo vai ser depoimento das pessoas que já trabalharam aqui”.


P/1 – A gente soube que você fez uma viagem pra Europa. E como é que isso influenciou na organização do museu?


R – [Risos]. Então, eu já tinha ido à Europa antes e visitei muito museu, mas com aquele olhar de “visitante de museu”. E esse ano, quando eu voltei, era com olhar de ver a estrutura de museu. E eu contei, a minha cunhada mora em Barcelona e na viagem: “Olha gente, eu estou indo pra aprender a fazer museu”, porque eu também não sabia de fazer museu, “e pra visitar museu”. E aí, tinha um itinerário todo cheio de museu. A minha cunhada tinha comprado uma cartela lá em Barcelona, que você tinha direito a visitar 20 museus. Aí, lá pelo décimo: “Minha filha, eu já to com overdose de museu, eu já to intoxicada de museu!” [Risos]. Porque aí, eu já tava olhando pros museus com outros olhos. E assim, como foi montado, concebido, como veio a história. Apesar de eu ter ido em museu a vida inteira e até aos mesmos museus que eu já tinha ido. E o olhar já era diferente; de como colocar. E veio uma satisfação grande, porque apesar de que a gente estava inventando aqui - praticamente inventando, porque a gente não tinha estrutura -, a gente tava no caminho certo, sabe? No caminho certo de contar a história e resgatar isso. E quando nós pensamos, que pedimos colaboradores, tem um colega lá que é historiador, é formado em História. Ele é Analista de Sistemas, trabalha com tudo isso e estudou História. E ele viu a oportunidade, também, junto com a gente. Então, juntou essas cabeças todas e ele hoje está assessorando a gente pra montar o museu, fazer o livro, aprendendo junto, né? Porque ele também só tinha a teoria. E nessa viagem eu vim, assim, mais confiante, com muita foto, com overdose de museu mesmo [Risos].


P/2 – Você visitou só museus em Barcelona?


R – Não. Em Paris também, eu voltei em outros museus. Na Alemanha, tenho uma prima lá, e eu já fui com essa idéia. Gente, ela tinha selecionado uns museus tão diferentes. Eu fui ao Museu da Mostarda, lá na Alemanha, pra mostrar como desenvolver a... “Cleonice, eu vou te levar no Museu da Mostarda”. Depois eu fui no Museu da Gestapo, lá na Alemanha. Também. Então, ela selecionou uns museus totalmente diferente pra eu assistir: “Gente, eu vim passear também, não é só ver museu, não”. [Risos]. Eu fui em um monte de museu: no Museu da Etimologia, da Olimpíada, também lá em Barcelona, em uns museus bem diferentes. Esse da Mostarda eu achei super interessante. Essa cidade, eu esqueci o nome dessa cidadezinha, perto de Colônia, que tem esse museu, hoje eles são produtores de Mostarda e essa cidade toda se especializou em produzir aqueles negócios de Mostarda. Eles contam a evolução deles, desde quando eles começaram, tudo. Então, tinha a ver com o que eu tava querendo fazer, de contar a história, mostrar como começou, as pessoas que começaram e tudo. O Louvre, claro, Louvre é Louvre, mas esses, bem pitorescos, me ajudou bastante também, sabe?


P/1 – Outra visão...


R – Outra visão... O Museu de Arte Moderna de Barcelona, fiquei lá o tempo inteiro, assistindo. Mas teve esses museus pequenos, com um apelo diferente, que também me ajudou. E lá em Barcelona tem umas exposições da IBM, de tecnologia também. Que quando eu saí daqui, a IBM me falou que tinha essas exposições lá, me deu o endereço, eu já fui pra ver essa parte da IBM, mais a parte de tecnologia, mas com todo o foco no desenvolvimento dos equipamentos. E o foco do nosso museu são as pessoas que foram fazendo a história. Apesar de ser um Museu de Tecnologia, mas é uma memória de história de tecnologia com foco nas pessoas.

Então, não encaixava muito com o da IBM, que seria um referencial pra mim, mas nem foi tanto.


P/1 – Qual é a importância desse museu para o Banco do Brasil?


R – Olha, primeiro é uma iniciativa ímpar, de contar essa história, de você resgatar a Memória, as pessoas que construíram o Banco, que depois aposentaram e parece que se esqueceu deles. E o próprio Banco, das raízes, pensar na sustentabilidade, registrar um passado que é pilar pro futuro, eu não tinha noção que era tão importante assim. Depois que a gente já tava no esquema, que nós fomos sentir o quão importante é isso pro Banco, quanta importância o Banco deu pra esse projeto nosso, quanta importância as pessoas deram, e a gente perceber quanta emoção, sabe, disso. De importância mesmo, de tocar o coração das pessoas e trazer essas raízes. No dia da inauguração do Museu, que a gente chamou o pessoal pra depor... Ah, eu comecei a falar, eu não consegui parar de chorar, e chorava eu e todo mundo [Risos]. Porque aqueles aposentados que fizeram a História e estavam ali, sendo valorizados pelo trabalho que eles fizeram, pelas pessoas deles, e um encontrando o outro... E uns que já tinham aposentado, assim, já 15, 20 anos, e tava ali, vendo todo aquele progresso que teve. Porque a tecnologia é muito rápida. 30 anos de tecnologia é uma diferença muito grande. O envolvimento de todo mundo. E o vice-presidente foi à solenidade com muita emoção. Sei que caiu todo mundo no choro [Risos].


P/1 – A gente tava conversando aqui sobre a sua trajetória e a gente ouviu a história da menina criada na zona rural, que veio pra Brasília com 15 anos. Depois foi trabalhar no Banco do Brasil e ficou encantada com tudo o que encontrou pela frente. Nessa trajetória toda, não tem nenhum causo, uma história interessante, escondida que você pode contar pra gente? Alguma curiosidade, algum dia engraçado de trabalho, na Tecnologia ou na Agência, que aconteceu e que você até hoje, quando lembra, você dá uma gargalhada assim?


R – Gente, até que eu tenho, sim. As amigas de 25 anos atrás, nós nos encontramos e a gente contou mil histórias assim, daqui a pouco eu me lembro de uma bem [Risos]... Eu tinha me lembrado de umas histórias e eu lendo o livro ali também, daqui a pouco eu me lembro de uma bem...


P/2 – Cleonice, só pra esclarecer mais um pouco sobre o Museu da Tecnologia. Vocês pensaram esse museu há pouco tempo, né? E você tava falando que vocês chamaram os aposentados, querem fazer uma abordagem (______?) de tecnologia, uma abordagem mais humana, também colocando a história das pessoas, né? Em algum momento vocês pensaram em fazer o Museu do Banco do Brasil. Ou, seria o Museu de Tecnologia do Banco ou o Museu da Tecnologia em geral, como que é isso?


R – Sim, a gente fica empolgado que acaba pensando nisso. Mas, como essa comemoração dos 200 anos cada área ta fazendo a sua, as outras áreas estão fazendo, contando as suas histórias, contando em livro. De vez em quando a gente se pega saindo do nosso escopo e entrando na área do Banco como um todo e a gente é puxado pra ficar dentro do escopo. Mas eu acho que desta história vai sair o Museu do Banco do Brasil como um todo, tá? Só que o nosso foco, a nossa encomenda, é da Tecnologia, e a gente está até com cuidado pra não fugir desse foco e se meter na área dos outros, que os outros comitês estão contando essa história também. Mas você fica tentado porque a minha história de vida, dos 28 anos de Banco, não foram todos na Tecnologia. Aí, você lembra do primeiro curso de caixa. Me mandaram foto do primeiro curso de caixa, do primeiro concurso onde entrou mulher no Banco. “Essa foi a primeira mulher que tomou posse no Banco”. Foge do foco da Tecnologia. Então, a gente tem material desse, só que eu acho que vai acabar ficando do Banco do Brasil também, uma hora a gente troca material e faz... E, às vezes, quando nós pedimos material para o acervo, a gente recebe coisas que não tem a ver com a Tecnologia. Eu fico até preocupada, a pessoa está oferecendo: “Olha, o primeiro carimbo de quando eu fui não sei o quê”. Não tem a ver com Tecnologia e eu teria que recursar. Aí, eu oriento eles a procurar o Centro Cultural. Mas a gente fica tentado a fazer do Banco inteiro e não fechar só na Tecnologia, sabe?


P/2 – E a Tecnologia é a tecnologia do Banco, ou a tecnologia geral?


R – Não, a Tecnologia do Banco. A gente está chamando de “Os 200 anos de Tecnologia do Banco do Brasil”. Porque o Banco foi fundado há 200 anos e a gente está considerando que a primeira tecnologia do banco foi a caneta e tinteiro do Dom João VI, né? Aí, os livros de registro da Contabilidade. Então, quando a gente passa uma linha do tempo, a gente está colocando os 200 anos desde as primeiras tecnologias: a caneta e o tinteiro, depois inventou o teléx, veio o telefone, veio tudo isso. Então, a gente conta 200 anos de história de tecnologia. Mas história mais parecida com a tecnologia que a gente tem hoje é da década de 1960 pra cá, tá? Então, são esses 200 anos, mas os últimos 50 anos, que a tecnologia evoluiu no Brasil e no mundo. Pra compor esse livro, nós fizemos uma linha do tempo, onde a gente vai colocando: o salto da tecnologia, aqueles marcos, saltos que a gente teve, comparado com o salto que teve no mundo. A invenção da internet, pro mundo todo e, pra tecnologia BB, também foi uma abertura de espaço e de negócios. Então, está comparando essa evolução, o que aconteceu de importante, marcos, no mundo e na tecnologia. Então, é só da Tecnologia do Banco do Brasil.


P/2 – E vocês produziram também um portal, um site?


R – Sim, sim!


P/2 – Já está no ar?


R – Está no ar, mas internamente. No (__ BB?), a gente criou, e no portal da Intranet. Porque ali tem muito documento, muito depoimento, onde a gente fala muito de serviço. Então, o Departamento de Marketing teria que liberar que a gente colocasse isso pro Brasil. Porque a gente está falando de coisas internas da empresa, de coisas estratégicas, de soluções, de decisões que tomaram. A nossa idéia é que um dia vá para a internet, onde fique público, mas isso teria que passar, pra validar também as informações. Porque um vem, conta uma história, né? Pra ficar na internet, que vai acontecer, ainda vai ter que dar uma peneirada, você validar as informações que eles estão dando e também ver ali coisas estratégicas que não poderiam ser divulgadas. Mas esse é o caminho.


P/1 – É, 29 anos de Banco, é isso? Na sua opinião, qual a importância do Banco do Brasil pro desenvolvimento do país?


R – Olha, a História do Brasil, com a História do Banco do Brasil, elas se confundem, porque o desenvolvimento do país, o Banco acompanha o tempo inteiro, né? É um Banco de fomento, que está sempre incentivando, financiando e motivando o desenvolvimento do país. Quando a gente faz essa linha do tempo, por isso que a gente fez essa comparação com as coisas que aconteceram no país e internamente, porque se confundem. Então, o Banco é de fundamental importância no desenvolvimento do país. E agora, nesses objetivos do milênio, de desenvolvimento sustentável, o Banco está sendo fundamental com isso. A gente tem uma Diretoria de Desenvolvimento Regional Sustentável, esse foco do Museu, de valorizar as pessoas, é o que está acontecendo no mundo, de sustentabilidade, e o Banco vive isso. Quer dizer, o que acontece no mundo, o Banco também, a gente é inserido e incentivado. Então, de fundamental importância, eu acho que se confunde a História do Brasil com a do Banco do Brasil.


P/1 – E nessa História do Brasil, com a do Banco do Brasil, quais foram os momentos mais marcantes que você presenciou na História do Banco, de mudanças...


R – Foi quando tirou a conta movimento, quando o Banco deixou de ser um Banco Estatal e passou a ir pro mercado pra concorrer por cliente e tudo. Foi um marco muito importante esse pro Banco. Até na História do Banco tem o antes da retirada dessa conta movimento, onde a gente era um Banco Público, desde aquela época de Dom João VI, e passou a ser um banco pra competir no mercado, como todos os outros bancos. Essa competitividade, até a melhoria de qualidade do serviço, mais voltada pro cliente, não só para atender o governo. Então, um marco muito importante foi esse da tirada da conta movimento.


P/2 – E como você avalia a História do Banco e a sua trajetória no Banco do Brasil, sua trajetória profissional, porque... Você já tem 28 anos?


R – É, já fiz 28 anos de Banco. Olha, a gente sente crescendo junto com o Banco, ainda mais lá na Área Tecnológica, que cresce muito rápido. Então, você vai crescendo como pessoa, como indivíduo mesmo. É a família, filho crescendo e o Banco também desenvolvendo. Você se sente muito inserido nisso tudo e acho que meus meninos, assim, até meus filhos, parece que a história deles acompanha a história do Banco. E até do Tiago, meu filho mais velho ir trabalhar no Banco, eu acho que eu meio que convenci ele a trabalhar no Banco. E hoje já vejo que ele nem quer sair do Banco. Então, a minha história de vida tem tudo a ver com a história do Banco porque foi onde eu aprendi muita coisa, de onde eu tirei o dinheiro também, o salário, pra sobreviver e viver. E você vê, o Banco cresceu muito nesse tempo. Acho que eu vivi a melhor fase do Banco, porque o crescimento do Banco de 1980 pra cá, na área tecnológica, quando a gente está fazendo a linha do tempo a gente vê que foi muito grande, tanto do Banco quanto do mundo, né? A tecnologia desenvolveu muito nesse tempo, então essas histórias se juntam e se confundem, e é muito legal.


P/2 – Quais os desafios que você enfrentou na sua carreira? Nessa trajetória toda.


R – Era o desafio de ser dona-de-casa, mãe e trabalhar, competir junto. Uma competição, quer dizer, você tinha um outro turno de ser mãe e dona-de-casa, e eu sempre dei prioridade a ser mãe. O desafio de ser mulher num ambiente extremamente masculino. E eu, até falo assim, de ter uma origem mais pobre com mais dificuldade, até digo, ser preta e pobre. E os meus pais analfabetos. E quando me vê naquele mundo, parecia que tinha uma diferença grande de cultura ali dentro, que é uma barreira que eu tinha que vencer, sabe? Eu até brinco com essa história de ser preta, mas discriminação eu nunca tive, mas a gente mesmo se coloca assim, a uma certa distância. E eu acho, o desafio de ser mulher em um ambiente extremamente masculino; essa origem mais humilde também era uma desafio pra mim. E de ter o terceiro turno, cuidar de filhos e de casa e de tudo, foram os desafios que eu mais tive que enfrentar.


P/1 – O que significa pra você trabalhar no Banco do Brasil?


R – Olha, é com muito orgulho que eu trabalho no Banco. O Banco me ensinou muito e eu aprendi a trabalhar no banco e não só os treinamentos internos que o Banco deu. Hoje eu estou fazendo uma pós-graduação que o Banco está patrocinando. O contato com as pessoas, o convívio, então, isso confundiu muito com a minha história de vida. Porque o meu ciclo de amizades são as pessoas que eu conheci no Banco, e aí a gente conhece os filhos dos filhos, os filhos começam a serem amigos porque a gente viveu... Então, é a vida, né? A vida que eu tive foi essa do Banco do Brasil como um todo. E quando a gente viaja, até de férias, você quer uma referência, alguma coisa, você vai na agência: “Olha, eu queria um hotel, você me ajuda a achar?”. Então, é uma grande família e eu vejo assim. Meu marido não trabalha no Banco, ele até brinca que se ele perdesse o emprego, ele ia procurar um emprego no Banco, porque ele entende tudo de banco por conta da nossa roda de amizades, de tudo que ele conhece, [Risos]. Ele diz: “Olha, eu posso pedir emprego em um banco porque eu conheço tudo, das pessoas que eu conheço e da Cleonice que é Banco, Banco, Banco” [Risos]. E o Banco tem muito disso, você vive ali dentro e até desenvolvendo tarefas, como essa do Museu, que não é uma atividade fim do banco, você se sente muito inserido. Então, faz parte da sua vida como um todo, mesmo.


P/1 – E o que mudou na sua vida desde que você entrou no Banco?


R – Mudou tudo, né? Porque essa origem humilde, foi quando coincidiu de, quando eu já no Banco, terminei a faculdade, foi quando eu me casei e meus filhos... Então, tudo isso foi no tempo que eu entrei no Banco. Então, minha vida mudou completamente de lá na roça, pobre-pobre de marré-marré, com um universo, um contexto pequeno em que eu convivia. Coincidiu tudo isso com o tempo do Banco, mudou tudo, toda a minha vida [Risos], toda a minha História de Vida.


P/1 – O que você aprendeu na sua carreira, que você acha mais importante? As grandes aprendizagens que você teve nesse período?


R – Essa Cultura do Banco, do senso de responsabilidade, de ética, e de honestidade, eu acho que foi uma coisa que eu aprendi muito e que levei pra minha família e pro resto da vida. Porque logo no início do banco, você foi fazer o curso de caixa, onde você aprende do relacionamento e do conceito e de tudo muito justo, muito ético, sabe? Muito humano também. E isso foi o maior aprendizado que eu levo do Banco, e eu acho que criei os meus filhos com esses conceitos que eu aprendi. E mesmo que o outro não vai ser bancário, mas eu vejo que esses conceitos ele levou pra vida também, que eu aprendi no meu convívio com a grande família que é o Banco.


P/1 – Você levou um pedacinho do Banco do Brasil pra casa...


R – Levei um pedacinho do Banco do Brasil pra casa e pro resto da minha vida. E todos esses treinamentos... A preocupação com a qualidade de vida da gente, o Banco se preocupa com essa qualidade de vida. Do aprendizado acadêmico, mas também da pessoa, da personalidade. E eu tive essa oportunidade, eu aproveitei bem essa oportunidade.


P/1 – O que você considera que foi sua maior realização dentro do Banco do Brasil?


R – É o Museu s). Eu estou chamando, gente, que é um presente. Eu, perto de aposentar, porque daqui a dois anos eu já vou aposentar, ganhar um projeto desse pra liderar... Não é um trabalho, é um presente. Eu estou muito realizada com essa oportunidade de estar participando desse projeto dos 200 anos e liderar esse projeto do Museu, criar esse Museu. Aí, eu estou lá como Curadora do Museu, eu acho que eu nem vou aposentar, sabia? [Risos]. Foi a minha melhor realização, está sendo a minha melhor realização pessoal e pro Banco também, eu acho, sabe? Construir o Museu, começar a contar essa História é o meu melhor projeto.


P/1 – E o que você acha do Banco do Brasil estar resgatando a sua memória por meio dos 200 anos da história dele?


R – É muito gratificante e eu acho que isso era um anseio de todo mundo, porque tem muita História do Banco contada, mas é muito levada assim: “Essa foi a primeira agência”, mas não essa que: “esse foi o primeiro Gerente”, não o foco das pessoas que fizeram isso. Então, quando você começa a resgatar a história do Banco, vendo a história de vida das pessoas, é um foco diferente, com muita emoção e que está trazendo pra história do Banco e pro momento dos 200 anos, um lado muito humano, sabe? A gente está chamando isso até de uma parte sustentável do Banco porque esse coração... Não dá pra explicar em palavras, sabe? [Risos]. Não dá pra explicar em palavras o que é você resgatar a História das pessoas em si e não o lucro, o crescimento, o progresso, o desenvolvimento, as máquinas, a quantidade de agências, essa História já existia. Mas sim, a emoção de cada um fazer aquele que fez com o que o lucro maior naquela época, aquele que teve a decisão de ir pra esse caminho, comprar essa máquina, de tudo. Então, essas pessoas que fizeram História, que hoje são aposentados, que eles estavam imaginando que passou o tempo deles no Banco e agora eles se veem de novo, valorizados pelo que eles fizeram com decisões, com coragem, com atitude... É essa emoção deles, nossa, né? Porque eu também já estou aqui como ‘peça de museu’ desse tempo inteiro e isso mostra pra essa turma nova que está chegando, sabe? De fazer a coisa com o coração, com a emoção, com o envolvimento. O envolvimento, principalmente, desse trabalho, e da gente ser uma grande família.


P/1 – O que você achou de ter participado da nossa entrevista?


R – Olha, eu pensei que ia doer mais [Risos]. Eu tava: “Gente, será que eu vou dar conta?”. E de repente, à medida que eu fui conversando com vocês e viajando no tempo, olha, se deixar... Eu falei que ia falar cinco minutos; se deixar eu falo umas cinco horas aqui. Muito legal, muito obrigada pela oportunidade, eu gostei tudo. E tomara que eu tenha feito de acordo com o que vocês tinham planejado.


P/1 – Ah, com certeza. Cleonice, em nome do Museu da Pessoa e do Banco do Brasil a gente agradece a sua participação e essa entrevista aqui pra Memória da História do Banco do Brasil. Brigadão, viu?


R – Nossa, eu que agradeço a oportunidade, estou muito feliz de estar aqui e ter dado conta de fazer também [Risos]. “Meu Deus o que é que eu vou fazer?” [Risos].


P/2 – Nós que agradecemos.


R – Obrigada, gente.


P/2 – Obrigada, Cleonice.