Museu da Pessoa

Uma vida fit

autoria: Museu da Pessoa personagem: Luciene Ulhôa Faria

Projeto Kinross Paracatu
Depoimento de Luciene Ulhôa Faria
Entrevistado por Márcia Ruiz, Luís Gustavo Lima e Fernanda Prado
Paracatu, 18/06/2017
Realização Museu da Pessoa
KRP_HV26_Luciene Ulhôa Faria
Transcrito por Melissa Lourenço Machado

P/1 – Luciene, bom dia.

R – Bom dia.

P/1 – Eu queria agradecer em nome da Kinross e do Museu da Pessoa a sua participação. Essa recebida aqui, tão acolhedora. Você foi super acolhedora, neste lugar tão lindo. E eu queria que começasse dizendo seu nome, local e data de nascimento.

R – É Luciene Ulhôa Faria eu sou de Paracatu, Minas [Gerais], e tenho 44 anos. A data de nascimento é 18 de abril de 1973.

P/1 – E qual o nome dos seus pais e atividade deles?

R – É, meu pai é Pedro Faria, fazendeiro a vida toda. E minha mãe, Miriam Botelho Ulhôa Faria, ela foi professora muitos anos, tanto em Escola Municipal, estadual, como no Colégio Dom Elizeu [Van de Weijer], e depois veio a se tornar funcionária do Banco do Brasil e hoje é aposentada.

P/1 – E seu pai, a fazenda era do que? Era gado? O que era a fazenda dele?

R – Essas fazendas de antigamente que tinha um pouquinho de tudo. Tinha gado leiteiro e um pouco de plantação, mas muito pouco, mais era gado de leite.

P/1 – E o nome dos seus avós, por parte de pai e por parte de mãe?

R – Por parte de pai, vó Nininha e meu avô que era Joãozinho também mexiam com fazenda. A vida toda mexendo com fazenda os dois. E por parte de mãe, que a gente acaba tendo mais ligação pelo lado da mãe, é Joana Botelho e Aclineo Ulhôa. Minha avó é de família tradicional de Paracatu, que hoje tem até o “Entre Ribeiros”, que antigamente era fazenda da minha avó que foi herdada dos pais e tal. E a vida toda ela foi professora e ele mexia com fazenda.

P/1 – E por parte de pai, qual era a origem da família? Qual era o sobrenome da família?

R – O sobrenome é Faria e Lisboa também de Paracatu. Mas nós acabamos não tendo muita afinidade com o lado paterno. Nós acabamos tendo mais com o materno, mais ligação. Acho que isso vem de herança, de anos e anos, acho que em toda família acaba acontecendo isso.

P/1 – E me fala uma coisa Luciene, você contou um pouquinho da origem. Você sabe a origem dos Ulhôa, dos Botelho, se são portugueses, de que origem eles vieram?

R – Eu não sou boa nisso, Márcia. Mas eu acho que é português. Se não me engano Ulhôa, não sei se é português ou espanhol.

P/1 – Mas seus avós não comentavam nada?

R – Nada. Acho que não tenho essa lembrança não.

P/1 – E me fala uma coisa, você tem irmãos?

R – Tenho.

P/1 – Em quantos vocês são?

R – Nós somos 4.

P/1 – E nessa escadinha onde você está?

R – Eu sou a primeira.

P/1 – A você é a mais velha...

R – Eu sou a mais velha...

P/1 – E como é o nome dos seus irmãos?

R – É o Guilherme, Melissa e Priscila que é a caçulinha.

P/1 – E a Priscila tem quantos anos?

R – Priscila é dez anos mais nova que eu. Eu tenho 44, ela está com 34.

P/1 – E qual é a atividade deles, eles moram todos em Paracatu?

R – Todos moram em Paracatu. Todos. A família inteira. É, um é fisioterapeuta, que é a Melissa. Priscila é educadora física e nutricionista e ela trabalha lá na academia comigo, ela é coordenadora geral da academia hoje. E Guilherme é veterinário e mexe com fazenda também com o meu pai.

P/1 – Eu queria que você falasse um pouquinho da sua infância, onde você nasceu, se você nasceu realmente na fazenda ou na cidade de Paracatu. E contar um pouquinho como era a sua casa de infância.

R – É, a gente tem muita lembrança da casa da minha avó, que onde hoje é a academia, mas eu nasci em Belo Horizonte. Fui lá só para nascer e voltei, é a mesma coisa de não ter nascido lá. Mas fui criada primeiro na fazenda, meu pai tinha fazenda, aí a gente morou acho que 1 ano na fazenda e depois nós fomos para a cidade. E, é a lembrança maior mesmo que eu tenho desta época de infância, como a gente era muito ligado a família da minha avó materna, eram os dias que a gente passava lá, os primos todos juntos, era uma farra só ali. Toda no entorno do núcleo histórico de Paracatu, eu morava na porta, na frente do Dom Elizeu e a casa da minha avó era o que? A dois quarteirões dali. Então era aquele zanga-zanga de primo, de tio, da família toda. E os doces de Dona Joaninha, as quitandas dela, o biscoitinho de queijo: o melhor que existia, pão de queijo. Aí gente! Tem que falar de vó assim! (risos)

P/1 – E como era essa coisa de viver na casa da avó, as portas eram abertas? Eu queria que você contasse um pouquinho como era o cotidiano nesta casa, você estava falando dos quitutes, eu queria que você contasse para nós um pouquinho como é que era.

R – Bom. Eu lembro que era do lado do Jockey Club de Paracatu, que tinha os carnavais da cidade e hoje é a Câmara Municipal. E ali tinha concurso de fantasias, minhas tias participavam dos blocos, não sei o que e tal, fotos e mais fotos nossas lá, e eu acabei entrando nessa onda de participar de concursos. Eu acho que por causa delas, eu acabei sendo levada para este lado, né. E era na esquina, a gente tinha muito essa ligação ali com o Jockey Club, a quadra era do lado e depois tinha a casa da minha avó, e tinha muita festa na casa da minha avó. Tudo acontecia lá, né: Aniversário, festa de dia das mães, dia dos pais, Natal e a gente acabava envolvendo muito ali. Então era isso.

P/1 – Você falou um pouquinho das brincadeiras. Que brincadeiras que vocês mais gostavam, que você mais gostava? Como era essa coisa de brincar com seus primos? Eu queria que você contasse um pouquinho para a gente.

R – Antigamente, tinha muito queimada na rua, brincar de bilóca no quintal da casa, subir em arvore, correr em muro, andar de bicicleta, tinha a praia. Antigamente ali perto da casa da minha avó, ali no Santana, depois do Santana, tinha a praia, não sei se vocês já ouviram alguma história de lá, e a gente ia para lá para nadar, e a turma toda ia de bicicleta para lá, nadava e voltava, as vezes iam escondidos dos pais que as vezes não deixavam, e todo mundo querendo essa bagunça toda. Era muito bom isso, eu tenho uma lembrança muito boa dessa época.

P/1 – E na época que vocês iam para o rio, nadar nessa prainha, como era o nome dessa prainha, você lembra?

R – Não, não... Prainha, não tinha nome assim.

P/1 – Quem mais frequentava a prainha, você lembra de outras crianças fora o grupo de vocês, tinha lavadeiras, como é que era?

R – Tinha. Tinha lavadeiras. Paracatu inteiro praticamente ia lá, porque era um local que servia para todo mundo: brincar, passear, as vezes ia fazer picnic, ao mesmo tempo tinha o pessoal lavando roupa ali, as lavadeiras. A criançada ia em peso, as famílias iam, era muito bacana e hoje em dia já não existe isso mais, acabou isso.



P/1 – E você chegou a ver alguém garimpando na praia alguma vez ou não?

R – Não, na minha infância não. Não. Lá nesse lugar não, mas eu sei que já existia em outros lugares, mas eu não cheguei a ver isso.

P/1 – E dessas brincadeiras todas, como era o cotidiano na casa, vocês almoçavam na casa da sua avó, almoçavam em casa? Como era essa coisa do cotidiano?

R – Almoçávamos na casa da avó depois lanchava em casa e ia jantar na casa da tia porque era tudo no entorno ali, né. Morava minha avó, minha mãe, uma tia, uma outra tia então a gente acaba fazendo via sacra (risos). Cada hora estava na casa de um, mas sempre tentando fugir para a casa dela.

P/1 – Sua avó contava histórias? Você tinha momentos dela sentar com os netos e contar histórias? Você tem alguma história que sua avó contava que você achava que era...

R – Não, ela não nunca foi de sentar e contar história não, acho que o tempo dela. Ela tinha 8 filhos, né, e ela tinha um filho com problema e tal, então o tempo dela era meio restrito e o tempo que ela tinha livre, ela gostava mesmo era de ir para cozinha e fazer as comidinhas dela. Então ela não tinha muito isso de a gente sentar para contar história, essa parte eu não lembro muito.

P/1 – E você estava comentando um pouco a questão dos quitutes, o que mais você gostava de comer que ela fazia. Que memória que remete para você essa fase?

R – (risos). Tudo. Doce: papa fina, é, doce de ovos, ela fazia o doce mais bobo do mundo, mas o dela era diferente, que é montanha russa que é com gelatina. Os biscoitinhos, né, que eu falei, pão de queijo, biscoito, bolo. Se você chegasse na casa dela e não comesse nada era uma desfeita. Tinha que chegar e tinha que comer as comidinhas dela.

P/1 – E você comentou um pouco do Natal. Eu queria que você contasse um pouco como era o Natal na casa da avó. Como que era essa festa? Eu queria que você descrevesse um pouco como é que era, se vocês chegavam cedo, se tinha a ceia, conta um pouco...

R – Nossa, era todo mundo arrumando. Sabe aquela família que cada um faz um pouquinho? Juntava todo mundo, aí uns ficavam com a decoração e os outros iam para a cozinha, nãnãnã nãnãnã, não sei o que, e aí a gente ia e fazia. O Natal era o dia inteiro arrumando a festa e na hora que chegava a noite você já estava morta, mas você ia. (risos) E tinha Papai Noel, amigo oculto, sabe? Era uma família muito grande, que são 8 irmãos, aí você pensa 8 irmãos mais os enteados e filhos e tal então era uma família bem grande e animada, por sinal.

P/1 – E você contou um pouquinho para a gente essa coisa de estar do lado do Jockey Club. Como é que era conviver com o Jockey Club perto. Como ele era? Se a corrida era de obstáculo, era corrida de...

R – Não, não. O Jockey Club de cavalo era longe, não era ali pertinho. Ali perto era o salão. Que antigamente não existia o salão lá em cima, né. E lá em cima existia o que? Só o Clube mesmo, as piscinas e a pista de corrida, essa parte. E o salão social era ali onde é a Câmara Municipal. Que é onde acontecia os bailes, onde acontecia o carnaval, réveillon, tudo acontecia ali.

P/1 – E quando você era pequena, você participava de carnaval também, você ia na matinê?

R – Ia. Participava. Participava de concurso, fazia fantasia, pegava as fantasias das minhas tias, reformava para mim e eu ia e eu ia concorrer eu sempre gostei dessa mexida. (risos).

P/1 – E me fala uma coisa Luciene, qual é a sua primeira lembrança de escola? Eu queria que você falasse um pouquinho da primeira escola que você estudou.

R – Eu estudei primeiro no Pingo de Gente com Lana, que era Jardim de Infância, e eu tenho muito poucas lembranças eu acho que era pequena demais. Depois, foi a [Escol Estadual] Afonso Arinos, não sei se vocês tiveram o prazer, porque eu falo que aquela Escola é maravilhosa, Afonso Arinos, para mim assim é uma das edificações mais belas que nós temos em Paracatu é a Afonso Arinos, principalmente à noite. Eu estudei lá, todas as quadrilhas. Eu fiz a primeira, segunda, terceira e quarta série lá, depois que eu fui para o Dom Elizeu. Então assim, eu tenho só lembranças boas daquilo ali, das peças que a gente montava de Teatro desde aquela época, de quadrilha, das professoras, a escola era muito gostosa, muito boa.

P/1 – E na época em que você estudou, quem era a diretora?

R – Era a Dona Coraci.

P/1 – Ah é? E como ela era?

R – Nossa ela era brava de um tanto (risos)

P/1 – Ela era muito brava?

R – Todo mundo morria de medo de Dona Coraci. Hoje não, hoje é uma gracinha, né.

P/1 – E ela tinha uma interação com os alunos, como é que era um pouco essa coisa?

R – Não, eu acho que essa coisa de diretor é meio você está aí e eu estou aqui. Tem meio, afastado. Agora com as professoras, tinha muita interação com professores, né.

P/1 – E tem algum professor deste primeiro ao quarto ano que te marcou e porquê?

R – Nossa, tinha a Núbia, é até Faria. É parente minha mais longe, não sei, acho que pelo carisma dela, a delicadeza, muito tranquila, eu sempre fui muito afobada, então assim, não sei, isso de repente me chamou mais atenção.

P/1 – E como é que era o cotidiano da Escola? Vocês chegavam, tinha uniforme, fazia fila para entrar na classe, cantava o hino nacional?

R – Tinha. Tinha sainha pregueadinha azul marinho. Não era sainha, era a saia com aquela parte aqui, camisa branca, meia, sapatinho preto, era tudo nos trinques (risos). E tinha, a gente ia lá, tinha o hino nacional todo dia antes, rezava, antigamente tinha isso nas escolas, tinha muita apresentação voltada para a igreja também. Era muito interessante.

P/1 – E tinha fanfarra nessa Escola?

R – Tinha.

P/1 – E você chegou a tocar?

R – Tocar não, mas eu era baliza (risos).

P/1 – Explica para a gente o que era a baliza.

R – A baliza é essa parte de ginástica que a gente faz. Dar estrelinha, dar mortal, essa parte artística. Aí eu sempre tomava a frente disso e sempre estava mexendo, coreografando as balizas. Tinha uma turma da baliza e tinha o pessoal da fanfarra.

P/1 – Quando você sai dessa Escola, você vai para que Escola?

R – Paracatu, era Dom Elizeu. Colégio Dom Elizeu.

P/1 – E essa Escola o que tinha de diferente, porque você foi para lá? No Afonso Arinos não tinha a continuidade?

R – No Afonso Arinos, na época, eu não sei hoje como é que está, mas eu acredito que hoje também é só a quarta série, aí depois que a gente ia para o Colégio Dom Elizeu ou então ia para o Estadual, tinham outros colégios na cidade. Mas eu fui para o Dom Elizeu, morava de frente ali do Dom Elizeu e foi ali que dei continuidade.

P/1 – E como foi o Elizeu? Como é que era o Elizeu? O que você sentiu de diferente em relação ao Afonso Arinos, conta um pouquinho para a gente...

R – Na realidade, eu não senti muita diferença, porque o que que acontece? A minha turma toda do Afonso Arinos foi para o Dom Elizeu, então não tinha muita mudança, né. E como estamos em uma cidade pequena, conhecemos muita gente. Então os professores, muitos, a gente já conhecia, não teve uma mudança não.

P/1 – E quem era o diretor da época no Eliseu?

R – Nossa era uma irmã.

P/1 – Era um colégio…

R – Carmelita, brava para danar (risos).

P/1 – E ela, essa irmã carmelita, ela também dava aula ou era só diretora?

R – Não, ela era só diretora. Quem era diretora, normalmente não dava aula não, era só diretora mesmo.

P/1 – E você também tinha uniforme nessa escola ou não?

R – Tinha, mas não era tão. Era um uniforme tradicional que até hoje eu acho que o uniforme hoje é o mesmo. Bermuda de elanca vinho, camiseta branca, era esse uniforme.

P/1 – E tem alguma história que te marcou tanto no Afonso Arinos quanto no outro Colégio que você gostaria de contar para a gente, de alguma coisa que você participou ou que te marcou na escola mesmo, ou fora da sala de aula, alguma atividade, ou mesmo dentro da sala de aula?

R – Sempre, o que sempre me marcou foi essa questão de atividade extra, mais essa parte levada a arte foi o que me atraiu muito. Então, tudo o que tinha em relação a isso eu estava na frente. Peças de Escola eu sempre estava na frente, como eu morava de frente eu escrevia a peça, eu era personagem e eu ensaiava todo mundo e eu montava o cenário. Eu ia lá em casa carregava os móveis nas costas, levava, montava o cenário todinho lá no Dom Elizeu, depois a gente voltava carregando tudo de volta e a mesma coisa quando era uma coisa relacionada a dança. Eu sempre pagava os alunos, os colegas e eu montava tudo. “Ah, vai ter, preciso de uma coreografia para o dia do índio” suponhamos, aí eu juntava lá todo mundo, e eu montava, coreografava, colocava todo mundo lá, ensaiava, arrumava o figurino, ou emprestado ou saia catando as coisas de um ou de outro e montava alguma coisa e assim ia acontecendo. Então assim, o que mais me marcou na época de Escola foram essas atividades.

P/1 – E você lembra de alguma peça que você montou? Sobre o que era a história, conta um pouquinho para a gente dessa, e que personagem você foi, conta um pouquinho desse enredo, dessa história que você montou.

R – Montei várias. Mas uma delas, uma das últimas, foi logo antes de eu casar. Foi relacionada a drogas, eles pediram um trabalho relacionado a drogas. Aí a gente escreveu a peça toda, eu fui uma das personagens lá para variar e foi superbacana o trabalho, né, mas não tem muito.

P/1 – Mas a história o que que era? Algum adolescente drogado?

R – Era, algum adolescente drogado.

P/1 – E aí como era o enredo dessa história, você lembra ou não?

R – Eu não lembro direito, eu só lembro que era relacionado a isso, mas eu não lembro do enredo.

P/1 – Vamos voltar um pouquinho. Quando você estava nessa fase de primário, pré-adolescência, você falou que seus avós tinham fazendas, tanto por parte de pai quanto por parte de mãe. Você frequentava a fazenda? Vocês iam para lá, como é que era?

R – Não. A fazenda do meu avô por parte de mãe era muito longe, e meu avô nunca foi... Ele era fazendeiro, mas ele nunca foi de fazer, ele era, tipo assim, aquela pessoa que herdou muito e que aperta daqui, vende dali e foi só acabando com as coisas. Em compensação, meu avô por parte de pai, tinha fazenda e a gente ia de vez em quando sim, eu lembro que tinha chiqueiro, curral pertinho da casa, chovia muito, sabe? A casinha antiga, tipo aquela que você viu ali de Jaqueline e Zé, só que era de chão batido na época, então eu tenho essa lembrança da fazenda dele, agora a do outro avô, eu nunca fui para falar a verdade, que era o “Entre-Ribeiros”.

P/1 – E a fazenda do seu avô paterno, vocês iam para passar férias, vocês iam para passar dias, como é que era?

R – Era para passar dias, férias, porque antigamente tudo era muito longe, hoje se você for lá é pertinho. Mas antigamente tudo era mais difícil, né, carro para ir, essas coisas todas.

P/1 – E como é que era passar as férias na casa do avô, no sitio do avô? Quem ia? Se iam primos, conta para gente um pouquinho como era.

R – Sempre que ia, ia a família inteira, tem isso. Se um vai, acaba puxando os outros, mas eu lembro muito de férias na fazenda do meu pai. Que era um sobrado a 10 minutinhos de Paracatu a gente estava lá, a gente fazia até caminhada para lá a pé. Ia caminhando, meia horinha de caminhada e tal. Ele teve que vender por causa de assalto. Estava tendo muitos assaltos lá e graças a deus ele vendeu e arrumou uma outra longe. Mas lá nós íamos realmente para passar férias, dava tipo janeiro, em Paracatu chovia muito e a gente ia andar de cavalo na chuva, vinham os primos de fora, tínhamos uns primos de São Paulo que vinham, passavam quase que o mês todo. Aí era época de fazer pamonha, essas coisas que nós fazemos em fazenda. Íamos para o pasto para pegar as coisas para fazer, para catar milho, então assim, tinha muito disso lá no sobrado.

P/1 – E como era essa coisa de se alimentar? Os almoços, jantares com as crianças todas? Vocês se sentavam junto com os adultos, como era, conta um pouquinho para a a gente.

R – Era muito grande a fazenda e a gente acabava tendo a mesa só para as crianças e a mesa para os adultos, sempre separa. E eu lembro muito de frango ao molho pardo, que é o que a gente mais usava aqui na região. Então fazia o angu, fazia o frango ao molho pardo, fazia quiabo, abóbora, então usava muito essa comida nessa época.

P/1 – E conta um pouquinho para a gente, como era Paracatu nessa sua fase de criança e pré-adolescência, descreve um pouco a cidade, como ela era. Você falou que tinha prainha, as pessoas próximas você falou que eram seus familiares, mas quem eram as outras famílias do entorno? Como era o comércio? Eu gostaria que você descreve um pouco como era Paracatu nessa época.

R – Eu acho que Paracatu era bem tranquila em relação a hoje. Hoje, essa criminalidade que está preocupa muito a gente, em Paracatu não existia nada disso, as crianças ficavam soltas na rua, você ia para todo o lado em Paracatu. Crianças de tipo assim, 4, 6 anos... eu ia para casa da minha avó sozinha, para a casa da minha tia, a gente andava a cidade toda e nós nunca tivemos problema. O comércio acho que era bem tranquilo naquela época, era tudo muito restrito, bem menos do que hoje em dia, e não tinha muita gente diferente na cidade. Por mais que você não fosse meu parente, mas era meu conhecido, então isso tinha muito. Em Paracatu, eram pouquíssimas pessoas de fora, aí depois que foi chegando, a cidade foi crescendo e foi aumentando o comércio e tal.

P/2 – Você falou que as crianças tinham fluxo, as crianças e as pessoas todas, tinha fluxo na cidade e tal. Mas geralmente com as crianças, não sei, sempre tem algum limite que os adultos impõem para elas. Você se lembra de algum limite, daquilo que freava ou daquilo que delimitava a sua fruição pela cidade, você podia ir para qualquer canto, mas o que delimitava?

R – A noite. Só à noite (risos). Tipo escureceu é a hora de tomar banho, jantar e dormir. Tirando isso, nós tínhamos essa liberdade de ir para os lugares, às vezes, por exemplo, o Jockey Club, que era um pouco mais longe, com as piscinas, Aí a gente não podia ir sempre, mas tudo o que fazíamos sempre tinha autorização, sempre teve isso. Então: “Posso ir no Jockey? ” Com fulano, fulano, “Pode” ou “Não pode”, era mais a noite, chegava a noite, escureceu: casa, banho, janta, dormir.

P/1 – Você estava contando um pouco da cidade, do comércio, mas tinha uma loja especial, por exemplo, para comprar alimentos? Existia supermercado, ou era Secos e Molhados? Tinha um lugar que só vendia roupa? Eu queria que você falasse um pouco dessas lojas que tinham na época que eram referência para vocês na época.

R – Roupas, antigamente, em Paracatu, não existia boutique, loja; eram mais costureiras, vamos colocar assim, que faziam as roupas. Minha mãe mesmo já teve confecção também, ela que fazia os vestidos, cada vestido lindo que ela fazia na época, de festa para mim e para minhas irmãs, tudo era ela que fazia. Não existia muito esse negócio de roupa pronta. E no comércio eu lembro de vendas, Paracatu tinha muitas vendinhas, nós chamávamos de venda. Ao lado da casa da minha avó onde hoje é um restaurante que foi o pub, ali antes era “Seu Leão”, então um pub e do lado era “Seu Leão”, que era uma venda. E vendia de tudo, vendia um pouco de coisas de limpeza, arroz, feijão, açúcar, bala, aquelas besteiras que criança gosta, aquele suspiro colorido da época que era o auge, aquele suspiro colorido, rosa. Então ali tinha uma vendinha perto, na rua Goiás ali, tinham duas vendas também, inclusive, onde hoje é o Flor de Alecrim, ali era a venda de Seu Zotti, Zotti André, casado com Dona Ivone. Não sei nem se vocês vão entrevistar, mas era uma boa entrevistar a Dona Ivone, agora que eu estou lembrando. Então, tinha a venda dele e várias vendas em Paracatu. Depois teve o supermercado Pilão, eu acho que foi um dos primeiros supermercados da cidade que é em frente, ele era, hoje não existe mais, ele era em frente ao Hospital Municipal.

P/1 – E como era por exemplo farmácia, por exemplo, onde você comprava remédios, quem era a referência, por exemplo, de farmacêutico ou mesmo como médico na cidade, como que era isso a questão da saúde?

R – Farmácia era o Seu Joãozinho, é como vou te explicar, era ali na Rua Goiás, ele não existe mais o prédio, na época a prefeitura é precisou tirar o prédio dali para poder unir a Avenida. Mas era Seu Joãozinho, depois teve Dedé, hoje Dedé ainda existe ali descendo para a academia e é Hospital? Eu lembro muito de uma clínica que tinha na Rua Goiás onde hoje é o Consciência Arte. Ali tinha uma clínica e o Hospital Municipal já devia existir, mas eu nunca fui de ir muito em médicos e tal e tinham também os médicos da família. Eu lembro de Dado, Doutor Romualdo, que a gente ia muito e inclusive a clínica dele era perto da drogaria de Seu Dedé, da farmácia. Então é, mas a clínica era ali onde é o Consciência Arte. Foi o primeiro hospital particular que teve em Paracatu, inclusive, a minha irmã mais nova nasceu ali, aí essa lembrança eu tenho, né.

P/1 – E eu queria que você falasse um pouquinho, você falou de Seu Dedé, tinha alguma coisa assim de referência? Você falou do médico da família, mas também tinha a questão do farmacêutico da família…

R – Tinha. E ele que olhava praticamente, na época, era o médico de todo mundo na cidade. Qualquer coisa que você tinha, antes de ir ao médico você procurava Seu Dedé, aí todo mundo ia lá (risos). Injeção, ele que receitava os remédios para as doenças corriqueiras, do dia a dia. Eu lembro muito nós passando lá antes de ir para fazenda, porque tinha que tomar, eu tomava muito bezetacil, na época por causa de garganta, então passávamos lá, tomávamos os remédios e ia. A procura era maior com ele até do que com o médico. Depois foram chegando os médicos na cidade e daí começaram as clínicas e o hospital. Através dessa clínica, desse mini hospital que teve onde é o Conscienciarte hoje é que eles criaram, montaram o hospital de Paracatu.

P/1 – E você estava contando do Seu Dedé, você se lembra como ele era com as crianças, você se lembra? Ele era uma pessoa mais sisuda ou ele era uma pessoa que era…

R – Ele era bem carismático. Bem carismático, muito gente boa, mas ao mesmo tempo nós morríamos de medo dele por causa das injeções (risos).

P/1 – Sabia que iam para lá para tomar injeção...

R – Sabíamos que ia para lá tomar a tal da bezetacil (risos).

P/1 – Eu queria que você falasse um pouquinho, você contou um pouco da sua infância, de brincar, mas você falou dos bailes e tal. Como era o carnaval em Paracatu? Na fase de adolescência o que vocês faziam para se divertir, porque criança seria para a praia, andava de bicicleta, brincava de pega-pega essas coisas todas, mas como é que era na fase de pré-adolescência, adolescência, o que vocês faziam para se divertir?

R – Bom, o carnaval de Paracatu, ele era muito famoso. Muito. Tinham os blocos de carnaval que aconteciam lá na Rua Goiás, e era uma disputa de blocos, para a época parecia uma escola de samba, aquele tanto de bloco e tal. Eu lembro muito disso, todo mundo vinha de fora, quem morava fora que tinha saído para estudar vinha passar o carnaval aqui, e era aquela festa, o pessoal arrumando. Tinha muito, hoje também tem, como é que chama? As bregas, todo mundo saía nas bregas, meus tios em peso saiam nas bregas...

P/1 – O que eram as bregas?

R – As bregas são os homens vestidos de mulher (risos). Era a família toda ali. Então tinha o dia das bregas e o dia dos blocos de carnaval, e era muito bonito. Eu lembro como se fosse hoje, para mim, um dos mais belos que teve foi o Egito. Aí eles fizeram todas as mulheres de vestido, umas em tom de vermelho, outras em tons de verde. Tinha o carro alegórico com a Cleópatra, era muito bonito essa época o carnaval de Paracatu. E tinha também os concursos no Jockey Club, depois que acabaram os concursos na rua, aí os concursos passaram para o Jockey. Aí já tinha o salão novo, lá em cima, aí a parte de baixo deixou de ser o salão social e foi lá para cima, onde tem as piscinas, e tinham concursos que continuavam assim: bloquinhos menores ou individual, né. Depois que eu saí da infância, porque eu casei muito nova, eu casei com 15 anos, então eu já entrei direto nessa fase junto com as minhas tias. A gente criava fantasia, eu ia para Belo Horizonte e era aquela criação de fantasia, e confeccionando, juntava na casa de uma tia para confeccionar, na casa da minha mãe e assim a gente ia fazendo e ia para o Jockey para concorrer. E assim vários, várias famílias faziam e tinham os concursos.

P/1 – Então tinham os concursos dos blocos e tinha também os concursos de fantasia individual, é isso que eu estou entendendo?

R – Tinha.

P/1 – E você chegou a ganhar algum concurso de fantasia ou não?

R – Eu nunca ganhei (risos) o primeiro lugar. De blocos nós já ganhamos. Nós ganhamos um que nós fizemos, chamava “Paracatu do ouro”, foi bacana até. A roupa toda preta cheia de umas pedras, como se fossem pedras de ouro mesmo, a gente fez de isopor, pregamos na roupa inteira, ficou uma coisa super legal. Tinham umas peneiras, como se fossem uma bateia. E teve esse que nós ganhamos e teve um de africanos também que ganhamos em conjunto.

P/1 – E era a família que fazia o bloco ou tinham amigos também?

R – Era quem quisesse, mas o núcleo, a grande maioria das pessoas eram sobrinhas, minhas primas, e minhas tias e minha mãe.

P/1 – E essa fantasia da África, como era? Conta para a gente como que era essa daí.

R – Tinha um turbante na cabeça, cheia de dentes, cheia de ráfia, era bem bacana. Tudo confecção nossa, a gente que botava a mão na massa e fazia.

P/1 – E como é que eram as marchinhas. Você se lembra de alguma marchinha que tocava, que te marcou dos bailes que você dançou, tem alguma que te marcou pessoalmente?

R – Tem várias marchinhas, mas eu não lembro muito não. Mas tem muitas.

P/1 – Não tem nenhuma assim que você lembra, que você saiba um pedacinho? (risos)

R – Mas cantar aqui não rola não, né (risos). Essa voz (risos).

P/1 – Eu tentei (risos).

P/2 – Os espaços eram demarcados, dos meninos e das meninas, dos homens e das mulheres, você estava falando do espaço do feminino, do figurino e tal, como é que era…

R – Não, ué, tinha tanto os figurinos masculinos como os femininos. Mas o que mais me lembra, por causa das minhas tias, era o feminino. Os dos maridos, namorados delas eu não lembro não. Mas o figurino feminino fica bem marcado, né.

P/1 – E daí você contou para a gente do Jockey Club de cima. Quem frequentava o Jockey Club, as piscinas, o salão. Tinha alguma restrição para as pessoas, só entravam sócios?

R – Só entrava, eu acho que na época, sócios, mas tinham os convites que eram vendidos para não sócios. Eu lembro que tinha um diferencial de preço, quem é sócio paga X e quem é não sócio vai pagar Y.

P/1 – E como a convivência? Quando você começou a me descrever Paracatu nessa fase de infância, pré-adolescência, eu senti uma coisa da integração da comunidade muito grande, como a relação de vocês com as pessoas que trabalhavam para as famílias, e que talvez morassem um pouco mais afastado? Tinha uma relação com os filhos dos empregados, vocês brincavam? Como é que era isso?

R – Era tudo muito junto e misturado. Não existia, na cabeça nossa, não sei na deles, mas não existia uma separação. A gente sempre foi de trazer para perto todo mundo que trabalhava com a família. Antigamente, tinha muito das pessoas que trabalhavam com a família morarem na mesma casa. Isso criava uma amizade muito grande, na época também do meu pai com a fazenda que a gente ia, meus amigos eram os filhos dos vaqueiros. E eu ia para a casa deles, eles iam lá para casa, então tinha muito essa integração.

P/1 – E tem algum amigo dessa fase sua da pré infância, da infância, da pré-adolescência que te marcou muito? Tanto um menino quanto uma menina e porque te marcou?

R – Nossa Senhora! Tem várias amigas da época da infância (risos). E todas ainda são muito próximas. Uma delas é Dália. Dália é da minha idade, morava perto lá de casa, ela morava ali, mora até hoje ali na Rua Goiás, então é bem próximo de onde eu morava. Tem Luciara, que morava do lado da casa de Dália, filha de Dona Marlene e Antônio Botelho, que era como se fosse minha irmã, a melhor aluna da sala, toda princesinha (risos), ela sempre foi assim. Tem várias. Tem Érika, filha de Branca Botelho e Seu Zé Borges, hoje ela não mora em Paracatu, ela mora em Brasília. Nossa tem gente demais, Soninha não sei o que, Luciana e vai lembrando, tem milhões.

P/1 – Como que eram, por exemplo, as festas tradicionais da cidade? A gente quando começou a olhar um pouco deste universo da história de Paracatu, percebeu que tem a Festa de São Benedito, Santo Antônio, que estão um pouco ligadas as festas juninas, mas também tinha a festa de Reis, então como eram essas festas e como vocês participavam? Como vocês se inseriam?

R – Essa parte de Folia de Reis, essas festas, eu não tive contato. Elder vai saber falar mais do que eu porque o pai dele era até folião. Agora as barraquinhas, festas juninas sempre, tudo o que era relacionado a igreja, pela família ser muito católica, principalmente a avó, que é ela que manda, a gente tinha muito esse contato. Então, tudo o que era relacionado a Igreja nós estávamos junto, que era São Benedito, Santo Antônio e as quadrilhas, as festas juninas que tinham na cidade, isso tudo a gente estava muito presentes e isso ainda é forte em Paracatu se você for olhar. Tanto a barraquinha de São Benedito, como a de Santo Antônio é uma competição as duas ainda. A de Santo Antônio teve ela agora e a de São Benedito em seguida, que é ali da Igreja do Rosário. Nossa vocês não têm noção o quanto é linda a de São Benedito, vocês vão pegar ela agora. Maravilhosa. Eles fazem uma decoração, sabe? Muito bem organizada, hoje em dia, antigamente era, eu dava, suponhamos, você dava uma farofa, dava um caldo e a gente ia criando a barraquinha. Hoje em dia já é uma coisa muito bem estruturada, ainda conserva um pouquinho do que foi, mas é assim grandioso, né.

P/1 – E como era participar, vocês ajudavam nas barraquinhas para arrecadar dinheiro, participavam das quadrilhas, como é que era isso?

R – A gente saía pedindo né (risos).

P/1 – Ah é? Me conte.

R – Uai! Você pode dar um frango? Você dá um frango. Você pode dar um leitão? Você dá um leitão. Você pode dar uma farofa? Você dá uma farofa, arroz carreteiro. A gente saía realmente pedindo, todo mundo. Saía o pessoal de casa, saía os vizinhos e ia juntando as coisas para vender na barraquinha para ajudar a igreja.

P/1 – E tudo isso que era arrecadado revertia para a igreja?

R – Era.

P/1 – E quem administrava esse dinheiro e era feito o que eu com isso?

R – Aí eu não sei, eu não sei (risos).

P/1 – Eu achei muito interessante que você disse que quando você era pequena, você era muito ligada às questões das danças, do teatro. Você chegou a fazer algum curso de dança? Algum curso de teatro que pudesse ter aqui em Paracatu, como é que foi?

R – Tudo o que tinha aqui eu estava fazendo, né. Mas era coisa de escola mesmo. Os professores da escola que direcionavam e eu ia criando, sei lá de onde que iam aparecendo as ideias, mas tudo era direcionado pelos professores de escola. Aí depois veio a Paracatu a primeira escola de dança que foi de uma carioca, Ana carioca, aí ela trouxe o jazz para Paracatu, aí eu fui fazer jazz com a Ana carioca. Depois veio Joyce Mara, só que antes disso tudo tinha a Dona Tereza esposa de Biruca. Dona Tereza era da ginastica, ela dava ginastica aeróbica e tal, depois veio a Ana carioca, e depois veio a Joyce, Joyce Mara. Joyce Mara trouxe sapateado, balé e jazz para a cidade e eu fui aluna delas todas, chegou a um ponto de eu fazer as três aulas ao mesmo tempo. Então fazia a aula com uma, aula com a outra e aula com a outra. Então, eu sempre fui muito da prática.

P/1 – E você falou uma coisa para a gente que, até por você ser nova, me surpreendeu muito você ter casado aos 15 anos. Eu queria que você nos contasse como você conheceu o Elder e como foi isso.

R – Bom, ele é meu primo. (risos).

P/1 – Vamos entender essa história.

R – É. Ulhôa, Ulhôa ao quadrado né. Então por ser primo já era primo então já tinha essa conivência e foi aparecendo.

P/1 – E aí vocês começaram a paquerar (risos).

R – Aí começamos a namorar.

P/1 – E daí vocês namoraram quanto tempo?

R – Eu namorei um ano e pouco e logo em seguida casei.

P/1 – E como é que foi casar com tão pouca idade? Como é que seus pais reagiram a isso? Conte um pouquinho para gente.

R – Fui um susto no início, mas aceitaram bem. E graças a deus deu certo, já são quase 30 anos, 29 anos.

P/1 – E me conta uma coisa, a decisão de casar foi porque você queria? E como foi a coisa da continuidade dos estudos, conta um pouquinho para a gente sobre isso.

R – Bom, eu já estava gravida. Eu casei gravida, mas antes de engravidar eu já estava noiva. No meu aniversário de 15 anos eu fiquei noiva e, logo em seguida, engravidei e a gente casou. Eu andei parando os estudos e depois voltei até terminar. Teve uma época que eu fui trabalhar com ele na madeireira e depois eu iniciei a mexida minha nessa área de academia, né. A vida toda eu sempre estive dentro de uma academia, ou fazendo como aluna ou trabalhando como professora, né, e depois eu já comprei a academia, que era de uma professora minha de Patos que estava se mudando da cidade, ela estava indo embora e me ofereceu e eu, na hora, era meu sonho, né, eu falei: “Vamos comprar! ”.

P/1 – Quando você casou, você foi morar onde Luciene?

R – Nós fomos morar em um apartamento perto da casa da mãe dele. Era um prédio da mãe dele que ela estava terminando, aí nós moramos lá uns 8 anos eu acho até terminar a construção do nosso.

P/1 – E como é que é? Você falou que você parou um tempo, fui logo, acho, que depois que a tua filha nasceu, mas você continuou fazendo academia, você continuou...

R – É eu nunca parei. Com essa parte de academia eu nunca parei. Nunca consegui parar (risos).

P/1 – Você falou que deu aula também, você deu aula de quê? Conta um pouquinho.

R – Eu dava aula de dança e de ginastica coletiva, para essa professora minha que era dona da academia. Eu dava aula de dança do ventre, dava aula de jazz, dava aula, na época de GAP que é Glúteo, Abdome e Perna que é ginastica localizada e um pouquinho de aeróbica.

P/1 – Você já tinha uma paixão e tal, mas era uma coisa que você gostaria de ser, era o que você queria fazer.

R – É eu tinha a prática da vida toda, né, e eu fui direcionando isso.

P/1 – E como surgiu a oportunidade de você dar aula? Conta um pouquinho para a gente.

R – Faltou professor na cidade e eu era uma das alunas de ponta dela, aí ela foi e me convidou: “Luciene, estou precisando de uma professora, você quer assumir uma turma? ” Aí eu falei: “Beleza. Vou assumir. ” Corri atrás, consegui pegar essa turma. A mesma coisa aconteceu, quando foi a dança do ventre. A professora dela estava indo embora, ela me propôs, eu comecei a estudar dança do ventre, eu saía daqui, ia para Patos [de Minas, MG], pegava aula particular, voltava e ia, vinha. Aí comecei a dar as aulas, foi surgindo assim.

P/1 – E como foi conciliar ser mãe jovem, quantos anos tinha a sua filha quando você começou?

R – Eu acho que Sarah tinha uns cinco anos, seis anos e Ana tinha uns dois. Acho que Sarah tinha seis e Ana tinha dois, porque eu lembro que eu levava elas, botava elas no colchonete, e elas dormiam no colchonete e eu dando aula.

P/1 – E como que foi se ver professora de uma coisa que você gostava tanto de fazer?

R – Foi ótimo, foi uma das melhores coisas, das melhores experiências, porque é uma coisa que você almeja, e daí de repente você conseguir aquilo. Para mim, foi muito gratificante.

P/1 – E você tinha ideia de fazer faculdade ou não? Como que foi isso?

R – Tinha, mas, Paracatu na época não tinha o curso de Educação Física. E a academia foi crescendo, foi crescendo, e eu já era proprietária, minha mãe era minha sócia, e começou a crescer, crescer a academia, e aí onde hoje é a academia, ela não era lá, ela era em outro lugar e eu pagava aluguel. Ali era a casa da minha avó que estava alugada para um salão, e aí um belo dia este salão pegou fogo. E minha avó precisava do aluguel da casa para comer, para sobreviver, para manter a casa dela, foi quando Elder entrou e falou assim: “Olha, então, compra a casa da sua avó”, “Mas eu não tenho dinheiro para comprar”, aí ele falou: “ Então vamos fazer o seguinte, faz essa proposta para ela. Você vai pagar a ela, os juros, e o capital vai ficar, porque você precisa, nós precisamos de financiamento, para arrumar o local”. Aí arrumar que nada, foi tudo para o chão, porque não sobrou nenhuma parede, na época. Nós fizemos tudo e assim foi, então eu pagava a ela os juros, que na realidade, na época era justamente o valor do aluguel que ela precisava, e o capital depois que eu estivesse com tudo construído eu iria fazer um outro financiamento para pagar o capital. E assim foi feito. Ele fez a negociação para mim, para minha mãe e nós conseguimos levantar a academia. Na época, era o que, duas salas e a recepção, e um cantinho, um quadradinho que eu vendia as roupas de ginástica. E assim foi feito, é nós conseguimos pagar a minha avó o capital, pagamos juros um bom tempo, o tempo que ela precisou nós pagamos os juros, e assim foi crescendo a academia.

P/1 – Vamos voltar um pouquinho. Você falou que você entrou de sócia, você acabou comprando...

R – Na realidade, eu não tinha condição de comprar, a minha mãe comprou. Minha mãe comprou e eu fui trabalhar, ela entrou com o dinheiro e eu com o trabalho.

P/1 – Da sua ex professora.

R – É.

P/1 – E ela acabou desistindo, ela acabou oferendo para vocês porquê?

R – Porque ela ia mudar de Paracatu, ela não era de Paracatu ela era de Patos. E o marido dela é do Espirito Santo, e eles estavam voltando para o Espirito Santo foi quando ela me fez a proposta, porque ela sabia que eu tinha vontade.

P/1 – E aí a sua mãe acabou comprando e você ficou quanto tempo com a academia neste local? Você lembra antes de ir para a casa da sua avó?

R – Nós ficamos quatro anos? Foi, quatro anos.

P/1 – E o que é que tinha na academia, aulas do que?

R – Tinha dança, na época tinha jazz, não tinha balé, não existia professora de balé clássico na cidade. Tinha jazz, tinha infantil, adulto e adolescente. Tinha dança do ventre infantil e adulto e tinha ginastica coletiva. Quando eu comprei dela tinha isso. Na época começou o boom dos bodys: body pump, body combat, body balance e tarara. O primeiro ano meu eu já coloquei, que é uma franquia, até hoje eu tenho essa franquia na academia, são seis modalidades franqueadas pela Body Sistems no Brasil, mas essa franquia é da Les Mills na Nova Zelândia, até hoje eu tenho essas aulas na academia.

P/1 – E quem dava essas aulas? Você administrava no começo e você também dava aula?

R – No começo, eu fazia de tudo (risos). Eu fazia de tudo, eu limpava a academia, tinha uma lanchonetezinha pequenininha e eu cuidava, eu vendia as roupas, eu dava aula, eu trabalhava como secretária, eu fazia de tudo lá dentro. Tinham outros professores junto? Tinha. Depois, nós fomos tendo que contratar, então contratamos secretária, e foi aparecendo. Tem um professor que está comigo até hoje que é casado com minha irmã mais nova com Priscila, que é o Fred. Ele foi o meu primeiro professor lá dentro, né, e que está até hoje.

P/1 – E como é que foi ir para a casa da sua avó e pôr a academia lá, né? E como que sua avó viu isso também?

R – Era uma coisa que, ou ela vendia para mim ou ela vendia para outra pessoa, né. E lógico que ela queria que ficasse na mão da família, porque a casa do lado de onde ela morava também tinha sido dela, e aí já era de outra pessoa, e hoje ela já voltou para família. Hoje, a academia á ocupou essa segunda casa. Mas o que que acontece? É lógico que ela queria que ficasse na mão de alguém da família e graças a Deus ficou, tanto que nós fizemos o aniversário dela de 80 anos, foi um pouco antes dela morrer, foi lá na academia. Nós fechamos um sábado e fizemos a festa dela de 80 anos lá, no salão maior da academia e tal, foi uma festa surpresa ela adorou.

P/1 – E aí quando vocês reformam a casa, a ideia foi trazer de novo essa questão... Vocês já podiam construir em outro estilo?

R – Na época, não tinha ainda tombado. Então, a minha primeira reforma lá, eu não tive esse problema, mesmo porque a casa praticamente foi para o chão no dia que pegou fogo. E daí nós refizemos tudo, então não tinha esse problema. Começou a ter problema de patrimônio, na última reforma, tanto que até o vidro que tinha lá eu tive que deixar, naquela segunda edificação do lado onde é a recepção, porque eu queria colocar essa janela, eu queria colocar aqueles castilhoszinho com vidro, que é o que eu tenho do outro lado, mas eles não deixaram então está lá o vidrão de Blindex, que acho que não tem nada a ver, mas eles falaram que tem que manter.

P/1 – A ideia de construir no estilo que era foi sua mesmo, porque a casa da sua avó, pelo que podemos ver de fora, manteve um pouco o estilo da época?

R – Não a casa é totalmente diferente.

P/1 – Olha que interessante.

R – Totalmente diferente. Se pegar a fachada do que era a casa da minha avó e o que é hoje não tem nada a ver uma coisa com a outra. Na época, como ainda não tinha essa questão de patrimônio, foi liberado, eu fiz dois pavimentos e lá não era dois pavimentos. Mas a ideia principal foi de Elder, porque nós já tínhamos isso aqui. Já tinha esse sonho de resgatar essas construções que ele gosta muito. E aí foi, apareceu.

P/1 – E quem fez a reforma para você naquela época?

R – A primeira reforma foi Max da Agroengenharia, a primeira construção.

P/1 – E o projeto também foi feito por ele?

R – Foi, foi feito por ele. Depois, eu já tive três reformas lá, três ampliações e a segunda também foi com ele e tal. E teve uma que Dália que entrou, que foi a última, para me ajudar na parte interna, foi mais interno.

P/1 – E conta um pouquinho para a gente como você viu esse crescimento da academia? O que permitiu que a coisa tomasse à proporção que tem hoje? Eu queria que você falasse, eu achei interessante você ter ido em busca dessa franquia, que é australiana, dos bodies e tal. Eu queria que você falasse um pouco, como é que você foi atrás, como é que se deu isso?

R – A franquia foi porque estava acontecendo no Brasil, várias academias que acabaram aderindo a essas modalidades e que deu muito certo porque ela dá um treinamento muito bom para os professores, são aulas pré coreografadas. Então a academia foi crescendo, não sei, se foi pela necessidade da cidade, pela carência da cidade em relação a isso porque na época tinha uma academia só na cidade que era só de musculação e eu comecei a agregar modalidades, não só a musculação. Eu trouxe a musculação, foi a minha terceira modalidade, primeiro foi dança, depois foi ginastica coletiva, luta e a quarta modalidade que eu trouxe que foi a musculação. E eu acredito muito, que se nós fazemos o que gostamos não tem como dar errado, entendeu?! Então eu gosto muito do que eu faço.

P/1 – E que lutas você trouxe? Você disse que a terceira modalidade foi lutas, que lutas você trouxe?

R – Na época, foi capoeira e jiu-jitsu, que hoje eu nem tenho mais nenhuma das duas disciplinas na academia. Hoje eu tenho judô e muay thai, mas na época o boom na cidade de lutas era a capoeira, aí eu levei a capoeira para dentro da academia, hoje não tem mais essa procura.

P/1 – E quem dava aula de capoeira para você?

R – Osvaldinho ele foi até vereador, filho de Chico Banha e tal. Ele era um excelente professor de capoeira, ele ainda dá aulas de capoeira tem alguns projetos na cidade.

P/1 – E conta um pouquinho, o que você foi agregando? Como foi o crescimento dela, também porque hoje você está em dois espaços conjugados.

R – É. Então na área de dança, e comecei a trazer professores de fora, porque a gente não tinha profissionais. E chegou um ponto que ou você administra ou você dá aula. Eu tive que largar essa parte de aula e contratar professores e começar a administrar o meu negócio. Eu comecei a trazer professores de balé clássico, e tem uma parceria com uma Escola de Belo Horizonte é a Compasso, que é uma escola mais antiga de balé clássico, tem uma formação muito boa, inclusive eles exportam muitos bailarinos para o exterior e nós temos essa parceria. Uma vez ao ano, durante o segundo semestre, não é uma vez ao ano é durante o segundo semestre, eles estão aqui na Corpus, para montar os espetáculos de dança da Corpus. Nós montamos os espetáculos, e no final do ano são os espetáculos de dança, no meio do ano eu faço só um encerramento com o trabalho desenvolvido pelos professores e alunos e no final do ano nós agregamos mais um pouquinho trazendo esse pessoal de fora. Aí eu comecei a trazer, professores, profissionais de fora. Contratei professora de Jundiaí para vim para aqui, morar aqui, trabalhar aqui. Já tivemos professores de Belo Horizonte, morando e trabalhando em Paracatu, Praia Grande (SP), Patos de Minas, Governador Valadares (MG), então sempre tem professores de fora atuando na área de dança dentro da academia.

P/1 – E que tipos de dança você tem hoje na academia?

R – Balé clássico, que esse a gente não pode ficar sem porque a base da dança está aí, é o balé. Tenho jazz, dança contemporânea e sapateado irlandês. E a dança do ventre, nós paramos esse ano porque a minha professora ganhou neném, mas o ano que vem já está de volta.

P/1 – E eu queria que você contasse para mim como foi largar ser professora, que é uma coisa que brilha seus olhos, para administrar, como é que foi isso?

R – Administrar é uma coisa que continua brilhando os olhos. E você administrar uma coisa que você já tem prática do que você pegar uma coisa que você não tem prática naquilo e começar a administrar eu acho que é meio complicado. Então eu tive muita facilidade porque eu já tinha, já dominava aquele trabalho então foi mais fácil.

P/1 – E você falou que vai buscando professores de fora, como é que você faz essa pesquisa, como você olha para o mercado da dança, da academia? Eu queria que você falasse um pouquinho sobre isso, como é que você vai trazendo coisas novas?

R – Nós estamos sempre dentro de concursos de dança fora, que seja em Belo Horizonte, que seja em São Paulo, que seja em Brasília, Araxá (MG), Varginha (MG), então todo ano eu viajo com os alunos em busca de conhecimento e também proporcionando a esses alunos esse contato com outros bailarinos, outros profissionais e através disso você acaba criando muitas amizades, ter muitas amizades, é assim é meio que uma comunidade a dança, você faz muitas amizades e através dessas amizades você começa a conhecer profissionais e começa a trazer esses profissionais.

P/1 – Eu queria que você falasse um pouquinho, você falou muito dos festivais. Como foi a ideia de fazer os festivais na cidade, como é que você estruturou eles, conta um pouquinho para gente como é que eles começaram.

R – Bom nós vamos ter que voltar lá atrás. Porque na realidade, a Carla Natali, que foi de quem eu comprei a academia, ela é de Patos e quem trouxe ela para Paracatu foi a Lúcia Queiroz, que ela é dona da academia Lúcia Queiroz em Patos até hoje. E a Lúcia desenvolvia esse trabalho lá em Patos. Quando ela trouxe para Paracatu, ela continuou com esse trabalho então todo o final de ano, para encerrar, tinha o festival de dança. E eu peguei isso com a Carla e dei continuidade. Nós fomos aumentando, lógico aumenta a modalidade, aumenta a quantidade de alunos, local. O primeiro festival que eu fiz, eu fiz uma pirâmide do Egito desse tamanhozinho de papelão (risos). Nós não tínhamos uma visão, estava começando, hoje os cenários já são grandiosos. Então nós fomos crescendo e aprendendo.

P/1 – Você falou que tem o festival do meio do ano e o festival final do ano. Quem são seus parceiros, quem monta esses cenários, conta um pouquinho para a gente.

R – Parceiros é muito difícil, nós não temos, infelizmente. Tem algumas empresas da cidade onde você arruma um patrocínio, e quem mexe nessa área sabe o tanto que é difícil, o gasto é muito elevado. Infelizmente, a Prefeitura não, o que eu acho um absurdo porque nós temos duas escolas de dança aqui em Paracatu e a Prefeitura não ajuda essas duas escolas. Eu destino bolsas para as crianças da escola pública da cidade, sei que a outra escola também faz esse trabalho, então o mínimo que a Prefeitura poderia fazer era arrumar o mínimo para nós, só luz e palco, mas nem isso conseguimos. Então, dá onde aparece a verba eu não sei sabe, vai pingando, pingando, pingando até nós conseguirmos fazer o evento que não é barato. Em um festival de dança a gente gasta 50.000 para fazer um festival de dança, com a portaria de dezoito reais, vinte reais por pessoa e nós não conseguimos levar muita gente, sem contar que o local hoje são só 500 pessoas por dia, então você tem que fazer 2 dias para ver se consegue arrecadar mais um pouco e tal. Se não fossem as empresas que nós temos essa parceria seria realmente difícil. Eu tenho essa facilidade porque Elder mexe com madeireira, então muita coisa de cenário ele me ajuda, e ele tem muitos contatos de empresas que as vezes acabam me patrocinando em função dele, assim nós conseguimos uma verba para poder arcar com parte do festival.

P/1 – E comentou um pouco conosco que você tem esse trabalho, esse projeto social com alunos de escola pública de Paracatu. Como é que você faz isso? Quando surgiu essa ideia e porque surgiu a ideia?

R – Há muitos anos, foi logo que estava começando o Conscienciarte na cidade, eles me procuraram para levar alguns alunos para fazer aula. Aí eu falei assim: “ Olha, são alunos carentes, então eu vou dar bolsa”, dei a bolsa para eles no primeiro ano. E realmente eram alunos muito talentosos, um deles hoje é dançarino, bailarino da banda “Emanuelle e banda” que é Marcão, aí tem uma outra que foi até fazer curso fora, estava em Portugal estudando e foi através da Conscienciarte. Eu tive muitos alunos que viram dessa época e foi, sei lá, foi aparecendo, foi surgindo as ideias na minha cabeça. Aí eu falei assim: “Olha eu vou fazer uma audição para as escolas públicas da cidade, destinando bolsas”. Aí no primeiro ano eu fiz essa audição, o primeiro ano nem tinha taxa de participação, depois que eu coloquei a taxa porque eu comecei a ver que não adiantava simplesmente eu dar a bolsa, porque a ideia era pegar aquele aluno e realmente trazer ele para o balé. Era ele ter realmente tudo o que o Balé pode proporcionar para todos, não só para aquela criança que tem condições no final do ano de pagar um figurino para dançar no festival e precisava dançar no festival também, eu não podia simplesmente deixar ele fazer aula e falar com ele: “ Ah do festival você não vai participar, porque eu não tenho condições de te dar um figurino”. Aí eu coloquei essa taxa que dá direito ao figurino no final do ano que é a única coisa que eles arcam é com isso. Aí fomos amadurecendo, eu fui vendo a necessidade e foi amadurecendo. Hoje acontece a audição todo início de ano, eu seleciono algumas escolas públicas porque nós não conseguimos ir em todas, então eu seleciono algumas, vou com as professoras e secretárias da academia de manhã, no período da manhã e no período da tarde e as outras escolas que eu não consigo ou então as vezes a criança era daquela escola e não conseguiu no dia, faltou, alguma coisa assim aí eu faço na academia. Mando circular para as outras escolas todas e aí tem a audição na academia. Esse ano nós tivemos 300 alunos só dentro da academia fazendo a audição, nós tivemos que montar vários horários de audição. Então eu tenho muito aluno hoje, de balé, que é aluno de audição, e aí eu destino bolsa ou meia bolsa dependendo da renda familiar e também da aptidão do aluno porque nós temos que olhar a aptidão.

P/1 – E você nos falou do festival do meio do ano também. Você tem um festival que você faz no meio do ano e no final do ano também. Como é que é esse festival do meio do ano?

R – No meio do ano, é um festival mais simples, é mais um encerramento não chega a ser figurinos elaborados, cenários elaborados, eu meio que aproveito cenários de festivais antigos ou nós fazemos alguma coisa, nós mesmos, professores, secretárias, manual para estes cenários e os adornos que são usados, os figurinos são bem simplificados, se não aumenta muito o custo para os pais e ele acontece agora, encerrando o primeiro semestre. Então nós encerramos todo o trabalho do primeiro semestre agora no mês de julho, e final do ano que vem o festival mesmo que é o encerramento do ano todo.

P/1 – E essa ano você vai fazer o festival que acontece agora aonde?

R – Bom, até hoje eles não me deram um parecer. Acho que vai ser no festival de gastronomia da cidade, que vai acontecer agora em julho. Mas até hoje eles não fizeram o parecer final, fizeram o convite, mas não deixaram nada certo. Eu estou com os dois espetáculos prontinhos, se tiver que ser lá, ótimo, se não vai ser na porta da academia, onde eu já fiz várias vezes, e é um ambiente assim tranquilo, sereno, é bem bacana ali na porta do chafariz eu monto palco, monto camarim, coloco as cadeiras, tem o Colégio Sérgio Ulhôa que me empresta as cadeiras, nós colocamos para os pais e os convidados, é um evento aberto ao público, independentemente de ser lá no festival gastronômico ou na porta da academia, é realmente aberto ao público, para que? Para podermos proporcionar aquelas pessoas que não tem uma condição nem só financeira, mas às vezes ela acha, por exemplo, que dentro de um ambiente fechado não é lugar para ela ir, existe muito um preconceito das pessoas com elas mesmas, então é para gente mostrar para a população que aquilo ali é para todo mundo, independentemente de qualquer que seja a posição de cada um.

P/1 – E esse que você faz no final do ano, onde você faz geralmente?

R – No Sesc [Serviço Social do Comércio].

P/1 – E aí como é que faz essa coisa do Sesc? Aí você cobra ingresso, conta um pouquinho para a gente como é essa estrutura desse festival.

R – Tudo é pago e tudo é cobrado (risos) porque não tem jeito, de algum lugar tem que sair. Eu já fiz até proposta para a Prefeitura para fazermos um festival aberto no final de ano, mas infelizmente eles não conseguiram porque não é uma coisa que fica barata, aí temos eu fazer neste esquema, conseguir patrocínios, cobrar a portaria, bilheteria, e tudo é pago. Até o Sesc, antigamente, eles entravam como parceiros, hoje em dia eles cobram.

P/1 – E como é, todo os alunos participam deste festival ou vocês montam alguns espetáculos e alguns participam?

R – Todos participam. O aluno só não participa se o pai não deixar, nós não podemos obrigar, mas todos os alunos bolsistas eles participam, que eles já ganham o figurino, e eu acho que 99% dos meus alunos participam. É um ou outro que as vezes tem eu viajar, ou tem algum evento no dia acaba não participando.

P/1 – E quantos alunos você tem hoje na academia, Luciene?

R – Tem mais de mil alunos no total. Dança, luta, crossfit e a ginástica.

P/1 – Eu queria que você falasse um pouco do crossfit, como é que você desenvolveu essa prática, como é que foi?

R – O crossfit surgiu há pouco tempo, deve ter uns três anos, que bateu na minha porta, foi bem assim. Eu trouxe um professor de Goiânia (GO) para dar um curso de funcional. Quando ele chegou lá que ele viu aquele lote no fundo, ele falou assim: “Eu não vou te dar curso de funcional, eu vou te dar um curso de crossfit” eu disse: “Deus me livre! Quero crossfit não”, ele disse: “Vou te dar um curso de crossfit hoje, se você não quiser crossfit amanhã nós mudamos o curso” que era de três dias eu falei: “Beleza”. E daí com o primeiro dia de curso, não só eu como todos os professores da academia, nós apaixonamos pela modalidade. Daí uns 15 dias, eu fui para Goiânia, fiquei uma semana lá, dentro de todas as box de crossfit com mais dois professores meus, e nós começamos a estudar a modalidade dentro da academia, e nós até então não cobrávamos, estudávamos professores, alunos que queriam fazer e ali nós fomos aprimorando até que eu falei: “Bom, agora tem que construir um barracão aqui”. Fizemos aquele barracão lá no fundo, e começou esse box de crossfit e hoje só de crossfit nós temos mais de 200 alunos só de crossfit. Já é o quarto evento de crossfit que nós vamos fazer que é o cross camp, eu fiz três edições aqui na cachoeira e esse ano, a quarta edição está indo lá para o hotel fazenda Hiperflorido a semana que vem. Estou fazendo lá para vermos a questão de logística, porque eu acho que lá vamos conseguir atrair um público maior, não só público para assistir mas principalmente os atletas que vão competir.

P/1 – Eu queria que você explicasse um pouco o que é a modalidade crossfit, o que é como é, só para deixar claro para o público leigo.

R – Crossfit são movimentos funcionais, são os movimentos nossos de cada dia, eles são trabalhados em alta intensidade e constantemente variado, então uma aula nunca vai ser igual a outra. A aula que você faz hoje, é totalmente diferente da aula que você vai fazer amanhã, depois de amanhã e assim por diante. E nós trabalhamos o corpo por inteiro, nós temos aula de levantamento de peso olímpico dentro de uma mesma aula, temos trabalho de ginastica e a parte de cardio, que são corridas, cordas, remo, bike, quando tem agua nós ainda usamos natação, então trabalhamos o corpo todo durante 1 hora só de aula.

P/1 – E esse evento que você fez edições aqui, são competições que você estruturou, aberto para qualquer...

R – É, existem várias competições de crossfit no Brasil e no mundo. O que eu fiz? Por causa do espaço que temos aqui que é muito legal para fazer este trabalho, nós começamos a desenvolver este trabalho aqui. E aí eu contrato, tem um box, que ele é especializado em competições, então ele monta todos, nós chamamos de WOD, que workout of the day, é o treino do dia. Ele monta os WODs e nós começamos a divulgar para as box. Então este ano estão vindo duas box de Patos de Minas, Brasília são 3, Unaí (MG) uma, a nossa aqui de Paracatu são dois que vão participar, e eu cheguei do Rio [de Janeiro] e não estou sabendo ainda, mas amanhã eu vou me inteirar se tem mais alguma cidade vindo participar também. Eu acredito que sim, que já chegou um tanto de WhatsApp ali falando de box que eu nunca nem vi, então amanhã que eu vou estar sabendo disso direito.

P/1 – E eu queria que você falasse agora um pouquinho, você tocou em um assunto um pouco aqui da Sarana, eu queria que você falasse primeiro o que é que significa Sarana?

R – Quando nós adquirimos seria para passar final de semana, passear, vir com a família e tal. A primeira construção aqui, na hora em que vocês descerem lá na cachoeira vocês vão ter, alguém já foi lá na cachoeira? Não, né. Tem um fogãozinho de lenha; tudo começou com o fogãozinho, nós vínhamos para aqui fazia um franguinho ali e tal, só existia aquilo, pedra e mato, mais nada. Depois, começamos com a Igrejinha e depois veio o casarão aqui, então começou acho que com um sonho que toda a família tem de um cantinho para passar o final de semana e tal, e esse negócio foi crescendo, aí do casarão já foi feito um salão de festa, uma cozinha industrial, e Elder já está pensando em fazer uma pousada e nós vamos, futuramente, a intenção é que aqui se transforme em uma pousada rural.

P/1 – E faz quanto tempo que vocês adquiriram e de quem eram essas terras aqui?

R – Aqui foi de Joaquim Pedro e de Seu Petrônio, ele junto com o Pedro que é do Vale Encantado, comprou a região toda. Comprou desde Ascânio até lá para cima, era três sócios, Tales, Joaquim Pedro e Pedro, depois eles dividiram: Tales ficou com a parte de cima, Joaquim Pedro ficou com a parte de baixo e Pedro ficou com o meio. Quando nós compramos aqui, Pedro já havia vendido aqui para uma amiga dele do Sul, que esteve aqui e ficou encantada, inclusive ele já tinha colocado nome no poço ali, que era poço da Cleópatra... Aí ela tinha comprado, mas ela estava no Sul não tinha intenção de vir para cá e resolveu vender e Elder comprou isso aqui por telefone, em um domingo, depois de um churrasco (risos), ligou, comprou, e ele já começou. Na segunda feira, ele já trouxe o Fábio Ferrer que fez o chafariz, fez algumas obras em Paracatu, ele veio fez o projeto, fez a maquete daqui, até hoje tem essa maquete e nós começamos o trabalho.

P/1 – A princípio vocês construíram o casarão e você vinha com a sua família aqui para passar o fim de semana?

R – Não, nós vínhamos acampar. Vínhamos de barraca, acampava, só tinha telhado, não tinha parede nem nada, vinha botava as barracas aqui, e acampava aqui de cócoras ali lavando vasilha, cozinhando, igual índio (risos).

P/1 – E o nome? Como é que você chegou ao nome de Sarana?

R – Foi Elder que chegou no nome. Por causa das meninas, das nossas filhas, Sarah e Ana, aí ficou Sarana.

P/1 – E o que que significa esse espaço hoje para você, para a sua família? Você falou que a ideia é transformar isso aqui em uma pousada, conta um pouquinho para a gente o que significa isso daqui?

R – Eu acho que significa muito. Elder, para ele, isso aqui... E a cachoeira Sarana para ele é tudo, ele tem prazer em receber cada um aqui e mostrar a cachoeira, ele faz a via sacra dez vezes no dia com todo mundo mostrando tudo (risos). Tem a Igrejinha, depois vocês vão lá em cima para conhecer, que é muito linda. Minha irmã mais nova casou aqui, minhas duas filhas vão casar aqui o ano que vem, uma já vai casar. Nós hoje já alugamos para casamento, alugamos para grupos fechados, hoje funciona dessa forma. E vir para aqui trazer os amigos, receber os amigos, isso que eu acho que é o maior prazer nosso hoje é receber a família e os amigos aqui.

P/1 – E eu queria que você nos falasse um pouquinho, o que significou, porque assim, você nos contou a sua história, eu consegui entender várias coisas do que nós sabíamos da sua vida. Eu fiquei emocionada mesmo, e eu queria que você nos falasse, o que na cidade de Paracatu ajudou na construção da sua identidade.

R – Eu nasci, cresci e vivi em Paracatu. Não tenho vontade nenhuma, tem gente que fala: “Ai vontade de ir embora da cidade, não sei o que”, não tenho vontade, não me vejo fora da cidade, gosto muito apesar de todas as dificuldades que qualquer cidade enfrenta. Então, tudo o que eu sou, eu aprendi ali, então não tem porque pensar em ir para outro lugar.

P/1 – E você falou do seu casamento, como é que foi para você casar aos quinze anos, quais foram os desafios, digamos assim, ou quais foram as angustias que você teve de casar tão cedo. Como é que foi isso? Como é que foi lidar com tudo isso?

R – Márcia, eu acho que nem teve muita angústia (risos). Foi tão tranquilo, foi tranquilo, não vejo essa angústia. A angústia foi só o primeiro momento de contar para a família. Uma menina de 15 anos estar grávida, principalmente pelo pai que era bravo demais (risos), então a angústia foi só essa, tirando isso, não teve angustia, tiveram dificuldades que eu acho que todo casal enfrenta né no início da família, mas...

P/1 – E seu casamento foi aonde? Você casou em que Igreja, como foi?

R – Eu casei na fazenda do meu pai. No sobrado onde passávamos férias. Na época não existia decoração, decoração fomos nós que fizemos, acho que nem buffet direito existia na época, tinha um buffet lá mais ou menos e foi tudo feito lá. Eu lembro que eu fui numa fazenda do meu padrinho pegar bougainville para fazer o arco de flor do altar, e isso no dia, eu com a minha tia fazendo, só que teve uma tia de Elder que morreu na hora, não morreu lá no casamento porque ela não foi, mas morreu, terminou a cerimonia e veio a notícia que ela tinha falecido. E como a família, nós somos primos, praticamente todo mundo foi embora, ficou assim meus tios, mas a família dele em peso, era irmã do pai dele, aí a família dele em peso foi embora e nós ficamos, mas foi lindo o casamento.

P/1 – E vocês ficaram, onde vocês foram? Vocês viajaram, foram passar a lua de mel em algum lugar ou não?

R – Fomos.

P/1 – Para onde vocês foram?

R – Apartamento emprestado de uma tia minha em Capri, mas fomos (risos).

P/1 – Eu queria que você falasse um pouquinho como foi ser mãe de duas meninas, conta um pouquinho para a gente sobre isso.

R – Olha mãe de duas meninas... Olha, eu falo que casamento é muito bom, mas o melhor do casamento são os filhos, e eu só tenho a agradecer as duas filhas que eu tenho. Foi difícil? Foi, porque com 15 anos não é fácil, eu tive Ana, a segunda eu tinha 19 anos. Eu não tinha uma profissão formada, eu era totalmente dependente, Ana já tinha nascido quando eu comecei a trabalhar com academia, mas é a melhor coisa do mundo as minhas filhas.

P/1 – E hoje elas estão com quantos anos e o que elas fazem:

R – A mais velha está com 28, está fazendo residência, é a segunda residência dela, e está morando fora, no Rio. E a mais nova está no finalzinho do curso de medicina também e mora em Paracatu, graças a Deus! Pelo menos uma aqui comigo, e é ela que vai casar o ano que vem, a mais nova.

P/1 – E a relação também da moda, de pensar. Porque a sua história conta muito isso de fazer as coisas, fazer a roupa, na academia você vende roupas, ser mãe de duas meninas, como é que elas lidam com este universo também.

R – As minhas meninas?

P/1 – É.

R – Elas sempre tiveram a participação muito ativa, porque desde que eu comecei a mexer com a academia elas estiveram juntas. A mais nova até pouco tempo era bailarina, umas das melhores bailarinas que nós tivemos, ela chegou a passar na prova do Palácio de Belo Horizonte, do Cefar, mas na época caiu um porta-retrato no pé, rompeu um tendão, aí ela voltou e não continuou. Mas até pouco tempo dançava. Então, de repente ser mãe de duas meninas até fez com que aflorasse mais esse trabalho de criação de figurino, mexer com moda fitness, mexer com academia, isso até me ajudou nessa parte.

P/1 – E eu queria que você falasse um pouquinho, porque a sua história está ligada a família tradicional de Paracatu, a sua família, a origem dela é isso, são famílias tradicionais, e como é que é ser família tradicional em Paracatu hoje?

R – Não tem muito isso de família tradicional, acho que isso existia na época da minha mãe, na minha época não existe isso de falar que você é de família tradicional, de carregar esse nome, não tem mais isso não.

P/1 – E como você vê as potencialidades dessa coisa do trabalho, do que você faz, dos festivais, da dança, essa questão até de vocês pensarem a pousada, de construir uma pousada aqui. Como é que você vê a potencialidade disso dentro de Paracatu?

R – Em relação ao turismo?

P/1 – Ao turismo e também a questão artística, como é que você vê isso?

R – Ao longo dos anos só foi crescendo. Nós fomos ganhando a valorização, a sociedade começou a valorizar um trabalho que antigamente não era valorizado, ele era visto por outro ângulo. O que eu mexia antigamente ele era visto muito como estético, hoje em dia virou saúde, a dança hoje em dia também o pessoal já tem uma outra visão, tanto relacionado a atividade física como para saúde para as crianças, para que não cresçam adultos sedentários e que venham a ter problemas de saúde e tal, mas também relacionado a parte artística, cultural. Então os pais hoje já têm uma visão bem diferente em relação a isso, e isso ajuda muito. E com a vinda de pessoas de fora, que as vezes já vem para a cidade com essa visão, na maioria das vezes, que tem muito contato com essas outras áreas fora da cidade, e eu acho que isso veio só agregar valor para mim, na minha área, então isso foi muito bom.

P/1 – E esse espaço aqui, como é que vocês começaram a olhar para ele em termos de atendimento ao público, essa relação com o meio ambiente como é que isso se deu?

R – Acaba que a academia está meio ligada também. Nós acabamos agregando, veio para agregar e com esse negócio de nós trazermos pessoas de fora apara aqui, aqui volta e meia nós estamos aqui e aparece gente do Rio, São Paulo, do Sul, às vezes passa alguém e fala: “Ah tem um almoço?”. O casal é muito receptivo tanto Zé como Jaqueline, então a pessoa pode chegar aqui a hora que for, que eles vão servir um almoço, um café e tal. Então assim, isso a gente consegue agregar um valor muito grande para a região aqui, agora falta um trabalho da cidade em relação, eu acho que a cidade precisa abrir a cabeça para o turismo porque Paracatu tem um potencial muito grande. Nós estamos na [rodovia] BR 040, do lado de Brasília, foram catalogadas mais de 63 cachoeiras na região, aqui da bacia do Prata. Então falta realmente a cidade começar a abraçar essa causa, se você ver os casarões de Paracatu tem muita coisa bacana mas tem muita coisa a ser trabalhada, para ser restaurada. Antigamente não tinha muitos barzinhos, a cidade já começou, hoje tem uns restaurantes legais, lugares bacanas para ir. Eu acho assim, abriu a cabeça o potencial a cidade já tem falta é direcionar este trabalho.

P/1 – E uma coisa que você comentou, que eu vou voltar um pouquinho só para já ir encerrando, você falou que uma das fazendas dos seus avós está no entre rios...

R – É “Entre Ribeiros”

P/1 – “Entre Ribeiros”, desculpa, “Entre Ribeiros”. Eu queria que você falasse um pouquinho se você sabe o que é esse projeto, como que seu avô se inseriu neste projeto.

R – Não ele não inseriu no Projeto. Ele simplesmente vendeu tudo a preço de banana. E não inseriu no projeto e aí é uma região muito boa para a lavoura e foi criado um projeto lá, eu não sei muito bem, como foi criado esse projeto, mas hoje em dia, é uma das maiores regiões da agricultura, é lá.

P/1 – E você sabe o que plantam lá?

R – Não.

P/1 – Para ir finalizando eu queria que você falasse um pouquinho, antes de terminar eu vou perguntar qual é o seu sonho hoje. Olhando para sua vida para tudo isso que você viveu de uma forma tão intensa, qual é o seu sonho hoje?

R – Meu sonho, dar continuidade no que eu faço, não parar nunca, ter saúde para continuar tocando a vida.

P/3 – Eu queria aproveitar e perguntar, qual foi, o que motivou esse olhar para a estrutura colonial. Então você ter um sonho, e visualizar ou construir a casa com este estilo, com essas preocupações, nós vemos em todos esses detalhes, das portas, das janelas, das cores, o que levou a essa preocupação de manutenção deste estilo que também combina com o da cidade, está começando a olhar para essa parte histórica de como ocupar o espaço.

R – Na realidade, essa idealização toda da cachoeira partiu de Elder. Ele que realmente tem esse olhar voltado para este estilo colonial e eu acho que assim isso só foi fazendo com que, eu que já gostava, começasse a abrir mais ainda a minha cabeça para isso. Aí vai aparecendo as coisas, sabe quando parece que você atrai, eu não consigo explicar muito bem o que é, mas por exemplo, se nós queremos viajar, queremos quer ir para as cidades históricas. Se nós vamos viajar ele quer ir conhecer a história da cidade e então ele tem muito isso e nós fomo só unindo.

P/3 – Qual que é uma peça que você tem mais apresso, que veio da sua avó e que você guarda, ou que veio da família que você guarda com mais carinho e que você sempre passa e olha e fala: “Ah, aquilo eu”...

R – É a cama e a penteadeira que foi da minha avó e que está nesse quarto aqui.

P/1 – E porque a penteadeira?

R – Ué porque era do quarto dela, a vida toda, desde pequenininha eu ficava lá olhando aquela penteadeira, cheia de espelho assim (risos), aí fica gravado na memória da gente né.

P/1 – E para finalizar eu queria que você nos falasse como é que foi nos dar essa entrevista, como foi nos contar um pouco da sua história?

R – Eu falei coisa demais, falei até coisas que nós nem lembramos que vai ficando guardado e tal. Mas foi muito bom, foi excelente, adorei a entrevista, estava morrendo de medo (risos) mas foi super tranquilo, muito bom.

P/1 – Que bom então, eu queria agradecer em nome da Kinross e em nome do Museu da Pessoa. Muito Obrigada Luciene.

R – Obrigada vocês.

FINAL DA ENTREVISTA