Museu da Pessoa

Uma vida de muitas lutas

autoria: Museu da Pessoa personagem: Zulmira Gonçalves de Lima

Conte Sua História
Depoimento de Zulmira Gonçalves de Lima
Entrevistada por Genivaldo Cavalcanti Filho
São Paulo/Taboão da Serra, 30/07/2020
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número PCSH_HV864
Transcrito e editado por Genivaldo Cavalcanti Filho



Meu nome é Zulmira Gonçalves de Lima. Nasci em dezesseis de maio de 1931 em Ibirataia, na Bahia. Meu pai era Sisernane Gonçalves dos Santos e minha mãe, Artulina Gonçalves dos Santos.
Meus pais trabalhavam na roça. Minha mãe morreu quando eu tinha três aninhos. [Tenho] um irmão [que] morreu e outro [que] saiu quando eu era mocinha e até hoje ninguém tem notícia.
Assim que minha mãe morreu, meu pai saiu, foi pra outro lugar. Quem me criou foi a minha avó. Era numa fazendinha, lembro até das árvores. Com minha avó me dei muito bem, meu avô [também].
[Brincava de] boneca. Não tinha casa vizinha pra ter criança pra gente brincar e outros brinquedos.
Eu tinha muita vontade de ir pra escola. Meus avós não me colocaram na escola. eu tinha uma vontade louca de estudar. Até hoje eu sou analfabeta; assino o nome.
Depois que eu fiquei grandinha, com uns oito ou nove anos, meu tio casou e tomou conta de mim. Com meu tio eu me dava bem, mas a mulher dele me judiava muito. Sofri muito.
Tinha vizinhos, tinha algumas amigas, mas não tinha muita liberdade, não. Não era por causa do meu tio, era a mulher dele; me maltratava muito. Eu não era parente dela, [então] ela me colocava pra fazer tudo dentro de casa, ainda pequena.
Eu trabalhei muito na roça. Trabalhei de enxada, carregava feixe de feijão, de fumo; trabalhei também no cacau. Levantava cedo, limpava de enxada a terra; voltava às cinco, cinco e meia [da tarde].


Trabalhei muito pra ganhar um dinheirinho pra comprar roupa, porque eles não me davam o que eu precisava. Todo mundo me queria, mas era pra trabalhar.
Quando eu tinha meus dezoito, dezenove anos, apareceu um noivado. Eu me casei com vinte anos. Aí foi outra vida.


Tive sete filhos; hoje eu moro como a filha caçula. Os outros estão todos casados.
Meu marido morreu novo, com uns quarenta anos; deixou a caçula com três aninhos.