Museu da Pessoa

Uma estrela na noite paulistana

autoria: Museu da Pessoa personagem: Kascão Oliveira Lima

Projeto Conte Sua História, 20 Anos Museu da Pessoa no Brasil
Depoimento de Kascão Oliveira Lima
Entrevistado por Rosana Miziara
São Paulo 08/05/2012.
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PCSH_HV_338
Transcrito por José Roberto Ruiz / MW Transcrições (Mariana Wolff)
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães


P/1 – Kascão, você pode falar seu nome completo, local e data de nascimento?

R – Eu nasci no dia 28 de abril de 1967.

P/1 – Em que local?

R – Na cidade de São Miguel, no Estado do Rio Grande do Norte.

P/1 – Seus pais são do Rio Grande do Norte?

R – Meu pai acho que cearense, minha mãe do Rio Grande do Norte. Não tenho… Parece que é isso. Eu não tenho tanta certeza.

P/1 – De onde o seu pai nasceu?

R – Hum...

P/1 – Mas você, seu pai e sua mãe viviam juntos?

R – Sim, é claro. Porque faz muitos anos. Eu sei da idade porque ele nasceu em mil… Deixa eu ver, ele nasceu em 1925. E minha mãe em 1930. Como faz muitos anos isso, sei que foi no Rio Grande do, da minha, minha origem é de lá, isso eu tenho certeza.

P/1 – E o que o seu pai fazia?

R – O meu pai era agricultor e depois ele foi trabalhar na estrada de ferro. Uma espécie de metrô. Linha de ferro na época que se dava o nome, é como se fosse o trabalho da linha de ferro dos trilhos do metrô. Acredito eu que deveria ser isso.

P/1 – E sua mãe?

R – A minha mãe também era agricultora, mas depois lembro que até os dez anos de idade ela lecionava em um colégio. Num ensino muito atrasado da época que se chamava Mobral. Mas já era alguma coisa para a época. Não se compara nada aos dias de hoje, onde estamos hoje. Era professora de uma escola, que também não lembro mais o nome.

P/1 – Ela era professora?

R – É, não uma professora da USP né, era uma professora de um colégio que foi as terras doadas pelo meu avô, e o prefeito construiu um colégio nessas terras que meu avô doou, e ela era professora. Eu lembro que, e mais umas senhoras da época. Eram professoras do Mobral, e um ensino que eu não me lembro mais nem o que.

P/1 – Seus avós paternos e maternos eram de lá também?

R – Acredito que sim.


P/1 – Você chegou a conhecer?

R – Eu cheguei, cheguei a conhecer a minha avó e o meu avô.

P/1 – Por parte de pai ou de mãe?

R – Meu avô por parte de... Espera aí, era uma confusão isso que até hoje eu não entendi. Eu tinha três avós. Como chegou a isso também não sei. Naquela época, se hoje eu sou atrapalhado, você imagina naquela época. Eu tinha duas avós, eu tinha três avós no total. Eu não sei te explicar como é que é isso. Sei que eu conheci duas. E uma que era mãe do meu pai, eu não cheguei a conhecer. A minha mãe era filha de uma e foi criada por outra. Por aí chega a ser, a ter as três avós. Uma que convivi, acho que até os quinze anos, acredito, acho que isso. Quando eu vim embora para São Paulo, a mãe do meu pai, e uma avó que era a mãe legítima da minha mãe.

P/1 – E esse avô quem é que era, quem doou o terreno para a escola?

R – Era o pai adotivo da minha mãe. Naquela época as pessoas tinham muitas terras. E essas terras vivem até hoje, existem até hoje meu pai e minha mãe são vivos. Hoje a vida mudou, tenho propriedade em São Paulo, tenho família em Salvador, mas essas terras continuam até hoje, tem um irmão meu caçula que toma conta disso lá, no Rio Grande do Norte. Eu estive lá uma única vez. E achei tudo ao contrário, agora em 2008, recente, depois de quase trinta anos. E achei tudo muito esquisito, muito diferente da minha infância. Quando nasci ali e vim embora muito cedo. Então a vida tomou outro rumo. Mas eu me lembro de muita coisa ainda de quando garoto.

P/1 – Como é que era a sua casa de infância?

R – Eram essas casas de fazenda do meu avô, e toda a família morava lá. Por ser uma casa muito grande, com vários quartos, cozinha, sala, essa coisa toda, uma casa, existe até hoje a casa. A minha mãe até hoje mora lá nessa casa. Nossa, isso é do século de 1800 e alguma coisa.

P/1 – E você tem irmãos que moravam com vocês, quem é que morava lá, você tinha a família toda?

R – Não se assusta não, mas para aquela época poderia ser normal, hoje eu acredito que ninguém consegue viver, não consegue isso hoje. Mas eu tive mais de vinte irmãos. Acredito que entre aborto e essa coisa, acredito que uns vinte e quatro, vinte e cinco. Da mesma mãe e do mesmo pai. Existem quinze vivos. E eu acho que sou o décimo terceiro. Tem aí, faleceu uma irmã minha em 1997, e aí ficaram quinze irmãos. Moram dois, três em Salvador. Mora um no Estado do Rio Grande do Norte, esse que cuida das terras dos meus pais, de tudo o que ficou da época. Tem uma vida muito estabilizada lá, porque não veio para cá, e o mundo lá acho que mudou completamente. Eu estive lá, vi outra realidade, e o restante moram todos aqui. Tomou outro rumo a vida, viraram profissionais todos nas suas áreas, eu segui o meu caminho no mundo de bares e restaurantes, hotelaria enfim.

P/1 – E vocês moravam todos na mesma casa, esses, todos os irmãos?

R – Era, e ainda cabia mais gente ainda, porque era muito grande. É muito grande a casa.

P/1 – É do seu pai a casa?

R – É a casa da família. Era do meu avô, faleceu, ficou para a minha mãe e para o meu pai, meus pais já estão com mais de oitenta anos, e sucessivamente vai ficar para o meu irmão caçula que foi quem ficou lá tomando conta de tudo e cuidaram deles, cuida deles, e ficou lá. Hoje trabalha por conta própria, acho que negociante, como fala o linguajar local, de gado e ovelha. Parece que trabalha para um banco também, e ficou lá. Não sai, não abre mão daquilo que é origem dele. E se deu muito bem com isso, vive muito bem hoje com sua família lá. Que é minha família também é claro.

P/1 – E quais as brincadeiras de infância?

R – Acho que nem existia brincadeira, era coisa de criança normal. Muito diferente de hoje, não tinha, acho que era carrinho de rolimã, essa coisa. Eu me lembro bem disso. Mas, falar de uma coisa que você não teve, como é que...

P/1 – Mas por quê? Vocês não brincavam?

R – Não existia, não tinha, não tinha para os padrões de hoje, não tinha carrinho de brinquedo, não tinha...

P/1 – Mas, quais eram naquela época, o que é que tinha?

R – Acredito que só o carrinho feito de lata mesmo e aquele carrinho de rolimã, acho que brincam até hoje, não sei. Era isso mesmo.

P/1 – Fazia carrinho de lata?

R – Fazia, todos eram.

P/1 – Como é que era?

R – Não tem mais a menor graça mais para saber, para fazer isso hoje. Mas, cortava-se a latinha e fazia com um prego e martelo, e ali era uma festa aquele carrinho. Era o único recurso que tinha. Era uma coisa muito atrasada. Ninguém tinha o menor recurso para nada. O que nunca faltou que eu me lembro bem foi a alimentação. Mesmo assim não era lá essas coisas. Eu estive lá em 2008 e eu vi a internet instalada em lugares onde jamais imaginava que isso pudesse ser real. Eu não acreditei. Pessoas com dez anos de idade navegando na internet como se estivesse aqui no meu escritório, na Avenida Paulista. E, aí, eu lembrei sim da infância, falei: ué, mais eu estive aqui quando eu tinha dez, doze anos de idade. Aqui, a única coisa que existia era um jumento para carregar água, que era bem isso. E como pode ter a internet aqui hoje? Eu achei aquilo fantástico, achei aquilo o desenvolvimento no mundo. Não é só o Brasil que era atrasado, o mundo inteiro também não tinha lá esses recursos todos. Mas, lá era bem, bem difícil. A vida não foi nada fácil para mim.

P/1 – E o seu pai plantava lá mesmo nesta fazenda?

R – Plantava e colhia lá mesmo.

P/1 – E vocês ajudavam ele?

R – As pessoas naquela época, as pessoas naquela época não viam muito a hora de completar os seus dezoito anos para poder se mandar daquele lugar. Que era o sonho de todo mundo. Eu dei mais sorte porque vim embora antes dessa época. A minha mãe veio visitar os meus irmãos mais velhos em São Paulo, e aí me trouxe, e aqui mesmo eu fiquei. Tem uma história que eu vou contar mais na frente. Mas todo mundo plantava ali. Trabalhava-se na roça mesmo.

P/1 – E você ia para a roça?

R – Eu trabalhava em uma… Lá chamava-se escopadeira de arroz. Era uma máquina em que se colocava o arroz com casca, e ele tirava toda a casca do arroz, e isso também com o milho. E aí levava, os caras levavam embora para suas casas, pagava lá para fazer isso, que era de um, eu tinha um emprego acho que aos doze, treze anos de idade fazendo isso. Eu acho eu que era a única pessoa que tinha um trabalho fora disso, era eu. Já comecei no mundo industrial já muito cedo.

P/1 – E você foi para a escola?

R – Fui. Lá eu fiz o... Lá todos nós tínhamos, tínhamos, a minha mãe era muito rígida com isso. Tenho irmãos que têm boa, que estudou bastante. Naquela época eu era um cara muito rebelde, e aí eu fugia da escola. Eu fui muito pouco. Achava que, naquela época eu já achava que sabia mais do que a professora, e aí não, fui muito pouco, eu acho que o antigo ginásio estadual que eu consegui. Claro que depois estudei, fiz muitos cursos de especialização em outras áreas quando eu me tornei profissional. Mas, o ensino mesmo foi o ginásio estadual que hoje é o ensino fundamental, acho que é isso.

P/1 – Era perto lá da fazenda?

R – É era perto. Hoje a fazenda virou cidade já. A coisa mudou completamente, já tem, na época não existia a luz elétrica, era um negócio que se chamava biogás. Era um projeto do governo e aquilo, aquilo era muito bacana, era luz natural. Entendendo isso como eu entendo hoje, o que é que era aquilo? Era um enorme buraco na terra. Aquilo se vedava tudo com cimento, por ter gado na fazenda, o local chamava-se Sítio Cedro. Uma se chamava Cedro e outro chamava Calumbi, eu não sei bem como é que é até hoje, se é Cedro ou se é Calumbi. Então se colhia aquele esterco da vaca ou fresco, com muitos carrinhos de mãos aquilo, aquele carrinho de construção civil, e colocava-se naquele buraco com cimento vedado. Aquilo tinha uma encanação com conduite para todo o sistema da casa. Pegava TV, geladeira, fogão. Era o biogás. Era uma luz natural. Hoje já tem energia elétrica, já acabou tudo. Mas era um projeto bem bacana.

P/1 – Você lembra-se de alguma professora dessa época? Uma lembrança, alguma?

R – Não, não, deixa ver. Por nome acho que mais não. Eu vou lembrar, mas...

P/1 – O que você mais gostava na escola?

R – De quase nada. A escola, eu via o negócio como, agora eu vou lembrar o Raul. Na escola eu só aprendi uma coisa, a odiar. Aquilo era muito chato. Você está rindo de mim porque era muito chato ir para escola. Era cada coisa que, a melhor coisa da escola era o recreio para ir jogar futebol naquela quadra de futebol. Ali tinha uma quadra que jogava futebol de salão, futsal. Era a melhor coisa da escola era isso. Porque aquelas matérias eram horrorosas. Eu detestava aquilo. Eu detestava estudar. Acho que ninguém gostava. Saí muito cedo. Nem sei os resultados de como é que ficaram depois. Depois a vida tomou outro rumo, completamente diferente do que era. Eu não tenho mais muita lembrança de como foi. É, mas sei que não foi nada agradável. A vida, a minha vida começou mesmo para valer, depois da década de 1980. Quer dizer, no início da década de 1980. Porque antes foi, antes não existiu nada na minha vida, nada que se possa, a única coisa que eu tenho lembrança mesmo foi uma festa de casamento da minha irmã mais velha que, na cidade tinha um time de futebol, chamava-se, acho que São Miguel Futebol Clube. Eu era bem menino, deveria ter uns dez anos de idade. Foi acho que 1976 para 1977. O prefeito da cidade veio a Salvador para buscar um jogador de futebol para reforçar o time. E aí levou algumas pessoas, dois jogadores. Um por nome de Almir e outro por nome de Foguinho. Lembrar desses caras, eu lembro os nomes, porque eram uns caras que apareciam na cidade, vieram de fora e tal. E um deles namorou a minha irmã mais velha, o Almir. Não sei por que, levou a minha irmã embora para uma cidade de nome Juazeiro, no Estado do Ceará. Ele era, trabalhava, ele era de Salvador, mas parece que a família era do Ceará. E aí o meu pai foi buscar a filha, meio coronel naquela época, e aí entraram em um acordo, eu sei que foram, levou para lá e casou com a minha irmã. Aí foi uma mega festa, e aí acho que mataram um boi. Foi um negócio, da infância o que eu lembro mesmo foi dessa festa. Foi a única coisa parece que, que, que bacana que aconteceu na minha vida lá foi isso.

P/1 – Quem é que exercia a autoridade na sua casa, o seu pai ou a sua mãe?

R – Acho que os dois, mas acho que o meu pai. Porque tinha o meu avô, tinha a minha avó, e tinha o pai e a mãe. Então era uma família. Essa coisa não lembro de ter tido muito problema não. Acho que andavam, era uma coisa que andava muito bem na linha isso. Não tinha, a educação prevalecia, sempre foi uma prioridade da minha família.

P/1 – E você teve algum tipo de formação religiosa?

R – Da parte da minha avó. A minha avó era muito católica. A minha avó tinha a influência da Igreja Católica. E ela levava todos nós, nós éramos bem católicos. Ela levava todos nós para a Igreja quando jovem. Conhecia o padre e tal, fazia, nós éramos bem católicos. Essa é uma coisa que sempre foi na família bem. Parece que hoje tem algumas pessoas na família que viraram evangélicos, tal, não acompanho muito. Mas fazia as orações, fazia tudo, era muito, era rígido isso. Aí, acredito eu, que foi a linha vertical da família nunca caiu por esta questão de base mesmo do início de não ser largado as coisas. Isso é importante para qualquer família, seja, qual seja ela o nível social dela. Acho que a religião está, precisa estar dentro da família. Eu tiro isso pela origem que tive, então isso nunca vai esquecer, nunca vai sair da sua memória. Até aprender as doações, aprender com os mais velhos respeitar, por isso que eu tenho no meu trabalho hoje tem essa coisa de respeito. Eu acredito eu que seja da minha origem de infância. Eu vejo hoje, no mundo de hoje essas pessoas que não tiveram nenhuma dificuldade na vida, o único trabalho dele era levantar e ir para o Clube Atlético Paulistano jogar polo, mas as pessoas para ele não têm valor. Eu conheço pessoas assim. Eu conheço alguém aqui na cidade assim. Porque para ele nunca teve dificuldade nenhuma na vida. Eu sei o que é respeitar às pessoas, porque eu tive origem, eu tive infância, assim da base dentro de casa. Então eu sei o valor das pessoas. Isso é importante para qualquer família independente do seu nível social ou não.

P/1 – E você ficou até quantos anos nessa fazenda?

R – Até os quatorze para quinze anos de idade.

P/1 – E aí?

R – Ai minha mãe veio embora para São Paulo visitar os meus irmãos mais velhos e...

P/1 – Eles já tinham vindo para cá?

R – Já, o meu pai já morava, já vinha aqui desde a época, da época, da década de 1950, bem antes...

P/1 – O que é que ele vinha fazer?

R – Vinha trabalhar na construção civil. Naquela época as pessoas dizem que ficavam quinze dias para chegar aqui em um pau-de-arara. Você faz acho que em três horas. Trabalhava na construção civil. Eu não lembro bem porque isso foi na década de, acho que no final de 1950 para 1960, 1970 ali no começo. Ora, eu nasci em 1967, então não tem nem como. Acho que a última vez que eu me lembro foi 1978, por aí.

P/1 – E aí os seus irmãos vieram por quê?

R – Tudo por necessidade. Ninguém sabia o que era esse mundo, esse gigante de pedra, não tinha a menor noção o que é que era isso.

P/1 – Mas você tinha o desejo de mudar para cá?

R – Não, vim por acaso. Eu não tinha, eu não sabia, eu não tinha. Eu era, eu lembro de uma coisa que eu era, eu estava começando e poderia ter dado certo isso, eu era cantor de rádio. Eu lembro agora. Tinha umas pessoas numa rádio que eu cantava, o negócio chamava-se era Repente. Você fazia na hora. Nas feiras livres, juntava dois, três com pandeiros, triângulo, tal, e você improvisava, era…. como chamava meu Deus? Você fazia embolados de coco. Era isso. Não vem me perguntar mais que eu não sei. Mas sei que na época eu tinha, comecei uma carreira assim de cantor. E começou...

P/1 – Você ia nas rádios e se apresentava?

R – E começou a dar os resultados na época. Eu acho que isso foi mais ou menos uns oito meses por aí. E eu lembro que as pessoas começaram e me procurar já para fazer isso. Para uns pequenos eventos, para algumas coisas, feiras, tal, leilão...

P/1 – Quantos anos você tinha?

R – Uns treze para catorze anos.

P/1 – É mesmo?

R – É fazia a música instantânea, na hora.

P/1 – Você lembra uma? Fala uma para a gente aqui.

R – Ah eu já não vou lembrar mais. Agora você está me forçando. Mas eu lembro que fazia mesmo...

P/1 – Está tentando, não está abraçando.

R – É bem, bem por aí. O tal do arrocha. Mas era muito, era muito engraçado. Se fosse para fazer hoje, seria uma coisa...

P/1 – Mas você não lembra nem de uma música que você cantava?

R – Não, desculpa, eu não lembro mais.

P/1 – Você está com vergonha?

R – Não, não imagina. Eu sou um cara que não tenho vergonha de nada. Eu sou um cara que fala em público, que sou de me apresentar, que não tenho problema com ninguém. Não tenho problema com nada, em lugar algum, de frequentar qualquer ambiente por mais que...
P/1 –

Kascão, por que é que você parou de cantar?

R – Pelo fato de ter vindo embora para cá.

P/1 – Aí a sua mãe veio visitar esses irmãos...

R – Era o Ivan o mais velho, acho que Ivanilton, acho não, os mais velhos. E tinham, e já tinha família minha aqui morando. Desde a década de 1960. Uma irmã adotiva, que já tinha estabilidade, já tinha moradia própria na época.

P/1 – Além dessa quantidade de filhos, tinha adotivo também?

R – Tinha, tinha uma. Tinha a Elicina. Vi muitas poucas vezes aqui. Mas é uma pessoa bem bacana. Lembro que eu estive com ela há uns dez ou doze anos. Mora em Interlagos, tem filho acho que, tem um filho lá, acredito que seja promotor de justiça, não sei. Alguma coisa assim. É uma autoridade o filho dela. Essa coisa de morar no centro de São Paulo, e trabalhar nos Jardins, e trabalhar nessa região onde eu criei muito vínculo, me prendeu muito para sair daqui dessa sala. Você conhece São Paulo? Conheço. O que conhece? Conheço os Jardins, Itaim, Moema. Mas com eu disse no início foi para morar no Capão Redondo. Uma vida muito difícil.

P/1 – Seus irmãos moravam no Capão?

R – Todos. A minha família até hoje construíram as suas casas, todas na zona sul de São Paulo. Eu fui o único que me mandei e vim morar no centro de São Paulo, e nunca mais saí do centro. Hoje a minha história faz parte da Avenida Paulista, e da Avenida São João.

P/1 – E quando você chegou aqui em São Paulo, como é que foi, vocês vieram de ônibus?

R – Viemos de ônibus. Todos de ônibus para cá. Até porque não tinha a menor possibilidade de vir de avião. Eu nem sabia que isso existia. Foram três dias de viagem. Acredito que até hoje seja assim. Foram três dias de viagem. Eu a minha mãe, e uma irmã minha que morava aqui, a Neide, que faleceu, essa em 2007, mais uma vizinha. E aí quando eu cheguei aqui, foi aquela mudança de vida. Toda aquela, foi aquela coisa que...

P/1 – Qual a impressão que você teve de São Paulo?

R – Não que eu já imaginava que era essa selva de pedra toda aí. Mas, eu sou um cara que me adapto muito fácil. Eu me adapto muito fácil às coisas.

P/1 – Você chegou aqui, viu São Paulo, o que é que você pensou?

R – Num mundo que para mim não existiria. Não era uma ficção. Imaginaria que fosse uma coisa monstruosa assim, e que hoje não consigo mais sair daqui. É um negócio a vida, faz trinta anos.

P/1 – Mas aí você chegou para ficar hospedado na casa dos teus irmãos?

R – É, tinha casa. Era bem bacana a casa.

P/1 – Como é que era?

R – Era na Rua Tomás Campanella, no Jardim Clarice, no Capão Redondo. Mas não era um barraco, era uma casa razoável. Boa, dava para morar tranquilamente lá. Até nos dias de hoje, dava para morar tranquilamente lá. Aí fiquei um tempo, aí fui trabalhar...

P/1 – Mas como é que era, como é que era o Capão Redondo nessa época?

R – Ah não, o Capão não tinha nada a ver com hoje. Hoje o Capão Redondo, eu não vou, eu estive lá há um mês atrás, um mês e pouco atrás. Eu fico às vezes dez anos sem ir no Capão Redondo. Mas a violência predominava completamente, era um horror. Era o Juarez mexicano hoje. Era uma cidade dominada pelo crime. Acho que o Maluf era a autoridade da época. Aquele mesmo que mandava soltar cachorro nas pessoas e aquela coisa toda. Sabem de quem eu estou falando. Como pessoa não gosto dele, como político não votaria mais também. Mas já votei nele. Não tem mentira na minha vida. Mas o Capão Redondo era predominado pelo crime. No Rio de Janeiro tem as milícias que comanda as favelas, tal. Na época chamava-se Pé de Pato. Os comerciantes pagavam os assassinos para proteger o comércio. E quem não andasse na lei, quem não andasse na lei, na época morria. Vagabundo não roubava esse comércio, nem aquele, nem aquele, porque os matadores eram quem protegiam o comércio. Era muito difícil morar naquela região.

P/1 – E tinha árvore, não tinha, como é que era?

R – Desculpa, tinha?

P/1 – Árvore, como é que era geograficamente?

R – Não, tinha. O mesmo modelo de hoje. O que mudou, acho, é que hoje tem metrô, o transporte coletivo mudou. O transporte coletivo era um horror. Para você pegar um ônibus seis horas da manhã, você tinha que sair de casa às três da manhã. Filas quilométricas. Era o prefeito acho que o Jânio Quadros. Então o ônibus era aquele pequenininho, parecendo essas vans. Para levar multidões de pessoas. A cidade era completamente abandonada. As pessoas falam do trânsito do, o Roberto Carlos tem uma música interessante que ele fala: que trânsito, que chuva, que calor, mas logo mais isso melhora. É bem a cara de São Paulo isso. É um inferno, daqui a pouco essa coisa muda tudo. E aquilo reinava o dia inteiro, era uma coisa, era muito difícil. Morar em São Paulo de 1980 a 1990 foi uma...

P/1 – Aí vocês vieram visitar e por que é que você decidiu ficar?

R – Minha mãe voltou com o meu irmão Giancarlo, o caçula. Na verdade o caçula mesmo faleceu, que era o Davi. Aí ficou o Giancarlo que é o que deve ter uns trinta anos hoje. Aí eu fiquei aqui morando em São Paulo com meus irmãos.

P/1 – Mas você não ia ficar, por que, quem falou para você ficar, sua mãe?

R – Eu acho que, não lembro, devo ter decidido ficar. Arrumei emprego. Fui trabalhar em uma construção civil. Porque, assim, isso o que eu vou falar é uma coisa muito séria. Eu sei o que é: eu venci, porque eu sei o que é trabalhar, e eu sei o que é sofrer. Eu tenho uma, a empresa onde eu trabalho é uma empresa grande, um grupo super bacana e há poucos dias eu falei para um auxiliar de barman, por que é que ele não ia na minha escola fazer um curso para se aperfeiçoar, pegar um aperfeiçoamento, que é a base que ele precisa ter para ser um profissional de bar, como é a minha área. Ele respondeu para mim que… Eu falei “Cara na minha época se eu tivesse um emprego desse para lavar copos, era um cara feliz”. Ele falou: “Deus me livre, eu quero ficar aqui seis meses, depois eu quero sair e colocar a empresa na justiça, receber o que eu tenho e voltar para a minha terra”. Quer dizer, errou quem contratou um cara desse, mais errado está ele por não querer aprender, e erra a empresa por manter um sujeito desse lá dentro. Então está tudo errado. Eu nunca precisei fazer isso na vida para ser um sujeito de boa fé. Eu sempre trabalhei duro, e vou continuar trabalhando, ensinando e esse tipo de gente eu não quero perto de mim.

P/1 – Mas aí você chegou no Capão Redondo e foi trabalhar na construção?

R – Foi, era muito difícil, fui trabalhar...

P/1 – Mas você já tinha...? Você nunca teve essa experiência de trabalhar em obra.

R – Não, mas tinha vizinhos lá que me levaram para trabalhar, e ganhava como se fosse uns trinta reais por dia, alguma coisa assim. O que já era um grande negócio para quem não tinha nada.

P/1 – Para fazer o que exatamente?

R – Carregar, fazer a massa, cimento com pedrinhas, essa, para fazer, para construir, hoje é tudo diferente, hoje tem as máquinas. Mas na época era para fazer o cimento com aquela pedrinha, que eu não lembro o nome, misturar e botar água, e subir na escada e levar para o pedreiro lá colocar na, fazer a construção, não tenho mais prática, nem para falar. Mas era isso. O trabalho era muito duro. Era de manhã à noite e ganhava essa quantidade de trinta reais por dia, que para mim era super feliz por ter um trabalho daquele, era difícil. Quem tinha um trabalho desse era um grande negócio na vida. E não me arrependo de nada disso, para mim foi muito bom. Agora imagine a oportunidade se tivesse trabalhando dentro de um bar, um restaurante, comida boa. Teria sido muito mais fácil. Mas foi bom para mim.

P/1 – E era para alguma empresa, em alguma empreiteira específica?

R – Era um negócio que se chamava… Era uma empresa que tinha um cara, era o chamado Gato. Ele, o empreiteiro, ele pegava o nosso trabalho, explorava o nosso trabalho, recebia da indústria lá, da grande construtora, acho que ele vendia o nosso trabalho por três vezes mais e pagava. Eu não estou nem questionando ele, era também a forma dele ganhar o dinheiro dele. O que importa é que ele me pagava o que era combinado. Aí eu fui trabalhar em uma grande indústria. Eu fui trabalhar na SPAL. Foi onde tudo começou na minha vida. Foi na Coca-Cola. A maior marca do mundo, a marca mais valiosa. Lá eu fiz o meu primeiro curso, fiz lá dentro da Coca-Cola, da companhia. Fiquei também pouco tempo. Porque tinha várias funções. E a minha era carregar caixa. Hoje quando eu vou lá e levo os alunos para visitar a fábrica de bebidas, eu vejo aquelas empilhadeiras, aquelas maquininhas todas carregando. Olha, isso aqui cara, eu fazia na mão. Era tudo na mão, era uma luva que eu usava, era preto de graxa, era uma confusão danada. Mas era uma empresa com carteira registrada, isso já em 1983, em 1984, por aí. Aí saí da Coca-Cola porque arrumaram para mim um trabalho em uma rede de lanchonetes que existia em São Paulo, não existe mais. Era a Wells. A Wells que acho que todo mundo da minha geração deve lembrar. Hoje tem a onda do, a moda do Happy Food, Petit Gateau, não sei o que, era banana split, as sobremesas, e colegial, essas coisas da época.

P/1 – E o que é que você fazia na Wells?

TROCA DE FITA

P/1 – Kascão, daí você chegou, quem é que te convidou para você trabalhar no Wells?

R – Quem me convidou para o Wells, ok? Quem me convidou para… Eu trabalhava primeiro na Coca-Cola lá em Jurubatuba. Não tinha fábrica. Hoje fui lá, aprendi cerveja, foi quando entrei no mercado. Agora isso foi no ano de 1984 para 1985. Quem me convidou foi um ex-cunhado, o Mário, que foi casado com essa minha irmã que faleceu. Me lembro que era no Shopping Center Ibirapuera. Ali tinha uma unidade, acho que era a R6. Era por R, R1, R2. Tinha na Brigadeiro que ficava aberto 24 horas, tinha na Augusta, não sei aonde. Tinha várias unidades, Shopping Iguatemi. E lá eu fui lavar prato. Não tinha máquina. Era lavado aquilo na mão. Depois colocaram uma máquina. Então foi tudo meio difícil. Então eu sempre fui corinthiano. Desde muito. Para mim a primeira coisa que eu aprendi na minha vida foi ser corinthiano. Já lá no Rio Grande do Norte com os bilhetinhos da época dos jogadores de futebol, Sócrates, não sei quem. Chegava lá os portas retratos pequenininhos, e minha paixão foi pelo Corinthians. Para minha, o problema é que nada foi fácil na minha vida, a roupa era verde, e tinha que usar uma roupa verde. Aí ficava ali aquela roupa verde, eu olhava para aquilo, vontade de ir para o estádio ver o jogo final de domingo. Eu não trabalhava domingo. Corinthians e Palmeiras e eu com a roupa verde, e eu corintiano. Era sério. Isso aliás é muito sério. Bom, passaram-se três meses e eu fui promovido para a cambuza. A cambuza é o local onde fazia as sobremesas. Não passava nem pela cozinha a cambuza. E para a minha infelicidade colocaram a roupa da cor do São Paulo, que era vermelha e branca. Foi tudo assim. Parece que foi tudo programado para atrasar o meu lado.

P/1 – Tudo programado para atrasar o meu lado é ótimo.

R – É o que, você não sentiu isso na pele. Foi onde começou a história, toda a história, e a minha vida começa a mudar a partir daí. História de bar.

P/1 – E o que é você fazia na cambuza?

R – Soltava água, refrigerante, sucos. E aí tinham as sobremesas que era, era como é que chama meu Deus, nem existe mais eu acho, banana split, colegial, e tinha mais umas lá que eu não lembro mais.

P/1 – E você fazia a banana split?

R – Fazia. Era bom e fácil de fazer.

P/1 – E como é que fazia?

R – Cortava a banana ao meio, pegava aquela taça, uma taça assim grossa, tal, duas bananas e três tipos de sorvetes, chocolate, creme e flocos, estava montado ali, castanha, marshmallow, estava pronta a banana split. E aí ia um negocinho lá para o cara comer, não lembro mais como é que era o nome. Mas era muito bom. Era a sobremesa da época. Os restaurantes vendiam isso. acho que não tem mais, e colegial que era uma bola de sorvete com castanha só. Era o que hoje não se pode falar isso para os grandes chefs: “Oh está me tirando?” (risos)

P/1 – E como é que era o Wells, quem que ia, que tipo de gente frequentava?

R – Era assim, não tinha muita opção na cidade. São Paulo ainda não era desenvolvida, ainda estava começando. Tinha os grandes restaurantes como o Le Coq Hardy, que é uma pena acabou, o Tambouille do professor Giancarlo Bolla, existia já o Gallery, os tops, e as redes fast food como Ponto Chic, o Wells era um destaque na cidade. Era uma coisa americanizada, tanto que muitas coisas mudaram. Você vai hoje nos Si Señor, uma rede bacana mexicana, você tem lá no cardápio como, olha como mudou as coisas, onion rings, mas não chamava cebola tirolesa. Então tudo mudou, tudo era, e aí tudo era do grupo Pão de Açúcar, do Abílio e Alcides Diniz, eles na época, tanto que esses filhos deles badalados hoje, eram todos meninos que frequentava, não tem esses filhos do Abílio, filho do Alcides, não tem essa molecada aí que diz da noite com baladas e baladas. Eram garotos que frequentavam o Wells, que eram filhos dos donos. O Pão de Açúcar também não era um lugar glamouroso como é hoje, como na Ministro Rocha que você vai lá e tem uma série de coisas, vinho, não sei o que tal. Era um grupo grande mas bem popular. Hoje que virou tudo, super bacana e de muito bom gosto. Mudou os caras são bons profissionais mesmo. Era do grupo Pão de Açúcar, era...

P/1 – E aí você ficou quanto tempo lá?

R – Eu já entrava num lugar pensando no outro. Porque eu entrava em uma coisa pensando em sair. Era uma coisa. Aí tinha uma, no Shopping Ibirapuera, tinha uma, o maitre, não chamava maitre, chamava-se chefe falão. Ele me odiava, não sei porquê. Um dia ele me viu, eu sempre fui muito ligado a música. Eu sempre gostei, nunca liguei, eu sempre gostei muito de música. Mas nos padrões, não sei por que um dia, se você me perguntar isso hoje eu vou dar razão a ele. Ele me pegou cantando uma música da Xuxa, eu acho que por isso ele me mandou embora. Também vamos combinar de que não é nada de bom gosto. E aí me mandaram embora da Wells depois de uns quatro, cinco meses, me mandaram embora. Mas, dentro do Shopping Ibirapuera...

P/1 – Mas te mandaram embora porque você estava cantando uma música da Xuxa no trabalho?

R – É, ele não gostava de mim, pegou o embalo e mandou embora por isso. Mas foi coisa do passado, que hoje não se faria, jamais se faria esse negócio sujo com uma pessoa. Dentro do Shopping Ibirapuera tinha uns carrinhos de pipoca e algodão doce.

Me lembra um certo romantismo isso, algodão doce dar para as meninas e tal. E aí o Cícero que era o responsável pelos carrinhos me contratou para vender pipoca e algodão doce. E eu trabalhei lá durante uns seis meses nesse carrinho. Foi um emprego bom, na época eu já morava em Moema, já tinha mudado para Moema.

P/1 – Mudou para Moema para ficar mais perto do shopping?

R – É ficou perto do shopping, tinha pensionato bacana, eu fiquei num pensionato lá muito bom.

P/1 – Como é que era Moema nessa época?

R – Ah Moema era um bairro que não tinha nada a ver com os dias de hoje. Moema tinha a Avenida Ibirapuera, tinha aquelas casas antigas, Barracão de Zinco, Moema Samba, Vinicius Bar, Tabuleiro da Baiana, era essas coisas. Hoje é glamour. Hoje tem Café Jornal, Denis Resende com aqueles negócios super bacana. Tem casas maravilhosas em Moema, mudou tudo, aqueles pensionatos acabaram, ficou um bairro super evoluído Moema. Existe aí, dizem, uma grande, que eu ouço falar na noite. Eu não frequento Moema, porque Moema é isso e aquilo, mas tem uma mulherada bonita, tem um povo elegante, bacana, super bairro, super bacana, não sei bem o que vocês gostam de ir, mas, mas eu sei que conhecer a quase trinta anos, conhecer hoje Moema, e vi a evolução completamente. Não vou muito, não frequento muito, mas falando de mudanças eu vi uma mudança muito grande. Estão quebrando lá, fazendo metrô. Mudou tudo. A cidade mudou completamente. Eu vi a cidade mudar. Conhecer São Paulo como eu conheci... Por exemplo, a Praça da Bandeira tinha uma ponte de madeira, as pessoas atravessavam. Depois fui morar no interior de Campinas, quando eu voltei me perdi lá. Ponte, elevador, não sei o que, “Onde é que eu estou?”, “Na Praça da Bandeira”, “Mas tinha uma ponte de madeira aqui”, “Que ponte de madeira?”, já foi começando na década já de 1990. Então eu vi a cidade mudando, tudo, quebraram tudo, transformaram a cidade. Furaram, metrô, buraco para tudo é quanto é lado. Como mudou completamente. Mas voltando lá do carrinho do Ibirapuera, não é isso?

P/1 – Isso.

R – Fiquei lá no carrinho uns seis meses, ganhei um bom dinheiro, ela dava, não tinha compromisso com nada, e aí me virava tranquilamente. Depois eu fui trabalhar no próprio shopping. Eu gostava do shopping, passei a gostar do shopping. Conheci muita gente lá. Fui trabalhar em uma lanchonete com o nome de Bacs de um português, tem até hoje lá. O senhor Augusto. Mais ignorante do que uma pedra. Nossa Senhora, eu sofria na mão daquele português, mas eu não, ele pagava direito.

P/1 – Você fazia o que lá?

R – Eu era balconista. Olha como eu tinha evoluído. Balconista. E aí fiquei lá acho que um ano. Bem nos anos 1980 ainda. Me mandou embora, por isso, por aquilo, não lembro porque, acho que, me mandou embora. Aí eu fui trabalhar no Ponto Chic. Em 1980 e o que meu Deus, em 1987, acredito eu. Nunca tinha trabalhado de garçom na vida. Não fazia a menor ideia do que era isso. Quer dizer, convivia, mas não tinha prática. O gerente perguntou: você é garçom? Eu falei: dos bons. Imagine também eu carregava bandeja. Me lembro que o primeiro casal que eu servi, tinha um negócio lá chamado mexido, deve ter até hoje, faz anos que eu não vou no Ponto Chic. Era um prato que era mexido com presunto, queijo e ovo. Nunca tinha servido à francesa, tinha que servir a francesa, que hoje tenho experiências de outras coisas. Quando eu fui servir o casal, um senhor moreno bem elegante, uma senhora loira, eu fui servir aquela comida, e para ela um bife a parmegiana, para ele aquele mexido. Eu nunca tinha servido aquilo à francesa na vida, é uma história que... Quando eu cortei o bife da senhora, fui servir pelo lado lá como manda a regra, aquele bife escapou e ele pegou a Avenida Ibirapuera à direita ali, que nem um gol GTi da época pegava. Nossa foi o maior mico que eu paguei na minha vida. E o cara super elegante, educado, ele me disse: “Não foi nada, ninguém vai ficar sabendo de nada”. Isso na vida se encontra um cara desse, porque se é os tipos que eu conheço, nossa, já armam o maior barraco.

P/1 – O bife voou?

R – O bife se voou, nem aqueles jatinhos da TAM, ali na frente do aeroporto era mais rápido do que o bife. Ele saiu correndo a Ibirapuera. E aí o cara, “Não, não tem problema, ninguém vai ficar sabendo de nada”. Deveria ser um, não sei o que. Eu lembro do senhor até hoje. Um cara super bacana. Ainda me deu caixinha, ainda. Aí o gerente: “Foi tudo bem?”. “Foi tudo bem”. Tudo mal na mesa do cara. Aí eu comecei, eu falei: “não, não dá”. Aí eu comecei a me aperfeiçoar.

P/1 – Era o Ponto Chic da onde?

R – Do Ibirapuera, da Avenida Ibirapuera. Não existe mais. Aí eu comecei e falei não, não, não. Não dá, não é isso. Eu preciso aprender. Aí eu fiz curso de barman, e comecei a trabalhar, e foi quando eu entrei no Almanara também...

P/1 – Aí você quis fazer o curso, você falou: ”quero ser barman?”

R – É não, aí fui trabalhar no Almanara, também na Vieira de Carvalho, fiquei pouco tempo. Depois eu fui para a Basílio da Gama.

P/1 – Isso como garçom?

R – Sempre como atendente de balcão. Tinha serviço no Almanara. Aí eu conheci um cara...

P/1 – Mais ou menos quanto tempo você ficou no Almanara?

R – Era tudo pouco tempo na minha vida. Era assim: três meses, quatro meses. Era, não passava, raramente passava de seis meses. E estou até hoje. Não fico muito tempo na empresa porque hoje também as propostas são tão, hoje, hoje é outra história. Aí conheci um cara, um João, um cara que devo muito a ele, um cozinheiro que é, isso no final de 1987, um cozinheiro do Gallery. Você imagina hein, agora, agora eu evolui. E aí ele falou: “Cara eu te arrumo de cumim”.

P/1 – Cumim?

R – Cumim é ajudante de garçom. Aí eu comecei a trabalhar, eu cheguei lá, levei os documentos e tal, o maître, o boto...

P/1 – No Gallery?

R – No Gallery mesmo, do Victor Oliva. Era assim. Eram os caras da época. Giancarlo Bolla, Victor Oliva, eram os caras que apitavam na noite. Ricardo Amaral, eram os caras que, Chico Recarey, eram os donos da noite esses caras. E entrar em uma casa daquelas, onde tinha uma fila gigantesca para entrar, e eu do nada chego lá e entro de cumim. Aí eu levei o documento, o maître analisou, mandou para o escritório tal, tudo direitinho. Abre a tua boca, não sei o que tal. Tem dente? Tem dentes sim. Aí eu fui trabalhar, mas não fui nem de cumim. Fui como ajudante de cumim. Tal nome que desembaracei que um cara que limpa os talheres para entregar para o cumim, o cumim dá para o garçom, e vai para o maitre, é uma confusão isso. Acho que não existe mais isso. Hoje não dá mais para ser assim. E aí depois de uma semana me passaram para cumim. Aí eu fui e mandei fazer um paletó, era paletó branco, transpassado, na Vila Romana, me arrumaram tal. Eles pagavam, mas eu tinha que pagar para os caras. Camisa peito duplo, não podia aparecer pelo, tal, não sei o que. Não podia ter botão, era coberto. Era tudo elegante. Calça preta com a faixa, sapato preto verniz, gel no cabelo. Na época eu tinha cabelo. Era assim. Mas aí entrei, foi onde tudo começou na minha vida para valer mesmo. Foi na boate Gallery, na Haddock Lobo, 1626. Foi uma experiência que isso mudou realmente a minha vida. Mas assim, tinha eu mais uns trezentos lá, mas sobrou. Eu era a larva do cocô do cavalo do bandido lá dentro. Não tinha assim, não servia para nada. Perante a quem se achava as estrelas lá. Eu era o pior de todos. O pior da minha vida de tudo o que reinava lá, o pior de tudo foi o preconceito. Como é que eu consegui superar isso, porque baianinho feio, cabeça chata no salão, imagina. Não pode. Faziam de tudo para me derrubar. Porque os caras tinham que ser bonitos de olhos verdes, de Santa Catarina, burro que nem uma ostra em coma, hoje no meu modo de ver, eu pensava mais do que esses caras. Eram muito burros eles. Mas eram bonitos. Então uma vez eu perguntei para o sommelier. “Escuta, conhecendo o mundo do vinho como a gente conhece hoje, a informação que se tem..” Na época você via coisas que falar disso hoje vão zombar da gente. Eu não posso nem comentar isso. Os vinhos eram que serviam eram Zeller Schwarze Katz alemão, Liebfraumilch, Corvo Di Salaparuta, Valpolicella, Frascatti, você não vai falar isso para um sommelier hoje, você é imbecil, falando isso para mim. Mas era top. E o cara treinava aquele nome três vezes para falar, para falar Corvo de Di Salaparuta, ele era bonito, mas era burro. Então uma vez eu falei para ele: “Como é que você aprendeu tudo isso?”. “Eu não sei de nada”. O cara até que foi honesto. “É que eu sou bonito cara, é por isso que eu estou aqui”. Então a beleza ali é o que reinava. Era uma grande mentira que dava certo. Se você pedir para esses caras hoje passar na minha escola de bar, eles vão ter que começar tudo de novo. Até hoje não sabem absolutamente nada, não progrediram. Mas estão aí no mercado, a maioria está trabalhando.

P/1 – Quem é que frequentava o Gallery naquela época?

R – Ali eu conheci de tudo o que você possa imaginar.

P/1 – Quem?

R – Dali eu conheci de Madonna, ali eu conheci Madonna, ali eu conheci Mick Jagger, ali eu conheci Pelé, ali eu conheci várias estrelas do mundo da moda e do futebol, e da gastronomia não reinava nessa época, era muito pouco falar disso. A imprensa não dava muita importância a isso. Quase não aparecia em nada. Mas o povo badalado do mundo eu conheci ali. Ray Charles, todas as pessoas bacanas da música, vinham para o Brasil, era o point.

P/1 – Aí você já estava trabalhando como?

R – Eu já era cumim, e já tinha, já tinha a oportunidade de conhecer essas pessoas, porque era um clube privê. Então você tinha, só entrava com a carteirinha. Mas quem se hospedava no hotel cinco estrelas, e na época um hotel que era moda era o hotel Maksoud Plaza do Roberto Maksoud, que era um trabalho muito bem feito o Maksoud Plaza. Hospedava-se e aí podia entrar no Gallery como convidado. Eles tinham um acordo. E todo mundo que vinha para o Brasil se hospedava lá. O Frank Sinatra fez show no Night Club 150, e o meu irmão mais velho que era barman atendeu o Frank Sinatra na suíte presidencial do Maksoud Plaza. Ele e a dona Barbara Sinatra, eu acredito. Ele me contou a história já de como é que foi. Lá eu conheci todo mundo, mas eu, eu sofri muito, mas voltando a história do Gallery, foi muito bom, mas eu sofri muito preconceito lá. Eu sofri na pele aquilo, e eu superei isso. Para mim foi a maior superação da minha vida, foi o preconceito, vencer isso. Era alvo de chacota, de piada e de, aqueles caras, eu lia livro, eu procurava aprender, sempre fui um cara muito esforçado. Procurava saber quem era o cara que desenvolveu os cardápios de cozinha, eu estudava os cardápios, procurava saber da carta de vinho. Tinha um maître, o senhor Murilo, que era uma alma santa aquele cara, que me ensinou muito. Ele foi o cara que me ajudou muito. Os demais, a maioria, queria era ver a minha desgraça. Tinha um maldito que trabalhava lá, está em Campos de Jordão esse cara, que até hoje ele é assim com as pessoas. Ele procurava as pessoas mais infelizes que tinha lá para fazer o mal. Esse nunca progrediu na vida, esse está sempre na desgraça. Esse eu conheço ele, está vivo ainda. Está lá no interior de São Paulo. Ele não sabe o que é isso coitado, ele não sabe o que é que é lidar com seres humanos. Mas foi muito difícil. Mas ali também aprendi, fiz um curso lá, achei pouco e comecei a estudar, a estudar, e aí tive a oportunidade de conhecer a indústria de bebida, e de desenvolver drinks.

P/1 – E quando é que você muda de cumim para fazer drink?

R – Foi um curso que fiz, apareceu uma oportunidade lá de ter um curso de barman.

P/1 – Lá no Gallery?

R – Lá no Gallery. E essa pessoa que hoje é um grande amigo meu, ele deu curso lá por uma empresa que hoje chama-se Grupo Pernod Ricard, na época era Sigla, e eu sempre quis muito aprender. O meu interesse sempre foi querer aprender. E como até hoje. Hoje tudo o que eu vejo de diferente eu quero saber, eu quero estudar, eu quero aprender. Até porque eu preciso, porque eu vivo em um mundo da informação hoje. Dentro do que eu faço. Aí eu fiz curso, desenvolvi o drink lá, foi um campeonato. Um garçom que lá me auxiliou que era um cara já experiente, chamado Irineu, ele falou: “Olha, você aprendeu o que é rum, o que é whisky, o que é vodka, tal não sei o que, agora você vai para o campeonato, vai ter um júri lá que vai ser aqui dentro. Eu vou ensinar para você que é um cara que quer aprender isso. É um cara diferente daquele outro de que eu falei. Eu vou te ensinar a criar um drink cara. E você vai oh, pega um copo longo põe gelo, põe vodka, bastante suco de laranja, um licor, ele vai ficar amarelo. Amarelo em inglês quer dizer yellow. Então você vai chamar assim, o seu cocktail vai chamar, você coloca o nome nele, no cocktail, decora com uma laranja, tal. É a base”. Eu nunca tinha criado nada na vida nesse sentido. Chama yellow fantasy o cocktail. E aí eu dei ou sorte ou azar, porque o meu, na frente da bateria como eu organizo hoje, campeonato de barman, participei de concurso mundial essa coisa toda, então para mim hoje não tem, mas na época posicionei tal, ele me ensinou como é que ficava, fiz o shake e tal, passei para o copo, e o meu, caí na frente do Giancarlo Bolla. Olha, perito no negócio. “Como é que você se chama menino?”. “É Kascão”. “Kascão, isso é nome de gente? E aí, como é que chama o seu cocktail?” Aí ele piscou para mim, ele fez um gesto. “Yellow fantasy”. Eu nem sabia falar o nome direito. “Por que o senhor não colocou de yellow shit o seu cocktail?” Todo mundo deu risada, e eu não entendi nada. Chamou o meu cocktail de merda amarela. Aí eu, aí eu falei, não posso parar por aí, aí eu precisei estudar, e aperfeiçoar, e viajar em duas, três, falei: “eu não posso pagar mico”. Aí entrou a década de 1990 e chegou a informação, a internet, conheci a indústria, conheci o mercado...

P/1 – Aí você queria, aí você decidiu, vou ser barman?

R – Sim, mas aí eu falei: “já que eu vou ser, eu vou ser um dos melhores”. Então eu não vou ser meia boca. Eu nunca, daí para cá eu comecei a apostar naquilo em que eu acredito, então se eu vou montar um negócio...

P/1 – Mas isso ainda tudo você está lá no Gallery?

R – Estava. Isso foi acho já que em 1988.

P/1 – Você ficou quanto tempo no Gallery?

R – Eu saí do Gallery, eu entrei em 1987, eu saí no final de 1989 para 1990. Mas já tinha pegado, a gente pegou uma boa base lá. A malandragem daqueles caras que eu não deveria ter aprendido nada daquilo com eles, já que estava no meio.

P/1 – Que malandragem?

R – Tudo que se possa imaginar eu aprendi lá dentro. Mas assim. Você também aprende que, você convive com as coisas sempre vai se envolver. Então, conheci muita coisa boa, muita coisa triste, e eu nunca me envolvi com nada que não fosse para o meu bem. Precisa ser assim, se eu fosse me envolver com tudo. Você imagina que eu tenha mais de vinte e cinco anos aí, lidando com noitadas, com mulheres, com bebidas, conhecendo drogas e tudo mais, não, você não precisa se envolver com tudo isso para, porque senão você acaba...

P/1 – Tem um fato marcante assim do Gallery, você lembra de um caso?

R – Nossa, quantos e tantos.

P/1 – Ah vamos contar.

R – Aí dá cadeia. Se eu for contar isso. Não, envolve pessoas e eu não posso falar disso.

P/1 – Mas não fala o nome.

R – Deus me livre, o que é isso. Eles mandam o FBI atrás de mim. Mas assim, quando as pessoas falam… As pessoas adoram os modelos, as pessoas mais badaladas frequentavam aquela casa, e era todo dia. E tem uma pessoa, que na boa, que eu tenho até um certo respeito pelo trabalho dessa pessoa, pelo que eu conheci. Lá ela ia sempre, nunca vi nada demais nessa pessoa. Hoje acho que, já não vejo faz muitos anos, mas eu achei, conviver com a Roberta Close eu achei uma experiência boa. Conviver, quer dizer, atender ali. Era um, é pecado aquilo ali nascer homem, porque era muito bonita. E quando a turma comenta, você cara eu sou antigo, eu sou do tempo em que a Roberta Close ainda era viado. Então, era super bacana. Era uma, e muita gente. Muita gente da moda, muita pessoa, muita gente bacana que frequentava lá. Tem aí histórias que eu não posso nem pensar em contar nesse depoimento aqui, de gente que nossa se envolveu com tanta coisa, com tanta gente. A Veja aí há poucos dias publicou um fato aí com uma capa da revista de um casal que a mulher quer R$400.000,00 reais de uma pensão, a capa da Veja, a pessoa. Então são pessoas nesse patamar que você sabe de histórias deles. Mas não posso aqui ficar falando da vida particular das pessoas. Mas muita coisa vi muita coisa lá. Muita coisa legal.

P/1 – Aí você ficou lá no Gallery.

R – Aí sai. Mandaram embora também. Mandaram eu embora do Gallery porque o Gallery, o Pelé frequentava muito. Eu vi um fato uma vez lá de uma pessoa, um negócio, para você ver o mundo precisa mudar, a consciência da coisa precisa mudar mais ainda mais ainda do que já existe. Eu estive um tempo atrás na França, e me hospedaram em uma região chamada Porte de la Chapelle, um bairro muçulmano. E eu vi coisa ali que não é só aqui. Gente com os brancos, aqueles caras brancos com uns porretes na mão, e do outro lado povo da África. Aquilo vai virar uma bomba ali naquele metrô. Os caras querendo se matar na porrada. Filha da puta e pipipi mesmo na linguagem deles dá para você saber que está havendo ali uma grande briga. Preconceito ali para não frequentar regiões. Mas uma vez eu estava no bar no American Bar do Gallery, o finado Pachá (?) era o pianista. Um respeitado pianista, tinha uma música boa, ali era tudo, o padrão era internacional, o negócio era bacana. E tinha, nesse dia à tarde tinha uma happy hour umas oito da noite, eu vi uma situação que começa a você entender, é meio preocupante para os dias de hoje. Chegou um fulano lá, rei da noite, todo bacana, falou com o maitre: “Quem é…” Tinham seis morenos, pessoas pretas, negros, aqueles negões lá, mas jogador de futebol americano, falam nem no idioma original deles, e o cara chegou e falou: “Eu não quero esses negros aqui, isso vai acabar com a imagem do meu bar, tal, pepepe, americanos. Daqui a pouco chega Hebe Camargo e Amauri Júnior, veem fazer a cobertura, Jô Soares, pepepe, e os cara badalados estavam metidos com as câmeras deles filmando esses caras aqui no meu bar. Aqui não pode, isso aqui é horrível. Abre a boate põe esses caras para o jardins, esconde esses caras daqui. Eu não quero ficando no bar”. Aí o maitre foi lá, todo cheio, elegante e tal, uma falsidade do tamanho, e eu olhando aquilo de longe, sem poder aparecer porque ele nervoso daquele jeito ia me mandar embora. Como eu era o alvo de qualquer coisa. Aí chegou lá e explicou que queria um lugar elegante e tal para eles, aquela coisa toda, não nós estamos esperando um amigo. Ele voltou: “Não querem sair estão esperando um amigo”. “Não fora, não quero mais, e aí o cara levantou e foi lá”. “Pô nós estamos incomodando vocês aqui, nós vamos embora. Tem um telefone, liga para o Pelé, fala que nós estamos esperando ele aqui, mas estamos sendo expulsos daqui”. Aí já mudou tudo. “Não fulano, ele está esperando o Pelé, que os americanos são amigos dele”. Ali ele passou a gomalina no cabelo e botou o seu black tie, e foi lá se apresentar como o dono do negócio e oferecer o caviar, champanhe do melhor que tinha e sentou na mesa. Então era um monte de situação assim que acontecia. Houve uma outra...

P/1 – Nossa!

R – É coisas assim. Uma vez na boate, saiu uma briga na boate de um fato, um cara, o Escadinha Abi Chedid até já morreu. E também o outro cara também já morreu, era o João Batista de Figueiredo, um ex-presidente do Brasil, eu acho que o Figueiredo acusou ele de ter mexido com a filha dele, foi um rolo assim. Eu sei que o Adi mandou buscar, mandou chamar um coronel do exército lá para prender, não chegaram a se falar, o recado de maitre. Aí chegou aquele cara do exército todo cheio de medalha, pepepe, aquela coisa e: “foi aquele lá, que mexeu com a minha filha, leva ele embora da boate”. Quando ele chega lá era o general Figueiredo, chefe dele. “Como é que o senhor, quem está preso é você…” Aí foi todo mundo embora. Era um rolo assim de coronel mesmo. Era um negócio grande. Aí eu saí, embora, fui acho que no começo de 1980, no final de 1989, me mandaram embora porque, depois do curso eu fiz um coquetel, meu primeiro coquetel, criei para uma celebridade. Naquela época São Paulo fazia muito frio ainda. O Pelé era uma pessoa, um cliente assíduo do Gallery, é um cara muito bacana, respeitava todo mundo. Um gentleman o Pelé, um cara gente boa. E o Cosmo era o chefe de bar, tinha saído e eu tinha acabado de fazer um curso. Eu queria, eu bebia um conhaque francês um pouquinho, não era… nunca fui de beber, mas bebia. Quando era frio bebia um conhaque ou bebia um Peachtree, um licorzinho holandês de pêssego e tal, e eu estava sozinho no bar, já tinha uma base, conhecia tudo isso, aquela coisa toda. Então eu queria tomar algo quente. Eu não pensei duas vezes baseado na irish coffee irlandês, esquentei o conhaque e o café, falei: “é hoje que eu faço a minha defesa aqui”. E coloquei o café, conhaque e chantilly que tinha lá, botei, mexi um pouco com açúcar, canela, sem querer eu criei um coquetel espetacular para o frio. Lá para o Pelé canudinho, ele: “que maravilha, como é que chama?” E eu lembrei que a França tinha dado para ele o título de Atleta do Século, e aí uns cinco, seis anos atrás, acho que 1980. E eu falei: “Esse coquetel chama-se Atleta do Século, em sua homenagem”. E aí começou todo mundo no bar, beber, a Hebe Camargo, então ele deu, aquele escritor de novela Cassiano Gabus Mendes, todos eles começaram a beber o drink. Que maravilha, tal. Daqui a pouco já não tinha sido eu que tinha feito o drink, tinha sido o chefe do bar, que não era mais o chefe, foi parar no dono, “Não, essa receita é minha”. Todo mundo já queria aparecer em cima do meu negócio. Isso deu Veja na época. Raramente uma bebida, uma comida, saía numa revista Veja ou coisa parecida. Eu fui o criador da bebida e apareceu o dono como criador. Então as coisas eram bem assim. Quase que raramente, coisas que eu não permito que aconteça hoje. E por essa confusão toda me mandaram embora. Me mandaram embora da casa. Porque era bem assim. As pessoas faziam as coisas escondido querendo aprender. Então foi muito, não é como estou falando aqui, já está digitando na sua TV. Era tudo muito difícil as coisas. Não era nada fácil, porque as coisas eram mal intencionadas mesmo. Não tinha, algumas eram, eram mal intencionadas mesmo. O nosso ramo era muito cheio de, aí com essa vinda dos cozinheiros franceses, acabou com o rechaud, com o maitre fazendo aquilo, acabou com toda essa coisa de bem formal nos restaurantes, e virou o que virou tudo isso. Aí, comecei a estudar, e a comecei a criar, e a trabalhar em bares. Ia em todos esses bares baseados no Soho americano, entrou esse monte de bares contemporâneos e hoje você tem um lugar mais bacana que o outro para frequentar na cidade e isso precisa continuar, precisa abrir um bar melhor do que o outro. As pessoas precisam ter mais opções. Eu mesmo estou abrindo um que vai ser...

P/1 – Você vai contar?

R – Daqui há pouco.

TROCA DE FITA


P/1 – Aí do Gallery?

R – Do Gallery...

P/1 – Porque essa história do café foi do Gallery?

R – A história do coquetel foi do Gallery, me mandaram embora...

P/1 – Do Atleta do Século?

R – Do Atleta do Século. Coquetel que eu criei para o Pelé na época. O meu primeiro coquetel que criei na vida, quer dizer, para uma celebridade desse nível, o negócio deu certo, e aí apareceu um monte de pessoas falando que eram o criador da bebida. Existiu, existe, tinha um cara em São Paulo, uma pessoa muito respeitada que Deus a tenha, um bom homem. De uma marca muito famosa, que chama Wessel, o senhor Janus Wessel. Esse cara me ajudou muito. Esse cara faleceu, é uma pena. Tem o irmão dele o senhor István Wessel que cuida da marca. Ele tinha uma rede de restaurante, um restaurante do canto, da esposa dele, chamado Capricho. E ele abriu uma churrascaria com o nome Wessel Grill, e eu fui trabalhar de barman na casa dele. Uma bela churrascaria. Onde hoje é a cantina do Lellis na Bela Cintra, na Rua Bela Cintra. Depois ele fechou, e aí eu fui trabalhar na Brunella.

P/1 – Como é que era esse Wessel Grill?

R – Era uma churrascaria super bacana. Tipo Rodeio, tipo Esplanada, The Place, era uma churrascaria nesse modo.

P/1 – Tipo bem frequentada?

R – Bem frequentada. Os caras badalado Washington Olivetto, todos que…, né, frequentavam essas casas. Eu fiquei um tempo lá. Depois o Bolla abriu com o Alemão de Itu, uma casa em Campinas, essa casa enrolou e não abriu. Nesse meio tempo eu fui trabalhar na Brunella, lá na Imarés, em Moema. Fiquei lá acho que um ano. E daí fui trabalhar em Campinas.

P/1 – O que é que você fazia na Brunella?

R – Na Brunella tinha uma doceria, um bom restaurante e um bar. Um American Bar. Todo restaurante, hoje em São Paulo não tem mais. Você abre um restaurante, você vai no Dom não tem um bar, um American Bar. Você vai no… Não tem esses restaurantes. Mas os restaurantes da época todos eles tinham um American Bar. Era assim. O Massimo tinha o restaurante, um American Bar com o pianista. Bons restaurantes então, lá tinha um American Bar. Era quase uma obrigatório você ir almoçar e tomar um drink no American Bar, ou jantar, era um pit stop ali, nos restaurantes. Tomar um Manhattan, um Hemingway, alguma coisa, Bellini, Rossini, é um coquetel, tinha que beber, para depois o maître transferir você para a mesa do restaurante. Esse glamour acho que acabou, os restaurantes já não têm mais isso. O tempo parece que todo mundo vive conectado, estão nos restaurantes comendo e ligado na internet, no Iphone, parece que o mundo vai acabar se não ficar no Face, ou em alguma coisa assim. É verdade. É vinte e quatro horas no ar direto. Comer pão de queijo, imagine. Tem um bem aquele: “eu vou comer pão de queijo, pão de queijo”. Tudo está preocupado a beleza. Vamos comer pão de queijo no restaurante, pão de queijo engorda. Eu não vou comer esse patê, patê com pão engorda. Então é assim, vão comer, a preocupação é o Face e um pouquinho de comida que se come. Mas, ninguém quer mais couvert, é uma coisa meio assim. Eu trabalhava com o Edmur que era o pianista que tocava, eu pedia para ele tocar: “Edmur, eu vou preparar daqui a pouco, esse cliente que entrou, ele bebe, ele bebe dry martini cara”. Ele já sabia. Quando bebia o dry martini, ele tocava a música do filme Casablanca, “As time goes by”, porque combinava com a pessoa, então eu sempre comecei a fazer essas coisas de querer saber o que o cliente gosta. Então hoje quando eu levo, quando eu atendo as pessoas no bar, e eu olho para a moça de vinte anos, para a trinta, e aí. A bebida ela parece muito com a pessoa. Então, e foi na própria escola famosa de gastronomia na França você aprende que de acordo com a sua idade também tem a sua pilha degustativa vai mudando de acordo com o que você vai vivendo. Eu não vou oferecer um dry martini para uma menina de dezessete anos, que não tem nada a ver. Mas para ela sim um coquetel mais leve que tem a ver com a personalidade dela. Se eu pego uma mulher madura, vivida, experiente, porque mulher não fica velha jamais, ela fica experiente. Uma mulher madura assim que sabe, o homem certo, a bebida certa, o lugar certo para ir, obviamente que eu vou analisar aquilo e vou oferecer aquela bebida para aquela mulher. E eu sei, isso não é brincadeira, eu brinco isso com as pessoas, mas é que o tempo que te ensina isso. Vocês me desculpem, mas eu sei do que mulher gosta. É verdade. Você olha para a mulher e você fala: “Essa mulher é isso. É disso que ela gosta. É isso que ela merece”. Eu sou especialista em lidar com mulher com situações assim. Raramente a gente erra às vezes. Mas muito pouco. Porque você faz isso o ano inteiro, toda noite. Tem tudo a ver o que eu faço com o desejo feminino. Eu tenho cada drink que para determinadas pessoas eles não abrem mão jamais de beberem aquilo. E essa coisa começou muito cedo nessas churrascarias trabalhando, entrando aquelas senhoras que iam pedir para tocar Ilariê, a turma da Xuxa para uma senhora elegante entrando no restaurante e pedindo um Bellini, ou um drink que tenha uma história universal. Uma música toca para essa senhora, uma música que combine com esse coquetel que ela vai adorar a situação ali com o marido, com os netos, com coisas que ela viveu no passado. Isso é fato, isso acontece mesmo. E as pessoas acabam entendendo, ou é loucura minha, mas eu sei que dá certo. E você adquire muita experiência com isso, isso é. O que preocupa, não é um fato, a gente procura não errar, não é brincadeira isso. Foi, essas coisas aconteceram muito...

P/1 – Mas daí você foi para desta casa para a Brunella?

R – Ah, eu fui trabalhar em Campinas, lá no Geniali. Fiquei acho que um ano e meio lá em Campinas. Lá em Campinas eu aprontei muito lá.

P/1 – O que é que você aprontou?

R – Aprontei de tudo o que possa imaginar.

P/1 – Conta?

R – O quê, você vai se assustar.

P/1 – Vou nada.

R – Naquela época começou acho que 1990 para 1991. Começou a aparecer, a música ela começou a tomar conta do pedaço. Começou a entrar o sertanejo no mercado. Eu sei porque eu fui da turma do rock and roll, por incrível que pareça. Meus cantores eram Nelvis, Raul. Raul eu sei tudo o que você possa imaginar de Raul. Essa semana mexendo, há poucos dias mexendo em umas fotos minhas em casa, eu encontrei uma foto minha com o cabelo aqui, na Rua Augusta, eu já tive esse cabelo mesmo? Tirado daquelas máquinas Polaroids sabe aquelas antigas, com o Raul Seixas na Rua Augusta, isso em 1980 e alguma coisa, mas como pode...

P/1 – Qual é a música dele que você mais gosta?

R – Todas. A que eu mais gosta é a que o povo não conhece.

P/1 – Qual que é?

R – Ah, o Raul eu gosto de tudo.

P/1 – Qual é que é essa música que o povo não conhece, e que é a que você mais gosta?

R – Ele gravou acho que 24, 23 long plays de vinil, e um DVD, e um CD. O último CD foi em 1989. Depois de três dias do lançamento ele morreu, dia 22 de agosto. Na Rua Frei Caneca, o número era 1100, onde ele morava. Foi seu último endereço. E por morar ali, morava no Brooklyn, no Rio, Brooklyn. A última vida aqui no Itaim Bibi, uma vida toda bagunçada. E aí eu cresci, eu cresci ouvindo as músicas dele. Ah tem muita coisa, eu não vou falar aqui, não tenho jeito para cantar. Mas eu sei tudo de Raul. Todas as histórias, vi todos os filmes, vídeo, fui ao teatro ver a peça com o Roberto Bomtempo. Eu fui ao teatro ver uma peça com o Roberto Bomtempo do Raul, a ‘O baú do Raul’ acredito eu que seja, eu não vi o filme ainda. Para ver se realmente aquela é a que contava a história que realmente era, porque eu conheci muito o Raul Seixas.

P/1 – Conheceu?

R – Eu conheci muito, na Rua Augusta, nas baladas, na Praça da República, cantamos. Uma vez ele estava com um violão na Praça da República cantando, ele cantava, tocava, do jeito que a mão ia tocando ele tirava os mosquitos com a barba. Era um cara espetacular. Fazia umas coisas além do normal, mas acho que aquilo estava na natureza dele. E bom, mas voltando lá na história de Campinas, apareceu uma música, apareceu esse cantor sertanejo da época, Zezé de Camargo, e não sei o quem, Leandro e Leonardo, tal, e começaram, e foi quando começou esse povo. E me deram um, eles não tinham, estavam começando, e distribuíam os convites, distribuíam os convites de graça para o show, e recebi o convite lá de um amigo. Oh, vou para o show do Zezé de Camargo, tal, em um espaço lá em Campinas. E nesse espaço eu conheci uma mulher. E a minha vida nunca teve muito assim muito segredo. Eu olhei para ela e falei: “vou casar com você”. Ela deu risada. Eu, não, vou casar com você sim. Ela duvidou. Eu falei: “não, não duvida de mim não. Dá dois whiskys”. Aí dei uma para ela, e rapidinho casei com ela naquele mesmo dia. Verdade. Levei para casa, não queria mais sair lá de casa, era uma mulher lá do Paraná. Nem lembro mais o nome. Casei, morou um ano e meio comigo. Parece...

P/1 – Você não sabe nem o nome?

R – Não, acho que não lembro mais.

P/1 – Ah, Kascão lembra aí.

P/2 – O que é isso, você casou com ela, tem que lembrar.

R – É mas, morei um ano e meio com ela. Parece que eu tenho um filho com essa mulher. Mas não sei se é certeza. Isso já tem vinte e tantos anos, mas também foi embora depois, e nunca mais tive contato. Casei, conheci, no mesmo dia casei. Não sou de enrolar muito para resolver as coisas não. Meu negócio é resolvido na naturalidade, e muito rápido. Não venha me rodear, me enrolar, que eu não gosto disso.

P/1 – E aí você casou?

R – Hum, desculpa aí, mas eu preciso... Ah é de Brasília, mas eu não vou poder atender agora.

P/1 – Atende.

R – Não, não. É um amigo meu lá do, depois eu falo com ele, eu sei o que ele precisa. Esse povo quando liga para você, alguma coisa eles querem por aqui. Mas amigo não tem defeito, e esse é um deles. Bom, e casei com essa mulher, e fiquei lá um ano e meio, e de lá para cá foram tantas e quantas que eu não sei mais.

P/1 – Aí você saiu de lá, o que é que você aprontou lá, foi essa do casamento?

R – Foi. Não, assim, aprontava uma loucura, era muita gente. Foi de São Paulo para Campinas, morar umas trinta pessoas. Chegou lá vai todo mundo, invadimos um prédio lá que alugaram. Imagina trinta caras maluco beleza, o mais velho que fazia parte da equipe era eu.

P/1 – O que é que era, era uma turma, o que é que era?

R – Não é que era, levaram para Campinas para trabalhar.

P/1 – Vocês moravam todos no mesmo prédio?

R – Todos no mesmo prédio, eu acho que o mais velho era eu. Deveria ter uns vinte e quatro anos, por aí.

P/1 – O que é que vocês aprontavam?

R – Nós íamos para uma balada que tinha lá, um lugar de reputação duvidosa. E aí era cada um, uma loucura pior do que a outra. Eu não vou falar aqui o que nós fazíamos, mas era coisa de arrepiar.

P/1 – Você não estava casado?

R – Hum?

P/1 – Mesmo casado?

R – É mas não tinha nenhum problema isso. Tem coisas que você só precisa saber se eu contar. Para evitar estresse é melhor você não, é assim. Essa coisa de relação, a mulher tem certas coisas que não precisa ficar sabendo. Você poupa ela de se estressar. Mulher se estressa muito fácil. É impressionante. Qualquer coisa é motivo para achar que você. Então você não precisa contar. Você precisa poupar ela de algumas coisas. Faz bem a ela. E a gente aprontava muito. Era isso.

P/1 – Aí você sai desse bar porquê, de Campinas?

R – Eu voltei para São Paulo e aí fui trabalhar num negócio chamado Truta Rosa, na Avenida Vereador José Diniz. Eu fiquei lá um tempo. Montei uma lavanderia de roupa para restaurante. E também essa lavanderia acho que não deu muito certo. Isso já em 1990, e abriu...

P/1 – Você já estava separado da mulher?

R – Estava, mas ela voltou. Não sei como ela me descobriu aqui em São Paulo, ela voltou. Ficou mais um tempo. Eu falei: “não, não quero mais, chega, acabou, vai embora.” E já tinha bem umas dez. Era que nem a música do Chico Buarque, era você além das outras três. Então não tinha como você... Até nos dias de hoje consigo administrar essa coisa. Mas na época não tinha muita cabeça para isso. Hoje eu não tenho muito problema em administrar. Mas na época era difícil. Hoje eu sei como é que a banda toca, então, eu e você não pode mentir para a mulher. Já sei eu. Homem que mente para mulher para mim é um cafajeste. Se pode até ter três, desde que as três saibam do que acontece. Agora, aceita se quiser. Agora mentir é pior. Só tenho você. Daqui a pouco ela descobre que você tem ela, e a outra que você tem a outra, aí é pior. Jogue a real. Você pode conviver assim, não tem problema algum. De quem mais gosta, vai saber. Mas mantém numa boa. Mas isso é outra história que não está aqui no nosso script aqui não.

P/1 – Aí aqui em São Paulo você foi trabalhar nesse na Vereador José Diniz?

R – Na Vereador, a Avenida, lá em Santo Amaro. Daí saí, fui trabalhar não sei mais aonde. Foi tanta coisa que aconteceu depois. Ah, abriu em 1994, abriu um bar muito bacana na Consolação, chamava-se Muzeta. O Muzeta Bar foi um bar muito badalado, eram três rapazes lá, e fiquei lá dois anos nesse bar, foi super badalado. Nessa época a gente já tinha, até essa época aí para os dias de hoje eu era no mínimo um barman medíocre, para fazer o que para mim hoje não teria muita graça. Mas foi bem badalado, foi quando eu comecei a aparecer na mídia. Foi nessa época aí. A minha primeira entrevista para um jornal foi, foi na Gazeta de Moema, acho que em 1990, na Brunella. Do meu conhecimento foi, se não do Gallery, não do Gallery não. Nem mencionaram o meu nome quando me roubaram o drink lá. E aí apareceu até todo mundo achando que era o bambambam. Mas do meu conhecimento foi o Moema. Mas agora em 1995 para 1996, aí começou a aparecer. A imprensa começou a divulgar essa coisa de bar, cozinha, chefe. Aí passou a década de 1990, entrou 2000 foi quando eu fui trabalhar na praia em Juquehy. Morei na praia. Fui morar em Juquehy. Ah também casei com uma outra depois. Acho que na época. Aí já era uma loira, grande, bonita, tal. Aí levei para morar na praia. E ficamos juntos lá acho que uns quatro anos. Mas é uma amiga minha hoje. Não tenho problema com ela não. E fiquei na praia, em Juquehy montei um negócio com um cara chamado, fui montar um bar com um cara chamado de Armando Cordeiro, um cara espetacular, uma figuraça, lá de Juquehy. O Frejó. Foi muito bom lá, me dei muito bem com ele. Depois fui trabalhar num restaurante com nome de Gulero, e comecei a dar treinamento para todos os barman da praia. Levei a coquetelaria para o litoral norte de São Paulo, que tinha muita pouca coisa lá. Só tinha um restaurante o Manacá, eu acho que deve ter até hoje. Muito bom, por sinal, de um grande chefe de cozinha, o Edinho Engel. Daí conheci um cara, Eudes Assis, um grande chefe de cozinha que viajou o mundo inteiro por uma companhia. Cozinheiro em navio. Esse cara está na moda hoje, é um cara super bacana. O Eudes Assis, é um grande chefe de cozinha. Aí eu comecei, levei um amigo meu, o nome dele Ivã, para dar curso comigo no litoral norte. Eu levei toda a coquetelaria. Aí começou a abrir muito bar, muita casa no litoral. Do ano 2001 até acho 2004 por aí. Abri depois uma casa noturna com um outro cara, o Pinheiros, uma casa de balada. Participei de todos os campeonatos de bar, ganhei vários, perdi vários.

P/1 – Qual foi o mais importante que você ganhou?

R – Eu participei de campeonato paulista, brasileiro, sul-americano. O mais importante foi pelo luxuoso grupo LVMH. Que foi muito bem organizado aqui no Brasil, era representado pela Chandon do Brasil. Uma menina por nome Cristiane Alferes que é embaixadora da Chandon. Ela me convidou, o grupo fez, realizou um concurso mundial. Com as principais cidades do mundo. Londres, Paris, Nova Iorque, São Paulo. E no Brasil me convidaram, convocaram doze profissionais do Brasil, acharam-me em São Paulo, e não sei porque entre esses doze eu estava no meio. Me convocaram lá. Até brinquei com ela: “Preciso de uma caixa de Veuve Clicquot e Moet Chandon que eu vou fazer um evento super especial” “Ah não tenho” “Ah então não vou para o concurso” “Não, eu tenho” “Está bom. Então eu vou para o concurso”. Aí arrumou, e eu falei para ela: “Já que eu vou, eu vou para ganhar” “Ah, Kascão, você é pretensioso mesmo” “Eu vou para ganhar” Aí, foi entre os melhores do Brasil. Os melhores barman do Brasil, estavam competindo comigo aqui na Avenida Brasil, na sede da LVMH que é o Louis Vuitton Moët Hennessy. Super concurso. Nessa mesma época estava acontecendo em Portugal, Nova Iorque, Paris, Londres, não sei aonde, Shanghai, Dubai, estava no mundo inteiro esse concurso. Fomos para a eliminatória, fizemos um curso lá para conhecer o que era a marca e tal, voltamos, desenvolvi as receitas. Essa receita tinha que ter a ver um a história da sua cidade, São Paulo que era a minha cidade, que é a minha cidade aqui morando aqui. Tinha que ter uma história da cidade com a bebida. Eu imaginei fazer uma homenagem aos cozinheiros, aos chefes que vieram. Depois eu mudei, falei não, não vai ficar legal. Aí eu falei bom eu vou, ah tem um negócio legal que é conhaque. Que é a matéria prima do coquetel, e músico. E eu lembrei que eu trabalhei na noitada com muito músico. Vi show de, trabalhei uma época no Olímpia que foi uma badalada casa de shows, cantou Roberto Carlos, todo mundo e o roqueiro Tim Maia. Esses caras, vi todos eles cantando lá. E eu lembro que esses caras bebiam uma maioria, bebiam conhaque para a garganta. Dizem eles que era bom para a garganta. Coisa de louco. E daí, nossas avós diziam que romã era bom também para a garganta. Então começava a dar certa a história do meu coquetel. Do conhaque com romã. Aí tinha que ter, isso uma assessora de imprensa escrevendo tudo. Daí entrava também o suco de cranberry, porque esse suco ele está no mundo inteiro hoje, e São Paulo é uma cidade que tem gente do mundo inteiro. Aqui vivem harmoniosamente sem bomba, sem guerra, sem nada, então ah vou colocar o suco, e também encaixava na receita e dava perfeito. E o suco entrava por o concurso ser mundial, estar no mundo, então entrava aqui também. E as coisas começaram a dar certo. Aí falta mais alguma coisa... Nós ficamos vinte anos para colocar a caipirinha no mundo. Dez anos aliás para colocar no mundo pelo IBA que é o International Bartenders Association. E o IBA tinha sessenta drinks, e precisava ser sessenta e um, precisava entrar mais um drink. O russo queria colocar a caipiroska de vodka, não tinha história. Na época fizemos várias reuniões e entrou a caipirinha. A caipirinha está no mundo hoje porque nós colocamos ela no mundo. Eu também faço parte dessa história da caipirinha estar no mundo hoje.

P/1 – É mesmo, como?

R – Porque você de vários congressos no mundo, o único coquetel que se encaixava, que tinha uma história dos caipiras do interior de São Paulo era a caipirinha. Mas voltando para o drink senão eu vou esquecer, entrava o suco de limão no coquetel porque representava a caipirinha. Comecei fazer essa receita já em um bar onde eu trabalhava nos Jardins, agora em 2008, que era um bar, Rolland Dry Bar, era um bar super badalado aí que eu trabalhei, uma história que deu super certo lá, e aí faltava uma coisa para decorar. Então tinha que ter uma folha de hortelã bonita que é para representar a floresta amazônica, tal. E essa história toda foi escrita em francês, foi para a sede na França do grupo e lá veio o resultado do Brasil, eu ganhei o resultado aqui no Brasil, fui campeão, aqui no Brasil e sobraram doze campeões do mundo para competir em Conhaque. E eu fui para Conhaque competir, lá foram eliminados nove. Já de cara eu fiquei entre os três do mundo. Ficou eu, brasileiro, um italiano, e um americano. Foi lá no castelo de Hennessy a final.

P/1 – Quem que paga, quem convida, é o pessoal do concurso?

R – É o grupo LVMH a Louis Vuitton Moët Hennessy é um grupo gigantesco, sessenta empresas, eles pagaram tudo, que organizaram tudo, tudo por conta deles. Daí foi eliminado o italiano. Ficou eu e o americano, um dos dois. Aí saiu o resultado lá no telão com Goutier, Arnault presidente da Louis Vuitton eram os júris. A coisa era bem organizada. Aí o resultado: campeão mundial pelo LVMH, Kascão Oliveira Lima do Dry bar, São Paulo. Foi uma festa no castelo, todo mundo parabenizando.

P/1 – Você trabalhava no Dry?

R – É na época em que eu trabalhava no Dry, não sei. Você conheceu? (risos)

P/1 – (risos) Te contei?

R – Aí foi um grande concurso. Para mim foi o mais importante. E recebi todos os presentes da companhia. Me levaram, trouxeram, davam todo o cuidado. E foi super bacana. E foi um concurso mesmo reconhecido pelas grandes marcas. Tem toda a mídia. As grandes celebridades da cidade aí foi, quando eu faço um drink para competição, eu começo, eu faço coquetel para mulher. Eu acho que a mulher tem um paladar muito mais… Mulher tem um paladar muito mais refinado, mais exigente. Afinal, mulher é mulher. Não tem. Tanto que tinha uma mulher, uma mulher, uma cliente por nome de Maria que frequentava esse bar. Uma pessoa amiga, super bacana. E um dia o cara falou: “Maria”. Eu falei: “Cara, deixa eu te contar uma coisa. Maria é o nome mais importante que uma mulher possa receber. Eu conheço a vida, o mundo, as coisas da vida. E eu conheço por obrigação, tenho que saber, como eu moro no centro de São Paulo há muitos anos, eu conheço lá, conheci um delegado, que ele pegava a fila de travesti e colocava no paredão. Começava a chamar por nome: Sebastião Pereira. Aí vinha a bichinha, sou eu. Mas, eu me chamo Patrícia. Então, eu nunca vi na vida um travesti com o nome de Maria. Não existe isso. Maria é tão sagrado que não vai, por respeito ao travesti, mas Maria é um nome tão sagrado que não tem travesti com o nome de Maria. Não existe isso”. E essa bendita Maria foi a que ajudou a divulgar lá esse drink e tal no meio das pessoas.

P/1 – Qual drink?

R – O Renesi.

P/1 – Renesi.

R – Uma amiga, uma cliente, e depois mais várias outras clientes lá, de TV, de jornais, tal, foi uma história que foi bacana. Foi um concurso super badalado e bacana esse aí.

P/1 – Aí você saiu do Dry?

R – Fui para o Iate Clube Ilha Bela. O Comodoro do Iate Clube Ilha Bela, me convidou para eu fazer um réveillon lá, eu fiquei lá também. Abri um bar na cidade, e uma história antes disso, abri um bar na cidade com o nome de, fui convidado para abrir um bar com o nome de Paribar. Eu fui porque foi um bar que marcou uma história no centro de São Paulo. Eu tenho muito vínculo com o centro de São Paulo. Tenho muito vínculo lá, e abri esse bar pela história dele. Foi o bar que frequentava Lula no passado, um bar que ia o Assis Chateaubriand. Os intelectuais e políticos da época. Lula já pegou mais no final. Esse bar foi de 1940.

P/1 – O Paribar?

R – O Paribar foi um bar onde ia os grandes intelectuais, celebridades, o centro, o glamour do centro de São Paulo da época. Os carros, das senhoras que frequentavam, não era essa bagunça que fizeram no centro de São Paulo hoje. O centro de São Paulo era um negócio, que não foi da minha época, mas pelas fotos, depoimentos de pessoas que conversei lá nesse bar, eu fiquei lá uma época, pessoas já bem idosas, mas que eram jovens na época, e tem fotos mostrando o que é que era o bar. Uma pessoa abriu esse bar, foi agora em 2010, e me convidou para ser barman, e lá a imprensa caiu em cima. Deu muito resultado esse bar, como mídia, contando a história. E eu levei a coquetelaria para lá, e recebi todos os amigos, imprensa, todo mundo lá. De lá eu saí e fui para o Iate Clube Ilha Bela. Recebi uma ligação de um camarada, de nome Ronaldo Camelo, dono, presidente do grupo São Bento. E abriu, ele tinha um projeto para abrir um bar com o nome de Anexo SB, é onde eu estou agora, onde eu recebo todos os dias, estou lá há um ano e meio, poderia ficar até setembro, agora estou saindo, porque estou saindo de férias, vou para a Europa pesquisar novas bebidas. Devo sair agora dia dez de junho, devo ficar um mês na Europa. Agora pesquisando nas escolas os meus amigos de bar lá. Portugal, Espanha, França, Itália, para eu ficar um tempo para trazer novas experiências, porque eu vou abrir o meu próprio bar, no aeroporto de Congonhas. É um investimento milio...

P/1 – No aeroporto de Congonhas?

R – É na frente do aeroporto de Congonhas, ali na Rua Baronesa de Bela Vista, um espaço maravilhoso, um projeto do Bruno Guedes, um arquiteto que, foi o arquiteto que idealizou o Dry, o projeto é dele, quer dizer, idealizou, o projeto dele, por isso estou levando ele para lá. Já está desenvolvido em 3D. Já estou começando a obra.

P/1 – Você vai abrir com sócio, ou sozinho?

R – Mais com um engenheiro, e um diretor comercial da Infraero. Um projeto milionário que vai dar muito certo, que já está tudo esquematizado. Eu sou sócio desse novo projeto, e aí vai ser o meu próximo negócio. De 28 de abril de 1967 até o final do ano de 2012, foi tudo isso que aconteceu. Pelo menos do que a gente lembra.

P/1 – E essa tua ligação com o centro? Você foi morar lá onde, em que lugar?

R – Eu sempre morei na Avenida São João. Sempre morei na São João. Hoje não tenho problemas, porque é tudo mais fácil para mim.

P/1 – Como é que era a Avenida São João quando você foi morar lá?

R – Já tem vinte anos isso, na Avenida São João. O que mudou foi a contramão, ela era mão única, agora é mão dupla. Eu vi muitas farras de carnaval lá, acabou isso. Agora tem aquela coisa, precisa mais segurança. Eu morando lá, como eu conheço todo mundo, o comércio, ainda precisa as autoridades botar, para o centro de São Paulo inteiro, precisa que as autoridades tenham mais cuidado. É um pouco abandonado ainda. Se fala de muitas empresas irem embora por falta de segurança. O maior responsável por isso é o Estado. O Estado é que precisa cuidar disso. A gente paga tanto imposto para poder estar o centro de São Paulo abandonado.

P/1 – E por que você tem essa ligação tão forte com o centro?

R – Ah?

P/1 – Por que você tem essa ligação tão forte com o centro?

R – Não, eu acostumei, é uma questão de costume e tudo foi muito. Comecei muito cedo a trabalhar nos Jardins, e aí para mim é tudo mais perto. A questão do trânsito. Agora tem metrô, então da porta de casa ao Itaim aqui, tudo tem metrô. Ficou tudo mais perto para mim. Eu tive empresa de eventos, e sempre a minha clientela foi na região. Então eu sempre tive escritório em casa para cuidar dos meus negócios também. Cozinha para desenvolver alguma coisa, bar. O meu apartamento, é até feito um apartamento mesmo.

P/1 – Onde é que é seu apartamento?

R – Na Avenida São João mesmo. E já tenho lá muitos anos, e daí ficou muito mais fácil para eu me locomover. Se tivesse morando aí na zona sul, e fazer um evento na Avenida Paulista, você imagina o transtorno, trânsito, que é essa coisa toda. Por isso que ficou ali, e não pretendo sair de lá. Se falar quer mudar de lá. Eu acho que não há necessidade. Toda a minha vida foi feita meio na necessidade. Eu vim comprar celular quando a coisa precisou mesmo de, eu preciso agora de um celular. Chegou aqui em 1992, eu vim comprar em 1997, 1998 acredito eu, não sei mais. Mas tudo porque é questão de necessidade, nada de vaidade. Eu não preciso de vaidade. Por que eu quero vaidade. De onde eu vim não tinha nada, nem água direito para beber por que é que eu quero vaidade. É claro que eu não, vou em tudo o que é lugar. Vou no Sky Unique, vou no Fasano, vou no Atala, vou, porque não devo nada a ninguém, não devo satisfação a ninguém. Nunca ninguém me deu nada. Então se eu quiser comer onde eu vou, eu vou, com quem eu vou. A grana é minha. Eu gasto onde eu quiser.

P/1 – Nesse tempo todo qual foi o, tem algum fato que você queira destacar assim da night que aconteceu algum um caso, desses 317 mil que você tem?

R – Não, isso é comprometedor (risos).

P/1 – Se você pudesse mudar alguma coisa na sua trajetória de vida você mudaria, faria diferente?

R – Ah, se tivesse que não passar por algumas coisas, eu destacaria o preconceito. Eu acho que isso, eu sofri bastante com isso. Vi pessoas que se acham fulano, discriminando porque é preto, quer dizer, preto é sapato, é porque é negro, fulano por vir de tal região, fulano por ser indiano, fulano por ser, enfim. Não só comigo. As pessoas de uma forma geral. Por isso, eu realmente não gostaria de ter passado. É muito triste você ver um espanhol morando aqui na tua cidade, um francês morando aqui. Eu vi um italiano uma vez em um restaurante chamando um garçom meu de africano porque o cara era preto, mas com discriminação. E eu realmente eu quebrei o pau com ele, e fui para cima dele mesmo porque, na Itália é assim, o cara nasce em Napoli ele não é italiano, ele é napolitano. Então ele era de Roma. Eu estou indo para Roma agora. Eu falei: “Ei, italiano”. Ele falou: “Italiano? Eu não sou italiano, sou romano”. Sabe essas coisas assim... É muito o cara ir para lá e tratar, é um pé de árvore, é umas coisas absurdas. Então houve muita coisa assim que eu não gostaria de ter passado na minha vida. Preconceito é uma coisa que não sei se um dia consegue acabar, mas é muito triste para qualquer ser humano. Eu fui vítima disso. E essas pessoas, há poucos dias eu encontrei um, numa grande rede de drogaria eu fui comprar um remédio, um negócio, eu encontrei uma pessoa nessa drogaria, um cara que foi elite da cidade, e é, e continua sendo o bambambam, me procurando, e me chamando pelo nome, me parabenizando porque, “Nossa seu trabalho é bacana”. Essa pessoa já me discriminou há mais de vinte anos. “Baianinho, não serve para nada, manda isso embora”. No próprio Gallery. Essa pessoa era de lá. E aquela coisa por eu ser um cara educado e saber entender esses imbecis, esses falsos personagens, eu dei toda atenção a ele. Dei toda atenção a ele. Cumprimentei, convidei para ir no bar onde eu trabalho, ainda eu tenho a liberdade de convidar as pessoas, pelo trabalho que faço, e até pelo cara que sou. Não tenho problema em receber ninguém. Mas eu me lembrei que ele me discriminava bastante e ele agora ficou quase que me puxando o saco. Mas isso para mim é bobagem, isso para mim não tenho, não guardo mágoa de ninguém não. Sou um cara bem feliz.

P/1 – Qual é o seu maior sonho hoje?

R – Ah?

P/1 – Qual é o seu maior sonho?

R – Ah, estar dando esse depoimento aqui para você. Não, eu vou abrir essa casa. Eu tenho um sonho de realizar esse meu novo projeto. Eu acredito muito no que eu faço, e eu tenho o sonho de realizar essa nova casa, a Baronesa, como foi dado o nome lá devido à rua. E é um sonho que eu quero realizar. E já tive outros negócios na minha vida. Uns de grande sucessos, outros foram uns fracassos. Mas assim a vida foi sempre, mas sempre foi muito, a maioria se realizaram com sucesso. Agora o meu sonho agora é realizar essa casa nova e como eu sou sócio lá é preciso que tudo dê certo lá. Correndo agora atrás disso. Posso agora sair do grupo São Bento para viajar e quando voltar, abrir, e quero fazer sucesso lá, e ganhar dinheiro lá e está tudo certo.

P/1 – O que você achou da experiência de contar a sua história aqui hoje?

R – Ah, foi muito boa. Precisava dessa oportunidade. A gente tem, não tem aquela, oportunidade é uma coisa que quando é boa você não pode perder. E essa é uma delas. Muito bom o trabalho aqui, fiquei super feliz pelo convite, e tudo o que eu falei aqui é real, não aumentei nada, eu não lembro de muita coisa que aconteceu, porque foram também quarenta e cinco anos de história, como é que eu vou lembrar de tudo isso? Mas o que estava ao meu alcance aí de contar, muita coisa da infância que eu não lembro mais, mas foi muito bom. Obrigado aí a todos aqui do Museu da Pessoa que convidou, todos vocês aqui, a Rosana, muito obrigado.

P/1 – Lindo!

R – Até mais.

FINAL DA ENTREVISTA