Museu da Pessoa

Uma empresa de muitas histórias

autoria: Museu da Pessoa personagem: Antonio Carlos da Silva

Antônio Carlos da Silva, nascido em 26 de agosto de 1936, em Salvador, Bahia, Capital.
FAMÍLIA
Pais: Antônio Pedro da Silva e Maria Amália dos Anjos. Avós: Maria Margarida dos Anjos e Colondino dos Anjos, maternos. E paterno era José Colombino da Silva. Eles eram de Cachoeira, Estado da Bahia, no Recôncavo - muito bonita, por sinal, linda de morrer a terra.
INFÂNCIA
Fui criado em Salvador e estudei em Salvador, nasci em Salvador, estudei - tudo fiz lá. Eu morava no Largo do Tanque. Largo do Tanque é um bairro assim como hoje Cosme Velho, né, na época. É próximo, Largo do Tanque era a única rua que dava acesso a Salvador na época que eu nasci, e essa estrada era única. Salvador seguia só pela estrada de Campinas de Pirajá é que dava acesso a toda área, porque você não podia passar por Itapuã, não tinha retiro, não tinha paralela, foi há muito tempo, há 66 anos.
A minha infância foi uma infância muito bonita, jogando bola. Sempre procurei ser independente, aí eu passei, com 8 anos, eu passei a vender água na feira e me lembro bem que era assim: dois copos de água, 100 réis. Vendia água na feira e logo após para crescer, para poder ir para a geral do cinema, porque foi o lugar que me ensinou tudo foi a geral do cinema, porque são coisas que você não sabe, geral do cinema é um negócio diferente, você lê ao contrário, então se o bandido atira pra lá, você vê a bala vir pra cá. É porque fica no fundo da tela. A geral é o fundo do cinema, hoje não existe mais, mas na nossa época, era a metade do preço. Então por não ter dinheiro, então vi o Zorro, pá, com o cavalo Silver corria para lá você já sabia que ele estava correndo lá, mas você via ele correndo para cá. Era atrás da tela. Eram uns pranchões de madeira em que você sentava ali que sentia muita vontade porque não tinha grana e também você podia entrar com qualquer roupa, porque naquele período você não podia, você tinha que ser mais elegante, né? Hoje entra no cinema de chinelo, de tudo, mas naquele tempo você tinha que andar bonitinho para ver, e eu adorava isso. Na geral, adeus Maria Filó, existiam seis cinemas em Salvador com essas condições.
E aí eu vivi uma infância maravilhosa jogando bola, gude – gude, você sabe o que é gude? Fura-pé, essas coisas, foi uma infância linda. Nós tínhamos um vício que na estrada nossa passava o gado, né, porque Salvador era uma província praticamente, então passava o gado, aí o que é que eu fazia? Eu e um grupo de amigos pegávamos o sal, jogávamos no fogo para o gado, é superstição, mas existia isso, aí o gado ficava revoltado, saía da manada e a gente saía correndo atrás do gado e aí aquela festa de menino.
INGRESSO NA PETROBRAS
Aí que até os 13 anos, 13 anos realmente eu vendendo água na feira, de água de meninos e passei em frente ao prédio da Petrobras, o antigo prédio da Petrobras na Jiquitaia. Eu tenho fotografia dele aí. E lá um senhor, senhor Dalton, e que naquele tempo era querosene não tinha gás liquefeito, não tinha essas coisas e como a feira da água de meninos era barco à vontade, era o transporte da Bahia de todos os Santos. Aí o que foi que eu fiz? Vendi minha água, peguei meu dinheirinho, eu disse: “Vamos embora”. Passando em frente ao prédio da Petrobras estava um pessoal do interior, aquele pessoal de barco com as latas de gás de 18 litros enchendo e tinha um senhor de idade que ele pegou, escorregou da mão dele, eu digo: “Espera aí deixa eu ajudar o senhor”. Eu ajudei, seu Dalton disse: “Gostei do menino”. Ajudei o outro, ajudei, a gorjeta que me deram era superior à água que eu vendia. Aí no outro dia eu fui. “Já arranjei um bico melhor”, passei a viver disso, num período de 4 meses houve a necessidade da Petrobras, que tem as oficinas e eram oito oficinas. Eu tinha 13 anos. Tinhas as oficinas, aí eu, o engenheiro Pedro de Moura passando, disse: “Seu Dalton, esse menino é bom?” “Esse menino é excelente.” “É que nós estamos precisando de office boy para trabalhar, levar recado de oficina para oficina”. Que oficina elétrica mecânica, de veículos, oficina mecânica pesada, de torno, e pegou oito rapazes da minha idade, aí nós ficamos e foi aí que eu entrei na Petrobras, em 1953.
Eu tinha 13 anos e 6 meses quando entrei na Petrobras. Aí saí da Petrobras, fiquei um período, aí o que é que aconteceu? Tive necessidade, que era obrigatório na época ir para o Exército, deixei de ser office boy e fui para o Exército, no Exército encontrei meu amigo particular que eu adoro, coronel Amadeu de Paula da Silva, que ele recolhia meu dinheiro e mandou, porque eu era muito esforçado, mandou que eu fizesse uma escola, tentasse uma escola. Então fui para o colégio central e tentei uma escola e ele me liberava, eu tomava conta da sapataria porque eu também era sapateiro, para ganhar dinheiro naquele tempo tinha que fazer de tudo, contanto que honesto. Aí fui, fiz curso de eletricidade na Escola Urânia, que era uma escola profissionalizante de Salvador antes de ter escola técnica, de ter Senai, de ter isso. Fiz, quando eu retornei para a Petrobras aí o pessoal disse: “Vamos fazer um teste para eletricista”. Aí voltei, saí do Exército, passei dois anos e meio, porque eu fui obrigado a engajar, você sabe o que é engajar? É continuar, o coronel, o comandante do quartel não o libera, aí você é obrigado a engajar, um termo do Exército, porque ele precisa dos seus serviços. Aí fui engajado lá, passei. Quando chegou o período, ele disse: “Agora você já é eletricista”, aí volto para a Petrobras.
ELETRICISTA
Aí eu voltei pra Petrobras, em 13 de junho de 1957, quer dizer, como a lei... Exército e Petrobras na época eram ligados ao governo. Os funcionários da Petrobras eram, do Conselho Nacional do Petróleo, eram funcionários federais aí eu voltei, fui para o campo. Era Conselho Nacional do Petróleo. Era em 54 que mudou, 54 eu me lembro bem, na morte de Getúlio Vargas, eu estava no Exército na morte do Getúlio Vargas, são os fatos que estão aqui na memória que não saem. Voltei, fui para o campo de Dom João como eletricista, mas naquele período era diferente o eletricista, na Petrobras é totalmente diferente hoje a situação, o eletricista, nós entramos como eletricista de segunda A, B, C, D, recorria a estágio. Daí depois de oito anos você passava eletricista de primeira A, B, C, D, e mudou a situação atual da Petrobrás. Hoje é por mérito, naquele tempo você passava um ano e 6 meses para ganhar uma promoção e se você tivesse falta era cancelada a sua promoção automaticamente.
CONTRAMESTRE
Em Dom João eu entrei como eletricista de segunda e fui crescendo, A, B, C e D, depois eu fui eletricista de primeira, A, B, C e D, para passar a contramestre foi esse fato.Mas eu continuei sendo eletricista. Aconteceu um fato interessante na Petrobras, você podia ser tudo, naquele tempo você podia ser a maior sumidade, você podia ser o maior trabalhador, mas o seu nível era aquele e acabou, não importa, hoje você tem o jeton, e ganha isso, ganha isso, hoje eu vejo todo mundo técnico, naquele tempo não, você crescia aquilo que eu te falei de 1 ano e 6 meses se você fosse muito esforçado, competente era 1 ano, isso não podia ultrapassar, era norma da empresa, você não podia ultrapassar, nem ter promoções a não ser quando fosse um fato desses. Quando a documentação chegou para a superintendência, doutor Dirceu e o geólogo Adriano, eles mandaram: “Olha, o Frango D´Água resolveu um problema de ordem muito alta na Petrobras por isso nós estamos promovendo ele a contramestre de eletricidade”. Foi aí que eu fui promovido a contramestre de eletricidade. Foi em 64 e houve isso, porque ia cair todo mundo, porque estava americano em cima.
EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL
Eu trabalhei em toda área da Petrobras no Brasil, morei nos Estados Unidos.
A experiência nos Estados Unidos foi bonita, no Iraque foi bonita Eu fiz curso de operador de controle e fui para montar a Petrobras 3, eu morei no Texas durante algum tempo, e onde tinha montagem, onde tinha equipamento eu ia.
Tudo, eu me realizei, porque eu nunca tive barreiras, eu nunca tive chefe, a realidade é essa, eu tive amigos como os outros, que hoje a burocracia tem que falar com o chefe, eu não falava, eu entrava no escritório, você entendeu, eu nunca na minha vida me sentei pra falar com o chefe, eu entrava, entendeu? O que eu estou falando, nunca, e todos eles continuam sendo amigos fabulosos mesmo, os vivos, continuam, têm um respeito, porque eu achava, nas seguintes condições: como você se impõe? Você se impõe sendo um bom profissional, competente, respeitando e sem puxar o saco. Você tem que ter seu respeito, respeitar o chefe, mas impor o seu respeito profissionalmente, não adianta você fazer como vários amigos meus, tem coisa fabulosa.
APOSENTADORIA
Eu me aposentei em 1983.Fui contratado pela Petrobras. Eu era técnico e eu fui para o escritório, né, eu fui para o escritório para ser supervisor lá em Salvador, deixei porque já estava enjoado de aviãozinho. Eu tenho uma empresinha que trabalha para a Petrobras, já tem muita gente. Mas hoje eu não quero, hoje eu não trabalho mais não, hoje quando eu chego lá é para bater papo com os meninos, não tem serviço para fazer, porque eu tenho orgulho da Petrobras, porque todo esse pessoal que foi antigo ele tem um respeito por mim maravilhoso. Eu tenho 50 anos de trabalho na Petrobras. Eu tenho empresa que presta serviço para a Petrobras e nunca saí, não vou sair da Petrobras, não vou sair porque foi o lugar que me acolheu, porque o que a Petrobras fez por mim jamais alguém vai pensar, de tanta bondade, porque a minha história dentro da Petrobras é um negócio de louco.
VIAGENS PARA O CAMPO
Foi uma vida dura, no campo de Dom João. Só para você ter uma idéia, o doutor Pedro de Moura, que era o todo-poderoso, chegou e disse: “Você vai para o campo Dom João”, eu digo: “Pronto, estou indo”, ele disse: “Toma o ticket de trem”; peguei o ticket de trem. O trem saía às 18 horas, chegava em Candeias às 20 e 20 mais ou menos, daí nós pegávamos um carro de turma, que era uma caçamba de ferro que tinha um detalhe: cada vez que esse carro ia até São Francisco do Conde, até Dom João, que dava 28 quilômetros, tinha um detalhe esse carro saía depois do trem 20 minutos, se você perdesse esse carro você teria que ir a pé esses 28 quilômetros, senão você perderia o emprego, entendeu? Aí quando normalmente, aquilo de menino novo, você tomava uma, daqui a pouco ficava cinco, seis. Aí, o que nós fazíamos? Reunia o grupo e tome a paleta 28 quilômetros para estar de manhã no campo. Naquele tempo tinha os expedicionários, nós chamávamos de expedicionários e funcionários federais, era o que coordenava a Petrobras, porque engenheiro não mandava na Petrobras, o engenheiro veio ter uma seqüência melhor na Petrobras em 1959. Porque todo engenheiro era administrado pelos funcionários federais, ele podia ser a maior sumidade - a não ser o Pedro de Moura, o doutor Lúcio, que era funcionário também, era engenheiro, mas era funcionário, o resto do pessoal não tinha nada, sabe como ele dava demissão a você? Com uma caixa de fósforos e uma caixa de cigarro: “Passa no escritório, você está demitido” “Ah, e o que você tem direito?”, “Direito a nada”. Quando eu entrei na Petrobras não existia folga, você trabalhava direto e eu com 13 anos. Quando o comércio passou, foi um comércio do Brasil todo, quando o comércio do Brasil passou a trabalhar um sábado, não trabalhar sábado, aí nós passamos a ter direito a quatro dias no mês. Só que esses dias eram seqüenciados, se você folgasse hoje, domingo, segunda, terça, quarta no próximo mês não teria folga ou teria folga seqüenciada. Então você nunca tinha os domingos, você nunca podia fazer programação com a sua família, você não tinha programação com a sua família, se tivesse assim um batizado que você fosse ser o padrinho, tinha que programar o dia de você conversar com o chefe para ele liberar a sua folga, porque tinha um detalhe, a distância apesar de São Francisco do Conde ser hoje 67 quilômetros, eu vou sempre lá, mas você não tinha condições de vir a Salvador porque não existia estrada. E o transporte oficial, o nosso transporte do pessoal menos favorecido na época era o navio Visconde do Cairú, ele saía de Santo Amaro, da terra do Caetano Veloso, à meia-noite e vinha pegando as canoas com os mariscos, quando ele passava no São Francisco do Conde era 2 e meia, 2 horas da madrugada, e saía pegando o pessoal, Maria Guarda, Bimbarra, aquelas horas, chegava a canoa, botava em cima o marisco, chegava em Salvador às 7 horas da manhã. Ou seja, de Santo Amaro, que é Recôncavo, até chegar em Salvador eram 7 horas de viagem, normal. A não ser que você perdesse um dia - nós perdíamos, para folgar, nós perdíamos um dia de viagem, porque você teria que sair do acampamento, dormir em Candeias, porque não tinha trem em Candeias de noite a não ser pegar o carro, que muitas vezes eu peguei, o carro do gado, você vinha dentro de pé.
PAGAMENTO NO CAMPO
No período que eu entrei era como se fosse regime militar, você recebia uma faca de inox, um garfo, uma colher, um caneco, uma bandeja - se você perdesse pagava três; era o regime daquela época da Petrobras, você não podia discutir com o superior porque você perdia a folga, entendeu? Você era punido com a folga, uma certa vez eu estava em frente ao almoxarifado, fazendo um reparo no equipamento, aí alguém me disse: “Olha, você está precisando ir em casa?” “Estou com saudades dos meus pais e tal.” “Digo a liberdade ao seu Ioio” - seu Ioio era um homem do Governo -, aí eu disse: “Ah, seu Ioio, não vou fazer não”, “Está suspenso.” “E vou pra casa, vou passar uns dias? “Negativo.” Era suspenso no salário, você entendeu? Cortava seu salário e tal, em termos de salário não sei se algum já contou, nós recebíamos na caixinha, era uma caixa de madeira onde o pagador chegava uma vez por mês, ele nos pagava, São Francisco do Conde ele chegava, como era distante toda locação de petróleo, então o que tu fazia? “Ó, estou chegando tal dia”. Aí nós de São Francisco do Conde, como o pessoal de Mata de São João, cada área você guardava uma coisa boa para o pagador, porque se não agradasse ele, ele pagava todo mundo e ia embora, você só recebia dinheiro no outro mês, era recolhido. Então em São Francisco do Conde o que nós guardávamos, camarões, porque lá tem muito camarão bom, muito bonito “Seu Caldas vem aí”, ele exigia camarões e peixe. O grupo de Candeias já preparava pra ele um caranguejinho do bom e tal, o pessoal do Mata de São João já preparava para ele o leite, que Mata de São João tinha um leite e um queijo gostoso, Alagoinhas, Catú era laranja, que a laranja de Alagoinhas era aquela mais doce. Então o pagador tinha esse privilégio entendeu, era um segurança, um motorista e o pagador com muito dinheiro na mão, naquele tempo não tinha assaltante, né? Tem um detalhe, que em São Francisco do Conde, por não ter - eu estou falando São Francisco mas eu trabalhei em toda área da Petrobras no Brasil, toda área e no mundo, por incrível que pareça eu trabalhei em vários lugares depois eu vou te contar. Então lá em São Francisco do Conde, especificamente, tinha cinco mulheres de buraco doce, sabe o que é de buraco doce? Buraco Doce é um lugar de meretriz. Então as cortinas eram de plástico e cada mulher tinha vários caras, e ela faturava 5, 6, 10 por noite. Então cada um tinha seu horário, né, eu tinha uma tal de Dulce. Aí o que eu fazia, Dulce anotava “Frango D´água agora, hoje é terça-feira é seu dia e tal”, eu ia “Ah que coisa delícia”. Ela anotava e nós pagávamos por mês, então a luta nossa para receber o dinheiro. Porque se não pagasse você passava o mês zero. “Não, você não pagou nada disso.” Era desse jeito, porque não existia mulher, que quando na cidade do interior quando existia mulher ela o que é que ela fazia? Ela ia ser funcionária ou casava logo com o primeiro cara, porque não existia
ALIMENTAÇÃO NO CAMPO
O pessoal da Petrobras era muito bruto, muito grosseiro, nós fomos escravos, o pessoal da Petrobras que entrou na Petrobras no meu período foi escravo, você não tinha direitos, só deveres. O sofrimento de alimentação. Digamos, eu estou contando de São Francisco do Conde, que foi três anos, quatro anos que eu passei lá inicialmente, era uma panela de ensopado, uma panela de feijão, uma de arroz e o saco da farinha, ia no caminhão da turma, ele saía 11 horas para percorrer uma média de todas as estações, todas as áreas, quando ele chegava na vila de São Francisco, que é a própria vila, que é 6 quilômetros afastada, ele saía distribuindo aqui, ali e tal. Come esse feijão, esse ficava frio, congelado, no mar pior ainda, todo mundo tinha um capacete, e esse capacete nós cortávamos na nossa quantidade, pegava o maçarico aquecia e aí misturava o feijão e vup. Esquentava no capacete a comida. Naquele tempo o Conselho Nacional nos dava de aço inox, era um negócio. Todos funcionários, você não vê aquele pessoal de Usina, os funcionários da Petrobras tinham, em cima do capacete era presa a numeração de cada funcionário. Em São Francisco do Conde, por incrível que pareça - foi a área que eu iniciei -, quando ele chegava na ponte para pegar a lancha ou na canoa inicialmente a água tem baixa temperatura, se o feijão ia bem quentinho na baixa temperatura você já viu como ele ficava, o saco da farinha nós pegávamos e jogávamos e misturava na mão. Dentro do capacete, nós misturávamos na mão, se ficasse mole comer no dedão você, não tinha colher não, não tinha, era concha, comia no dedão, você “Bate mais”. A água era simplesmente, hoje você tem água mineral, tem isso tudo e tal. A nossa água era tanques de ferro que pegavam e acompanhava cada unidade, quando tinha seis sondas num grupo de terra, quatro sondas no mar, então ali nós tínhamos um trabalho, para gelar aí nós pegávamos, nesse tempo não existia plástico nem coisa, as garrafas nós pegávamos, amarrávamos com iaiá e botávamos dentro d´água “Vamos gelar a água”. Quando aparecida um sabido que não tinha tempo aí você já sabia você perdeu sua água que o malandro pegava de um lado levava para o outro e você ficava sem. Teve fatos lá que era uma lancha só, Eureca, que era de madeira, uma lancha frágil; tinham locais a que ela não podia chegar, quando eu estou dizendo isso a você era todo pessoal, não existia distinção nem de engenheiro, porque engenheiro tem um quadro, engenheiro da Petrobras até 63 ele não tinha direito a nada, era o mesmo valor do operário, para ele chegar a um engenheiro encarregado na soma ele passava as mesmas situações. Eu tenho fotografias aí se você quiser eu te mostro, as mesmas situações do operário, porque nessa época quem mandava realmente eram os funcionários federais. Ele normalmente tinha cargo de chefia por ordem do Ministério, aquele tempo não tinha energia, mas Ministério de Minas, não, era Ministério desse pessoal que trabalha com rocha, não existia, geólogos e tal. Então esse pessoal eu vi muitas cenas de engenheiro ir para lá e ficar chorando, agora a maioria ia por aventura, porque a engenharia na Bahia de petróleo veio depois, o químico veio depois, não existia essa faculdade de Salvador, entendeu? A maioria na época, a maioria dos engenheiros, 50%, 50, 60% era do Sul, que ia por espírito de aventura, chegou gente importante, filhos de generais, na Petrobras chegou um dos caras talvez, na época a nível de hoje, o sobrinho de Assis Chateaubriand foi trabalhar na Petrobras por aventura. E Chateaubriand na época você sabe, né, era mais do que Roberto Marinho, teve Carlos Eduardo Pompeu, ele era um dos caras mais ricos em Laranjal, lá em Limeira, mas ele gostava da aventura.
Então o petróleo nesse tempo era uma aventura, você ia porque gostava. E tinha um detalhe, aquele “O Petróleo é Nosso”, aquela campanha mobilizou toda a juventude que vinha de colégios que se formou. Então eles achavam lá que estavam trabalhando, que nós que fazíamos isso, nós estávamos trabalhando em função do Brasil, porque era um luta contra o outro lado, né? A gente lutou para uma empresa melhor, para um Brasil melhor, e hoje o pessoal está vendo aí um Brasil melhor, mas não está muito, entendeu, não estão ligando muito para o Brasil, mas nós trabalhávamos na Petrobras quando nós entramos por amor, teve cenas de engenheiros, como doutor Leonardo, que era do Rio Grande do Sul, passar a lancha que não tinha condições de chegar na área. As soluções nossas eram simples, pensava “O que é isso?”, “Tem muito caranguejo aqui”, “Tem”, “Lá na Ilha de Bimbarra”, “Tem”, “Então o que a gente vai fazer, um pouco de água salgada, um pouco de água doce, vamos ferver e passando a comer caranguejo 2, 3 dias” e puro, porque não tinha alimentação, não porque não pudesse ter alimentação, porque a lancha não chegava lá no local.
DIFICULDADES NO CAMPO
Eu não sei se você já viu aquelas baterias de carro de tamanho grande, de 21 placas. Isso era fichinha para a gente botar na cabeça e passar por dentro da lama, a lama se arrastando para poder botar a lancha para funcionar. Dificuldade, a Petrobras tecnicamente que se hoje você disser, eu falo isso, o pessoal: “Puxa, como é que pode”. Eu não sei, tem um termo técnico que tinha, é a peneira de lama, a peneira de lama é onde saem os cascalhos e podem sair os gases que ele indica se tem petróleo ou não, que é um perigo terrível. Na nossa época os motores de peneira de lama eram a gasolina, saía descarga, fagulhas assim, e a gente para lá. As primeiras sondas da Petrobras só para lhe dar uma diferença, as primeiras sondas da Petrobras, a sonda de Dom João, que furava 200, 300 metros, era quatro por um furo, o motor que acionava o guincho só para você ver a diferença hoje, eram dois motores 160 HP, menos que o motor de um veículo hoje. A sonda tinha, pegava só uma coluna de 3 e meia polegadas acionada por um motor de 160, hoje só para você ter uma idéia, a média das sondas dessas normais, o motor que aciona são 3.000 HP, olha a diferença. Então nós fazíamos isso com todo amor da nossa vida, porque nós queríamos a Petrobras melhor. Aí fui crescendo profissionalmente e por força do destino - que o destino é importante -, eu briguei com um rapaz pela manhã. Porque existia isso, vinha um caminhão de turma do campo de Dom João e pegava outra parte da cidade de São Francisco do Conde, que eu falei que era 6 quilômetros de diferença, e nesse caminho o carro era uma caçamba, e o motorista era Bacurau. Aí ia subindo um pessoal, de cada local ia subindo um pessoal, ia subindo, quando chegava um volume em que já estava repleta a caçamba, sabe como entrava mais gente? Bacurau dava uma velocidade, depois freava e falava: “Olha o freio de arrumação aí”, um em cima do outro. Comprimia. Bacurau era o motorista. Então ele fazia isso normalmente, tanto que uma certa vez, ele fazia tudo isso mas ele não aceitava que batesse na boléia do carro. “Ó um ali”, uma certa vez um cara bateu forte demais, sabe o que foi que ele fez? “Onde está?”, engrenou a caçamba, pegou o hidráulico suspendeu e despejou todo mundo, 72 homens, foi, um em cima do outro, ele empilhou. “Que isso, rapaz?” “Não bata mais aí”. Então nós vivemos uma vida, a noite em São Francisco do Conde nós não tínhamos nada, tudo era comprado para pagar no próximo mês, alimentação, cigarro, tudo, a bebida. Tinha uns botecos oficiais que normalmente era o pessoal da cidade, o prefeito, alguma coisa, é como hoje você entrar dentro desse pessoal de fazenda, faz a mesma coisa. Então tinha aqueles que faziam uma comida mais gostosa - São Francisco do Conde é beira de praia, o Piu Piu mesmo era uma covardia. Então chegou um período, chegou um dia que eu recebia 3 mil reais, era em torno de 3 mil reais na época, eu paguei todo mundo e o dinheiro não deu, aí os caras: “Vai ficar esse mês sem nada”. Aquela filosofia tanto valia para as prostitutas como valia para o pessoal. À noite nós íamos para a cidade farrear ou brincar, divertir, ia no acampamento, tomava um banho e tal e voltava, você podia fazer toda sua programação ,mas você não podia passar de 10 horas, quando o carro tinha que retornar, porque se você passasse namorando, por qualquer coisa ou tomando uma cerveja o carro passava “Bi, bi, adeus”. Ele passava, você tinha que voltar 6 quilômetros na paleta para poder ir para o acampamento dormir. Aí ele chegava, a turma que largava 11 horas da noite chegava 2 horas da madrugada porque Dom João tinha sondas que eram perto, mas tinha lá no DPX, que era longe, era uma lancha só você tinha que fazer aquele percurso de poço em poço e quando chegava no acampamento eram 2 horas da madrugada, você sabe qual era o banho? Uma tubulação de 2 polegadas, válvula aberta quando vinha batia aqui nesse coiso, doía a sola dos pés, aí você tinha que ingerir um dadazinho, tinha que beber. Nós vivemos a vida de início de Petrobras assim com sacrifício, não houve moleza, não houve moleza, foi um sofrimento que tinha coisas estúpidas, de você botar tudo, que não tinha condições de ir para tal lugar, você que levava nas costas, hoje o pessoal pega hidráulica, pega isso mas naquele tempo não existia, você era o homem, você era a força. Para montar uma sonda em Dom João era um negócio de louco, a sonda ficava num template assim e fazia aquelas bases fixas no chão, subia o template, a sonda subia quando a maré estava alta, aí você encaixava, quando a maré abaixava você tinha que tirar as balsas que suspendiam, se uma daquelas balsas ficasse presa derruba a sonda, porque o peso da balsa entornava. Então nós tínhamos que seguir uma perícia fabulosa - foi onde o pessoal teve que aprender tudo. Por força de, porque lá o próprio pessoal do Conde me orientou, disse: “Rapaz, quem não estuda fica lá, então você tem que estudar”. Nesse estudo eu cresci, e brigando lá com um engenheiro, porque não tinha esse negócio não, tanto fazia que era engenheiro a gente brigava mesmo, não tinha esse negócio engenheiro, etc., porque engenheiro, o homem que mandava era doutor Pedro de Moura, e os engenheiros eram do nosso nível, dormiam no meio de coisa.
ACAMPAMENTOS
Tinha uns acampamentos que fizeram de estrutura, cimento e coisa, mas como há um deslocamento, tem 20 sondas furando hoje aqui, duas ali, e ele se deslocava sempre o pessoal, para complementação de dormitório os tanques, hoje são soldados, mas antigamente eram tanques americanos, esses tanques americanos, eram de parafusos com achatamento de borracha, para aumentar os acampamentos o pessoal teve uma idéia: cortaram, deslocaram a chapa, aí ficou aquele assim, de um lado aumentou do outro e botou camas, mas você pensa que eram camas normais, você se lembra da cama patente? Era cama patente com colchão de capim. A patente ela tem de ferro assim gradeado, você com colchão de capim, mas aquele colchão de capim ele não molda no seu corpo, você vai dormindo assim ele vai se moldando; de vez em quando aparecem umas pontas de capim. A nossa melhoria veio quando Juracy Magalhães foi presidente da Petrobras, aí ele modificou. Em 1957, 59 foi que ele aí passou a dar uma condição maior, foi fazendo acampamento, aí já botou colchão de crina, que já era melhor, porque nesse tempo não existia colchão de mola, já deu uma melhorada, melhorou a alimentação, que passou a água em barril, eles mandaram comprar vários barris de 20 litros de madeira. E passou a pegar uma água mais tratada, que tinha umas máquinas que tratavam para poder levar, mas no período anterior a água nós pegávamos no meio do caminho, quando o caminhão passava por qualquer bica daquela nós enchíamos o tanque, e para pegar a gente rolava aquele tanque, aquele tonel de 200 litros até o local de trabalho. Agora, quando chegava lá era engraçado, porque eu não sei se vocês já viram um tonel rolando, ele vai grudando no barro, ainda mais naquela área de Candeias, que é massapé e ia grudando, grudando e quando chegava lá no local precisava de quatro, cinco homens já para chegar porque ele virava um pneu, tá entendendo? Mas era bom, porque a água ficava fresquinha, nós gostávamos disso porque a água ficava fresquinha. Nossa vida!
“CURINGA” DA PETROBRAS
Essa aí foi a parte de Dom João. Em 59 fui para Salvador, eu fui para ser demitido porque eu briguei com um engenheiro. “Volta pra Salvador.” Só que chegando em Salvador o doutor Gilberto Franco, meu tio, meu pai, ele disse: “Dá uma oportunidade ao menino”, e eu: “Vou botar o meu conhecimento agora para fora”. Aí passei a aprender o que podia e o que não podia, quando chegou em 60 eu já estava trabalhando melhor, trabalhando com navegações, aí fui trabalhar 60, 59, 60 no primeiro navio da Fronape, com Marcilio Dias; quando tinha problema, mandava chamar, eu ia lá e já resolvia. Eu terminei de eletricidade, fiz, terminei o ginásio, não fui mais porque eu passei a viajar, daí eu passei a viajar, tanto eu viajei que eu passei a ser o curinga na área da Petrobras em toda a situação. Porque eu fui para navegação - e tinha um detalhe: os budas, que era o transporte naquela área, o transporte em toda área do Recôncavo tinha uns budas que são americanos. Buda era um barco, esse que você vê em guerra que ele vai, vai e depois ele baixa, e o pessoal sai correndo; chama buda. Todo transporte do Recôncavo pesado era através do buda. Então nós reparávamos os budas, eram quatro, como havia alta necessidade e começou a crescer a Petrobras aquele trabalho ali, eu ia para o estaleiro ajudar o Wilson eletricista; ficaram os dois trabalhando, nós trabalhávamos dia e noite, porque dependia da maré, na maré seca você fazia tudo que tinha que fazer, mudava eixo, mudava hélice e o tuiuiú iluminando assim, a lama até aqui, quando terminava. “O buda vai sair”, “Vai, sai”. Aí entrava outro. O pessoal viu o meu interesse e eu passei também a estudar, né? Aí eu comecei, tem um livro importante na Petrobras que se chama, para petróleo internacional, que se chama “Composition Book”, ele dá tudo de tudo. Passei a crescer, aí o chefe da perfuração, doutor Newton Lopes, pediu assim, perguntou: “Ô, Ernandes, tem um rapaz aí que possa acompanhar mister Phyll?”, Mister Phyll era um americano que era adventista e de sábado ele não trabalhava, ele montava um equipamento chamado hydrill (equipamento) controle, é um equipamento da segurança da sonda. Para que não houvesse incêndio, blow out, aí eu acompanhava ele, no dia que ele estava folgando no dia de sábado o que tinha necessidade de fazer eu que fazia o serviço e aí eu comecei a crescer no trabalho, mas dentro da profissão eu não cresci, porque a Petrobras tem uma norma, é nível, porque naquele tempo você tinha que passar 1 ano e 6 meses, você não podia, como hoje: “Fulano de tal é bom dá uma promoção a ele”. Não, naquele tempo não tinha isso não, a promoção era conseqüência de 1 ano e 6 meses, se você fosse um bom profissional seria 1 ano, então passei a crescer. O mister Phyll no dia de sábado não trabalhava aí eu fazia o serviço dele, quando mister Phyll foi, ele tinha carro, tinha motorista, tinha tudo. Americano, porque a Petrobras eram os expedicionários e americanos, tudo o que a gente aprendeu, aprendeu com americano. Aí mister Phyll não pôde, o contrato dele, ele foi de férias para os Estados Unidos e quando ele voltou, o contrato dele com a Petrobras cresceu, salário 5 mil dólares e mais os royalties que ele tinha que pagar à empresa, a Hydril. Aí o Doutor Newton disse: “Olha”, aí me chamou e disse: “Ô, Frango, venha cá meu filho, eu vou lhe dar um aumento, esse homem quer me roubar, você pode tomar conta disso aí?” “Eu tenho um mês aqui, eu já errei?”, ele disse: “Não, então vou segurar”. Aí ele pegou mister Phyll e deixou ele lá para outro serviço mas nada disso. Aí eu dei conta do recado, de montar os blow out para fazer o controle de toda a... como a sede da Petrobras, de toda a Petrobras menos Amazonas era Salvador, você podia estar furando Rio Grande do Sul, mas a sede era em Salvador. Eu me deslocava por essa área toda, deu pra entender? Eu tinha que ir em todas áreas e ao mesmo tempo passei a ser o chefe da eletricidade de toda a perfuração, tinha uns eletricistas locais, tinha uns eletricistas que acompanhavam a sonda, porque a sonda era distante pra caramba da sede, tinha sonda em Ibimirim, a 90 quilômetros de Recife. A sede era em Salvador, eu tinha um carro, a Petrobras me dava sempre, eu sempre tinha um carro novo, um carro para circular isso, como eu viajava? Viajava com shortão, naquele tempo eu era metido aí, usava revólver. “Vou pro interior”, aquela de meninão, 24, 26 anos, mas eu gostava de trabalhar. E fiquei circulando, passei além de trabalhar na área de hydrill, aí foi na época que foi chegando televisor, geladeira; eu passei a lutar também por essa área. Onde tinha um televisor: “Mas rapaz, meu televisor quebrou, dê um jeito aí”. Eu curioso eu ia, eu aprendia de um lado e jogava aí fui aprendendo tudo. Então eu procurei aprender de petróleo tudo e dentro lá da Petrobras o pessoal, apesar de estar aposentado lá vai fazer 20 anos eu mantenho o meu vínculo, quando precisa de qualquer coisa, “Frango, venha cá me dar uma ajuda aí”.
TÉCNICA DE PERFURAÇÃO
Aí eu estou lá, sei tudo do dia de hoje, sei tudo hoje, porque eu subo em qualquer sonda dessas aí - sem falsa modéstia, eu faço, passo dois ou três dias até aprender a técnica, porque a técnica de perfuração é a mesma, a técnica de perfuração é broca no fundo e tal, o que você melhorou hoje foi o melhor produto químico, a melhor broca, aumentou a capacidade de equipamento, mas o princípio básico da perfuração continua o mesmo. Eu trabalhei em produção, trabalhei em navegação e aí veio um outro quadro, eu passei a viajar. Então qualquer problema eu ficava subindo de avião para lá, subindo de avião para cá, teve coisas fantásticas. Ontem eu estava até com um piloto, conversando com o Samuel lá em Salvador. Uma certa vez eu estava em Paulo Afonso, raso da Catarina - isso em 1963 - e tinha uma sonda, 63, 64, e tinha uma sonda lá no Espírito Santo, o tool pulsion, que era o encarregado da sonda. Tool pulsion, tool ferramenta, né, e pulsion é o técnico da sonda, ele chegou para mim e diz, aí doutor Luiz Pinho, que era o chefe de perfuração, diz: “Melhor vir urgente, Frango D´Água”. Se você vir, tenho um documento aí que o nego me chamava era por apelido, tem um livro aí que você dá risada, quando alguém um dia pediu material: “Olha, Antônio Carlos está me pedindo tal material”, a Petrobras não mandou. “Não conheço fulano de tal”, aí o cara chegou lá do Espírito Santo e disse: “É o Frango D´Água”, “Ah, sim mandou o material”, está aí tem livros aqui, eu trouxe livros pra você ver. Então eu tive essa vida na Petrobras. Aí eu me mandei, eu fui, peguei um DC3 em Paulo Afonso, saltei no aeroporto de Salvador, já estava avião me esperando para ir pra São Mateus, para Linhares, mas quando chegou em Ilhéus teve que reabastecer o teco-teco e o major, que a gente brigava muito, eu saltei para tomar uma cana dentro do aeroporto de Ilhéus, a gente era meio brigado ele fechou a parte dele do avião, quando ele fechou eu estava, ele desembarcou para abastecer e tal, ele desceu eu desci também fui bater uma, né, quando ele voltou, ele pegou o avião, foi embora me deixou em Ilhéus, chegou em Linhares lá a hora que abriu. “Cadê o homem?”. O Haroldo Andreata que era o chefe, um dos caras mais competentes, mais sortudos que eu já vi na Bahia, um dos caras mais bonitos de petróleo, chamava Haroldo Albino Andreata, ele conseguiu, eu estou intercalando muito a conversa, mas ele conseguiu, só para não perder o fio da meada, 70% do poço que ele foi engenheiro deu óleo, coisa que você sabe que perfuração é hoje está em torno, é muita sorte. É 10 pra 1, 20 pra 1, então o Haroldo Andreata em todos os lugares ele foi um sortudo, um dos caras mais lindos do mundo - faleceu, meu irmão, meu amigo particular, meu irmão. Quando chegou lá, o Haroldo disse: “Cadê Frango?” Aí o cara disse: “Ele não está aí não.” “Não.” “Acho que ele saltou em Ilhéus”. Aí o avião voltou, foi me pegar em Ilhéus, e aí que eu fui resolver os problemas.
FAZENDO AS SONDAS FUNCIONAREM
A história conta que foi em 1960, governo Jânio Quadros, nós fomos comprar, em 63 foi, 63, o americano só queria que nós comprássemos equipamentos deles. Aí teve um pessoal que teve uma idéia de comprar no leste europeu, aí saiu Nogueira e mais dois engenheiros foram, compraram, não comprou, fizeram um intercâmbio na Romênia, nove sondas pequenas e três grandes, trocaram por café, foi um escândalo, saiu em Brasília. “Não, não pode”, o negócio do americano, do globo, essas outras coisas aí, o cara: “Não pode”. Aí põe, essas sondas chegam no Brasil, foi onde hoje é o Pólo Petroquímico, montaram ela, organizaram, mas os motores dela foram motores muito grandes, muito pesados um negócio grosseiro inclusive, para você funcionar, você tinha que pôr umas baterias enormes alcalinas. Aí veio a ordem do presidente da Petrobras, do presidente da República, uma comissão de generais da Escola Superior de Guerra ir a Salvador fazer uma análise. Se não desse, se estivesse errado, destituir o presidente da Petrobras e destituir a diretoria da Petrobras, inclusive a idéia em si que o americano pressionou para inclusive quebrar o monopólio a realidade é essa, a realidade é que tinha uns militares que, você sabe como é faz no Brasil, né? Quando eles saíram de Brasília, acho que 32 militares da Escola Superior de Guerra, numa sexta-feira e foram para o Hotel da Bahia. Lá no Hotel da Bahia eles ficaram hospedados para de manhã pegar o ônibus e ir para o Pólo para onde estavam as sondas. Mas só que essas sondas estavam tudo no chão, porque elas são canivetes, você sobe assim, você tem que acionar o motor, esse cara vendo aquele caixote no chão, aquela sonda no chão, ia dar uma bronca, porque ele não entendia, ele não sabe, porque não sabia porque estava no chão, ele achava que sonda tinha que estar furando, mas o pessoal telefonou: “Poxa, Frango, está pegando aí, esse pessoal chegou, o que é que você faz?” Eu digo: “Vamos para lá”, parti para lá, estavam os técnicos antigos, Orlando Borges, pessoas, todo mundo de alto nível, cada um tomando conta da sua sonda. Aí Orlando Borges Cruz chegou pra mim e disse: “Frango, não tem material para virar a sonda, vamos movimentar os motores”. Aí eu corri toda área, mas as baterias alcalinas são pesadas, de 32 volts. Nós não tínhamos condições, aí eu me lembrei que tinha uma em Salvador, na oficina que ela fazia teste para virar esses próprios motores, para o pessoal aprender e na hora da operação já saber como é que vai, eu digo: “Puxa só tem uma coisa”. Três horas da madrugada, aí eu peguei uma picape, aí Salvador, isso o pessoal, a gente virando lá meia-noite, tentando botar para movimentar lá no Pólo Petroquímico, quando eu estive lá em Jiquitaia o Gislando estava lá eu cheguei com a picape 4 horas da manhã, procurei chave; não tem, não tinha ordem de ninguém. Aí eu fui escondido, peguei um martelo quebrei o portão, o cadeado, eu sabia operar naquele tempo era girafa, mas todos esses guindastes, essas coisas eu opero, não tenho problema nenhum, aí peguei escondido do vigilante e botei na picape...Rapaz, veja o que deu, aí eu uuuuuuuuu, na hora de passar na vigilância: “Ê, Frango D´Água, para onde vai?”, “Ninguém viu”, quando ele olhou, que foi olhar a porta da oficina estava arrombada, ele telefonou para o doutor Temporal, que era um coronel e mais a inspetoria da vigilância: “Frango D´Água roubou a bateria aqui, não sabe para onde foi e tal”. Aí eles pegaram o jipe e o carro e me seguiram, me seguiram mesmo, só que quando cheguei no local a primeira coisa que eu fiz, botei assim, acionei a primeira sonda, acionei a segunda, a terceira, quarta, quinta até a décima-segunda sonda e o grupo antigo de profissionais competentes que o engenheiro “Vamos embora Frango, embora, que os homens vêm aí”, que eles saíram do Hotel da Bahia depois do café e se deslocaram para a área lá de Camaçari. Quando ele chegou, lá estava, depois de funcionar tudo eu peguei a bateria, botei na picape; quando estava no meio do caminho vem todo aquele, o Temporal: “Olha o ladrão ali”. Eu olhei, fiz a mesma coisa, botei no lugar, cadeado não quero nem saber, voltei para Camaçari. Aí eu só vi as patentes chegarem “Não são mal, não, são boas, é só, vamos embora”. E aí eu evitei um problema muito grande da diretoria da empresa, porque se eles chegam lá e vêem no chão caía todo mundo, caía na época era Mangabeira, caía todo mundo, foi naquele auge da Revolução, né, aí foi uma... Isso na segunda-feira já tinha documentação da segurança: “O servidor tal, João Cunha, Frango D´água matrícula 141999, assaltou a oficina tal, tal”, mas isso ali. Assim eu passei a contramestre.
DIMINUINDO O TEMPO DA PERFURAÇÃO
Outro fato importante foi quando da perfuração marítima. Eu vim para cá para o Rio acompanhar a montagem da Petrobras 1 no estaleiro Mauá em 1968, mas eu vinha, fazia o serviço e voltava. Eu não tinha destino - a idéia em si eu poderia estar em qualquer lugar, contanto que tivesse uma necessidade real do meu serviço, isso eu tenho documentado. Eu vim, terminei o serviço aí - a sonda para iniciar a perfuração marítima em si; quando nós terminamos de montar aí eu voltei, essa sonda foi para Alagoas junto com os franceses, a Petrobras 1, a primeira, a Petrobras no mar, quer dizer mar eu digo mar profundo porque em Dom João e Candeias também nós tínhamos a FF1. A gente furou, teve duas sondas que a maioria a gente montava em cima de cavaletes - a balsa só que ficava embaixo,

era como fosse um tender. A primeira foi para Alagoas, Sergipe. Nós demos dois furos, a Petrobras 1 deu dois furos, quando os franceses para poder a gente assumir, quem disse o contrário não, porque eu fui o primeiro cara a trabalhar nessa história - eu vou te contar a humilhação que nós passamos. Quando terminou a de Alagoas, ela tinha um problema no slot, ela era um caixão, praticamente um caixão, mas no fundo do slot não colocaram nada, então quando a água entrava a sonda ficava, para pulsionar era difícil, para ela colocar na locação era difícil. Então vim para Salvador, quando ela chegou em Salvador nós fomos fazer o reparo dela lá no estaleiro de Aratu, aí doutor Nogueira pediu ao Mauchér, doutor Mauchér, que era o chefe da perfuração, pediu que desse uma oportunidade ao povo brasileiro – porque, se nós éramos bons em terra, por que não éramos no mar? Porque a idéia em si era que nós não tínhamos capacidade de operar sonda marítima, você entendeu, não tínhamos capacidade de operar sonda marítima. Aí doutor Nogueira insistiu, o Mauchér disse: “Olha, o risco que a gente vai correr, é a primeira vez que a gente vai fazer um negócio desse e o pessoal do Norte não tem capacidade”. Aí o Nogueira disse: “Olha, se dá uma oportunidade, só um furo, só uma vez, deixa o pessoal, não desfaz do contrato do pessoal, dos franceses, e deixa o meu pessoal operar pelo menos para ele aprender”. Aí foi programado, isso tem 33 anos, minha filha que faz advocacia estava na barriga da mãe, eu deixei, eu nem vi nascer, vários filhos meus eu nem vi nascer, Carla, eu não vi nascer, quem ajudou foi o engenheiro Padilhas, que levou para o, ele e a esposa levaram para o hospital, mas eu estava lá em Aracaju. Quando eu vim de Aracaju, primeira humilhação, os franceses operavam ele tinha direito a bebida dele, ao aniz, aquele negócio e tal. Nós passamos muito tempo sem direito a ver nada de equipamentos, deu pra entender, era um trailer armado junto do heliponto que é na parte alta, nós só tínhamos direito a descer, tomar banho, sanitário, alimentação e ficar olhando de longe, a gente não tinha acesso aos equipamentos técnicos. Não era um grupo, tinha uns engenheiros que eram os fiscais, mas nós, homens de operação, ele não deixava ver. Não acompanhava bonitinho, nada disso. Nenhum técnico, eles não deixavam, os franceses, porque o contrato era dele, para ele não perder o contrato, era mamata, né, eles estavam no Hotel da Bahia, hotel de luxo e tal. Aí doutor Nogueira disse: “Rapaz, olha lá. eu vou botar a minha.” “Vamos embora.” Quando a sonda saiu de Aratu, do porto nós assumimos, fizemos um pequeno furo na Bahia de todos os Santos para a gente se adaptar, aí José Luiz Paim, Alfredo, eu, a minha equipe, que petróleo é custo, você tem que diminuir custos, quando você diminui custo, você diminui tempo de serviço, você diminui custo, hoje está mais barato o petróleo, mas antigamente era caríssimo para a Petrobras. O preço da P1 era 32 mil dólares, já chegou a isso pelo custo na época. Aí nós tivemos uma idéia: “Primeira coisa que vai fazer, diminuir tempo”. “Como?” “Se eles montam o BOP em 32 horas, vamos abaixar o que pode para isso”. BOP é o equipamento de segurança para a sonda. Aí cada um deu uma idéia “O que é que faz?” “Prende o case spum, o clamp, o hydrill tudo junto.” Aí eu disse: “Mas, rapaz, o guindaste só pega 30 toneladas, com a lança totalmente em pé, quando você aciona vai cair para cinco, como é que pode?”. Aí um deu a idéia “A gente pega duas roldanas, se pegar cinco, duas roldanas, ele vai para 25, já vamos ganhar coisa aí”. O outro: “A gente aciona a catarina da sonda, que ela puxa 500 toneladas, a nossa era 350 e vamos pegar”. Fizemos isto, enquanto alguém estava fazendo algo tinha uma equipe preparando para antecipar, de 32 nós passamos para 26 horas, aí você já viu, para montar o equipamento, esse equipamento, a pega de cimento nós antecipamos a pega de cimento, porque cimento tem uma pega, aí o químico adaptou um produto que secou mais rápido, e a gente ganhou mais 2 horas. Então, como era 32 mil dólares o dia você veja bem quanto a gente diminuiu em termo de dólares e aí fomos, e os franceses no Hotel da Bahia comendo do bom e do melhor. Eu lá ralando. Por quê? O nosso objetivo era dominar a operação marítima, que nós não tínhamos, tínhamos os engenheiros fiscais que subiam, mas eles são fiscalizadores, eles não se envolviam com a operação. Aí nós começamos a trabalhar eu, José Paim, Alfredo, Chocolate, uma série de pessoas com dedicação, quando no segundo furo foi em frente à Ilha de Itaparica, nós éramos já senhores da situação, baixamos de 32 a operação, de 32 um custo dia em termo de dólar, em termo de custo de dólar nós baixamos para 24 mil dólares. Quem trabalha em petróleo sabe que quando diminui o custo ou com operacionalidade qualquer empresa quer isso, né? Aí os franceses no terceiro furo foi que a Petrobras rescidiu o contrato deles “A gente não precisa mais de vocês e tal”. Foi aí que nós começamos a perfuração marítima, começamos a perfurar. Ah, o povo brasileiro, porque tudo era americano, ao povo brasileiro e pronto. Então nós diminuímos custo em perfuração. Agora nós recebíamos um programa da diretoria, que todo furo de petróleo tem uma programação do escritório, o engenheiro planeja tem que ser assim, assim, assim, só que o nosso equipamento era fraco para o que era planejado, isso eu estou dizendo agora depois nego vai até me prender, mas a gente fez isso, eu estou condenando meus amigos, mas para chegar a essa situação da Petrobras hoje, ser essa potência, nós tivemos que fazer isso, nós mudávamos o planto do poço, se tem que furar com o jato de 12 ,aí o Xavier chegava: “Ô, Frango, olha, veja bem, nós temos três motores cada um daqueles de 20 HP, quando nós chegarmos no compound a perda de 30 HP só na ventilação porque foi gerado a ventilador, ao chegar no compound nós estamos aí de 1.500 nós estamos com uns 800 HP só, como é que faz, são duas bombas de 800”. Para início de poço você tem que ter camisa de 9 e meia para você ter, para você poder tirar os resíduos do poço, porque quando ele diminui ele está em sete. Mesma profundidade, você pode diminuir o jato, mas quando você está com um de 40 polegadas para remover e tirar aquela lama toda de lá, você tem que botar mais volume de lama, mais coisa, e nós não tínhamos, aí sabe o que a gente fazia? Eu pegava água, botava na ventoinha para refrigerar os motores, cada coisa eu jogava, três motores eu botava água, para refrigerar, porque era refrigerado a ar, modificava o jato, se vinha ordem de 10 nós botava um de 12, um de 13, um de 10, você entendeu, porque para você abrir mais, para não ter pressão na bomba, porque mais pressão na bomba o motor não arrastava, não agüentava.
FUNCIONAMENTO DAS BOMBAS
Muita adaptação, ah, não saía, se você fizesse a coisa programada de acordo lá não saía, mas não saía mesmo, então nós fizemos todo o tipo de adaptação, o que você pensar em adaptação. Eu fiz uma em Aracaju, porque ficou sendo considerado projeto Frango D´Água, nós tínhamos uma bomba reda, ela era de profundidade, ela captava água do mar para refrigeração dos motores, refrigeração do guincho e refrigeração. Água do mar, e para sanitário, é o volume, porque você não tem idéia do volume que gasta uma plataforma; é covardia, um poço de petróleo o volume de água é covardia, se você pensar. Ainda mais a água que refrigera, porque aí não tinha suporte nenhum, a água que refrigerar os motores você tem que ter muitos metros cúbicos por segundo para você refrigerar os motores. Então essa bomba de profundidade ela ficava, a gente chamava reda, e colocávamos a 15 metros do nível do mar, 15 metros abaixo da linha d´água para bombear a água. Eram duas bombas com seis estágios para bombear, só que ela lá embaixo, ela batia muito com o mar e quebrava, não tinha condições de enrolar ela no Brasil, porque nós não tínhamos técnica, tinha que sempre comprar uma nova e na Petrobras acabou o estoque, aí um dia nós ficamos parados em Aracaju, hoje nós temos a bomba de cima que é eixo prolongado, mas naquele tempo não existia. Aí eu tive uma idéia: “Meu Deus, o mar, você captar água 7 metros e meio, você não tem vácuo”. Isso eu estudava. “Não tem vácuo 7 metros e meio.” Aí eu telefonei para o doutor Luiz: “Doutor Luiz, faça um favor para mim, mande dois tubos desencabo de quatro e duas válvulas de pé de seis”. “Você está maluco, para que você quer isso?” “Mande isso para cá, porque aí só tem uma bomba e ela vai pifar.” Sabe qual foi minha idéia? Nós temos umas bombas 3 por 4 R11 com os motores squid de 30 HP, eu mandei o soldador Antônio fazer o flange, botei a bomba de pé, peguei as mangueiras de incêndio da plataforma, conectei, vi a posição do mar, peguei o guindaste, disse: “Antônio, vamos fazer um teste aí”. Chamei reforço: “Vamos fazer um teste”, desci a bomba, enchi aí a válvula de pé, sentou, eu digo: “Agora ligue”. Passamos a trabalhar sem parar a plataforma com o projeto Frango D´Água, só tinha um cuidado de você ter o swell do mar porque se não você cavitava, né? Então você tinha que deixar mais perto, você tem que saber a costa, porque tem costa brasileira que são 2 metros, tem lugar que é 1 metro e meio, entendeu, você saber a altura do mar, tudo isso tem que ter um estudo, você tem que pensar muito a noite toda, aí eu pensava passamos a trabalhar até que foram compradas as bombas de eixo prolongado, em que o motor fica em cima, então não tem problema de água do mar, porque lá dentro elas queimam todas, porque é, então passamos a trabalhar assim. Isso foi nos anos 70, 72, 73, são essas coisas que nós fazíamos.
PROCEDIMENTOS E VIAGENS
Teve coisas fantásticas, tem aí a fotografia de Abrolhos, nós fomos trabalhar em Abrolhos como eu comentei, né, e tem coisas que só petróleo, hoje o pessoal não faz isso porque a tecnologia, só para lhe dar uma idéia, ouça para você ver que sofrimento não é não, para montar uma sonda tradicional ela tem 4.300 peças cruzadas, nós terminamos Abrolhos com a sonda 29, e aí veio a ordem para furar, você vê como é petróleo, furar em Cumuruxatiba, mas para furar em Abrolhos para Cumuruxatiba você hoje diz “Abrolhos, Cumuruxatiba, Porto Seguro é 30 quilômetros de um lado pra outro. Só que naquela época não existia BR e não existia estrada que liga essas áreas, nós saímos, desmontamos a sonda em Abrolhos, ela foi numas balsas, saltou em Caravelas - um trabalho terrível, dois meses para fazer esse percurso todo, viemos de Caravelas, Nanuque, Teófilo Otoni, circulamos, descemos por Jequié para poder ir pra Cumuruxatiba, ou seja 42 quilômetros de distância lá no mar assim, mas para você chegar de estrada você deu uma volta quase de mil quilômetros. Só que interessante disso tudo, monta-se a sonda na área de

Cumuruxatiba - a gente gostou porque lá os americanos pegavam areia monasítica de contrabando, aí levavam Chivas, né, e a gente trocava Chivas por Pitú: “Um garrafão é muito”. Só que quando monta a sonda, o engenheiro, um morreu e o outro está vivo Egas Coutinho Campos, com 200 metros deu embasamento, um dos maiores prejuízos daquela época - sabe o que é embasamento? Embasamento é quando você tem uma rocha que tecnicamente embaixo você não tem petróleo, é aquela cabeça de nego, feito aqui do Corcovado, que não tem broca que entre e tecnicamente, por estudos antigos, estudo geológicos, depois daí você não encontra mais nada, não tem mais nada. Então tira-se a sonda e isso nós levamos 64 dias para fazer esse serviço, em 2 horas, 3 horas você vê que é falha da geologia, porque a tecnologia da geologia hoje está avançado e nós não tínhamos na época. Então nós sofremos todas essas coisas, sim, aí nós passamos a trabalhar na P1, você veja o que é sofrimento de um povo, passamos a trabalhar na P1, aí viemos para

Cumuruxatiba. Cumuruxatiba

fica a 4 horas de lancha de Abrolhos e mais quase 9 a 12 horas de lancha de Ilhéus, só que hoje você vê nego fala em Una, Porto Seguro, ali tem aeroportos, mas na época não existia, você só tinha aeroporto de Caravelas, aeroporto de Salvador e de Ilhéus, só que a Petrobras não pagava avião porque não tinha avião naquele período no dia, na mudança da turma, aí nós pegávamos um ônibus da Breda 6 horas da manhã em Salvador, vinha Milagre, Jequié, Ipiaú, Uruçuca, Ilhéus, Itabunas, Ilhéus, 12 horas de ônibus. Comíamos alguma coisa - quem tinha vontade de comer -, pegávamos a lancha 7 horas da noite e viajávamos mais 9 horas de lancha no mar, cada lancha tinha um balde para vômito, aqui é quebrada de lancha, o mar subia, quando batia você andava com cinto de segurança, eram 9 horas de lancha, mas você pensa que é essa lanchinha lá, lá é onda de 1 metro e meio, 2 metros, e a lancha tinha um detalhe você botava, ela tinha um perfume que tinha três colegas, Domingos e coiso, ele viajava enrolado na lona na lancha, isso das 7 horas da noite até 3 horas da madrugada com o mar batendo, melando todo mundo, aí você diz “Tudo bem”, quando você chegava lá você ia descansar? Negativo, você tinha que subir para substituir outro companheiro, que aquele companheiro por desacerto você fizesse essa viagem toda e você estivesse com uma manobra, manobra é quando tira as ferramentas, se ela estivesse começando naquele exato momento um poço de 4 mil metros você tem 12 horas trabalhando, 12 horas lá você trabalhando direto lá, mas só que as 12 horas você descansa, você folga, você isso, mas lá não, o torrista, aquele cara que fica lá na torre, lá em cima, eram 12 horas sem sair de lá, sem urinar e sem fazer, sabe como eles urinavam? Pelo tubo de perfuração, o tubo é oco, e as fezes no tubo de perfuração: “ Vai cair”. Então hoje com a máquina, a nossa equipe de sonda da Petrobras 1 era tão perfeita que nós tínhamos um negócio, chamar corrente, bater corrente, é porque o pessoal não filmou, a gente não tinha nada, naquele tempo a gente só pensava em trabalho, não pensava hoje que tudo é programado, é filmado naquele tempo, a corrente, o tubo era o tuljão, você pega o tuljão e passa a corrente assim, depois você vem com a ponta o tuljão de lá, aí quando encaixa, o cara: “Agora”. Joga, aí o cara puxa no catirrete, isso leva mão, leva dedo, leva tudo, mas a gente não tem problema, a gente fazia isso com perfeição. Tinha muito acidente. Os meus acidentes tem aqui ó, aqui tem as sondas, cada coisa que tem aqui tem as sondas que eu trabalhava. Porque eu lhe disse que as sondas nossas eram muito fracas, então quando gritava lá o motor tinha um acidente, você não pode parar, aí eu saía como estava, se eu estivesse dormindo, de shorts ou de coisa, eu saía correndo para não parar, porque cada vez que você pára, tem sondas que você pára, para esse motor entrar em operação você tem que passar quase três, quatro horas de retorno para refrigeração, para isso. Então você não pode parar. Então como eu estava tinha sondas, porque as escadas de sondas porque elas são bem compactas então elas são muito íngremes e você ia levando por 1 quilo, batia, o sangue escorria, mas você não pode parar era a idéia nossa, hoje o nego pára aí, fica à vontade. Então todo mundo trabalhava em função de ver a Petrobras grande. Porque a humilhação que nós passamos com os franceses não é fácil, na nossa sonda você não tem direito a 6 meses a aprender, a ver, o horário que a mesa dele era uma, a nossa mesa era outra, a mesa dela a comida ia mais bonitinha, a nossa, apesar de já estar... nós tínhamos colegas que eram técnicos como José Luiz Paim uma das maiores cabeças de petróleo que eu já vi, entendeu, ele não podia sentar lá com os caras, na hora do boletim, de fazer o boletim o Gerard, que era o francês, ele escondia para a gente não saber qual a metragem dele.
MONTAGEM DO BOP
Hoje a tecnologia, não, mas porque hoje aconteceu, interessante, a burocracia ela é importante, mas ela tira a humanidade do pessoal, a burocracia passa a ser uma trava no seu improviso, hoje você não pode nada mais do que eu fiz, porque eu via isso e um grupo meu fazia porque ele tem a cobertura do chefe. Olha, eu fazia coisas do arco da velha, eu fiz uma coisa se fizesse hoje era demissão de imediato, mas o meu chefe tinha confiança em mim. Eu lhe disse que fui encarregado de ver um controle da parte elétrica de perfuração no Brasil, menos do Amazonas, mas aqui na Bahia era eu que mandava. Eu estava em Biritinga, profundo, eu disse: “Pintado, vamos montar o BOP” - BOP eu havia dito que é o equipamento de segurança da sonda, a coluna era de 4 e meia, mas quando o Pintado levou, eu informei a ele para ele levar o ran “Olha, traz o ran rubber de numero tal”, eu dei o número de parte, ele pegou errado, levou uma de 5 e meia, se você tem 4 e meia para você ter uma segurança no poço, para não queimar a sonda, você tem que ter exato, se você põe 5 e meia fica aquele buraco, mas eu sabia a que ponto, eu estava muito, eu vivia com geólogo, vivia com tudo e tinha coragem, eu sabia que o gás de Biritinga só chegava a 450, 600 metros até 800 metros e você perfurando você precisa ser inteligente, técnica e estudar, não se faz. Eu sabia que quando iniciasse o furo que estava, furo teste foi a 100 metros por mais que a broca cortasse não chegaria a 200 metros, porque a formação era dura, que o Jonas, mestre Jonas colocou, eu via lá, brocas, eu olhei “Essa broca é dura e vai encontrar resistência a 150, 200 metros, então dá tempo para eu ir em Catu e buscar”. Quando, dito e certo quando eu cheguei era na outra cimentação, aí: “Troca”, aí troca, mas isso se acontece hoje, demissão - a palavra é essa, você não pode improvisar. Só para lhe dar uma idéia, quando você batia na corrente, que hoje é proibido, você fazia a conexão de um tubo, que uma sonda grande tem 120 tubos, 120 colunas, de 80 até 120, depende da profundidade do poço, quando você jogava a corrente você fazia isso, a gente calculava em 55 segundos, hoje com a tecnologia operacional hoje, que o homem não toca, fica lá, é 1 minuto e 10 segundos, olha quanto se perde, você entendeu? Perde em tempo. Em parte também hoje quando o cara diz: “Ah mas o custo ficou menor”, o custo ficou menor porque os equipamentos, os equipamentos - quando eu digo operacionais, não do homem mas os equipamentos operacionais melhoraram, você tem guincho potente, você tem bomba potente, você tem tudo, entendeu, mas é isso aí.
DESCOBERTA DE PETRÓLEO NA P1
Houve uma época de Geisel que ele proibiu de similares, né, se pode fazer no Brasil não se compra americano, que o Geisel foi um cara nacionalista, a Petrobras deve muito a ele, tem um pessoal que não gosta dele, mas a gente deve muito a ele, porque ele fez muita coisa pela Petrobras, a Petrobras cresceu o Geisel, apesar dele deixar um rombo terrível em termo que ele investiu muito, mas ele foi muito importante para a Petrobras, Geisel foi. Aí quando a P1 deu certo, quando o pessoal descobriu que a P1 deu certo, ele disse: “Agora vamos comprar a Petrobras 2”. Aí foi que comprou o navio Petrobras 2, foi feito no Japão e fizeram a montagem em Corpus Christi em Graceland, lá nos Estados Unidos. Ele veio para Macaé, alguém já lhe disse aí que foi o Petrobras 2 que deu óleo? Não, né? O Petrobras 2 não descobriu o Macaé, viu? Não descobriu Campos, quem descobriu Campos eu sei quem foi, foi o Discover. Não foi o Petrobras 2 navio não, já disseram, foi o Discover Petrobras 2. Então, pronto, quando alguém chegar aqui e disser que foi o Petrobras 2, não, apesar de eu ser brasileiro, mas eu sou honesto, foi o Discover, só que mataram a cimentação na hora de cimentar mataram o poço, a área, aí o Petrobras 2 foi em outra área e deu certo aí que saiu o óleo, mas foi a Discover que descobriu Campos. Depois aí a Petrobras 1 veio, que a Petrobras 1 o grupo nosso Petrobras 1, Petrobras 2 que eu passei a ser supervisor nessa área, a Petrobras 1 foi a sonda que mais furou, apesar dos equipamentos dela serem mais fracos, mal dimensionados, só que ela, a capacidade de improvisação do povo levou ela na frente. A Petrobras 1 é símbolo de tudo, foi ela que deu, foi a Petrobras 1 que fez todos esses profissionais para todas as operações, todo esse pessoal que trabalha na área de Campos, na área marítima, o mestre foi a Petrobras 1. A Petrobras 1 era tão organizada que o torrista podia descer e trabalhar como sondador, o plataformista podia trabalhar como torrista ou sondador. Eu me lembro como nós éramos, eu, o mestre de manutenção, eu trabalhava como sondador para tirar. Nós naquele tempo nós procuramos aprender. Todo mundo sabia um pouquinho para poder resolver os problemas, porque nós sabíamos que era difícil, porque hoje você passa um rádio o helicóptero está ali, meu filho ontem falou na plataforma para mim, antigamente você não falava. Eu lhe digo: quando nós montávamos no pioneiro, só para você ter idéia, vocês que trabalham em eletrônica, ouçam essa, os nossos rádios primeiros da Petrobras eram Rayteon, hoje é essa marca aí famosa, né, mas era de válvula, eu não sei se você já viu duas antenas assim, a gente montava no ar e descia dois fios assim para pegar a coisa, porque hoje você conecta, um só, eram dois, se nós estivéssemos lá no Raso da Catarina ou Ibimirim ou Tucano, o que é nós fazíamos? Eu montava o gerador, inicialmente tinha que ir o rádio e o homem que tinha que montar o acampamento, sabe onde nós dormíamos? Vou ensinar a você não ter medo - vai no Pantanal, tem medo de cobra? Então vou lhe explicar, você corta duas forquilhas, faz quatro forquilhas, faz um buraco, bota o estrado em cima, né, e bota corana. É uma planta, você põe ela e a cobra não encosta. Então nós aprendemos isso lá, aí nós fazíamos isso, dormíamos no relento até o acampamento chegar, forrava de corana, a planta, e a cobra não chegava. Mas sabe, para montar esse rádio eu botava o gerador, botava o coiso, mas para montar a antena, para falar com Salvador, que era canal, assim: “Alô, Salvador, está entendendo, está ouvindo?” “Não.” Aí você saía: “Olha, nessa árvore ainda não dá não, muda para outra arvore”. Então os caras, rapaz, pegavam os fios e saíam, jogavam em baixo, jogavam uma cordinha. “Muda, não está pegando. Norte não, Norte está para lá.” Aí subia na árvore, na outra árvore até você ouvir Salvador, você entendeu como era o nosso? Era tribal.
ORIGEM DO APELIDO
Tem gente na Petrobras a quem esses todo-poderosos deviam dar a mão, porque essa empresa cresceu com abnegados, engenheiros abnegados. Teve um dos caras mais bonitos da Petrobras - hoje Campos, Macaé, essa área toda está produzindo, graças a doutor Francisco de Castro Nogueira, que é uma história que eu vou te contar, que você vai ver que humilhação, quantas coisas nós sofremos para chegar a isso, quantas coisas nós sofremos. Então eu passei a ser o homem pivô onde tinha um problema.Tinha problema, chamava o Frango D´água. Por que Frango D´água? Porque quando eu entrei na Petrobras, eu disse a você que só pegava peso pesado, só entrava quem pudesse botar um tubo nas costas e correr lama, só pegava gente pesada mesmo e quando eu cheguei eu era grandão, mas pesava 72 quilos – hoje, veja bem, eu estou com 92, como eu era magro. Só que eles esqueceram que eu era magro, mas eu gostava de trabalhar, desde o tempo de infância que eu vendia água - não por necessidade, mas eu achei que… teve aquele negócio do “O Petróleo é Nosso”. Então meu pai era político em Salvador, desses que escreviam cordel, então ele fazia petróleo no Brasil, meu pai era um nacionalista terrível, ele então: “Não tem que ser assim, a gente tem que trabalhar em função do Brasil e tal”, então eu me empolguei e fui para a frente. Mas Frango D´água porque eu era um esqueleto e não pegava esqueleto na Petrobras não, tinha que ser parrudo como pudesse, porque um tubo de perfuração pesa 300 e poucos quilos, 325 quilos. Precisava de várias pessoas para pegar. Tinha Sabino Alves, que pegava a parte da frente, e quatro pessoas pegavam atrás, Sabino Alves morreu outro dia. Quando eu cheguei em São Francisco do Conde, o cara disse: “Poxa, está mandando até frango pra cá! Não, devolve o cara”, porque eles não queriam pessoas do meu físico, pessoas que não agüentassem o trampo, foi Joel que fez isso comigo, depois meu compadre, meu amigo e tal, essa foi a parte de Dom João. Daí eu passei a crescer, comecei a trabalhar com lanchas, teve coisas espetaculares que eu fiz, a Petrobras me deve uma coisa, a Petrobras e a diretoria me devem uma coisa espetacular, me devem algo que eu vou te contar depois. Quando eu sai de Dom João comecei a me expandir, passei a trabalhar com os americanos me ensinando, eu comecei de um lado e de outro, passei a trabalhar com reparo também de motores, motores diesel, Caterpillar e tal e me especializei em hidráulica, em tudo, porque eu nunca desejei ficar num tamanho só, eu sempre quero um pouquinho mais. Apesar de estar aposentado há 20 anos - vai fazer agora - eu continuo indo todo dia na Petrobras, não no puxa-saquismo, mas cada vez que eu dou alguma coisa a ela, ela me dá. O que eu tenho... O coordenador da P40, já ouviu falar, P40? A que produz mais, chama Carlos Alberto da Silva, é meu filho, eu tenho um advogado em Caxambu e outro estudando, eu tenho uma menina que mora comigo que está fazendo advocacia, eu tenho um outro agora que passou para fazer, eu tenho cinco meninos na universidade.
HISTÓRIAS DE PISTOLEIROS
Aí eu disse que nessas viagens eu fazia, o anfitrião da Petrobras não, aí eu fui pro Raso da Catarina, triste, o Raso da Catarina fica a 450 quilômetros de Salvador, eu tenho fotografia aí você vai ver; o negócio parece a lua, é um lugar horrível. Quando chego, lá meu parceiro, meu pai Pedro Grande, que a gente chamava já de pai, né, que era pistoleiro famoso, pistoleiro, ele, Eron, cheguei lá, a dona Maria: “Ô, meu filho, você está triste, você só anda dando risada, você está triste hoje”. Eu disse: “Não quero conversa”. “Você tem alguma coisa.” Entrei, fui em Inajá, fui em Ibimirim - quando digo fui, não tinha asfalto, não tinha nada, só passava um carro, era areião, isso 1 dia e meio, 2 dias de viagem para isso, você sozinho 40 quilômetros pra lá e pra cá, mas eu adorava aquilo ali. Quando eu voltei, passei em Paulo Afonso, vi uma cena linda em Paulo Afonso, estava eu Blotiva, doutor Carlos, Colombina, porque naquele tempo a gente só andava mesmo numa boatezinha, num brega, chamava brega, aí nós estávamos em Paulo Afonso na rua, na boate Copacabana. Doutor Carlos era um médico escurinho, aí chegou: “Vamos tomar uma ali”. Bacardi que nós temos um detalhe naquele tempo era uma garrafa de Bacardi, a cabeça era de chumbo ainda, tirava, jogava a tampa fora, todo mundo tinha que beber a garrafa toda, não tinha esse negócio não, uma garrafinha todinha, só sai daí, aí nós vimos um policial e um cara com a faca, olha que cena linda eu vi, o policial: “Ei me dê a faca”; o cara disse: “Não vou dá não, venha tomar” - olha o lugar que

a gente andava, o policial disse: “Não, não preciso ir lá não”, pá, pá, pá, atirou, e o cara, puf. “Ah, está vendo como ele ia me dar a faca?” Aí pegou a faca e limpou. Paulo Afonso é um lugar assim, eu estou dizendo isso para você ver o que aconteceu. Quando eu cheguei lá, o seu Pedro disse: “Você está triste”, eu digo: “Não”, aí entrei no raso da Catarina que era em frente 40 quilômetros, quando eu voltei sabe quem tinha lá? O secretário dele: “Olha, leve ele pra Salvador, ele sabe onde é a antiga rodoviária, só dê o retrato dela, ninguém pode roubar um filho meu”, entendeu o que ele quis dizer? Que ele ia matar sua mulher. De graça, lá é assim, lá no raso da Catarina, eu chegar para você e você é minha amiga, e você me dá um retrato dele, disse: “Olha, esse cara não está sendo bom para essa amiga minha não”, aí o pistoleiro “Já estou com raiva dele, onde ele mora?” Lá é assim. Então você veja o pessoal queria matar e queria vir pra Salvador matar. Ah, queria matar, então eu vivi muito esse mundo, eu trabalhei nos Estados Unidos, eu trabalhei no Japão e a história que você vê o que nós fizemos por essa Petrobras principalmente eu, Nogueira, Haroldo Andreata, um certo grupo, Avelino e muita gente junto comigo, José Luiz Paim, essa equipe que hoje agradeço ao mar a gente sofreu humilhações para conseguir sair, nós sofremos humilhações.
MORTE NA PLATAFORMA
Então pegamos tudo isso, pegamos coisas que você jamais vai pensar. Tempos heróicos, em Aracaju a cestinha, você já ouviu falar na cestinha? Aquela famosa cestinha, teve lugar que o cara pega a cestinha assim, uuuuuuuuu, seis, inicialmente foi seis. A cesta, teve vez que chegar de seis, chegar quatro, e o mar levava. E alguém já lhe contou como é, se acontecer no mar, hoje não que mudou a legislação, mas naquele tempo só a Capitania dos Portos é que tinha direito, se desaparecer um, o inquérito e a família só recebia salário depois de 5 anos, então aconteceram vários problemas desse. Teve um fato, foi aqui em Caravelas, tinha um rapaz que chamava Mansinho; Mansinho estava estagiando para ser técnico da sonda, aí 6 horas, a gente tem uma maniazinha de... a gente dá um jeito lá, né, é proibido, mas a gente dá um jeito, pegamos uma arraiazinha: “João, vam’fazer uma moqueca de arraia”. Nessa moqueca de arraia aí, Mansinho - que chamava Armando, Armando, a gente chamava ele de Mansinho - Mansinho vai tomar banho. Ele estava estagiando para ser encarregado da sonda, ele saiu para tomar banho, daqui a pouco a gente viu: “O seu Armando está demorando”. Morreu dentro do banheiro, aí nós passamos um rádio pra Salvador “Olha, rapaz, aconteceu assim, Armando tal e coisa”. Aí o cara disse assim: “Puxa”, o legista mora em Aracaju, para ele se deslocar, você viu o deslocamento nosso como era, né, para ele se deslocar para Caravelas só daqui a 2 dias, ele vem de Aracaju pega transporte, pega isso, o que é que faz, não pode jogar o homem de lá, não pode tirar, sabe o que se faz num caso desse? Tira a carne do frigorifico e bota o corpo lá dentro, foi isso que nós fizemos. Até esperar o legista, ele morava em Aracaju, o Distrito Naval, 2º Distrito Naval é de Caravelas até Cabedelo, então a gente teve que esperar o legista com o corpo lá, depois lava tudo, bota a carne dentro, vamos comer, estamos ali, é isso aí, tem essas coisas lá dentro.


RELAÇÕES DE TRABALHO
Teve um fato de um amigo nosso eletricista que ele - para dar risada aí dos - ele teve um filho lá em Candeias, teve um filho e pegou o chefe de campo e aí deu para batizar. Mas o chefe de campo se desloca como a gente se desloca, naquele tempo trabalhou aqui, lá, quando chegou o outro chefe de campo, o Jaime Otávio, como a mulher dele não teve filho, ele disse: “Puxa, meu compadre Jaime Otávio, meu compadre Jaime Otávio”, mas não teve filho. Ele aí pegou o filho e levou para batizar lá em Candeias, só que o chefe de campo e todo mundo mudou, mas o padre não. Quando ele chegou lá, o padre: “Fulano de tal, esse eu não batizo não, a Igreja não permite batizar duas vezes”. “Então crisma, doutor, não pode batizar”, mais para puxar o saco. Então tem esses fatos que a gente tem. Lá na Petrobras a gente fazia assim: “Doutor, feliz Natal, estou mandando um peru gordo” e botava no pescoço do peru o número da matricula: “Se lembra de mim”. Aí pegamos o cara e botamos o apelido dele de “Peru de gravata”.
LEVANDO COMIDA
E teve coisas que, mas essa parte não, eu jogo duro, tenho um respeito, respeitem-me também, me respeitem, eu já fiz, eu já rasguei punições: “Eu estou ciente”, rasguei mesmo, rasguei, fui punido por um fato, ele era superintendente, eu disse a ele: “Você me puniu, mas estava errado, eu assinei a punição, mas você estava errado” e disse a ele depois: “E eu faria a mesma coisa”. Nós tivemos um blow out lá em Candeias e nesse blow out se reuniu toda equipe da Petrobras, os técnicos, as coisas e ficou um situação tal que não podia sair ninguém. Na sonda a média era 32 homens, 27 homens, 12 homens, 14 homens e nesse dia tinha 127 homens, carro de turma, tudo, para poder, porque blow out, se tiver um bloco na área, você perde a área, pode perder, perde o poço e o gás sai por toda a área, então você perde, pode perder o campo. Aí o pessoal ficou, ficou, ficou lá eu: “Tá, Frango, só você pode pegar a comida”; aí eu: “Puxa, não pode Colombina, não pode fulano?”, “Não, vai lá tu, ninguém pode sair daqui, vai você”. Eu fui pegar comida, saí uns 20 quilômetros, fui no acampamento de Candeias, cheguei lá, tinha um tal de um Arquimedes, ele chegou para mim e disse: “Ó, só com ordem de Jaime Otávio”, eu procurei Jaime Otávio e não encontrei. Eu não ia deixar os homens, há 5 dias trabalhando, com fome. “Ah, então não pode levar a comida.” “Não pode, espera aí.” Peguei a picape, entrei no refeitório, peguei todas as comidas que tinha, que precisava, e levei; levei, o pessoal comeu, trabalhou o tempo todo. Aí o superintendente, aí o Jaime Otávio, hoje é meu camarada, aí pediu 15 dias de suspensão para mim, aí o Nival, que era superintendente ele sabia do fato, mas ele me deu 3 dias de suspensão, quando se toma suspensão como eu te falei, você não era promovido, né? Foi, ele me deu 3 dias de suspensão: “Você viu que eu estou certo” “Você está certo, mas Jaime Otávio pediu” - ó que estupidez, é meu amigo hoje, mas isso outro dia eu disse a ele, deu para entender, são coisas.
LAZER
Vou te contar um fato, nós estávamos em Inajá, Inajá fica na divisa, Alagoas, Pernambuco e Bahia, e lá só tinha uma moça, e a turma da Petrobras, quando viajava para os poços pioneiros ele fazia sempre um leilão, sabe leilão de interior, mata uma galinha, mata um peru, quem é do interior sabe isso, a gente faz a festa, organiza tudo. A gente fazia isso para poder, porque normalmente um poço desses são 4 meses, 5 meses já pensou se não tiver uma namorada, um negócio lá? A gente... E aí eu falei com o Raques, o cara era eletricista: “Raques, pega um gerador, leva para lá”. Nós estávamos com 32 homens, e na cidade o lugar da festa é realmente uma rinha, uma rinha muito grande, aquelas rinha de galo. E aí todo mundo bota gerador da Petrobras, isso com ordem do chefe, quem estava lá até foi esse Chateaubriand, o sobrinho do Chateaubriand velho, porque ele era engenheiro e a única moça que tinha no brega era dele. Então a gente ia ficar na mão, mas então nós organizamos a festa e tal e vamos, vão as mocinhas da cidade: “Ó, como vai o senhor, a tua filha é muito bonita”, 72 homens, duas sondas, a sonda 53 e a 62, a 53 foi furada, e a 62. E a gente está lá tudo já organizado: “Oi, aceita um refrigerante, a senhora tal”, todo mundo angariando para ver se segurava uma namoradinha. Matamos a galinha, depois veio o peru, na hora do porco, e tinha um grupo pesado lá e a gente dava mais dinheiro do que ele, “2 contos, 3, 4 contos”. E a gente arrematou tudo. E o sanfoneiro só no fole e eu já estou... todo mundo engrenado com as suas namoradinhas, porque não tinha namoradinha, e só vi os caras pá, pá, pá - tiro. Acabou a festa, os pistoleiros lá da área, lá tem muito, acabou a festa, acabou todo mundo estava pensando que ia estar com seus: “Vamos embora, olha amanhã eu lhe vejo e tal, sua filha é muito bonita, parabéns”. Aí os pistoleiros: “O pessoal da cidade sai, não quero ninguém da cidade aqui”. A gente aí foi saindo. “Não, vocês da Petrobras ficam.” “Ih, sujou.” “Não, fica”. Quando saiu todo o pessoal da cidade daquela rinha grande e tal: “Ê, sanfoneiros, puxem o fole”. Mandou puxar o fole. “Ei, você, negão, pega o outro negão.” E eu, altão, e tinha um negão chamado Bolero, está vivo até hoje, tinha outro que também se chamava França, daqui a pouco o Bolero está junto de mim, e o cara: “Você, grande aí, pega o outro aí, não estava dançando? Agora continue dançando”. Bolero; eu e Bolero, o sanfoneiro soltando a zorra; quando chega uma hora depois, que a gente já está cansado, ele disse: “Ah, vocês já estão cansados, estão suados, então tira a roupa”. “Mas.” “Tira a roupa”; tiramos a roupa, 72 homens tiramos a roupa, só que a gente estava pensando que ia tirar a roupa e ia embora , né, deixar a roupa para ele lá. “Sanfoneiro, puxa o fole aí”. Tinha que dançar tudo nu. Nu, minha camarada, né? O que a gente vai fazer, você é maluco, complicar onde, a gente tinha que ficar, fazer essas coisas e abafar. Aí o Bolero pa-pa-pa; daqui a pouco, o descarado do Bolero, quando ele passava por mim: “Chega pra lá Bolero, com esse negócio”. Eu sei que por falta de mulher lá ele batia em mim e ficava ereto. “Onde você vai parar, Bolero, que é isso”. Só terminamos quando faltou óleo diesel no gerador, dançou 72 homens. Aí eles deixaram: “Vai embora, isso é para vocês respeitarem a cidade”. Então a gente viveu muito isso, nós vivemos coisas, o pessoal, só pra lhe dar uma idéia, 700 quilômetros de estrada ruim e você trabalhar 21 por 7, é graça? A Petrobras mandava o ônibus para levar uma turma e trazer a outra. Nisso, você passava 3 dias de lá do alto de Pernambuco para cá, 3 dias.
VIAGENS DE AVIÃO
Eu passei por uma situação que eu não deveria pegar avião mais, já caí com helicóptero. Eu não sei se você já ouviu falar em Beech, Beech é aquele avião que serve muito no Estados Unidos, com dois motores pesados, ele não tem injeção, ele não tem bomba para acionar os motores, o som é na asa e trabalha na gravidade. Em 1967, não, 70, 71, nós saímos de Salvador para ir para São Mateus. Quando nós chegamos em cima de Caravelas, aí pega no rádio: “Olha, não vem para São Mateus não porque o aeropasto está...”, naquela época São Mateus era tudo de chão, quando chovia enchia a pista de avião. “Fica em Caravelas mesmo porque amanhã ou depois até a maré, vir de carro”. Aí a moça - tinha um piloto muito competente, que era o Melo, que o pai dele era aquele major Melo, aquele cara famoso que fez muita peripécia por aí, Melo ia e Linda no manche, né, ajudante de Melo, só que ela ouviu no rádio, e Melo dormindo. Nós íamos a 7 mil pés, 7 mil e 300 pés, ela em vez fazer uma curva dando um ângulo maior, para ela pegar um ângulo assim 3 graus, 2 graus e meio de curva, ela quando viu isso: “Ah, Melo está dormindo deixa eu viajar”, parou o motor, quando o avião fez assim, parou o outro. Nós estávamos a 7 mil e 300 pés, o Beech, os dois motores, ele é pistão ainda, pistão daqueles da guerra, ele desceu assim direto, peso do motor, a gente via andando, e olhando e só uuuuuuuuuu, a gente acordou o Melo: “Melo, pelo amor de Deus”. “Que foi?” aquele pa-pa-pa até que pegou um; quando nós estávamos a 500 pés pegou o outro, foi o que arrematou pro rio Mucurí, disse: “Se a gente tiver que morrer, morre dentro do rio”, mas não foi; ele conseguiu planar, nós descemos 5 mil pés sem motor assim uuuuuuuu. Tanta loucura que tinha uma almoxarife que se chamava Rogério, a sonda P1 foi para Belém do Pará, ele ia de Ilhéus de ônibus onde a sonda furava em todo o Brasil, ele passou a viajar de ônibus. Nunca mais entrou num avião. A Petrobras dava avião de carreira, avião de carreira para todos eles, passou a dar. A tecnologia chegou, ele: “Não, pode ficar”, ele se aposentou por isso.
CASAMENTO
Estou no quarto casamento. A vida em família foi difícil, porque eu pensei muito, talvez um erro meu, eu pensei muito na Petrobras, pensei muito mais no trabalho do que na própria família. Se bem que eu não me arrependo, graças a Deus foi bom eu sempre trabalhar na Petrobras. Família - é uma filosofia minha -, família passa, mas com trabalho, pode gostar de mim, mas com trabalho, mas para passar fome nunca passou, porque esse é o pior problema, né? Então para você dar melhores condições pra sua família, para você, porque o cara que é bom trabalhador, em minha filosofia, ele é bom pai de família, porque se ele trabalha ele está fazendo a função da família. Então eu tenho cinco meninos na universidade, cinco, bem pra caramba, muito bem, daqui a pouco ele vai encontrar comigo, o Carlos Alberto que ele desembarcou hoje, ele é técnico, coordenador do coiso, não precisa, mas eu obriguei ele a fazer engenharia, ele está no quarto ano, terceiro ano de engenharia, a mulher dele atual é advogada também da Petrobras, trabalha aí no coiso, daqui a pouco vai encontrar comigo. Eu não abro mão de estudo, o cara que estuda ele conhece um pouco mais, ele pode não usar o estudo, mas ele põe aqui dentro.
Eu me casei com 22 anos. Eu trabalhava em Dom João, e naquele tempo eu achava: “Professora, quem casa com professora, é gente bem”, naquele tempo da ignorância. “Professora, professora”, aí me casei com a professora Jorgina, gente boa, minha amiga, tenho um primeiro filho de 42 anos. Aí teve um fato interessante, nessas viagens em que eu ia para o sertão como supervisão, a Petrobras me dava uma... tinha um dinheiro tipo suborno, mas não era suborno, para que você tratasse bem as áreas onde a Petrobras ia operar, porque normalmente o dono da fazenda não queria que entrasse Petrobras porque acaba, entendeu, faz estrada, melhora um pouco e faz estrada, mas o produto - quem tem gado, aquele produto químico no canteiro, ele estraga. Então o doutor Hamilton, inteligente, disse: “Leve gasolina, óleo diesel, ajuda esse pessoal, dê carona para poder esse pessoal ter acesso”. Aí teve um fato, quando eu me casei aí aconteceu um fato interessante, eu estava em Abrolhos, acredita que foi em Abrolhos a Petrobras? Está aqui fotografia, eu tenho 4 mil fotografias de petróleo, tenho 4 mil de todos os trabalhos da Petrobras. Aí eu estava em Abrolhos, me casei e tive que viajar para Abrolhos, porque o que aconteceu em Abrolhos? A sonda estava perfurando, o pessoal disse: “Vamos contratar dois pescadores para pescar”, para servir a alimentação, para fazer uma comida variada, para não ficar só comendo. Em dois dias os pescadores enchram o frigorífico, aí o cara disse: “Vamos aumentar a capacidade do frigorifico”, aí disse: “Mande chamar Frango D´água”. “Como é?” “É precisa disso, disso”. Aí eu conversei com um amigo meu que faleceu até essa semana, o doutor Sorte Barreto, que era um cara que me ajudava porque eu nunca fui sozinho, porque quando eu precisava de alguma coisa tinha uns engenheiros amigos meu, Manoel Lorene e outros que: “Faça assim”. Eu tinha idéia, mas a parte técnica disso, quanto precisa disso para isso, eu tinha noção que eu lia no composite, mas para fortalecer eu tinha que conversar com um engenheiro não oficialmente, mas eles me ensinaram muito. Aí eu cheguei pra Sóstenes: “Sóstenes, tem esse problema aí”. “Não, faça assim, você pega o motor de meio HP corrente contínua, pega o gerador de três, acopla ele e faz um conversor e aciona o motor que é de 1 e meio HP do frigorifico”. Aí eu fiz tudo aquilo, por necessidade tive que ir embora para Abrolhos, casei num dia e no outro eu fui pra Abrolhos. Quando passei, passei 22 dias em Abrolhos, a moça em Salvador, morava numa casa bonita naquele tempo, quando eu volto minha camarada era muito católica, foi um sábado de Carnaval e aí mandei Chicão, que era o motorista: “Chicão”, ele foi me pegar no aeroporto “diga à moça que eu já cheguei, para ir em casa”. Aí o Chicão foi na casa dela, que era praticamente vizinho: “Ela disse que não vem, não; ela vai passar o Carnaval com os pais”. E eu: “Mas Chicão, o que é isso, mas lá eu não vou, aquela não vou”. E não fui, só que eu comecei a tomar umas cachaças... Só que eu tinha, antes de casar eu tinha uma, soldado do Exército, né, eu era cabo do Exército na época e tal, tinha feito curso de Sargento no Exército, não fiquei porque eu preferi Petrobras, aí eu: “Só tenho uma coisa para fazer, ela não veio”. Aí eu olhei simplesmente um vestido de noiva com a cauda de 8 metros, que eu me casei na igreja dos Mares em 1960, olhei aquele. “Olha que eu vou amanhã para cidade, para a rua”, a rua Chile, que é o centro da cidade, que era, hoje já mudou, mas era o centro, tinha colocado asfalto, aquele asfalto com aquela borra, que hoje é mais técnico e aí eu disse: “É aqui”, peguei a grinalda, vesti em casa que ela era alta, todo bonitinha me ajeitei, botei aquilo no saco; deu um trabalho danado, na sacola grande; e aí dormi na Misericórdia que era o brega, era a descida do elevador da Serra, dormi ali, e quando chegou de manhã, que o couro está comendo, que o Carnaval de Salvador era da rua Chile até o Largo de Jesus, onde tinha o trio elétrico, aquele negócio era artesanal, aí apareceu pela primeira vez em 1961 a noiva mais bonita de Salvador, com oito mulheres segurando o véu e grinalda e eu (jogando beijos) “Ô, meu Deus, que delícia”, descendo a rampa e nessa altura o couro comendo, né? Mas foi pior que teve problemas maiores. Aí eu estou na rua no outro dia eu disse: “Não vou para casa”, dormi novamente no Distrito lá, na Misericórdia, no outro dia - o Carnaval era 3 dias nessa época -, no outro dia na rua tal. Mas só que no desacerto não existia televisão, era o começo da Tupi, no desacerto as mulheres começaram a se embriagar, e aquele véu foi largando e foi terminando aquele asfalto no branco e aí foi ficando preto e já tinha uma hora que eu não tinha condições de arrastar pelo peso daquele véu; eu digo: “Ah, não tem jeito não, amanhã eu dou um jeito, ela disse que não vem”. Enrolei tudo, pus em cima do armário, vou levar para casa arrumadinho. Mas à noite a farra foi boa, vocês que são mulheres sabem disso, se lembra daquela camisola de 7 dias, que tem a primeira abertura, segunda abertura, terceira abertura, quarta abertura; era cheia de bidés, eu digo: “Eu vou com essa”. Peguei a camisola da noiva, aí para me ajeitar bem eu arranjei uma barriguinha, as meninas lá no Distrito arrumaram uma barriguinha, e eu estou já no outro dia cheio de coisa “A noiva de ontem ficou grávida hoje”. E aí lá vou eu, quando eu estou na esquina, no Bráulio Xavier, um prédio da esquina do “Jornal da Tarde”, está sogro, sogra, tio, tia, mulher tudo assim olhando para mim; “O infiel”. Meu sogro: “Não entra mais lá”. Eu vou fazer o quê? Aí já acabou meu Carnaval, fui para casa. No outro dia chegou a família toda, naquele tempo quem tinha uma condiçãozinha comprava móveis mexicanos, que eram feitos de compensado, mas bonitinhos. Meu sogro era forte pra caramba a família dele toda forte; chegou, deu um murro na mesa: “Você é infiel”, quando veio, meteu a mão, prendeu no compensado, eu digo: “Vê se tira daí”, dando risada, quase que o cara me mata “Não serve pra minha filha, não serve”. Aconteceu logo na primeira vez, né, aí levaram a filha de volta e aí eu fiquei sozinho.
MEMÓRIA DOS TRABALHADORES
Esse projeto eu até te digo, o pioneiro fui eu, porque tem 1 ano e meio que eu venho falando com a administração da Petrobras aqui no Rio de Janeiro, a moça sempre fizemos entrevista há muito tempo quando eu trabalhava e eu só forçando a ela: “Puxa, tem que contar a memória da Petrobras, tem que contar”. Aí eu já estava um ano e meio atrás projetando fazer o livro Petrobras 50 anos. E falei com todos os meios para esse processo, conversei com o gerente de Salvador, o gerente de Salvador disse: “Não é comigo você tem que...”. Quando ela chegou lá em Salvador, ele disse: “Olha, tem esse projeto aqui, aqui, aqui, o que precisar eu tenho, eu tenho fotografias, eu tenho um pessoal...”. Porque eu me choquei uma vez quando teve uma reportagem na revista Petrobras que o pessoal só falava nos dirigentes atuais, mas para você ter uma idéia o pessoal de 38, quando começou a Petrobras já morreram todos, o de 48 só tem 1, de 50 tem, de 50 pra cá tem 12, 13 que eu conheço e do meu tempo tem 39 pessoas vivas. Aí eu telefonei pro Rio, pro pessoal: “Porque você não fala pro pessoal o que sofreu da situação nossa, da fome, que entramos na empresa sem condições nenhuma, fomos escravos para poder ter uma empresa deste tamanho hoje”, que na revolução, se vocês soubessem o que nós sofremos - eu fui preso político, eu não sabia nem... tinha um grupo da Petrobras que não sabia que tinha revolução, o pessoal que estava lá no alto sertão nem sabia, porque não tinha meio de comunicação. Eu fui preso em Paulo Afonso sem saber. “O que foi”. “Não, Revolução, mas você é da Petrobras está preso”. A filosofia era essa, foi assim, então isso eu me choquei, eu telefonei para o Rio, aí teve um gaiato aí que disse: “Oi, tem um velho aqui querendo contar a história dele”, eu ouvi pelo telefone, ele chamou alguém e deixou o telefone aberto, se eu não tivesse coiso, eu tinha vindo no Rio dar um murro nesse rapaz, porque ele não sabe, ninguém valoriza mais essa empresa do que o pessoal que começou no tempo do “O Petróleo é Nosso”, porque era idéia fixa, era idéia nossa que essa era a nossa vida, trabalhar em função do Brasil, petróleo, Petrobras, você está entendendo? A Petrobras está se renovando, ela é uma empresa que daqui a mais um ano ela só não é auto-suficiente, porque esse país tem outra filosofia, tem outro coiso, esse país tem, eu fiz um projeto para esse país, para essa Petrobras com uma economia de quase na época, quase 1 bilhão de dólares e não foi aceito porque a política não aceitou, é um projeto que não pode entrar na reportagem porque foi um negócio muito grande, mas na época não podia porque tinha gente mais forte de Figueiredo, Paulo Figueiredo Filho que era dono da situação, era um projeto, se você analisar...