Museu da Pessoa

Uma chance para a vida

autoria: Museu da Pessoa personagem: Joana Maria de Miranda

Projeto Instituto Camargo Corrêa
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Joana Maria de Miranda
Entrevistada por Luis Egito
Santana do Paraíso, 25 de Maio de 2011
Código: ICC_HV043
Transcrito por Denise Yonamine

Revisado por Ana Luiza Guedes Ferreira

P/1 – Boa tarde Joana, obrigada por ter atendido o nosso convite. Eu queria que você, por favor, começasse dizendo o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Bom, meu nome é Joana Maria de Miranda; 01 de março de 1983, em Santana do Paraíso, né, sou nascida, sou natural de Ipatinga.
P/1 – E o nome dos seus pais?
R – Geraldo Ramos de Miranda e Maria das Graças Franklin de Miranda.
P/1 – E o que é que fazia seu pai?
R – Meu pai, ele trabalhava numa madeireira, vendia madeira, hoje ele tem a fábrica dele, uma fábrica de móveis.
P/1 – Aonde?

R – No centro de Ipatinga.

P/1 – E a sua mãe?

R – Minha mãe é doméstica e ajuda também ele na fábrica de móveis também.

P/1 – Você tem irmãos?

R – Tenho duas irmãs.

P/1 – Você se coloca onde nessa escala de irmãs?

R – Primeira, primogênita.

P/1 – Primogênita?

R – É.

P/1 – Certo. Você conheceu seus avós?

R – Sim.

P/1 – Pelos dois lados?

R – Paternos e maternos.

P/1 – Como era o nome deles?

R – Benedito, né, do lado do meu pai, e Euvani Sales de Miranda, lado do meu pai também. Meu avô materno, fugiu da memória agora, minha avó Eva, né, e meu avô já faleceu quando eu estava criança ainda e não me recordo muito bem não.

P/1 – Você sabe de onde eles vieram? Se eles são da região, se vieram de outro lugar pra cá?

R – Meus avós eram de Antônio Dias, paterno, né, a minha avó e meu avô materno eles são de Conselheiro Pena, daquela região central de Minas, né?

P/1 – E nas histórias que você ouviu quando criança, você teve alguma informação do porquê deles terem vindo pra cá?

R – Ah, eu acredito que foi mais a questão financeira mesmo, porque eles migraram, né, pra construir uma vida, uma família lá, eu acredito mais nessa possibilidade.

P/1 – E o trabalho do seu pai, quando é que você se deu conta do trabalho dele, quando criança assim, quando é que você começou a entender o que ele fazia?

R – Na verdade, nossa família é muito unida, então meu pai já criou a gente dentro do negócio dele, inclusive eu cheguei até a trabalhar com meu pai na administração da empresa com ele, cheguei a fazer um curso técnico de administração de empresas, mas não era o meu perfil, não era o meu sonho, né? Aí nesse curso de administração de empresas eu vi que não era o meu ramo, aí parti pra outra escolha.

P/1 – Tá certo. Mas antes da gente chegar nessa fase da sua vida, como é que era a sua infância, que Ipatinga era essa que você passou a sua infância?

R – Bom, você fala em questão de brincadeiras?

P/1 – É.

R – Era amarelinha, era pique pega no meio da rua, era brincar de queimada, era vôlei, basquete, eram coisas assim.

P/1 – Tinha muitos amigos assim?

R – Tinha, bastante.

P/1 – E a sua casa, você pode descrever a sua casa? Como é que ela era?

R – Bom, era uma casa de dois andares, tinha uma escada e um quarto pra mim, pras minhas duas irmãs, um pro meu pai, uma sala, uma cozinha, uma garagem enorme. Em cima, no terraço, era uma outra cozinha e um quarto de visitas e uma piscininha de plástico.

P/1 – Tinha quintal ou não?

R – Tinha, um quintal enorme.

P/1 – Árvores?

R – Água?

P/1 – Árvores?

R – Árvores não, não… quando a gente brincava a gente ia pra rua, entendeu? Ou então no quintal mesmo, né?

P/1 – E a oficina do seu pai, a fábrica do seu pai, como é que era?

R – Ah, a fábrica, ela é no centro de Ipatinga, né, próximo ao corpo de bombeiros ali, um ponto de referência, mas é uma área, um galpão enorme com várias máquinas esquadrejadeiras, essas máquinas pra fazer móveis mesmo, pra fabricação de móveis e um escritório com banheiro.

P/1 – Tem muitos empregados?

R – Não, é uma microempresa, né, hoje ele tá com uma faixa de cinco marceneiros e dois ajudantes.

P/1 – E teu pai deixava vocês brincarem ali? Não era perigoso?

R – Não, brincar não, mas a gente ia pra dar um suporte pra ele, às vezes ele ia atender algum cliente e a gente ficava, atendia telefone, recebia o fornecedor, né, que ia fazer algum tipo de entrega de algum material, mais nessa parte assim.

P/1 – E na hora da brincadeira, era rua?

R – Rua, lá dentro não, lá dentro era sério, entendeu?

P/1 – E seu pai tinha horário pra voltar pra casa?

R – Tinha, sempre pegava o serviço sete horas da manhã e às 18 horas a gente já retornava pra casa. A gente não ficava o expediente todo não, porque tinha o horário de escola, né? Sempre tinha uma outra atividade pra fazer também, um balé, uma academia.

P/1 – Teu pai gostava de juntar a família, de contar histórias do trabalho dele?

R – Muito, muito! Ah, lá em casa sempre foi cheio, a casa cheia.

P/1 – Como assim, a casa cheia?

R – Por exemplo, final de semana é um churrasco, é um almoço, meus avós, meus primos, todo mundo reunido, entendeu?

P/1 – Daí que veio essa liga aí, que você mencionou, da família?

R – Isso.

P/1 – E você morava também no centro de Ipatinga?

R – Não, quando meu pai iniciou a fábrica de móveis nós morávamos ainda aqui em Santana do Paraíso, aqui no Bairro Industrial, nós moramos aqui 19 anos.

P/1 – Por que vieram pra cá?

R – Meu pai morava em Ipatinga, né, casou e aqui o lote aqui na época era... tinha condições de comprar, resolveu comprar, investiu aqui, construiu a casa aqui, mas depois de ter iniciado essa fábrica lá, a gente resolveu mudar pra Ipatinga, mais próximo do trabalho, gastar menos combustível, questão de economia também. Aí nós vendemos a casa aqui.

P/1 – Ah, entendi. Daí seu vínculo com Santana do Paraíso...

R – Com Santana do Paraíso.

P/1 – E a sua escola, sua primeira escola, qual foi?

R – Aqui no Bairro Industrial.

P/1 – Ah, quando você já viveu aqui!

R – Aqui.

P/1 – Como é que era o nome da escola mesmo?

R – Escola Estadual Santana do Paraíso, hoje ela tem outro nome, Escola Estadual Antônio Luiz.

P/1 – E alguma professora ou professor que tivesse te marcado, que tivesse ficado?

R – Sim, professora do pré-escolar, chamo até hoje de Tia Roseli, não sei porque, não consigo chamá-la de Roseli, é Tia Roseli.

P/1 – Por quê?

R – Não sei te falar, acho que... não sei se é o vínculo, acho que a primeira professora, entendeu? E assim, não sei te explicar o que é não. Hoje eu não sei por que, mas assim, a única professora que eu me recordo, não desmerecendo as outras, claro, né, mas é uma professora, assim, que marcou mesmo o pré-escolar.

P/1 – Ela te reconhece ainda?

R – Reconhece, já tá já...não vou falar idosa não, mas já tá, né, numa idade mais...

P/1 – E como é que você ia pra escola ?

R – Eu ia a pé.

P/1 – A pé?

R -

É, porque é próximo.

P/1 – E sem problemas?

R – Não, era um lugar tranquilo, hoje também tá tranquilo também.

P/1 – Certo. Me diga, como é que era a tua escola, que tipo de brincadeira vocês faziam, tipo de função que vocês armavam, como é que isso acontecia?

R – Bom, no pré-escolar mesmo, desde o início?

P/1 – O que você se lembra da escola.

R – A gente tinha várias brincadeiras de pique pega, né, quase as mesmas brincadeiras que a gente brincava em casa, a gente conseguia fazer na escola também. Apesar do intervalo ser pouco, uns 15 minutos do recreio, né? Eu tinha o período da merenda, a gente merendava e conversava, brincava, coisas mais...

P/1 – Alguma coisa que no seu desenvolvimento na escola, alguma coisa que te chamava atenção, que você gostava mais, alguma matéria que você gostava mais?

R – Sempre a área das biológicas, Ciências Biológicas, sempre essa área, não gosto de Matemática, Português, mas a gente tem que ter o Português, né, faz parte, mas o nosso Português é um pouco complicado também, difícil de aprender, eu reconheço até hoje, tenho dificuldades em concursos, mas faz parte, né?

P/1 – E o que essa menina Joana queria ser quando crescesse?

R – Eu sempre quis ser alguma coisa na área da Medicina, da Enfermagem, sempre, meu sonho era esse.

P/1 – E como é que você foi construindo esse sonho?

R – Trilhando isso, né? Na verdade, aos poucos, sempre falando, mas não sei porque meu pai, por ele ser um administrador, né, ele queria muito que a gente fosse por esse caminho, até hoje eu não sei se eu fiz a escolha certa pela posição do meu pai, apesar de amar a minha profissão. Mas economicamente, às vezes a gente é muito desvalorizado, então assim, meu pai sempre puxou muito pro lado da administração de empresas, tanto que eu cheguei a fazer um curso técnico de administração, mas eu fiquei frustrada, porque não era o que eu queria. Sabe o que é você fazer aquela coisa, muito mecânica, fazer pra agradar.

P/1 – E ele entendeu isso?

R – No primeiro momento não, né, porque ele queria que alguém assumisse, desse continuidade... [toque de telefone].

P/1 – E aí, Joana, como é que você foi construindo paulatinamente esses sonhos? Já no segundo grau, já pensou em se direcionar para o que você queria?

R – Isso. Na verdade, as coisas aqui em Minas não são muito fáceis, né, não são tão fáceis assim. Eu sempre tinha determinado que eu tinha que estudar, que eu sempre quis estudar, então na época que eu fui fazer o vestibular, meu pai perguntou: “O quê é que você vai fazer?” Aí eu falei pra ele: “Pai, eu quero fazer Enfermagem.” Aí ele: “Como é que nós vamos fazer? Porque eu não tenho condições de pagar a faculdade pra você hoje”; essas crises financeiras, por mais que, né, tem um estabelecimento, mas nem sempre a maré não tá pra peixe! Mas aí eu escolhi, fiz, passei no vestibular, nossa, todo mundo ficou...

P/1 – Aonde?

R – No Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, Unileste.

P/1 – Que fica onde?

R – Aqui em Coronel Fabriciano. Aí foi só festa, acho que depois ele foi acostumando com a ideia, graças a Deus, e hoje eu tenho certeza que ele tem orgulho de ter uma filha enfermeira, né, especialista em saúde da família.

P/1 – E você se transferiu pra Coronel Fabriciano pra fazer o curso?

R – É próximo, né, a faculdade de enfermagem, na verdade, ela tem um campus em Ipatinga, tinham algumas disciplinas que a gente fazia em Coronel Fabriciano, onde é a sede dela, mas tem um campus em Ipatinga, ao lado do hospital Márcio Cunha, hospital regional nosso aqui.

P/1 – Hospital?

R – Márcio Cunha.

P/1 – Márcio Cunha, quer dizer então que você não precisou sair de Ipatinga pra fazer o curso?

R – Graças a Deus, não.

P/1 – E a rotina, como é que era dessa sua fase?

R – Da faculdade?

P/1 – É.

R – Na parte da manhã ficava por conta dos estudos, porque aí eu abandonei de vez a empresa, mais um motivo que o meu pai sentiu, né? E eu estudava na parte da tarde das 13h às 18h e quando chegava, empenhava também nos estudos. Fiquei só por conta da minha faculdade. Aí chegou um período da faculdade que eu consegui uma bolsa na faculdade, eu trabalhava na parte da manhã na faculdade, em um curso lá de 7h ao 12h e de 13h às 18h eu estudava, tava dentro da Unileste mesmo. Então assim, foi um período muito importante pra mim, foi um período onde eu resolvi casar e, na verdade, meu pai não queria que eu casasse, por ser a primeira filha, aqueles ciúmes todo. Então assim, fui contra a vontade dele mais uma vez, né, mas graças a Deus estamos aí.

P/1 – Gostou do genro?

R – Ele não gostou, até hoje ainda não [risos] simpatizou não, mas acho que vai acostumando com a ideia e aos poucos, né, pra aceitar.

P/1 – Nesse período de escolaridade, de formação escolar, fora o trabalho na fábrica do seu pai, você teve algum outro tipo de trabalho profissional?

R – Ó, uma coisa que eu acho muito importante, a gente cresceu, a gente foi nascida e criada na Igreja, desde os meus 12 anos de idade eu canto na Igreja, na Igreja Católica. Então até os meus 21 anos eu era de frente liderança da Igreja, né, só que depois que eu casei, teve mais compromisso, mais responsabilidade, eu tive que me afastar um pouco dos trabalhos religiosos, mas tô voltando agora.

P/1 – E como é que chama o seu marido?

R – Valdemir.

P/1 – Como é que você o conheceu?

R – Eu conheci numa festa lá no bairro onde eu morei, no bairro Cidade Nova, era uma festa também, que eu sempre fui envolvida também com questão política, liderança de bairros, Associação de Bairros, eu era presidente da Associação de Bairros e a gente tinha promovido uma festa julina no bairro, que a festa foi uma das melhores festas do bairro, né? Não porque eu tava a frente não, sabe? E ele teve… nessa festa tinha forró, tinha comidas típicas, aí ele me chamou pra dançar, tirou pra dançar, a gente dançou, a gente ficou conversando, aí num primeiro momento eu não...falei: “Esse cara, eu não conheço o cara, não sei se é casado, solteiro e tal” e ele só investindo! Aí eu perguntava, só que eu sou o tipo assim, estilo, assim, general, eu quero saber, como funciona, de onde você veio, né? Pra não chegar assim e você é casado, solteiro, divorciado, tico tico no fubá? Aí ele: “Nossa, o que é que é isso, é advogada, o que é que você é?” Falei não, pra mim não serve, pra mim já tava descartado, porque ele não queria responder às minhas perguntas. Aí depois passou mais ou menos uns três meses, eu não tive vínculo mais com ele, nada, foi só aquele momento mesmo, eu voltando da academia, ele morava num bairro próximo, tava de bicicleta e ele me chamou: “Ei moça!”. Todos os dias ele passava e me chamava, eu nem dava ideia, não conheço esse cara, nunca vi esse cara, não lembrava dele, e ele se recordou, né? Aí me chamando e tal, aí eu fui e resolvi: “Vem cá, você me conhece de onde?” De novo: “Você não tá lembrando de mim não?” Falei: “Claro que não, nunca te vi!” Aí ele falou: “Não, da festa que teve lá no Bairro Cidade Nova, tal." Eu falei: “Ah, tá!”; mas não lembrava não [risos]. Aí passou, a gente começou a conversar e tal, gostei das ideias dele, aí a gente começou a namorar, nós namoramos oito meses; com oito meses eu casei, foi o casamento mais rápido.

P/1 – Sei, o que ele faz?

R – Ele trabalha. Hoje ele tá encostado porque ele sofreu um acidente de moto, tá com a perna fraturada, ele trabalha na área da Usiminas, numa das empreiteiras da Usiminas, né?

P/1 – Certo. E depois, quer dizer, de toda essa trajetória... você já tava formada quando casou?

R – Não, eu ainda faltava um ano e meio pra me formar e o meu maior medo era que... porque eu não tinha trabalho nenhum, meu esposo muito menos tinha condições de pagar uma faculdade hoje de oitocentos reais, né, e não é só esse valor que fica, que tem condução, tem material que a gente precisa. Meu medo era meu pai cortar o vínculo, falar assim: “Não, casou contra a minha vontade, desobedeceu e ainda eu vou continuar pagando? Já casou a responsabilidade não é minha mais!” Mas graças a Deus meu pai virou pra mim e falou: “Não, minha filha, eu vou pagar a sua faculdade porque é uma coisa que você vai ter pro resto da vida, ninguém vai te tirar!”, entendeu? Então assim, graças a Deus, ele continuou...

P/1 – Como é que foi o dia da sua formatura?

R – Bom, eu já estava casada, né, no início meu pai não queria ir na formatura, mas eu fui lá, chamei meu pai, minha mãe, aí eles foram, foi um momento assim, nossa, missão cumprida! Mas aí quando a gente cai no mercado, meu Deus, falta muita coisa ainda! Mas, graças a Deus, foi um momento muito feliz.

P/1 – E esse mergulho no mercado, como é que foi?

R – Bom, sinceramente, quando eu saí, quando eu tava na formatura, eu tinha uma outra visão, não sei, acho que a faculdade hoje não te prepara para o que tem realmente no mercado, te coloca assim: você vai entrar, você já vai começar trabalhando, você já tem seu emprego. Quando eu caí na realidade, que eu vi a situação que estava, principalmente aqui na região Sudeste, tá muito saturado, nós temos aqui hoje, acho que quatro ou cinco faculdades formando, formando, formando e não tem lugar pra todo mundo, entendeu? Tá muito competitivo o mercado, eu não esperava isso, porque quando eu comecei a estudar não era assim, precisava, entendeu, precisava de enfermeiro, o pessoal pegava a laço. Hoje tem em cada esquina tem 10, 15, 20, então eu, sinceramente, fiquei um pouco frustrada quando eu saí.

P/1 – Mas aí você foi fazer o que? Como é que você reagiu a isso?

R – Aí eu comecei a estudar, comecei a estudar. “Vou ter que fazer concurso, vou ter que me especializar, vou ter que melhorar, só a graduação não dá, eu tenho que correr atrás!” Aí eu pensei assim: eu não vou fazer especialização enquanto eu não estiver trabalhando. Primeiro, porque a enfermagem é uma área muito ampla, tem a área hospitalar, tem a área de pesquisa, né, tem a área da saúde pública que é essa que eu tô hoje. Então assim, comecei a estudar, comecei a fazer concurso pra aqui, pra ali e tal e, graças a Deus, apareceu a oportunidade aqui em Santana pra eu tá trabalhando aqui.

P/1 – Como é que foi essa tua opção pela saúde pública entre todas essas áreas da enfermagem você se direcionou pra esse ramo?

R – É uma área que eu me vejo mais, entendeu? É mais uma coisa assim, não sei, sabe, por ser a primeira experiência também, pra mim foi ótimo, agora eu imagino assim, se eu fosse trabalhar num hospital, por exemplo, um pronto atendimento, como seria? Não sei, eu gosto também, não sei, enfermagem é uma coisa assim que se você tá dentro, você entende, sabe? É pau pra toda obra, é muito bom, sei lá. Quem gosta, gosta mesmo, é o amor pela coisa...

P/1 – Você teve alguém que te influenciou nisso, alguma professora...

R – Não.

P/1 - ...alguma enfermeira, enfermeiro que você tenha conhecido e que te chamou a atenção?

R – Não, por incrível que pareça, não, é dedicação mesmo, correr atrás daquilo que eu sempre sonhei ser.

P/1 – E qual é o segredo de uma boa enfermeira?

R – Olha, eu acho que você se preocupar com o outro. É aquela questão que a gente falou antes, você poder deitar no travesseiro e virar pra trás e falar assim: “Nossa, eu pude ajudar, eu pude fazer algo que ajudasse uma pessoa, uma família!” e é muito cativante isso, entendeu? Eu acho que o segredo do sucesso é esse aí. Além das responsabilidades, das metas que a gente tem que cumprir, a responsabilidade é muito grande. Não é fácil, a pessoa... não basta apenas: “Ah, formei e pronto!”, você tem que ter o dom, o dom, que hoje, infelizmente, é raro, tá formando gente que, às vezes, não sabe nem o quê que é ser enfermeiro. Ser enfermeiro não é só papel, não é só caneta, não é só “oi, tudo bem, tchau”, não é só isso, é muito mais além.

P/1 – E como é que você veio parar na Industrial? E como é que foi esse processo de concurso, você escolheu, como é que é?

R – Na verdade não foi um concurso, né, na verdade eu fui contratada pra tá trabalhando e quando surgiu a oportunidade...

P/1 – Desculpa, quando foi isso?

R – Em 2008, início de 2008. Aí quando surgiu a oportunidade, eram duas vagas, era um PSF Industrial, que era esse aqui, uma população de oito mil habitantes, na verdade, o ideal seria quatro mil, teriam que ser duas equipes, eu assumi aqui com uma equipe só, hoje, graças a Deus, a gente tem duas. E a gente tinha... outra opção que eu tinha era a unidade de saúde do centro, centro de Santana do Paraíso. Aí conversando com a outra enfermeira que entrou junto comigo, enfermeira

ngela, colega minha, ela pediu, na verdade eu pedi pra ela: “Eu prefiro o Bairro Industrial, eu fui nascida e criada aqui, conheço a população, né, mais fácil e tal.” Aí falei: “Nossa, quero Industrial, Deus vai abençoar que vai abrir as portas pra mim no Bairro Industrial.”E, graças a Deus, na hora da escolha lá, ela preferiu Centro e o Industrial ficou pra mim, entendeu? Então assim, trabalhar com a população que me viu crescer, que me viu nascer aqui, população adulta, população idosa, é muito bom, as pessoas chegam: “Nó, que bom que você tá aqui!”. Então assim, eu acho que eu fui muito bem recebida aqui e, não sei, por ter um carinho também, né, pelo bairro que eu fui nascida e criada.

P/1 – O que é PSF mesmo?

R – Programa de Saúde da Família.

P/1 - O que significa isso, como é que ele funciona?

R – Na verdade o programa Saúde da Família veio pra atingir, pra abranger todas as famílias. O médico vai na casa do paciente, aquele paciente que às vezes não tem condição de ir na unidade, a gente acompanha todas as famílias de cada microárea, de cada região, é separado geograficamente por microárea.

P/1 – E aí o que você encontrou aqui quando retornou ao seu bairro de infância e de adolescência?

R – Bom, eu encontrei... como que eu vou te dizer? Uma população carente, né, que precisava do meu atendimento, que precisava que eu fizesse algo por essa população e alguma coisa estava nas minhas mãos. E foi fluindo, o serviço foi fluindo, comecei a organizar o serviço, a receber os pacientes e, graças a Deus, neste período de um ano e meio que eu fiquei aqui nunca tive problema nenhum. Problema assim, claro que sempre teve alguns probleminhas, mas problemas que extrapolassem, que fossem coisas mais sérias, né, nunca teve algo assim que tivesse fora do meu alcance não.

P/1 – Você falou de um ano e meio...

R – Um ano e meio.

P/1 - ... depois desse um ano e meio o que você foi fazer da vida?

R – Depois de um ano e meio teve, o município teve que fazer um processo seletivo pra contratação, né, questão jurídica, aí abriu esse processo seletivo, eu não fiquei dentro das vagas, eram quatro vagas na época, como a concorrência tá muito grande, eu acho que eu tenho que me dedicar mais, estudar muito mais pra chegar a passar num concurso. E aí o enfermeiro que assumiu, assumiu a unidade e eu tive que sair, né, fizeram a minha rescisão de contrato, tal e o projeto Escola da Gestante bombando, tava iniciando, mas graças a Deus, eu tive uma outra oportunidade, tô trabalhando dentro da prefeitura, na Secretaria de Saúde, no Departamento da Vigilância Sanitária e Epidemiológica.

P/1 – E quando é que você ouviu pela primeira vez menções do Instituto Camargo Corrêa, as ações e investimentos sociais do Instituto? Como é que isso apareceu na sua vida?

R – Na verdade, Camargo Corrêa a gente já conhece porque é da nossa região, né, agora do Instituto, dos projetos, foi aqui mesmo, em Santana do Paraíso.

P/1 – Como é que é essa inserção da Camargo na sua região? Como é que isso se dá?

R – Você fala...

P/1 – De onde é que você tem, o que é que lembra a Camargo Corrêa pra você?

R – O que é que me lembra a Camargo Corrêa? Camargo Corrêa Cimentos, né, que é o que a gente tem aqui hoje, no Vale do Aço, mas assim, eu não sei nem como te falar, porque Instituto Camargo Corrêa eu vejo assim, no meu ponto de vista, é o Instituto muito sério, que leva a sério mesmo, né, a questão da mobilização social, da participação. Eles investem muito nisso e a preocupação, o controle que eles têm desses projetos, eu nunca vi outra empresa do mesmo porte, o mesmo vínculo com o município, com os voluntários. O carinho que eles têm, a preocupação, eles respondem... você envia um e-mail pra eles e eles te dão o retorno! Ao contrário do que a gente não vê, né, a seriedade, pelo menos eu não tenho visto de outras empresas.

P/1 – E como é que você começou a trabalhar com o Instituto, como é que o Instituto apareceu na sua vida?

R – Na verdade, quando a gente foi pleitear esse projeto Escola da Gestante, foi aí que eu fui conhecer mesmo o Instituto Camargo Corrêa, foi quando a gente fez o diagnóstico, foi montar o projeto, aí eu tive a oportunidade de tá inserida nesse projeto de ajudar na elaboração, no desenvolvimento, e tive a oportunidade também de conhecer o Instituto lá em São Paulo, num evento que teve lá pra todos os CDCs, né?

P/1 – Como é que nasceu o projeto Escola das Gestantes?

R – Na verdade o CDC, né, o cívico começou a fazer as reuniões, acho que teve a proposta, o município foi conhecer o projeto Escola das Gestantes em Pedro Leopoldo, que foi referência, graças a Deus, nossos gestores aprovaram. Um trabalho muito bonito e muito importante isso, sabe, a pessoa ir, conhecer como funciona, pra trazer pro município. “Não, também quero, meu município merece, meu município precisa disso!”. Então daí surgiu todo esse trabalho.

P/1 – Queria que você me falasse um pouquinho sobre o CDC, como é que o Centro de Desenvolvimento Comunitário, Conselho do Desenvolvimento Comunitário funciona e como é que essa instância, digamos, contribui para o desenvolvimento dos projetos?

R – Olha, o CDC, na verdade, é um suporte pra todos esses projetos funcionarem, porque ali a gente tira dúvidas , ali a gente pergunta o que você acha disso, o que você acha daquilo, pra gente tá fazendo o melhor pra população. Então é um grupo, a gente reúne, esporadicamente, a gente têm reuniões quando precisa: “Vamos reunir?”; vamos lá, a gente reúne, vê o que precisa fazer e eu acho assim, muito importante, sabe, pra você ter um voluntário, ter aquela pessoa que trabalha pela causa, é muito importante isso.

P/1 - Voltando para o Escola de Gestantes, ele nasceu por que? Por que esse projeto foi concebido, havia uma realidade que demandava uma necessidade disso? Como é que isso foi identificado?

R – Ó, quando a gente pensou no Projeto Escola da Gestante, a gente viu que a gente tava com a população, o índice de gestação na adolescência tava muito alta, a adesão ao pré-natal tava muito baixa, a gente não tava conseguindo atingir as nossas metas, né, no Sisprenatal [Sistema de Acompanhamento da Gestante], é um sistema que a gente tem que informa para o Ministério da Saúde. Então a gente viu que precisava trabalhar mais com as gestantes, mexer com essas gestantes, foi aí que surgiu a ideia de iniciar o projeto, de ter esse projeto aqui em Santana do Paraíso.

P/1 – Descreve o projeto, o que é que ele faz, o que é que ele é?

R – Na verdade, no projeto a gente trabalha com todas as gestantes inseridas aqui no Bairro Industrial, foi pleiteado pro Industrial porque é o maior número de gestantes que a gente tem cadastradas no Sisprenatal pelo SUS. Então a gente tem reuniões quinzenais que a gente discute temas importantes, desde o início da gestação até a vida depois que a criança já nasceu, legislação, Direito da Mulher. Só que tem uma parte do projeto que ainda não tá concretizada ainda, depende assim de questões burocráticas da prefeitura. Por exemplo, tem uma parte que ta escrito lá que a gente redigiu que vai ter... a gestante vai entrar e vai fazer um artesanato, por exemplo, vai bordar uma fralda, vai... vamos supor, ela vai entrar na Gestante, vai sair com o seu enxoval pronto. É o que se espera, o sonho da gente é esse. Em contrapartida, que é contrapartida da prefeitura esse profissional, só que a gente teve um concurso agora e esse profissional tá dentro dessas vagas. Então o concurso ainda não foi homologado, a gente tá esperando a contratação desse profissional, assim que contratar a gente já vai dar início, continuidade, né? Porque aí a gente vai ter as palestras, o bate papo com as gestantes de esclarecimentos de dúvidas e essa parte aí do enxoval, do artesanato.

P/1 – Que tipo de serviço era prestado antes que o projeto chegasse aqui?

R – Antes do projeto a gente só tinha consulta, que era a consulta do médico e a consulta com o enfermeiro, o acompanhamento dessa gestante. Hoje a gente já tem esse trabalho que é muito interessante. Eu, pelo menos, não sei se é porque é o projeto eu que idealizei, muito interessante.

P/1 – Pois é, eu queria saber, o que mudou depois da chegada desse projeto?

R – Aumentou a adesão, né, nós... são poucos os casos que a gente tem que buscar, tipo assim, um termo que a gente usa muito aqui “o laço” em casa, entendeu? São poucas as metas que a gente perde, graças a Deus, apesar do índice de gravidez na adolescência ainda estar um pouco alta, mas não acho que é só aqui não.

P/1 – E esse projeto começou com quantas gestantes?

R – Nós iniciamos com 68 gestantes.

P/1 – E hoje?

R – Hoje, a gente tá com uma média de 44, depende do período, né, varia.

P/1 – O que a gestante faz durante o período de gestação fora os cursos, quer dizer, é o monitoramento do pré-natal e as palestras?

R – E as palestras. Aí vai ficar faltando a parte do artesanato.

P/1 – Certo, e o que mudou isso na cidade assim, desculpe, no bairro, o quê que o bairro, enfim, é reconhecido esse trabalho aqui __________ apóiam?

R – Apóia, a gente fez divulgação em todas as igrejas, né, e assim, o pessoal sempre elogia, sempre agradece, e o retorno é muito gratificante que a gente tem aqui.

P/1 – E as mães, como é que elas se comportam durante esse processo? Elas ficam amigas do grupo?

R – Com certeza, o vínculo que é o principal, acho que, como é que eu vou falar, do SUS, do Sistema Único de Saúde hoje, do Programa de Saúde da Família é o vínculo com a família. Então eu acho que desde o início da gestação ela já pega esse vínculo, ela já sabe o que ela tem que fazer, ela já sabe o caminho que ela tem que percorrer, desde o início da gestação até o acompanhamento da sua criança, né, as vacinações e daí por diante.

P/1 – Numa segunda gestação, por exemplo, essa mulher volta pra (casa?)?

R – Volta, ela é inserida no Projeto Escola Gestante, que cada gestação é de um jeito e o importante é ela tá também inserida nisso aí, porque, né?

P/1 – E de alguma forma essas gestantes, depois mães, elas propagam os ensinamentos recebidos aqui? Que tipo de impressão você tem desse processo?

R – Eu acho que isso aumenta o conhecimento delas e, querendo ou não, elas propagam com o esposo, com o filho, ela passa o que ela aprendeu aqui adiante, não tipo assim, não a palestra, né, mas no dia a dia mesmo. É algo que fica, acho que é uma semente que é plantada, que eu acho que gera frutos, vai crescendo, vai multiplicando e o que é bom tem que crescer mesmo.

P/1 – E como é que você, a sua inserção nesse projeto agora, o que é que você tá coordenando, fazendo, trabalhando?

R – Hoje, na verdade, eu não estou diretamente com essas gestantes, porque hoje a gente tem uma enfermeira aqui na unidade. Então a enfermeira que tá aqui assumiu o projeto, né, então eu tô nos bastidores, o que precisa, o que tem que fazer, o que tem comprar, o que precisa melhorar, o que tem que consertar, que a gente tem a questão da manutenção, o que tem que programar, mas eu to trabalhando junto com ela também. Mas, na verdade, de frente mesmo aqui, no corpo a corpo com a gestante, é ela, a enfermeira da unidade.

P/1 – E a unidade aqui, o nome oficial dela é?

R – PSF Industrial.

P/1 – E como é que ela funciona, assim, no dia a dia?

R – Você fala... na parte da manhã tem o atendimento médico, tem a agenda do enfermeiro também, tem a coleta de preventiva, a gente tem aqui a coleta de sangue, né? Aí faz a coleta, encaminha pro nosso laboratório da prefeitura e a gente tem agendamento de carro aqui também, quando a pessoa precisa de... um acamado, uma pessoa... né? Às vezes, o nosso acesso ao transporte aqui pro nosso bairro aqui é muito importante isso aqui também, né? Deixa eu ver o que mais, atendimento... a gente tem médico ginecologista, nós temos o pediatra que atende aqui também, clínico geral, e enfermeiro, a gente tem atividade também com o grupo do Hiperdia, que são os hipertensos e diabéticos, entendeu? Então assim, é um grupo muito participante também, que são muito atuantes e, eu acho que...

P/1 – E a Escola funciona dentro das atividades da unidade?

R – Da unidade.

P/1 – Certo. E esse casamento, como é que se deu?

R – Ó, eu acredito que isso foi fundamental porque se não fosse, acredito que se não fosse dentro do PSF, não sei, né, no meu ponto de vista, talvez poderia funcionar, eu acredito que não daria continuidade, eu vejo isso hoje. Porque não é todo mundo que quer assumir um compromisso, uma responsabilidade, por estar inserido no programa Saúde da Família, fazer parte, tá aqui no horário, no período, eu acho que as pessoas têm um pouquinho mais de responsabilidade, mais um pouquinho mais de compromisso e ver que isso aí tem retorno, futuramente e nas metas mesmo, que o município tem que cumprir.

(troca de fita)

P/1 – Joana, eu queria um relato seu sobre as coisas que você ouve dessas gestantes que vêm pra cá, como é que é essa relação, como é que elas percebem esse tipo de serviço que vocês oferecem, o que é que isso significa pra elas?

R – Luís, tem até uma questão aqui, que na maioria das nossas gestantes hoje... nosso bairro é um bairro muito carente, às vezes, não sei se vocês puderam perceber que a gente tem um momento de confraternização, às vezes vêm mulheres aqui que não tem, tipo assim, hoje não almoçaram, hoje não tiveram oportunidade de ter um café, um café da manhã, um café da tarde. Então assim, eu acho que é muito importante isso porque é uma população, uma comunidade carente e a gente tá oferecendo isso... eu acho que é mais uma coisa, uma questão pra motivar, né, aquele momento, o momento que a mulher fica muito vulnerável, muito... o emocional dela fica um pouco mais abalado, aí vem toda aquela questão, a preocupação, como que vai ser. Então aqui ela compartilha, aqui ela tira aquele momento de estresse, então eu vejo esse retorno, eu vejo a mulher, às vezes tira aquele medo, aquela ansiedade. Então o retorno que a gente tem em relação à isso é muito bom. O bate papo não fica aquela coisa formalizada, sabe, fica como se ela tivesse em casa conversando, trocando idéias, trocando figurinhas de um momento muito importante da vida delas.

P/1 – E acabam se formando amizades aqui?

R – É, acaba formando, na verdade, um grupo onde elas tiram as mesmas dúvidas quase, durante esse período e elas trazem as crianças delas, às vezes tem três, quatro crianças, cinco, aí quando vêm muitas crianças, a gente tem um quarto separado aqui que a gente põe essas crianças, colocam alguns brinquedos pra essas crianças ficarem, pra elas poderem participar. E no momento da confraternização, a gente... vem todo mundo e participa junto.

P/1 – E o projeto foi implantado aqui quando mesmo?

R – Em abril de 2010.

P/1 – E que resultados você pode já oferecer desse processo de abril pra cá, de abril de 2010 pra cá?

R – Ó, eu acredito que a maior informação, eu acho que você vê claramente, às vezes, você conversa com a gestante que participou do projeto, elas sabem de coisas que às vezes uma gestante que não participou não tem, às vezes, o conhecimento, que a consulta do pré-natal hoje é muito corrida, é uma avaliação de exame, né, palpação da barriga da gestante, a ausculta do batimento cardíaco e, assim, às vezes ela não tem aquela oportunidade de perguntar pro médico: “Ô, doutor, como que vai ser a minha licença maternidade?”; “Ô, doutor, como que vai ser quando chegar, que eu já to sentindo uma câimbra, eu to assim e tal.”; então a consulta é muito rápida, às vezes, ela não tem essa oportunidade de trocar essas figurinhas.

P/1 – Quer dizer, na verdade, o projeto acaba suprindo esse outro lado que não é apenas o lado físico, né?

R – Exatamente.

P/1 – Lado social.

R – Complementa o pré-natal, o atendimento que a gente tem aqui dentro do PSF. Por isso esse vínculo, por isso eu acredito assim dele acontecer dentro do PSF, da unidade, né? Por fazer parte, por tá complementando, na verdade, o pré-natal.

P/1 – E como é que são capacitadas essas pessoas que fazem essa relação com as gestantes?

R – Bom, no início do projeto a gente teve a capacitação com todos os profissionais da rede, né, agente comunitário de saúde, médico, enfermeiro, a saúde bucal também participou, ela é atuante aqui com a gente. Então assim, nessa capacitação que a gente teve, nós tivemos um período bem longo dessa capacitação, todos esses temas foram abordados, os temas que a gente trabalha com as gestantes aqui, a gente foi capacitado pra isso, então a gente tem esses temas aqui. A partir desses temas que a gente desenvolve aqui, que ,na verdade, é quase que fica repetido porque cada gestação, né? O assunto é um só, é a gestação, não tem como mudar, mas a gente tem também, a gente tá querendo ver se a gente faz uma outra reciclagem, vê se a gente consegue fazer por ano a reciclagem com esses profissionais.

P/1 – Tá certo. E as gestantes, quando saem daqui tem um tipo de retorno? Dona Dulce, que não é uma gestante, mas é uma pessoa que tá bastante enfronhada junto com as gestantes, como é que essa relação se dá, como é que ela se constrói?

R – Você fala em relação com as gestantes ou com a equipe?

P/1 – Com as gestantes.

R – Eu acho assim, muito tranquilo, por ser uma pessoa que já ta na comunidade. Apesar de ser uma população de oito mil habitantes, todo mundo aqui se conhece, principalmente as pessoas mais antigas, então já tem um vínculo, já tá todo mundo conhecido, não tem ninguém estranho aqui.

P/1 – Como é o nome dela mesmo? Completo.

R – Dona Maria Dulce Alvarenga.

P/1 – Certo, e quem é essa pessoa?

R – Dona Maria Dulce, ela é uma paciente nossa, na verdade minha foi,

na época que eu estava aqui, E todas as vezes, em algum atendimento, às vezes, você tava na correria... teve um dia que eu tava numa emergência, atendendo uma criança que tava dando crise convulsiva aqui na unidade, com médico, ela chegou: “Ô, Joana, eu preciso falar um negócio pra você”; ela chegou e recitou uma poesia pra mim, no momento que já tinha acabado o estresse, que eu já tinha resolvido o problema lá, aí ela recitou essa poesia, eu pedi a ela pra escrever essa poesia. Aí no outro dia ela trouxe uma pro médico, ela sempre trazia alguma coisa que, às vezes, você lia e te confortava, é gratificante. Então um certo dia, um dia antes da nossa apresentação do fechamento mesmo, do Instituto Camargo Corrêa com a prefeitura, a gente ia lançar os projetos que a gente ia apresentar pra população, nós fizemos um evento muito bonito, eu pedi a ela que fizesse uma poesia exclusiva pra gestante, aí ela ficou meio assim: “Não, não vou dar conta, e tal.” “Não, vai dar sim!”. Ela foi lá, escreveu a poesia, aí eu pedi a ela que fosse a esse evento comigo e que eu queria que ela recitasse essa poesia. Aí no dia ela recitou a poesia, antes de eu iniciar, falar do projeto Escola das Gestantes, e todo mundo amou a poesia dela, aplaudiu de pé, o pessoal gostou muito e pediu pra que ela recitasse uma outra, se ela tinha uma outra diferente, ela recitou a outra poesia que ela tinha feito, acho, acredito que pro filho dela e a gente começou a trocar, pegar o contato dela, o pessoal do Instituto...foi onde também surgiu o livro que o Instituto Camargo Corrêa lançou.

P/1 – É uma poeta aí quicando na área pra vocês, né?

R – É.

P/1 – E ela frequenta as reuniões?

R – Frequenta, ela participa mais do Hiperdia, ela é paciente daqui, né, então toda palestra que tem, às vezes, a gente fazia um café da manhã, uma caminhada com eles, ela sempre tá presente, ela é assídua mesmo.

P/1 – E que balanço você faz da sua inserção nesse projeto? O que isso significa pra você?

R – Pra te falar a verdade, Escola de Gestante é um sonho pra mim, é um sonho de ver, de poder ver a mulher, essa mulher nesse período, tá participando, tá podendo pegar alguma coisa, aprender, não sei, levar alguma coisa pra ela mesma, né? Para gestante, para população de Santana, para a população especificamente do Bairro Industrial.

P/1 – E esse bairro precisa de mais programas como esse? Melhorou depois do projeto?

R – Com certeza, atingiu apenas uma parcela, né, apenas as mulheres e mais especificamente as gestantes. Claro que tem mais coisas que precisam ser trabalhadas, mas com certeza precisa de mais trabalhos voluntários, mais inserção nessa parte social aí.

P/1 – E tem presença do voluntariado da Camargo Corrêa nesses eventos?

R – Nos CDCs, né, a gente tem e sempre quando tem algum evento eles estão presentes com a gente, o CDC, o nosso CDC aqui é muito atuante, participativo.

P/1 – E o CDC, na verdade, é uma instância quase que decisiva nesses projetos em geral, não apenas nesse, porque ele tem ali uma espécie de forma da comunidade que todos os problemas são debatidos, são encaminhados a soluções.

R – Exatamente, é muito importante CDC no município, porque foi através do CDC, na verdade, que tudo começou a andar, tudo começou a se direcionar, o ponto chave é o CDC. Eu acredito que sem CDC é muito complicado, que ele direciona, principalmente o pessoal do cívico da Camargo Corrêa, que eles têm um conhecimento, ele sabe qual o caminho, mesmo que eles... eles não vão pegar e vão fazer, mas vão falar: “Fulano, o caminho é esse, vamos seguir por aqui, vamos assim!” e tem, a gente tem oportunidade de conversar, debater: “Não, eu acredito nisso, acredito que isso vai dar certo!” Então ali é um momento de debate e solucionar o problema pra gente trazer pra comunidade, pra ver o que é melhor. Tem que se organizar, que nada desorganizado vai pra frente.

P/1 – Talvez seja exatamente esse o diferencial do investimento social do Instituto, né, que ele tem um compromisso com a boa gestão.

R – Com certeza, eu acredito nisso.

P/1 – E o que é que tem pela frente, quer dizer, o que é que o projeto precisa crescer, o que ele tem que fazer ainda, qual o futuro dele?

R – Bom, aquela questão do profissional, igual eu falei, ta faltando essa parte ainda, a questão do profissional que mexe com o artesanato, falta essa parte do projeto e acredito que o projeto em si, no mais, eu acho que aí concretiza. Mas a gente tá pleiteando Escola Gestante 2 que, provavelmente, vai ser no Centro de Santana do Paraíso, que é o segundo maior número de gestantes que a gente tem no município, de acordo com o Sisprenatal, que é o nosso sistema que a gente alimenta.

P/1 – Quer dizer, seriam dois projetos no município, é isso?

R – Dois projetos Escola Gestante.

P/1 – Certo, e o que tá faltando pra isso acontecer?

R – Tá faltando iniciar, escrever o projeto, e começar a dar o pontapé.

P/1 – O diagnóstico tá pronto?

R – Já.

P/1 – Muito bem, e você, o que é que você pensa pro futuro? O que você pretende da sua vida, quais são os seus sonhos?

R – Meu sonho hoje, de imediato, era passar num concurso público, ou não sei, tá trabalhando numa empresa privada, uma coisa que me desse uma estabilidade maior, que hoje eu não tenho essa estabilidade no meu emprego. E tá fazendo um mestrado, doutorado, continuar estudando, não quero parar de estudar não, mas isso é coisa mais a longo prazo, não de agora, de imediato.

P/1 – E o balanço que você faz do teu trabalho aqui, o que significa pra você?

R – Ó, pra mim, enquanto pessoa, pra mim é muito gratificante, pra mim enquanto pessoa, enquanto profissional, principalmente, né, por estar inserida num projeto de uma empresa que tem renome no mercado assim, meu profissional, no meu currículo isso é muito importante, não sei se você... às vezes, eu não tinha noção dessa proporção não, entendeu? Agora, enquanto pessoa, só de deitar no meu travesseiro e falar assim: “Nossa, graças a Deus, tem alguém que tá sendo contemplado, tem alguém que tá sendo ouvido, tem alguém que tá sendo trabalhado, tem alguém que tá participando de alguma coisa, tem algum adolescente que não tá lá na droga, que não tá mexendo com alguma coisa, tem uma oportunidade, tem algo pra ele fazer.”

P/1 – Tá certo, muito bem. Eu acho que eu to satisfeito, alguma coisa que você gostaria de ter dito e eu não te provoquei a dizer?

R – Não, acho que você perguntou tudo, né?

P/1 – Você tem filhos?

R – Não, por enquanto não.

P/1 – Certo. E quais são as coisas mais importantes pra você hoje?

R – Hoje? Olha, meu trabalho, a minha família, minha família em primeiro lugar, né, claro, o meu trabalho em segundo lugar.

P/1 – Tá certo, é isso aí Joana. Como é que foi pra você contar a sua história?

R – [risos] Difícil.

P/1 – Difícil? Não pareceu.

R – Nossa, muito difícil!

P/1 – Então a gente só tem que te agradecer a delicadeza e a gentileza que você teve em gravar esse depoimento pra gente.

R – Obrigada.

P/1 – Obrigado você.

--- FIM DA ENTREVISTA ---