Museu da Pessoa

Um sistema em que o aluno é importante

autoria: Museu da Pessoa personagem: Deise Pereira da Silva

Projeto O presente da prevenção na escola

Realização Instituto Museu da Pessoa

Entrevista de Deise Pereira da Silva

Entrevistada por Jurema de Carvalho

São Paulo, 6 de novembro de 2001

Código: FDE_CB001

Transcrito por Cristina Eira Velha

Revisada por Natália Marques Honorato Alencar


P/1 - Deise, eu queria que você nos dissesse sobre esses dois projetos que estão acontecendo nos debates hoje: "A prevenção também se ensina" e "A comunidade presente".


R - Nós estamos trabalhando em Diadema com todas as escolas. Inicialmente, só o que a FDE [Fundação para o Desenvolvimento da Educação] nos colocava como escolas de prioridade eram as com problemas maiores, de adolescentes que têm uma conduta social pouco desejável, vamos assim dizer. E depois nós estendemos a todas elas, tem sido um trabalho de um encontro, no mínimo mensal, algumas palestras de pessoas que têm livros na praça, outros momentos trabalhando o kit. Nós fizemos, essa semana, um trabalho verificando com as escolas o que é que elas andam fazendo, e das suas produções. Inclusive, eu trouxe alguns portfólios muito bons, que dá a impressão, pelo menos, de que o trabalho tem sido bom. Por que o que é que você considera um trabalho bom? Quando você percebe uma mudança de postura dos adolescentes. E nós temos percebido, dentre outros projetos, que a gente tenta arrebanhar todos eles para se tornar num projeto único da escola, que realmente tem dado alguns frutos. Não são excelentes, porque se conseguíssemos em pouco tempo um trabalho de finalização, nós teríamos achado um sistema de trabalho universal. E isso não é verdade, porque o comportamento humano é bastante complexo.


P/1 - Você poderia dar um exemplo dessa mudança de comportamento?


R - Bom, eu percebo isso quando faço as visitas nas escolas junto com os alunos. O que é que a gente percebe de mudança de comportamento? Quando você vai a primeira vez fazer essa visita, os alunos são pouco receptivos, eles contam muito pouco da sua vida, eles estão, assim, voltados para eles. Os problemas são deles, e parece que é do tipo: "As pessoas não vão se importar mesmo, então não vou falar de mim". Então, o que é que você nota agora no final desse projeto? Ao final desse ano que a gente tem visitado as escolas? Eu os percebo receptivos, nos recebem bem, contam das suas vidas, contam do trajeto que vêm desenvolvendo na escola. Essa semana, por exemplo, nós vimos na televisão o noticiário daqueles meninos que morreram na represa Billings. Um deles era de uma escola nossa, os alunos ficaram tão abalados, coisa que não acontecia antes. Tanto faz morrer um, dois, a gente perseguia isso. Eles estavam, assim, indiferentes a esses problemas. E agora não, você percebe, eles ficaram sensíveis, abalados. Os professores precisaram fazer um trabalho dentro da sala, porque eles se apegaram pelo sistema de trabalho que a escola incorporou. Momentos de trabalhos individuais, coletivos. Então você percebia essa diversidade de trabalho, sempre voltada para o aluno, num sistema que ele percebe que é importante para a escola,

trabalhando a sua autoestima, ele também vai conseguir visualizar um futuro melhor. Então, a gente percebe essa mudança de postura.


P/1 - Está bom, Deise, a gente agradece muito a sua colaboração e o seu registro aqui da suas atividades.


R - Eu é que agradeço a oportunidade.