Museu da Pessoa

Um cartunista do tipo AI5

autoria: Museu da Pessoa personagem: Carlos Lima da Fonseca

Nome do projeto: Projeto Vale Memória
Depoimento de: Carlos Lima da Fonseca
Entrevistado por: Rosana Miziara
Local: São Luís
Data: 28/ 6/ 2002
Realização Museu da Pessoa
Código do depoimento: CVRD_CBSL019
Transcrito por: Elisabete Barguth


P 1- Carlos, primeiro eu vou pedir pra você falar o seu nome completo, local e data de nascimento.

R – Meu nome é Carlos Lima da Fonseca, eu nasci no dia 21 de outubro de 1950, sou maranhense, nasci no centro da cidade, no antigo Beco do Rancho aonde o Papa ficou hospedado.

P1 – Fidélis vem da onde?

R – Fidélis. Meu pai era professor da escola técnica e eu era aluno, os outros professores começaram a me chamar de Fidelinho, Fidelinho pra lá, Fidelinho pra cá, aí ficou Fidélis não teve mais jeito, de um apelido virou um nome benéfico, me dá muita sorte.

P1 – Seus pais são de São Luís?

R – São maranhense também, do Obscenso.

P1 – E seus avós?

R – Meus avós são do interior, mas são maranhense também, interior do Maranhão, da baixada, eles são de Caxapió.

P1 – Onde fica Caxapió?

R – Caxapió é interior do Maranhão.

P1 – Tem assim algum descendente de imigrantes?

R – Não, eu sou... a minha família tem negro, italiano e português, aí nasceu esse mulato aqui.

P1 – Você tem mais irmãos?

R – Eu tenho sete irmãos, comigo oito.

P1 – Você lembra aonde ficava a sua casa de infância?

R- É o que eu to te falando, você conhece São Luís do Maranhão? Você conhece a igreja Santo Antônio? A Escola Modelo? Então meu mundo foi aquilo ali, atrás da escola modelo tem uma rua chamada Rua da Saveda. Ele era dono da rua, a rua toda era dele, então eu morava no Mirante, empinava papagaio lá, jogava pedra na casa do vizinho, então minha infância foi boa, estuda na Escola Modelo no Jardim Antônio Lobo e de lá fui pra escola técnica, eu me formei na escola técnica. Eu não me formei em curso superior não, eu sou técnico.

P1 – E quando você começou a pintar?

R – Isso desde criança, desde quando me entendo como gente, desde criança que eu faço Fdesenho, inclusive tinha uma senhora que me chamava de doutor, porque eu queria ser doutor. Aí fui fazendo uns trabalhos ganhando prêmio, fazendo trabalho pros outros, comecei a ganhar, aí um dia eu me casei, tinha 13 anos me casei...

P1 – Tinha quantos anos?

R – 13 anos eu me casei.

P1 – Espera aí a pintura você teve influência de alguém na família?

R – Meu pai era desenhista, ele era professor de artes industriais, dava aula de arte. Aí eu me casei precisava ganhar dinheiro e nem sabia que era desenhista, um dia passando pela TV Educativa eu vi uma placa lá “Precisa-se de desenhista”. Aí a professora me deu um papel, um lápis disse assim pra mim: “Desenha um menino aí arrumando uma sala de aula”, quando eu terminei de desenhar ela disse: “Emprega ele”, aí me empregou, aí eu entrei na TV Educativa.

P1 – Com quantos anos?

R – Eu tinha uns 13 anos.

P1 – Com 13 anos você se casou e já tinha esse emprego?

R – Já trabalhava na TV Educativa como desenhista.

P1 – Você casou com 13 anos por quê?

R – Eu casei porque o maranhense tem um defeito muito grande, de não gostar de sair da terra dele, por exemplo: eu não casei por amor, eu casei pela minha filha, eu imaginava minha filha uma prostituta e pra evitar essas coisas eu resolvi me casar.

P1 – Com 13 anos e sua mulher tinha quanto?

R – 13 anos, ela é de 28 de dezembro e eu sou de 21 de outubro.

P1 – Vocês são casados até hoje?

R – Não, separado, meus filhos já são todos formados, tá todo mundo formado, tenho quatro netos, já casei de novo, já tenho filho com essa pessoa que eu vivo.

P1 – Aí você começou sendo pintor e aí...?

R – Sempre pintando, cheguei na TV Educativa e fui trabalhar com desenho. Os meus desenhos eram tão bem aceitos que eu não perdia uma aula, fui saber depois que um dia a minha professora falou, ela disse pra mim: “Olha, eu tenho que dizer uma coisa pra ti que eu nunca te disse, os alunos não perdiam uma aula por causa do teu desenho. Eu tinha medo de te falar essas coisas e tu ficar vaidoso e não trabalhar mais com a gente aqui”, aí fui fiquei lá na TV Educativa, depois da TV Educativa eu fui contratado por uma Agência de Publicidade, a Promove, bem na Agencia de Publicidade teve uma (inaudível), eu fundei ela. Aí trabalhei na Promove. Quando eu trabalhava na Promove eu encontrei um cara que eu considero um gênio chamado Bandeira Tribuzi, não sei se você já ouviu falar nele. Aí ele me levou pra trabalhar com ele, eu trabalhava com ele, como nós estamos aqui agora, aí eu fui quando eu chego lá no jornal o antigo jornal do Dia Estado do Maranhão, eu falei: “Eu queria falar com o Bandeira Tribuzi”, “Olha, entra nessa sala aqui à direita”, cheguei lá encontrei um cara com um óculos na cabeça assim, batendo maquina, aí ele ficou batendo eu fiquei pra lá, ele falou: “O que você deseja?”, “Não sei, você mandou me chamar”, “Como é seu nome?... Ah, você que é o Fidelis? Rapaz eu te chamei pra ser cartunista de jornal”, “Rapaz eu não sei nem o que é isso”, “Tu não sabe o que é cartunista?”, “Não”, “Mas você é muito bom, não se preocupa que você vai chegar lá”. E ele é cartunista, eu sou do tipo do AI5, a policia prendia a gente, eu nunca fui preso, mas ele foi preso.

P1 – Você tem esse material guardado?

R – Tenho.

P1 – Você pode trazer pra gente na segunda?

R – Trago.

P1 – Segunda feira a gente vai tá no restaurante da oficina, leva lá pra gente.

R – Tá legal. Até que chegou um dia, o Bandeira Tribuzi chegou pra mim e disse: “Eu quero que você faz um cartoon aí, um menino acabou de assaltar uma roleta, eu queria que fizesse a caricatura do garoto assaltando a roleta”, aí eu fiz, aí saiu no jornal e o jornal era à tarde, o jornal era cor de rosa, tabloide cor de rosa e eu fiz o cartoon. E lá no jornal era tipo como se fosse aqui, aí depois dos almoços todo mundo ficava sentado no pateio pegando aquela brisa do mar que era lá na praia... Aí parou um Maverik, naquele tempo era Maverik, aquele carro vermelhão bonito, aí desceu um cara com uma pasta presidente, aí virou pra mim: “Quem é Fidelis aí?”, “Rapaz ele tá de férias”. Era o Diretor do jornal atrás de mim, aí o Bandeira Tribuzi eles brigaram, discutiram quase saiu nos tapas, lá: “Meu filho não é ladrão, como é que tu bota meu filho no jornal!”. E eu atras das bobinas, aí quando o cara foi embora “Pára de ser covarde”, “Covarde? esse cara ia me matar”, eu tive que dizer pra ele que eu tava de férias. Aí de uma outra vez ele chegou pra mim e disse: “Faz um cartoon do Nunes Freire”. Nunes Freire era inimigo dele político, entendeu, aí ele falou: “Faz do Nunes Freire”, que era governador com uma espingarda de dois canos na mão, dois capangas, cada um com dois rolos de arame farpado na cabeça e ele atirando naquele bando de gente correndo nas fazendas. Aí no outro dia chegou a polícia federal, quebrou o jornal todo, botou todo mundo pra correr e eu lá nas bobinas de novo... Fiquei lá escondido, aí o jornal passou um mês sem circular. Aí o Sarney, que eu trabalhava na época com ele, comprou uma bola e a gente ia bater bola na praia. Um mês batendo bola, chegava lá, batia o ponto e ia jogar bola na praia, aí depois de um mês liberou o jornal, compramos outras maquinas e continuamos a trabalhar, aí depois de lá que eu tava um bom tempo trabalhando na Editora João Bosco, que era o Estado do Maranhão de hoje, aí ele morreu o Bandeira Tribuzi... Aí aquilo foi um choque pra mim porque eu considerava ele como se fosse um pai, aí ele morreu, eu cheguei no meu chefe que assumiu que era o Cordeiro Filho, ele gostava muito do meu trabalho, mas ele era um cara assim muito doido, eu também sou doido aí não deu certo. Aí eu cheguei pra ele: “Olha Cordeiro, é o seguinte: eu to trabalhando na Edigraf e trabalho no Estado do Maranhão, se tu me der o dinheiro que eu ganho lá na Edigraf eu trabalho os dois períodos no Estado do Maranhão”, aí ele virou pra mim “Rapaz, eu vou pensar no teu caso” “Ah, você vai pensar no meu caso”, aí eu fui lá no outro jornal, que eu trabalhava de manhã em um e a tarde no outro, cheguei lá no Diretor do jornal que era o Doutor Djarans Martins que também já morreu “Doutor Djarans se o senhor me der o dinheiro que eu ganho no Estado do Maranhão eu venho trabalhar aqui”, nem pensou duas vezes, chamou a secretária “Socorrinho, assina a carteira do Fidelis aí”, aí assinou a minha carteira como se eu tivesse trabalhando dois períodos no jornal, ele disse assim: “Olha, agora te prepara que o Cordeiro vai brigar contigo”, o Cordeiro era o Diretor do jornal. Quando chega no outro dia eu tava pedindo a Deus pra que ele chegasse pra me dar a minha carteira pra ele dá baixa nela, aí ele chegou “Cordeiro, tá aqui minha carteira”, aí ele se zangou me chamou de filho de uma égua, ai eu falei: “Vai a via dos fatos logo”, aí eu tinha que pagar à vista, depois ele me liberou, aí ele começou: “Rapaz, o jornal vai fechar”, “Cordeiro, se fechar vou fechar junto com ele”, eu falei contigo, “Mas eu tava de cabeça quente”, eu disse: “Pois é, você tem que pensar antes de fazer o negócio errado”, aí ficou. Depois de muito tempo o jornal ia falir, ele fecha não fecha, aí o Doutor Afonso comprou o jornal, aí fui trabalhar na Difusora, lá eu era Diretor de Arte, na Difusora. Depois o jornal também não deu certo, aí ficou fecha não fecha, aí meu irmão que trabalha aqui na Vale disse assim: “Rapaz, tem uma vaga lá na Vale, quer tentar” “Mas eu trabalho com publicidade, trabalhar com desenho técnico agora vai ser complicado”, “Mas tu vai lá”, aí eu fui e tinha uma fila, né, a fila era imensa pra você ter uma idéia era uma fila como se fosse daqui até lá no prédio.

P1 – Era uma oportunidade, o que significava a Vale naquele momento?

R – A Vale tava chegando, tava recrutando novos funcionários, mas na realidade não era pra Vale, era pra uma empresa que ia trabalhar pra Vale era a Concremat, aí eu fiz a prova e passei, era levantamento topográfico, eu trabalhava como topógrafo.

P1 – Mas isso em que ano?

R – Isso foi em 81, aí eu vim trabalhar aqui, trabalhei aí depois que eu tava trabalhando o nosso chefe disse, tinha 12 desenhistas, ele virou e disse assim: “Olha, eu só preciso de dois, é o seguinte eu vou demitir, eu tenho 16 desenhistas mas só preciso de dois”, deu um papelzinho pra cada um, aí quando foi no fim do mês ele disse: “Olha, eu já escolhi, escolhi o Fidelis e o irmão dele”, aí eu fiquei, aí foi de novo ele disse: “Olha, vou botar pra fora de novo, vou ficar só com dois”, aí tornei a ficar, passei aqui na Vale já por uns 12 cortes, o último que passei aqui na Vale só ficou eu da comunicação, éramos em 15 e só ficou eu e o prédio. Aí depois de um mês apareceu meu chefe, que é hoje quase o chefão da Vale na parte da Comunicação que é o Paulo Henrique Soares, conhece o Paulo? Então ele começou comigo, ele era estagiário, quando ele chegou ele começou a trabalhar comigo, aí nós montamos um jornal chamado Bigs que já foi cinco vezes ganhou o concurso da Bege, o maior jornal de comunicação interna, nós ganhamos cinco vezes o prêmio da Bege, entendeu. Aí depois ganhamos o prêmio nacional e agora nós ganhamos de novo, nós ganhamos cinco vezes o prêmio da Bege, aí na realidade desenhei muito desenho de topografia, depois fiz desenho mecânico, mas eu nunca gostei desse tipo de trabalho, eu precisava do dinheiro. Aí um dia eu encontrei com esse Rigoto, não sei se você conhece o Rigoto, que também é maluco que nem eu, aí meu chefe tinha morrido que era o Júlio, a máquina caiu, morreu uns oito e ele foi um dos que morreu, inclusive morreu no dia do meu aniversário, dia 21 de outubro foi o dia que ele morreu. Aí quando eu vim de férias, aí o Rogato vinha num Opala vermelho, disse assim: “Você quer uma carona?”, eu nem conhecia ele, eu disse: “Quero”. Quando a gente tava vindo de lá pra cá, ele disse pra mim: “Você trabalha aonde?”, “Eu trabalho na área do arquivo técnico”, “Mas você trabalha com que?”, “Eu trabalho com desenho”, “Mas você gosta de lá?”, “Rapaz, eu trabalho lá porque não tem outro jeito, porque lá é uma merda”. Aí então ele me disse assim mesmo: “Então você tá fudido”, foi assim que ele me falou, cheguei lá na sala encontrei o Manoel Tomas que era o chefe imediato “Seu Manoel aconteceu isso”, “Então você tá fudido mesmo porque ele que é o nosso chefe”, aí eu fiquei calado “Rapaz, esse cara vai te por na rua”, aí uma semana depois ele me chama, aí ele virou assim: “Rapaz, você tá certo, você tá trabalhando no lugar errado. Eu tava olhando o teu passado aqui tu é jornalista, você tem que trabalhar na comunicação”, ele me passou pra comunicação e aumentou o meu salário. Aí comecei a trabalhar na comunicação e a comunicação da Vale eram duas: era o Porto e Ferrovia, só que eu trabalhava no Porto e a comunicação da Vale mesmo era na ferrovia, só que a minha comunicação era melhor que a dele. Apesar que lá só tinha gente formado e eu escola técnica, mas a nossa comunicação aqui dava de pau nele lá, aí ele viu, aí o que ele fez, ele ficou de olho em mim... assim que teve a primeira oportunidade ele me recrutou, aí eu passei pra comunicação e na época foi todo mundo demitido só ficou eu, aí foi todo mundo demitido só ficou eu, aí depois tornaram demitir fiquei sozinho de novo. Agora eu to trabalhando com outra equipe, aí eu pretendo me aposentar, faltam três anos pra eu me aposentar, aí eu vou encerrar por aqui, vou voltar pro jornal, pra televisão porque eu sempre gostei de trabalhar no jornal, na televisão que é o meu mundo.

P1 – Nesse período que você tá na Vale quais foram as principais transformações que você acha que ocorreram aqui?

R – Muito boa, a gente teve a privatização, tá melhorando, mas eu não sei se era melhor como antes ou como agora, eu ainda não consegui distinguir, qual dos dois é melhor, eu continuo na empresa e pretendo me aposentar aqui.

P1 – Conta um pouquinho da história daquele seu quadro.

R – Aquele quadro é o seguinte: eu já fiz varias exposições, já ganhei vários prêmios de cartoon, de artes plásticas, então na Vale eu faço parte do catálogo de artistas do Maranhão. Então chegou um curador aqui e queria oito telas, são oito?... São 12 telas parece, não me lembro, então ele queria 12 artistas maranhenses, então ele escolheu o curador, ele não é nem da Vale. Ele chegou aqui e gostou, viu um trabalho meu, só que esses artistas aí eles fizeram um trabalho diferente do meu, porque aquilo ali eles deram um tema, entendeu, então aí muitos mandaram qualquer tipo de trabalho, aquele mandou um santo, aquele mandou um boi.

P1 – Qual o tema que eles te deram?

R – O tema era “Como é que você vê a Vale”, acho que era isso, aí eu vi um amigo meu construindo um navio, na época tinha um navio aqui que afundou, foi uma luta pra tirar esse navio aí do...

P1 – Como é que foi?

R – Foi um mês de sofrimento, o Presidente na época era o Doutor Álvaro, ele era gordo e ficou magrinho, um negócio mesmo de terror. Inclusive foi filmado, até a música que eles colocaram na filmagem parece aqueles filmes... Titanic é amador perto...

P1 – Não morreu ninguém não, quem morreu foi o navio. Ele partiu no meio. Ele fez assim: subiu e o outro afundou, aí pra levantar esse precisou de muito dinheiro, veio gente da Holanda, de uma porção de lugar lá, inflaram até que submergiu, aí levaram ele lá pra dentro da água, atolaram ele lá e morreu lá.

P1 – E porque que afundou?

R – Porque não tem como tirar aquilo da água é muito ferro, levaram ele pra longe e...

P1 – Mas o que aconteceu com o navio?

R – O navio chegou aqui condenado, é como se você tivesse pego assim... esse microfone e partido no meio, ele partiu no meio, aí ele fez assim um desceu e outro subiu, aí tinha minério de ferro e tinha outro minério que era meio perigoso acho que era óleo, aí tiraram, conseguiram tirar.

P1 – A gente encontra foto desse navio afundado?

R – Eu tenho essas fotos.

P1 – Você vai trazer pra gente segunda feira.

R – Rapaz, eu tenho que procurar essas fotos, eu tenho um catálogo.

P1 – O que mais te marcou nesse período que você tá na Vale, história, algum fato, algum trabalho que você teve.

R – Eu sempre tive história, eu sempre tive a sorte de fazer trabalhos bons e ser muito elogiado. Aí quando foi num dia me convidaram pra fazer um trabalho no hotel, aí eu fui com aquela parafernália de tinta, lápis, fita crepe cheguei lá era uma festa pra mim, era uma surpresa, mas foi muito bom!. Eu perdi muito amigo bom aqui, mas não que tivesse morrido, foram demitidos e isso mexe muito com a gente... Você já imaginou você trabalhar com 15 pessoas e ficar você e o prédio? não dá vontade de tu pedi a conta? é demais, mas eu agüentei isso tudinho, eu passei um mês aqui no prédio eu chegava eu e meu carro, aí botava meu carro aí ficava lavando ele, não tinha nada pra fazer ficava lavando o carro. Aí daqui a pouco eu comecei a ver um gavião, eu achava bonito o gavião brigando com o carro. Aí eu tava achando legal... quando eu fui vê o carro tava todo arranhado, aí eu comecei a brigar com o gavião, aí ele chegava, eu corria atrás dele pra espantar o gavião... até que ele entendeu e não chegou mais, mas acabou com a tinta do carro. Aí depois de muito tempo apareceu o Paulo Henrique. E outra vez também que nós fomos fazer um levantamento topográfico, até o Hélio Rui, um lugar chamado Mirante aqui, mas ele pegou uma cobra de seis metros, uma cobra grande, uma jibóia, aí ele deu tanto de pau na cobra que ela chegou com a boca assim, torta, acho que quebrou... aí mostrava... sabe como é molecagem, né, aí tudo bem pegou a cobra o botou num coifo lá, aí foi pro almoço, aí quando todo mundo voltou do almoço todo mundo que passava lá, aí não aconteceu nada, quando passou o Hélio Rui essa cobra ficou em pé, o carreirão foi feio, ela conheceu ele, rapaz eu nunca tinha visto aquilo não, ela bufava queria pegar ele, precisou chamar o Butantã pra pegar essa cobra, uma jibóia, o bicho era monstro, aí o Butantã levou.

P1 – E a vida cultural aqui em São Luís?

R – A vida cultural aqui é boa, é muito boa. Aqui tem vários tipos de cultura, tem bumba boi, bumba de crioula, agora nós estamos na festa junina, né, mas aqui é uma cidade, o nosso problema aqui são os artistas, porque os próprios artistas... Por exemplo: o baiano eles faz aquelas musicas deles que não tem letra não tem nada e vende pro mundo inteiro, pode prestar atenção, se você for correr atrás da musica maranhense é música de primeira, a nossa música parece com a música mineira, aquela musica modinha, aquela música boa, boa do cara curtir, mas não consegue voar, porque o maranhense... Se você é bom aquilo luta pra te derrubar, não une pra você subir. Você pode ver que no Maranhão o cara não se projeta, tem poucos artistas, há não ser que ele sai, assim... mas aqui tem muito cara bom, inclusive tem um cara que é meu primo, ninguém sabe que ele é meu primo. Rapaz esse cara toca um violão, se você vê ele tocar violão ele faz um boi completo no violão, inclusive o Jô Soares levou até ele pra fazer uma apresentação lá, Jô Soares, ele já teve no programa do Faustão, tudo ele já teve lá.

P1 – Você canta, toca?

R – Não, eu não canto, não, eu arranho violão, eu só sei desenhar mesmo. Inclusive eu ganhei agora um concurso de cartoon, primeiro lugar, to com os troféus lá na sala, você não foi lá na sala?

P1 – Não, preciso ir.

R – Pois é ganhei, tá lá na sala, um concurso de cartoon, participou uma porção de artistas nacionais e internacionais, já ganhei várias vezes.

P1 – E o que você pretende fazer quando você sair aqui da Vale, qual o seu sonho?

R – Eu pretendo voltar pra Vale por uma empreiteira, mas se não der eu vou fazer o meu... Tem muita agência aí que eu sei que me querem, jornal me quer, TV Educativa me quer, de vez em quando eles vêm atrás de mim, quando

nego fala em botar gente pra rua aí eles correm pra cá. Todos os donos das maiores agências de publicidade do Maranhão, eles passaram na minha mão.

P1 – E porque você nunca trocou pela Vale?

R – O que?

P1 – A Vale por essas agências?

R – Porque eu já to pra me aposentar, eu não posso largar uma coisa que já tá no fim.

P1 – E antes?

R – Antes eu trabalhava nas agências, por exemplo: Alex Brasil, que é dono da AB, que é uma agência de publicidade grande que tem aqui, ele começou comigo; o Evirson Almeida que é dono da Imagine, começou comigo; o Rogério que é dono da Open Door, começou comigo; a dona da VCR começou comigo. Todos esses donos das maiores agências de publicidade, eles passaram na minha mão. Agora eu continuo aqui porque eu não tenho como sair daqui... Por exemplo: se eu trabalho aqui oito horas, mas eu pinto muito quadro, faço muita caricatura, grande assim eu faço muito, painel, outdoor, cartaz, folder de história em quadrinho, se você for lá eu lhe mostro tenho os catálogos todinhos, eu tenho trabalho na França, na Alemanha, no Japão.

P1 – Ah, depois a gente vai lá. Tá bom é isso obrigada.