Museu da Pessoa

Taxi para o Sr. Simplício

autoria: Museu da Pessoa personagem: Nazareno Francisco da Silva

P/1 – Nazareno, você pode começar falando seu nome completo, local e data de nascimento?

R – Nazareno Francisco da Sila, nasci em Jaguaruana. Eu nasci no dia 28 de outubro de 1968.

P/1 – Seus pais são de Jaguaruana?

R – Jaguaruana.

P/1 – Seus pais são de lá?

R – São. Naturais de Jaguaruana

P/1 – Seu pai e sua mãe?

R – Os dois

P/1 – Como que é o nome do seu pai?

R – É Raimundo Francisco da Silva e a mãe é Raimunda Augusta da Silva

P/1 – O quê que o seu pai faz ou fazia?

R – Meu pai, ele já faleceu, mas meu pai, ele era pescador, como no interior temos muitas atividades, era pescador e também era marchante, né, vendia, né, carne, boi, essas coisas, criação…

P/1 – E sua mãe?

R – Minha mãe é domestica, ela cuidava da casa, sempre cuidou.

P/1 – Quantos irmãos você tem?

R – Segundo minha mãe, nasceram 23 filhos, né, 23, mas criar… porque nasciam muitos gêmeos na época, né, mas criados foram só 13, 13 filhos sobreviveram, né, foram…

P/1 – Dez morreram?

R – Não. Nasceram 23 e foram criados 23, 13… perdão, foi 13 e dez, normalmente era gêmeos, que nascia, um vivia e o outro não vivia, e houve também problema, na época, de muita necessidade, morria mesmo, morria na… no nascimento, morria.

P/1 – Desses 13, você é qual nessa escada?

R – Eu sou a boa, chamava, né, eu sou o ultimo, eu sou o ultimo, minha mãe é uma pessoa de 91 anos, já.

P/1 – Você é o caçula?

R – Caçula, é.

P/1 – Até que idade você viveu lá em Jaguaruana?

R – Eu vivi até os 17 anos

P/1 – Como é que era a cidade?

R – Cidade de Jaguaruana é uma cidade muito boa, né, ela tem o… como negocio principal a rede, né, a fabricação de redes, né, e na cidade, tem o Rio Jaguaribe, que passa por ela, e tem muitas outras atividades, como pescaria… hoje em dia, já não tem mais, mas como na minha época, né, com esses 17 anos, quando eu sai, existia essas farturas de peixe, muito peixe, meu pai pegava muito peixe, né, ele tinha currais, cercava o rio. Currais era… é uma certa armadilha pra pegar o peixe que você bota de um lado pro outro do rio, os peixes vêm, você retira pra vender, sustentar família. Então, era basicamente esse negócio, pescaria, pescaria hoje já não existe mais, mas as rede continua, é o carro-chefe da cidade é as rede.

P/1 – E você saía com o seu pai pra pescar?

R – Saí muitas vezes, muitas vezes! Muitas vezes! Muitas vezes, muitas pescaria boas, tenho na lembrança, muitas pescarias…

P/1 – Conta de uma, uma assim, de alguma coisa

R – Olha, eu conto principalmente assim, de fartura, né, eu me lembro que uma certa vez, meu pai… a gente ia numa bicicleta, né, e chamava dispersar o curral, o que é dispersar o curral? É você… como eu já falei, o curral é uma armadilha, né, varas, o peixe entra e não consegue sair e você pra dispersar o curral, você entra dentro do curral com a tarrafa, a tarrafa é aquele bicho que você dá o lance, né, e vai com os pés. E certa vez, meu pai disse: “Nazareno, tem muito peixe no rio, nos currais, vamos lá”, e nesse dia, nós trouxemos mais de uma saca de jericó, foi matando, nunca vi tanto p[eixe na minha vida, né, uns peixe bonito, né, então foi uma coisa muito bonita. Siri também, ave Maria! É demais, né?

P/1 – E na sua infância, quais eram as suas brincadeiras?

R – Minhas brincadeiras era brincadeira como toda criança, né, mas só assim, né, a gente criava muito as nossas brincadeira, inventava muito os brinquedo, né? Era por exemplo, eu me lembro muito que a gente inventava de passar boneco, né, era boneco, a gente fazia uns bonequinho de madeira e dizia: “Vamos passar na casa de fulano…”, e lá, cobrava ingresso, era carteira de cigarro vazia, né, que a gente inventava que era o dinheiro, né? E cobrava esses ingressos, criava os próprios brinquedos. Tinha também brinquedo que a gente ganhava, né, do meu irmão, principalmente, mas a maioria dos nossos brinquedos, nós mesmo que fazia, carrinho de lata, ou pé de quenga, que chamava, pra andar, né, aquele pé de lata, né, a perna de pau, você faz as pernas com o apoio e começa a andar com perna de pau, era desse jeito, a gente mesmo criava os nossos próprios brinquedos, tinha os outros também que ganhava, mas eu diria que 80%, nós mesmo inventava.

P/1 – Quem que exercia a autoridade na sua casa?

R – Meu pai, sempre foi o pai. Nessa época,

o pai sempre… pelo menos nessa década ai de 70, 80, né, o pai sempre… é questão de tradição familiar, né, a gente pra… a gente pra almoçar, jantar, tinha que esperar ele primeiro, a comida dele estar lá, só sentava depois que ele sentava, era assim. E era interessante que por exemplo, peixe era… a gente comia muito peixe (risos), né, não preciso falar e o peixe que era≥ que eu gostava mais era o olho do peixe, né? Nisso, eu tinha um irmão que era quase da minha idade, era mais velho que eu dois anos só, e o pai cresceu gostando dos olhos do peixe, que claro, devido a pescaria, né, e a gente como filho, passou a gostar também e era muito… dava muita confusão, porque era umas briga na hora do almoço pra comer… pra dividir essa cabeça de peixe, né, porque um queria o olho, o outro queria o olho, dai criava uma confusão! Mas a coisa também bem salutar, coisa bem sadia, né?

P/1 – E na escola, você estudou?

R – Estudei!

P/1 – Você entrou com quantos anos?

R – Na escola, eu entrei já um pouco avançada a idade, né, cheguei a concluir o segundo grau já aqui em Fortaleza, mas em Jagua… na cidade mesmo, a gente… assim, as escolas era meio carente naquela época, né, hoje em dia, eu já vejo que é bem mais avançado, eu me lembro que eu tinha uma professora de quarta série que eu nunca esqueci desse detalhe. Essa assim, ensinando a gente com um cigarro na mão aqui, ai ia pra porta: “Olha, fulano, não quero você… ninguém fazendo isso”, né, dava umas aulas medonha em termos de moral,

né, mas em compensação, assim, quer dizer, o próprio ensino era carente nessa época, né? E mesmo assim também, a gente não tinha muita vocação pra estudo, mas chegou aqui, foi quando a gente concluiu o segundo grau, quando cheguei aqui em Fortaleza.

P/1 – E a adolescência… você ficou até quantos anos na cidade?

R – Dezessete anos. Dezessete anos, eu vim me alistar aqui no Exercito, depois eu vim pra cá. A minha mãe, ela… a gente tem um vinculo… é um fato muito interessante, que assim, como você perguntou sobre autoridade da casa, sempre foi o meu pai, a gente tinha uma educação rígida, era muito rígida, tem um fato que eu nunca esqueci assim, meu pai… toda vida que eu pedi pra ele pra ir a algum lugar, ir pra algum canto, a minha mãe dizia: “Peça pra ele”, que já sabia que ele não deixava, né, ai, por isso, às vezes, eu nem ia, às vezes, eu saía, depois que eu pedia, ai quando eu chegava, era aquela confusão! Tinha uns métodos meio… eu não diria assim, meio obsoletos, mas meio assim, bruto, né, meio rude, né, mas era os métodos dele, e eu ficava muito reprimido nessa época, né, como essa questão da forma como eles educavam, eles, principalmente, ele, né? e eu batia muito, rapaz, por isso que eu fiquei muito empolgado com essa… essa vinda de vocês, porque eu quando era pequeno, pelo fato dessa questão de… essa questão de… como se diz? De contar historia, eu quando era pequeno, pelo fato dele… hoje em dia se usa como repressão, mas pelo modo dele ser um modo meio pra trás de educar, um modo meio antigo, né, ele era rígido demais e eu ficava meio preocupado que eu já era bem mais novo, como você me perguntou, né, eu já fui já dos últimos mesmos, eu acho… minha mãe tem 91 anos, eu acho… a minha mãe, quando me teve, ela já tinha mais de 50 anos, por ai, nem por ai, era, talvez, mas ai, eu ficava muito triste e começava… eu fiquei muito tempo dizendo que eu ia escrever um livro, até quando eu vim pra Fortaleza, com 17 anos, me alistar no Exercito, eu trazia um monte de papel, o titulo do livro era: “My Life”, que é a minha vida, né (risos), ai…

P/1 – Por quê em inglês, “My Life”?

R – Pois é, porque era um povo do interior, né, naquela época, eu me lembro que com 12 anos, mesmo tendo dificuldade pra estudar, eu gostava muito de ler, com 12 anos, 11 anos, o primeiro livro que eu li foi o da Marta Suplicy, né, aquela sexóloga, né, um belo livro, mas imagina: uma criança com 12 anos, 11 anos lendo um livro de uma sexóloga, como não fica, né, curioso, querendo saber, né? Então assim, só para não perder o raciocínio, meu pai tem essa questão, né, de ser muito rigoroso, essas coisas, pápápápápá, e quando foi um certo dia, a gente com 15 anos, juntou uns colegas e nós fomos tomar uma cachaça, uma cachaça que tinham trazido do alambique, que é da cidade de Aracati, que é vizinha a Jaguaruana, isso era novidade, uma cachaça pura, como diziam, ninguém sabia nem o que era e juntou esses colegas e fomos pro grupo escolar, um sábado a noite. Chegamos lá, tomamos e normalmente, todo canto tem o que a gente chama aqui de “tesoura”, né, que é o traíra, o cagueta, né, tinha um traíra, ele até já faleceu, um cunhado meu, viu e contou pro meu pai. Meu pai, com toda essa rigorosidade, né, e tal, no domingo… eu era já engajado no grupo de jovens, né, eu era muito ligado a esses movimentos de igreja, e no domingo, eu tava dentro… saído do grupo de jovens, meio-dia, e começou a chegar as minhas primas: “Olha, teu pai já esta sabendo, teu pai já está sabendo” – é por isso, esse fato que eu resolvi também contar essa historia, por isso, porque: “Teu pai já está sabendo, teu pai já está sabendo”, mas mesmo assim, eu não recuei, eles foram me avisar pra eu recuar, ou ir pra algum canto, alguma casa, porque o velho era bravo, era muito bravo, né, mas eu disse: “Não, vou pra minha casa, eu moro lá…”, e tal, ai fui. Quando eu entrei (risos), eu nunca esqueci essa cena: ele jogando baralho na sala, né, e tal, me acompanhou atrás, né, ai chegou lá na cozinha, minha mãe já tava ali meio nervosa, ele olhou pra mim nos olhos e disse: “Nazareno, é verdade que você tava bebendo ontem com os meninos lá no grupo?”, eu digo: “É verdade, pai”, ai ele cortou a conversa, pá, deu uma mãozada na minha cara, né? É a forma dele educar. Eu fiquei triste, sabe, fiquei muito triste, mas não guardei rancor, assim, é como eu falei no inicio, foi uma coisa que… é o modo dele mesmo. E nesse período, antes de eu levar esse tapa, eu já dizia que jamais um pai deve copiar os modos de outros pais pra educar seus filhos, porque assim, cada um tem que criar com os seus próprios métodos, né, pra criar os seus filhos. Mas ele me batia muito, me machuca muito, eu dizia: “Nenhum pai deve…”, porque ele julgava pelos modos que ele tinha sido criado, não era? Já, antigamente, pelo meu avô e meu bisavô. Ai, resumindo a historia, eu vim pra Fortaleza me alistar no Exercito, né, e minha mãe chorava muito, eu chorava muito, que era muito apegado, o mais novo, né, aquele chororô, era só três meses, era só pra me alistar e voltava, sei que tô aqui até hoje, né?

P/1 – Como é que foi essa mudança pra Fortaleza?

R – Pois é, eu vim pra cá pra me alistar no Exercito, me alistei, fiquei um tempo, né, e fiquei viajando mais… ai comecei… ai começou já desapegar, né, aquele desapego, comecei já arranjar namorada, fui namorar, ai chegou… entrei nessa empresa, na CORPVS, empresa que presta serviço para os Correios e passei pouco tempo no Banco do Brasil, logo vim para os Correios, né? Ai, quer dizer, essa vinda, essa segunda parte já é dentro dos Correios, né? Porque 22 anos… mais…

P/1 – Você prestou concurso pros Correios?

R – Não, não. hoje em dia, nós trabalhamos com empresa que presta serviço para os Correios

P/1 – Mas ai… vamos voltar. Você prestou o Exercito, como é que foi esse período do Exercito?

R – Ah sim, o Exercito, na época tinha excesso de contingencia, eu não servi o Exercito, né, ai fiquei e arranjei outros empregos, fiquei trabalhando, viajando, cheguei a viajar, cheguei a ir pra Teresina, né, viajava, mas trabalhava com piso industrial, polidor, né? Chegamos a viajar pra Teresina, ai conheci o Rio Parnaíba, algumas coisas, aqui no Ceará, conheci muitas cidades, e acabei voltando. Nessa volta que eu entro nessa empresa e estou até hoje, né?

P/1 – Que empresa?

R – É CORPVS Segurança, que ela presta serviço nos Correios, ela presta serviço… ela também tem sede em recife, né, Recife e São Paulo…

P/1 – Você prestou para ser segurança?

R – Isso

P/1 – Você teve algum treinamento?

R – Teve, nós fazemos um curso antes de assumir, né, e de dois em dois anos, nós temos uma reciclagem, né, que se chama reciclagem, é uma revisão do que a gente viu no curso e mais algumas atualizações, né?

P/1 – E ai logo, você começou a prestar serviços no Correios nesse prédio?

R – Não. eu comecei no Correios na Aldeota e da Aldeota, vim pra um aqui na Praia de Iracema, da Praia de Iracema, vim pra cá, esse aqui é o que eu tô mais tempo, 18 anos, 20 anos, por ai.

P/1 – E você já teve algum caso de assalto, alguma coisa que você precisou atuar?

R – Já teve algumas tentativas, né, muitas tentativas… tentativas, até engraçadas (risos), né? Aqui nos correios teve mais, digamos assim, aqui nos Correios teve mais alarme falso, nessa agencia aqui, por exemplo, certa vez, nós estávamos aqui e do nada, surgiu… alguém ligou pra gerencia financeira que fica nesse prédio aqui também, né, a gerencia financeira dos Correios do Ceará, a sede do Correios do Ceará é aqui, né, onde trabalha toda a parte administrativa, então, ligaram da Furtos e Roubos, dizendo que estava… um assalto estava para ser organizado nessa agencia, você imagina: quem ligou pra mim ali da portaria foi a gerente financeiro, né, até, a dona Lívia: “Olha, tá pra ocorrer um assalto nessa agencia”, isso é com a policia, ai imagina o clima que ficou. Ai, fica, vem, a gente liga pra Policia Militar, tal e nessa historia toda, o quê que aconteceu? Eu vim avisar pros meninos aqui do salão, aqui desse lado aqui, é um posto, tinha o vigilante Sobrinho, então resultado: nessas alturas, já tinham vindo os dois policiais à paisana, avisar pro diretor que tinha havido um alarme falso, tinha uma quadrilha que tava se preparando, mas não tinha vindo, mas ao redor do prédio, tava cheio de policial à paisana, achando que a quadrilha vinha e não tinham avisado pra gente. E um atravessa lá daquela porta de lá pra cá e o outro vigilante aqui, já sabendo o que tá acontecendo, policial à paisana e a pistola balançando nas calcas, eu digo: “Vai morrer todo mundo”. Ai esse vigilante ficou um pouco nervoso, ficou meio verdinho, verdinho, né, esperou e ele passou, né? Ai que ele veio a entender que realmente foi um alarme falso, mas assim, houve uma dessincronização, uma falta de informação, a policia não avisou, então ficava só cercando o prédio e ninguém sabia que era policia. Esse foi o susto, né? Houve um outro grande susto também, esse era o maior, esse quando eu tava no banco do Brasil. Era um dia de… eu trabalhava à noite, nessa época, e era mais ou menos… tava passando o jogo do Brasil e argentina. Terminou o jogo, e eu fui… eu fiquei… isso, eu tava começando na empresa, isso foi há 22 anos atrás, mais ou menos, 20 anos, 21 anos atrás. Então, terminou o jogo e eu fiquei sozinho no prédio, a gente começando, inexperiente, era um pouco novo, então assim, de repente, pula umas cinco pessoas pra dentro do Banco do Brasil e eu só consigo olhar por essa brechazinha aqui, a janela não abria mais assim, e lá vem os homens, lá vem os homens, eu, com três meses de empresa, eles vindo na minha direção, e eu: ‘meu Deus, o que eu vou fazer?’, eu com dois revolveres, né, porque nessa época era dois… trabalhava dois a dois… aliás, dois vigilantes durante o dia, então o da noite ficava com as duas armas. E eu tentava botar o revolver na mira ali, mas só atirava puxando, ai teve uma hora que eu falei: ‘eu vou atirar nos vidros, não, mas se eu atirar nos vidros aqui, quem vai pagar sou eu no outro dia’. Ai ficou aquela coisa toda, né, e eles vindo, e eles vindo. Ai eu fui ligar para a policia, quando eu ligo pra policia, a mulher diz: “Aguarde um instante por favor, aguarde um instante, por favor”, nessa hora, o trinco começa a balançar, ai eu: ‘meu Deus’, ai eu puxo o revolver e penso: ‘se ele entrar, eu vou atirar, é o jeito, se ele entrar, eu vou atirar’. Quando eu menos espero… aliás, eu solto o telefone e vou lá, quando eu olho lá naquele olho mágico, eu só vejo uma cabeçona, que a cabeça aumenta, né, um homem lá com a cabeça desse tamanho. Ai nessas horas, a policia já… eu já tinha conseguido chamar o pessoal da empresa, tava lá fora, né, ai eles pulam o muro, só que não consegue pegar, isso já era o quê? Uma hora da manhã, mais ou menos. Então, quando eles chegam pra mim: “Olha, eles fugiram, a gente vai dar um rolê aqui em Messejana…” era no bairro Messejana, “…vamos dar um rolê pra ver se a gente pega eles”. Quando foi duas horas da manhã, ele saiu, você imagina, eu continuava sozinho lá dentro da agencia, pá, falta energia dentro da agência, um blackout, eu digo: “pronto, eles voltaram”, eu com dois revolveres, corri pra baixo de uma mesa (risos), e fiquei lá bem abaixadinho, abaixadinho, eu digo: ‘meu deus, o quê que eu tio fazendo aqui?’, porque eu imaginei que eles tivessem voltado, tivessem cortado a energia pra poder entrar na agencia, né, quer dizer, com duas armas, eu peguei e me abaixei. Mas ainda bem que foi uma coisa rápida, ai a energia logo, logo voltou e eles pegara. Quatro horas da manhã: “Bota a cabeça ai, bota a cabeça ai”, eu fui ver, eram eles, ai levaram pra policia, ai esse padrão de rua assim, mas foi um susto grande, muito grande.

P/1 – E aqui no Correios, você conhece as pessoas? Uma historia marcante que tenha acontecido aqui, fora esse assalto

R – Rapaz, aqui tem muita historia, que o Correios… é como eu disse, o Correios é a minha segunda família, né, principalmente aqui, porque eu me dou muito com eles, 90% das pessoas, eu me dou bem aqui, principalmente os pequeninos, os pequeninos são aqueles que trabalham em empresas, os outros vigilantes, a gente tem uma amizade muito grande, né, mas temos muita historia, muita coisas assim, aqui no Correios, deixa eu ver se eu lembro de uma aqui. Aqui no correios, tem um caso interessante que é do vigilante noturno, né? Às vezes, as pessoas não acreditam, né, a gente conta, não acreditam, mas isso foi relatado e foi lançado até em livro. O vigilante Luciano, que trabalhava comigo à noite, ele tava aquele dia, um domingo, de plantão e chegou o taxista pra pegar uma pessoa chamada Simplício. Ai, isso era por volta de seis horas e o Luciano foi lá pra dentro… não tinha ninguém no prédio, pegou e disse pro taxista: “Rapaz, não tem ninguém aqui, de domingo não trabalha ninguém” e o cara insistindo: “Não, rapaz, tem gente sim, tem gente. Tem pessoas ai, aliás, é o Simplício que eu vim buscar, você não conhece? Ele trabalha na área de engenharia”. Ele insistiu tanto, que ele voltou pra fazer que ligava. Ai, no que ele retornou pra portaria pra fazer que ligava, né, quando ele olhou pra trás, não viu mais taxi, não viu mais motorista, não viu mais ninguém, ele ficou: ‘o quê que aconteceu?’. Ai, ele vai e liga pra mim: “Nazareno, veio um rapaz buscar aqui o Simplício”, eu digo: “Rapaz, o Simplício já morreu”, rapaz, esse caso (risos)… essa historia até hoje… quando ele soube, ele tremeu mesmo, sabe, o taxi veio buscar esse Simplício e o Simplício já tinha morrido, impressionante, ele disse que sumiu do nada, ele já é um senhor de idade, eu acreditei na história dele, porque eu nunca ouvi falar de uma mentira dele, né, nunca, aliás, o seu Luciano nunca tinha mentido e ele diz que: “Não, vim buscar o fulano”, quando ele… ele insistiu, insistiu, né, ai pra… até é uma tática nossa que a gente tem, né, até na recepção e disse: “Eu vou ligar pra ele”, ai veio, disse que quando chegou, que ele olha, não viu mais taxi, não viu mais ninguém, e já fazia dois anos que o finado Simplício tinha morrido. Todo mundo aqui conhece quem era o finado Simplício. Uma historia engraçada, mas foi verdade

(risos)

P/1 – Você casou?

R – Casei, casei. Assim, só pra voltar a minha historia, ai assim, essa questão do meu pai, né, eu sempre falei e hoje, eu falo pros meus filhos, por isso que eu até resolvi contar essa historia, que nenhum pai deve pegar os métodos de outro pai, porque até hoje, por exemplo, hoje eu sou casado, tenho… o nome da minha esposa é Izelda, né?

P/1 – Como que você conheceu ela?

R – A Izelda é uma pessoa de Itapipoca… eu conheci ela através de amizade de outras pessoas, que a gente tinha uma turma assim, a gente conheceu. E tem um filho, chamado Andrey de cinco anos, e Isabele de 11, de 11 anos, né? eu sempre digo pros dois… até hoje, eu nunca encostei um dedo neles, nunca encostei e eu conto essa historia, né, e eu espero que eles… eu digo pra eles mesmo, que eles criem os seus métodos de educar, porque eu não vou dizer que eu tenho um bom relacionamento e também, meu pai já faleceu, mas eu jamais guardei rancor, quando você me perguntou ai sobre ele, eu chego… até me emocionei, porque eu me lembro quando a gente entrava no rio pra pescar, essas coisas, né? Então,

hoje não guardo nenhum rancor, só que eu acho que cada um tem que criar o seus métodos, porque é uma nova época, né, é um novo momento, uma nova situação. Eu fui… pra você ter uma ideia, eu fui quase 15 anos da Pastoral do Batismo, Pastoral do Batismo, que prepara pais e padrinhos pra batizar, né, os filhos, é os agentes de pastorais, e na época, eu não tinha filhos e eu batia muito na questão da Xuxa, a gente só faltava dizer: “Joga tudo da Xuxa fora” (risos), tomara que ela… acho que assim, não sei se valorizava muito a vida da criança, eu acho… na minha concepção, não é assim, acho que a pessoa dava muita atenção a Xuxa e esquecia… hoje em dia, eu tenho dois filhos dentro de casa, vai ver se não tá cheio das coisas da Xuxa lá (risos), né? É interessante, quer dizer, eu… eu achava aquilo, mas eu não posso ir contra tudo e contra todos, né? Então, é mais ou menos por ai a historia…

P/1 – Nazareno, quais são os teus sonhos, hoje?

R – Meus sonhos? Eu peço muito a Deus todo dia, eu sou uma pessoa católica, né, sou… eu diria assim, hoje em dia, não estou mais engajado, mas pratico, vou às missa, mas eu peco muita paz, muita paz mesmo, eu tento buscar essa paz, principalmente, no trabalho aqui é fantástico, eu me dou tão bem, que às vezes, assim, eu queria ter essa paz em geral, né, essa busca interior eu busco muito, busco a paz interior, busco a paz.

P/1 – O quê que você achou de contar a sua historia para o Museu da Pessoa?

R – Achei fantástico, achei… a primeira coisa que eu vou dizer quando eu chegar em casa, vou a notar e não sei quando, né, vai estar disponível, né, mas vou falar pros meus filhos, vou dizer: “Lembra daquelas historinhas que eu contava pra vocês aqui, do meu pai, nunca toquei o dedo em vocês, mas vocês têm que criar os seus métodos, que não vai ser fácil… hoje tá gravado”, vou falar pra eles: “Hoje tá gravado e jamais vai ser apagado”.

P/1 – Obrigada.

R – Por nada, prazer.




FINAL DA ENTREVISTA