Museu da Pessoa

Sonhador de pé no chão

autoria: Museu da Pessoa personagem: Newton Pereira de Rezende

Projeto Memória Companhia Vale do Rio Doce
Entrevistado por José Carlos Vilardaga e Paula Ribeiro
Depoimento de Newton Pereira de Resende
Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2001
Realização Museu da Pessoa
Código CVRD_HV100
Transcrito por Jurema de Carvalho
Revisado por Letícia Maiumi Mendonça


P/1 – O senhor poderia retomar um pouquinho da Meridional Urucum?


R – Eu terminei, no último depoimento, Meridional Lafaiete, em princípio, e simultaneamente quando parou a exportação do minério de Conselheiro Lafaiete, a Meridional foi autorizada a exportar o minério de Urucum. Então, elas foram instalar a operação de Urucum, nas minas de Urucum. Para que a Meridional sendo uma empresa estrangeira, quer dizer, ligada a um grupo americano, não podia como Meridional na faixa de fronteira. A Urucum é na fronteira da Bolívia, oito quilômetros de distância da fronteira da Bolívia. E o concessionário da área de Urucum era o Grupo Chama, nacional, Sociedade Brasileira de Mineração. Para que a Meridional pudesse operar tiveram que fazer um contrato entre a Companhia Meridional de Mineração, a Sociedade Brasileira de Mineração e o Estado de Mato Grosso, que era o concessionário, a Metamat [Companhia Matogrossense de Mineração]. A Metamate era a empresa de mineração do estado do Mato Grosso, concessionária das áreas de Urucum, que mediante a esse triunvirato, ela concedeu a concessão a Sobramil, tendo um royalty de 15% sobre o valor da exportação. Não, menos, 15% era sobre a mina, o estado tinha um royalty de 4% sobre as exportações e esse contrato comprou todo o minério para a Meridional, destinado a U.S.Steel ou quem ela determinasse. Para que funcionasse na faixa de fronteira, quem ia operar era a Sobramil, mas como a Sobramil não estava equipada para operar a mina, o contrato permitia que a Meridional desse assistência técnica. Eu, como era diretor, fui para lá para começar, inicialmente, com um americano, como consultor técnico da Sobramil. Era um contrato de compra e venda de minério. A Meridional extraia o minério em nome da Urucum e comprava o minério. Com isso podia-se operar na faixa de fronteira. Um ano após a operação, houve um problema político, natural isso. O americano todo entusiasmado, um grande técnico, quando os amigos o procuravam falava: “Isso não é Sobramil, o dinheiro era da Meridional.” Ele cismou, ele assumiu a paternidade. A Meridional criou um certo caso com as autoridades, faixa de fronteira etc. A Sobramil reclamou: “O americano está falando coisas indevidas, o contrato é da Sobramil, a operação é da Sobramil, mas o consultor técnico não está correspondendo e não está reconhecendo a seriedade do contrato.” Eu fui lá e constatei que havia um certo problema, voltei. Eu já era diretor, eu nas outras áreas, além de diretor sou responsável. Na Meridional, eu sempre fui o responsável junto ao Dnpm [Departamento Nacional de Produção Mineral] e junto a todos os órgãos, ministérios. Todos os problemas políticos de tratar com o governo brasileiro, eu era o responsável. Conforme o caso tinha também o doutor Alberto Torres, que era o diretor jurídico na Meridional. O serviço dele era independente, mas prestava assistência quando envolvia problemas de direito. Resultado: após um ano de operação, estava no início da operação, eu tive que me deslocar para Corumbá e chegando lá todo mundo perguntava: “Você também é da Meridional?” “Eu era, eu, aqui, agora sou o consultor técnico, porque o americano passou a ser meu ajudante, teoricamente. O consultor técnico é ele, eu sou ajudante dele. Por questão política… ” Era um bom engenheiro americano, um engenheiro de minas, então comecei a fazer o papel da Sobramil. A Sobramil tinha um gerente teórico, porque tinha um escritório para registro de tudo. Mas a operação quem fazia, na realidade, quem exercia a superintendência, contratar técnico, operar e tudo era o consultor técnico, era realmente o operador. Mas eu me dei muito bem com o superintendente da Urucum, da Sociedade Brasileira de Mineração, senhor Osvaldo Chama que dizia que era o primo pobre do Grupo Chama, mas um rapaz inteligente, então convivemos muito bem. O que a U.S.Steel queria era garantia de funcionamento da operação e que ela não afetasse as leis brasileiras, que fosse uma operação brasileira. E assim foi, passamos a implantar a mina. A primeira coisa que eu constatei, em Corumbá, é que minha experiência de quase dez anos em Lafayette, eu tive que mudar toda minha experiência, porque a mentalidade do trabalhador de Corumbá era completamente diferente. O empregado em Corumbá, a ferramenta deles era o anzol para pescar ou o chicote para tocar boi. Era pantaneiro. Ferramenta tinha que ensinar como usar. Então, eu levei um pequeno grupo de Conselheiro Lafayette para ensinar o pessoal como operar. E entre os empregados tínhamos índios, inhambus. E assim foi feito o treinamento, iniciada a primeira operação da Urucum, que tem até um catálogo que explica a operação, a perfuração mais moderna, túneis. A Urucum teve duas camadas de minério: uma de mais ou menos de 1,5 metro e outra mais inferior, na base de Urucum, na ordem de 2,5 a 3,5, 2,8 a 3,8 metros; varia a camada, porque camada de minério não deposita assim, o minério se deposita em níveis. O senhor tem uma camada de quase 4 metros de repente abaixa para 2,8. É da natureza da deposição do minério. Eram aberto túneis com linhas de ______ com locomotivas e vagonetas para extração do minério. O túnel penetrava e lá era feito a extração de (pillar and room?), pilares e salões. Você vai tirando o minério e deixando os pilares. Você extrai 60 a 70% do minério. E vai tirando no meio e não precisa fazer nada, são mais econômicos. Esse minério já saia direto nas vagonetas, tinha umas carregadeiras automáticas pequenas de subsolo. Então, carregava o minério, ia para a (unicampa?) para a seleção para tratamento de britagem. Foi instalado uma operação de extração do minério.


P/1 – Esse minério ia integral para a Meridional, pertencia a U.S.Steel?


R – Ela comprou todo o minério através da Meridional e esse minério ia de caminhões da mina de Urucum para o porto da Sobramil. A Sobramil construiu lá, eu peguei o início da operação, da implantação da mina. Quase que eu peguei a embocação das galerias, logo no começo. Houve infraestrutura, construções de casas habitacionais na mina. Era muito interessante, porque o empregado nunca morou numa casa, nunca viu um vaso sanitário, nada. Era empregado do campo. Muito interessante isso, educar os empregados.


P/1 – Isso era feito como?


R – A gente fazia palestra uma hora antes da refeição, ou uma hora depois. Tinha refeitório, tinham os barracões de solteiros e as casas para os casados. Então, a gente preparava o pessoal para aquilo. E a parte das operações ia sendo ensinados pelos empregados mais experientes que eu levei. Levei três empregados de Lafayette para que ensinasse o pessoal da região a trabalhar. Tinha os empregados de Mato Grosso, tinha alguns bolivianos e alguns paraguaios. Corumbá era uma cidade que tinha naquela época 8 mil bolivianos e 2 mil paraguaios. Cidade de fronteira, completamente aberta. A Bolívia fazia feira em Corumbá. Tinha feira da Bolívia onde você comprava leite em pó americano, doado a Bolívia, era vendido em Corumbá.


P/1 – Era um lugar perigoso na época?


R – Não. Faixa de fronteira. Eu fui ameaçado de morte mas não liguei, por um paraguaio, porque eu exigi que ele procedesse corretamente com os companheiros. Ele tinha qualquer problema com os companheiros, eu mostrei e ele me ameaçou. Quando a pessoa está certa, a ameaça não tem perigo nenhum. Perigo é quando a pessoa faz injustiça. Então, esse negócio de ameaça de morte, eu fui duas ou três vezes ameaçado, mas não abria mão dos meus direitos e mostrava a pessoa que eu era correto e isso não acontece.


[Interrupção]


R – Eu ameaçado e depois eu investigando… O próprio pessoal traz a notícia, que esse paraguaio era criminoso fugido do Paraguai e já tinha três mortes. Também não fiz nada, mas depois as autoridades do Paraguai o localizaram e sumiu, acabou o problema. No serviço, você não pode ter medo de ameaças, se não fosse, não administra. Mas o pessoal é bom, gostei muito do pessoal de Corumbá, compreensivo. É outro sistema. Outra coisa, por exemplo: o sujeito quer falhar, isso era um problema muito sério, não adiantava punir. Se você punir um empregado, acontecia isso em Lafayette, o sujeito ficava ofendido, se suspendia um dia. Lá se você suspendia um dia, eles falavam: “Me suspende logo uma semana assim eu vou pescar.” Não tinha responsabilidade. Então, você tinha que ir educando. Logo que eu cheguei lá, chega o pessoal do refeitório: “Todos os talheres foram roubados, todos.” Cheguei no refeitório: “Está comprado os novos talheres, foi debitado cada faca, garfo e colher, cada um no nome dos senhores, vocês podem levar quantos quiserem, mas vão pagar. Pertencem aos senhores, está aqui no refeitório.” Pronto, acabou, nunca mais roubaram. Fazer o que? Muito interessante essa mentalidade: todo mundo é esperto, esperto é passar a mão nos outros. Problemas com a empregada boliviana na nossa casa, se você deixasse as coisas dormir no varal do lado de fora da casa, sumia. Ela pensava que você não queria mais. A mentalidade era diferente. Precisava mais controle, mais energia. Mas de uma maneira geral o pessoal é bom. No final os empregados… Os índios tinha semana de ir em casa: “Preciso tirar uma semana.” “Vai.” E eles aprendiam muito bem, tinha índio que trabalhava com perfuração, trabalhava com locomotiva, trabalhava de tudo. O índio é muito inteligente. Tinha alguns índios aculturados da tribo inhambu. E os empregados da região, tinha empregado que vinha de Mato Grosso, de Cuiabá, da região ali. Mas essa parte funcionava. Eu parei aí, na mineração.


P/1 – O único empreendimento mineral do Mato Grosso era da Urucum?


R – Era. No momento, era. Depois surgiu uma outra já no tempo da Vale, mas era só a Urucum. Havia muita mineração na região, de projeto, mas de operação era só essa. Então, esse minério descia de caminhão da mina para esse terminal de embarque. Era um terminal todo automático onde o minério era despejado numa murada, embaixo tinha uma série de alimentadores – bocas, que saía numa correia, que saia noutra correia que punha na barcaça. E essa correia de acordo com a água do rio que variava até 5 metros, a altura do rio na cheia ou na baixa, essa correia é variável. Ela podia acompanhar para que o minério não fosse despejado a grande altura na barcaça. Aí era carregado em barcaça. Essas barcaças, de 900 toneladas cada uma, era um sistema muito interessante.
Nós instalamos, em Corumbá, o projeto americano trouxe um (empurrador?) mais moderno que existia na época que foi construído, para o Rio Paraguai depois de uma série de estudos antecipados. Então, era o empurrador Urucum I, hoje foi vendido para uma firma lá no Uruguai, que transporta soja em Porto Alegre. Mas ele tinha umas características muito importantes: ele tinha duas hélices e dois motores de mais ou menos de 3.500 cavalos e tinha oito lemes. Com esse jogo de lemes e a força dele, tinha uma força muito grande que podia empurrar 20 mil toneladas, ele se deslocava de uma maneira muito interessante, ele tinha reversão de marcha automática. Ele se deslocava lateralmente e quando fazia curva, ele vai empurrando um total de 36 metros, formava um navio único. Essas barcaças eram amarradas umas nas outras, eram carregadas individualmente, soltas, e tinham os homens especializados em amarrar. Iam sendo amarradas e formavam um conjunto único. Esse empurrador com essa força grande é como se fosse um navio, tinha toda manobra numa só.


P/2 – Quantas barcaças eram?


R – De acordo com o nível das águas do rio, a gente usava nove e o máximo que nós usamos foi dez. Então, esse minério era postos nessas barcaças e ia para o terminal do porto de Nova Palmira. Nova Palmira era uma cidade no Uruguai a mais ou menos 400, 500 quilômetros de Montevidéu, na foz do Rio Uruguai que faz divisa com o Rio Grande do Sul. Cidade de Nova Palmira, uma cidade relativamente pequena, mas tinha um porto e foi construído lá. A U.S. Steel construiu um terminal grande para transporte de minério. Esse terminal tinha capacidade de descarregar o minério das barcaças e estocar, e quando chegasse o navio, carregava o navio. E podia, automaticamente, se tivesse o navio coincidindo com a chegada do empurrador, já podia a barcaça ir diretamente para o navio. Uma operação muito boa, que até hoje funciona, mas hoje funciona para grãos. Foi convertida, por quem comprou para grãos. Então, o minério era embarcado. O acesso naquela região, de navio de calado de no máximo 60 mil toneladas, com a carga distribuída ou navios de 30 mil toneladas. Navio para pegar o oceano e ir para os EUA. Essa é uma operação conjunta.


P/1 – Quanto tempo demorava essa operação?


R – O navio descia em mais ou menos em 14, 15 dias. A operação redonda, tempo de descarga que era de um dia, muito eficiente a descarga, um dia e pouco, abastecimento e voltava. Dessas barcaças tinha uma que ia com menos minério e ela podia levar 900 toneladas. Tinha a barcaça de combustível que levava combustível para abastecer o navio durante a viagem, ou em Corumbá. Surgiu um problema muito sério nesse navio. O óleo diesel fornecido em Corumbá era de alto enxofre, então nos primeiros usos, procurando se abastecer no Brasil, deu um problema muito sério de manutenção dos motores. Nós tínhamos um mecânico especial para motores, a bordo. Resultado: como o rio é internacional, a Sobramil tinha o direito de comprar o óleo para o navio em Nova Palmira, que fornecia óleo de baixo enxofre. Ela tinha doze barcaças. Duas eram de depósito tanque que ficavam com o combustível. Quando o navio vinha com uma para abastecer em Corumbá, quando ele voltava, trocava, pegava outra cheia. Aí o custo de manutenção ficou muito mais suave, porque o rio é internacional, pega o Brasil, o Paraguai e a Argentina. Tivemos no início, muitos problemas com a Argentina, porque a Argentina era a única usuária normal do rio, de Corrientes para baixo. E ela tinha muito medo dos navios de minérios trombarem com os navios de passageiros etc. Ela exigiu que em um determinado trecho não se usasse mais do que duas barcaças. Então, você tinha que parar. Mas depois com o tempo, entramos em contato com eles, nós trouxemos as autoridades navais argentinas para fazer uma viagem e eles sentiram depois de alguns meses de negociação que esse Urucum era muito seguro e que podia fazer reversão de marcha automática, deslocar lateralmente, nas curvas. Um navio com 36 metros numa curva como que vai fazer, vai bater. Então, quando ele fazia a curva, ele fazia peão, com quatro hélices jogando para um lado e quatro para o outro, ele fazia peão. Fazia a curva no peão; ele parava, fazia a curva lentamente.


P/1 – Mas tinha ______, ocorreu algum acidente, pegou barrancos de areia?


R – Não, isso é quando é reboque, que não tem controle. Esse sistema de navegação que era muito moderno e com toda a segurança, o argentino compreendeu e permitiu que fizesse um comboio de até 10 mil toneladas. Nós tínhamos um problema que era do nível das águas. Quando o rio baixava, o Rio Paraguai naquela época, tinha já bancos de areia. Então, você tinha que diminuir o calado, a tonelagem. Mas o empurrador normalmente tinha nove pés de calado. Mas tinha a seguinte qualidade: em alguns lugares, na banca de areia, ele de ré, ele deixava o comboio amarrado na margem. Ele dava ré e a força dessas hélices era tão grande que ele conseguia dragar mais ou menos dois pés de areia, removia a areia e passava. Era ultramoderno mesmo. O fundo é chato, então ele pode andar que nem peixe no fundo. Era o rebocador dos mais modernos.


P/1 – Era o único rebocador que tinha ou era só esse?


R – Era o único, só esse. A Argentina tinha rebocadores, mas não era dessa capacidade e era de calado maior. Só um detalhe, Corumbá, no passado, no tempo do Império, navios iam a Corumbá. O acesso na região, o navio subia o Rio Paraguai e ia até Corumbá. Durante a Grande Guerra, em (1909?), houve a primeira lavra da mina de Urucum em que saíram 9 mil toneladas de minério em navio, era navio de passageiro e carga. Navios grandes iam a Corumbá, relativamente grandes, tento que o rio era profundo, depois foi indo com o assoreamento. Argentina mantinha dragagem de Corrientes para baixo. Até Assunção o rio era natural. Paraguai não fazia nada, o Brasil também não fazia nada. Então, havia um ligeiro assoreamento e esse sistema de navegação é muito moderno. Eu mostrei uma tristeza muito grande, porque eu estudei navegação fluvial, fui estudar esses sistemas nos EUA, nós tínhamos muito contato com a marinha. A marinha, a Base Naval de Ladário nos ajudou muito, porque é claro, ela queria saber como é isso. Ela emprestava os pilotos. Pilotos eram os homens que conheciam o rio, o canal do rio. Não havia sinalização do canal. A empresa depois que foi sinalizando, mas os pilotos sabiam automaticamente, de cabeça o canal do rio, até Assunção usava-se piloto brasileiro. De Assunção até Corrientes, usava-se pilotos paraguaios que conheciam o rio. Então, tinha esse problema todo. Então tivemos essa grande cooperação com a marinha que estava interessada e facilitou isso. Nós, em compensação, ajudávamos a marinha no que ela precisasse. Inclusive eu fiz uma terraplenagem grande lá para eles, nós tínhamos o trator que abriu a operação e depois não precisava mais. A gente tinha um bom intercâmbio com a marinha. O comandante era o Mar e (Guerra?), às vezes o almirante… A gente punha à disposição, se eles quisessem, um elemento a bordo do Urucum, tinha boas recomendações. A comida era como o navio no oceano, a comida do Urucum era muito boa, a ponto de um tripulante, quando ele voltou, um tripulante novo: “Quem é esse tripulante novo, nós não contratamos nenhum tripulante gordo assim.” Numa viagem de 30 dias, ele engordou 25 quilos. Seguro, não havia problema.


P/1 – Viajava dia e noite?


R – Dia e noite, tinha faróis etc. Tinha faróis que jogava na margem, então nunca tinha problema de chocar na margem. Se ele tinha que encostar na margem era lentamente. A minha tristeza hoje, que eu estudei navegação, é que o Brasil tem os melhores rios do mundo. Tem até um trabalho do doutor Portugal e do doutor Luis (Arandon?) que eram os diretores de portos e canais. O Brasil tem os melhores rios do mundo, o Rio Amazonas e o Rio Paraguai para navegação e não tem praticamente navegação fluvial assim num sistema moderno. Eu li a pouco tempo, com minha tristeza, eu sou consultor de navegação fluvial, nos últimos vinte anos a verba do Brasil para transporte, para navegação portos e canais é zero. Isso me dá uma tristeza muito grande, porque o Brasil não investe num transporte que, na escala, é cinco vezes mais barato do que trem de ferro e nove ou dez vezes mais barato que transporte de caminhão. Então, o Brasil não tem transporte fluvial, não tinha, hoje tem precariamente no Rio Tietê e parte do Rio Paraná. O Brasil não tinha eclusas e no Rio Paraná foi construído essa grande represa no Rio Paraná com o Paraguai e não fizeram eclusas. Temos o Rio Tocantins que tem mais ou menos mil quilômetros navegáveis, não é utilizado; a soja sai de caminhão para ir para Paranaguá ou para Santos. Todo o valor da soja é consumido em transporte e o consumo de combustíveis. Isso me dá uma certa tristeza. Eu mantinha muito contato com as autoridades, mas não houve, o Brasil não tem mentalidade para transporte fluvial. Esse sistema de barcaças, mesmo no Amazonas não te assim… Tem transporte fluvial, mas não é o moderno. Vem vindo em pequena escala. Agora de Corumbá para Cáceres são, mais ou menos, mil quilômetros. O Rio Paraguai vai navegável até Cáceres, vai perto de Cuiabá. Mas é um rio um pouco mais estreito e com muita curva. E tentaram fazer navegação lá de ganso, é uma região alta produtora de ganso. Mato Grosso, Rondônia, aquela região. Essa região poderia ser celeiro do mundo, não é só do Brasil, não. O Pantanal, principalmente mais em cima. O Pantanal recebe todo o húmus das regiões mais altas, fica no Pantanal. É uma riqueza muito grande. Quando eles plantaram, em Cáceres, arroz, feijão. As casas de Cáceres ficaram lotadas, perdeu-se tudo.


[Troca de fita]


R – … couro de onça, mercadorias, havia transporte próximo de Cuiabá que tem um porto, até Corumbá. Isso acabou também hoje. Não tem mais esse transporte de passageiros e o transporte de carga num navio único. Tentaram agora o transporte por sistema de barcaça _____ empurrador. O que acontece: você pega um navio sem essas características do Urucum de navegação, ele não tem condições, então ele bate. Se você puxa uma barcaça dessas de minério, ela vai batendo nas margens etc. Eu li um artigo de uma autoridade de portos do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e os Recursos Naturais Renováveis] dizendo que é proibido a navegação de Cáceres a Corumbá. Isso me dá uma tristeza muito grande, porque essa navegação é possível, existe tecnologia, existe empurradores menores que esse, mas de grande capacidade. Você pode usar duas, quatro barcaças, seis barcaças sem afetar as águas, ao contrário, ele vai proteger as margens. Nos EUA, eu senti o seguinte: a navegação fluvial protege as margens dos rios, porque é de interesse dela, para que não haja assoreamento. No Brasil, nós estamos a zero nisso aí. Inclusive os rios estão sendo assoreados naturalmente. No Brasil, a própria natureza traz areia, traz as enchentes. Há um assoreamento natural e também das plantações e devastação de matas de Mato Grosso, em Rondônia. Isso podia ser evitado com isso aí. Não se pode dragar rio, retificar rio, cortar curvas, realmente não se precisa fazer isso. Existem técnicas de navegação hoje, inclusive com empurradores de calado menores, mas com força, que eles fazem isso, fazem a curva de peão, sem esbarrar na margem. Isso me dá uma tristeza muito grande, porque é uma região de alto potencial agrícola, praticamente abandonada e que as autoridades ainda não entenderam, pelo que eu tenho lido, meio ambiente e tudo, acham que é prejudicial, que vai fazer mal ao meio ambiente. E não é, não se evita a poluição natural. Tentaram uma, um sistema de navegação de 50 anos atrás ou mais, 60 anos atrás que não é navio único e não tem esse controle. Bom, é só para dizer o seguinte: existe tecnologia para navegar qualquer rio, e se o rio tem cachoeiras, eu estive nos EUA e vi rios pequenos, usa as eclusas. Com as eclusas, o rio sobe serra, você pode ligar um rio ao outro com o sistema de eclusas. O navio entra ali, enche de água e sai no nível superior. Nessa época, com muitos contatos com o Departamento de Portos, doutor Portugal que é uma grande autoridade, já faleceu, em portos. Tem até um trabalho dele sobre isso. O doutor Elias (Rondon?), eu consegui motivar para que na represa de ________ constrói usinas elétricas sem fazer eclusas. Foi construído, felizmente, no Rio Tocantins e Rio Araguaia, aquela usina de Tucuruí, tem eclusas que não estão concluídas, o dia que elas forem concluídas, você pode descer, a um custo muito barato, toda essa produção dessa região, por navegação que o custo é dez vezes mais barato para grãos. Aí pega todo o Goiás, essa região é o celeiro do Brasil, aí tem os rios navegáveis. Eu me sinto motivado de ter influenciado para que fosse construída essa eclusa, que não foi concluída, mas que está lá o local, está parcialmente construída para uma navegação futura que já estão pensando. Esses são problemas de Brasil, que eu estudei, mas que o Brasil, infelizmente, não usa os rios. Havia também uma guerra dizendo que a navegação fluvial ia prejudicar os outros transportes. Eu aprendi no (Rio de Janeiro?) que o Rio Ohio, que transporta cargas, principalmente grãos, ferro, minérios, as cargas pesadas elas trabalham em conjunto com estradas de ferro e caminhões. Porque a estrada de ferro é mais barata, então para grandes distâncias ela usa… O Rio Ohio tem duas estradas de ferro de um lado e de outro da margem, que trabalham em conjunto. A embarcação fluvial fornece carga para a estrada de ferro e recebe carga da estrada de ferro. Ela desce com a carga, através do rio, e vai deixando. O rio Ohio desemboca no Rio Mississipi e vem até (Móbil?). Eu tenho uma foto de uma embarcação com 36 barcaças, um empurrador desses com 36 barcaças. Ali tem grãos, tem ferro, tem minério, tem carvão. É um transporte baratíssimo e que trabalha, recebe carga justamente para ajudar o transporte de caminhão e o transporte de estrada de ferro. Esse é até um protesto que eu faço de sentir que o Brasil precisa acordar para o transporte fluvial.


[Interrupção]


R – Eu aproveitei para fazer isso, acho que não é só uma questão de interesse econômico não, é uma questão de patriotismo. A Vale é uma firma muito eficiente de mineração e outros produtos. Eu acharia que uma empresa como a Vale devia de entrar na produção de grãos e transporte. Por que grãos? Qual é o problema do mundo? Eu sempre fui um sonhador de pé no chão. O problema do mundo é fome. O problema do mundo é alimento. A população do mundo, em 2025, praticamente duplica. Nós vamos enfrentar problemas sérios. Nós temos dois problemas sérios, que eu até mexi com um. Meio ambiente, mas não meio ambiente interesseiro em faturar, em fazer projetinhos. Meio ambiente sério, para futuro e de pé no chão. E grãos. Se a Vale entrasse nesse transporte de grãos organizado, seria uma grande coisa para ela e para o mundo. Eu acho que um dos problemas do mundo é alimentação. E o Brasil tem grandes condições de ser um grande produtor de grãos. E com isso faturar na exportação, isso representa divisas, representa dinheiro. Eu vou dizer que são coisas que eu não entendo, porque não existe. Há firmas que estão lá hoje, a (Carril?) tentando fazer isso, mas só enfrenta dificuldades de navegação… Em Corumbá, deixei essa operação montada, quando fui para Corumbá com família e tudo, em 1959. Saí de Lafayette e fui para Corumbá. Eu me lembro bem quando a Companhia Meridional perguntou assim: “Em quantos meses, em quanto tempo você pode deixar a operação de Lafayette para ir para Corumbá?” Resposta minha: “Amanhã.” Porque sempre nas minhas operações eu tive o cuidado da operação ser eficiente, estar funcionando independente do presidente ou do chefe, é por equipe. Ninguém faz nada sozinho, qualquer operação, ela só é boa se é capaz de funcionar sozinha. Ninguém é insubstituível. Nós temos que compreender que ninguém é insubstituível em nada, poderia morrer de uma hora para outra. Então, eu mantinha minhas operações eficientes a ponto de poder largar no momento que fosse preciso, necessário. E realmente em uma semana eu tive que começar a me deslocar com a família para Corumbá. Fui para lá em 1959.


P/2 – Já tinha quantos filhos?


R – Já tinha sete filhos. Não foi fácil, mas a Companhia tinha construído duas casas muito boas, morava numa chácara muito boa, me dei bem em Corumbá, tenho uma filha nascida em Corumbá, a oitava.


P/1 – Das onze?


R – Das onze. Corumbaense. Pessoal bom, mentalidade completamente diferente, mentalidade de fazenda, pesca, Pantanal. Mas a gente se adapta, eu me adaptei, porque você não podia impor uma condição de trabalho de Minas em Corumbá. Isso foi tudo resolvido, em 1960, funcionou muito bem. Mas houve um problema muito sério que vai levar a saída da U.S.Steel. Quando a U.S.Steel recebeu os primeiros minérios, em 1959, as primeiras cargas de minério, ela teve um problema seríssimo com o minério de Urucum. A U.S.Steel fabricava o ferro manganês, ferro, liga de manganês em alto forno, normalmente, ele é feito em alto fornos elétricos. A U.S.Steel usava em pequenos fornos para fazer o ferro manganês. Porque o manganês tem que ser convertido em ferro manganês para entrar no aço. O aço é uma liga de ferro com manganês, principalmente. Hoje tem outras substâncias que ligam. E qual é a importância disso? O manganês é realmente chamado minério estratégico, porque sem o manganês não se faz o aço. O manganês entra no aço no forno como dessulfurante, desoxidantes para eliminar, através da (escória?), certas impurezas do ferro e entra na constituição. Essa constituição vai de 1,5%, 3% até 15% quando você quer um aço duro. Quando você quer um aço para submarino, tanque ou de navio de guerra, leva 15% de manganês. Hoje, leva outros metais como molibdênio, mas que são caros. Mas o principal é o manganês. Ele tem a função também no próprio funcionamento do forno da fabricação do aço. Ele, além de entrar na composição do aço, ele entra com isso. A U.S.Steel quando fez esse convênio com Corumbá, eu vou dizer um depoimento pessoal meu, pagou para ter essa concessão, com investimentos, uns três milhões de dólares. Um milhão creio que em investimento; um milhão pagando royalty, pagando direitos para assinar. Eu acho que isso foi feito pelo governo americano, isso é conclusão minha. Pelo seguinte: o governo americano mantinha, dada a importância do manganês e a dificuldade no mundo de manganês, reserva estratégica. Os EUA chegavam a ter 300 mil toneladas de reserva de manganês. Isso tem um custo muito grande, você investir na compra e no transporte do minério para ser estocado como garantia. Mas isso era vital para ela em problemas de guerra, como foi na guerra. E por que o interesse dela em Corumbá? Porque Corumbá, o minério podia sair via Uruguai, ser baldeado através da costa do Brasil até chegar aos EUA; muito mais fácil de proteger o navio transporte. Como não é o mesmo o investimento do minério vindo da África ou de outros locais. Simultaneamente, ela investiu também na África, no Gabão e na África do Sul. No Gabão, ela investiu nas maiores reservas do mundo de manganês que eu tive a oportunidade de visitar. Mas esse minério tinha algumas dificuldades políticas na região. Quando a África ficou independente, se saiu da França, criaram aqueles países. E na minha visita eu aprendi que o Gabão era uma operação estável, eu tive oportunidade de visitar, porque foi criado um país com onze tribos rivais. A França criou isso aí, mas tinha protetorado da França. A França mantinha essa operação do Gabão e a U.S.Steel se associou com a França na operação de manganês no Gabão. Por outro lado, para poder ter acesso a esse minério, tinha 80 quilômetros de linha, era transformado em cabos aéreos até pegar a estrada de ferro da ________ francesa, para pegar o porto de (Ruanda?). E aquilo lá era praticamente numa região onde os comunistas dominaram. Eles poderiam cortar o suprimento de manganês um dia. Qual é o interesse da França no Gabão? A gente procura estudar. Eu senti o seguinte: que as reservas de urânio da França eram lá, próximas às jazidas de manganês. Além das jazidas de manganês, o manganês ocorre sempre próximo onde tem ferro, grandes reservas de ferro. Então, a França tinha ali o suprimento de urânio. O governo do Gabão era mantido pela ______ na França. Eu tive uma viagem interrompida lá, porque quando o governo francês interrompia, requisitava um avião da Air France, eles tinham prioridade. Houve uma revolução lá, a França com 600 paraquedistas lá restabeleceu o governo. É o lado político que afeta uma operação. A gente conheceu o porquê dessa operação. Tinha também na África do Sul, naquela época, antes desse pacifismo lá, tinha o problema do negro, que era uma operação possivelmente instável. Eles tiveram um interesse grande, isso faz parte do conhecimento da operação. Eu sempre curioso, procurei na minha visita ao Gabão, eu vi lá a dificuldade da operação. Estranhei, porque nós aqui no Brasil temos muito bom relacionamento com os empregados. Eu considero que o empregado é uma parte importante. Nós da Meridional temos o ________ da operação. A Vale dá um destaque, uma grande importância aos seus empregados na operação. Com isso tem sempre bom rendimento e tudo. Eu cheguei lá e senti, na minha visita acompanhado por um americano e um francês, na minha visita ao Gabão. Chegava lá visitando a operação, não tinha esse negócio de “bom dia” para empregado, nem nada. Eles falavam francês, eu falava pouquinho, raspava o meu francesinho. Parava assim, vocês estão me chamando, eu estou dando bom dia. A hora que eu dava bom dia para aqueles empregados, eles riam mostrando aquelas dentaduras, porque não estavam acostumados aquilo. Mas também não conversavam. E eles estavam saindo daquelas tribos antigas para operações com máquinas e tudo. Era muito interessante, uma das dificuldades era quando a máquina parava, eles não consertavam. Eles diziam que a máquina tinha alma de branco, branco que tinha que consertar. Eu achei aquilo muito curioso, um problema de educação, de evolução. Eles já operavam, mas não consertavam. Então, eles tinham as equipes de franceses pra operar isso. Eu lembro que construindo casas, eu me aproximei de um pedreiro daqueles lá, procurando falar com eles: “Vou tirar um retrato seu.” “Pra que? Não adianta nada, o senhor não vai me mandar.” “Vou mandar.” E mandei. Ele recebeu. Ele ria que nem não sei o que, o pedreiro construindo uma casa. Não há um relacionamento assim como deve haver numa empresa, não havia. Isso faz parte, porque faz parte da operação, para entender a operação. Volto ali, a U.S.Steel não podendo usar o minério de Urucum, que o teor do minério de Urucum é famoso, ele é alto em manganês, mas é alto em fósforo e álcalis. Ela tem mais ou menos 0,5% de potássio e mais ou menos 3,5%, 3,8% de álcalis. Que aconteceu, esses álcalis no forno, no alto forno eles se vaporizaram e se condensaram nas paredes do forno, foram condensando até que chegou uma hora em que nas paredes do forno, em grande quantidade, caíram dentro do forno, do alto forno e abafaram. Quer dizer, desintegraram o carvão, houve uma reação química de álcalis em grande quantidade e abafou o forno. A U.S.Steel praticamente perdeu um forno por causa dessa operação dos álcalis. E ela então aprendeu que só podia usar em pequenas quantidades. Mas ela desistiu. A U.S.Steel recebia esse minério e vendia para um fabricante, Union Carbide, que era um rival, em termos. A Union Carbide usava o minério, fabricava o ferro, liga em alto forno e em blendagem, com outros minérios ela pode consumir o minério de Urucum até um certo ponto. Paralelamente, eu procurava desenvolver tecnologia, pedia a U.S.Steel que desenvolvesse tecnologia, mandava para os centros técnicos de tecnologia em Minas, em São Paulo, foi fornecido esse minério para a indústria brasileira. Eu sempre chamava a atenção: deve haver uma maneira de usar esse minério. Começa com a blendagem em pequenas quantidades. O certo é que essa tecnologia já surgiu, no final eu vou usá-la quando chegar na Urucum, Vale do Rio Doce. Para terminar aí essa operação da Meridional. Quando foi em 1969, fui para Urucum. Em 1961, voltei para o Rio, eu era o consultor técnico e o diretor da Urucum. E eu como diretor técnico da Urucum, eu era o responsável junto às autoridades, porque qualquer empresa de mineração tem de ter um responsável junto ao Dnpm e ao Ministério de Minas, e também para tratar de problemas de exportação, com autoridades de exportação, todos os problemas políticos. A U.S.Steel era muito prudente nisso aí. Ela aceitava o concílio e procurava respeitar as leis do país.Tanto é que foi feito esse arranjo lá em Urucum, funcionou bem, o minério não serviu e ela se desinteressou, mas para não ter um prejuízo muito grande, ela passou a ter uma operação reduzida. A operação de Urucum ficou na fase piloto. Ela tinha essa operação inicial piloto e depois tinha um plano de operação maior para um milhão de toneladas no futuro, com novos equipamentos, novos túneis etc. Então, essa operação ficou abortada e ela ficou usando aquilo, até que eu vim para o Rio, em 1961, porque o diretor vice-presidente ia se aposentar, que era o senhor Manoel Constantino. Ele era grego, mas brasileiro, ia se aposentar. Então, eu vim para o Rio e fiquei trabalhando um tempo junto com ele até que ele formalizasse a operação dele. Eu sempre vi a Valesul e senti esse problema: em Lafayette a U.S.Steel não podia usar o minério, porque eles tinham concordado que ia deixar esse minério para a indústria brasileira que era crescente. Volta Redonda comprava as fábricas de ferro liga. E Urucum o minério não servia. Eu senti um grande desânimo nas reuniões com eles, em que eles diziam o seguinte: “Um dia desses, nós vamos ter que fechar a Meridional, porque nosso interesse era esse.” Aí vem agora o começo de Carajás. Eu falava: “Nós temos que fazer pesquisas, o Brasil é a maior área geologicamente desconhecida do mundo.” Vamos fazer pesquisa no Brasil. Mas eu tive um presidente, era americano mas de origem australiana. Ele tinha muito interesse, a U.S.Steel fazia pesquisas na Austrália também. Ela está investindo na Austrália, na África do Sul, na África. Ela não tinha interesse no Brasil, até que eu estudando perguntei porquê. Por causa do Código de Mineração, nós tivemos uma experiência em Lafayette que nós requeremos uma mina de manganês pequena, que serviria para misturar com o minério de Urucum, apenas para dar mais vida a mina e aproveitar uma pequena jazida, que havia na região de Lafayette. Na região de Lafayette, havia diversas jazidas de manganês pequenas que nenhuma delas seriam sozinhas exploradas. Mas em conjunto com as instalações com o Morro da Mina poderiam ser aproveitados. Requeremos uma jazida. O Código de Mineração permitia o seguinte: se você requereu a jazida, o Dnpm ia ao proprietário e o proprietário ia dizer: “Você quer exercer os direitos ou não?” E o proprietário dizia “Eu quero essa jazida.” E a Meridional investiu na pesquisa, por pouca coisa perdeu o direito e se assustou. Vinha fazer pesquisa no Brasil para que o dono amanhã, uma pesquisa no Brasil, em larga escala custaria muito dinheiro. Então, com isso aí, eu no Rio. Eu fiquei responsável no Rio, pelas operações de Lafayette e pelas operações de Urucum: “Você pode deixar a operação de Urucum?” “Posso.” Então, levei o superintendente de Lafayette para Urucum, lá ficou outro, tinha sempre um disponível. Aqui não há mais necessidade, ainda mais com a operação piloto. Então, eu vim para o Rio. Eu sempre fui indócil, sempre pensando adiante de… Eu nunca fui um administrador de executar uma coisa dentro daquelas normas. Sempre me preocupei como você pode melhorar, como você pode desenvolver, como você pode reduzir custos. Aliás, essa é uma grande preocupação da U.S.Steel: problemas de reduzir custos de operação, eles tinham programa de redução de custos. Para isso você usa sua empresa, você usa o pessoal, os técnicos que estão envolvidos. É um problema de pensamento num negócio geral que você vai sintetizando as ideias. Mas eu vim para o Rio, para mim foi muito bom, porque surgiu o problema de educação dos filhos. Eu já vim com oito filhos, tenho uma corumbaense, a oitava nasceu em Minas, porque quando eu vim para o Rio, não tinha casa nada, então minha família voltou para Belo Horizonte, ficou com os pais dela até que eu alugasse casa, me entrosasse no Rio. Os três últimos são cariocas. Então, eu no Rio e comandando Lafayette, as vendas de Lafayette, as operações de Lafayette, foi quando desenvolve a operação, que eu já falei, da tecnologia do (quenozito?) da recuperação de 7 milhões de toneladas, que eu fiz aquele forno clandestino. Eu já estava sediado no Rio, mas com os meus engenheiros, os dois, não podia deixar de citar: João Epifânio Andrade e Lima e o Celso Magalhães Gomes, superintendente e assistente do superintendente, de modo que já tínhamos na cabeça esse problema da recuperação. Fizemos um novo plano de lavra em Lafayette e Urucum mantínhamos numa escala mínima procurando vender um pouquinho de minério para a Argentina, em pequena escala e para a indústria nacional. Então, era uma operação reduzida, porque a U.S. Steel não tinha mais interesse no minério. E eu preocupado com esse Brasil imenso, desconhecido.


[Troca de fita]


R – Eu estou saindo de Corumbá e voltando para o Rio. Corumbá tinha outras indústrias: a base naval, tinha o exército e tinha a fábrica de cimento Itaú, que a gente mantinha boas relações com elas. Me aconteceu um caso que eu achei muito curioso. Essa fábrica de cimento tinha um restaurante, ela dava comida para eles. Ela era vizinha do matadouro. Um dia, um dos empregados que comia nesse restaurante ficou desconfiado porque tinha galinha todo dia. Ele ia lá no açougue e via umas arapucas, então pegava uns urubus. Estavam comendo urubu misturado com frangos. Quebraram o restaurante. Eu acredito que não faça mal não, porque ninguém ficou doente nem nada. São casos interessantes que acontece.


P/2 – Mas no refeitório da empresa do senhor, a maior parte da alimentação era o que?


R – Em Corumbá, havia muita fartura de peixe e de (carne de boi?). Tanto que na cidade de Corumbá só se comia filé mignon. Toda a carne do boi era feita carne seca, só se comia filé mignon. Se quisesse outro tipo de carne era difícil, músculo para as crianças, tinha de encomendar. Porque tinham os matadouros para exportar carne seca. Boi no pantanal, é o estado que tem mais boi. Até hoje ainda é o maior produtor. Muito peixe. Os empregados gostavam muito de cobra, cobra jiboia. Quem come a cobra jiboia não come peixe. Eu trocava cobra jiboia da operação por peixe, com os empregados.


P/1 – Vocês encontravam muita cobra jiboia lá?


R – Muita. Elas vinham no rio, a hora que tiravam o trator, debaixo do trator estavam as cobras. A cobra jiboia é muito mansa, ela fica ali, eles pegam na cabeça, bate na cabeça. Elas não atacam, só atacam se elas tiverem com fome e você for lá no rio. Fora dela alimentar, a cobra jiboia não ataca, não. Tem muita no Pantanal. Eu não experimentei, não.


P/2 – Aves diferentes o senhor costumava ver, pássaros?


R – Aves e pássaros no Pantanal era uma coisa excepcional, eu nunca vi tanto tipo de gavião, aves. São nuvens e nuvens de aves. É uma coisa impressionante a riqueza do pantanal em aves, animais e tudo. O Pantanal é um outro Brasil. Eu sempre recomendo para conhecer. Agora minhas netas foram conhecer o Pantanal.


P/1 – O senhor falou dos mosquitos também.


R – Em contrapartida tem isso. Mosquito quando vem a ronda dele, tem que estar prevenido. O empregado, num calorão danado, tinha que trabalhar de calça e camisa. E mosquitos lá tinham até máquina de perfurar. Você com roupa nas costas de repente tomava aquela ferroada nas costas. Aquele mosquitão, acho que tinha uma máquina elétrica, uma perfuratriz. Mas isso é Corumbá. Apesar de tudo isso, é um clima saudável.


P/1 – Aí você ia contar de Carajás.


R – Aí eu vim para o Rio e a U.S.Steel, que eu acabei de explicar, em dificuldade de operação no Brasil. Lafayette vendia para a indústria nacional, amanhã podia até gerar um caso, mas não gerava, porque o preço era controlado pelo governo brasileiro. Corumbá também. E eu, querendo fazer pesquisa e a experiência não dava, porque o Código de Mineração não dava garantia para quem partisse para pesquisa. Quando foi em 1964, duas coisas eu tive sorte: veio o presidente da Meridional, em 1963, Robert Louis L’Esperance, que eu dei referência dele, que era um geólogo canadense naturalizado americano e especializado em pesquisa e foi um dos que trabalhou no Gabão. Ele veio para o Brasil. Eu disse a ele: “Vamos fazer pesquisa no Brasil.” Conversamos com a U.S.Steel, ela tinha uma diretoria de pesquisas internacionais de minério: “Não tem jeito por causa desse problema.” Veio a Revolução de 64, ele estava em Lafayette quando estourou a Revolução. Ele veio com as tropas de Minas até Juiz de Fora. Em Juiz de Fora, ele foi retido, porque estava saindo de Lafayette. Ele conseguiu me telefonar: “Como eu prossigo?” “Já dei instrução em Lafayete para facilitar tudo.” Emprestou o caminhão de transporte, o que quiser. “A Revolução é irreversível, o senhor sabe muito bem que eu sou um descontente e é um problema brasileiro. Se o senhor perguntar aí, a empresa dá todo o apoio à Revolução.” Inicialmente era um caso inevitável. Ele acompanhou a Revolução de Lafayette até Juiz de Fora. Depois, no dia seguinte, foi liberado, veio para o Rio, eu já tinha me abastecido em casa, porque a família era muito grande. No dia da Revolução, eu tinha uns parentes me visitando, eu tinha quinze pessoas em casa. Foi rápido. Então, passou-se. Com a Revolução de 64, logo depois saiu o novo Código de Mineração. Essa é a chave do plano de pesquisa. O novo Código de Mineração permitia que qualquer um podia pesquisar em qualquer lugar e o único direito que tinha o proprietário era o royalty. O proprietário tinha direito a um royalty do minério. Mas você era livre para fazer o requerimento de pesquisa, apresentar ao Dnpm, dentro do Ministério de Minas. Mudou completamente o panorama. Saindo o novo Código de Minas, estando liberado isso, eu que era doente pela Amazônia, toda vida fui um apaixonado pela Amazônia, um desconhecido que até hoje é. Comecei a conversar com um senhor, que era geólogo. Ele era um sujeito muito aberto, não tinha esse negócio de ele ser o presidente, eu o vice presidente executivo, com plena liberdade, eu já era bastante conhecido da U.S.Steel, comecei a falar com ele: “O Brasil é o país de área geológica mais desconhecida do mundo.” Ele era muito interessante, tudo que eu falava com ele, ele falava: “Prove!”, então vou provar. Chamei os geólogos importantes: (Otto Leonardis?). Vamos almoçar com o professor (Otto Leonardis?), professor e geólogo famoso no Brasil. Eu na mina, recebia esses professores, dava estágio para os alunos deles, tinha bom relacionamento com a área geológica. Isso é natural em qualquer empresa, estágios, facilitar visita de estudantes: “Professor Otto, eu estou com um problema aqui de convencer o doutor L’ Esperance, que também é geólogo, que o Brasil é a maior área de geologia desconhecida no mundo.” “Mas esse mapa geológico do Brasil?” “Isso é pintado.” Alguém fez o mapa geológico do Brasil, todo bonito, pintado, não aceito. “Qual é sua opinião?” “Doutor Rezende está absolutamente certo. O Brasil não tem conhecimento nenhum. No Brasil inteiro o subsolo é desconhecido em grande parte.” Ele não estava satisfeito, vamos procurar outro. (Glaicon di Pai?), almoço com (Glaicon di Pai?), a mesma coisa. Outro com o grande geólogo que foi diretor do Dnpm, Antonio Jacques de Morais, um grande geólogo também, foi diretor do Dnpm, era autoridade. Almoçamos. Todos eles, infelizmente o Brasil não tinha equipe de pesquisa. A Vale tinha um geólogo, nós não tínhamos geólogos, pobres engenheiros de minas que fazia alguma coisa. Ninguém tinha geólogo no Brasil. Não havia pesquisa organizada.


P/1 – E não tinha nenhuma atividade na Amazônia, nada acontecendo na Amazônia, de mineração?


R – Tinha a Alcan, pesquisando no projeto daquele Rio Trombetas. O diretor da Alcan foi o que me deu o primeiro emprego na Urucum, que era um homem do alumínio, professor Raimundo Campos Machado. Eles já estavam mexendo para bauxita no Trombetas. Já havia essa operação que era conhecido lá, eles estavam tentando isso. Terminada essa minha conversa, eu consegui convencer o doutor L’Esperance, ele elaborou uma minuta de projeto, foi lá nos EUA e apresentou na U.S.Steel, ao diretor de pesquisas internacionais, que era até conhecido, senhor (Arthur Horew?), cuja tese dele era manganês. Ele teve em Lafayette, teve em Urucum e era meu conhecido. Mas o doutor (Arthur Horew?) e a direção da U.S.Steel não aprovou essa pesquisa que eu queria. Passa um ano, o doutor (Arthur Horew?) morre do coração, moço ainda, devia ter seus 50 e tantos anos, teve um ataque do coração. A U.S.Steel chamou o doutor L’Esperance para esse lugar. Eu disse para ele: “Agora não tem mais desculpa, eu quero o nosso projeto de pesquisa.” Ele foi taxativo: “Dê-me seis meses.” No fim de seis meses, ele veio: “Está aprovado.” Olha, eu queria uma verba grande de 3,5 milhões de dólares, para entrar na Amazônia, helicóptero, navio. Eu queria pesquisa para o Brasil todo, vamos fazer uma varredura no Brasil. Ele aprovou e ao mesmo tempo mandou para o Rio, veio o novo presidente, ele mandou o (Tolbert?). Aí que entra o Gil (Tolbert?), que veio mandado para montar a equipe, você indica um mas a equipe vai ser brasileira. O professor (Tolbert?) já falava português e já era professor em São Paulo, na Escola de Geologia de São Paulo. A U.S.Steel criou o departamento de geologia adido a Meridional, eu responsável junto ao Dnpm e junto às autoridades. Enquanto ele montava a equipe, e já que ele ia fazer pesquisa, eu fui junto ao Ministro das Minas e Energia, José Costa Cavalcanti. Fui a ele, o diretor do Dnpm, numa reunião com ele, diretor do Dnpm, diretor jurídico, pelo novo código, ele disse assim: “Você pode ir para qualquer lugar, o novo código permite. Se você quiser ir na minha casa e requerer uma pesquisa, se for de interesse nacional, a pesquisa é prioritária, em qualquer lugar. Qualquer um pode requerer a pesquisa junto ao Dnpm. Se for uma coisa economicamente viável, o proprietário será indenizado e (pagar?) um royalty. O senhor é livre para ir em qualquer lugar.” Mas ele me fez um pedido: “O senhor não me cria caso, não, o Brasil é quase todo… Onde é seu posto?” “Eu vou entrar pela Amazônia.” “Acontece o seguinte: quem é dono da Amazônia? O Pará, é o governo do Pará; o Amazonas é o governo do Amazonas, e por aí vai. O senhor não faça nada sem procurar o dono, para evitar reclamação.” Vamos fazer isso. Vem um caso… Um minutinho só. No governo do Amazonas, fui procurar o governador: “Eu não quero saber disso, não, eu já estou com uns problemas aqui numa cidade do interior, uns problemas de gringos, muita reclamação, gringos andando.” “Mas não tem gringos, minha operação só vai ter brasileiro. Os donos são americanos, mas eu sou o responsável e os geólogos vão ser brasileiros.” “O senhor me dá um prazo.” “O senhor investigue isso aí.” Passado meses: “Os gringos que estavam por aí eram paulistas, para os amazonenses, de São Paulo eram gringos.” Então, ele permitiu e assim foi. O governador do Amapá me deu uma condição que eu achei estranha, mas no fim concordou: “Eu já tenho aqui o Grupo Icomi [Indústria e Comércio de Minérios S.A], o que o senhor quer fazer aqui?” “Senhor governador, o meu plano é fazer uma varredura, lado esquerdo que é o lado Norte e o lado Sul. Eu quero fazer uma pesquisa geral, é do interesse do Brasil fazer pesquisa geológica.” “Então, eu exijo uma condição por escrito que o senhor não vai utilizar a estrada de ferro da Icomi e que não vai entrar em contrapartida com a Icomi.” Realmente, se eu achar alguma coisa vai ser __________. Não deu para entender, mas… A Icomi tinha geólogos dela, mas não tinha pesquisa, tinha geólogo de trabalho. Ninguém tinha geólogo pesquisando. Nesse meio tempo foi montada uma equipe grande. Aí teve uns casos interessantes, porque eles ficaram uns meses na Meridional e tinha um geólogo enorme, grandão. O meu gerente de compras, que era muito brincalhão, colocou o apelido nesse geólogo de “Comida de índio”. A hora que você bater lá na Amazônia, que prato para os índios. Nada, nada, nada, nada, a hora que teve que sair para a vila, ele se demitiu (risos). Aí foi formada a equipe. O início. Vamos iniciar pelo Pará, pelo lado Sul, por Marabá onde já estava lá, por terra, a Codim [Companhia de Desenvolvimento de Indústrias Minerais]. Eu conhecia os geólogos da Codim, já estavam lá. Por terra na Amazônia, você leva um mês para andar uns quilômetros. Por outro lado, surgiu o problema do índio. Era o general Bandeira de Melo, que é o responsável pelo serviço de índio. Procurei: “Você está livre, mas em cada equipe sua eu vou colocar dois homens.” “E quais as suas condições?” “Nenhuma, o senhor não tem que pagar nada.” Olha que existe gente correta: “Eu vou colocar em cada equipe sua, em cada selva, dois indigenista para orientar, o senhor não tem que dar nada, só sustentar.” Eles tinham todo direito aos equipamentos. Tinha sempre um. Nunca tivemos um problema com índio ou com serviço de índio. Uma bandeira de ________ correção do ministro de Minas. Fomos ao governador do Pará, que era o coronel Alacid Nunes, fui também, nesse meio tempo, para poder começar. Lá nós tratamos um advogado para me assessorar, doutor Aquiles Lima. Através do doutor Aquiles Lima, procurou-se o secretário de Indústria e Comércio e nós fomos ao governador Alacid, primeira entrevista para ter a ordem. Eu queria começar por Marabá. Eu tive uma conversa com ele, expusemos, ele muito receptivo. Eu explicava: “Isso é Brasil, desenvolvimento, tudo com ciência, era comunicado ao Dnpm, Ministério de Minas, mas o senhor que é o responsável pelas áreas devolutas, de acordo com a orientação do senhor ministro eu vim aqui.” Fomos conversando muito bem e quando terminou a conversa ele disse uma coisa: “O senhor pode qualquer lugar do estado, menos Marabá.” Danou-se. Saí dali, o palácio é uma beleza, na saída dele eu disse: “Mas que beleza as pinturas do palácio, senhor secretário, vamos ver essas pinturas aqui?” É bonito e a gente gosta. É moça bonita, é rosa, flor bonita. Tudo que é bonito qualquer um gosta. Fiquei vendo aquilo e o secretário falou: “Vem cá”; e me levou para o salão nobre. Entramos pelo salão, aquela beleza. Olha o que acontece: quando nós saímos desse salão, está saindo do gabinete do governador, o geólogo da Codim: “Já vi tudo.” A pedido dele, não vá para Marabá. Voltei, vim para a Meridional. Era outro presidente, o Tolbert: “E agora como faz? Está tudo pronto para desencadear.” “Deixa comigo” Voltei ao governador: “Senhor governador, o senhor está certo, a gente ia fazer besteira de ir para Marabá, porque eu tenho muitos colegas aí da Petrobrás. O negócio é do Rio Xingu para lá, para cima, pra cá não tem nada, não.” Então, nós vamos para Altamira, que era a cidade mais próxima, já tinha até reservado uma pensão grande para alguns geólogos: “Nós até já arrumamos um lugar lá, nós vamos para Altamira. Dentro de pouco tempo, é só uma questão de providenciar, está tudo certo, pelos indícios que eu tenho o negócio é para lá.” Quando chego, daqui a uma semana, antes de irmos para essa pensão, a Codim saiu de Marabá e se instalou lá. Espionagem industrial, muitas vezes vai no piu. Tiramos a Codim de Marabá e fomos para lá. Não sei o que fizeram: “Senhor governador, já que o senhor não quer duas operações juntas, nós vamos subir o Rio Xingu, uns 400 quilômetros, para a Ilha de São Francisco, que era na altura de Carajás e instalamos o nosso departamento lá.” Proibimos o helicóptero, que trabalhava para eles e pra nós, exigimos no contrato com a _____ com piloto próprio. E um aviador, o Breno deve ter falado, Adão, que conhecia a Amazônia pela copa. Quando a U.S.Steel visitou Carajás pela primeira vez, ele foi junto com o piloto para indicar onde era o campo lá em Carajás. Adão conhecia aquela região toda como a palma da mão dele, tinha um aviãozinho que também foi contratado para abastecer a base. Fizemos uma base lá. É muito complicado, helicóptero, suporte. E de lá, o que nós fizemos, bom, não temos mais que dar satisfação. Saímos na direção de Carajás, 400 quilômetros e viemos vindo. De helicóptero, tem um limite de voo. Você ia e abria uma clareira. O homem descia na corda, abria uma clareira, cortava umas poucas árvores, na conta de descer o helicóptero. Essas árvores têm mais de 60 metros de altura ou mais. Aquilo ali é uma beleza e o chão embaixo é limpo. Descia o helicóptero, fazia uma base de helicóptero ali. Você andava 50 quilômetros e fazia uma base. Abastecia essa base: combustível, comida etc. Como você ia achar uma base dessas? Se você saísse dali, você nunca mais achava. Você fazia, juntava um montão de folha e punha fogo, e ficava uma fumaça permanente. Você via aquela fumaça de folha verde e não tinha perigo de incêndio nem nada. Amazônia é limpa por baixo. Não tinha perigo de alastrar, de fogo. Era só para fazer na clareira uma fumaça. Quando o helicóptero voltava, já sabia onde ia. E daquela base ia para outra, nós íamos vindo por cima da Serra de Carajás e fazia outra base de 50.


P/1 – Mas o objetivo já era pesquisar Carajás?


R – Já e vou dizer o porquê. O objetivo é ir a Carajás, porque quando nós fomos, eu fui questionado que havia um projeto Araguaia, um novo projeto que o Dnpm tinha lançado e que deu a Serra de Carajás como calcáreo. Eu, como conheço todos os geólogos, quase todos passaram por Ouro Preto. Naquela época, era a escola que mais tinha geólogo, conhecendo os geólogos da região, quem fez esse projeto, cá comigo, eu tinha quase certeza que nenhum geólogo tinha ido lá. Em termos da Amazônia, eu era incrédulo. Eu não aceitei. O professor L’Esperance mandou notícias de lá com o presidente daqui: “Já sei como nós vamos fazer.” Tem uma solução: para saber, antes de partir para lá realmente, nós contratamos a Cruzeiro do Sul, que tinha uns voos magnetométricos. É um aparelho que acusa ferro, acusa por um ímã. Se você sobrevoa uma parte de ferro, isso foi muito usado aqui no quadrilátero ferrífero, ele dá acusação. Se não tem ferro…

Sobrevoou Carajás e deu anomalia máxima, quase que estoura o aparelho, só podia ser uma bruta massa de ferro. Então, já sabíamos que tinha uma bruta massa de ferro. A U.S.Steel nem pensava em ferro: “Ferro na Amazônia? Está louca.” A U.S.Steel tinha um contrato de ferro, tinha suprimento de ferro normal com a Vale do Rio Doce de Vitória, tinha uma empresa no Canadá e uma empresa na Venezuela. Então, ela estava cheia de minério de ferro, não era problema. E tinha no próprio EUA grandes reservas que tinham de ser tratadas. Então, minério de ferro não interessava, mas acontece que o minério de ferro era pré-cambriano, e o manganês e o ferro estão no pré-cambriano e quase sempre juntos, em muitas partes, tem no Gabão, nas Minas Gerais. Ferro e manganês estão perto, porque são da mesma natureza de deposição. Isso aí há alguns milhões de anos. Já sabíamos que havia ferro ali, o interesse era de procurar o manganês. Nós viemos por cima da Serra, porque sabia que a Serra era de ferro. Vivemos um pouco a 50 quilômetros ao Norte, mesmo porque um dos nossos orientadores, que foi da Petrobrás, ele estava de licença, era do conselho da Petrobrás e também gostava muito da Amazônia como eu. Ele tinha andado pela Petrobrás pela região. Lá nessa região, ao Norte da Serra de Carajás, tem um campo de pouso chamado Castanhal e tinha uma tribo de índio lá. Esse povo de índio, em Castanhal: “Quais são os donos para a gente descer lá?” “Aqui não tem dono, não, você vai e desce, se o dono aparecer, você combina com ele. Você desce lá.” E assim a gente veio fazendo: viemos vindo, 50 quilômetros e chegamos lá nesse Castanhal. E tinha uma tribo de índio e de acordo com orientação, ninguém ia para a tribo de índio, porque é natural, índias e geólogos no meio do mato, isso é um fenômeno natural que podia acontecer alguma coisa. Então, o acampamento nosso era longe. Nesse acampamento de índio estava sem rádio, a gente deu assistência, deu comida, pegou o rádio deles, consertou, tinha um padre missionário que aculturava os índios, demos toda assistência a tribo e não tivemos reação nenhuma, porque tinha um indigenista com a gente. Viemos vindo e nessa subida chegamos a Azul, manganês de Azul. Foi descoberto o manganês de Azul. Mas nessa transição, aparece Carajás. Eu não sei se o Breno foi o primeiro que desceu. A Serra do Carajás era limpa, tanto que deu até um campo, em cima era uma canga. Não existe no mundo nada igual, em termos de reserva, de qualidade de minério de ferro. Ela é dez vezes maior que qualquer reserva no mundo. Eu considero Carajás como uma maravilha, um negócio impressionante. Chegamos, numa dessas o Breno desceu lá, numa carreira, Carajás é imenso.


[Troca de fita]


R – Nesse meio tempo descobriu manganês de Azul, 50 quilômetros acima. Isso é o que interessa, mas aí o professor ______ indo lá visitar, chamou atenção que era um negócio impressionante. Chegou para a U.S.Steel e disse o seguinte: “Olha, a reserva de ferro lá é impressionante, é alguma coisa que merece atenção, e nela pode estar o manganês.” A U.S.Steel mandou um técnico de ferro da Austrália que estava pesquisando manganês na Austrália. O geólogo (Tremeni?) veio e constatou que realmente o negócio era impressionante. E como vamos fazer? A primeira coisa que vai fazer é ficar quietinho e requerer, preparar os requerimentos, requerer não. A U.S.Steel tinha aceito a minha recomendação e do doutor Alberto que ela nunca tentasse ter mais de 49% em qualquer operação no Brasil. Nós tínhamos aquela célebre operação em Minas e os americanos quiseram ficar sozinhos e não foi assim. Politicamente, o Brasil não aceitaria uma empresa americana numa grande reserva de minério sozinha. Para evitar isso eu já preveni ela e ela compreendeu. Como nós vamos fazer para requerer a área, que era imensa sobrevoada. Sabe o que é 400 km2 ? Uma imensidão. Aí precisava da Meridional, cada área era de mil hectares, cada área requeria mil hectares, cada indivíduo podia render cinco ______. Ela criou algumas subsidiárias, que é a Mineração Xingu, Mineração Carajás, Mineração Tapajós. Cada uma delas requeria cinco. Criou quatro empresas dessas e mais empregados, advogados, arranjou 70 indivíduos para requerer junto. Esse requerimento foi um requerimento, foi uma associação, ela se associou com esses indivíduos. A U.S.Steel se associou com esses indivíduos em cartório, em que ela dava garantia financeira, dava serviço de pesquisa e depois comprava os direitos minerais. Em caso de desistência, pagava uma taxa, que foi elaborada naquela época de 25 mil cruzeiros. Se não desse nada, cada um recebia 5 mil por cada área. Cinco áreas cada um, 25 mil. Cada área de cinco hectares. Então, assim se fez. Preparou em nome de quase 70 indivíduos, com isso dava para cobrir toda a região. Ela própria, as subsidiárias. Eu entrei numa das áreas básicas. Eu tinha então 5 mil hectares da melhor área de Carajás. Eu era dono do coração de Carajás, é claro que eu fiquei logo no coração. E outros colegas e tudo. Feito isso, tínhamos problemas políticos, apresentar todos esses requerimentos de uma vez no Dnpm. Cada um com cinco requerimentos, centenas de requerimentos para requerer. Isso tudo foi desenhado, programado, feito, e de repente com um cara lá na fila do Dnpm. Aquele mundo de pesquisa. Tinha um problema político. A U.S. Steel precisava de anunciar essa descoberta lá. Ela tinha dez dias para anunciar lá e no Brasil, por causa dos acionistas. Pela lei americana, a U.S.Steel descobriu uma grande reserva de minério de ferro na Amazônia, simplesmente saiu uma noticiazinha e nós também, uma noticiazinha. As coisas eram todas em código. A descoberta de Carajás era toda em código, um caldeirão fervendo, tem isso lá no museu da Vale. Bom, foi feito isso. Ninguém se impressionou, descobriram um mundo de terra na Amazônia, fazer o que? Não tem valor nenhum, manganês… Bom, começou os estudos preliminares, chegou-se a conclusão que era um negócio impressionante. A Vale não podia procurar a Icomi que também era ligada a americana. Ela precisava de mais sócios: “Vamos ver se despertamos o interesse da Vale.” Procuramos a Vale do Rio Doce e comunicamos a Vale: “Nós descobrimos uma grande reserva de manganês lá na Amazônia etc.” Nós éramos muito amigo do diretor comercial, general (Rangel?), que a U.S.Steel comprava minério dele. Fomos num almoço, eu já tinha um diretor comercial meu, fomos almoçar: “Esquece isso, mas em todo caso eu vou conversar.” Foi lá na Vale e conversou. A Vale disse: “Não quero nem conversa.” A Vale não queria nem conversa. Eu fui na Dnpm, comuniquei a Dnpm, está um problema isso aí: “O que eu posso fazer aqui, de acordo com os pedidos do ministro é o seguinte…” O Dnpm era rápido em autorizar a pesquisa: “Atrasa essa pesquisa, porque eu não tenho condições de começar essa pesquisa lá e nem interesse.” Então, o negócio ficou na água morna. Voltamos, vamos almoçar de novo: “Senhor Rangel, faz o seguinte…” Ele alegou muito certo, a Vale estava implantando o projeto Tubarão, expansão de Itabira, 500 milhões de dólares, reformulação do porto de Tubarão, construindo estrada de ferro, modernizando a mina. A Vale estava envolvida em um grande projeto. Eu, como sempre: hoje aqui, e amanhã?: “General Rangel, vamos pensar o seguinte, podia pelo menos a Vale mandar alguém olhar lá. Digamos o seguinte, daqui a vinte anos. O que acontece se a U.S.Steel procurar um outro sócio e desenvolver uma mina lá? O minério de alta qualidade, uma reserva fabulosa, no futuro pode ser um problema para a Vale.” Ele voltou a Vale. A Vale conseguiu que o Dnpm mandasse para lá uma visita, mas a Vale que mandou, que tinha um geólogo, José Eduardo que era o geólogo da Vale e um assessor que era do professor (João Formi?), que era professor também e era assessor do professor de geologia, conhecido também. O Dnpm nos comunicou que ia mandar lá dois geólogos para visitar: o professor (Formi?) e José Eduardo da Vale: “A Vale não tem nada haver com isso.” A Vale não queria nem se envolver em visitar Carajás. Mas os geólogos foram lá, visitaram. Em palavreado comum, o queixo caiu. Voltaram. O presidente da Vale era o professor Dias Leite. Aí com muito custo, com mais algumas reuniões, a Vale falou: “Nós podemos ter uma conversa preliminar.” Como fica isso? A Meridional, nos primeiros contatos…

Da parte da Meridional ia o presidente, ia eu e o doutor Alberto Torres e da parte da Vale tinha o presidente Dias Leite, doutor Mascarenhas, que é um grande administrador, eu tiro o chapéu pra Vale por um alto conhecimento, um alto equilíbrio, tinha o diretor financeiro deles, o Marinho, o doutor Hélio

____ e outros diretores da Vale. Tivemos uma primeira reunião. Ficou o problema seguinte: “Nós não podemos entrar nisso dessa maneira. Qual é a garantia da Vale entrar nesse projeto de tanta gente envolvida? Não tem interesse, mas pela importância do negócio, vamos estudar uma solução.” Então, surgiu a ideia de se criar uma empresa, Amazônia Mineração foi criada para cuidar desse projeto. Criada a _____ Amazônia, que foi parte da Vale, parte da Meridional, dois diretores da Meridional foram: eu como diretor, vice presidente não fui para a Amazônia, porque eu era o responsável da Meridional junto a Vale. E a Vale tinha também um diretor que só tratava junto a Meridional, independente da Amazônia. A Amazônia era uma empresa nova, Meridional investiu, veio gente da U.S.Steel e da Vale. E aí surgiu uma ideia de reformular esses pedidos. O Dias Leite saiu da presidência da Vale, assumiu o doutor Mascarenhas. Dias Leite foi para o Ministério de Minas e nas conversas com eles, ele sentiu a importância do negócio. E sabe qual foi a dificuldade maior? O Código de Minas que só dava 5 mil hectares por indivíduo. Na Amazônia, por uma área daquelas, não tinha jeito. Já conhecendo esse problema, primeira coisa que o ministro fez foi alterar o Código permitindo que cada indivíduo poderia ter 10 mil, cada um teria 50 mil hectares. A Vale teria 50 mil, a Meridional 50 mil, as subsidiárias e assim os indivíduos. Isso foi feito, as coisas estão conversando. Feito isso, baseado nessa conversa foi feito o seguinte: a Vale e a Meridional vão preparar novos requerimentos para cancelar os primeiros e entrar com os novos. Isso tem que ser feito de um dia para o outro. Então, o primeiro trabalho da Meridional foi preparar todos esses requerimentos. Como eram esses requerimentos? Um jogo de xadrez. Nem a Vale confiava muito na Meridional, nem a Meridional confiava muito na Vale. Um quadrado para um, um quadrado para outro, como jogo de xadrez. Fizeram um xadrez cobrindo Carajás das duas empresas, bem misturados. Bom, preparado isso, voamos entrar no Dnpm, tinha outra dificuldade. Todos nós que éramos associados da Vale, tínhamos que desistir, tínhamos um contrato legal, registrado em cartório, que eu era sócio da Meridional, que eu tinha aquele direito, juridicamente era legal. Tinha que cancelar aquilo. Eu até trouxe aqui, o requerimento registrado em cartório para desistir. Como que eu vou abrir mão de 5 mil hectares no coração do Carajás? Muito simples: primeiro o interesse do Brasil, segundo que eu sozinho não ia fazer nada. Nós éramos quase 70 indivíduos, como que ia convencer esse pessoal? Eu fui o primeiro que tive que assinar a desistência, eu era o Relações Públicas da empresa, e fui a todos. E tinha objeções. Tinha um que era advogado, você legalmente não precisava de ter assinado. Legalmente, todo mundo tem direito, é sócio da U.S.Steel, mas acontece o seguinte, lá é Amazônia. A U.S.Steel até que ponto ela vai querer investir numa operação desta que deve ser milhões de dólares; segundo, agora vem o interesse do país, se nós não fizermos isso dentro de um prazo, se a Meridional ficar parada, de acordo com o Dnpm, isso pode caducar, você tem prazo para agir. Saindo a licença tem prazo, e essa licença implica despesa _______ da Meridional. Eu ia em cada um e dizia o seguinte: “Nós aconselhamos a desistir e receber a cota mínima, que era 25 mil cruzeiros, uma ninharia, mas era esse o (valor?), mas tem uma outra alternativa. Se isso, se ninguém assinar, o Ministério de Minas pode declarar caduco essa nossa intervenção, anular tudo. Pode. Desinteresse do país. Nós não podemos, infelizmente querer, o negócio é tão grande que se fosse uma outra jazida, nós poderíamos pesquisar.” Todos assinaram a desistência, receberam 25 mil, que eu comprei uma mobília para minha casa de Jacarandá, minha cota de Carajás. E foi feito o requerimento em nome da Amazônia, da Vale do Rio Doce, mas a Amazônia supervisionando. Ao mesmo tempo que apresentou hoje a desistência ao Dnpm, no dia seguinte, para que ninguém atravessasse, nós entrássemos com o requerimento. Quando amanheceu, quando abriu a porta, já tinham três indivíduos cheio de projetos, requerimentos. E assim foi feito, a Vale e a Meridional e suas subsidiárias requereram essa…


P/1 – A Codim não se meteu na história?


R – A Codim não. Eles andaram dando umas demissões lá e tudo mais. Eles quiseram ficar sozinhos, ficaram sozinhos lá em Marabá e até hoje não tem notícias de manganês lá. A estratégia funcionou. Bom, está criada a Amazonas. O que aconteceu? A Vale, envolvida naquele projeto, através da Amazonas, contratou a Meridional, para que a Meridional fizesse a pesquisa. O plano de pesquisa que nós fizemos, quem assinou esse projeto de pesquisa foi seu criado. Eu era o responsável junto ao Dnpm, eu, Newton Pereira de Rezende. Não fui eu, foi uma equipe, mas a responsabilidade original, a minha assinatura e foi apresentado ao Dnpm. Esse plano de pesquisa de Carajás foi único, foi o plano aprovado mais rápido, em 30 dias estava aprovado. Ele gera interesse do Ministro de Minas, do Dnpm e a Meridional assinou um contrato com a Vale, que era responsável. Eu era o responsável nessa pesquisa junto a Vale e a Vale tinha o direito de botar funcionários também lá, com a Meridional, que o orçamento dá. A Vale tinha dois representante junto a Meridional: um era o doutor (Pragana?) para operação e outro, que vocês conhecem ele, doutor Costa e Silva para a parte contábil. Todo _________ não saia da Meridional, ficou um grande amigo, um grande ______ doutor Costa e Silva, que acompanhava todo esse projeto, as despesas, toda a escrita separada da Amazonas, tudo isso controlado pela Vale. Isso foi feita a pesquisa. A pesquisa eu tive dificuldades, porque já tinha um outro presidente. Eu custei a aprender que o presidente, que vendeu Lafayette, e eu também custei a entender que esse presidente queria empregar americanos: “Eu tenho os geólogos, os técnicos de alto gabarito.” Eles convidaram até para me satisfazer, esses geólogos. Sujeitos de nome, importantes. Davam castigo aos funcionários a esperar horas, e depois por qualquer razão se desinteressavam. Foi trazendo um, foi trazendo outro americano. Eu só posso apertar esse pessoal. Aí pedi a Vale e ela botou três geólogos lá: Wanderley, ____________, _________. Eu estou contando essa história de Carajás, esse plano de Carajás, que foi um sonho meu. Hoje tem muito pai de Carajás, são parentes que eu estou dizendo. Todo mundo descobriu Carajás, todo mundo é dono de Carajás e quem bolou o plano foi eu e Robert L’Esperance, este foi o homem que conseguiu a autorização. As ideias são minhas, mas eu considero ele como o pai. Nós dois é que idealizamos essa coisa toda. Robert foi contratado para executar, Breno e muitos outros, muitos geólogos foram contratados. Quando Breno desceu lá por acaso eu disse: “Breno, você estava lá por acaso?” “Não, eu estava mandado lá.” Acho que teve um outro antes dele lá, mas não comunicou. Bom vai haver um projeto de pesquisa, ai que dor de cabeça! A Meridional contratou um grupo para perfurar, que era um grupo que estava acostumado a perfurar petróleo. Eu sou o responsável técnico, vou ficar de olho. Os geólogos sérios, muita dificuldade de trabalhar na Amazônia, em Carajás. O projeto de pesquisa teve muito problema, mas eu atento, os geólogos lá, eu tinha também meu pessoal. Botaram um superintendente americano que alegavam, a turma dizia que ele fazia umas coisas lá arbitrárias. Eu descobri que ele não fazia nada sem ordem do presidente. Eu fui descobrir que quem não queria os brasileiros lá era o presidente da Meridional. Essas coisas você aprende, porque vê o nome dele _____ até a saída de Carajás. Mas eu era o responsável e eles me obedeciam. O que era parte de tecnologia, Dnpm, os contatos, me deu mais trabalho, mas ficamos junto com a Vale. E o doutor Mascarenhas que era o presidente, esse era um homem admirável. Eu lembro, porque numa operação dessas, tem sempre umas bobaginhas. Eu lembro que o doutor (Pragami?) não gostou, porque o superintendente viu um carro importado, mandou vir umas tintas especiais, porque a mulher dele queria o carro de tal cor, os banquetes, as comemorações, as relações públicas lá no Pará. (Pragami?) me trouxe ao conhecimento: “Eu lamento muito, agora isso aí, a gente tem que ficar atento ao andamento do projeto, agora vamos ao doutor Mascarenhas.” Fui eu e o doutor (Pragami?) ao doutor Mascarenhas. Foi lá, ele falou tudo, deu as queixas dele ao Dnpm: “O doutor Rezende está sabendo de tudo?” “O que se pode fazer a gente está fazendo, doutor Mascarenhas.” Ele virou para o doutor (Pragami?) e disse o seguinte: “Doutor (Pragami?), a menos que, afete o orçamento, nós contratamos esse projeto de pesquisa de Carajás para a Vale num custo x. O custo do projeto é metade da Vale, metade do grupo da Meridional. Estando dentro disso, eu não quero (meninos?) lá, eu não posso entrar nisso, porque nós contratamos com a Meridional. Todos caminhos levam a Roma, quer dizer, você tem várias maneiras de fazer.” Aí o doutor (Pragami?) ________, que eu gosto muito dele, me ajudou na Vale Sul, então vamos tocar esse projeto e vamos botar alguns freios. Nós mesmos falamos: “Não pode acontecer desvio de verbas. As verbas são especificamente para aquilo que é afetado nas pesquisas, porque temos os sócios.” Demos duro. Nesse ponto eu era ouvido. Agora, contratar gente que eles não queriam que eu botasse meus elementos lá e queria gente americana até certo ponto. Eu chamei atenção de geólogos da Vale e começaram a trabalhar junto. Projeto foi, é uma coisa grande, levantamento. Quem fez a topografia da região foi o Serviço Geográfico do Exército, antes já. Nós procurávamos os melhores. Foi contratado, o Dnpm atento, acompanhando, na base do Pará. Mantinha contato com a administração do Dnpm, setor jurídico. Qualquer problema que surgia era resolvido, porque pesquisa na Amazônia não estava previsto no Código. Precisava fazer demarcação, 400 quilômetros na selva, não dava. Precisava ser feito por triangulação. Aí o Serviço Geográfico do Exército que fez etc. Tudo isso foi feito e foi constatado uma coisa, que cinco anos depois a localização da jazida em relação ao mapa, havia um deslocamento de 50 quilômetros. No estrelar já havíamos constatado isso, havia uma defasagem geográfica da localização da serra, então ela estava mais ao Sul do que nos mapas antigos. Projeto de Carajás foi pesquisado, aí foi feito um relatório de pesquisa, (unificar?) aquilo tudo para ser preparado o plano de lavra. Estava tudo encarregado pela Meridional. Então, são um volume de mapa de Atlas de desenhos, quatro volumes de descrição. No Museu da Vale tem um, em casa eu tenho um exemplar que tem minha assinatura, aliás não é só minha, não. Depois de pronto isso, eu disse para a Meridional: “Quem vai rever isso para assinar é um geólogo de nome brasileiro.” Quem vai assinar, eu contratei um professor de Ouro Preto que tinha trabalhado no quadrilátero ferrífero, falava inglês perfeitamente, porque tinha que fazer a versão portuguesa e a versão inglesa. Fizemos o projeto e nós dois assinamos o projeto, tem lá nossa assinatura. Foi feito o projeto de pesquisa e foi aprovado em um mês, aí veio o plano de lavra. Plano de lavra já passou para a Amazônia, aí a Meridional cumpriu a cota dela, já passou para a Amazônia. Agora vou dizer o seguinte: o relacionamento da U.S.Steel, em relação a Carajás, com a Amazônia não foi fácil, porque a U.S.Steel, eu senti que o presidente não queria que eu (ingerisse?) nos problemas da Amazônia. Eu tinha muito que fazer, eu era representante da Amazônia junto a Vale, se a Vale tinha algum problema, eu tratava com a Vale, quando ela tinha algum problema direto, não da Amazônia, com a Meridional, vinha para mim; e contratava os técnicos para trabalhar, reuniram os técnicos da Amazônia para fazer os projetos, pra fazer tudo. Eles tinham mandado um engenheiro de alto gabarito, mas eu acostumado com os americanos, muitos anos, eu entrei em 1949 aí em 1970 e tantos, senti o seguinte: ela trazia os americanos de alto gabarito e sentava lá junto com a Vale. Esse americano não sabia nem o que era o Brasil, é dos tais americanos que acha que a capital do Brasil é Buenos Aires. Isso é verdade, porque a gente vê muito nos jornais, que o Brasil fala espanhol…


[Troca de fita]


R – … Cultura de geografia, mas que eu tinha conhecimento. Então, eu fiz uma carta ao meu presidente sugerindo o seguinte: “Os elementos que a U.S.Steel vai mandar para sentar junto a Vale, eles não sabem quem é a Vale, quem é o Brasil. Por favor, mande eles lerem jornal, ficarem aqui comigo um mês, ou quinze dias pelo menos para eles conhecerem a nossa operação Lafayette, conhecer o Brasil, conhecer São Paulo. Conhecer o que o Brasil é, conhecer São Paulo dá uma boa ideia, ela tem um nível industrial de primeiro mundo. Para conhecer a Vale, conhecer a operação da Vale, saber quem é a Vale, Itabira e depois desse conhecimento eles vão sentar juntos.” Mas não dava atrito, as tantas a Vale tinha que tirar um elemento, botar outro e assim foi, chegaram a conclusão do projeto. Nesse meio tempo o doutor Mascarenhas saiu e entrou o novo presidente da Vale, que já faleceu, Fernando Roquete. Fernando Roquete, conhecido diretor financeiro ________, conhecia de menino que ele era vizinho quando ainda morava em Belo Horizonte. Era meninote, era muito meu amigo, amigo da família da minha mulher. Eu tinha intimidade com ele. O Roquete era um sujeito aberto, ele queria fazer o melhor. O negócio está nesse impasse, Roquete um dia me chamou: “Eu vou ter que dar duro lá na Amazônia, porque tem umas coisas que eu não aceito.” “Doutor Roquete, pelo que eu sei, o senhor é livre, o senhor é responsável pela Vale. Eu, como representante da Meridional aqui, eu sou brasileiro e sei que tem coisas que tem que ser melhoradas. Se é para melhorar, da minha parte o senhor é livre.” Mas feito o projeto, como vai iniciar? A U.S.Steel nesse meio tempo resolve sair de todas as operações no mundo. Saiu da Austrália, saiu do Gabão, que era associado com os franceses, vendeu os direitos dela para o Gabão, com um contrato só de compra, saiu da África do Sul, saiu da Bolívia, saiu do Peru, tinham muitas minas de estanho, zinco, tudo do mundo inteiro. Houve uma retração da U.S.Steel em que acabaram com o setor de mineração. Saiu da Venezuela, ficou o Canadá devido a uma associação que era vital. Mas a U.S.Steel recuou, saiu de Lafayette. Vendeu Lafayette que eu já falei, vendeu Urucum para o grupo Chama, deu porque no contrato não permitia vender; foi uma dificuldade o Grupo Chama aceitar, porque ela cancelou o contrato, mas com muita conversa aceitou o seguinte: ela queria a navegação. A U.S.Steel disse que a navegação estava em nome de outra firma, essa não vou dar. Vendeu todo esse conjunto por preço de banana, preço de uma barcaça. Vendeu para um gaúcho para transportar soja. A U.S.Steel perdeu tudo ali. Numa área que ela investiu mais de 3 milhões de dólares, aí a minha conclusão é que havia alguma coisa ligada ao governo americano de garantia de manganês. Minha impressão de Newton Pereira de Rezende, eu nunca consegui esse depoimento nesse sentido. Essas dificuldades minhas com L’Esperance na U.S.Steel, eu procurei me aproximar dele para resolver os projetos que tinha. Ele me disse: “Olha, a U.S.Steel é uma operação estanque, eles não aceitam interferência de uma área em outra área. É uma firma que tem de tudo. Tem petróleo, tem siderurgia, tem cimento, tem mineração. Eu prefiro que você não insista comigo pra eu entrar nisso.” Está muito bem. Fiz uma carta para o presidente da Meridional dizendo o seguinte: “Nos termos em que as coisas estão andando, a U.S.Steel não vai conseguir se manter em Carajás, porque a U.S.Steel saiu. Vamos aos pontos certos: feita essas negociação, a Vale, tudo.” A Vale entendeu a importância daquilo lá, a U.S.Steel era um projeto na ordem de 3 a (4 bilhões?) de dólares, em princípio: mina, estrada de ferro, porto. Era um projeto caro. A U.S.Steel não concordava em participar da construção da estrada de ferro, porque estrada de ferro é direito do governo brasileiro. Ela cede para a Vale. Tinha acontecido até um fato, ela tinha ocupado a estrada de ferro da Vale do Rio Doce, depois desocupou, (sumiu?). A Rede Ferroviária Federal durante um certo tempo, pouco tempo, rapidamente encampou os direitos dela junto a Vale. Foi um choque para a U.S.Steel, depois cedeu. A Vale: “Eu não posso fazer o projeto Carajás sem fazer estrada de ferro, não adianta eu investir na mina e no porto sem ter garantia de transporte”, que é a grande experiência da Vale: mina, transporte e porto. Criou um impasse. Essa foi uma das razões, segundo a U.S.Steel não estando interessada, se retirando do mundo inteiro. Vamos só aos resumidos, eu tentei uma solução. Como o contrato dela com a Vale permitia direitos junto ao ferro e ao manganês que já tinha ocorrido, já tinha descoberto o manganês do Azul e qualquer outro minério ______ podia ser, você como cliente da Vale, você como compradora de minério fica com 10%. Não quiseram. Tinha mais uma razão, qualquer minério que ela tirasse, não permitia benefício nenhum, qualquer minério que ela comprasse, mesmo minério de manganês dela que ela exportava, era preço internacional, controlado pelo Dnpm. Mas se é a preço internacional, eu não preciso investir. Aí aconteceu no mundo inteiro. Aí ela não tinha vantagem de operar ou de investir, tinha sim de garantia. Até que ponto o governo americano incentivava as suas firmas a ter garantia de fornecimento de minério. Apaziguamento da situação internacional, esse é um dos pontos que levaram, ela se retirou do mundo inteiro e se retirou de Carajás. Essa foi a minha participação, tenho ali a documentação que eu saí. Tem mais uns dois ou três detalhes de pesquisa curiosos. Eu tenho que louvar um negócio. Com essas pesquisas nós varremos a Amazônia inteira, Norte da Amazônia e o Sul, milhares de pesquisas. Em Minas Gerais, teve esse projeto de fosfato em Itabira, fomos nós os primeiros que estivemos lá, tudo descoberto pela Meridional. Tinha uma equipe do (João Gilberto Lírio?) no Sul. Então, nós tínhamos a maior equipe de pesquisa. Nós tínhamos milhares de requerimento junto ao Dnpm, o ministro Dias Leite vendo isso e o Dnpm assustado: “Nós temos que acordar!” Criou a Cprm [Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais] e as outras empresas, a Vale, começou a criar departamento de geologia, a Icomi. Um caso interessante, na Icomi nós pesquisamos a área da Icomi, requeremos todo manganês em volta da Icomi, mas tudo secretamente, de helicóptero, mas sabe o que aconteceu? Isso é um fato interessante, o nosso helicóptero caiu no terreno do superintendente da Icomi, Marota. A Icomi assustou, nessa hora nós aceleramos os requerimentos, estava tudo pronto. Requeremos ao Dnpm, a Icomi tentou requerer, estava toda cercada já de requerimentos da Meridional. Tinham umas áreas de manganês, a gente requeria pra valer. Bom, isso aí foi um requerimento. Resultado desse requerimento ________. Meridional, a Icomi que era (betaly stile?), a Meridional desistiu desse projeto, a Icomi requereu. Lobo não come lobo (risos). Outra coisa que a U.S.Steel fez que eu não concordava, vou dizer em pesquisa que isso é muito importante. Ela, no começo, não quis nenhum requerimento de ouro. Eu queria que ela requeresse qualquer coisa, nossos geólogos, só no final, depois desse período todo, que passou a requerer outras coisas. Ela só queria requerer matérias ligados a siderurgia, foi o caso dos fosfatos de Itabira, que depois desistiu em favor da Vale também. Ela não requeria. E também mais uma coisa que eu acho grave no Código de Mineração e que eu quero depor aqui. Com esses geólogos, nós varremos a Amazônia, foram em lugares que nunca mais talvez volte ninguém. Todos os relatórios eram apresentados ao Dnpm, mas uma coisa me doía, eu pedia ao Dnpm, fui as autoridades brasileiras para que permitisse que os geólogos brasileiros levasse o contador geiger para pesquisar urânio. Urânio é o minério do futuro também, porque ele vai passar em alguns lugares com a seguinte condição, qualquer coisa que descobrisse, seria comunicado ao Dnpm. Tem um exemplo disso, nos EUA as jazidas de urânio são descobertas por caçadores, qualquer caçador nos EUA usa contador geiger, porque se eles descobrem, comunicam ao governo e recebe um royalt. Eu nem pedi royalt. Eu queria que os geólogos brasileiros ajudassem a descobrir o Brasil que é desconhecido. Isso não foi aprovado, nem no Código novo, insisti, até hoje o Código não permite isso. Simplesmente a resposta que eu recebi foi a seguinte: “Se algum geólogo seu for encontrado com um contador geiger, será preso.” Eu acho isso um absurdo, porque não é só geólogo que pode descobrir. Nos EUA, caçadores, qualquer indivíduo pode pesquisar. É um aparelhinho que acusa.


P/1 – Mas por que essa reação tão desproporcional?


R – Eu chamo isso de nacionalismo falso. Eu sou patriota, mas não sou nessa (linha?). Trabalhei toda vida com americano, não quis ser nacionalizado americano, e nunca me abaixei. Nós podemos trabalhar conjunto, com geólogos americanos ou com quer que seja. Nós devemos ser patriotas, corretos. Não devia haver corrupção, nas áreas que eu trabalhei, pode haver alguma coisa, mas não a corrupção deflagrada, porque isso é uma coisa contra o Brasil. São coisas que não devia existir, mas existe. Mas, infelizmente, a situação do nosso Congresso…

Mas até hoje não, porque é _____ de alto interesse nacional, mas só que não descobre, está aí. Deve ter muita jazida de urânio nesse Brasil que não está descoberto. Eu penso assim. Resultado: criou a Cprm, todas as empresas, a Vale criou… Quando nós paramos, a nossa equipe foi para a Vale. Primeiro ela criou uma empresa particular, depois foi absorvido pela Vale. Todas as empresas passaram a criar. Eu e L’Esperance deflagramos a pesquisa do Brasil. Eu digo para os geólogos: “Olha, eu sou mais engenheiro de minas, mas sou geólogo também.” Eu sou pai da pesquisa geológica do Brasil, de incentivar. Com essa descoberta, todo mundo criou. Antes da nossa data, quem tinha uma equipe de geologia? Não tinha. Isso é muito importante frisar aqui. Isso é um bem que o americano fez, descobrir isso. Saiu, recebeu neste contrato, recebeu as despesas, registradas que o doutor Costa e Silva controlava. Todas as despesas que a U.S.Steel teve nos EUA e que não foi contabilizada na Meridional, mais de 10 milhões de dólares, ela não recebeu. De mandar técnico, analisar material. Eu não vejo mal, ninguém carrega minério no bolso. No início nós tivemos um problema: o professor (Tolbert?) foi preso um dia, porque havia um contrabando de ouro muito grande. Eu tinha contato com as autoridades, com o Brigadeiro; lá pelas tantas, o (Tolbert?) entra num avião e é preso, em Brasília, ao descer com uma maleta cheia de minério de ferro. Tinham dado a denúncia que ele estava com a maleta cheia de ouro. Todo ouro do Brasil, quase todo ouro até hoje, de Tapajós, já apodreceu, não são toneladas, não, são milhares de toneladas. Tudo é contrabandeado, porque na Serra Pelada o Brasil começou a comprar algum, mas antes não. O garimpeiro vai vender o ouro pra quem? Pra quem compra e para quem paga, roubado e sem benefício para o Brasil, porque o garimpeiro recebe em pago, ele recebe comida, ele recebe equipamento, eles põem lá bordéis, mulheres e tomam o ouro deles. Os contrabandistas do ouro. Bom, professor (Tolbert?) foi preso, estava com uma maleta de ouro. Foi preso, pegaram a maleta dele e mandaram para o Dnpm, em Brasília. Chegaram lá e abriram: “Isso aqui é minério de ferro.” “Agora, professor (Tolbert?), o que aconteceu?” “Junto de mim, entrou um turco com uma maleta igual a minha cheia de ouro. Ele conversou comigo: ‘estou com uma maleta cheia de ouro, o que você está levando aí também é ouro é?’ “Não, estou levando minério de ferro.” O turco desceu com uma maleta, ele calcula uns 20 quilos de ouro. A espionagem denunciou, mas foram logo com o professor (Tolbert?) que era gringo. São fatos que eu acho interessante, mas apelo que o Brasil tinha que ter um sistema de comprar ouro dos garimpeiros, como aconteceu em Carajás, foi um pouco isso. Isso é Brasil. Não devo nada a ninguém, não aceito tais situações. Acho que é obrigação da gente falar. Vamos falar da Amazônia só um minutinho. Eu, toda vida, fui fã da Amazônia. Estão ocupando, saiu ontem no jornal, na televisão. Os japoneses pesquisando mosquito. A selva amazônica que é riquíssima. Eu visitei, quando fiz a Escola Superior de Guerra, o general comandante da escola era amazônico. Visitei toda a Amazônia, além do serviço de pesquisa, tenho uma vaga noção do que é Amazônia. É um negócio que a gente não pode prever. Qual é a maneira de ajudar a Amazônia? Você industrializar isso, fazer pesquisa, botar indústria que já tem lá, o alumínio, tem a Vale com a mineração, Carajás. Precisa das indústrias irem subindo, uma das maneiras de ocupar. Aquela da estrada não deu certo. Qual outra maneira? O povo. Eu adoto o seguinte: experiência de Corumbá. Corumbá não tinha menino de rua, os salesianos, tinha o padre e o edifício, pegava, educava e dava formação até o curso profissionalizante. Então, os meninos eram treinados, recebiam estudo e aqueles que se destacavam, eles punham no ginásio deles lá. Eu fui paraninfo das meninas do curso de empregadas, ali saía arrumadeiras, cozinheiras, empregadas. Eu descobri que no Amazonas tem os salesianos têm a mesma coisa: adotam os meninos para educar em Manaus. O que eu posso ajudar? Eu contribuo para eles com uma ninharia, com 20 reais por mês, de vez em quando a gente dá um extra. Eu contribuo para o sustento de dois meninos. São dois meninos da Amazônia que estão recebendo educação e que estão recebendo instrução profissional. É uma maneira lenta de fixar o homem lá. Esse homem vai ser o amazônico amanhã. É muito fácil, todo mundo reclama da Amazônia, o americano quer tomar a Amazônia, o mundo inteiro está de olho na Amazônia. Até que está, mas que lá é muito difícil. Nós temos um defensor que chama malária, que reduz qualquer gringo que bobear lá. Não é fácil entrar na Amazônia, não.


P/2 – O senhor pegou malária?


R – Eu me defendi da malária da seguinte maneira: tem um remédio que você toma, eu não deixava mosquito me morder. Mosquito te morde no avião, no carro, no hotel. Eu carregava sempre esse tipo de detefon, esses inseticidas spray. Apesar do calor, usava ceroula e calça jeans grande e pulverizadas. Não deixar o mosquito morder. Em Marabá, 90% da população é transmissora. Na Amazônia toda todo mundo tem malária. Isso é terrível, trata tudo, mas acaba com o fígado da pessoa. Nós temos um inimigo lá e não tem jeito de acabar. Eu visitei há dois anos, eu levei minhas netas passear lá. O Rio Negro tinha subido só 13 metros. Aquilo é um mar. Eu ensinei a elas: não deixe o mosquito morder. Os remédios que você toma são limitados, aquilo demora. Você não pode estar sempre tomando para evitar a malária. Malária tem cura hoje, mas judia muito da pessoa. Amazônia é um mundo, mas não deixa o mosquito morder, não. Numa visita com minha filha, o hotel já era dedetizado, dali a pouco, dedetizei meu quarto e chamei, dois mosquitos depois que eu dedetizei. Qual é o perigo para eles morderem, no carro, no hotel, no avião? Por incrível que pareça, entra. A gente menospreza o mosquito. Eu descobri que o mosquito é inteligente. Lá em Corumbá, eu morava numa casa, lá é a terra dos mosquitos, tinha primeiro uma varanda toda cercada de tela, depois uma segunda de vidro com duas portas para não entrar mosquito e eles entravam. Até que eu descobri como que era: quando você chegava, eu entrei na primeira tela e fui ver qualquer coisa lá. Na hora que você entra, eles vem nas suas costas, entram com você. Por que isso? Instinto, seja lá o que for, eles entram. Mosquito entra no avião, hotel, você está parado e eu estou sempre tratado. Onde o mosquito mora? Eu estou com calor, mas estou protegido com inseticida. A saúde da gente vale um sacrificiozinho por causa do calor. É uma coisa que é boa registrar. Então, é isso aí de Amazônia, vou terminando de Amazônia.


P/1 – Faltam uns vinte minutos de entrevista, vamos entrar na Valesul, contar um pouquinho.


R – Terminado isso, em 1978, foi fechada a Meridional, eu fiquei disponível esse tempo. Foi criada a Valesul, que é um projeto do Ernesto Geisel, que determinou cuidar da Vale; e a Vale como uma firma responsável e eficiente, então elaborou um projeto, que era um projeto de alumínio que era para ser construído a curto prazo. Quais eram os objetivos: minimizar a importação de alumínio para treinar gente, era uma escola de alumínio, que tinha que ser feito num orçamento dado 390 milhões de dólares só para fábrica, que são várias fábricas, composta de várias fábricas. Ela foi localizada em Santa Cruz, porque o estado do Rio doou a área em troca de ações pequenas, 1% de ações. E a Vale se associou ao grupo Shell. Shell com 44% e ao grupo (Renner?), que se arrepende por não entrar com a maioria. No final, se arrependiam de não ter participado, porque consideravam um projeto maravilhoso, eles mesmos me confessaram. No centro de dois portos: Porto de Sepetiba e o Porto do Rio de Janeiro, num centro rodo-ferroviário importante com disponibilidade de mão de obra e técnicos, que é o Rio de Janeiro. Ela não teve que investir em uma casa para habitação. O projeto ia ser feito rapidamente. Os estudos devem ter levado uns três ou quatro anos, eu já assumi no início, 1978 ________ já peguei no chão. Em 1979, eu já fui chamado, porque em 1978 eu já estava livre, já saí da Meridional. Como eu tinha muita ligação, muito conhecimento na Vale, aconteceu o seguinte: a Shell e a Vale não podia ser o presidente de uma e de outra. O governador, o ministro de Minas, César Cals, indicou um amigo dele, que depois foi para presidente da Urucum, era um dentista. Eu quero aqui alguém que tenha alguma experiência administrativa, não podia ser da Vale. Bom, eu sei que de um dia para o outro, eu recebo com urgência: “Você está sendo chamado para ser presidente da Valesul.” “Meu Deus!” “Você vai ser presidente da Valesul, vai ser contratado pela Valesul, mas indicado. Nós estamos convidando você, não tem nada com a Vale do Rio doce, não tem nada com a Shell.” Lá fui eu. Diz o doutor Deoclécio que eu tinha carta branca, como diretor-presidente eu tinha tal autonomia que eu podia vetar decisões da diretoria. Eu tinha poder de veto, porque um projeto dessa envergadura, se não houver uma direção firme, agora tinha uma assistência fabulosa. Banco Mundial, tinha um bocado de pessoas para assistir; Manhattan Bank; Bndes [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]; Finame [Agência Especial de Financiamento Industrial]; a Vale e a Shell, que contribuíam com uma parcela, na parte financeira tinham dois diretores. Então, esse projeto foi montado com esse objetivo e perto de um grande centre, e assim aconteceu. Ele foi feito com muita rapidez, a energia – contrato assinado com a Shell. A Valesul é o primeiro estágio. O projeto previa, a Valesul é um projeto de células eletrolíticas, são duas salas de 700 metros com 216 cubas que produz alumínio _____. Uma fábrica tem transformador, para a fábrica e para… Tem um retificador de corrente, porque nessas células são correntes contínuas de baixa voltagem. Então, tem um retificador imenso. Tem uma fábrica de ______ pré cozido.


P/2 – Fábrica de que?


R – De (alurdo?). É um ____ de coque de petróleo e se prepara os (alurdos?) para que são os eletrodos das cubas.


[Troca de fita]


R – … Mais dois a disposição da Valesul, durante seis meses para consultas eventuais. Não, na operação. A operação toda, engenheiros brasileiros treinados por eles. Houve um treinamento grande. Houve um problema com a Alemanha. A Alemanha se recusou a treinar numa fábrica da ________, mandou uma carta dizendo que não aceitava os técnicos brasileiros lá, porque tinham tido uma experiência muito má com o Brasil. Eu respondi que não aceitava a negativa deles, que o Brasil não era a Venezuela, que o Brasil tinha uma cultura alemã, que quem escreveu aquela carta não conhecia o Brasil, que eles procurassem conhecer quem era o Brasil e que me desse uma chance de eu mandar dois, depois então iriam outros. Eles responderam para mandar dois. Mandei dois, logo em seguida: “O senhor mande quantos quiser do gabarito desses dois.” O pessoal ia para o exterior com a seguinte condição: “Você não é Vale, você não é Valesul, você não é nada. Você é brasileiro, joga futebol com os técnicos de lá, mas acima de tudo você é brasileiro.” Tinham cursos nos EUA, meus engenheiros tiravam os primeiros lugares. Tinha gente da Inglaterra, da Alemanha, dos EUA, o curso de treinamento lá na (Renners?). Gente selecionada. Numa operação como essa, com 900 empregados, é um corpo técnico, preparar gente, até o boy tinha instrução. Nós tínhamos instrutor permanente em todos os setores, fiz uma coisa muito importante. Eu soube que tinham problemas em algumas áreas, o gerente de uma área. Eu fiz o seguinte: circular. O gerente dessa área vai ficar de gerente um mês naquela outra, para conhecer a dificuldade do outro. Foi uma beleza. Tem de haver um pensamento só. Hoje é uma grande fábrica. Alumínio de alta qualidade tem valor maior. Então, o projeto foi todo estudado, até coisas inventadas para a Valesul, ao ponto do americano: “Eu não posso correr o risco de entregar essa firma brasileira, queria que entregasse a uma firma americana.” Vamos fazer a concorrência, a brasileira (ganhou?). Aí no fim eu assumi a responsabilidade. Tudo funcionou. No fim, a (Renners?), eu tenho cartas dela me elogiando: “Posso eleger essa fábrica como uma fábrica modelo da (Renners?)?” “Pode, mas fale com os acionistas, porque não é minha.” Tem de ser brasileiro, mas tem de ser correto, tem que ser equipe. Agora, alguém tem que tomar a decisão na equipe. É muito perigoso na administração é o medo de decisão. Podia ter algum risco, mas tinha que dar oportunidade a projetos brasileiros. Uma fábrica que ia ser 45% para _______ e mais de 60 para… Foi o contrário.


P/2 – Interessante essa sua colocação, o senhor como empreendedor…


R – Adaptar a tecnologia às condições do Brasil. O Brasil não é, o Brasil é alguma coisa. Veja a Embraer [Empresa Brasileira de Aeronaútica SA], hoje, é um exemplo que o Brasil tem capacidade tecnológica. Pobreza, ignorância, é culpa do governo, parte de estudo. Preparar, todo mundo quer preparo. Até o chofer quer saber o que é Valesul para se comportar. Negócio de meio ambiente vai criar problema, alumina, os gases são poluidores.


P/2 – É muito perto do bairro de Santa Cruz?


R – Praticamente dentro, hoje está dentro, hoje é rua lá. Sabe o que eu fiz, qual o animal mais sensível para poluição de alumina e esses produtos de alumínio? Carneiro: “Então, vamos criar carneiro aqui.” Levei um casal de carneiro. E vai pastar só nessa grama, não tem trato nenhum. Criamos carneiro. Chamamos o veterinário, examinou, está tudo bem. Carneiro teve filho, tudo bom. No fim de um ano, tivemos que matar, porque o pessoal começava a dar comida a ele, quem não desse ele marretava. Ele ficava solto lá na grama. As plantações, plantei o que podia de árvore. Nada mais sensível do que um animal, uma planta para poluição. Sabe que nos fornos de Volta Redonda, para proteger os fornos, o alto forno tem gases, sabe que o pessoal usa? Passarinho. Se o passarinho morre, tem escapamento de gás. Tem gaiolas para proteger o homem, porque nem sempre você nota o gás. Os animais são sensíveis. Quando matou o carneiro, exigi o exame: sem nenhum problema. Os animais foram examinados. Eram os carneiros do presidente. Essas coisas que são de Brasil, você não pode, você tem que fazer as coisas. E o Brasil tem capacidade, eu confio no Brasil. Até hoje eu estou triste, porque eu estou velho e a política não muda, mas o dia que tiver educação, muda.


P/1 – A Valesul foi inaugurada quando? O senhor lembra do dia da inauguração?


R – Foi 3 de fevereiro, tem até o discurso meu, tem muitos dados, mas não precisa. Foi inaugurado e nesse mesmo ano. Só mais uma coisa, o alumínio é um metal nobre, do futuro. O ouro é nobre, mas ele é o metal do futuro. Sabe o porquê, hoje o alumínio em liga, se liga a outros metais. Na era espacial, é o alumínio. A liga é feita nos altos fornos, a fundição é o alumínio puro, aí você faz o que quiser. Nós fazíamos algumas ligas comerciais, para janelas, para placas. O alumínio é de alta importância e uma coisa importante que toda empresa tem que ser, tinha que ser econômica. O Brasil passou a exportar manganês e deixou de importar. Teve muita reação, doutor Ermírio de Moraes que não queria, mas isso são políticas. Toda fábrica tem. Mas é uma grande fábrica, eu fiz a minha parte.


P/2 – O senhor fica até que ano na Vale?


R – Quando estava tudo pronto, em 1985 já era rotina normal, o presidente da Urucum morreu de coração no aeroporto de São Paulo.


P/1 – O que era dentista?


R – Isso, o dentista. Que a Shell não aceitou como presidente da… Então, havia um interesse político de trocar, saía a diretoria. A Shell sempre queria levar vantagem dado uma certa… A Vale muito cheia de problema não se aplicava muito no projeto. Eu segurava os fregueses no seu lugar. Isso é natural, todo mundo quer tirar vantagem, eu não deixava. Já havia uma certa vantagem, tudo funcionando, eu fiz a minha parte. A Vale me convidou para ser empregado da Vale, fui e ser alocado para presidente da Urucum, com a seguinte recomendação… Agora eu cheguei ao final, Urucum Mineração outra vez de novo. Cheguei na Urucum, dez anos de prejuízo: “Meu Deus, onde eu me meti.” O doutor Eliezer, que era o presidente, não não era presidente, era diretor internacional: “Você que já teve em Urucum, que criou, que implantou aquela mina lá, o problema é seu.” “Deixa comigo.” Cheguei em Urucum, a mina é simples, faço tudo aquilo no projeto, problema é você transportar e vender o minério. O meu trabalho de imediato foi vender o minério, mas como eu ia transportar o minério? Eles não compraram Urucum inteiro, a Vale comprou o projeto, quando a Meridional saiu, o projeto ficou com o Grupo Chama, mas exatamente como o contrato era em triunvirato, Meridional, Grupo Sobramil e o estado, o estado cancelou o contrato. A Assembléia Legislativa homologou esse contrato, quem passou a ser dono da Urucum foi o estado do Mato Grosso e aí se associou com a Vale e uma firma, que tinha outras concessões, entrou com 2%, a Convap Mineração; a Vale ficou meio a meio com o estado. Então, passou a ser do grupo Vale esse projeto. Eu cheguei, olhei… A mina é muito fácil, a mina é muito boa de minerar, mas o problema é vender, naquela distância o problema é vender. Eu parti para busca de mercado. Então, naquela luta eu consegui que a (Sibra?) me compraria minério se eu colocasse em Nova Palmira. Eu tinha que colocar minério, eu tinha que vender no exterior. Para você vender minério, você tem que ter ele num posto oceânico, ninguém queria comprar minério posto em Corumbá. O que eu faço agora? Aí é que eu falo que a administração tem que ter uma certa decisão. Tudo estudado, vendia uns trocadinhos de minério para Minas Gerais, a estrada de ferro estava um preço absurdo. Eu falei o seguinte: “Eu vou botar minério nesse porto.” Esse terminal lá foi da U.S.Steel, eu conhecia os donos, são meus amigos até hoje. Hoje é um terminal _____. Procurei o terminal lá: “Eu estou querendo botar minério aqui, 30 mil toneladas. O terminal aqui é de grãos, mas ainda tem a área para minério.” “Qual é o estoque que você pode me dar aí?” “30 mil toneladas.” “Você vai me dar uma isenção, custos baixíssimos para desembarcar o minério e botar no navio.” É uma tentativa de viabilizar Urucum, ele fez uma visita a Urucum, entendeu o meu plano, e disse: “Eu vou te dar uma facilidade, você tem prazo para botar o minério lá, tem custos baixíssimos.” Bom, agora transporte para botar minério lá. Procurei a Argentina que era a única que tinha os comboios para levar o minério. Uma, duas, três, todo mundo não queria, não tinha interesse ou queria um preço muito caro. Então, eu fiz uma jogada lá na Argentina, procurei um grupo lá e fui num banco e disse o seguinte: “Nós vamos criar uma empresa de navegação.” Aí fizemos um jantar. A notícia espalhou que eu ia fazer um grupo de navegação lá. Aí um desses grupos procurou e falou ______: “Vocês não querem levar o meu minério, agora se vocês quiserem fazer um contrato, pagamento em dólar. Você me dá o preço, quanto você quer por minério, você recebe lá na hora.” Essa empresa pagava para mim em dólar e depois… Eu não faço a empresa de mineração, mas vou trazer o minério. Era uma conversa fiada. Eles aceitaram, toparam duas empresas. E eu botei 30 mil toneladas lá por minha conta e risco. Botei em Nova Palmira. A Vale quase me matou, quase me demitiu: “Não tem problema nenhum, não. Agora vocês vão me ajudar a vender.” Pa, pa, pa, pa… Eu vou vender e vendi. Suei muito, até o ministro de Minas entrou: “O minério já está lá?” Ele abriu a boca, ele abriu a porta da Urucum. Primeiro, eu passei a abastecer a Sibra. Um navio de cabotagem ia lá pegar, mas eram 80 mil tonelagens, era melhor do que nada. Aí anunciei e apareceu um comprador maluco, para 200 mil toneladas. Eu vendi para a Romênia. Eu não podia vender direto, porque a Romênia era estatal e não podia comprar, ela fazia trocas. Esse cara que recebia produtos ______ minério, agora tinha um problema. Ele queria 4% na venda, de comissão. Fui a Casex, isso é normal, até 4% de comissão é normal, porque você está gerando divisas, gerando mercado. Você vendendo o minério, do pagamento, 4% é do vendedor. Ele que vendia o minério lá. Vendi. Resultado: o (Muiler?), que já estava lá com prejuízo, já não aguentava, me deu seis meses, sabe o que é, tinha interesse que eu movimentasse lá: “É comércio, é bom para você e é bom para mim.” E isso aconteceu com Urucum. No fim do segundo ano, a Urucum que deu sempre prejuízo, deu lucro líquido superior a 5 milhões de dólares. Foi um escândalo, a Vale quase me demitiu novamente, isso é verdade, sabe por quê? Porque ela tinha interesse de comprar a Urucum a preço de banana e não queria que o sócio soubesse que ela valia alguma coisa. Mas o projeto tinha uma dívida com o estado de (5 milhões?) de dólares, era mais, mas no fim não sei o que, esse primeiro lucro quitou, a Vale ficou em páreo com o (estado?) e continuou dando lucro. Trouxe os romenos aqui, fui lá. Agora veio um problema para Urucum, esse é um detalhe muito importante: tecnologia do Urucum. O minério não servia para U.S.Steel, não servia sozinho por causa do alto teor dele em álcalis e fósforo. Nós desenvolvemos tecnologia, ele com dupla fusão, vendendo para a indústria nacional. Dava minério, eu dava minério, você faz experiência, quer um caminhão, quer dois, quer dez toneladas, quer vinte, quer trinta. Mas me resolveu. Uma fábrica de ferroliga descobriu que a dupla fusão, que a tecnologia já tinha chegado a esse resultado: faz a primeira fusão e elimina os álcalis, que são voláteis, e o fósforo na escória, você vira uma escória rica de ferro e alumínio, que serve para sílico-manganês, sílica, e você fica com um minério riquíssimo. Você pega metade desse minério e metade do minério normal e trabalha normalmente, quer dizer, você divide o problema no meio. Segundo, para os clientes eu mostrei que eles podiam usar esse minério no limite de até 30%. Se souber trabalhar, até 40%. Você vai receber um minério, provei a eles. Fiz um estudo de tecnologia da fundição elétrica, dos fornos elétricos, da tecnologia, usando o minério de manganês, usei. Dei minério para uma firma em Lafayette que me fez um depoimento. Chegou-se a seguinte conclusão: usado em quantidade pequena é aceitável e provei o seguinte, que ele tinha uma qualidade de (fusibilidade?), porque ele melhorava o rendimento do forno. Vendi para a Itália, fui para a Romênia, cheguei na hora h, porque eles tentaram usar o minério sozinho e tiveram problema. Vocês vão continuar comprando minério do Gabão e vão usar o meu em parcela: “Você veio aqui para me ensinar?” “Não senhor, eu quero aprender como vocês fazem, mas não quero que vocês digam que o meu minério é ruim. Vou dizer como usa o meu minério. Técnico são vocês aí. Quer, vai lá visitar no Brasil, essa tecnologia que é usada lá.” Vieram, foram na Sibra, foram em Corumbá com uma única preocupação: queriam saber como bananeira dá, fruta banana. A preocupação do romeno era essa. Viram bananeira até não sei o que. Eu tinha uma foto muito interessante lá da casa do meu irmão, de uma bananeira onde o cacho saiu aqui do meio. Uma aberração da natureza, o vento dobrou o cacho, o cacho estava saindo aqui, em vez dele sair ali em cima, ele saiu aqui. Porque a bananeira já tinha sido amaciada aqui. A bananeira lá em cima e o cacho aqui no meio. Até isso aqui dá, mas é aberração da natureza. Fiz mais uma coisa: uma vez tendo mercado, eu queria um novo projeto mais fácil. Fiz um novo projeto de lavra, até a Vale me emprestou um engenheiro para ajudar a estudar. Fizemos com minha recomendação _______, em vez de se usar perfuratriz passamos a ________, aquelas máquinas perfuratrizes. Em vez de usar vagoneta, como o minério é em camada, usar caminhão, o minério saía nas carregadeiras, essas carregadeiras comuns, quatro metros de altura, o minério saía em carregadeiras. Fiz aquilo. Para minimizar, fiz um novo projeto de tratamento de minério, em que esse minério, para evitar essa subida sairia por um túnel básico por debaixo da mina. Essa é uma ideia antiga da U.S.Steel de fazer isso, em que o minério vai saindo ali, nos diversos níveis. A camada é assim, então nesse nível aqui você pega essa camada de minério, sai aqui. Nesse nível superior do minério, você faz um ______ de minério, uma galeria por cima desse túnel é despejado ali. O projeto novo era uma beleza, mas a Vale não concordou, só concordou que eu fizesse meio projeto. Está bom, eu vou fazer meio projeto, fiz um meio projeto do que era essencial, o tratamento do minério que era para 500 mil toneladas, com recessão econômica no país, eu fiz um projeto para beneficiar até um milhão de toneladas, pelo mesmo preço do projeto de britagem, peneramento do minério. Comprei as máquinas essenciais, ficou faltando túnel, caminhões etc. Nesse meio tempo, surgiu um problema, me pediram o lugar, estava tudo funcionando, em 1990: “Agora você volta para a Vale.” Voltei para a Vale, e foi para lá o Pitella, fiquei um ano dando assessoria a ele de graça, consultoria de graça, mas assinei um contrato de consultoria com a Vale. Falei para a Vale o seguinte: “Se vocês me derem os meus direitos, eu peço a aposentadoria. E com mais uma condição: vocês me dão um contrato de consultoria.” Me deram um contrato de consultoria com um salário pífio. Não justificava mais eu trabalhar, quando foram renovar eu falei: “Muito obrigado, eu vou ser consultor.” Eu passei a dar consultoria de manganês, porque manganês eu tinha consultoria de mineração, da comercialização e da industrialização. Então, terminou tudo isso.


P/1 – Como é um pouco do seu cotidiano hoje?


R – Durante uns anos eu passei a dar tecnologia. Hoje eu faço o seguinte, eu gosto de estudar, gosto de ler. Paralelamente eu tive um ano de… O primeiro ano que eu saí da Vale, eu fui eleito presidente da Federação de Engenheiros de Minas, que tinha as Associações Estaduais, então eu trabalhei três anos nessa associação. O problema dos engenheiros de minas em cada estado, brigas com o Dnpm, reclamações junto ao Dnpm, eu como Federação, era ligado as outras Federações. Uma Federação tem força. E você bota correção nisso. E outra coisa, às minhas custas, porque a Federação era sustentada pelo rendimento das Associações, as Associações não tinha. Eu aprendi que o engenheiro de minas nas suas associações, não contribui, mas eu aguentei, porque eu queria fazer. Estava numa época de mudança do Dnpm, revisão do Crea [Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia] e aprendi em várias reuniões com o Crea, com o (Compia?), que é a Confederação dos Creas. E aprendi o seguinte, que os Creas eram muito caros, os engenheiros pagavam uma taxa muito elevada. Numa reunião com o (Compia?), os Creas propuseram uma taxa barata, porque o Crea tinha tanto dinheiro que começou a construir edifícios, em Belo Horizonte etc. por excesso de dinheiro. O (Compia?) chegou e vetou, contrariando todos os pareceres da área. Descobri que o (Compia?) elegeu para ter voto majoritário, tinham quatro diretores nomeados, nomeou porque o (Compia?) já tinha uma estrutura. Ela nomeou um representante de tal estado etc. Então, eu arranjei um colega que me ajudou, impetrou um mandato popular, derrubou os quatro diretores, depois pediu indenização e foi o único benefício que eu fiz, e me custou um pouquinho, mas não custou muito, não, porque o Crea tem muito dinheiro que essas reuniões eles pagavam tudo. Mas mantenho um contato até hoje. Aqui no Rio tem uma associação dos ex-alunos de Ouro Preto, eu tenho uma certa responsabilidade, porque, em 1983, quando eu ainda estava em Urucum, eu fui distinguido como engenheiro destaque do ano por essa Associação da Escola de Minas.


P/2 – O senhor foi contemplado como cidadão da cidade do Rio de Janeiro.


R – Tenho dois ______, um como cidadão e outro como cidadão benemérito, duas coisas. Recebi uma honra militar. Mas isso tudo são coisas que acontecem, mas a minha vida hoje… Eu ainda estudo, eu passei a participar de uma fundação, também gratuita, Fundação Gorceix, fundada pelos ex-alunos de Ouro Preto para ajudar a escola, ajudar alunos pobres e para ajudar a formar professores, ajudar a Escola de Minas. Nesse meio tempo, constatando que os alunos pobres recebiam benefício para formar, mas depois não ajudava. Nós contribuímos, todos nós os ex-alunos tínhamos dado um tanto para essa fundação, mas essa fundação passou a trabalhar para as empresas, fazendo convênio, desenvolveu muita tecnologia na área de mineração, na área de siderurgia em convênio com a Escola. Foi criada a Escola de Minas, foi incorporada ______ Ministério, passou para a Universidade de Ouro Preto, aí sofreu um debate danado, mas continuou. E eu tentando fazer mais alguma coisa pela Amazônia e pelo nosso futuro, criamos lá um Instituto de Meio Ambiente _____ para formar técnicos de alto gabarito, inicialmente na área de mineração, que são muito poluentes, nas áreas que envolve transporte e outras coisas, na área de siderurgia. E foi criado, mas até hoje não desgarrou, porque não há uma aceitação junto às indústrias. Infelizmente, ainda há muito imediatismo. Todo mundo pensa hoje, mas eu quero ver o problema do meio ambiente daqui a 25 anos. Eu espero ver algum, porque eu espero viver mais alguns anos, porque a população crescendo muito e meio ambiente é uma coisa muito séria. Bem encarada, bem resolvida. Tem que ser estudada. Tem uma escola que tem duas no mundo, essa seria a terceira. Até hoje não desgarrou, muita dificuldade, muito problema. Eu sou gratuitamente membro do conselho curador dessa fundação. Tem o conselho diretor e o conselho curador. Só dá trabalho e despesa, mas a gente faz alguma coisa. Ainda agora teve problema político, de eleição de reitor, eu fui contra. E estou em contato com meus filhos, resolvendo problema de um, de outro e passei a estudar medicina, medicina (erbárea?), medicina molecular, descobri que muita coisa que a gente faz errado. Descobri que médico cura, mas é muito difícil um médico que te diga como evitar a doença. Tem, mas não são todos, não. Então, a minha vida é essa: leio, ajudo, vou nessas associações, temos um almoço por semana.


P/2 – O senhor mora onde?


R – Na Tijuca.


P/1 – Vamos fazer uma última pergunta, o que o senhor achou de prestar esse depoimento para a gente?


R – Eu aprendi com a minha mulher que a conservação da memória é um negócio importantíssimo, memórias municipais, memórias familiares, memórias industriais. Vocês estão de parabéns, porque isso é uma conservação de memória. Eu acho que essas coisas devem ficar. Eu dou parabéns porque eu acho que é uma grande coisa. Essas memórias um dia, alguma coisa fica.


P/2 – A sua esposa escreve?


R – Ela vai, fomos lá na minha terra, ela procura: “Cadê as memórias do município? Quem é que cuida disso?” Ela briga, pesquisa, mas ela está mais envolvida com as memórias familiares, pouco comum, muito pouca gente sabe o nome do avô ou do bisavô. Eu sei porque, do lado de minha mãe eu venho lá do começo da civilização de São Paulo, eu tenho sangue dos desbravadores, sangue de índio lá de Bartira, lá da Bahia, de Caramuru. O livro dela começa na primeira família no Brasil e nós temos a história toda.


P/2 – E ela não vai escrever um livro sobre ser esposa de um engenheiro de minas?


R – Não. Ela só vai escrever casos de uma esposa de um engenheiro de minas. Uma coisa assim, mas são outras memórias, curiosidades, mas que… Eu ainda tenho vontade de escrever, eu tenho a documentação muito grande, a história da Meridional, no Morro da Mina e na Urucum, no Carajás. Já deixei o básico aqui, mas eu quero procurar uma pessoa que tenha interesse, porque sozinho não é fácil, tenho muita documentação…

--- FIM DA ENTREVISTA ---


Dúvidas:
Pillar and room
Unicampa
Empurrador
1909
Guerra
Arandon
Rondon
Rio de Janeiro
Móbil
Carril
Escória
Ruanda
Quenozito
Carne de boi
Otto Leonardis
Glaico di Pai
Arthur Horew
Tolbert
Pagar
Tremeni
Rangel
João Formi
Valor
Pragana
Pragami
Meninos
Unificar
Ingerisse
4 bilhões
Sumiu
João Gilberto Lírio
Betaly stile
Linha
Renner
Alurdos
Ganhou
Sibra
Muiler
5 milhões
Estado
Fusibilidade
Compia
Erbárea