Meu nome é Patricia, tenho 28 anos, nasci em Janeiro de 1971, sou magra, olhos castanhos, cabelos castanho-avermelhados, algumas sardas, 1 metro e 61cm. Nasci em meio a ditadura, primeira filha de um casal feliz. Quando tinha 3 anos nasceu Alan, meu irmão.
Não fomos criados pela nossa mãe. Em Maio de 1975 ela morreu, aos 28 anos, de um tipo fatal de câncer de pele, o melanoma. Antes disso havia passado 1 ano em hospitais, com cirurgias que de nada adiantaram. Não me lembro de jamais ter recebido a notícia de sua morte. É como se eu já houvesse nascido sem mãe, de mãe morta. É estranho.
Meu irmão e eu passamos pela casa dos avós maternos e, depois, dos paternos. Meu pai trabalhava como viajante e só voltava aos fins de semana. Ele era muito carinhoso conosco. Contava histórias para dormirmos, sempre uma da Bíblia, suas preferidas eram do Rei Salomão, Davi e Golias, não sei por que nunca contou coisas infantis...
Em Dezembro de 1976 ele se casou de novo e nos mudamos para Volta Redonda. Aprendemos a chamar a madrasta de mãe. O Alan nem mesmo sabia que tínhamos outra mãe. Eu contei a ele, nem sei se ele se lembra. Ela foi rígida e seca. Nos educou bem. Medo foi a palavra que mais me uniu a ela. Medo de ser rejeitada, de não ter mãe, de ser diferente, de fazer algo errado. O Alan, revolta.
Em 1978 nasceu meu irmão Júnior (Waltemar, como o pai), somos bons amigos. Nos mudamos várias vezes: Barra Mansa, Lorena. Isso é difícil para uma criança, a gente fica sem raízes. Aos 18 anos voltei para o Rio de Janeiro, vim fazer faculdade. Porque escolhi medicina? Talvez para resgatar algo do passado, ou para não ser enganada como minha mãe, que até o fim achava que ía sair do Hospital e voltar pra casa. Ela queria morar na Ilha do Governador...Nunca vou saber por quê
Foi um ótimo período a faculdade. Conheci grandes amigos, e os tenho até hoje. Um desses amigos me apresentou um amigo seu, e depois de 4 anos de namoro nos casamos,...
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Meu nome é Patricia, tenho 28 anos, nasci em Janeiro de 1971, sou magra, olhos castanhos, cabelos castanho-avermelhados, algumas sardas, 1 metro e 61cm. Nasci em meio a ditadura, primeira filha de um casal feliz. Quando tinha 3 anos nasceu Alan, meu irmão.
Não fomos criados pela nossa mãe. Em Maio de 1975 ela morreu, aos 28 anos, de um tipo fatal de câncer de pele, o melanoma. Antes disso havia passado 1 ano em hospitais, com cirurgias que de nada adiantaram. Não me lembro de jamais ter recebido a notícia de sua morte. É como se eu já houvesse nascido sem mãe, de mãe morta. É estranho.
Meu irmão e eu passamos pela casa dos avós maternos e, depois, dos paternos. Meu pai trabalhava como viajante e só voltava aos fins de semana. Ele era muito carinhoso conosco. Contava histórias para dormirmos, sempre uma da Bíblia, suas preferidas eram do Rei Salomão, Davi e Golias, não sei por que nunca contou coisas infantis...
Em Dezembro de 1976 ele se casou de novo e nos mudamos para Volta Redonda. Aprendemos a chamar a madrasta de mãe. O Alan nem mesmo sabia que tínhamos outra mãe. Eu contei a ele, nem sei se ele se lembra. Ela foi rígida e seca. Nos educou bem. Medo foi a palavra que mais me uniu a ela. Medo de ser rejeitada, de não ter mãe, de ser diferente, de fazer algo errado. O Alan, revolta.
Em 1978 nasceu meu irmão Júnior (Waltemar, como o pai), somos bons amigos. Nos mudamos várias vezes: Barra Mansa, Lorena. Isso é difícil para uma criança, a gente fica sem raízes. Aos 18 anos voltei para o Rio de Janeiro, vim fazer faculdade. Porque escolhi medicina? Talvez para resgatar algo do passado, ou para não ser enganada como minha mãe, que até o fim achava que ía sair do Hospital e voltar pra casa. Ela queria morar na Ilha do Governador...Nunca vou saber por quê
Foi um ótimo período a faculdade. Conheci grandes amigos, e os tenho até hoje. Um desses amigos me apresentou um amigo seu, e depois de 4 anos de namoro nos casamos, em 26/12/97. Sou feliz com o André, nossa festa de casamento foi linda, um sonho Há quase um ano tento engravidar.
Há alguns meses descobri que eu tenho um problema nos ovários e preciso fazer tratamento para engravidar. Nunca senti tanta falta da minha mãe como agora. Como gostaria que ela estivesse aqui pra ouvir minhas dúvidas, me dar uma força, me consolar, há tanta coisa que queria perguntar. Durante todos esses anos eu achei que ela não havia me feito falta, que eu era a mesma pessoa que seria com ela por perto... Como pude me enganar tanto Hoje, quando tudo que eu mais quero é um filho, descobri a dor de perder a minha mãe, tantos anos depois. Esse relato é uma forma de falar com ela. Quem sabe, quando meu sonho se realizar, meu filho possa ler essas linhas e também contar a sua história, e eu quero estar ao seu lado, e quem sabe, continuar a minha própria história com um final feliz.
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