Museu da Pessoa

Sempre desfilei, desde pequenininha

autoria: Museu da Pessoa personagem: Neide Galvão do Amaral

Projeto Morro dos Prazeres, este morro tem história
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Neide Galvão do Amaral
Entrevistada por Paula Ribeiro
Rio de Janeiro, 21 de maio de 2002
Código: MP_HV020
Transcrito por Marcília Ursini
Revisado por Alice Silva Lampert

P/1 – Paula Ribeiro

R – Neide Galvão do Amaral.

P/1 – Neide, boa tarde.

R – Boa tarde.

P/1 – Vamos começar a entrevista, pedindo que você dê o seu nome completo, local e a data de nascimento.

R – Meu nome é Neide Galvão do Amaral. Eu nasci aqui no Rio de Janeiro mesmo, no dia 24 de novembro de 1964. Tenho 37 anos.

P/1 – A tua família morava aonde quando você nasceu?

R – Minha família já morava aqui no Morro dos Prazeres.

P/1 – E teus pais e avós, você conhece a origem, sabe quando eles vieram para cá e por que que vieram?

R – Mais ou menos. _____, minha mãe já tinha tido ela que morava aqui no Morro dos Prazeres. Já veio junto com a mãe dela, que é minha avó, junto com os tios. Aquele negócio, sempre a procura de uma coisa melhor.

P/1 – E esse tio, você lembra dele...

R – Lembro, lembro.

P/1 – Qual era o nome dele?

R – Jorge.

P/1 – Ele é vivo?

R – É. Mora em Campo Grande.

P/1 – E a tua mãe, o nome completo da sua mãe?

R – Elizete Galvão do do Amaral.

P/1 – E assim, você sabe um pouco como é que foi essa história da vinda dela? Qual foi a cidade, de onde ela veio?

R – Ela nasceu na Bahia, Salvador. O que você perguntou?

P/1 – Eles vieram de navio, foi isso?

R – É, é. Diz ela que vieram de navio assim. Veio na parte de baixo.

P/1 – Então, eles vieram... Era num porão de um navio, é isso?

R – É.

P/1 – Ela conta um pouco dessa viagem como uma viagem difícil? Ela conta alguma coisa sobre isso?

R – Não, ela conta só um pouquinho, que foi quando veio para cá, veio num porão de navio, aí enjoou muito, demorou muito para chegar.

P/1 – O que que ela conta do primeiro tempo aqui, quais são as lembranças dela de quando ela chegou? Ela comentava isso com vocês?

R – Não.

P/1 – Não?

R – Só comentou quando ela veio.

P/1 – E o seu pai? Ele morava aqui também, você conhece um pouco da história dele?

R – O meu pai, ele morava aqui, mas a família dele veio toda morar aqui.

P/1 – No Morro dos Prazeres?

R – Aqui, no Morro dos Prazeres. Aí conheceu a mãe aqui.

P/1 – Ah, eles se conheceram? Como era o nome do teu pai?

R – João do do Amaral.

P/1 – E a profissão dele?

R – Eu não sei, nem a minha mãe se lembra. Só sabe que trabalhava numa fábrica de ferro aqui na Lapa.

P/1 – E a sua mãe? A sua mãe trabalhava fora?

R – Ó, a mãe sempre trabalhou. Acho que desde que ela chegou aqui, que ela trabalhou na casa de família. Até hoje, até hoje ela já... Não se aposentou porque não assinou a carteira, mas essa patroa dela dá a maior força para ela. De vez em quando ela faz umas coisinhas lá, entendeu? Essa patroa dela gosta muito dela.

P/1 – Ela cozinha, Neide?

R – Não, a mãe era, assim...ela é passa-roupa.

P/1 – Passa-roupa?

R – Ela passa roupa.

P/1 – E você? Você nasceu aqui no Morro dos Prazeres, você lembra um pouco da tua infância, como é que era isso aqui, Neide?

R – Bom, Morro dos Prazeres era muito bom, né?

P/1 – Mas, assim, vocês são quantos irmãos, Neide?

R – Cinco.

P/1 – Com você, seis?

R – Comigo, cinco.

P/1 – Ah, tá. São quatro.

R – Quatro.

P/1 – Quatro. E como é que era um pouquinho aqui da tua infância, o que que você lembra? Você morava aonde?

R – Aqui mesmo perto da associação. Aqui mesmo perto da associação, aqui no Morro dos Prazeres, perto da Associação dos Prazeres. Olha, o que eu sei dizer que aqui era muito bom, tá? Era muito bom mesmo.

P/1 – Do que que vocês brincavam quando vocês eram...

R – Ah, a gente brincava de tudo. Brincava de escorregar na grama que tinha aqui até lá embaixo. Depois subia de novo, escorregava na grama. De pique, de pique-bandeira, corda, andava de bicicleta.

P/1 – Andava de bicicleta onde?

R - Ali na quadra. Se você observar bem a foto, a quadra ali tinha espaço, era bem melhor. Agora, que não tem muito espaço. Ou você brinca dentro da quadra ou fora…

P/1 – Ah, vocês brincavam aonde é a quadra hoje...

R – Onde é a quadra.

P/1 – E chamava como aquele lugar?

R – Barreiro.

P/1 – Barreiro.

R – É aberto, não estava direitinho o chão, mas era muito bom. Era chão de barro. E era muito bom.

P/1 – E as crianças eram todas moradoras daqui?

R – Todas, todas moradoras.

P/1 – E, assim, em termos de estrutura como é que era a tua casa?

R – Ah, a minha casa, o que era? Era, assim, de tijolo. Era assim pobrezinha, de tijolo, mas pobrezinha. Agora está bem melhor, né? ______ a mãe já... Quando eu cresci mesmo, já estava com quantos anos? Acho que era uns 12 anos, a minha casa estava _____, entendeu? Mas quando era pequenininha, assim, já era bem precária...

P/1 – Mas não era de tijolo antes?

R – Era, mas só que não tinha, não tinha reboco, não tinha nada, entendeu? Não tinha reboco. No chão, então o chão estava direitinho.

P/1 – E vocês saíam, assim, do bairro para fazer alguma coisa? Compras, a sua mãe trazia de fora, como é que era isso?

R – Até hoje a gente faz isso mesmo. Sai daqui do Morro para ir lá embaixo para comprar... Fazer as compras.

P/1 – Aonde é que vocês costumam ir?

R – Esse mercado próximo aqui do posto.

P/1 – Mas no Rio Comprido, mais perto do Rio Comprido...

R – Não, não. Aqui em Santa Tereza mesmo.

P/1 – Santa Tereza.

R – Aqui pertinho nós temos que pagar. É isso que eu não me conformo. Você mora pertinho do mercado, você tem que pegar uma condução, entendeu?

P/1 – E o bonde, lembra do bonde? Vocês andavam de bonde, como é que era?

R – Ah, o bonde era uma delícia. Época de carnaval, então, que é uma delícia...

P/1 – É, por que? Por que?

R – Sei lá. Porque do bonde as pessoas desciam tudo fantasiada, aquela bagunça, aquela animação. Quando passava na ponte _______, aí que era ótimo mesmo. O bonde, o bonde antigamente era, assim mesmo, de condução mesmo para gente. Agora o bonde agora é mais turismo, né? Então, agora não tem muito, é muito espaço. Agora, tem muito pouco. Então, a gente não pode contar com ele para ir trabalhar. Tem que pegar o ônibus porque agora ele é mais turismo e demora muito; uma, uma hora e meia.

P/1 – Mas aí o bonde ia até o Arco da Lapa, esse de antigamente que você está falando?

R – Não, continuava lá no final mesmo. Nesse finalzinho dele agora mesmo que ele... Eu peguei ele até ali.

P/1 – E no carnaval como é que era? Você participou desses Acadêmicos dos Prazeres?

R – Ah, participei, claro.

P/1 – O que que você se lembra dos dias de carnaval com o bloco? Você desfilava?

R – Desfilava. Eu desfilava. Eu não me lembro agora, assim, os anos, assim, os temas, entendeu? Queria lembrar do temas, assim, como é que foi a fantasia para eu te dizer, mas só que não me lembro. Sei que desfilei muito no Morro dos Acadêmicos.

P/1 – É. Desde menina?

R – Desde menina. Sempre desfilei, desde pequenininha.

P/1 – Teus pais desfilavam? Também brincavam?

R – Só a minha mãe. O meu pai não. Só a mãe. Mãe desfilava também.

P/1 – Ah, é? Você lembra de algum sambinha? [risos]

R – Vou tentar, vou tentar, vou tentar. Vou me lembrar, depois eu dou uma cantadinha.

P/1 – Então, mas assim, não precisa cantar. Diz só como é que eram as palavras assim?

R – Eu tinha lembrado um pouquinho, mas depois eu te falo.

P/1 – Não, só diz uma frase.

R – Eu não vou saber formular agora não.

P/1 – Os Acadêmicos dos Prazeres...

R – Eu sei, eu sei vários sambas dos acadêmicos. Agora, fugiu tudo.

P/1 – Envergonhou, não?

R – Não, não, porque fugiu. Eu sei. Você sabe aquele do Heitor, que o Heitor cantou?

P/1 – Pois é. É.

R – Então, estou tentando lembrar ele, mas eu não estou conseguindo, entendeu?

P/1 – Depois você lembra.

R – Eu vou lembrar.

P/1 – Mas vocês desfilavam, assim, com alguma fantasia especial que você lembra?

R – Olha, fantasias, desfilamos, assim, de escravos, com fantasia de escravos. Desfilamos também, que eu não lembro como é que era. Era um vestido, assim, tipo das mulheres de acadêmico usava, aquele vestido com aqueles biquinhos assim, lembra? Então, mais ou menos... Não me lembro o tema para te dizer.

P/1 – E quem fazia essas roupas?

R – Olha, tinha... A gente, cada uma, cada uma ala tinha a sua costureira. A minha, eu estou esquecida do nome dela. Eu me lembro dela, mas esqueci do nome dela.

P/1 – Era moradora daqui?

R – Era moradora daqui. Mora perto da dona Zilda ali embaixo. Fugiu o nome dela agora.

P/1 – E as roupas eram todas azul e branco? Era a cor do bloco...

R – Tinha prateado também, entendeu? É azul e branco, azul e branco era o padrão, mas tinha prateado. Às vezes, botava um douradinho, mas não era sempre não.

P/1 – E, assim, vocês desfilavam aonde?

R – Bem, a gente desfilava... Assim, a gente ia lá para Nova Iguaçu. Todo ano tinha um lugar, dependendo da colocação do bloco tinha um lugar. Nova Iguaçu... A gente desfilava mais lá para cima, lá __________. Aí depois, aos domingos, a gente desfilava aqui no... Aqui em Santa Tereza mesmo. Saía aqui do Morro dos Prazeres até o Largo dos Guimarães, desfilando a pé... Eu acho que o melhor desfile era aqui.

P/1 – Aqui aonde?

R – Aqui, em Santa Tereza.

P/1 – Em Santa Tereza.

R – Mas aí, como é que é? Onde é que era a concentração do bloco aqui?

R – Aqui na quadra. Aí na quadra saía tudo arrumado, entendeu? E para ir lá para o subúrbio para desfilar lá em cima tinha ônibus. Todo mundo ia no ônibus, chegava lá, desfilar.

P/1 – E era só samba no pé, o teu samba?

R – Com certeza.

P/1 – A tua mãe sambava?

R – Mãe também. As tias também.

P/1 – Você lembra até quando que foi isso, Neide? Até quando teve o bloco? É uma informação que eu não consegui...

R – Não conseguiu, né? Como é que pode? Você não está conseguindo mesmo recuperar isso aí. Eu também não lembro, não lembro, cara.



P/1 – Uma coisa, você já era casada?

R – Não. Eu namorava o pai dos meus filhos. Eu namorava ainda de pouco. Eu namorava de pouco ele...

P/1 – Em que ano foi isso, você lembra?

R – Eu não lembro, cara? Não lembro.

P/1 – A Helen nasceu em que ano?

R – 1991.

P/1 – Ela nasceu em 1991. Você namorou muito tempo?

R – Iii, eu já... Ela nasceu em 1991, eu tinha o que? Eu tinha dez, eu tinha, acho que era cinco anos que eu morava com o pai dela, antes dela nascer.

P/1 – Ah, então o bloco pode ser que acabou no começo da década de 1980.

R – O que eu me lembro, me lembro que eu ainda desfilei. Assim que a gente começou a namorar, a gente... Ele foi também no desfile lá em cima, lá no subúrbio, em Nova Iguaçu, ele foi também. A gente estava começando a namorar.

P/1 – E ele era morador daqui?

R – Ele era. Ele era nascido e criado aqui.

P/1 – Essa coisa do bloco está difícil, mas tudo bem. Mas, quer dizer, você lembra que quando você era pequena já existia o bloco ou ele foi fundado... Você lembra desse movimento?

R – Não, quando eu era pequena não existia o bloco não.

P/1 – Não existia?

R – Não, não. Ele veio existir, assim, que eu vim pra cá. Ele, quando eu era pequena, não existia não. Já era mocinha quando começou. Aí quando eu comecei assim... Assim que ele começou, eu comecei também a desfilar, mas eu não me lembro.

P/1 – E quando o desfile era aqui em Santa Tereza, como é que é? Vocês saíam aqui da Barreira, iam andando...

R – Saía... Cantando, cantando e samba no pé mesmo. Só no gogó e samba o pé.

P/1 – E descia como? Rua Almirante Alexandrino...

R – Descia, descia... É, é, é... Descia a Rua Almirante Alexandrino toda, descia tudo, ia até o Largo dos Guimarães e os carros davam... Parecia que já sabiam, já estavam acostumados com aquilo, né? E andavam, andavam encostados, a gente ia passando numa boa.

P/1 – E, assim, que dias normalmente que eram? Era domingo de carnaval, sábado de...

R – Era sempre, era sempre depois do desfile que a gente... O oficial, né? Que seria do... Que a gente é pela RioTur mesmo, RioTur é? Acho que é. Sempre desfilava, tipo assim, um sábado, um domingo era o desfile de Santa Tereza.

P/1- Quer dizer, era depois do desfile oficial? E esse desfile de vocês era patrocinado por alguém? Alguém bancava isso ou cada um fazia a sua fantasia?

R – Não, não, cada um fazia a sua fantasia.
P/1 – Escolhia uma ala e cada um fazia a sua fantasia. Você tem noção de quantas pessoas chegou a ter num bloco?

R – Não tenho não, mas tinha muita gente.

P/1 – Uma ala sua podia ter quantas pessoas?

R – A minha ala tinha trinta e poucas pessoas, a minha ala.

P/1 – Mulheres e homens?

R – Mas saía mais mulher, entendeu? Que a gente já arrumava uma ala para mulher mesmo, entendeu?

P/1 – Ah, é? Por que?

R – Não sei. De repente, era o figurino mesmo que tinha mais para mulher, entendeu? Não tinha aquela misturada como nas grandes escolas, que tem numa ala é para homem e para mulher. Mas, de repente, eu não me lembro, mas acho que só era para mulher mesmo assim, entendeu? A ala só tinha para mulher mesmo. Não tinha aquela misturada...

P/1 – Mas vocês, por exemplo, ensaiavam antes?

R – Ensaiava.

P/1 – Ensaiava quando? Como é que eram os ensaios?

R – Tinha, tinha... Pô, hoje, eles avisavam: “Oh, ensaio para o dia do desfile.” Estava todo mundo lá.

P/1 – Quer dizer, os ensaios, então, eram aonde? Lá onde? Aí o pessoal convocava “vai ter ensaio” e era dia de semana, de noite, onde é... No sábado, domingo?













R – Ensaio na quadra. Era mais assim, a partir de quinta-feira. De quinta até domingo, que eles marcavam o ensaio. Até poderia ser na quinta ou então na sexta ou domingo. A partir de quinta-feira em diante que seria... Que eles marcavam os ensaios.

P/1 – De noite?

R – De noite. Todo mundo estava lá.

P/1 – Estava mesmo?

R – De noite, todo mundo lá...

P/1 – Porque você gostavam? O que que significava isso para vocês?

R – Era muita animação, a gente adorávamos muito o samba. Gostávamos demais de samba, demais mesmo. Então, estava todo mundo ali e também era a única festividade que tinha aqui. Os moradores todinho participavam. Era muita gente, muita gente para desfilar, muita gente.

P/1 – Mas assim, durante o ano tinha... Não se ensaiava, era mais perto do carnaval, como é que era isso?

R – Bem, o ensaio era aquele negócio; era samba todo final de semana, entendeu? Todo final de semana era samba. Então, depois tinha aquele negócio de ensaiar com alegorias, não sei o que, aí que eles marcavam à noite, ou quinta, sexta, sábado. Mas o ensaio era todo ano. Era o samba mesmo.

P/1 – E tinha um barracão daqui?

R – Tinha, tinha. Bem, ele era de madeira. Depois foi... Fizeram de tijolo, né? E assim foi.

P/1 – E aonde é que era?

R – Aqui na Barreira mesmo.

P/1 – Chamava barracão... Tinha nome?

R – Os Acadêmicos.

P/1 – E o que que tinha lá dentro? Guardava o que?

R – Não, lá tinha... Lá tinha, assim, fogão, geladeira porque tinha freezer também porque era aquele negócio; eles compravam as bebidas para revender no dia de samba, né? Que era o dinheiro que eles arrecadavam também para ajudar no desfile do Acadêmicos.

P/1 – E, assim, tinha... Tem alguma pessoa aqui... Assim, era considerado o mais expoente no bloco? Algum moço, uma moça, tinha alguém mais, assim, ou que cantava, ou que tocava um instrumento, ou que dirigia? Alguém que chamava mais atenção, que era... Quem era o responsável?

R – O responsável era os diretores mesmo, não tinha aquele dizer “esse...”, entendeu? Chamava atenção que era o outro. Eram os diretores mesmo e neles que as pessoas, quando precisavam de alguma coisa, iam pedir, entendeu? Não tinha assim... Os diretores mesmo.

P/1 – E tinha baiana? Tinha ala das baianas?

R – Ah, tinha, tinha.

P/1 – Você lembra de algumas das roupas dessas baianas?

R – Lembro.

P/1 – É? Também era tudo azul e branco?

R – Azul e branco.

P/1 – É. E a dona Zilda Bernadete é uma baiana famosa, você lembra de ver ela desfilando?

R – Lembro, claro, claro. É, lembro. Ela desfilou muito, desfilou muito com a gente, comigo. Desfilou muito. Era porta-bandeira.

P/1 – Ela era porta-bandeira? Como é que era a bandeira dos Acadêmicos, você lembra? [risos]

R – Não sei te dizer não.

P/1 – Não.

R – Não lembro não.

P/1 – Mas também era branco e azul?

R – É azul e branco.

P/1 – É azul e branco. Cor da Portela, né?

R – Eu não sei, eu não lembro a estampa dela e nem o que dizia, porque tinha escrito alguma coisa, mas eu não me lembro.

P/1 – Bom, Neide, aí você... Você estudou aonde?

R – Na escola ________.

P/1 – Você fez até que ano?

R – Terminei o primário, aí depois fui para a Escola Municipal Santa Catarina, fiz ginásio, né? E segundo ano na Escola Municipal Celestino da Silva.

P/1 – E, assim, você depois casa, né, e seus filhos nascem aqui na comunidade, não é isso? Como é que o nomes dos seus filhos?

R – Helen, Helen Galvão do do Amaral Frias.

P/1 – Helen nasceu em que ano?

R – 1991. E o Artur, 1995, Artur Frias em 1995.

P/1 – E o que que significa para você, assim, o que que significa esse lugar para você? O que significa o Morro dos Prazeres para você?

R – É, Morro dos Prazeres é lembrança boa do que eu tenho dele, né? Foi muito bom, né? E aquele negócio, “meu tempo já passou”, entendeu? Meu tempo já passou. Meu tempo era muito bom e acabou.

P/1 – Mas você ainda tem família morando aqui?

R – Não. Só eu moro aqui. Eu e meus filhos.

P/1 – E por que que você continua aqui?

R – Eu continuo aqui porque é aquele negócio; eu estou na... Entrei na justiça para que meu marido me dê...meu ex-marido me dê a minha casa. Então, aquele negócio, aqui eu estou esperando. Espero desenrolar esse negócio aí e me devolver a casa. Devolvendo a casa, eu vou mudar daqui.

P/1 – E a casa é aonde?

R – É em Bangu.

P/1 – Você hoje mora numa casa que é da sua família?

R – Da minha mãe.

P/1 – Da tua mãe?

R – É.

P/1 – E essa casa é uma casa super antiga, né? É a casa que a sua mãe... Que você morou quando você era pequena?

R – Que eu morei quando eu era pequena. Essa é a casa que morei quando eu era pequena. Aí, depois mãe, mãe mudou. Tinha outra casa, estava construindo uma casa mais abaixo. Aí, mudou, vendeu a casa debaixo. Essa casa, ela deixou para mim quando eu me separei, eu voltei para cá. Ainda estava aqui, a minha mãe ainda estava aqui. Eu me separei, voltei para cá, aí fiquei morando nessa casa. Minha mãe morava nela. Ela desceu para outra casa, deixou eu estar morando nessa. Depois ela mudou, vendeu a casa debaixo e essa está comigo. Assim que eu sair, eu vou.

P/1 – Em termos assim, de... Aqui, antigamente, você lembra se tinha vendedores ambulantes que iam nas casas, você lembra disso, Neide?

R – Tinha sim. Tinha vendedores de verduras, né? É o “Siri”. O nome dele, a gente chamava ele de “Siri”, o apelido dele, né? Ele vendia verduras assim. Aqui tinha um armazém também, que tinha uma bancada, assim, que eles vendiam verdura, frutas.

P/1 – Aonde que era o armazém?

R – Armazém aqui abaixo, os pés do Morro dos Prazeres.

P/1 – Tinha nome esse armazém? Vocês falavam...

R – É armazém só. Sempre chamamos de armazém. Então, aqui tinha uma bancada, tinha uma pessoa que vendia também, aquelas coisas; frutas, verduras, legumes.

P/1 – Aqui no Morro? Nesse armazém?

R – Nos pés do Morro.

P/1 – E, assim, essas tendas, essas biroscas, sempre teve isso no Morro?

R – Sempre teve, sempre.

P/1 – Tem alguma mais famosa, mais antiga?

R – Antiga é aquela de perto do... Não existe mais. Ali perto do centro de macumba, não tem? Você sabe onde é?

P/1 – Sei.

R - Aqui no Morro dos Prazeres. Então, você entra no centro, não tem outra porta?

P/1 – Tem.

R – Você passando, vai passando. Aí tem a porta do Centro, tem outra porta?

P/1 – Tem.

R – Então, aquela porta sempre existiu, só que na escadinha que a gente desce era aberto, que era a tendinha.

P/1 – Ah, entendi.

R – Eles só fecharam tudinho, fecharam tudo e deixaram aquela porta, que agora faz parte do centro. Então, de vez em quando, tem sessão no centro, as pessoas vão ali comprar, mas só para as pessoas que estão ali no dia de sessão. Fora isso fica fechado.

P/1 – Mas tinha nome essa tendinha? Quem era o dono assim?

R – Ele era antigo. Eu tinha, assim, tio do meu pai, né, era o Rubens, então a gente chamava ele de “Tio Rube”.

P/1 – Tio Rube?

R – É, Tio Rube.

P/1 – Era a tendinha do Tio Rube.

R – Era a tendinha dele.

P/1 – E hoje tem outras tendinhas, você sabe o nome?

R – Hoje tem outras novas, que é do Toninho, do Agnaldo, do Luís que acabou.

P/1 – Qual a diferença entre uma tendinha e uma birosca? Existe essa diferença?

R – Acho que não tem não. Acho que tudo é uma birosca só. [risos] Uma birosca só porque vende bebidas, vende refrigerante, vende tudo.

P/1 – Vende ovos?

R – Vende tudo!

P/1 – Biscoito...

R – Até frango congelado vende.

P/1 – Uma tendinha ou uma birosca?

R – Vende, vende desde queijo, vende mortadela, vende tudo. É tipo um mini-mercado, só que é esculhambado [risos].

P/1 – Agora, por exemplo, vocês como meninas, tem um campo lá em cima de futebol, né? Vocês iam assistir os jogos...

R – Tem o campo da Colina.

P/1 – Da Colina.

R – Campo da Colina. Naqueles tempos bons, bom, eu assistia. Sempre, todo domingo subia. Todo domingo fazia as coisas tudo cedo em casa, acordava cedo, fazia as coisas, adiantava para ir para o campo para assistir futebol. Aí ficava até às 15:00, 16:00, porque depois do futebol sempre rolava uma cervejinha.

P/1 – Ah, é? [risos]. E rolava um sambinha também?

R – Ah?

P/1 – Rolava...

R – Ah, de vez em quando rolava sambinha, quando estava muito animado. O time ganhou, entendeu?

P/1 – Qual era o time que você torcia? Tinha um time?

R – Tinha, tinha o... Acho que era... Não me lembro muito o nome dele não, mas acho que era... Era até do Heitor.

P/1 – Ah, é?

R – Era até do Heitor, mas não lembro... Não estou lembrando o nome agora. Aí subia. Então, ele levava a gente para todo campo que ele ia jogar, ele levava a gente. Levava a gente lá.

P/1 – Depois você vê esse nome para gente. Não era o que era do Flávio, aquele...

R – Não, não. Era do Heitor mesmo. O Heitor era o dono do time, entendeu?

P/1 – Aí tinha torcida organizada para o Heitor?

R – Com certeza, com certeza. Aquela briga de torcida assim. Tipo assim, quem tem maior torcida, entendeu?

P/1 – Mas a tua família estava com a turma do Heitor?

R – Estava lá, chamam todo mundo. A família dele, a minha porque a minha também é muito grande.

P/1 – Família Galvão do do Amaral, né?

R – É, é muito grande, a dele também. Então, é aquele negócio; ia para todo campo atrás.

P/1 – O Heitor é teu cunhado?

R – Meu cunhado.

P/1 – O apelido dele é “Heitor dos Prazeres?”

R – É.

P/1 – E ele também era do bloco?

R – Diretor do bloco.

P/1 – Diretor do bloco. E também era ligado no futebol?

R – É, era também.

P/1 – E hoje ele mora aonde?

R – Mora na Vila Kennedy.

P/1 – Ele é casado com a sua irmã?

R – Casado com a minha irmã.

P/1 – Tá bom. Então, super obrigado, Neide.

R – Obrigada.