Museu da Pessoa

Revolta, rock e propaganda

autoria: Museu da Pessoa personagem: José Carlos Minervini

Projeto Ponto de Cultura Museu Aberto
Depoimento de José Carlos Minervini
Entrevistado por Isabela de Arruda e Thiago Belotto
São Paulo, 25/03/2010
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PC_MA_HV256
Transcrito por Ana Cristina Benvindo
Revisado por Gustavo Kazuo



P/1 - Então, eu vou pedir, pra gente começar, que você diga o seu nome, o local e a data de nascimento.
R - Meu nome é José Carlos Minervini. Nasci em São Paulo, capital, no bairro do Bixiga, Maternidade de São Paulo e a data do meu nascimento é 28 de fevereiro de 1944, um ano bissexto. Sendo que, hoje tenho somente 22 anos.

P/1 - E o nome dos seus pais?
R - Meus pais falecidos, Homero Minervini e Luíza Martini Minervini.

P/1 - O senhor sabe um pouco da origem da sua família?
R - A origem da minha família, reportando, há mil anos que somos descendentes de mouros negros que se estabeleceram no sul da Itália e na Calábria, ficando 900 anos ali. Pelo estudo, pela formação etimológica da palavra, descia até aquele ponto de pesquisa. Sou descendente de mouros negros da Mauritânia, porém italianos. Meus avôs maternos de origem calabresa e os meus avôs paternos de Florença, da Itália se aportaram no Brasil no final do século XIX, sendo que parte da família oriunda foi para a Índia, Argentina, Brasil e Estados Unidos.

P/1 - E você sabe um pouco como foi quando eles chegarem aqui? Onde eles foram se estabelecer?
R - Naquela ocasião, pelo fim da escravatura, havia necessidade de mão-de-obra para a lavoura. A prova é que os italianos, japoneses e outras raças do mundo inteiro foram convidadas. Sendo hoje, até comentamos, dia 25 de março, marcando 100 anos da presença sírio-libanesa no Brasil. Mas os italianos se aportaram no final do século XIX e justamente para trabalhar nas lavouras, né? E, realmente, após os índios que não deram certo e os negros, acabou a escravidão e deram-se bem. Alguns vieram pra capital, não foram para lavoura e se estabeleceram com comércios em São Paulo, capital, que naquela época constava apenas com pouca civilização. Prova é que em 1950, a data em que começo a me reportar à minha verdadeira história, tinha 500 mil habitantes.

P/1 - Mas então a sua família se estabeleceu, ficou na cidade mesmo?
R - Ficou na cidade, sendo que se estabeleceram no local que hoje é denominado Vila Mariana, chamava-se Cruz das Almas. São eles os legítimos fundadores do bairro, cujo bairro é o único que consta uma bandeira. Tem uma bandeira para o bairro de Vila Mariana. E junto com a família Klabin e Cantarella formaram uma grande parte da Vila Mariana, tomando parte lá, cercaram tudo e venderam lotes. Enfim, são os pioneiros do bairro, únicos. Inclusive, eram lampiões a gás no início do século.

P/1 - Mas assim, os seus avós eles tinham... Qual era o nome deles?
R - O nome deles, da parte paterna Giuseppe Minervini, da parte materna Giuseppe Martini. Minha vó Barata, Josefina Barata Martini e a minha vó paterna, de origem, até que eu falei do sul da Itália, Emília Minervini, mas ela é oriunda da Albânia.

P/1 - Mas você conviveu com seus avôs?
R - Conheci todos eles, lógico. Embora eles tenham um monte de primos, minha vó com 13 anos gerou o primeiro filho. Com 13 anos, vindo da Itália gerou, meu vô tinha 30. Ela teve 14 filhos, imagina o tamanho da família da minha avó materna e o número de primos que eu tenho de primeiro, segundo grau. Hoje, somos uma família muito grande, espalhada em termos de Brasil. Sendo que, falecida a minha mãe, já em 2009, realmente romperam-se todos os laços de vínculo com a quarta, quinta geração da família. Ainda está presente a primeira e segunda geração, ainda tem contato, depois disso os contatos vão se desfazendo.

P/1 - Certo, mas você sabe um pouco dessa história? Seus avôs contavam esse negócio da fundação do bairro? Como é que foi quando eles chegaram aqui exatamente?
R - Eu te conto mais ou menos a forma. Não foi fácil para se estabelecer. Oriundos de uma terra longínqua como a Itália, embora acostumados ao trabalho árduo a partir de lá. E havia carência, naquela época como hoje, havia uma distribuição de gás em São Paulo, em termos de bujões. Eles visualizaram a possibilidade de mercado, favorecendo assim a entrega de sacos de carvões, porque não existiam bujões a gás, nem nada. Era o carvão mesmo em forno de carvão, então eles eram distribuidores de carvão. Foi aí que eles começaram um trabalho pioneiro, e a posteriori, meus tios foram crescendo e formaram a primeira rede de casa de carnes da zona sul, sendo todas elas da mesma família. Família Martini, tá?

P/1- E aí os seus pais se conheceram como? Todos os seus avós vieram da Vila Mariana ou só por parte dos...?
R - O meu avô paterno e minha avó paterna eram daqui do Jardim América, da rua ali da Oscar Freire, chamada Haddock Lobo, que ainda existe hoje. E é evidente como os jovens naquela época se encontravam aleatoriamente e foi em um encontro de festividades, de festas de famílias e festas de carnaval. Acabaram se conhecendo, principalmente o meu pai e a minha mãe. Eles, decerto, como são os jovens, passaram uma época bonita. Eu, por exemplo, na minha época era metido a Elvis. Hoje, o tempo vai passando, o Tsunami vai chegando, os terremotos na escala 8, você vai mudando a tua fisionomia e deixa de ser o que já foi. Mas eles decerto tiveram o apogeu de sua beleza, se conheceram em uma festa de família, se entrelaçaram e desenvolveram amizade e sentimento, embora minha vó materna fosse muito rigorosa. Casou as dez filhas e usava até arma na cinta para que isso se cumprisse.

P/1- Eram dez filhas?
R - Dez filhas. Quatro homens e dez mulheres, e casou as dez e os quatro. As mulheres tinham horário marcado pra namorar, se furassem aquele horário ela realmente fazia recurso das armas.

P/1 - Recurso das armas?
R - Fazia. O pessoal virava lagartixa.

P/1- (risos) E os seus pais? Eles faziam o quê?
R - Bom, vou começar pelos meus avôs, né? Ele foi pioneiro comercial, o meu avô materno, da distribuição de gás e carvão. E o meu avô paterno era advogado na Itália, estudou para fazer carreira de padre e não deu certo. Ele veio para o Brasil e foi o primeiro designer que o Brasil, talvez, deveras a América do Sul, conheceu. Primeiro designer de calçado, ele media o calçado no pé, desenhava e projetava de acordo com a anatomia do seu pé. Fazia o calçado à mão em couro puro que durava a vida toda. Ele tinha uma fábrica, onde é hoje a Rua Augusta. Só terminou a fábrica, porque tocaram fogo na fábrica dele, devido ao início da II Guerra. Sendo ele de origem italiana... Não eram bem quistos os japoneses e os italianos no Brasil naquela ocasião, quando eu nasci.

P/1- Isso seu avô paterno?
R - Meu avô paterno, ele era um designer e advogado.

P/1 - Que é o mesmo que tinha a distribuidora de carvão, ou é o materno?
R - Não. A distribuidora de carvão era do meu avô materno. Eles vieram e se estabeleceram comercialmente, com essa finalidade. A posteriori, os filhos cresceram, os homens, e tomaram eles a confabulação do comércio de carnes onde meu pai atuou, acho que durante uns bons 60 anos.

P/1 - Então seu pai trabalhava com?
R - Dirigia uma casa de carnes, a central na Vila Mariana, era dele.

P/1 - Entendi. Ficava aonde essa casa?
R - Na Praça Marechal Deodoro de Carvalho, onde existia uma antiga estação de bonde que eu cheguei a ver. Não sou tão velho assim, mas eu lembro que os burrinhos bebiam água ainda. Era onde os bondes eram guardados no final do expediente. Os metrôs de superfície. Os bondes ligavam São Paulo com todos seus quadrantes. Posso falar da história dos bondes e quais bairros que eles ligavam antigamente? Era pitoresca, era bucólica a cidade. A cidade de São Paulo nos anos 50 não tinha criminalidade. O único ladrão que tinha famoso era o Meneghetti, que roubava as carteiras nos ônibus, conhecido, mas não se tinha crime de morte, não se matava ninguém. Havia o respeito, podia-se roubar, mas não se podia matar. Mas os ladrões eram tão poucos que não se falava disso. Podia-se andar à noite, sentar-se nas calçadas, conversar ou nas fogueiras nas festas juninas em que o céu ficava coberto, faiscando de balões.

P/1 - E a sua mãe... Então, seu pai trabalhava na distribuidora de carnes e a sua mãe ficava em casa ou ela trabalhava?
R - Era apenas doméstica. Minha mãe o ajudava no caixa. Ela atuou também, muito também nesse trabalho, mas ela era mais de prendas domésticas mesmo.

P/1 - E como você descreveria os seus pais? Primeiro o seu pai. Como são as lembranças que você tem dele?
R - Olha, eu o vejo como um homem jovem, como todos passam por aquela fase jovem com o intuito de alcançar alguma coisa na vida, em termos comerciais ou familiares. Com filhos, né?

Um homem trabalhador, honesto nessa atitude. Ele, como a esposa, um braço direito tutelar no sentido de emancipação, mantinham coesa a família. E a lembrança que eu tenho dos dois é isso, embora, diga-se de passagem, que fique registrado que eu falo por trás e falo na frente, muito rigorosos em termos de educação. E não era na conversa não, era na base do bofetão pra se resolverem as coisas. Não ouviam os calabreses, era pancada mesmo. Era difícil andar na linha. Não deturpei para caminho nenhum, apesar de uma possessividade em termos de criação. Eu vejo por mim e por uma irmã que eu tenho, mais velha que eu uns cinco anos. Tinha que andar na linha direitinho mesmo, porque o negócio não era na palavra não, era no bofetão pesado.

P/1 - E a sua mãe?
R - Minha mãe, inclusive.

P/1 - Os dois eram super rigorosos?
R - Ela era mais rigorosa ainda.

P/1 - É? Mas como que era sua relação com ela? Como é que ela era?
R - Como se diz em italiano era: “piano, piano”, era bem devagar, era bem light, tinha que medir as palavras. Horário pra almoçar, horário pra sentar, horário pra estudar, tinha-se horário para tudo.

P/1 - Tirando essa parte de ser muito rigorosa, como era a sua mãe? Como você descreveria sua mãe?
R - Muito vaidosa, uma mulher muito bonita. Gostava de cantar, cantou a vida inteira, até morrer, cantou. Gostava de cantar e se apresentar em público ou em festa, alguma coisa assim. Adoravam dançar tango e eu guardo essas imagens deles nesse sentido, exímios dançadores de tango, os dois. Eu olhava. A gente ia nas festas de família que tinham um, dois, três, quatro casamentos por ano. Às vezes, eu até assistia e participava desses casamentos desses primos da família, todos casando. E é uma festividade que eu tentei a posteriori resgatar, reunindo a família a cada cinco anos em uma festa de família, de primos que eu chamei. E começava sábado de manhã, às dez horas da manhã, e terminava domingo à tarde. Passávamos dançando, comendo, brincando, era uma festa sem preconceitos, sem maldade, sem problemas políticos ou religiosos. Esqueciam-se as desavenças que houvessem por ventura de família, naquele dia esquecia-se. Mas o meu pai, por contrário, um homem muito vaidoso, por ser um homem bem apresentável na época, metido a Rodolfo Valentino. Mas que fez o seu trabalho, cumpriu a sua missão em termos sociais, morais na terra. Também ela deve ter cumprido, prova é que eu tô aqui e tenho uma irmã íntegra também, em São Caetano do Sul. Uma família coesa.

P/1 - Vocês são só dois irmãos?
R - Dois irmãos.

P/1 - Dois irmãos. Ela é mais velha que você?
R - Ela é mais velha do que eu.

P/1 - Qual o nome dela?
R - É Clélia Aparecida Minervini Petrelli. Você vê que tudo ficou em italiano, entrando na roldana.

P/1 - E quais eram os costumes da sua família? Vocês moravam próximos aos seus avôs?
R - Morávamos próximos. O costume nosso, em termos de família, era uma reunião anual. Não nos casamentos, que realmente eram festas estupendas. Duravam dois dias os casamentos, com as tarantelas da vida. Era muita fartura de alimentos, era um exagero até. E eram as festas juninas marcantes, eu tenho até fotos disso. Nas festas juninas, eram fogueiras de seis metros de altura, de madeira, na rua onde é hoje o Shopping Center Santa Cruz. Então, aquela fogueira imensa iluminava a noite e tinha tudo quanto era doce. Doce e salgado com respeito às festas juninas do meu primeiro tio, primeiro filho da minha vó, chamado João. Eram marcantes essas festas juninas na data de junho, os casamentos e os natais. Era aquela mesa enorme, uma fartura imensa em que todos se reuniam para saborear e confraternizar assim em família.

P/1 - Desde criança, já sempre ia em todas essas festas, reuniões?
R - Sim, sempre foi assim. Uma família nesse sentido assim... Unida e coesa no sentido mais sentimental, inclusive até comercial. Mas houve uma profusão de amizade e amor até quando foram já desvanecendo um ou outro, pela idade. E aí os zeros vão se separando automaticamente, como é hoje já na quinta ou sexta geração, já deixei dito em família. A minha mãe, falecida o ano passado com 90 anos, foi o último elo que ligava a família. Que doravante, cada um enterra seus mortos. Eu não vou ao enterro de nenhum parente mais, nem nenhum primo. Já carreguei muito caixão, cada um enterra seus mortos. Cabe só lembrança, a solidariedade fica pra cada um no seu seio da sua própria família. A família se desfez.

P/1- Mas os seus avôs, voltando ainda um pouquinho na sua infância e tal, contavam muitas histórias da Itália? Tinham o costume de contar histórias ou seus pais? Como é que era?
R - Eles tinham. Geralmente, as pessoas mais antigas oriundas da Itália ou de outras regiões, Espanha ou os países latinos e europeus, tinham uma filosofia de vida que não foram as escolas que ensinaram. Mas eles tinham sabedoria de existência de vida que tentavam passar aos filhos, consequentemente chegando até nós: a segunda geração. E uma forma de modus vivendi, uma forma de evitar conflitos, uma forma de querer bem as pessoas. Então, eles passavam isso para nós para que uníssemos em termos humanos com as pessoas, mais em prestação de amor e solidariedade do que de antagonismo, brigas ou desavenças, entende? Isso nos reportou para que déssemos esse passo em sentido educacional. Eles não tinham muita cultura, pelo menos os meus avós maternos, mas foi isso que eles passaram pra nós, em termos de educação.

P/1 - Mas eles contavam da viagem ou como que era lá?
R - Se contaram da viagem ficou um pouco perdido, porque a minha vó veio pra cá com 13 anos. Vieram todos com baixa idade e já enfrentaram um país novo com muita luta, sacrifício de trabalho, e conseguiram hoje. Minha vó deixou um patrimônio muito grande na Vila Mariana que foi dividido. Eu cuido, o que veio pra minha mão tá novo, tombado pelo patrimônio, pelo Condephaat [Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico], mas eu cuido, tá novo. Meus primos não têm esse mesmo cuidado. Eu vejo o trabalho árduo que eles tiveram no passado e temos que manter aquela lembrança com respeito, mantendo aquele imóvel, mesmo porque eu não posso mexer naquele imóvel, até mesmo pela situação do governo. Um patrimônio histórico da cidade, onde foram as primeiras casas operariadas que se formaram na cidade de São Paulo, na Vila Mariana.

P/1 - Mas eles tinham várias casas? Como é que era esse lugar onde vocês moravam?
R - Eram várias casas iguais, tipo vilas, que eram formadas justamente na Rua Afonso Celso em confluência com a Rua Santa Cruz. Hoje, algumas já se descaracterizaram, mexeram e não deviam ter feito isso. Vou até me reportar para a Prefeitura, se tem alguma verba para que eu possa utilizar na pintura ou manutenção e deixar as casas como eram. Já que está preso no IPTU [Imposto Predial e Territorial Urbano] pelo fato de ser um patrimônio público preservado pela história paulistana, então tá lá pra quem quiser ver, existe até hoje. Exemplo, que naquela época o material da construção – estamos dando um salto na explanação, mas já voltamos depois nas suas perguntas – vinham... As portas vinham de Portugal, tudo de carvalho, os vidros a cores vieram da Bélgica, tijolos imensos ainda. Era uma casa para durar 100 anos e vai fazer logo, logo 100 anos que ela tem.

P/1 - Mas me deixa entender melhor. Então tinha uma casa onde os seus avôs moravam.
R - Que era a sede.

P/1 - A casa onde você morava com os seus pais. E as outras casas? Quem morava lá?
R - Ela mesma adquiriu, a minha vó. Ela adquiriu, alugava e não podia vender para os filhos diretamente, porque havia um problema, a posteriori, de reivindicação de herança. Mas ela construiu várias casas, comprou vários terrenos, construiu casas para locação.

P/1 - Agora eu tô entendendo.
R - Aí acabamos até adquirindo algumas na sequência e é até interessante citar que mesmo minha mãe comprando uma casa dela, foi obrigada a pôr no nome de um cunhado para não haver confluência no futuro de que ela tinha beneficiado uma filha em questão de herança que, por sinal, surgiu um apogeu no falecimento deles, que hoje devido a partilha foi tudo colocado no lugar. Tudo calminho, tudo sossegado, cada um com o seu quinhão.

P/1 - E as casas eram todas iguais?
R - É aí que tá. Era tudo uma coisa igual, daí sendo a primeira vila operária de São Paulo. Atendida por bondes na época, bonde puxado a burro.

P/1 - E como que eram essas casas, além desses vidros... Se você tivesse na frente delas, como você descreveria?
R - Olha, a casa tem dois sentidos. Tem os sobradinhos que vinham a ser os mais modernos e aquelas casas iguais, paliativas, lado a lado, que eram os pequenos jardins na frente com muros de madeira, cercados de madeira, o alpendre que adentrava a casa e depois a sala de visita, a sala de estar ou de jantar, primeiro as portas seriam o primeiro quarto, o segundo quarto, cozinha, o banheiro e o quintal, com um ou dois quartinhos no fundo, inclusive.

P/1 - Era uma casa grande, uma casa gostosa?
R - De frente, pode ser uns 8x25, não chega a passar disso não. Até por 30 metros. Eram casas boas, todas iguais, lado a lado. Modificaram com o tempo algumas coisas que não deviam ter sido modificadas. Era pra manter, é patrimônio, já que dizem que aquilo é um patrimônio. Do meu lado, era um pequeno sobrado, já em cima, que nem hoje, é locação com um pequeno restaurante embaixo. Os sobrados de cima adentravam de uma escada feita de granito à mão, lustrada por macre, que hoje é uma técnica que não existe mais. Com todos os materiais oriundos de outros países. Madeiras de Portugal, carvalho, e vidros da Bélgica. Sob essa escada tinha um alpendre no hall de chegada, um quarto bom que dava frente à rua, do hall se reportava ao toalete, sala de jantar e estar, corredor, cozinha e área de serviço. Os sobrados são assim todos lá.

P/1 - E agora que você falou, eu me lembrei... Por que o nome anterior era Cruz das Almas, do bairro, e depois passou a Vila Mariana?
R - Na realidade, aquilo a posteriori foi uma fazenda. Pertenceu à fazenda a família Klabin e foi loteado, passando a ser Cruz das Almas. E Cruz das Almas, foi devido a um cemitério clandestino que tem na altura da Rua Santa Cruz, no final de quem vai já pra Imigrantes. Onde ia disputar ali os oriundos de Santos, boiadeiros que levavam carga pra Sorocaba e as contentas deles eram definidas ali em termos de acerto de contas. Ali sobrou muita gente enterrada em cemitério clandestino e ficou chamado de Cruz das Almas. Aquele local não tem nada a ver com a Rua Santa Cruz, embora desemboque no mesmo local. Mas, depois, a posteriori, veio através das minhas tias, Mariana, Ana Rosa, todas elas oriundas, filhas da minha vó que foram ganhando os títulos e nomes de locais.

P/1 - Então, Vila Mariana, Largo Ana Rosa...
R - Todas falecidas.

P/1 - Elas eram suas tias?
R - A minha mãe era a mais nova e já foi embora com 30 anos. Você viu como o negócio reporta pra final de século XIX mesmo, né? É incrível.

P/1 - E você tava contando um pouco como era a casa e como era a rua onde vocês moravam?
R - Puxa vida... Eu vou ser - Gabriela... Não Isabela, perdão. Depois você corrige isso aí – Isabela, você me ajudou a lembrar, reportar àquelas ruas tudo de terra. Não passava um carro, não existia. Estamos falando em 1950. Os carros e as ruas de terra. O Brasil não fabricava, começou a fabricar dois anos mais tarde. E os carros que tinham aqui eram os americanos pós-guerra que nós compramos até peruas velhas da polícia da América do Norte e trouxemos pra cá os Fords 40, 41, 38, 37. Passava um carro a cada duas, três horas, principalmente na rua chamada hoje Domingos de Morais, que é uma continuidade da Avenida Paulista. Depois que foram substituídos os bondes puxados a burro, cujo matadouro... Havia um matadouro na Vila Clementina ali perto de onde é hoje o museu de artes. Então, os bondinhos desciam com os boizinhos para serem sacrificados lá, limpos lá. E foi a posteriori servido de bondes e, quando havia festa junina, as meninas brincavam nessa fazenda. Era uma fazenda loteada, Fazenda Klabin, cuja sede eu conheci. E conheci o Segall, o famoso pintor Segall, que vi pintando quadros ali na Rua Afonso Celso. Ele era casado até com a Beatriz Segall, atriz da Globo. E eu vi a história, vi ao vivo, conheci ele vivo. E é interessante ver a obra ainda dele, existe o museu dele na Rua Afonso Celso. E naquela rua, anteriormente, brincava-se à vontade, não tinha criminalidade. Eu me lembro, era... Vou falar, mas não sei se vocês vão saber o que é isso: brincadeira de cela, bolinhas de gude, pipa pra ser empinada, cabana em cima da árvore. Então, a minha juventude viveu, não tinha computador nem televisão. A televisão só foi entrar quatro anos mais tarde pela TV Tupi, em São Paulo, apresentando programas que nem Arrelia, o palhacinho falecido... Esqueci o nome dele. Alegrava as tardes de domingo nossas. Então, eram brincadeiras em que não havia maldade, não havia criminalidade. E o bairro foi se desenvolvendo devagar, contava-se naquela época, em 1950, como eu te falei, com umas 500 mil pessoas na capital de São Paulo. Os bondes já começavam a interligar, em termos elétricos, fazendo a ligação entre Vila Mariana, no contorno ali da Vila Mariana até a Lapa e a Penha, e da Praça João Mendes bonde até São Judas Tadeu ou até Santo Amaro, que era um passeio divino. Bondes fechados, chamados camarão, porque lembravam a cor de um camarão, de um peixinho mesmo. Corriam muito onde é hoje a Avenida Ibirapuera ou Vereador José Diniz. Ele ia até o Largo do Socorro lá embaixo... Voltava pra Ana Rosa. Era um passeio fantástico. Passava pelo Campo Belo, Brooklin, outros bairros, mas era tudo um mato só. Não tinha casa como você vê, carro nenhum passava ali, só o bonde.

P/1 - Agora, vou só voltar um pouquinho. Você contou das brincadeiras, vocês brincavam na rua então?
R - Na rua.

P/1 - Você, sua irmã? Tinha mais os primos, quem que brincava?
R – Vixe. Olha, juntava o bairro inteiro de jovens. Era separado em três gerações e os mais velhos nunca confabulavam com os mais novos. Cinco eram mais velhos, a gente era pivete. Então, nós brincávamos mesmo de pipa, futebol então..., brincadeirinhas. Assim, para os mais velhos era mais paqueras, mais passeios, eram coisas mais enturmadas. Mas irmãos, né? Irmão, porque eram os irmãos mais velhos. Mas era brincadeira de corda, pega-pega, esconde-esconde, isso era todo dia. Voltava para dentro de casa pra parar de brincar, pra tomar o seu banho e dormir a base de bofetão, porque a gente não voltava, não entrava mesmo, entendeu?

P/1 - Você quer fazer alguma pergunta?
P/2 - Dos amigos que você tinha no bairro, tinham alguns com quem você tinha mais intimidade?
R - Tenho amizades minhas que duram até hoje. Eu o conheço, estive com ele semana passada. São exatamente 60 anos, éramos vizinhos. E essa amizade existe até hoje, o meu respeito e amizade por ele, pela família dele, por ser meu amigo. E outros se conservam até hoje e relembramos esses fatos, como estamos conversando aqui, relembramos muito de alguns fatos. Os colégios pelos quais passamos e as amizades que nós tínhamos. Até cito de passagem, a posteriori, quando eu já tinha uns 14 anos, quando conheci o primeiro conjunto instrumental vocal feminino do mundo, pelo que eu conheço de música. As moças tocavam muito bem, tinha o baixo, a bateria, a guitarra e a cantora. O tempo passou e desfizeram o conjunto, mas a cantora persiste até hoje, é a Rita Lee, que morava na Vila Mariana, uma colega nossa.

P/1 - Bom, então tinham esses passeios de bonde também...
R - Passear de bonde era uma coisa maravilhosa que nós fazíamos.

P/1- Mas vocês eram ainda crianças e já faziam esses passeios?
R – Uh, se fazíamos...

P/1 - Todo mundo?
R - Todo mundo, não tinha perigo. Olha, nós éramos pequenos e chocar bonde também era a nossa aventura, sabe o que quer dizer?

P/1 - Chocar bonde?
R - Fazia o balão no Liceu Pasteur, onde é um colégio hoje, e o bonde ia começar a sair, a gente subia pra pegar carona uns 200 metros até o ponto de partida. Coisa de criança, o trem parou. Houve alguns perigos depois, de cair do estribo e paramos com essas brincadeiras. Mas era subir, pagar passagem e ir tipo até a Lapa ou até a Penha. Não tinha outra coisa pra se fazer.

P/1 - Vocês iam sozinhos? As crianças sozinhas?
R - É. Sozinhos. Não tinha esse negócio de sumir criança ou raptar. Não existia isso aí. Não existia mesmo. E voltávamos com o próprio bonde, tudo vazio, a cidade era vazia. E a posteriori, quando ficamos um pouquinho mais velhos, tipo com 13 anos, já pegamos gosto por cinema. Aí tinha lá, desde a Praça Dom Pedro II, onde se tinham os cinemas mais modernos do Brasil, que eram o Dom Pedro I e o Dom Pedro II. Tudo aveludado de vermelho, um cinema finíssimo, chique. O bonde deixava o pessoal aos sábados. E era de gala, o pessoal ia arrumado, não se andava no cinema sem gravata, era muito alinhado. E nem no colégio, nem na escola, mas isso é outra história. E o bonde fazia, subindo a Rua Vergueiro e já começava ali na Praça da Liberdade, com o Cine Joia. Olha, como o cinema tinha... Depois tinha o Cine Liberdade, Cine Leblon, já no Paraíso, Cine Cruzeiro, na Praça Ana Rosa, que foi o maior cinema que existiu no mundo, 2650 lugares e tinha até mezanino. Imenso, só lotava quando tinha uma cena de dois segundos de sexo, não explícito, mostrando alguma nudez rápida, lotava de homem. Então, o Cine Teatro Phoenix, logo adiante, e era isso a cada 500 metros. Cine Sabará, Olido, o Nilo. No Olido tem um caso interessante, a gente entrava lá e saía acho que carregado por pulgas. O que tinha de pulga naquele cinema era uma coisa incrível. Pulgueiro mesmo, muita pulga Eu falei isso, que na próxima história vou contar a história do cinema, tinha muita pulga. Depois, vinha o Cine Estrela I e II, que eram um ao lado do outro, Cine Jabaquara, e lá no Jabaquara já o Maringá. Eram 13 cinemas em sequência, que fizeram da Praça da Sé a Zona Sul, e eu conheci todos. Nós éramos assíduos frequentadores de cinema, e, advindo já com o início da revolução musical e social que nós... Você está olhando para um revolucionário da época, não de 64, político, como também social, porque eu virei a mesa em termos sociais. Não aceitava mais entrar de gravata na escola. Mesmo porque, a economia em 1958, eu saindo à noite do colégio já quase no final do ano, saindo da rua, não sei de onde veio aquele som. Não sei, mas ouvi uma música sendo cantada, que depois eu vim a saber quem era. Era “Blue Moon of Kentucky”, quem cantava era Elvis Presley. Mas aquilo mudou minha vida, minha forma de pensar, aquele hino despertou e nunca mais fui o mesmo homem. Fui revolucionário, fui rebelde, confesso. Não fiz mal pra ninguém, mas que eu virei a cabeça de muitos jovens virei. Aí passou a entrar rock’n’roll, e eu dançava em um programa no canal cinco, que vou até falar com ele, é amigo meu e conhecido, o Juca Chaves. Um programa chamado “Ritmos da Juventude”, que quando a gente dançava era com um grupo de jovens judaicas e elas dançavam muito bem. Como jovem, pesando 50 quilos a menos, nós jogávamos as moças no teto nos rock’n’rolls da vida, quando Elvis tocava e cantava. O Elvis sempre foi o nosso ídolo. Evidente que tiveram outros cantores, como Neil Sedaka, Paul Anka, Little Richard. Ok. Começou e toquei Bill Haley, toquei os seus conjuntos, os seus cometas. E esses discos que eu falo, essas músicas que eu falo, eu tenho todas em lembrança e em vinil novos de 78, também novos. É um amor que eu tenho, inclusive o aparelho que toca. Lembrança, nós somos revolucionários, viramos a mesa. Hoje, a liberdade que os jovens como vocês têm, é graças a nós, que somos o elo entre um passado muito hipócrita e uma liberdade que vocês têm, que oxalá não seja uma liberdade demais para não se magoarem, para não se ferirem, mas que sirva à vida de vocês. Vocês são seres humanos que ganham a consciência e têm que viver com liberdades. Com honestidade e liberdade vigiadas, no sentido de não prejudicar terceiros, só isso.

P/1 - A gente vai pra juventude já. Então, ainda quando você era criança tinha algum sonho do que queria ser quando crescesse? Alguma inspiração?
R - Sim, sim. Eu, embora tenha partido para outro campo de atividade, que foi propaganda e publicidade, marketing. Lancei várias coisas que você, como moça usa. Eu tinha um sonho maravilhoso, queria ser piloto de avião. Eu tentei de tudo, mas depois eu cresci e desvirtuei a ideia, fui para outro lado. Esse era o meu sonho.

P/1 - Você via, gostava?
R – Adorava. Na Vila Mariana, onde eu morava, na esquina da Santa Cruz, eu via o Aeroporto de Congonhas. Os aviões subiam, eu via. Olha como era descampado. Eram os famosos aviões DC-3 e voei muito neles no Projeto Rondon, no Amazonas. Dois motores faziam um barulho desgraçado, parecia o fim do mundo, mas voavam direitinho. Nunca... Um ou dois caíram por problemas técnicos, mas os aviões naquela época, os de passageiros e de carga, eram eles: DC-3 e 147 militar. Maravilha. Tinha uma paixão de voar naquele. Fica pra outra encarnação, nessa não deu.

P/1 - E aí você começou a frequentar a escola? Como foi esse começo?
R - Não, minha escola toda, primária, foi a escola Marechal Floriano Peixoto, na Rua Dona Julia, Vila Mariana. À noite, chamava-se Brasílio Machado, escola estadual de primeiro grau Brasílio Machado. Eram diferentes os estudos, eram ginásio, depois científico, essas coisas todas. Era diferente do que é hoje, oitava série, sei lá, confundo um pouco essas coisas, mas era mais ou menos igual.

P/1 - E qual é a sua primeira lembrança da escola? Como é que foi quando você chegou lá?
R - Olha, eu lembro o nome até das minhas professorinhas de iniciais. Vera Lúcia do Jardim da Infância, que Deus a tenha, oxalá que esteja viva a Vera Lúcia. Meiga, nossa. Eu era menino, moleque, mas tenho essas boas lembranças dela, era tão boazinha e dedicada aos meninos, era tudo moleque de cinco anos. Só tenho lembranças disso aí, e as professorinhas já do primário. Foi a escola onde estudou a minha mãe, estudaram minhas tias, minhas primas, tudo lá na Marechal Floriano, na Dona Julia, Vila Mariana. Todos nós estudamos lá e eram muito mais rigorosas as escolas públicas do que as particulares, naquela época. Por causa de um grau, não passava de ano. Meio grauzinho não passava de ano. Nós tínhamos 15 matérias e hoje têm meia dúzia, reprováveis quais? Não passava se não soubesse. Latim, canto orfeônico, trabalhos manuais, música, e se você não tivesse noção dessas coisas, aprendesse mesmo, não passava de ano. Francês, então... Hoje, eu falo cinco idiomas baseado naquele passado. Eu sei soletrar verbos latinos até hoje; francês, até hoje. Então, você vai ao âmago. Tenho facilidade por idiomas, eu gosto, então, você vai se aprimorando e se aprofundando. E tive o prazer de revisitar, até mesmo porque sou do bairro, pedi permissão ao diretor atual para me deixar passear por dentro daqueles espaços do colégio. E hoje eu acho até pequeno, porque naquela época era tão grande. Mas tá lá de pé ainda, tá servindo a coletividade, a sociedade, oxalá que mantenham aquele prédio intacto, que serviu a tantas pessoas, passou tanta gente ali importante, que hoje tão até na televisão, né? Tony Ramos é um deles. Então, o que acontece, essas lembranças boas dos professores, dos diretores, que eu tenho lembranças deles, embora não permitissem nada de leviandade. Correr, dar um passo maior lá, correr ou brincadeira no pátio, era castigado com o tal puxão de orelha. Não eram fáceis os puxões de orelha.

P/1 - Corria muito? Levou uns puxões de orelha na escola?
R - Tinha um professor, eu até falei dele hoje, chamava professor, diretor da escola, Trivini era o nome dele. Nós chamávamos de atrevido, já era todo malicioso na época, e ele me deu uns puxões de cabelo, com o cabelo assim pra cima: “Não é pra correr aqui, moleque”. Aí não corria mais, nunca mais. Era muito rigoroso o sistema e isso tudo com o uniforme, isso no primário. No ginásio, entrava-se na sala, não se fumava na sala, todos de gravata, e o professor entrava e ficava-se de pé em respeito ao que ele ia apresentar, ele entrava e não tinha um pio na aula, a turma assistia a matéria que ele tava pregando.

P/1 - Vocês iam a pé pra escola mesmo ou pegavam o bonde?
R - A pé porque era pertinho e, no caso, tinha o bonde. Alguns colegas pegavam o bonde, porque moravam já na tal de primeira sessão, chamada Praça da Árvore. Eles pegavam o bonde e eu lembro custava um passinho amarelo, chamado CMTC [Companhia Municipal de Transportes Coletivos], que custava cinco centavos de Cruzeiro, porque na época era usado o valor cruzeiro, cujas moedas eu tenho até hoje. Cruzeiro chamava... Era um passe amarelo que você pagava, como estudante, um passinho amarelo.

P/1 - E aí o ginásio era na mesma escola?
R - Era. De manhã o primário até o quarto ano, depois à noite virava o ginásio para o científico já, o primeiro, segundo... Essas sextas, oitavas séries, até o final. Você tinha três opções, o Clássico, o Científico e – deixa ver o outro – era Magistério, quem gostava de estudar pra ser professor, essas coisas todas – mas tenho que lembrar o nome certo, eu já te dou já.

P/1 - E você fez o Científico?
R - Eu fiz o Científico.

P/1 - E como é que era? Ainda eram os mesmos amigos ou como era a sua turma?
R - Não, a turma particular já se separou para outras escolas e foram para outras escolas pagas, como o Colégio Arquidiocesano e Liceu Pasteur. E terminando ali, isso já bem recente, fui pra primeira escola que tinha. Lá antigamente você podia estudar o quê? Medicina, ou contabilidade, ou jurídico, advocacia, não tinha outra opção. Então, surgiu a escola de propaganda, superior de propaganda, que foi a que eu fiz, na Rua Sete de Abril. A primeira escola de propaganda.

P/1 - A gente vai só parar pra trocar a fita, só um instantinho.

(TROCA DE FITA)

P/1

- Então, voltando um pouquinho, a gente tava falando sobre o ginásio, sua turma de amigos um pouco mais velhos.
R - As festas nossas pró-formatura eram magnânimas. Reuniam aquele mundo, o colégio inteiro dançar, brincar. Entrando o rock’n’roll, naquela época já com o Elvis, Bill Haley. Podem imaginar como eram as festas, né? As meninas sempre discretas, saias compridas, cabelinhos presos assim com o chamado rabo-de-cavalo, que se usava muito, ou trancinhas. Eram assim que elas se apresentavam nas festas, ou quando eram formaturas elas já iam mais empoadas e não se usava calça comprida. Eram só saias, não se viam mulheres de calça comprida, como hoje é comum calça jeans. Diga-se de passagem, não é possível você vangloriar, vou falar a única verdade – que fique gravado e desafio quem me diga o contrário – eu morava na Vila Mariana e tem um bairro chamado Rua Sete, que hoje é Rua São Samuel, atrás do Colégio Brasílio Machado, na Rua Afonso Celso. Tinha várias famílias de americanos, que vinham da América, trazendo calças jeans Lewis, Strauss e Lee. Aquilo virava a cabeça dos jovens em São Paulo, que baseados em um filme, “Juventude Transviada”, e assistindo a esse filme na ocasião, eu fui o primeiro a usar, na Vila Mariana, na Zona Sul, em São Paulo, uma calça Lee que veio dos EUA pra mim, que eu comprei de um americano, já usada, paguei cinco cruzeiros, um absurdo na época. Ainda vendo depois por um cruzeiro, um rapaz me fez tirar as calças pra dar pra ele. Fui o primeiro a usar com cinturão e era uma calça que desbotava e não adianta, porque o Brasil não fabricava. Fabricava uma chamada Faroeste pela Alpargatas, mas não era aquela que queríamos, que desbotava por igual, que James Dean usava do filme dele, a “Juventude Transviada”. Não era igual. Foi aí um marco, o início, a música, a roupagem, o modo. Eu fui metido a Elvis, meu cabelo pra frente eram todos os jovens que faziam. Hoje têm uns cabelos arrepiados parecem um porco espinho, não pode criticar, porque é a época deles. É o hoje, é a situação da juventude e lá nós éramos criticados por ter um cabelão grande e com juba, metido a Elvis.

P/1 - Seu José, o senhor disse que seus pais eram muito rigorosos. Como foi pra eles essa mudança do visual que veio junto com a música? Foi uma mudança cultural.
R - Foi uma diferença cultural radical, viu? Meus pais não aceitavam andar pra trás, a ponto de sairmos de casa, pois não aceitavam os fatos. A ponto de sermos expulsos do colégio, por não aceitarmos algumas determinações. Estou falando isso, porque são histórias que contam. A ponto de fugir de casa, porque hoje a turma não sabe o que faz e foge... Fugia para outros países, e fugia, ia embora mesmo. A gente fazia testes de ir com um cruzeiro no bolso, pra ver quem aguentava ficar o mais longe possível de algum lugar. Fazíamos essas comparações.

P/1 - E como seus pais viam isso em você?
R - Você sabe que hoje eu vejo isso como parte de rebelde que fomos. Eu não fui da parte passiva, fui da parte ativa. As lambretas, as motos... Primeiro as lambretas começaram a surgir. Então, roupagem, música, isso criou uma rebeldia. Eu não sei, mexeu com a gente. Hoje não, eu quero paz com todos e todo mundo, dou bons conselhos para todos os jovens, amigos têm filhos às vezes da mesma idade. Então, eles não eram bem vistos com os bons olhos não, nem no colégio, nem na rua socialmente, nem pelos nossos pais. Nós usávamos calças jeans, meias vermelhas, sapato de fivela preta, uma camisa combinando, preta, geralmente. E fomos os primeiros fundadores das mudanças radicais da Rua Augusta. Fundamos na frente do Cine Picolino, hoje não existe mais, acho que é o Espaço Cultural do Unibanco, é do banco... É isso mesmo, do Unibanco...

P/1 - Unibanco?
R - Do Unibanco, é dele. Era ali o nosso ponto, em um bar chamado Sim Bar, nós frequentávamos, aquele era um ponto nosso de referência na Rua Augusta aos domingos. E nós parávamos o trânsito quando tínhamos que parar, fazíamos nossos discursos, a polícia intervinha depois de duas horas. Nós tomávamos conta da rua mesmo.

P/1 - E de onde vocês conheciam as músicas?

Ouviam no rádio...?
R - Quando eu sai do colégio, naquele 1958, ouvi primeiro cantado por Elvis, “Blue Moon of Kentucky”, eu acredito ter sido rádio, que eu procurei saber de onde tinham vindo aquelas músicas. Eu ouvia rádio na época e as que mais tocavam as músicas modernas era a Rádio Bandeirantes, em um programa chamado Enzo de Almeida Passos, saudoso, e tocavam essas músicas para nos alegrar a tarde. Era dali o ritmo que nós pegamos para estarmos nos enturmando. Discos bem a posteriori, tinham os 78 rotações, que adquiríamos. Depois, entrou o compacto simples, com duas faces e, depois, o compacto duplo. Depois foi pro mini LP ou long-play, e depois o de vinil longo, 12 minutos de cada lado...

P/1 - Tinha alguma lojinha em que vocês compravam?
R - Na Vila Mariana tinha. Na ocasião, eu lembro que tinham uns primos meus, arrojados, fizeram sucesso, se destacaram na juventude naquela época da Jovem Guarda. Eles eram os famosos Deny e Dino, eles cantavam uma música na época, na Vila Mariana, que se chamava Coruja. Pegou muito forte na época da Jovem Guarda, o Coruja. Foram eles, aí entrou Roberto Carlos, entraram todos os jovens e mantenho contato com ele até hoje, com muito prazer – inclusive, pode fazer a mesma encenação aqui com ele, quando vocês quiserem.

P/1 - Então, além dessas festas que vocês faziam com o pessoal da escola, vocês frequentavam muito a Rua Augusta também. Como é que era?
R - Pra você ter noção, nós tínhamos para cada fim de semana, um sábado, com uma média sem exagero, de 10 a 20 festas pra ir. Hoje, não tem nenhuma. Nós íamos na primeira, na segunda, na terceira, isso na região do bairro. Aquela em que tinha o melhor guaraná, coca-cola ou bolo, nós ficávamos dançando as mesmas músicas. Ficávamos a par, sabendo onde iam ter esses encontros, ficávamos cutucando pra ver qual era o melhor. Era uma brincadeira sadia, brincávamos e dançávamos. Tem um local chamado Bancário lá na Santa Cruz, que promovia bailes esporadicamente. Eu lembro que cheguei a ir pra casa trocar de roupa, lavar o pé, porque estava empapada a minha roupa de tanto dançar. Também, eu era levinho, era bon vivant, jovem, então gostava, adorava dançar. Dançava quatro vezes por semana, pra ver como eu dançava. Eu dançava num lugar na Liberdade chamado Blue, no Centro do Professor, lá de São Paulo, dançava aos sábados, e, no sábado e domingo no Atlântico, no Paraíso, e outros locais que apresentavam ter reuniões dançantes. Nós vivíamos atrás de bailes. Então, tem um baile ali... A única coisa que o jovem tinha que fazer naquela época era isso. A princípio isso e também os tóxicos, escutaram? Foi em 1960 que eu comecei a ter a emoção dos tóxicos, que na realidade eram a maconha, que começou já a entrar já nas escolas forte e o perventinho, injetável ou oral, que se a pessoa toma muito, fica meio alegrinha, eu ficava acordado a semana inteira fazendo bobagem.

P/1 - Você falou que gostava muito de dançar e tinha citado um tempo atrás de um programa que vocês...
R - Eu dançava.

P/1 - Onde era isso?
R - A partir de uns 15 anos... Um programa chamado “Ritmos da Juventude”, no canal cinco, programa apresentado e administrado pelo Juca Chaves de Oliveira, que é um cantor e era um programa que ia ao ar, cujo jornal o Estado de S. Paulo comentava, a posteriori, que era uma juventude transviada, se apresentando com danças indecentes na televisão, no canal cinco que não era da Globo. Mas era uma música, um ritmo que estava chegando para arrebentar, com o rock’n’roll da época, o Bill Haley, Little Richard, Cliff Richard, Elvis, que foi o pai do rock e não teve outro. Então, o que acontece é que quando tocava era hino, não tem jeito. Não sei, era um ópio. Não precisava beber nada, tocou e mudou a cabeça dos jovens todos, não tinha quem não mudasse. E as moças também acompanhavam. Nós tínhamos fôlego para jogá-las no teto e pegá-las de novo, fazíamos isso.

P/1 - Mas como vocês foram parar nesse programa? Eles anunciavam...
R - Tinha um programa de televisão que estava continuamente sendo apresentado aos domingos. E uma vez: “Ah, vamos nos apresentar lá”, pra ilustrar o programa, e nos apresentamos e ficamos dançando no programa. Podíamos até ter ido para outros programas, outras coisas, mas já eram tão livres e tão avoados, que pretendíamos demonstrar que hora acolá, em termos de festas. E esse grupo francês que eu mantenho amizade, nossa. Todo fim de semana tinha baile e os únicos brasileiros que aceitavam lá éramos eu e outro colega. Não aceitavam outras pessoas para entrar no grupo deles, sendo de fora. Era respeitador, brincava muito, nunca houve nada de intrigas ou brigas e fui recebido como se fosse da casa. Nossa, dançamos muito. Uma coisa muito boa na minha época.

P/1 - Esse programa já é da época da Jovem Guarda ou ele é um pouco antes?
R - Não, é de 20 anos antes. Dez anos antes no mínimo.

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- Como era o programa, ele tocava música?
R - No programa “Apresentando o Ritmo da Juventude”, eram os ritmos atuais que estavam em progresso e em ascensão. A ponto de disc jockey querer quebrar o disco: “Isso aqui não vai pra frente é do Elvis”. Pá, quebravam os discos e jogavam fora. E fazia um sucesso no mundo e até hoje faz. Até hoje, o que se mais vende de disco no mundo é do Elvis e dos Beatles. Os Beatles foram outra coisa, outro fenômeno que eu vou dizer mais tarde, mas nunca dei o meu amor aos Beatles tanto, gostava e apreciava, como ao Elvis. O Elvis foi amor eterno. Então, tocavam essas músicas na ocasião, que estavam em high parade, no mundo inteiro era só aquele. Entrou, sei lá, cara... Paul Anka com músicas mais românticas Johnny Mathis, Ray Conniff com músicas mais tranquilas. Isso era um sucesso. Músicas italianas, nossa. Marcou uma época forte para o pessoal que está com a minha idade, contemporâneos.

P/1 - E aí foi também a época em que começaram os namoros? Começa a...
R - É, você vê, a gente pega puberdade, já pega a juventude e com 15 anos já começa a ser metido a Elvis. Já começa a ver o rostinho das meninas com outra feição, outra carência. Então, já começa a despertar aqui, ali e acolá o interesse, embora sem maldade. Sem maldade além do sentido de ver o que hoje chama de ficar. Passear, namorar, ir ao cinema, dançar nos bailinhos, combinar dar uns beijinhos, por que não? Mas era só isso, não tinha mais além, porque as meninas eram muito fechadas, eram uns tabus terríveis. Era chamado de tabu, eram intocáveis e não entendíamos o porquê. Fomos aprender muita coisa que deviam ter ensinado nas escolas, ou pelos pais, fomos aprender na rua de uma forma errada. Então, era assim o nosso... E os bailinhos, era só chegando e a forma de começar a dançar que hoje dança separado, igual a dança da garrafa, nós somos os primeiros a abaixar a mão e puxar a dama, a jovem perto da gente pra sentir o cheiro do perfume do cabelo realmente, de dançar de rosto colado aquelas músicas mais lentas, como Johnny Mathis, por exemplo.

P/1 - E você se lembra da sua primeira namorada nessa época?
R - Lembro, lembro de todas, uma por uma. Eu me lembro de cada uma, não me esqueci de nenhuma. De todas as namoradinhas e oxalá que tenham boas lembranças de mim também como tenho delas hoje. Mas a que mais me marcou foi, realmente, a minha esposa. Minha atual esposa, que estamos há mais de 50 anos juntos entre altos e baixos. Não foi um mar de rosas.

P/1 - E aí vocês se conheceram nessa época ainda?
R - Éramos adolescentes, 17 anos.

P/1 - E já começaram a namorar?
R - Bom, diga-se de passagem, cabe o meu ponto de vista. Ana, o nome dela, foi a mulher mais linda que eu conheci. Olhos claros, muito fina, moça, quando ela entrou no portal – que hoje você vai conhecer o portal – do Colégio Arquidiocesano, que é uma obra de arte. Você adentrou o portal do Colégio Arqui, que faz de vez em quando, uma vez por ano, festas juninas magnânimas, mas as festas natalinas lá, que tinham um presépio, valem a pena. O portal foi de madeira maciça, o segundo portal não, mas o primeiro é uma obra de arte. Então, quando ela adentrou aquele portal minha vida mudou pra sempre.

P/1 - Com quantos anos vocês se casaram?
R - Eu me casei com 23 anos e ela tinha 22.

P/1 - Vocês se conheciam fazia uns cinco anos mais ou menos?
R - Uns cinco anos. Nós éramos muito jovens e os pais, sendo do interior, faziam pressão pra que eu viesse a formalizar um relacionamento forte, e eu ainda estudava, não queria nem pensar em casamento.

P/1 - Mas vamos voltar um pouquinho, daqui a pouco a gente chega no casamento. Aí você se formou na escola e...
R - Na escola, sou publicitário, um homem de marketing, lancei vários produtos no Brasil.

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- Mas um pouco antes ainda, quando você saiu da escola mesmo, acabou o científico e tudo mais, aí você foi fazer ESPM?
R - Fui fazer a Escola Superior de Propaganda, não era ESPM, no Anhembi não existiam essas escolas. Aí fui trabalhar na maior agência de propaganda do mundo que se chamava J. Walter Thompson, Rua Boa Vista, 51, terceiro andar. Eu trabalhei lá, quinto andar, eu trabalhei. Estúdio, trabalhava com arte, gosto de pintar e desenhar, até hoje eu faço isso, tenho prazer. Fui trabalhar pra eles.

P/1 - Mas assim que você entrou na faculdade você já foi trabalhar lá?
R - Fui.

P/1 - Mas por que você escolheu essa faculdade?
R - Porque era o que eu queria fazer no momento. Eu queria fazer Propaganda e Publicidade porque era uma coisa que me acalentava, não queria fazer Direito e outras coisas, mesmo porque os cursos eram reduzidos: ou era Medicina, ou era Direito. Não tinha muitas outras opções. Fiz Publicidade por ser uma coisa mais livre e eu gosto de criar, tenho ideias novas, passar a criar a ajudar, e prova de produtos e embalagens fui eu que criei e que está em voga, em uso até agora, embora patrocinado por uma empresa que me paga para eu fazer aquilo, é lógico.



P/1 - Vieram muitas mudanças com esta entrada na faculdade com o curso superior? O que mudou na sua vida quando você entrou na faculdade?
R - Olha a gente passa a ter uma diretriz, a juventude passa que nem... A gente vê, a gente se sente jovem, eu me sinto jovem até hoje. Você vai focando em termos de responsabilidade, na presença marcante do social, você cumprir um dever cívico e social. Eu peguei o início da Revolução quando eu estava na Thompson, início de 64, né? Eu sou desaforento, eu não sou de levar desaforo para casa. Eu não sei como eu não fui preso, houve até entre Filosofia e Mackenzie houve debates e até mortes na época, até caiu o governo. Então, tudo tem que ser livre, mas com responsabilidade, então não é fazer o que quer, depredar o patrimônio público, não é por aí. Respeitar o ser humano como ser vivente, a meta do mundo é o homem; sempre pensei assim. Nada do que se faz no mundo tem que ser mais positivo do que o homem, o homem é a meta de tudo que você imaginar, porque não há nada mais de valor em cima da Terra do que o homem. Embora eu fale o homem de uma forma genérica, a mulher principalmente, porque o homem, seria impossível a vivência do homem sem a mulher. Mas uma que eu quero dizer é o seguinte, a prioridade do homem é a meta, entendeu? Tudo que fizer, pode ser o homem-bomba pra destruir? Negativo, entendeu? Crianças dizimadas por bombas, mortes por vários fatores, jogadas de janelas, isso nem quero pensar, entendeu, embora seja uma utopia porque a realidade está aí. Temos de nos esforçar e isso eu já comecei a aprender naquela época: tudo que se fizer, fazer bem feito para não se fazer duas vezes e fazer algo que se possa ser útil à coletividade. O seu nome não precisa ser lembrado, basta que você lembre o que você fez, que você deixou algo que você se recompensa de uma gratidão interna de uma força cósmica superior que eu respeito e compreendo, entendeu?







P/1 - Mas quando você estava na faculdade você ainda morava com seus pais, continuavam morando na mesma casa?
R - Não, não...

P/1 – Não? E como é que era?
R - Devido o que perguntou o Thiago, havia embates sociais revolucionários muito grandes na época, eu militava na Legião dos Revolucionários, um monte de coisa, na luta armada, de jogar bomba e fazer miséria. Então, eu me afastei para não envolver ninguém, eu morava sozinho na Vila Mariana, onde hoje é o Supermercado Pastorinho, era um cinema chamado Sabará lá e, na frente desse supermercado, havia um conjunto de residências, de boas residências, cujo pai de um amigo tinha falecido, então nós adentramos a essa casa, deixamos a casa administrada convenientemente com mais dois amigos íntimos, cuja Jovem Guarda frequentava no início. Eu trabalhava e estudava, noivando até pegar um lugar que eu pudesse me casar e a realização do início da minha social.

P/1 - Então, você acabou entrando na militância por conta desse seu envolvimento já com a juventude, com o movimento de música e tudo mais?
R - É, não sei, não são todas as pessoas iguais. Nós somos hoje quase 250 milhões de brasileiros, somos quase seis bilhões e meio de seres no mundo inteiro, ninguém é igual a ninguém, na impressão digital e em tudo. Eu era rebelde, não é que pudesse fazer mal às pessoas, roubar, nada disso. Eu tinha opinião, até hoje eu tenho e brigo por elas.

P/1 - Mas essas reuniões, essas ocasiões que vocês se juntavam, você falou que tinham alguns debates entre os cursos, o que vocês discutiam?
R - Na escola, ou no particular?

P/1 - Às vezes, até na Augusta, mas agora nessa fase mais da faculdade?
R - Dentro da escola eram assuntos escolares, embora tivesse a tendência de ser surrupiado para as outras forças políticas, ou até degradantes nós participamos. Agora em termos de turma, quando se juntava a turma na Augusta, o primeiro conjunto que se chamava Dievelons e fazíamos parte do Teenagers, daquela ocasião era uma turma fechada rebelde de motoqueiros, de lambretas, não era motoca como tem hoje; uma ou duas motos que vinham da Inglaterra ou da Itália, a Java ou a Royal e a gente usava esse meio de instrumento de lambreta e era um grupo fechado de ter rivalidade e não sei o porquê de turma contra turma, de jogar as motos dentro do lago do Ibirapuera, porque tinha bar em volta do lago e, se houvesse disputa em duas turmas, pegavam as lambretas e jogavam dentro do lago e devem estar lá no fundo, deve ter algumas até hoje.



P/1 - Mas essa rebeldia acabava sendo traduzida em reivindicações, como que era?
R - Nesse caso, era uma posição machista porque nós somos criados sobre o regime machista, entendeu, sempre em posição de prioridade. Hoje eu vejo como besteira, estupidez e ignorância por parte dos jovens da época. Alguns seguiram uma carreira mais fria, ‘CDF’, vamos dizer assim, se tornaram até pessoas importantes na vida, posso até citar alguns nomes se fosse o caso. Respeito a posição de cada um, embora eu sempre pretendi seguir o caminho do meio: da ‘ponderância’, da tolerância e da compreensão. Viver no meio do povo e sentir o clamor daquilo e participar, eu fiz isso, eu não me escondi não. Embora nós tivéssemos reunião de reivindicações políticas que se a Polícia Federal descobrisse na época nós estaríamos fritinhos da silva. Como é que eles chamavam lá na época? Era, poxa era o nome da polícia daquela época. Eu estou devendo dois nomes para você.

P/1- Não tem problema.
R - Bom... (pausa) eu vou lembrar e te falo já.

P/1 - Que reivindicações políticas eram essas que vocês discutiam?
R – Bom, nós éramos praticamente rebeldes sem causa, qualquer causa seria para abraçamos e... Uma coisa que eu nunca abri e sempre lutei por essa reivindicação: ninguém pode tolher a liberdade da outra pessoa. Hoje tem uma câmera, tem vocês, servem por testemunhas, eu gosto de lutas, gosto de lutas marciais de uma forma esportiva, tenho espadas por coleção, seguro uma delas ainda hoje se for para defender a tua liberdade. A submissão de um povo, pra nenhum povo, entendeu, todos devemos viver livres, entendeu, livres, puros e libertos. Ninguém é melhor do que ninguém, todos somos iguais e pela liberdade hoje ainda seguro uma arma e vou à luta, porque a liberdade não tem preço. Por isso eu reivindicava na época, por mais que houvesse possessão militar na época, forçando uma situação qualquer, fosse o que fosse, de AI-5 e de poder evitar que a gente falasse o que queríamos, de nos locomover, foi a luta armada, fomos à luta armada na época. Vocês não sabem, vocês estão pegando, fomos, houve reivindicação, acabou tudo a contento, ótimo, né? Mas pela liberdade do povo, porque hoje vou ter que dar um salto, o governo não pode fugir de três coisas, falar de termos que eu já falava na época: é uma pirâmide onde são três pontas de igual valor: ele não pode fugir da Educação do povo, da Alimentação e da Saúde. Ele administra um dinheiro que não é dele, é um gerente que tem que administrar o dinheiro do povo para o povo; não pôr dinheiro no bolso, na meia, na cueca. Isso é um absurdo, entendeu, respondo a isso com arma. Quando o Brasil colocar a pena de morte para que as moças possam andar na rua com decência e ninguém matar criança, não roubar dinheiro público, quando der um exemplo eu quero ser o carrasco, eu quero ser o primeiro a puxar a cordinha ou apertar o botão. Não estou escondendo, poxa, por quê? Porque eu quero admirar e respeitar com liberdade de sair ir e voltar pra casa, dele estudar e trabalhar, mocinho e mocinha ir e voltar para sua casa com toda segurança e tranquilidade. Não o horror de você passar por uma rua, ser seduzida e mal tratada. Isso não cabe na minha mente nesse mundo que nós vivemos, é isso que eu reivindico. É impossível a utopia tapar o sol com a peneira, é, mas não custa nada lutar. Eu acho um absurdo alguém usurpar o direito do outro a título de qualquer pretexto, dominá-lo seja de qualquer forma. Então, eu luto pela liberdade, pelo seu direito de ir e vir porque a liberdade não tem preço.

P/1 - Bom, então voltando um pouquinho pra faculdade, você falou que assim que você entrou na faculdade de Publicidade e Propaganda você começou a trabalhar, foi seu primeiro emprego?
R - Não foi. Meu primeiro emprego dentro da área sempre foi dentro da área de Publicidade, foi numa chamada “Multi e Propaganda”, aqui na Albuquerque Lins. Eu era praticamente, chamado pestape, montador de anúncio, depois mais tarde que eu passei para layoutman, arte finalista na Thompson, mas comecei aí. E para não ser mentiroso, quando eu tinha 14 anos eu vendia espaço num jornal chamado São Paulo Zona Sul, que existe até hoje, atingindo vários bairros de Vila Mariana com tiragem de 55 mil exemplares, até hoje existe. Eu vendia anúncio para aquele jornal com 14 anos. Eu tinha a gana de ser independente, saí de casa com essa idade.

P/1- Com 14 anos?
R - É. Voltei com 17 e depois não voltei nunca mais.

P/1 - Mas com 14 anos você já morava nessa casa com seus amigos?
R - Já morava sozinho...

P/1- Naquela casa perto do Pastorinho?
R - Hoje, você está vendo um homem chamado de alfa-ômega: eu faço tudo que mulher faz, até cicatriz de cesariana eu tenho. Lavo, passo, costuro, cozinho e faço tudo com carinho. Faço tudo que mulher faz, sou um homem prendado.

P/1 - Mas daí você já morava com seus amigos ali...
R - Naquela residência.

P/1- Entendi. E mudava muita gente? Eram três pessoas só?
R - Não existia motel para os moços passearem, nem namorar, era só cinema ou motel da estrela com Klabin que era favorável para isso. Não tinha assalto, né, a gente podia ficar à vontade olhando as estrelas. Mas como a casa era um palacete e era mantida bem arrumada a Jovem Guarda toda frequentava lá, tá? Então, com os carrões que eles tinham... Eu era estudante e eles me davam a chave e dinheiro e eu ia passear na Augusta com os carrões deles e eles ficavam usando a casa.

P/1 - Entendi, então também era um ponto de encontro, assim como os outros lugares, a casa em que vocês moravam também era.
R - Também era. Deny e Dino, Sérgio Reis, Angela Ro Ro, toda essa turma frequentava lá.

P/1 - Você começou a trabalhar nessa outra agência...
R - Na agência, depois da agência – como eu disse e até deixei um currículo pra vocês – eu fui para a Unilever Company Gessy Lever, fugindo um pouco. Depois, eu voltei para a publicidade, definitivamente naquilo chamado Listas Telefônicas. Eu fui agente da Lista Telefônica vendendo anúncios nas chamadas Páginas Amarelas.

P/1 - Aí você elaborava os anúncios?
R - A editora fazia tudo para o cliente. Eu vendia e era chamado de Páginas Amarelas, Ebid. Editora aqui na Avenida Liberdade. Essa foi a primeira... muito forte, duas listas muito fortes, unia São Paulo em termos comerciais, em termos de assinantes comerciais e industriais; hoje se chama Guia Mais. Mas foram os trabalhos que fiquei, a posteriori que eu fui ser gerente geral do Metrô de São Paulo, concentrei todos os três, aqueles painéis de propaganda dentro dos trens era da minha responsabilidade com uma equipe de dez vendedores. Foi o último vínculo que eu tive em termos empregatícios. Depois eu saí e até hoje eu sou diretor de marketing de uma empresa chamada Versati Eventos S/A, está no site, cuja divisão especial minha é de promoção e produção de cinema nacional. Eu não sei se eu pulei muito, mas você pode perguntar.

P/1 – É, foram vários lugares que você foi trabalhar. Então calma, primeiro você estava na Thompson, é isso, enquanto você cursava a faculdade ainda?
R- Isso.

P/1 - Aí você se formou, foi quando você se casou? Foi na mesma época?
R - É, foi.

P/1 - E você continuou trabalhando lá?


R - Continuei trabalhando lá.

P/1- E como foi essa mudança, formado já?
R - Eu sentia a possibilidade uma empresa grande me chamar, a possibilidade de ascensão, aonde fui ser supervisor de produtos deles, eram produtos bons, era a Gessy Lever; militei lá na área de comerciais deles, não marketing, eram vendas pura. E depois achei que tinha de voltar ao meu campo de produtividade que era a Publicidade no lançamento de produtos, como Marketing, já em três empresas necessitando de apoio técnico da área, na elaboração de folder, folhetos e catálogos, alguns comerciais para TV, jingles que você vê até hoje. Talvez vocês lembrem “Coca-Cola é isso ai, tem sabor e muito mais”. Então são coisas que marcaram época. Na ocasião, pago para essa finalidade, embalagens que vocês usam hoje de café, de perfume, de discos, entendeu, está rodando até hoje aí para vocês.













P/1 - Tem alguma assim que te marcou, aquele trabalho que você guarda na lembrança?
R - A da Coca-Cola como jingle e atores e cantores que eu lancei, como o Sérgio Reis, a Rita Lee que eu apoiei, né, a promoção de Deny e Dino, fomentei e sou empresário deles até hoje, embora um deles falecido, já virou cover. E o tempo vai passando para todos, mas raízes ficaram, a importância é deixar frutos, sementes boas para serem frutificadas e que alguém possa apanhar aqueles frutos e comê-los e sendo bons, não deixando coisas más. Não vale a pena passarmos pela vida tão rápida. Por exemplo, vou citar só uma passagem: se nós vivêssemos 100 anos como você está hoje, bonita e jovem, 100 anos, agora encosta a cabeça, você tem 100 anos e foi embora para outra dimensão. Para o Universo significa que você viveu um micro de segundos, não é nada. Nós somos pó, isso me cabe na razão e compreensão, hoje nesse momento. E tem uma frase que está em um filme, que está entrando no filme espírita do Chico Xavier, uma frase minha e está lá: “Se não podemos voltar atrás e fazer um novo começo, podemos começar agora e fazer um novo fim”, entendeu? Então, essa foi sempre a minha filosofia: melhorar sempre em todos os sentidos, não arredar pé, vencer e lutar sempre; embora todas as coisas materiais sejam finitas e de uso temporário só emprestado para você, um dia você vai deixar para alguém usufruir, quem vem atrás. Você não vai levar nada para o outro lado a não ser a sua experiência, o amor ou o ódio. Teu corpo fica, foi emprestado, você devolve.

P/1 - Agora que você falou dessa sua relação com cantores, você falou que lançou cantores. Como é que era isso?
R - Foi numa época que marcou os anos 60 com a chegada do Elvis, já havia imitação, todo mundo queria imitar alguma coisa. E foi como eu já falei que conheci o primeiro instrumental vocal feminino no mundo que eu lembro, pesquisava, não tinha, as meninas cantavam bem, tocavam muito bem e tive por felicidade de encontrar agora no cinema Santa Cruz, no shopping Santa Cruz esse fim de semana. Sentou-se na cadeira esperando começar a sessão, nós íamos adentrar a sala, a Ana Rosa o nome dela, Rosa Maria, o nome dela, baterista do conjunto daquela época, eu lembrei dela. “Como vai?”, aí eu falei para ela: “Você nunca deveria ter largado a Rita Lee”. A cantora era a Rita Lee. Ela falou que estaria muito bem hoje se não tivesse largado a Rita Lee; porque elas desfizeram o conjunto. Então, é um ou outro, numas peças de teatro do colégio pediam para representar e havia festividade nesse sentido para quem tivesse talento se apresentar, tocar, cantar, ir ao teatro como Tony Ramos pelo Brasílio Machado, ele se projetou assim, ele era da Vila Mariana e outros atores, se projetou dessa forma. Se tinha talento ia para a frente. E eu era metido a Elvis, gostava de tocar, eu toco até hoje o baixo, foi uma passagem da juventude, acho que todo jovem tem esse sonho. Depois foi deixado de lado pegando numas questões mais sólidas de filme, dentro de uma posição técnica e social que eu gosto até hoje que é a Propaganda. Eu sou um homem de Marketing.























P/1 - Você tinha uma banda na sua juventude?
R - Tinha.

P/1 - Qual era o nome?
R - Chamava “Os Teenagers”, “Os Jovens”, era bobeira que a gente, depois teve os “Diavelons”.

P/1 - E vocês tocaram em algum lugar?
R - Tocamos, vixi, a Rita Lee também. A gente tocou no Colégio Liceu Pasteur, tocava. Eu morei na Vila Mariana, eu morava na Joaquim Távora, formamos o conjunto, nós tocávamos em vários locais. Embora apoiássemos também o colega nosso que era um virtuoso da música clássica Antenor Buchala, de família árabe, deve estar comemorando alguma coisa hoje. Ele era um virtuoso, o pai dele era maestro e passou todos os conhecimentos de maestro para o filho, e o filho é um virtuoso nas músicas clássicas de piano, acredito que hoje ele mora em Botucatu, cidade do interior de São Paulo, acredito que esteja morando lá – nossa como eu aprendi – as músicas clássicas foram com eles. E eu amo músicas clássicas hoje. Beethoven, Chopin, Bach, todos eles, o de ouvir num tom bem mais baixo. Aquilo delicia a alma. Hoje, acho que talvez pela idade eu mudei os gostos, Elvis se for para ouvir hoje é bem baixinho também porque não dá para ficar ouvindo barulho, os tímpanos já não são os mesmos.



P/1 - E a sua esposa ou futura esposa nessa época ainda também gostava muito desse negócio da música, ela era super envolvida?
R - Ela me acompanhava, não era chegada, dançava para fazer companhia, mas até hoje não é. Gosta dos cantores da época que nós ouvíamos Nat King Cole, Ray Conniff, Frank Sinatra, papagaio quem que não gostava de dançar isso daí e os nossos músicos brasileiros, que a Bossa entrou naquela época, né? Tinha o Jair Rodrigues, tinha o Tom Jobim – nossa tem um disco de vinil do Vinícius de Morais, Noel Rosa tenho discos deles até hoje, são imortais, imortais. Nossa música Bossa brasileira que fez sucesso no exterior naquela época, até o Frank Sinatra gravou algumas coisas com Tom Jobim, tenho esses discos originais em mãos, é uma coisa maravilhosa, uma revolução. Não é o samba da garrafa, não é dança do – como é que diz – rebolation, não. É música com letra, com poesia, pronto. Imortais, os brasileiros foram muito marcantes como a música “O barquinho”. Essa turma toda, o Jorge Ben. Nossa, marcante, marcante.

P/1 - E como foi o casamento, vocês tinham 22, 23 anos?
R - É.

P/1- Super jovens.
R - Eu tinha 22.

P/1- Você já tinha se formado?
R - Todos.

P/1 - Não estava mais na faculdade?
R - Não. Isso já sozinho, sabe, nunca tive ajuda de ninguém nesse sentido. Nós fomos morar num apartamento, nós namoramos, noivamos e os pais faziam pressão para que houvesse a união, já que já vivíamos numa forma meio íntima nesse sentido, porque dois jovens bonitos não podiam viver de forma fria. Achamos por bem nos unirmos, fizemos o casamento, casei na Vila Mariana na Igreja chamada Nossa Senhora da Saúde. Foi um casamento bonito, um amigo meu cantou Ave Maria de Bach, lindo. Foi lindo o casamento, houve sua festividade, foi muito alegre. A Lua de Mel antigamente era Poços de Caldas que era Meca dos nubentes ou o Rio de Janeiro; eu fui para o Rio de Janeiro. Mesmo porque eu casei só com 400 cruzeiros no bolso. Trabalhava, era estudante, né, e começando uma vida nova. No tempo, meus ideais e princípios, nunca fiz mal para ninguém, nunca suplantei, nem pisei em ninguém pra sobrepor ninguém no sentido de ser melhor do que A, B, C e D. O que eu tenho hoje é modesto, mas foi conseguido pelo meu trabalho, pelo apoio da minha mulher; vencemos juntos e hoje podemos dar aos filhos que advém e aos netos que chegam uma sequência de administração, sequência de vida mais razoável do que tivemos, mais do que tiveram meus pais, que tiveram eu. Vão ter mais suave daqui pra frente.

P/1 - Mas aí vocês casaram lá na Igreja Nossa Senhora da Saúde, foram para

a lua de mel no Rio, e aí você moravam aonde? Aí você não morava mais com seus amigos?
R - Não, não. Naquela época, você tinha duas opções: ou os amigos, ou a namorada, a noiva. Que nem eu falo para as mocinhas: “Se os namoradinhos estão namorando hoje e saem no final de semana para sair com os amigos, para encher a cara e assistir futebol, não é por aí, então não gosta de você”, tem que ser um rapaz que fica com a noiva, com a namoradinha vai levá-la junto para passear, toma sorvete, vai no shopping. Hoje tem shopping, no meu tempo não tinha nada. Então, é por aí, tem que se gostar, fazer junto. Casamos e fomos morar no Planalto Paulista, numa travessa da Indianópolis, uma rua chamada Canitar... não, é isso mesmo. Não, Alameda dos Tupinás, pronto. Num apartamento.

P/1 - Embora você tenha saído da casa dos seus pais, você ainda tinha uma relação?
R - Separadas, tá? Meus pais sempre foram muito ideais nos seus objetivos e separados. Eles foram me visitar depois de um ano de casado. Eles foram no meu casamento, mas havia uma separação de família. Para haver discussões e haver desafetos, eu queria manter essa distância. Depois houve tolerância recíproca e a gente passou a conviver bem...

P/1- Com a sua irmã também?
R - Com a minha irmã também.

P/1 - Ela também ia mais distante?
R - Até hoje é assim. Cada um vive a vida que quer, cada um pensa o que quer do outro. Acho que eles têm a imagem daquele rebelde que eu fui, embora não tinha causado problemas médicos, problemas de saúde, problemas policiais; sempre fui um rebelde. Ou o seguinte: hoje você quer ser rebelde, é só ter força de opinião. Você impor sua opinião, pronto, você não é aceita na sociedade, você quer ser bem aceita, só ouve não fala, aí você vai lá para cima. Como vi amigos, centenas de amigos subirem como rojão porque nunca abriram a boca para nada, não sabiam a opinião deles e subiam porque ficavam calados em todos os motivos, e eu não, de mostrar o ponto de vista.

(TROCA DE FITA)

P/1 - Então você estava contando de quando vocês foram morar você e a sua esposa, como é o nome dela?
R - Ana. Ana Virginia.

P/1 - Quando vocês foram morar no Planalto Paulista, só vocês dois ainda?
R - Isso.

P/1 - Aí vocês tiveram filhos? Como é que foi essa mudança para a vida de casado?
R - Nós fomos morar lá e, depois de um ano, ela engravidou da minha filha – deve ter umas fotos que eu trouxe dela – uma criança linda, linda e depois que eu vi aquela criança nascer, que nasceu na Maternidade São Paulo, dia 21 de dezembro de 1969, aí mudou minha vida radical, porque eu senti... eu era meio avoado ainda, aloprado, aí senti a responsabilidade na mão. Vi que ali estava constituída uma família: era uma mulher e uma criança que precisavam de mim. Aí amadureci e comecei a pegar o caminho mais do meio, mais firme nas tendências.

P/1 - Essa foi a grande mudança de ser pai?
R - De ser pai, marcou muito forte. Hoje falo para todos os jovens: “Quando você tem 30 anos, ainda você é jovem demais”, para o meu ponto de vista. Vão passear, viajar, dançar, brincar porque o casamento, você pode até ter um namoradinho, um noivinho, não tem problema, vão fazendo planos, mas a opção de filhos é a última. Para poder pôr no mundo que está às avessas, que é maldoso, mas depois pode, a formalidade não convém, pôr a criança no mundo inóspito, vil e desumano, você pensa dez vezes porque você quer o melhor do mundo para eles. Você quer o melhor para as pessoas, você não quer o mal, eu não vou falar para você que é uma moça e para ele que é um moço o conselho que não seja igual o que eu falei para um filho meu ou para uma filha. Nada, então, eu dei para os meus filhos tudo de bom que eles poderiam ter.

P/1 - Qual foi o nome da sua primeira filha?
R - A minha filha se chama Ana Paula.

P/1- Ana Paula.
R - Por sinal, entre parênteses ex-Miss Brasil, tá? Em 1989, ela foi Miss Água das Pratas, Miss São Paulo, Miss Brasil e foi para o Miss Mundo. Ela é uma mulher muito, muito bonita. Ainda é.

P/1 - Você teve só uma filha ou mais de um?
R - Eu tive um filho com a diferença de um ano, que até o médico lá doutor Nakamura, já falecido, no Hospital Maternidade São Paulo. “Não era para ter feito em seguida, tinha que esperar uns três anos”, porque ela fez cesariana e o Paulo nasceu mostrando... e um moço alto, bonitão, olhos claros, puxou da mãe. Casar-se-á agora dia 10 de abril, achou depois da sequência de escolha, porque a gente é do meio artístico, atriz da Globo não servia. Essas mocinhas não vão fazer um páreo para você em termos de matrimônio, uma vida familiar, caseira, quietinha, planejar filhos, uma família; essa, agora parece que ele achou o que ele quer.





P/1 - Então foi a Ana Paula e o?
R - Paulo César.

P/1 - A Ana Paula e o Paulo César e são só os dois?
R - Só os dois. Não, minto. Houve uma ruptura, o casamento não ocorreu sempre 100% num mar de rosas, houve uma ruptura quando passava uma novela na Globo chamada, a 30 anos

atrás, chamada a Guerra dos Sexos. Minha mulher estava fazendo uma guerra dos sexos, eu fiquei dez anos ausente morando na cidade de Poços de Caldas, na casa de campo que existe lá até hoje. E eu voltei para São Paulo sozinho numa separação que tínhamos orquestrado e nesse envolvimento meu aconteceu não de uma coisa marital, possessiva, uma falha, idiotice minha nasceu uma mulher, uma jovem hoje com seus 23 anos, uma linda moça inteligente, modelo.

P/1 - Qual é o nome dela?
R - Gabriela.



P/1 - Gabriela, mas então vocês tiveram essa separação, vamos voltar um pouquinho mais uma vez.
R - Essa separação foi feita e, hoje como passa o tempo, e a substituição de vida a convivência difícil, estava acomodado nos moldes daquela tradição, habitué, você fica seletivo em coisa nova e você começa a projetar que não é assim, não é assado. Entrar num novo relacionamento e fazer imposições maritais, nenhum nem outro. Hoje, se é uma separação você tem que aceitar que a próxima companheira com toda a liberdade de fazer o que quer e ela deixar você fazer o que quer. O que une as pessoas é o sentimento e o respeito, amizade e o amor; não é papel nenhum que une as pessoas. Então, para trocar o certo pelo duvidoso, fizemos a reincidência, uma nova opção de ficarmos juntos e estamos até hoje. Mas a moça nasceu. Não falta nada a ela, é toda bem atendida, mas foi uma filha fora do casamento. Não me arrependo pela existência dela ser o que é, mas se voltasse atrás, filho nenhum, talvez nem tivesse aceito um matrimônio.

P/1 - Mas na época que vocês se separaram por esses dez anos, você foi morar em Poços de Caldas?
R - Ela ficou morando lá na casa de campo.

P/1- Ah, ela que foi pra lá e você ficou?
R - Eu fiquei aqui na minha casa no aeroporto.

P/1 - Aí a Ana Paula e o Paulo César foram com ela?








R - Se formaram lá, estudaram lá.

P/1 - Entendi, eles eram um pouco maiores?
R - Eles eram maiores, ficaram lá se formaram lá, de dez anos pra cima, começaram até se formarem, depois se mudaram para São Paulo. E as luzes de São Paulo encantam qualquer um que venha de fora, voltar pra lá nem arrastado eles não voltam.

P/1 - Então, você não saiu daqui, a vida inteira sempre morando em São Paulo?
R - Não, eu morei lá.

P/1 - Você morou lá por um tempo?
R - Por dez anos. Depois que eu saí de lá e vim pra cá, eles continuaram.

P/1 - Ah, isso mais recente?
R - Isso já foi 1980, por aí.

P/1 - Você comentou agora pouco que a Ana Paula chegou a ser Miss Brasil, como é que foi isso? Ela assume?
R - Ela morava lá, já tinha 15 anos lá na cidade. A cidade era uma Meca de turismo, o maior balneário da América do Sul em termos de ala feminina e masculina era lá na região de Águas da Prata. Inclusive estando lá eu coloquei uma emissora de rádio chamada Prata FM e está no ar até hoje, líder de audiência. Está na mão de um sócio que ficou milionário com a rádio. Ela é uma moça muito bonita e se projetou no meio social da região e foi acatada para ser a representante da cidade num voto que teve numa reunião social da cidade, numa festa, frente a outras jovens. Tudo o que eu falo, fotografado e filmado, eu tenho tudo isso daí. Eu me orgulho por ser bonita, mas não deixei ela continuar a carreira porque ela tinha chances de ir para a televisão. Acho que o pai enciumado como era, brequei um pouco a carreira dela. Note que ela tem uma mão muito boa para estilismo, para modas e hoje ela é empresária, mas se ela tivesse seguido a carreira de estilista de criação de moda que é o dom que ela tem forte, estava bem melhor. Mas como ela estava desvirtuando para uma carreira de cinema e televisão com convites fortes e a mãe junto, daí houve uma desavença forte, ela não me aceitou, houve altercações fortes e cada um para um lado.

P/1 - Mas você não tinha ciúmes?
R - Acho que tinha, acho que era ciúmes, ela diz que era, não sei o que era. Eu resolvi à moda calabresa, acho que hoje é grotesco, ela que tinha que resolver tudo com palavras de baixo calão mesmo com gestos brutais e agressivos, entendeu? Me arrependo, já passou e só o tempo vai lapidando os arrependimentos e hoje eu calco os meus alicerces em cima de erros, não quero mais deslizar em cima de aventuras de experiências, né, tem que ser uma coisa que calque em cima de valores para não magoar ninguém.

P/1 - A Ana Paula hoje é empresária e o Paulo César ele fez o que?
R - Ela é empresária. Empresária há vinte anos e ela veio para São Paulo, quis militar o trabalho, foi trabalhar depois de vinte anos que ficou até a empresa fechar, ela gerenciou as moças que voavam para o mundo inteiro, ela era gerente da VARIG [Viação Aérea Rio-Grandense]. Comissária especial da área da VARIG, conhece o mundo inteiro, onde a VARIG estava ela conhece, onde pousava ela conhece, depois ela optou montar uma empresa de eventos, chama-se Versati Eventos S/A que está no site, ela cria maquetes, feiras no Anhembi, cria as maquetes. Se você precisar de alguma moça amanhã para alguma coisa, para um serviço de Buffet, garçonagem, serviço de segurança te dou o telefone e ela te arruma. Você quer uma maquete, ela constrói e faz igual a maquete constrói. O que ela faz, promove roupas para empresários, né, e fabricantes, e sapatos da Ramarim, do Rio Grande do Sul. Então, tem desfile na Couro Modas, nessa feiras todas ela participa com as moças dela e com desfiles, mas é o que ela faz.

P/1 - E o Paulo César?
R - O Paulo César já me copiou um pouco.

Ele mesmo fala: “O teu arrojo para o trabalho”, eu era pé de boi mesmo, eu ia para o trabalho e fazia com responsabilidade. Ele seguiu o mesmo caminho que o meu. Ele estudante na região lá, chegou a trabalhar na recepção de um hotel que a mesa dela era sistemática e contada, quando voltou para São Paulo terminou a Administração de Empresas e terminou agora a Escola Superior de Propaganda e Marketing, pegou o diploma agora nesse ano, nesse mês que passou. Fomos lá no espaço cultural receber o diploma dele. Então, agora ele é um homem de Marketing, é um publicitário. Hoje ele trabalha na Publicar que é uma empresa que publica, trabalha com parceria com a Google, eles publicam uma guia chamado Publicar que eles chamam de Guia Mais. Guia Mais e a Google. Ele faz alguma coisa na Google e já com o apoio das Páginas Amarelas, Publicar. Então, é um trabalho em conjunto, ele está iniciando esse trabalho nessa empresa. Ele é um administrador de empresas e um publicitário.

P/1 - Vocês já chegaram a ter algum projeto juntos ou alguma coisa?
R - Um dos nossos maiores projetos e sonho, você vão ver um dia acontecer, que foi contratado por engenheiro alemão radicado no Brasil, que vocês vão conhecer que eu já falei é um transatlântico espacial. É um dirigível, sem perigo nenhum que já pousou em Edimburgo no ano passado, que aquilo foi uma sabotagem. Baseado nas experiências que Santos Dumont nos deixou, voará no futuro navios aéreos, substituindo os aviões, cargueiros aéreos. Não vão poluir, não vão fazer barulho, não precisa de aeroporto para subir e descer, leva até dois mil passageiros, leva até 100 cargas de 100 caminhões, nos ambientes mais recontes do Brasil sem problemas de clima, sem problema de lama, leva lá a carga e deixa lá no sítio da pessoa, na fazenda da pessoa. Vocês são jovens, vocês vão ver o futuro da humanidade voando com dirigíveis, vão passar em cima de suas cidades, mesmo porque vai evidenciar o uso do combustível: o que gasta um Boeing 747 do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul por dia, ele não gasta nem em um mês. Pode ficar um mês lá em cima. Tudo que você imaginar que tem um navio, ele tem também lá em cima, então você vai ter todo um conforto de passeio e de viagem com plena segurança. Não é velocidade, não é militar, embora sirva para carregar carga. Ele pode voar até 300 quilômetros por hora, mas vai voar a altura de pequenos aviões quatro mil metros de altura, três mil metros no máximo e vai poder deslumbrar toda a beleza por quanto ele passar sobre pontos paisagísticos e vão poder deslumbrar tudo do pés de seus restaurantes, ou nas varandas, as belezas que a natureza oferece parando inclusive sobre... imagine Foz de Iguaçu, parar lá em cima e ver toda aquela beleza, o Amazonas. Lugares pitorescos e turísticos, é indescritível a história desse novo meio de transporte que os cientistas do mundo aprovam. E o primeiro sai agora em 2010, saindo da Califórnia construído lá por russo judeu, sai com 350 metros, dez vezes maior que um Boeing

747, sendo que o projeto brasileiro, o nosso dirigível tem somente um quilômetro, tem que andar lá dentro de motocicleta elétrica para poder fazer ronda, é um hotel, é uma cidade. Esse é o projeto maior.

P/1 - Agora que a gente está chegando um pouco mais para o final, então hoje você trabalha nesse projeto, o que você faz hoje?
R - O projeto não está engavetado, está em andamento. O Brasil é copiativo, quando sair o primeiro, aí vão lembrar que existe alguém que pode fazer igual. Temos local, temos matéria prima, temos mão de obra, temos tudo; quando o primeiro sair: “Ah, nós podemos fazer também”, aí é a hora de fazermos de novo. É assim, está esperando alguma coisa acontecer. Tenho carta de aprovação do nosso presidente, do Lula, do ministro da Aeronáutica aprovando, está tudo pronto para começar a fabricação. Esse é o meu projeto. O do Paulo, são projetos universitários, projetos de modificação da empresa que ele está para coisas mais modernas, se não a empresa daqui a três anos a empresa vai sucumbir, não vai existir mais, nenhuma lista de guias, só de bairros. Cada bairro de São Paulo é uma cidade. Você pega um Jabaquara são dois milhões de pessoas, você pega Vila Mariana um milhão e meio de pessoas, cada lugar é um cidade você tem que pensar em termos regionais, regionais da cidade dentro da cidade. Você não pode anunciar ali para alguém que vai pedir alguma coisa na Penha, só se for uma coisa geral que te interessa aí você anuncia no total que abrange em termos gráficos todos os cantos da cidade. Mas se for setorial, é regional funciona mais alguma coisa bem distribuída e forte só regional. Esse é o meio que ele está trabalhando para mudar em termos de marketing, inclusive em termos de impressão de papel, colocar um papel brilhante, um couchê brilhante. Uma coisa mais aprimorada, num papel para os dias de hoje, é o que está tendo aceitação. Se a empresa não se aprimorar a esse patamar em dois anos ela sucumbe, pode continuar com outros projetos em outras cidades, mas em São Paulo vai ser muito difícil manter.





P/1 - Mas além desse projeto que você havia falado, hoje você trabalha ainda com marketing?
R - Hoje eu trabalho com o seguinte: eu desengavetei alguns livros meus, que estão no prelo e na tentativa de publicá-los, haja vista que se trata de livro de autoajuda de conscientização da humanidade, que nem o livro “A água a fonte da vida”, “Terceira idade com dignidade”, que pode ser mudado a melhor idade, ”Dignidade na melhor idade”, mas procurando patrocinador no sentido que é único, exclusivo pra ele. Quem tem esse livro na mão usa o último capítulo pra ele, pra que se promove, do que pretende a empresa dele no mercado, ele pega esse livro e doa, sorteia faz o que quiser, é dele, entendeu? Os direitos autorais são meus, mas comercialmente ele faz que quer com o livro. Então, trabalho com esse projeto em termos de escritos, de livros e promovo a arte de uma forma geral. Que artes? Artes gráficas de pintura com vernissage que ocorrem na Avenida Paulista no Banco Central, 1804 no Banco Central, aberto a todos os convidados geralmente quando tem as reuniões, as vernissagens, esculturas e fotografias. Eu promovo isso como marchand. E para sintetizar, o cinema nacional: o cinema nacional depois da Vera Cruz está abrindo as portas para trabalhos maravilhosos, não fica atrás de ninguém embora tira-se o chapéu para os americanos, que são os pais da matéria realmente, são exímios mestres, nós temos aqui no Brasil bons atores, bons cenários, bons equipamentos, podemos produzir o que há de melhor. Nosso caso, como é a LAZ Editora Cinematográfica e Audiovisual, ela é totalmente voltada para fatos históricos ocorridos no Brasil, que nem o filme anterior “Oriundi” com Anthony Quinn aqui no Brasil, com Paulo Betti, depois veio o “Cafundó”, como Lázaro Ramos fazendo a personagem de um ser que viveu lá em Sorocaba e agora “Anita e Garibaldi”, contando a história de Anita e Garibaldi que ocorreu realmente em Santa Catarina envolvendo os estados do sul, os países como Argentina, Uruguai e Itália envolvendo uma guerra que conta com muito romance e ação, é um filme maravilhoso, vocês podem entrar no site. O site é www.anitaygaribaldi.com.br vocês vão ver a sinopse do filme, faltam 20% para terminar, falta mais um ou dois patrocinadores e vocês podem participar.

P/1 - E hoje, quais são as coisas mais importantes para você?
R - Eu gostaria de deixar uma semente... Diz um antigo filósofo que seria plantar uma árvore, pôr um filho no mundo e um livro. O livro falta só o remodelamento em termos de pele e sair público, não altas tiragens, nada disso, só dirigir para situações específicas para que haja conscientização de aprimoramento, essa é a minha meta final. É colocar esses livros nas mãos certas para que haja o despertar da consciência que possa auxiliar quem vem atrás. Porque nós moramos numa pequena bola, pequena bolinha de gude na periferia da galáxia, muitos desconhecem que nós moramos no planetinha, o único lar que temos, somos péssimos inquilinos, destruímos nosso orbi, poluímos o ambiente e a natureza vai cobrar um preço colocando o homem de joelhos, vai. Já está cobrando. Então, quanto antes vier essa conscientização do uso salutar do que a natureza nos oferece haverá respeito a ela mesma, se o homem não se respeita nem a si mesmo querendo guerrear, querendo experimentar as bombas uns nas costas dos outros, é um paradoxo, não é bem essa saída. Embora, se um dia nós experimentarmos, será o fim da sociedade como nós a conhecemos, não há como subsistir. Se algum louco lançar mão dela como tantos outros loucos no passado... Vamos nos esforçar para trabalhar numa coisa melhor, para quem? Para vocês jovens, para os seus filhos no futuro, para os seus netos para que tenham um mundo um pouco melhor. Temos que lutar com toda a força e fé. Eu pertenço a uma sociedade chamada Greenpeace, eu sou uma pessoa enjoada com o respeito à Natureza. Hoje, eu amo a Natureza de paixão, escrevo quando eu posso em colunas de jornais, embora eu tenha meu jornal de circulação que circula bem em Portugal, chamado Portais, é um jornal místico esotérico, não defende tese nenhuma somente defende os pontos de vistas das medicinas alternativas, divulgando o mundo que os chineses fazem a seis mil anos e mostrando ao mundo os valores da natureza. Nós somos seres humanos, a meta é o homem, fora disso não existe opção qualquer objetivo que tenha tem que focar o homem na melhoria do seu modo de viver, um mundo melhor para ele, entendeu?

P/1 - Então, são os seus sonhos de hoje?
R - O meu sonho é de colocar livros objetivos dirigidos que nem mísseis que vão nas mãos certas para que eles tenham mais forças do que eu para atuar mudanças em benefícios da coletividade, da sociedade de uma forma geral. Isso sem demagogia, essa é a pura verdade do meu âmago e estou falando com testemunha, porque, fique gravado e registrado, meu sonho é: mensagens que possam mudar o mundo para melhor, pensando não em mim porque já estou com mais de meio caminho andado, mas para quem vem atrás, pensar em quem vem atrás para não nos acusar no futuro de que não pensamos neles, entendeu? Subtraímos valores que corrigidos hoje para não deixar resto que eles não possam sobreviver a contento. Não, lutemos hoje, lutemos por um orbi, a Terra é linda, é uma safira, é maravilhosa e merece ser protegida. Hoje minha luta é pela liberdade dos povos e nada de fronteiras, é até utopia. Você imaginou o mundo do amanhã, hoje é utopia, o mundo sem fronteiras, um só idioma no mundo, um só padrão monetário, um só governo, uma só religião, é uma utopia. Hoje é, mas daqui a dez anos não será, será tudo isso que eu te falei e haverá uma união. Basta só esperar para ver, para crer, se não vai ocorrer um dia a fusão. Prevê em 2012 uma mudança, haverá um alinhamento do central da nossa galáxia com o nosso sistema solar, ok, haverá uma mudança e começa o 2000 verdadeiro. Porque o nosso calendário gregoriano está errado, 12 anos errado, o Papa Gregório, o ano 2000, por exemplo, foi seis anos atrás, começa em 2000 em diante. Haverá mudanças maravilhosas para a humanidade.

P/1 - Senhor Carlos tem alguma coisa que você queria contar ou alguma história que você lembrou e eu não te perguntei?
R - Cai no campo da fantasia, cai no campo da utopia. Eu vou só mencionar por cima. Eu pertenço a um grupo em São Paulo, está no site entre no www.ufo.com.br, vocês vão ficar o dia inteiro, sou diretor de um grupo chamado GEMA, que é Grupo de Estudos Metafísicos Avançados e Ufologia. Não viso ganhar um centavo sobre isso, por quê? Como dizem as passagens bíblicas: “Meu mundo não é deste mundo” fala o grande mestre que foi Jesus. Então, ele quis dizer alguma coisa com isso daí é bom parar para pensar. Nós moramos numa pequena galáxia e o nosso planeta Terra é como se fosse uma bolinha de gude, se eu colocá-la no meio dessa sala, a sala toda é o Universo, a nossa constelação. Existem hoje muitas bolinhas, são 400 milhões quase iguais na nossa constelação, a nossa galáxia, 400 bilhões de galáxias existentes no Universo segundo a UNICAMP [Universidade Estadual de Campinas], então estamos sós no Universo? Utopia. Sonhos, devaneios. Eu tive a felicidade na Vila Mariana em 1952 na Rua Cunha, embora o (avistamento?) da Rua Afonso Celso, esquina com a Rua Santa Cruz que eu morava ao longo daqueles sobrados, junto com uma tia que faleceu com 105 anos, uma nave oriunda, estou falando: não escreve um centavo pode apagar, não gravar, que era oriunda de augúrios que pousou e a partir dali eu mudei o conceito de termos individual e passei a pensar no coletivo. Nós estamos sendo visitados constantemente por seres que não são da Terra, nada de monstros de antenas, são seres humanoides como nós, se portam como nós, embora outra cabeça, outra ciência, outra metafísica, eles não podem intervir como eu não posso intervir na sua casa e dar sugestões, você tem que usar a sua casa, se é cor amarela na cozinha o resto da casa tem que ser cor amarela. Eles estão esperando que venhamos nos emancipar, parar com essas besteiras de matar crianças em guerras que não tem sentindo nenhum para que possamos andar juntos, lado a lado pelo Universo afora em busca dos mesmos princípios, a procura das mesmas coisas, porque eles são os herdeiros desse planeta que nos deixaram outrora, porque procuraram ambiente melhor, que mesmo eles no passado se autodestruíram e já se locomoveram para outro orbis, estão melhores, estão com a tecnologia avançada só que o domínio do planeta é deles, é deles isso daqui. Não vão dominar militarmente, porque nós estaríamos perdidos eles querem nos emanar porque são nossos irmãos e que vivamos juntos de mãos dadas o resto do infinito juntos, não com maldade como o homem pensa até hoje. Eles estão conosco, têm bases aqui e são avistados diariamente, tenho filmes, fotos, contatos, abduções. Tá bom, tem uns pequenininhos que não querem muito bem a gente, mas eles não vão deixar de intervir, não de acordo com a vontade deles, por que? Porque eles são nossos mestres, são eles os nossos manipuladores genéticos, eles que mudaram alguma coisa em nós, não foi Deus não; Deus é uma outra história. Faltam algumas hélices do DNA nosso, vão ser repostos porque nós temos uma consciência que quando nós abarcarmos o conhecimento maior... um dia perguntaram para Cristo “mestre”, aqueles discípulos andando lá pelo Getsêmani: “Mestre, quem somos nós?”, isso está gravado na Bíblia, não sou eu que estou inventando, então ele parou, olhou para ele e falou: “Sois deuses”. Eu quero que qualquer um, pastor de qualquer religião me explique essa frase. Nós estamos caminhando para uma ascensão incrível. Você usa, na sua cabecinha só cinco sentidos perceptivos – audição, tato, locução – só cinco sentidos, enquanto na realidade a casa toda significa o cérebro, o teu subconsciente que você não usa, quando você usar esse subconsciente que for colocado um véu que é o teu subconsciente você tem que estar morando em Alfa Centaurus, Capela, Sirius, Plêiades principalmente saiu, não pode morar mais, por quê? Porque é uma esponja, é um trabalho que está sendo formalizado para saber quem somos nós. “Sois deuses” que estão sendo formados para sermos isso, o ser supremo, tá? Não ficar jogando bomba nas costas do outro.

P/1 - Como foi o começo, eu na entendi direito? Foi em 52?
R - Em 52 aportou uma nave em cima da minha cabeça...

P/1 - Quantos anos você tinha?
R - Eu tinha oito anos e ela se aportou em cima da minha cabeça e a partir dali comecei a me aprofundar, a me interessar muito nesse assunto e acabei tendo ativamento com eles quatro vezes ao ano e com comunicação telepática. Sei de onde eles vêm, o que eles pretendem, como eles são e o que eles querem. Eles estão vindo aqui, não querem o nosso mal, só querem a mudança do planeta e isso cabe pode ser em termos científicos, ficção, o que vocês quiserem, mas eu digo aqui pela minha vida, eu tiro

a vida agora se fosse o caso para provar que eu estou falando a pura realidade, a

pura verdade. Mesmo porque comungado por outros colegas que viveram as mesmas experiências em todo o mundo a partir de 1947.

P/1 - Mas com oito anos e tal quando isso aconteceu você contou para os seus pais, você compartilhava com seus amigos, como é que era?
R - Embora tenha passado despercebido por eles, começaram a acontecer fenômenos comigo parapsíquicos. Eu sou parapsicólogo no Padre Anchieta, então meu amigo e professor Oscar Gonzales, eu me aprofundei nesses estudos, eu gosto disso, é metafísica. Então, o que acontece: eu começo a me projetar, a sair do mundo etéreo, do mundo astral, minha alma dentro do corpo físico e eu navegava no espaço sempre com acompanhante e foi mostrado que eu não estava morto, meu coração pulsava e eu via meu peito. Aí foi mostrado o que eu quis conhecer, eles me mostraram nessas viagens astrais. É uma outra realidade. Vi seres, locais, entendeu?

P/1 - E é frequente, desde os oitos anos você...
R - Até hoje... Faz cinco anos que não os vejo, no dia 1 de maio foi feriado lá em Poços de Caldas, Águas da Prata, num feriado 2 de maio a nave parou em cima de casa, ninguém via. Só eu via. No terceiro dia às três da tarde, todo dias às três da tarde ela abriu um círculo azul escuro, o céu estava azul claro, abriu um círculo azul escuro muito forte, se via estrelas e a nave entrou nesse círculo e fechou. O que é, eu não sei. Um portal provavelmente. Eles têm uma tecnologia superior, estão muito a nossa frente em tudo que você pode imaginar e eles sabem quem você é, onde você está, como se chama, o que você faz e o que você vai representar para eles no futuro. É como se fosse aquela pulseira GPS. Não adianta fugir, eles sabem. Tem um cordão ligando você para com os interesses deles, entendeu?

P/1 - Uhum. Tem mais alguma história que você gostaria de contar?
R - Não. Foi um resumo, tudo esboçado assim por cima, um ou dois nomes faltei que eu... inclusive da polícia militar daquela época que atuou muito contra os jovens naquela ocasião, eu vou lembrar e depois você pode acrescentar se quiser.

P/1 - Então está certo.
R - Foi muito...espero que tenha ajudado, que tenha servido aí para registrar parte do que eu vivi.

A experiência que nós vivemos, que meus pais viveram comigo

P/1 - E como foi contar a sua história aqui no Museu?
R - Eu não vou para confessionário para falar com o padre, mas não deixou de ser uma confissão (risos) e sentir-se mais leve, um desabafo. Oxalá que alguém um dia possa usufruir de alguma coisa que foi dita aqui, entendeu? Porque o que foi dito aqui foi a pura realidade e a verdade, não me omite de nada, lógico que o resumo de 60 anos contar em uma hora ou duas, muita coisa escapa, muita coisa passa, mas a base foi dada e é essa aí.

P/1 - Então, agradeço José Carlos.
R - Obrigado a vocês por tudo.