Museu da Pessoa

Raiz da comunidade

autoria: Museu da Pessoa personagem: Geraldo da Silva Carlos

Memórias das Comunidades de Paracatu
Entrevista de Geraldo da Silva Carlos
Entrevistado por Nataniel Torres
Paracatu, 12 de setembro de 2022
Código da entrevista: PCSH_HV1304
Revisado por Nataniel Torres

P/1 - O seu nome completo, por favor?

R - Geraldo da Silva Carlos.

P/1 - E qual sua data de nascimento?

R - 1929.16/06.

P/1 - E onde o senhor nasceu?

R - Nasci no Cunha.

P/1 - O senhor nasceu aqui no povoado mesmo?

R - No Cunha, no povoado.

P/1 - Como é que era o povoado antes seu Geraldo?

R - Antes era como eu falei, devia ter umas seis casas, não tinha mais de seis casas, era uma seis casas. Era alguma casa, uma longe da outra. E depois foi crescendo, crescendo e hoje deve ter mais de 100.

P/1 - E vocês conheciam todas as pessoas que moravam aqui quando tinha poucas casas?

R - Conhecia, ué! Conhecia todo mundo que morava aqui.

P/1 - Seu Geraldo, te contaram como foi seu dia de nascimento?

R - Não!

P/1 - Qual o nome dos seus pais, seu Geraldo.

R - Também não sei. Minha mãe, eu posso falar para você, mas o meu pai eu não sei.

P/1 - E qual o nome da sua mãe?

R - Era Maria da Silva Carlos.

P/1 - E a Dona Maria fazia o quê seu Geraldo?

R - Minha mãe trabalhava com serviço braçal, porque ela não sabia nem assinar o nome. Então trabalhava com serviço lavando roupa, passando, capinando, esse que era o serviço dela.

P/1 - Mas as terras que vocês moravam era de vocês?

R - Era nossa, mas foi tomada pelo povo.

P/1 - Mas vocês não tavam coisas para vocês?

R - Ela plantava, ela plantava arroz, plantava feijão, plantava milho. Tudo isso ela plantava.

P/1 - E tudo isso que ela plantava vocês comiam?

R - Nós comia.

P/1 - Vocês vendiam também, seu Geraldo?

R - Tinha dia que faltava comida. (risos)

P/1 - E aí fazia como?

R - Uai, pegava uma galinha no terreiro, matava uma galinha, cozinhava, às vezes faltava gordura, cozinhava com a gordura da galinha, ia fazendo assim.

P/1 - Essas coisas que vocês plantavam chegavam a vender também?

R - Não, não dava para vender não, era só mesmo para comer. Porque nessa época eu era muito pequeno, era mesmo ela. Os filhos ficavam tudo fora, ela sozinha. Nós era dois que ficava juntos, depois um morreu, ficou eu.

P/1 - E aí ficava só o senhor e ela em casa?

R - Ficava só eu e ela em casa. Depois uma filha dela casou, uma irmã minha, aí ela foi morar quase junto com ela. Aí eu fiquei sozinho. Aí tinha uma outra irmã minha, morava mais o pai, o pai morreu, aí ela veio ficar mais eu, ficou nós dois. Até que ela casou. Depois eu também casei, minha mãe morreu. E depois de eu casado, eu casei 1960. Fiquei viúvo. agora estou sozinho, só uma filha que mora ali.

P/1 - Quantos irmãos o senhor teve ao todo?

R - Nós éramos ao todo oito.

P/1 - Todos os filhos da mesma mãe, mas de pais diferente, é isso?

R - Porque ela foi casada, então ela adquiriu três filhos do primeiro casamento, depois os outros foi particular. Um tinha a família dele que morava em Cristalina, então ele mudou para Cristalina, morava lá, quase nem via ele, mas depois ele faleceu também, dos oito só ficou eu.

P/1 - Dos seus oito irmãos só sobrou o senhor vivo, é isso?

R - Só sobrou eu, uma morreu ano passado, agora fez um ano, era mais velha do que o 7 anos, morreu ia fazer 98 anos, 98 anos ela viveu.

P/1 - O senhor chegou a conhecer a família da sua mãe, por exemplo, seus avós?

R - Conheci alguns, muito pouco.

P/1 - Seu avô e sua avó?

R - Minha vó e meu vô eu não conheci nenhum.

P/1 - Nem por parte de pai, nem por parte de mãe?

R - Não!

P/1 - O senhor nem sabe de onde eles vieram?

R - Sei o nome do meu avô, mas não conheci nenhum.

P/1 - Qual o nome do seu avô?

R - Meu avô chamava Antônio da Silva Carlos e minha avó chamava Leduina Gomes de Melo.

P/1 - E o seu Antônio e a dona Leduina, eles eram daqui também, da comunidade?

R - Não sei! Eu não lembro deles, quando me entendi por gente, já não vi eles mais, então eu não sei o passado deles.

P/1 - O senhor sabe por que que te deram o nome de Geraldo?
R - Não sei se foi ideia dela, de quem foi não.

P/1 - Os seus irmãos fizeram o que, trabalhavam com que, seu Geraldo?

R - Esse que morava em Cristalina mexia mais com garimpo, nesse tempo tinha o garimpo muito forte lá e Cristalina, ele era o rei.

P/1 - Seus irmãos foram para lá para garimpar?

R - É! Agora os outros não, os outros mexiam com lavoura, capinando, plantando, os outros dois irmãos homens. Agora as mulheres foram casando, cada uma adquiriu sua família.

P/1 - Na sua época de Infância o senhor tinha que trabalhar também, seu Geraldo?

R - Eu tinha que trabalhar. E que tinha uma lavoura aqui no Cunha, uma pessoa que morava por lá, ele tinha um engenho, eu com 15 anos passei a trabalhar lá. Depois com 15 anos, fui trabalhar numa fazenda aqui perto, fazenda do Bonsucesso, carregar leite para a cidade. Depois que eu deixei o leite, eu fui trabalhar braçal, lá na fazenda, trabalhei muito tempo braçal lá na fazenda. Chamava Roberto, o dono da fazenda era Maurício, depois o Maurício morreu, ficou o filho, chamava Roberto, trabalhei lá muitos anos, trabalhando em serviço braçal. Comecei carregando leite para cidade, levava leite, carregando de cavalo de lá para Paracatu, todo dia.

P/1 - E quando a senhor era pequeno, quando eu tinha 7, 6, como é que o senho fazia? O senhor estudava nessa época?

R - Estudava! Nesse tempo 7 anos…. porque de primeiro, aqui a escola era de

7 anos para cima, então com 7 anos eu fui para escola, mas a minha professora ela era muito boa, mas quase todo ano ela ganhava um menino e aí tinha que parar, a escola ficava parada mês inteiro, aí quando começava voltava outra vez. Aí estudei até o 3º ano, ai terminou, não tinha mais estudo, era só o terceiro. Ela dava aula para primeiro, segundo e terceiro, todo dia.

P/1 - A escola que senhor ia era a escola aqui da comunidade?

R - Não, a escola era na Lagoa.

P/1 - A escola da Dona Maria Trindade.

R - É, Maria Trindade.

P/1 - Mas o senhor chegou a conhecer a Dona Maria Trindade?
R - Foi ela que foi a minha professora.

P/1 - Ela que é a professora que o senhor está contando.

R - É!

P/1 - E como era como pessoa?

R - Ela era muito boa, viu! Só que ela era muito nervosa. Mas eu, por exemplo, não tinha nada que reclamar dela. Ela batia nos meninos, ela tinha uma régua e uma palmatória. Sabe o que é palmatória? Pois é! Os meninos apanhavam com essa régua, com essa palmatória. Agora eu não, quando ela chegava batendo em mim, era com lápis, ela batia o lápis na cabeça, mas bater mesmo em mim, ela nunca bateu. Mas tinha menino que apanhava.

P/1 - E quando ela batia o lápis… o que senhor fazia para ela bater o lápis?

R -

Porque às vezes eu ficava conversando com outra pessoa, às vezes ficava conversando com o colega que estava sentado atrás, ela vinha, batia o lápis na minha cabeça. Mas ela era boa, viu! Boa professora.

P/1 - E o senhor gostava de estudar nessa época?

R -

Eu gostava.

P/1 - E o que o senhor gostava de estudar?

R -

Eu gostava mais de estudar problemas de aritmética, eu gostava de fazer contas, era comigo mesmo.

P/1 - O senhor fazia bem, conseguia ir bem na matemática?

R -

Consegui, na matemática consegui. Agora, ela dava o ditado, ela pegava o livro de uma pessoa e aí falando, tinha que escrever. Aí um dia ela tava dando o ditado, e eu tô rindo, ela tava corrigindo o caderno do outro, e eu tô rindo, ela falou, “já vou corrigir o seu”. Quando ela foi corrigir, foi zero.

P/1 - O senhor errou o ditado?

R - Errei tudo!

P/1 - Mas o que aconteceu? Por que errou tudo?

R

- Ué, não sei não, errei tudo.

P/1 - Mas o senhor estava conversando nessa hora?

R -

Falta de prestar atenção.

P/1 - E aí, o que aconteceu depois?

R -

Depois que aconteceu…ela não fez nada! Ela tomou o caderno e falou, “amanhã você vai fazer de novo”. Mas não bateu em mim também não.

P/1 - E como é que o senhor ia para escola?

R -

Nós ia a pé, nós ia pé, caminhando. Tinha gente menino, que morava muito mais longe e ia. Barreiro, Pinheiro, tudo ia de a pé, mas de légua.

P/1 - Essa escola recebia gente de outros lugares, é isso?

R -

De outros lados, só tinha essa escola. Talvez você não sabe onde é Barreiro, Retiro, tá mais de légua da Lagoa, Pinheiro e essa turma ia tudo de a pé.

P/1 - E nessa época que o senhor estudava, tinha que ajudar em casa também, seu Geraldo?

R -

Tinha que ajudar, tinha que ajudar com alguma coisa, mas não era tanto. Mas alguma coisa a gente ajudava.

P/1 - E dava tempo de brincar, seu Geraldo?

R - Brincava, brincava demais.

P/1 - Vocês brincavam do que na época?

R - Montava num pau falava que era cavalo, arranjava aqueles Jatobá, você conhece Jatobá? Pegava aquele tanto de Jatobá, amarrava na bananeira, numa capa de bananeira, dizia que era o carro, e aí ia puxando.

P/1 - O senhor tinha muitos amigos nessa época, seu Geraldo?

R - Tinha bastante amigos, bastante conhecidos.

P/1 - E os conhecidos, os amigos, eles iam de onde seu Geraldo?

R - Lá do Pinheiro, onde eu estou falando, Barreiras. Tinha muito amigo. Agora aqui, os que vinham para cá, eram poucos, não era muito não, mas tinha alguns deles.

P/1 - E como é que vocês se reuniam, seu Geraldo? Como é que essa criançada se reunia?

R - Reunia lá na escola. Os que moravam perto, ia tudo junto, dependia, eram 2 turnos, o primeiro e o segundo,

se fosse primeiro, reunia o do primeiro, se fosse o segundo, reunia o segundo. Que ela dava os 3 turnos, dava para primeiro, segundo e terceiro, tudo num dia só.

P/1 - A professora então reunia todo mundo para dar uma aula para todo mundo, cada um de uma série diferente.

R - Primeiro ano começava 7 horas ia até 11 horas, parava, depois 12 horas pegava o outro turno e ia até 4 horas

P/1 - E lá na escola vocês tinham merenda, por exemplo?

R - Não, não tinha nada de merenda.

P/1 - E aí, como é que fazia quando estava com fome?

R - Se pudesse levar, levava um pedaço de rapadura, levava uma batata, para fazer um lanche.

P/1 - E quando tinha um amiguinho que não tinha, como é que fazia?

R - Ficava sem comer, não tinha nada, ficava sem comer.

P/1 - Quando chegava da escola tinha que ajudar?

R - A gente ajudava mamãe capinar, se ela tivesse limpando um feijão, ajudava um pouquinho. Nós ficava mais era brincando, até essa idade, depois que crescemos, foi trabalhando fora, como eu falei, trabalhei nessa Fazenda, trabalhei aqui no Cunha, numa lavoura, moía cana, fazia muita rapadura. Trabalhei muito tempo aqui, tocando boi no engenho.

P/1 - O senhor fazia a rapadura, ou trabalhava só cortando a cana?

R - Não, só trabalhando para ganhar o meu dinheiro. Primeira botina que eu calcei, foi trabalhando aqui no Cunha. Fazendo madrugada, levantava 12 horas da noite e ia até 6 horas da tarde.

P/1 - E antes disso o senhor não tinha botina?

R - Não!

P/1 - O senhor andava com quem no pé?

R - Descalço. Andava descalço, não tinha.

P/1 - Mas mesmo para trabalhar o senhor ficava descalço?

R -

Usava uma precata de couro, falava que era precata de carreiro. Aí nós fazia a precata e calçava.

P/1 - Mas a botina o senhor foi ter só depois que estava trabalhando?

R - Quando eu consegui comprar a botina já estava trabalhando aí, fazendo madrugada, levantando 12 horas da noite, ia até 6 horas da tarde, aí jantava e dormia, quando era 12 horas levantava outra vez. Fazendo rapadura, fazendo açúcar, era a semana inteirinha.

P/1 - E o senhor comprou onde essa botina, como é que fez?

R - Foi lá em Paracatu. Eu fui mais ele levar uma carga de rapadura, levar rapadura para vender lá em Paracatu, aí o homem que foi mais eu, eu pedi a ele para comprar uma botina para mim.

P/1 - Aí ele comprou?

R -

Comprou! Eu calcei 37, calço 37 até hoje.

P/1 - E ficou boa a botina?

R -

Ficou! E até hoje eu calço 37.

P/1 - E depois…. essa botina durou bastante tempo?

R - Durou!

P/1 - O senhor usava onde a botina?

R -

Eu usava trabalhando. Aí depois que eu parei de trabalhar aqui no Cunha, eu fui para a fazenda carregar leite. Lá quando acabava uma, eu comprava outra, continuar calçado, né.

P/1 - E nessa época que o senhor trabalhava com leite, você fazia o quê com salário naquela época?

R -

Eu comprava roupa, dava a mamãe um pouquinho, dava uma ajudazinha.

P/1 - E aí o senhor falou que depois sua mãe foi morar com a sua irmã, não é isso.

R - É, foi morar com a minha irmã. Aí eu fiquei mais a outra irmã que morava mais o pai, ela veio ficar mais eu. Ela ficou uns tempos, depois ela casou, aí eu fiquei sozinho.

P/1 - Aí o senhor ficou sozinho onde? Lá na casa que vocês moravam?

R -

Aqui no Cunha, nós morava ali ó.

P/1 - Aqui no Cunha mesmo, era aqui perto?

R - A gente morava no fundo dessa casa aqui, depois.

P/1 - Mas o senhor ficou sozinho na casa?

R - Fiquei sozinho.

P/1 - O senhor tinha quantos anos mais ou menos essa época?

R - Tinha uns 16, 17 anos.

P/1 - E aí, como era ficar sozinha nessa época? O senhor era muito jovem.

R -

Lembro que eu fazia a minha comida.

P/1 - Mas o senhor sabia cozinhar?

R - Fazia comida de qualquer jeito.

P/1 - O que o senhor cozinhava nessa época?

R -

Cozinhava arroz, feijão, batata, macarrão.

P/1 - Mas era fogão de gás já?

R -

Não! Fogão de lenha, era fogão, fazia a lenha, o fogo era de lenha, não tinha nada de gás não, ninguém nem pensava em gás.

P/1 - Mas tinha energia elétrica na época?

R -

Não tinha não.

P/1 - E aí vocês faziam como?

R -

A luz era de azeite, sabe o que é azeite? Ou querosene. A luz nossa era essa, não tinha outra luz, não tinha energia não. Depois que o prefeito aqui de Paracatu ganhou, ele chama Diogo Alves, foi que ele colocou energia aqui para nós.

P/1 - Mas a energia chegou bastante tempo depois?

R -

Bastante tempo depois.

P/1 - E nesse tempo que não tinha energia elétrica era na base do azeite……

R -

Era na base do querosene, do azeite, era isso! Fazia o pavio de algodão, punha na lamparina, punha o querosene…

P/1 - Mas vocês que fazia o pavio de algodão, ou vocês compraram pronto?

R - O pavio? Não, fazia. O pavio nós fazia de algodão, era só tirar aquele caroço, fazia o pavio, colocava na lamparina, colocava o querosene, era a luz que nós tinha era essa.

P/1 - E o querosene, o azeite, vocês faziam como para conseguir?

R -

Tinha que comprar, né. Agora, o azeite, mamãe fazia, ela plantava mamona, você conhece Mamona? Pois é! Plantava mamona, aí ela socava ela no pilão e fazia o azeite, tirava o óleo, o azeite daquele óleo. Aí ia tirando, tirando, ela ia passando a colher assim e tirando, separando da água. E depois punha numa vasilha, podia ser até um pires com o pavio, aí era só pôr fogo. Era difícil para pegar, mas na hora que pegava.

P/1 - Mas o pé de mamão, por exemplo, vocês tinham no terreno de vocês?

R -

Tinha muita Mamona.

P/1 - Aí ela ia lá colher para fazer esse óleo de mamona.

R -

Ela quebrava os cachos e punha aquele tanto de cachos no terreno para secar, aí na hora que vai secando a mamona, ela vai estralando e caindo. Aí ela juntava tudo, punha no pilão, socova e depois tirava o óleo.

P/1 - E aí conseguiu usar esse óleo para fazer a iluminação de vocês depois.

R -

Para iluminar, para vender, porque tem o carro de boi, o carro de boi também, o eixo, tem que passar o azeite, de vez em quando tem que passar o azeite.

P/1 - Porque emperrava, ele ficava duro.

R -

É! Ficava duro. Tinha vezes que pegava até fogo, ele ia esquentando tanto que pegava fogo. Aí tinha que passar azeite, já tinha o chifre, eles pegavam o chifre do arreio e colocava já o azeite dentro do chifre, e colocava no carro, porque se precisasse passar, passava.

P/1 - Colocava na roda do carro?

R -

Não, no eixo. Passava no eixo, para ficar mais leve e não pegar fogo.

P/1 - Mas usava

esse óleo de mamona também.

R -

O óleo de mamona, era o óleo de mamona.

P/1 -Teve uma época que o senhor trabalhou com gado também, não foi?

R -

Não, eu trabalhei com gado foi quando eu trabalhei na Fazenda.

P/1 - O senhor chegou a trabalhar com gado também.

R -

Trabalhei com gado.

P/1 - E como foi essa época que o senhor trabalhava com gado?

R -

Trabalhava com gado, tirar leite, para o campo, juntar o gado. Tinha uma fazenda aqui, tinha uma outra lá no lugar que chamava Piquiri, então tinha vez que nos ia levar esse gado lá para o Piqueri.

P/1 - E o senhor conduzir o gado até lá?

R -

Conduzindo gado. Nós conduzia, não era só eu não, tinha mais pessoas.

P/1 - Mas aí vocês trabalhavam para o fazendeiro como o senhor disse.

R -

Trabalhava para o fazendeiro. Queimando pedra para fazer cal, tudo isso já topei.

P/1 - Queimando pedra? Mas como é isso?

R -

O cal? Fazia um buraco bem fundo, vinha com as pedras, começava assim ó, topaondo uma mão na outra, para fazer um arco, e depois jogava pedra lá dentro até encher. E depois de cheio, punha fogo, ali era três noites e três dias para queimar as pedras.

P/1 - Mas isso servia para quê, seu Geraldo?

R -

Para queimar para fazer o cal, queimar a pedra. Aí eles tiravam, panhava pedra no meio da serra. Primeiro pegava carro de boi, depois o filho dela, Roberto, pegava de caminhão. E aí era três dias, três noites, queimando, colocando a lenha.

P/1 - E vocês usavam o cacau para que depois.

R -

Para as paredes. Quando construiu Brasília, ele levava por semana dois caminhões, cinco caminhões de cal.

P/1 - Mas aí vendia também?

R -

Para vender lá em Brasília.

P/1 - Mas vocês usavam aqui também?

R -

Usava.

P/1 - Esse cal que vocês produziram aqui.

R -

Que produzia aqui, nessa fazenda aqui. Tinha três carretas, e nós éramos seis pessoas produzindo o cal, aí era noite dia.

P/1 - Mas o senhor ganhava um dinheiro para fazer isso?

R -

Eles pagavam, não eram bonzão não, mas servia.

P/1 - E depois disso o senhor foi trabalhar com o que?

R -

Depois eu deixei, fui trabalhar em roça para mim.

P/1 - Aí era no seu terreno?

R -

Trabalhava meia. Tinha um rapaz que tinha um terreno aqui, eu trabalhava com ele na terça, trabalhei muito tempo com ele, chamava Antônio Torres. Depois trabalhei com o Miguel Coelho também, depois eu fui trabalhar com o Roberto, que era o dono da fazenda lá, trabalhei muito tempo plantando arroz, plantando milho, feijão. Depois ele morreu, o Roberto morreu, ficou o cunhado dele tomando conta, chama Zé do Bamba, ele ficou tomando conta, aí eu continuei trabalhando com ele. Teve um ano, que só milho só, eu vendi para ele 400 sacos, ele falou, “é Geraldo, você foi o maior, você foi o que mais colheu”. Eu colhi milho só para ele só, eu vendi 400 sacos, tudo deu 800 sacos de milho.

P/1 - Nessa época o senhor trabalhava sozinho, ou tinha alguém trabalhando com o senhor?

R -

Plantando na terça com eles.

P/1 - Entendi! Mas tinha outras pessoas que olharam a terra com o senhor ou o senhor olhava sozinho?

R -

Não, tinha mais gente que trabalhava perto de mim. Ele comprou a safra, depois venderam, ele comprou. Aí ele ainda falou, “o Geraldo, você foi o maior, você bateu em todo mundo.”

P/1 - Nesse ano o senhor ganhou um pouquinho a mais?

R -

Dinheiro também. Aí ele pagou. Quando eu peguei aquele dinheiro, aquele pacotão de dinheiro na mão, falei puxa. Aí fui lá para caixa, tinha um depósito lá na caixa, aquela caixa estadual, aí eu peguei o dinheiro, foi lá e depositei, na caixa na estadual.

P/1 - Lá em Paracatu na cidade?

R -

Lá em Paracatu. Depois a caixa Estadual acabou.

P/1 - Mas depois o senhor usou o dinheiro para outras coisas?

R -

Usei para outras coisas, comprei uma carroça, comprei cavalo, comprei dois cavalos, comprei uma carroça, depois eu vendi tudo.

P/1 - Esses o senhor comprou para usar na sua terra?

R -

Para mim apanhar as coisas que eu colhia. Trabalhava lá no Zé do Bamba, o que eu colhia, o que eu tinha que trazer, trazia tudo na carroça. E tinha capineira para passar para limpar o milho, aí usava para passar a capineira, você talvez não conheça. Aí você põe o cavalo nela, e ele vai limpando com a capineira. A capineira tem três inchadas, uma na frente e duas, uma do lado e uma do outro, é uma espécie de uma máquinazinha, mas é puxada a cavalo. Aí eu fazia era isso.

P/1 - Esse cavalo depois foi o senhor que comprou?

R -

Depois eu peguei e vendi o cavalo, vendi todo os 2. 1 eu até troquei por uma balança, dessas balanças de pesar mais de 6kg, troquei com um rapaz. Aí o outro eu vendi, depois eu não mexi mais com roça, mexendo só aqui no quintal.

P/1 - No seu quintal, na sua terrinha aqui, mas aí é uma roça para o senhor.

R - Aí eu fazia aqui para mim. Mas quando eu trabalhava para os outros eu tinha tudo, capineira eu tenho até hoje, só que eu emprestei ela para um rapaz aqui, deve ter uns 6 anos, ele nunca me entregou ela, se não eu te mostrar ela para você.

P/1 - Essa é a carpideira antiga, ou já é mais moderna?

R - Ela é mais moderna, mas ela é bem antiga.

P/1 - Mas essa que o senhor me emprestou é mais antiga ou essa é mais moderna?

R -

Não, é mais antiga.

P/1 - E nunca mais devolveu.

R -

Não entregou, eu fico com vergonha de procurar, porque não usa mais, né. Você punha lá no cavalo, passei ela num terreno para plantar um feijão, passei assim, plantei o feijão, quatro sacos de feijão, colhi 80 sacos de feijão. Tudo limpando com essa carpideira.

P/1 - Com a carpideira o senhor conseguia produzir mais, é isso?

R -

Produzia mais, produzia mais. Até quando está capinando assim, a carpideira ia capinando, era só pôr o cavalo, ia puxando a carpideira, ficava limpinha, ainda pegava a terra no pé da planta.

P/1 - O senhor tirava o leite também da vaca?

R -

Tirava.

P/1 - Como que tinha que fazer para tirar o leite das vacas, elas não eram bravas?

R -

Não, quando ela é brava, você tem que amarrar, você laça ela e amarra no pau, aquela pirracentas, cai, deita, ai você deixa ela espancar um pouquinho, até ela acostuma. Na hora que ela costuma, é só tirar, você pega ela e tira o leite.

P/1 - Mas tirava bastante leite

R -

Bastante leite. Você pega ela, pega o bezerro, amarra na mão dela, e tira o leite.

P/1 - O filho dela, o bezerro, deixa o bezerro próximo da mãe, o senhor amarrava junto.

R -

Amarrava na própria mãe, na mão dela assim. Depois com o balde você ia tirando o leite. Aí tirava.

P/1 - E como é que o senhor sabia a hora de tirar o leite?

R -

Nesse tempo, todo dia de manhã cedo tirava levantava, nós levantava 5 horas da manhã para tirar o leite para poder levar para a cidade. Aí você vai tirando, você sabe que deu aquela hora….. os bezerros tá apartado, bezerro não tá junto com a vaca não, o bezerro está para o outro lado, só vem na hora de tirar o leite, você vai tirando, soltando o bezerro, cada vaca solta o bezerro, aí tira o leite. Aí quando você acaba de tirar, se tiver bezerro novinho, você deixa preso para dar de mamar, a vaca dá de mamar, agora se não for você pode soltar e pôr no pasto.

P/1 - E aí depois o senhor casou que aconteceu?

R -

Casei.

P/1 - O senhor conheceu a esposa onde?

R -

Ela é aqui mesmo do Cunha.

P/1 - Mas o senhor já conhecia ela faz tempo?

R -

Já, já conhecia.

P/1 - E como aconteceu o casamento?

R -

Uai, o casamento nos fomos gostando um do outro…. Eu era a noiva de outra moça, aí sei que o pai dela veio aqui para nós marcamos o dia do casamento, eu fui e escondi, aí quando ele saiu deixou o recado com mamãe, “fala para o Geraldo ir lá para a gente marcar o dia do casamento”. Eu fui lá nada! Aí comecei a namorar mais essa que eu casei, aí acabou nós casou.

P/1 - E por que o senhor não

queria casar com a outra?

R -

Não sei, deu uma crise em mim na hora, não sei o que é que deu…. Tava tudo arrumado, eu e ela, tudo arrumado, era só marcar o dia.

P/1 - Mas essa moça era de onde?

R -

Ela morava a uns 10 km, lá no Pinheiro, ela morava lá. Agora a outra morava aqui mesmo.

P/1 - Mas essa outra que o senhor tinha conhecido….. o senhor conheceu como a outra?

R -

Ela trabalhava com uma mulher que morava aqui, e aí nós começamos a gostar um do outro, firmou que ia dar casamento, mas não deu não, tava tudo arrumado.

P/1 - E aí a esposa do senhor, qual o nome da sua esposa?

R -

Josefa.

P/1 - Aí o senhor queria casar com a dona Josefa?

R - É!

P/1 - Como é que aconteceu essa história que a dona Josefa ?

R - A família dela, minha família, todo mundo gostava, morou aqui muitos anos. Ela era pobrezinha, mas nós vivemos bem, muitos anos, ela estava com 62 anos, ela faleceu.

P/1 - A família dela também era do Cunha, todo mundo do Cunha?

R -

Tudo do Cunha.

P/1 - Mas o senhor ainda tem contato com a família dela?

R -

A mãe dela morreu. Interessante, eles eram cinco irmãos, todos os cinco morreram, eram três mulheres e dois homens. O irmão dela mais velho, era abaixo dela, morreu ano passado, agora os outros, já tem mais de 5 anos que morreu. Primeiro morreu o mais novo, depois morreu a mais nova, depois morreu a terceira, por fim morreu o que era baixo dela, morreu o ano passado, ele morreu com 80 e poucos anos, foi o que durou mais, mas os outros morreram tudo. O Antônio morreu com 50 e poucos anos. Teve uma que chamava Marta, ela morreu com 62 anos.

P/1 - Sua mãe estava morando com a sua irmã na época que faleceu?

R -

Tava morando junto, eu tava morando junto, ela morava junto comigo.

P/1 - Quando ela faleceu ela estava morando com o senhor?

R - Não, a mamãe já está com mais de 40 anos que ela morreu. Não, ela morava com a outra irmã dela, ela morava lá.

P/1 - E o que aconteceu?

R - Ela adoeceu, e cabou, faleceu! Não teve jeito não. Levou na cidade, levou nos médicos, andou. Ela morreu com 87 anos, minha mãe. Agora esposa foi com 62.

P/1 - E com a esposa o que aconteceu?

R -

Uai, ela levantou cedo…. ela tinha um problema de respiração, ela tomava remédio controlado todo dia. Aí esse dia de manhã cedo, ela levantou, tava com a respiração muito curta… Ela levantou cedinho, eu fiquei deitado, aí ela falou comigo, “Geraldo levanta e esquenta uma água para mim, põe o vaporub dentro que é minha respiração tá muito pouca”. Aí eu levantei, pus a água para ferver, pus o vaporup, dei para ela cheirar, ela cheirou. Aí ela foi piorando, arrumei um carro para levar ela, quando chegou… onde tem uma ponte aqui no asfalto, você deve saber, ela faleceu. Ela estava mais a filha dela, ai faleceu. Aí quando chegou no hospital ela já estava morta.

P/1 - Mas o senhor viu quando ela faleceu, por ela estava no carro com o senhor.

R -

Não, eu não tava no carro não, que estava a filha dela. Diz ela que ela

foi atravessando essa ponte, ela deu aquele suspiro assim e quitou. Ela ia até mais um policial estadual. Um rapaz levou ela até o asfalto, aí chegou lá o carro dele é muito pequeno, aí a gasolina acho que acabou, não sei, ia passando essa polícia estadual, aí ela chamou, ele chamou o rapaz, ele veio levou, pegou ela pois no carro dele. Chegou no hospital ela já estava morta, não tem mais jeito.

P/1 - Antes dela falecer o que vocês faziam aqui na casa, ela ajudava nas coisas da casa também?

R - Ajudava. Só o que ela não fazia era capinar, mas plantava, colhia, feijão ela ajudava arrancar, fazia comida todo dia. Tinha vez que eu plantava lá embaixo, tinha 5, 6 pessoas trabalhando comigo, ela fazia o almoço todo dia, ia levar lá o moço para mim todo dia, para nós. Me ajudava demais.

P/1 - A família da dona Josefa também trabalhava com roça?

R -

Eles quase tudo trabalhava com roça, só a Marta, que chamava preta, essa depois que ela cresceu mais, ela mudou para Brasília, essa morava em Brasília. Agora os outros mexia com lavoura.

P/1 - A casa que o senhor construiu, é essa que o senhor mora hoje ainda?

R -

É!

P/1 - É essa aqui que o senhor morou com a dona Josefa?

R -

Não, era ali ó.

P/1 - Mas aqui nesse terreno mesmo?

R -

Aqui mesmo.

P/1 - Mas a casa era como naquela época que o senhor fez?

R -

Era de telha, mas não era pintada não, era só o adobe, não era pintada não.

P/1 -Mas o senhor que fez com as suas mãos a casa?

R -

Não, paguei para fazer.

P/1 - Mas era uma casa com adobe e tinha telha.

R -

Tinha sim.

P/1 - Que era nesse terreno, mas lá atrás.

R -

É, aquela ali. Aí depois eu fiz essa

P/1 - Ela ainda estava viva?

R -

Estava viva, quando eu fiz essa ela tava viva.

P/1 - Quando ela faleceu você já tinha essa casa aqui?

R -

Já, essa casa aqui tinha, tanto que ela foi velada aqui. Na época, chegou um rapaz aqui, ele veio de Goiás, então ele estava fazendo o plano funerário, aí eu fui e fiz o plano, ela nem sabia, ai eu cheguei falei para ela. Muitos falaram assim comigo, “você está jogando seu dinheiro fora”. Aí tem um rapaz aqui, que ele é da Maçonaria, ele falou, “vou comunicar isso na nossa maçonaria, isso vai dar cadeia”. Falei, será? Ainda discute. Acabou, o dia que ela morreu, ele veio aqui, arrumou tudo, o dono da funerária.

P/1 - Mas esse pessoal da funerária é daqui de Paracatu mesmo?

R -

Não, eles não eram daqui, eles eram do Goiás, ele veio de Goiás.

P/1 - Mas essa empresa que faz a funerária é uma empresa de Goiás?

R -

Ela é de Goiás, era de Goiás, mas agora ela está em Paracatu.

P/1 - Mas aí quando a esposa faleceu teve que chamar eles para ver e fazer as coisas?

R -

Falei com ele, ele mandou o caixão, a urna, mandou leite, mandou quintanda, mandou chá, café. A noite inteira o povo bebeu café e comeu aí, tudo as custas dele, que eu paguei, pagava a funerária. Aí muitas pessoas, quando viu que valia, hoje todo mundo aqui paga funerária, todo mundo paga.

P/1 - E quando ela foi velada ela foi velada aqui na sua casa mesmo?

R -

Foi aqui aqui nessa casa.

P/1 - E quem veio no velório da dona Josefa?

R - Veio muita gente, tinha gente que você precisava ver, muita gente mesmo. Aí ele veio no outro dia, marcou o velório, ele veio, com o carro funerário, levou para o cemitério, lá na Lagoa.

P/1 - Ela foi enterrada naquele cemitério que é atrás da igreja, do lado da igreja, lá na Lagoa Santo Antônio?

R -

Foi! Foi enterrada naquele cemitério.

P/1 - Faz quanto tempo que ela faleceu?

R - Tem 22 anos, foi no mês de março. Ela morreu no dia 16 de março de 2000.

P/1 - E aí, o que aconteceu depois que ela faleceu? Como é que ficaram as coisas aqui na Fazenda?

R -

Ficou…. muita gente falava que eu tinha que arranjar uma companheira, até arranjava… quero não! Vou viver minha vida sozinho. E sozinho estou até hoje.

P/1 - Mas o senhor chegou até conhecer outras mulheres, mas nunca mais quis casar.

R -

Não, nunca mais.

P/1 - Mas o senhor chegou a conhecer outras mulheres?

R -

Conheci algumas, mas casar mesmo… Eles tudo falava comigo, essa nora que mora em Uberlândia, falou comigo, “arranja uma mulher, casa, viver sozinho é ruim demais”. Falei, “quero não! Quero quero casar mais não! Aí estou sozinho.

P/1 - Por que o senhor não quis casar mais?

R -

Não tive ideia.

P/1

- Mas com a dona Josefa foi um bom casamento?

R -

Foi bom casamento.

P/1 - O senhor teve filhos com ela, né Senhor Geraldo?

R -

Com a Josefa?

P/1 - Com a dona Josefa.

R -

Tenho 3.

P/1 - Vocês tem 3 filhos?

R -

Uma mulher e dois homens.

P/1 - E os filhos estão onde agora?

R -

Um mora aqui, a mulher, mora naquela casa ali. O outro mora em Uberlândia e o outro mora em Cristalina.

P/1 - E os filhos estão fazendo o que agora?

R -

Aqui tá aqui trabalha dentro de casa.

P/1 - Mas ela já é casada, tem filhos?

R -

Tem! Ela tem quatro filhos.

P/1 - E os filhos, os que estão fora aqui de Paracatu?

R -

O que está em Cristalina tem, agora o outro não tem nenhum. O outro não tem filho não.

P/1 - Mas eles trabalham com o que, seu Geraldo?

R -

O que está em Cristalina, mexe com borracharia. Agorao que mora em Uberlândia é caminhoneiro. Ele trabalha lá na Martins, já ouviu falar na empresa Martins? Ele trabalha lá. Já até aposentou, mas está trabalhando, ontem mesmo ele ligou para mim, estava em Santa Catarina. Viaja direto.

P/1 - E os filhos estudaram lá Lagoa também?

R -

Estudou na Lagoa, da Lagoa passou a estudar na cidade, todos os três estudaram na cidade.

P/1 - Mas eles continuaram estudando o seu Geraldo?

R -

Não, continuou não. O George, que mora em Uberlândia, só fez a sétima série. Casou, foi embora para Uberlândia, trabalhou 14 anos na Souza Cruz, entregando cigarro, depois saiu, entrou na Martins, até hoje trabalha lá, já tem mais de 20 anos que ele trabalha na Martins. Aqui ele trabalhava na Antártica, trabalhou muito tempo naquela empresa Antarctica, de cerveja, trabalhou muito tempo, depois ele deixou, foi para Uberlândia, trabalhar lá.

P/1 - E quando os filhos eram pequenos como é que fazia seu Geraldo, a esposa ficava com eles?

R -

Ficava com eles, olhava eles. Me ajudando.

P/1 - E na época o senhor trabalhava com o quê, quando eles eram pequenininhos.

R -

Trabalhava com roça, com lavoura.

P/1 - Mas aí era do senhor a roça, não era para outros fazendeiros.

R -

Era para mim.

P/1 - E eles ajudavam olhar?

R -

Ajudava. Esse mais velho, depois que ele foi crescendo, ele ia todo dia, ele ia para escola Lagoa, e vinha me ajudar, capinava o dia inteiro, o dia inteiro mais eu, se eu tivesse capinando, se eu tivesse passando capineira, se eu tivesse quebrando milho, ele chegava e ia me ajudar. Agora o outro não, o outro era pirracento.

P/1 - Mas ele estudava?

R -

Estudava não, ele fazia mais era brigar na escola, o mais novo. Agora mais velho não, o mais velho a professora gostava dele demais.

P/1 - E quando o outro brigava na escola, como é que tinha que resolver?

R -

Aí a professora falava, você só entra aqui agora se seu pai ou a sua mãe vier aqui. A Josefa não ia, eu que tinha que ir. Aí chegava lá, falava comigo, pode mandar ele. Aí eu mandava. Mas tinha vez que ele brigava até com a professora, pintava dentro da escola, viu! Aí ele saiu da escola, não completou nem o 3º ano e saiu.

P/1 - E quando ele fazia bagunça assim, como é que o senhor agia?

R -

Uai, chegava, tinha vezes que eu dava até um coro nele. A professora falava, você só entra aqui se seu pai, ou sua mãe vim aqui. Aí eu ia, eles deixavam voltar. Aí por fim, ele arranjou uma luta lá com a professora, ela expulsou ele, “você não entra mais aqui de jeito nenhum”. Aí tinha uma outra professora, ela era do quarto ano, aí eu fui, conversei com ela, ela falou, “Geraldo eu não posso, a minha aula é outra.” Depois ela pensou, “não, pode mandar ele!” Essa ele tinha um medozinho dela, aí ele concluiu o 4º ano, depois saiu.

P/1 - Depois do quarto ano ele não quis continuar mais?

R -

Não, quis mais não! Essa professora ele tinha respeito nela, porque se ele teimasse ela descia o pau. Aí ele foi até o quarto ano e saiu.

P/1 - E a menina, como que ela era?

R -

Essa era obediente. Estudou na Lagoa, da Lagoa eu fiz a matrícula para ela lá no estadual, ela foi, estudou lá um tempo, depois ela saiu. Aí tinha um rapaz, que era até aqui da Lagoa, insistiu para ela trabalhar com ele, aí ela foi, ficou ele um tempo, depois ela saiu. Aí ela ficou trabalhando assim de empregada. Mas depois casou, voltou para cá.

P/1 - E ela tem filhos?

R - Tem quatro filhos.

P/1 - O senhor vê os netos, eles vem aqui, como é que é?

R -

Vem! Ontem mesmo veio uma, essa trabalha lá no São Lucas, ela veio aqui, ficou aqui o dia inteiro, de tardezinha ela foi embora. A mais velha, fez um curso de enfermagem, mas ainda não conseguiu, até hoje, mas poucos dias agora, ela estava trabalhando naquela firma em São Sebastião, aí o serviço acabou, ela trabalha num restaurante japonês lá na Vila Mariana, trabalha lá. Agora os dois homens, todos os dois trabalham em Morro Agudo, um trabalha lá dentro de um buraco. Um mecânico, o outro trabalha lá dentro de um buraco.

P/1 - Buraco? Como assim, o que ele faz no buraco?

R -

O garimpo, diz que é dentro de um buraco, fez um buraco, diz que é um calor lá dentro, terrível. Mas eu mesmo nunca vi não. No Morro Agudo. Todos os dois trabalha aí. Só que um é mecânico não trabalha

dentro do buraco não.

P/1 - Seu neto trabalha com garimpo, mas é garimpo da empresa, né?

R - É dentro da empresa.

P/1 - O senhor chegou a ver garimpo das pessoas garimpando nos rios, nos córregos aqui?

R -

Esse negócio do garimpo eu não sei nem explicar, sei que ele trabalham nesse garimpo, lá tem o garimpo da ETL, ele trabalha lá muito tempo, um não, o mais novo nunca trabalhou lá não, mas o outro trabalhou. Agora ele trabalha nesse Morro Agudo, diz que é dentro de um buraco. Ele trabalha lá com uma caminhonete, agora pouco caiu uma pedra, ele encostou a caminhonete, caiu uma pedra na caminhonete, amassou a cabine da caminhonete todinha. Se ele tivesse dentro? Tinha morrido né.

P/1 - Mas

a caminhonete era dele, ou da empresa?

R -

Da empresa! Ele trabalha com a caminhonete da empresa.

P/1 - Mas não tinha ninguém dentro da cabine?

R -

Nessa hora não tinha ninguém dentro. Ele trabalha dentro dela, dentro do buraco. Ele encostou a pedra caiu.

P/1 - Os seus netos já tem filhos também, ou você ainda não tem bisnetos?

R -

Tenho bisnetos.

P/1 - Tem bisneto também. Quantos bisnetos o senhor tem?

R -

Tem um que tem dois, o outro tem três, acho que é 7.

P/1 - Mas os bisnetos ainda são pequenininhos?

R -

Não, tem uma que já tá moçona, tem uma que trabalha numa loja lá em Paracatu, essa já tem 19 anos, e é bisneta.

P/1 - Vixe, daqui a pouco vai ter tataraneto.

R -

Aqui tem uma mulher que é mais velha, colega, de uma cidade só, ela mora ali. Ela já tem tataraneto. Eu ainda não tenho não, mas ela já tem. E é de uma idade só, ela também nasceu aqui no Cunha. Vocês não foi lá não, né?

P/1 - Qual o nome dela?

R -

Maria Teresa…

P/1 - A dona Benzinha? Sim, a gente entrevistou a dona Benzinha.

R -

Ela tem tataraneto. Ela não falou com vocês não?

P/1 - E os filhos que estão fora de Paracatu, eles vem visitar, seu Geraldo?

R -

Vem! Eles vem! Só da uma folga que eles vem.

P/1 - Senhor estava falando que seu filho mais velho até te ligou, não é isso.

R -

O filho mais velho:? O filho mais velho é o que mora em Uberlândia, ele fala comigo todo dia.

P/1 - Ele telefona para o senhor todo dia?

R -

Todo dia ele passa o zap para mim. Todo dia.

Tem dia que ele está em São Paulo, tem dia que ele está em Santa Catarina, tem dia que ele está no Rio Grande do Sul, tem dia que ele está em Goiás, certo é que todo dia ele liga.

P/1 - E hoje o senhor ainda mexe na terra, seu Geraldo, ou não mexe mais?

R -

Não, agora eu não mexo mais não, porque eu arranjei problema de coluna, o médico me proibiu, não posso fazer nada. Então eu tô parado. Mas esse quintal aqui é mais ou menos 2 hectares, eu plantava todinho, plantava milho, plantava mandioca, mas agora. Os netos as vezes planta um pouquinho, mas só um pouquinho, porque eles não tem tempo também, trabalhando em firma, planta pouquinho.

P/1 - Mas hoje o senhor é aposentado. O senhor recebe aposentadoria?

R -

Recebo.

P/1 - E é disso que o senhor vive hoje?

R -

É! Dinheiro da aposentadoria eu dou para filha que mora aqui, do para a neta, para a bisneta também, do um pouquinho para cada um, se sobrar um tiquinho eu mando para o banco.

P/1 - Mas para cozinhar, cuidar das coisas da casa, é o senhor que cuida sozinho?

R -

Não, é a filha que cozinha.

P/1 - Ela cozinha lá na casa dela e traz para o senhor?

R -

Traz para mim.

P/1 - Como que foi o crescimento da comunidade?

R -

Foi crescendo, né. As casas quando eles moravam aqui… terceiro Laureano, mãe Jorgina, Maria rendeira, o nego que morava ali, Miguel Coelho, Henrique e o seu Caetano que morava ali, era as pessoas que moravam aqui.

P/1 - Era só essas famílias?

R -

Era! Não, não era da família não.

P/1 - Era as pessoas que moravam aqui.

R -

As pessoas que moravam aqui. Nessa época. Depois foi crescendo, terreno aqui, vendeu uns lotes aqui, lá em cima que é de uma mulher que mora na beira do asfalto bem lá em cima, ela foi vendendo lote, vendendo lote, aí foi aumentando, foi aumentando casa. Aqui para baixo, o rapaz vendeu um pedacinho de terra aqui, ele vendeu não sei quantos lotes, até advogado tem casa aqui.

P/1 - E nessas épocas antigas, quais eram os costumes que vocês tinham aqui na comunidade?

R -

Tinha festa, reunia, as vezes reunia um bocado de gente, homem, mulher, para ajudar outra pessoa, de noite fazia a festa, era aquela festona.

P/1 - Mas era festa do que seu Geraldo?

R -

Festa de trabalho, festa de trabalho, juntava todo mundo, chamava mutirão. E às vezes tinha aniversário também, fazia alguma festinha de aniversário.

P/1 - Aí juntava o pessoal todo da comunidade….

R -

Juntava o povo da comunidade, vinha gente até de São Sebastião.

P/1 - Era uma festa grande que fazia aqui.

R -

Fazia uma festa boa.

P/1 - E como é que reunia para fazer as comidas, como é que fazia?

R -

Juntava as mulheres e fazia as comidas.

P/1 - Mas as mulheres aqui da comunidade mesmo?

R -

Da Comunidade.

P/1 - E a matéria-prima para fazer a comida, quem é que arranjava?

R -

Tinha que ir em Paracatu comprar, o que não tinha tinha, tinha que ir lá em Paracatu, ia a pé e voltava a pé.

P/1 - Mas tinha coisa que usava que era daqui mesmo, por exemplo, milho, mandioca, plantava aqui.

R -

A mandioca plantava aqui, a batata doce também plantava aqui, a batatinha plantava aqui, a cebola, o alho, tudo plantava aqui.

P/1 - E tudo que era plantado daqui, era usado aqui mesmo?

R -

Aqui mesmo.

P/1 - Então, por exemplo, nessas festas o povo usava tudo.

R -

Às vezes se faltasse uma gordura, a carne, tinha que ir em Paracatu, tinha que ir a pé, porque não tinha condução.

P/1 - Nessa época tinha carro por aqui? O pessoal tinha carro na época antiga?

R -

Não, não tinha carro nenhum, não tinha carro nenhum. Tinha carro, mas carro de boi. Tinha um fazendeiro, um homem que morava ali, tinha três, cada um tinha um carro, mas carro de boi. Aí era a cidade, se fosse para levar rapadura, enchia o carro de rapadura, às vezes 500, 600 rapaduras no carro, ainda subia o Morro do Ouro, Morro do Ouro não, Morro do São Sebastião, passava era ali, não tinha asfalto não.

P/1 - Demorou para chegar o asfalto aqui?

R -

Demorou demais, demorou muito tempo.

P/1 - Porque pelo o que o senhor está contando, tudo isso daqui era de terra, é isso? Até São Sebastião, tudo de terra.

R -

Tudo de terra.

P/1 - E a BR demorou muito tempo para chegar aqui?

R -

Demorou.

P/1 - E antes fazia como?

R -

Fazia era… dentro do barro, dentro da lama, até chegar, se tivesse chovendo, tempo de chuva era lama, se não tivesse era poeira, e muita. Ia daqui lá no São Sebastião, quantas e quantas vezes já fui daqui para a cidade a pé, nós saíamos daqui na base de 5, 6 horas, quando era 11 horas nós estava aqui de novo, indo e voltando a pé. Essa estrada aqui ó, juntava piaba, chovia tanto que juntava aquele tanto de piada dentro da estrada, a estrada passava mais para lá assim, ia até lá perto do rancho, você só via aquele tanto de piaba na estrada. Tinha gente que lavava roupa, lavava vasilha, tudo dentro da água, água limpinha.

P/1 - Mas essa água tem ainda seu Geraldo, ou não tem mais?

R -

Não, agora você não vê nem poço de água mais.

P/1 - Mas o que aconteceu com a água seu Geraldo?

R - Você fala dessa água que subia?

P/1 - É que o senhor está contando da água agora. O que aconteceu com ela?

R -

Lá embaixo tem um córrego, então as piabas subiam desse corrego para cá, a hora que a chuva parava, ia secando, aí secava tudo. Virava aqueles atoleiros, atolava, era terrível.

P/1 - Mas hoje aqui em cima não tem água?

R -

Não!

P/1 - Tá seco aqui.

Mas o que aconteceu para estar seco?

R -

Porque o Córrego lá… Eles tiraram a água do Córrego toda, foi tirando a água para esse negócio de lavoura, então foi tirando água do Córrego, o Córrego foi secando, secando, até… Agora está correndo um pouquinho de água, mas muito pouca, mas tá correndo, mas de primeiro… Mamãe contava que teve uma seca aqui uma vez, tem Santa Rita ali, um rio, a praia Santo Antônio e São Domingos, esses tudo secou e o Córrego não secou, o povo panhava água lá no córrego. Pois agora, de uns anos para cá, foi tirando a água dele, tirando, tirando, até que secou tudo. Agora tá correndo aguinha, pouquinho mais tá.

P/1 - Antigamente vocês não tinham água encanada, né seu Geraldo?

R -

Não, mamãe panhava água num tanque, pra lá do pé daquele morro, tinha o tanque que foi feito pelos garimpeiros, Bandeirantes, aí eles minerando, tirando o ouro, fez um tanque, aquele tancão, aquilo chegava a ser azul da água. Aí juntava peixe, jacaré, aí mamãe panhava água lá, não era só a mamãe não, todo mundo que morava aqui, apanhava água nesse tanque. Depois com as dragas que o povo arrumou nessas praias aí, acabou com tudo, entupiu tudo, acabou tudo.

P/1 - E aí quando eu não tinha mais água, teve que fazer o que seu Geraldo?

R -

Depois que acabou essas águas, nós furamos cisternas.

P/1 - Mas o senhor furou uma cisterna aqui na terra?

R -

Furei uma cisterna ali. Fui eu mesmo que furei.

P/1 - O senhor mesmo fez a cisterna.

R -

Eu furei, ela tinha 86 palmos, quase 20 metros de fundura.

P/1 - Mas ela existe hoje ainda?

R -

Não existe não, ela secou. Arranjei um rapaz para entrar dentro dela para mim, e ele veio, quando tava faltando uns 3m para chegar no fundo, diz ele que de um gás, ele gritou puxador, “puxa, puxa, puxa, tá me atacando e muito mesmo”. O cara puxou, ele saiu para fora. To entupindo ela, to jogando telha dentro dela. Mas uma água boa.

P/1 - Quando o senhor abriu o senhor não sentir o gás, não sentiu nada?

R -

Não senti nada!

P/1 - Mas o rapaz quando entrou muitos anos depois…

R -

Depois de muitos anos, não sei se é porque ela ficou muito tampada, acho que foi, aí deu gás. Nós furamos 2, furei uma acolá e fure essa lá embaixo. Essa de cima de uma pedra que não teve jeito de arrebentar ela, aí furei outra mais embaixo, essa mais embaixo também depois deu gás. Mas o cheiro do gás tava tão forte, que de fora você estava sentindo ele.

P/1 - Aí o moço saiu e tampou de novo a cisterna.

R -

Aí tampei de novo.

P/1 - E aí como é que faz agora com água?

R -

Agora tem água encanada.

P/1 - Mas veio também muito tempo depois a água encanada.

R -

Depois que passou uns tempos veio a água encanada, aí já não precisava mais. A maioria do povo nem bebe água daqui, porque a água é choca, uma água ruim. Eu mesmo faço é comprar desses caminhões.

P/1 - A água que o senhor bebe o senhor tem que comprar.

R - Agora para servir, tem água encanada. O poço e ali embaixo, poço artesiano.

P/1 - E a estrada, o senhor viu quando ela começou a ser construída?

R -

Vi demais.

P/1 - O senhor lembra como foi?

R -

Lembro …….O governo de Vasquinho, foi que ele veio…. Não, Vasquinho terminou a água…. Foi Vasquinho mesmo! Aí veio até aqui, aí daqui…. Mas era a mesma coisa, sabe? Não tinha nem cascalho, quando chovia era aquele atoleiro danado, aquele barrão, mas agora encascalhou, passa calçado, mas de primeiro você não passava calçado, que era tanta lama, mas agora encascalhou, de vez em quando eles molham esse pedaço aqui. Diz que vai asfaltar, mas não asfalta não.
P/1 - Porque bem aqui até a casa do senhor é asfaltado, e um pouquinho depois já não é mais.

R -

Dali assim para baixo já não tem asfalto.

P/1 - E por que eles asfaltaram exatamente até a frente da casa do Senhor?

R -

Eles iam asfaltar até na igreja, a igreja ali, ia levar o asfalto até a igreja, depois que um pedaço lá do asfalto da rodovia que vai para Unaí, aquela volta lá assim, era sem asfalto, eles disseram, “essa daqui ficou sem asfalto, esse pedaço, então nós vamos descer mais o asfalto”. Desceu até ali. Depois passado uns tempos, foi que eles asfaltaram aquele pedacinho ali, onde tem aquele restaurante, onde vira assim, ali também não tinha asfalto não.

P/1 - Era tudo estrada de terra?

R -

Tudo estrada de terra, depois resolveu por asfalto ali naquela parte ali e desceu esse aqui até lá embaixo. O pedaço lá ia ficar sem asfalto, porque lá ia ficar sem asfalto, ia descer até aqui embaixo, depois passado uns anos, eles resolveram por o asfalto lá também.

P/1 - Mas faz bastante tempo que colocaram asfalto aqui?

R -

Já tem bastante tempo.

P/1 - Faz mais de 20 anos?

R -

Não, acho que deve ter uns 15 anos, mais ou menos.

P/1 - E associação do Cunha, ela existe a muito tempo?

R -

Primeiro não era nome associação, era Centro Comunitário, veio uns homens de Belo Horizonte, eles eram cinco, então disse que estava ajudando a comunidade, então eles deram dinheiro para comprar uniforme para jogar futebol, deu uma sanfona, deu dois violões, aí era Centro Comunitário. Aí um cunhado meu era presidente, ficou como presidente. Centro Comunitário ensinava a fazer qualquer coisa, fazer balaio, fazer o que quisesse, se tivesse uma pessoa, eles mandavam ensinar aquele professor, o professor tinha que ser daqui, aquele que soubesse fazer, eles pagavam, dava o dinheiro para pagar eles para ensinar, quem quisesse. Aí era Centro Comunitário. Depois acabou o Centro Comunitário e aí fizeram associação. Aí eles fizeram centro lá na Lagoa, ainda teve um homem lá que deu até um pedacinho de terra, fez a casa comunitária. Aí depois acabou tudo, ninguém ficou sabendo para onde foi violão, para onde foi sanfona, uma sanfona de 48 baixos.

P/1 - Quando construiu o Centro Comunitário, quando vocês se reuniram para fazer o Centro Comunitário, por que vocês se reuniram? Quais eram as precisões do momento lá?

R -

Uai, porque eles vieram, estavam dando tudo de graça, eram seis homens, vieram de Belo Horizonte. Então na saída deles, eles já explicaram tudo, tinha que aprender tocar violão, tocar sanfona, tinha diretor de esportes. Diretor de esportes era eu e Antônio, nós dois. Ele deu o dinheiro para comprar o uniforme. E tinha diretor social, diretor cultural, tudo tinha, arrumou tudo organizadinho. Mas depois foi acabando, era 4 anos, aí de 4 anos passava para outro. Acabou, passou para Lagoa, acabou tudo.

P/1 - O senhor praticava esporte, seu Geraldo?

R -

Praticava.

P/1 - O senhor fazia o quê?

R -

Bola.

P/1 -

O senhor jogava futebol?

R -

Jogava! Eu era presidente, qualquer coisa que quisesse… Não, eu não era presidente, presidente era Antônio, eu era vice. Então nós fazia jogo, ia para Unaí. O prefeito aqui de Paracatu dava os ônibus para levar, ir para Unaí, ia para Cristalina, tu jogar bola, depois acabou, acabou o Centro, passou para associação. Depois que passou associação…

P/1 - Mas o senhor jogava também o futebol?

R -

Jogava.

P/1 - O senhor foi representar Paracatu em outros lugares?

R -

É!

P/1 - Mas o time daqui era o time do Cunha, ou time de Paracatu.

R -

Era time do Cunha, a gente reunia as vezes… Teve uma vez que reuniu 20 e tantos clubes de futebol, nós ia visitar esses clubes tudo. Marcava jogo com um, jogo com outro. Nós íamos para Unaí, para Cristalina, tudo jogar bola.

P/1 - Mas vocês tinham time que era do pessoal aqui só do Cunha?

R -

Só do Cunha.

P/1 - Mas como reuniu esse time?

Era por causa do Centro Comunitário?

R -

Era do Cunha, reunia para jogar aqui do Cunha e da Lagoa, era tudo junto. Porque na lagoa não tinha o centro, o Centro Comunitário foi criado aqui. Então depois passou associação.

P/1 - Mas aí convidava o pessoal para jogar no time?

R -

Jogar no time.

P/1 - Mas era as pessoas que chegavam em vocês, ou vocês que chegavam nas pessoas para convidar pro time?

R -

Não, aí muitas vezes, vinham para perguntar se podia jogar, e às vezes tinha jogador… Tinha um homem aqui, ele era do Pernambuco, morava aqui. Ele tinha quatro filhos, todos os quatro já grande. Antônio falou, vai lá perguntar para eles se eles concordam, se o pai concorda. Aí eu fui lá e concordei ele. Um chamava Gordo o outro Deoclecio, aí eu cheguei falei com ele, ele falou assim, “o Gordo pode ir, mas o Deoclecio não vai não.

P/1 - Mas por que ele escolheu um e o outro não?

R -

Porque o outro era grudento, gostava…. Aí foi, era bom de bola, só você vendo. Nós jogava, tinha time….

P/1 - Como é que era esses campeonatos, como que era o dia do campeonato?

R -

Uai, nós ia de ônibus. O prefeito dava o ônibus, aí nós ia. Todo lugar que nós ia, ele dava o ônibus. Porque de primeiro aqui, quase toda fazenda tinha campo de bola. Aí nós ia, em muitos lugares aqui a gente ia.

P/1 - E quando ganhava o jogo, ganhava o quê?

R -

Ganhava nada não! Ganhava uma medalha, eu ainda tenho três medalhas aí.

P/1 - Mas o senhor tem as medalhas ainda?

R -

Ainda tenho.

P/1 - Tem guardada?

R -

Tenho três medalhas.

P/1 - Que é do time do Cunha que o senhor ganhou com eles.

R -

Tudo do Cunha. Mas nesse tempo não era associação. Mas agora, depois que virou associação… Teve uns aí até que era bom, outros…. aí eu não frequentei mais não.

P/1 - Na época da associação o senhor já tinha parado?

R - Já tinha parado.

P/1 - E como é a associação hoje?

R -

Olha, eu hoje vou falar para você, na associação já teve muitos presidentes, mas para mim o melhor é Valnei, é Passarinho, no meu pensamento, não vou tirar pensamento de outro não. Mas Pedro Vaz, teve um até que era sobrinho dele, morava com aquela Luiza Cunha, já ouviu falar nela? Essa Luiza Cunha também já foi presidente. Mas para mim, dos presidentes que já teve na associação, melhor e Valmir.

P/1 - E o que o Valmir faz, o que o Passarinho faz?

R -

O Passarinho deu uma reforma no rancho, ta dando, ta conseguindo, fez várias coisas, ele fez aqui no centro. Pra mim, tá sendo melhor.

P/1 - O que que é associação tá buscando hoje? Que ela está querendo hoje?

R -

Uai, que tá precisando? Ou o que tá tendo?

P/1 - Não, o que está precisando, o que ela está buscando hoje?

R -

Uai, o que está precisando é igual Valmir falou, é um poço artesiano, porque tem um poço aqui, mas a água dele não é boa, água muito choca, muito ruim. Tá precisando, ele falou que vai construir esse poço. Várias coisas ele até tem feito, ele fez um buraco, uma piscina no córrego que eu falei para você, essa piscina foi feita por ele. E tem mais algumas coisas.

P/1 - O poço que o senhor está falando é um poço para dar água para toda região, é isso?

R -

Para toda região, porque esse lá da água para todo mundo, mas a água não é boa não, a água dele é uma água choca, então Valmir tá falando que vai furar um lá no rancho, quer furar um poço lá. O rancho era coberto de uma telha,não sei se é metal, o que que é, Brasilit, aí ele trocou mudou o tipo do rancho, fez alguma coisa. A água não falta, rebenta, os canos são muito fracos, ele logo tá em cima, tá arrumando os canos, o canos é fraco, aqueles canos azuis, muito muito fraco. O cano que leva água é fraco, de vez em quando estoura um, aí ele tá em cima arrumando, não deixa passar o dia de pagar energia. E os outros não, vinha aí cortava a energia, ficava seis, oito dias sem água, porque eles cortavam a energia do outro presidente. Valmir nunca aconteceu isso. Às vezes passa um dia sem água aqui, mas porque às vezes tem mais cano furado, precisa de mais outra assistência, aí passa o dia. Mas pelo contrário ninguém fica sem água.

P/1 - E esse dinheiro para manter associação vem de onde, seu Geraldo?

R - Cada um paga.

P/1 - Cada um da comunidade mesmo.

R -

É da Comunidade, paga um pouquinho. Mas tem muitos que não pagam não.

P/1 - Mas aí vocês pagam para associação, para o Passarinho, para ele poder pagar lá associação.

R -

É, aí tem um tesoureiro, passa o dinheiro para ele, aí ele passa para Valmir, Valmir vai lá e paga, todo ano. A Associação arrumou lá, o prefeito paga R$1.000,00, R$1.000,00 ele dá.

P/1 - O prefeito de Paracatu dá R$1.000,00.

R -

Agora se faltar a comunidade tem que pagar. Então todo mundo já paga por mês, às vezes não é só para pagar a água, tem alguma outra coisa que precisa arrumar, então.

Eu falo, Valmir foi o único, até hoje, para mim foi o melhor presidente.

P/1 - A associação está em reforma agora, não é?

R -

Tá em reforma.

P/1 - E como é que começou essa reforma

da associação?

R -

A reforma foi muito foi a RPM que deu, através dele. Você viu aquela calçada que sai no asfalto? Pois é, aquilo também foi dado pela RPM, mas através dele.

P/1 - Que é a Kinross agora, né?

R -

É da Kinross.

P/1 - Para fazer a reforma da associação.

R - Da associação.

P/1 - Eu sei que o pessoal tinha comentado que antigamente fazia festa lá, não é.

R -

Fazia muita festa.

P/1 - E como que eram essas festas seu Geraldo?

R -

Festa era, às vezes aniversário, ou então arrumava uma festa lá, falava que era para arrumar dinheiro. Teve uma festa lá que o cara que era… arranjou uma confusão lá, rapaz, deram uma facada, se você ver o que é de sangue, não sei como ele não morreu.

P/1 - Mas aconteceu lá quando estava rolando a festa?

R -

Rolando a festa. Aí ficou parado muitos anos, muito tempo, depois voltou, continuou outra vez, mas foi indo, parou tudo, parou as festas, acabou, estava tudo parado. Agora não sei se vai continuar.

P/1 - O pessoal comentou que lá era o forró do Cunha que fazia, não é isso?

R -

Forró do Cunha.

P/1 - Me falaram que era bem famoso, como é que era?

R - Era famoso. Aí nesse tempo, era um homem de Unaí, era filho de gente daqui, ele já era de Unaí, então ele veio para cá e passou a fazer esse forró, todo sábado. Mas era um festão, todo sábado.

P/1 - Mas qual era o nome dele, seu Geraldo? Você lembra?

R -

Domingos. Chamava ele de Dominguinho.

P/1 - Aí o Dominguinho vinha tocar sanfona aqui, e aí?

R -

Fazia aquele festão. Ele tinha três, quatro mulheres.

P/1 - Mas aqui do Cunha mesmo? Ou três quatro mulheres por aí?

R -

Unaí, Paracatu. Aí acabou que ele morreu. Essa facada que deu nele, foi no lugar do cunhado dele, deram uma facada nele, quase matou.

P/1 - Mas o senhor sabe porque aconteceu essa briga lá?

R -

Confusão. O rapaz disse que arranjou uma confusão lá com outro, não sei como é que, e acabou, o outro rapaz dessa facada nele. Aí para uns tempos, uns quatro ou cinco sábados, depois voltou outra vez. Depois entra outro presidente, nesse tempo o Presidente era um, chamava José. Depois entrou outro presidente, acho que não tava concordando, ele saiu foi para Paracatu, tava fazendo a festa em Paracatu todo sábado. Depois ele adoeceu, morreu, acabou as festas.

P/1 - Agora não tem tido festa?

R - Agora não tem tido festa não. Tem uma outra, por baixo do rancho, tem uma casa lá de festa, fizeram uma casa lá de festa. Então no rancho mesmo está parado. Mas Valmir mudou, antes o rancho era redondo, era telha Brasilit, tinha lugar que era muito ruim, aí ele desmanchou tudo, está fazendo em cima, tá fazendo tudo melhor.

P/1 - E nessa época que tinha o forró do Cunha vinha só o pessoal do Cunha?

R - Não, vinha gente até do Unaí. Juntava aquele povão. Esse Dominguinhos, ele fazia gravação, tinha fita dele. Ele ainda me deu uma fita. Vixe, vinha gente da cidade, tinha minha gente da cidade. Aquele largo ali, ficava tapadinho de carro. Aí tinha muita bebida, tudo ele tinha lá, comida, bebida.

P/1 - E o senhor ia no forró também?

R -

Eu nunca fui, não. Às vezes ele me chamava para ir, mas eu nunca fui não. Mas às vezes eu ia lá de dia, a gente jogava truco, aí ele falava comigo.

P/1 - Por que o Senhor não ia no forró?

R -

Ah, eu não tinha vontade de ir não, não sentia vontade, eu não ia não. Às vezes ele me chamava, dia de domingo para jogar um truco, aí eu ia, aí nós jogava truco o dia inteiro, mas no forró mesmo, eu nunca fui não.

P/1 - O truco que o senhor ia jogar era antes da festa?

R -

É!

P/1 - Por que a festa também virava a noite ou não, ou a festa terminava cedo?

R -

Terminava de manhã.

P/1 - Mas virava a noite a festa.

R -

Virava a noite

P/1 - E daqui da sua casa, você ouvia barulho?

R - Ouvia, escutava todo barulho.

Até a hora que ele tivesse cantando eu sabia que era ele.

P/1 - E essa festa do Forró durou muitos anos, seu Geraldo?

R -

Durou bem uns anos, durou bem uns anos. Depois o outro presidente que entrou, não sei se foi a Luiza, acho que não tava concordando, deixou. Tava fazendo Forró lá no Paracatu. Ele morava ali naquela rua Torio, sabe onde é? Você não sabe não, mas quem é de Paracatu sabe, rua Tório.

P/1 - Aí o forró do pessoal que fazia forró aqui no Cunha. O pessoal que organizava aqui foi organizar lá.

R - Depois que ele passou a fazer lá, muita gente ia no forró. Todo sábado tinha um forrozão bom. Juntava muita gente, vinha gente até do Unaí.

P/1 - Na época da comunidade antiga, para comunidade de hoje, além da quantidade de pessoas, o que mais tem diferença na comunidade? O pessoal ainda segue os mesmos costumes?

R -

Eu acho que diferenciou muita coisa. Só o que nós sofria com a água aqui e hoje pode dizer que a gente não sente falta, mas de primeiro a gente sente muita falta de água, de tudo, agora não. Como eu acabei de falar, depois que o Valmir entrou, a coisa diferenciou. E o plano dele é só melhorar.

P/1 - E o senhor falou que no começo tinha pouca família aqui e agora tem bastante gente. E como é agora que tem bastante gente?

R -

Eu acho que melhorou mais, tem mais gente, tem mais movimento, tem até advogado que mora aqui hoje.

P/1 - Por que antigamente não tinha movimento era muito parado aqui?

R -

Era bem parado. Antigamente aqui era bem parado….. fez mais movimento, era muita gente trabalhando aqui, trabalhando no calcario, então você via gente descendo, o povo passava sempre aqui. Depois teve um morador que quis criar causa, aí ele fez uma estrada por lá, o dono do calcário.

P/1 - Lá por trás.

R -

Por trás, comprou os terrenos por lá e fez a estrada por lá. Mas o tempo dele, ele molhava a estrada direto, o dono do calcário, até ajudava. Uma vez que estava sem água, ele punha água, mandava a água.

P/1 - O pessoal do calcário?

R -

Do calcário. Mandava água. Mas depois desentendeu com os moradores aqui, ele não quis mais não.

P/1 - Mas aí deu alguma contenda com pessoal daqui da região?

R -

Ele se desentendeu?

P/1 - É!

R -

Com pessoal daqui, gente daqui do Cunha. Eles ficaram criando caso que tinha poeira. Teve um homem, criou caso aqui, ele deitou dentro da estrada e mandou ele passar por cima, se ele passasse ia chamar a polícia.

P/1 - Uma pessoa da comunidade fazendo isso com o pessoal lá da empresa.

R -

Comunidade daqui com a empresa.

P/1 - E ele tava no caminhão, é isso?

R -

Eram os donos do calcário

P/1 - Mas ele tava no caminhão, é isso?

R -

Tava no caminhão. E o cara daqui deitou dentro da estrada, mandou ele passar por cima dele. Aí ele voltou, chamou a polícia, aí foi que ele passou. Aí teve outro morador aí também, que ficou criando caso, aí ele largou. Passar aqui tinha muito movimento, tinha muita gente, caminhão, carro passava direto, mas depois que passou diminuiu mais.

P/1 - E o pessoal reclamava porque subia muito pó, é isso?

R - Muita poeira. Mas ele molhava. Molhava, as vezes faltava água aqui, ele mandava caminhão-pipa trazer água para todo mundo, todo mundo enchia as vasilhas, tudo ele mandava. Aí essas pessoas foram criando essas…. aí ele saiu por lá, passou por baixo.

P/1 - Quando a empresa foi construída, o senhor chegou a ver ela sendo construída?

R -

Quando construiu aí todo mundo sabia, ele visitou de casa em casa.

P/1 - Eles vieram na casa das pessoas.

R -

É!

P/1 - Explicando o que ia ter.

R -

Que ia fazer esse movimento. Mas por causa dessas pessoas…. Tinha uma firma aqui embaixo, tinha uma mulher que morava lá em cima, ela criou caso para o povo não passar aqui, tava cobrando.

P/1 - Para passar por aqui pela estrada.

R -

Para passar pela estrada. Aí teve muitas pessoas que deixou de passar, passava por lá, às vezes precisava vir aqui no calcário, passava por lá, pegava asfalto lá na BR-040 e ia para Paracatu, por causa dessa mulher.

P/1 - Porque ela tava cobrando para passar aqui.

R -

E nem daqui ela não era.

P/1 - E o que o pessoal da comunidade falava disso?

R -

Uai, eu mesmo fui um que achei que aquilo era loucura, só podia ser loucura, porque a estrada é vaga, desde que eu me entendo por gente tem estrada, porque que ela foi cobrar? Nem daqui ela não era. Parava que ele tanto de carro.

P/1 - O que o senhor gostaria de deixar como legado?

R -

Uai, eu queria deixar boas amizades, ser uma pessoa comunicativa, ser da Comunidade, ser amado por todos, isso que eu gostaria, queria ficar o resto da minha vida aqui onde eu tô, até o dia final. Mas não sei, só Deus é que sabe.

P/1 - Como foi contar a sua história de vida?

R -

Não foi bom não, porque quando eu era pequeno mamãe lutava sozinha, para dizer a verdade, tinha dia que a gente não tinha nada para comer, mas às vezes ela matava uma galinha, outra hora tinha o feijão só, ela temperava, punha a gordura da galinha, nós comia. E foi assim até o dia que nós foi crescendo, Deus ajudou, tudo deu certo. Tinha um homem ali, que era cunhado dela, chamava Camilo, ele moía cana ali, ele ajudava mamãe, às vezes ele matava vaca, todo sábado, aí ele sempre dava a mamãe qualquer tanto da carne, às vezes ele dava a ela, ele fazia essa ajuda, esse Camilo, ele era cunhado dela. Depois que a mulher morreu, não cheguei nem a conhecer ela. Aí ele arranjou outra mulher, passou a viver aí moendo cana, fazendo rapadura, o Camilo, e ajudava mamãe, tudo que ele podia ele ajudava, então a vida nossa foi assim.

P/1 - Às vezes não tinha nem comida para comer?

R -

Às vezes não tinha nem comida para comer.

P/1 - E quando não tinha nem a galinha como é que fazia?

R -

Direto minha mãe tinha galinha, e sempre tinha ajuda…. ela plantava uma mandioca, cozinhava mandioca, comia aquilo, o Camilo que dava a mamãe o melado da cana, ele fazia rapadura, fazia açúcar. Você já ouviu falar de Açúcar de forma? Pois é! Ele fazia muito desse açúcar, rapadura, aí ele sempre ajudava mamãe.

P/1 - Aí ele acabava doando algumas coisas para ela. E o pessoal da comunidade ajudava sua mãe também, ou não?

R -

Nessa época não tinha quase comunidade.

P/1 - Mas era muito distante que as pessoas moravam?

R -

Não, não era muito, assim como Miguel Coelho morava ali, onde Benzinha mora, mais embaixo morava o irmão dele, e Camilo morava ali. O Henrique era sobrinho de mamãe, mas tudo ajudava. Agora os outros moravam aqui para cima, aí já era mais longe. Mas viveu, lutou, lutou, até viveu.

P/1 - E está aqui até hoje na comunidade?

R -

Até hoje na comunidade, até hoje. Um bocado já morreu, um bocado já não existe mais. Raiz da comunidade que existe aqui agora é eu e Benzinha.

P/1 - Que é o pessoal mais antigo da Comunidade?

R - Mais antigo da Comunidade é eu mais ela.

P/1 - Porque a gente entrevistou a Dona Benedita Santana também.

R -

A Benedita também é raiz, só que ela é bem mais nova. Vocês foram lá também?

P/1 - Fomos!

E aí o Senhor e a dona Benzinha são as pessoas mais antigas da Comunidade?

R -

Eu e Benzinha…. ela vai fazer 80 anos, a Benedita, agora em março, Benzinha mas eu é 92 já, eu e Benzinha.

P/1 - Obrigado por ter contado sua história seu Geraldo, muito obrigado!

R - De nada!