Museu da Pessoa

Paixão pela filatelia

autoria: Museu da Pessoa personagem: Anísio Taher Khader

Correios – Museu da Pessoa
Depoimento de Anísio Thaher Khader
Entrevistado por Arnaldo Ferreira Marques Júnior
Rio de Janeiro, 06/2013
Realização Museu da Pessoa
HVC_04_Anísio Taher Khader
Transcrito por Francisco Guilherme Ribeiro Ruiz

P/1 – Senhor Anísio, boa tarde!

R – Boa tarde.

P/1 – Bom dia! Para a gente começar, sempre começa do mesmo jeito, seu nome completo, local e data de nascimento.

R – Anísio Taher Khader, Rio de Janeiro, 9 de setembro de 1953.

P/1 – Senhor Anísio, os seus pais como chamavam?

R – Mahmud Ali Khader e Alice Mohamed Taher Khader.

P/1 – E eles eram imigrantes do Líbano ou nasceram aqui no Rio?

R – Não, imigrantes sírios.

P/1 – É de sírios. Eles chegaram aqui em que época?

R – Meu pai chegou em 32, minha mãe chegou em 48.

P/1 – Eles não eram casados?

R – Não, ele foi busca-la e voltou com ela em 48.

P/1 – Eles eram da mesma região lá do Líbano?

R – Da mesma região da Síria.

P/1 – Da Síria. Que região eram?

R – Tartuce, nas montanhas dos Alauítas.

P/1 – O seu pai, qual era a profissão dele?

R – Comerciante.

P/1 – Ele já era comerciante lá na Síria?

R – Não.

P/1 – Não? Lá era camponês?

R – Ele era muito novo. É, camponês.

P/1 – E ele migrou por quê?

R – Pela mesma razão que centenas de milhares de árabes migraram para o Brasil. Numa primeira fase fugindo do colonialismo turco e na outra do colonialismo francês. E em busca do Eldorado da América, isso era comum a todos os imigrantes.

P/1 – E ele veio para o Brasil, porque na região dele já havia uma tradição de imigrar para cá?

R – Já havia uma tradição.

P/1 – E era no Rio de Janeiro, principalmente?

R – O Brasil todo. A imigração árabe foi para todo Brasil.

P/1 – Sim, eu digo da região do seu pai, já havia outros parentes?

R – Rio e São Paulo.

P/1 – Ele tinha outros parentes aqui ou ele migrou sozinho?

R – Ele tinha um irmão mais velho.

P/1 – E era o comércio de que?

R – Armarinho.

P/1 – De armarinho. No Saara?

R – Não. Era em um bairro chamado Lins de Vasconcelos.

P/1 – E os seus avós ficaram na Síria?

R – Ficaram.

P/1 – O senhor os conheceu?

R – Não.

P/1 – Bom, eles casaram e viviam aonde? Que região do Rio?

R – No Lins de Vasconcelos.

P/1 – E quando o senhor nasceu eles ainda moravam lá? No Lins de Vasconcelos?

R – Sim, eu nasci nos fundos do armarinho.

P/1 – Ele contava histórias da Síria? Vocês cultivavam essa questão da colônia?

R – Ele não, ele era muito fechado, minha mãe um pouco mais.

P/1 – Ela veio com que idade para o Brasil?

R – Ela se casou com 16, veio com 18. Ele ficou dois anos com ela lá antes de vir para o Brasil, antes de voltar para o Brasil.

P/1 – Eles gostavam do Brasil?

R – Gostavam muito.

P/1 – Se adaptaram bem?

R – Bem, todo árabe se adapta bem ao Brasil.

P/1 – O senhor vivia uma realidade de colônia, de frequentar clubes árabes? Associações?

R – Não, enquanto novo, só clubes quando havia casamentos, datas festivas. Mas depois de velho, ideologicamente comecei a buscar a colônia árabe de forma ideológica na luta que eu travei no Brasil contra o imperialismo e contra a ditadura militar. Fui encontrar respaldo na luta que a Síria travava contra os Estados Unidos e contra Israel.

P/1 – Interessante.

R – Foi uma confluência de ideologias. Havia um novo regime na Síria, que havia libertado a Síria do jugo francês e esse novo regime sírio era um regime socialista, e eu era socialista no Brasil, por outras razões. Então, o socialismo da Síria com o socialismo brasileiro, através do partido que eu ajudei a fundar com o Brizola, o PDT, tinha aspirações em comum na política internacional. Isso me levou várias vezes à Síria.

P/1 – Na Síria era o Partido Baath?

R – Baath. Ainda é.

P/1 – E o senhor comungava com a ideia Baath do pan-arabismo, de fazer uma... Como o senhor via essa, agora é uma curiosidade de historiador, a união, a Síria já tinha há algum tempo, foi unida ao Egito, né?

R – Ao Egito, formou a RAU.

P/1 – O senhor achava isso uma coisa interessante?

R – O pan-arabismo seria uma saída para o mundo. O pan-arabismo teria reflexos também no pan-latinismo e outras formas de luta contra a hegemonia norte-americana no mundo. Isso não tem nada a ver com os Correios, mas é só para que o Junges saiba, isso não é um entrevista para o livro, isso é uma entrevista para o Museu, para o Museu.

P/1 – Da Pessoa.

R – É, é uma conversa informal também.

P/1 – Com certeza. E a sua vida escolar, o senhor estudou aonde?

R – Eu estudei na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, eu fiz Direito lá.

P/1 – Não, mas ainda como criança, adolescente?

R – No Colégio Latino Brasileiro, no bairro onde eu morava. Depois no Colégio Estadual João Alfredo e depois fui aluno da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas, durante três anos.

P/1 – Pelo seu sorriso falando das suas escolas de criança e adolescente, foram bons tempos?

R – Foram bons tempos.

P/1 – Dá para perceber.

R – É que são colégios e lugares muito pequenos aqui no Rio de Janeiro, subúrbio, são lugares fora do que se pensa do Rio de Janeiro, é o Rio de Janeiro no que havia no Distrito Federal aqui na década de 50. Periga de eu falar esses nomes aqui para um carioca com a minha idade e ele não saber onde é, o que é, o que significa isso.

P/1 – Como é que era o seu cotidiano? De brincadeira?

R – Menino do subúrbio, pipa, brincadeiras juvenis, pouco teatro, pouco cinema e muita rua.

P/1 – Brincadeira na rua mesmo.

R – É, como é até hoje subúrbio. Depois com a adolescência não, muito cinema, muito teatro, muito cineclube para fazer frente ao regime militar, os filmes você assistia em cineclube, não era na rede de cinema, principalmente, o Cineclube Macunaíma na ABI, Associação Brasileira de Imprensa.

P/1 – E o senhor foi fazer universidade, o senhor fez que curso?

R – Direito.

P/1 – Direito. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro?

R – Na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, UERJ. Que era UEG, era Faculdade de Direito do Distrito Federal, depois Faculdade de Direito da Universidade do Estado da Guanabara e agora Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

P/1 – E essa sua consciência política, ideológica, começou quando?

R – Começou no momento em que eu saio do Exército.

P/1 – Ah, porque é que o senhor foi para Campinas? O senhor queria seguir carreira militar?

R – Era o destino de todo jovem pobre no Brasil, era igreja ou as forças armadas.

P/1 – A sua família, isso era uma coisa que eu queria perguntar, na Síria ela fazia parte dos grupos cristãos?

R – Não. São muçulmanos alauítas.

P/1 – São muçulmanos alauítas. E o seu pai que manteve a crença muçulmana aqui, vocês praticavam ou não?

R – Ele manteve, minha mãe manteve, mas deram liberdade aos filhos de terem outras crenças, jamais impediram nada não.

P/1 – E tinha mesquita naquela região? Aqui no Rio de Janeiro tinha?

R – Não.

P/1 – Não?

R – Agora que tem uma pequena em Jacarepaguá, mas nunca houve.

P/1 – É, e os alauítas são um pouco um ramo a parte, né, que é exatamente do Assad.

R – É, do Presidente Assad.

P/1 – São mais liberais.

R – É, praticamente uma família só. São liberais e misteriosos. Há todo um mistério que diferencia os alauítas dos sunitas e, dos xiitas. Muito próximo dos xiitas do Irã.

P/1 – E que época que o senhor se inscreveu na carreira militar, na Escola Militar?

R – Foi em 69.

P/1 – Período pesado, né?

R – É.

P/1 – O senhor já tinha consciência política ou não?

R – Estava aflorando isso e houve um choque nos três anos que eu estive lá. Quando eu saí, passei um período em Campinas, na Unicamp, como que em uma transição, uma quarentena, uma vida política aqui no Rio de Janeiro totalmente diferente daquilo que tinha conhecido lá.

P/1 – Como era, não sei, até que ponto o senhor pode falar, enfim, mas como era o cotidiano da Escola Militar?

R – Totalmente diferente do cotidiano da vida civil. Todo organizado por horários, havia muito pouco tempo livre ou você estava em atividades estudantis, propriamente dito, ou atividades de preparação militar, eles chamam de instrução militar. E a noite estudo obrigatório na sala de aula, sem professor.

P/1 – Sem professor?

R – Sem professor.

P/1 – Quando eu pensei da vida da Escola Militar, eu imagino que pelo desde o Vargas essa disciplina fosse muito forte.

R – Ela não se altera, ela é a mesma até hoje.

P/1 – Mas eu estava pensando como o autoritarismo da ditadura e aquelas ideologias radicais do militares de direita, se eles chegavam ou não, como é que vocês viam?

R – Na verdade, eles se preocupavam muito com a formação estudantil dos seus futuros oficiais. Até hoje eles tem muito cuidado com os colégios militares, a AMAN e a Escola Preparatória de Cadetes do Exército. Era muito voltada para a preparação nas Ciências Exatas e para que aquele aluno seguisse a carreira militar.

P/1 – Eles não politizavam?

R – Não, não politizavam não. Nem na AMAN, esse era o problema, era uma formação muito acadêmica no sentido das Ciências Exatas, mas que quando houve o golpe de 64, essa vocação acadêmica se chocou com a vida política do país, eles consideravam que tudo que se fazia em política era ruim, prejudicial para o país. Mas na escola não, a escola era, as escolas militares até hoje mantém um altíssimo nível de preparo, o cara sai do colégio militar pronto para qualquer vestibular.

P/1 – Seriam quantos anos se o senhor concluísse a escola?

R – Na AMAN são quatro anos, eu fiz os três lá da escola em Campinas.

P/1 – Você terminou? E não quis seguir carreira militar?

R – Não, eu saí antes.

P/1 – Saiu antes.

R – Saí antes, porque eu queria universidade, Faculdade de Direito. Mas antes de fazer Direito eu fiz Física, fiz dois anos de Física aqui na UERJ mesmo.

P/1 – E na Unicamp, como foi? Formal?

R – Na Unicamp eu quis ter contato com o pessoal que estava gerando o que viria a ser o movimento estudantil. Eu queria tomar conhecimento disso, passei dois meses lá dentro.

P/1 – A Unicamp estava sendo formada também, porque é o início da Universidade.

R – Era o início e, eu gostava muito daquela antítese entre a vida no campus e a vida na escola, aquilo me seduziu. Depois eu vim para cá e prossegui minha vida normal.

P/1 – E a vida em Campinas, como era um carioca do subúrbio em uma cidade grande e ao mesmo tempo pequena no interior de São Paulo?

R – Campinas já tinha 500 mil habitantes, hoje tem um milhão, mais ou menos. Era uma vida muito limitada, você não, a sociedade campinense ou campineira.

P/1 – Acho que vale os dois.

R – Os dois, não absorve aquele grupo de estudantes, nem da Unicamp, de fora. Era uma sociedade fechada na década de 60.

P/1 – Continuou.

R – Era muito ruim, final de semana lá era muito ruim. Eu fugia muito para vir ao Rio de Janeiro ver a namorada.

P/1 – É o que você encontra até hoje, eu também passei um pouco pela Unicamp, que a tradicional família campineira faz Puccamp, a Unicamp é um bando de maconheiros, loucos que vem do Brasil inteiro. Continuam água e óleo, continuam sem se misturar.

R – É.

P/1 – 20, 30 anos depois.

R – 40.

P/1 – 40 anos depois, continua igual. E aí, o senhor voltou e o contato com a sua família, o senhor manteve? Seus pais continuavam aqui?

R – Continuavam aqui no armarinho. Eu retomei a vida, casei logo depois, com essa minha namorada.

P/1 – Seu pai gostou da sua opção de ser militar, no primeiro momento?

R – Não. Não gostou da minha opção de sair.

P/1 – Ah, sua opção de sair. E tinha algum, como era...

R – Eu fui desligado por mau comportamento. A verdade, o problema foi a maneira como eu saí. Eu saí do comportamento bom, foi para o insuficiente e fui para mau muito rapidamente.

P/1 – E eram motivos ideológicos?

R – Mas nunca repeti de ano, eu vinha passando de ano, que os anos eram muito rígidos. Eu não sabia ainda, mas eram motivos ideológicos. Eu fui descobrir que eram motivos ideológicos aqui no Rio de Janeiro, quando me uni a grupos de esquerda aqui. Lá era simplesmente uma rebeldia, eu não aceitava determinadas regras. Essa coisa de não ter o que fazer fora da escola.

P/1 – E era final dos anos 60, quer dizer, em um período de rebeldia juvenil, né, os jovens estavam?

R – E havia aquela história da repressão ainda mal assimilada, nós sabíamos disso, meus colegas concordavam com aquilo, eu não concordava, outros também não concordavam. Mas repressão não era assunto meu, meu assunto lá era estudar.

P/1 – Cumprir a disciplina.

R – Mas estudar sem ter vida social é um negócio muito complicado.

P/1 – Vocês podiam sair da escola? Ou final de semana?

R – Só no licenciamento, só nós horários de licenciamento.

P/1 – E, aí, saía à paisana?

R – Eu não aguentava esperar o licenciamento, eu tinha que sair fugido. Fugia e voltava de madrugada.


P/1 – Bom, na sua trajetória escolar, aí, voltando até para o seu pequeno colégio do subúrbio, em Lins de Vasconcelos. Teve algum professor que marcou o senhor?

R – Teve, a Dona Ruth, a primeira professora, né?

P/1 – Sua primeira professora?

R – Dona Ruth, não sei onde anda, gostaria muito, claro, já deve ter morrido pela minha idade. Mas penso demais.

P/1 – Primeiro ano primário?

R – O primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto. Penso demais naquilo lá. Quando voto, ainda voto naquela região, fico andando no bairro, atrás dos pontos que...

P/1 – E sobrou muita coisa?

R – Eu moro muito longe. Lá ainda sobrou, mas a especulação imobiliária, depois que fizeram o Engenhão, que é para aqueles lados lá, já começam a derrubar casas.

P/1 – A escola ainda existe, ou não?

R – O prédio da escola sim, mas tem outra finalidade hoje, é residencial.

P/1 – E na escola de cadetes, teve algum professor que marcou, por bons ou maus motivos?

R – Muitos, por bons e maus motivos. Por bom motivo, eu procuro um desesperadamente, mais que a Dona Ruth, professor Chimentão, meu professor de Português. Chimentão, preciso encontrar...

P/1 – Com “x”?

R – Com “ch”.

P/1 – Com “ch”.

R – Era o professor de Português e civil. Porque no Exército há poucos homens versados em Português, são versados em Matemática, Ciências Exatas, em repressão. Mas o Chimentão é um civil e ele me identificava como uma pessoa que não daria um bom militar. Então, uma vez eu estava comendo esfirra, eu fugia para comer esfirra e lá eu não podia engordar. Ele passa por mim na rua, me chama e fala assim: “Eu preciso falar com você em particular”. Era um homem baixinho e que falava bem pausadamente, eu não vou imitá-lo aqui, mas, “Preciso falar em particular com você”. Me levou para um esquina da rua onde ficava a pastelaria, “Por favor, fuja enquanto a tempo disso aqui. Saia daqui imediatamente, vai viver a sua vida na sua cidade”. Porque eu gostava muito de Português, de Redação e todo mundo gostava mais de Matemática, na sala de aula. “Isso aqui não é para você”, quer dizer, foi uma dissertação subversiva, que ele não podia jamais fazer isso com um aluno da escola onde ele dava aula. E eu procuro, eu queria saber por que, ele deve estar aposentado, com 90 anos numa faculdade ou então foi preso, eu não sei. Eu vou pôr um anúncio qualquer dia no Estado de São Paulo, ou na Folha de São Paulo: “Procuro o professor Chimentão, que deu aula na escola do Exército em Campinas”.

P/1 – Ele era um dos poucos civis?

R – Era um dos pouquíssimos civis, embora tivesse todo direito a patente de major, quando ele entrava nós tínhamos que prestar continências a ele como prestávamos aos oficiais. Mas havia os péssimos também rapaz, os péssimos que tinham a ideologia da detratação. Ele não, o Chimentão, eu vou achar o Chimentão nem que seja morto, vou procura-lo.

P/1 – Esse toque que o Chimentão lhe deu, o professor Chimentão, foi importante para sua decisão?

R – Eu não entendi. Engraçado que eu não entendia, eu fui para a escola com aquela coisa, eu não sei se eu estava com muita esfirra no estômago, eu não entendi aquilo, “Porque é que o Chimentão me quer fora daqui?”.

P/1 – O senhor foi com 16 anos?

R – Depois que eu entendi, é com 16, depois eu fui entender que ele não me queria fora dali, ele me queria fazendo outro tipo de atividade.

P/1 – O senhor achou até uma rejeição no primeiro momento? “É, ele quer que eu vá embora”.

R – É, ele escrevia coisas no quadro, agora, eu tenho pensado muito nas aulas do Chimentão e nas mensagens que ele tentava passar no quadro negro. A título de escrever uma frase, escrevia uma frase e queria disseca-la do ponto de vista gramatical, mas a frase sempre tinha um sentido muito bom.

P/1 – Para ele devia ser complicado, né, dormindo com o inimigo.

R – Ele era muito bom, se eu pudesse ter desenvolvido. O meu problema lá foi que eu quis reabrir uma entidade fechada lá pela ditadura militar, que era uma espécie de cassino para os alunos, que era uma entidade estudantil, mas que não existia mais, tipo o Centro Acadêmico, depois eu fui reabrir o Centro Acadêmico da faculdade, ali na UERJ, aqui no Rio. Reabrimos o DCE, reabrimos a UR, reabrimos UNE, foi quando eu sai da faculdade em 79, da Universidade. Mas eu tentei reabrir lá, meus problemas na escola começaram quando eu tentei reabrir esse cassino dos alunos, havia o cassino dos oficiais. Falo esse cassino, parece que é um lugar de jogos, mas não, é uma entidade, é como se fosse um diretório estudantil. Chegamos a fazer um jornal, eu escrevia jornal, mas escrevia elogiando a escola. Não podia, não podia fazer jornal. O jornal deu problema, a reabertura da entidade deu problema. E éramos totalmente voltados para a escola. Eu tentei fundar um clube filatelia, tudo isso era mal visto. Já que não pode reabrir a entidade estudantil, vamos fundar um clube de filatelia, “Não, mas que horas que vocês vão se reunir? Porque o estudo obrigatório termina as dez. vocês tem que dormir depois. Começa as sete”, “E antes das sete?”, “Antes das sete vocês estão jantando”. Problemas começaram, o reunir não é bem visto. O reunir não é bem visto.

P/1 – Bom, agora, então, a gente começa puxar esse fio da meada, quer dizer, com 16 anos, aquele fio.

R – Eu estou com 60, nós vamos levar horas até chegar aos 60.

P/1 – Não, não.

R – Vamos pular alguns.

P/1 – Não, mas a questão da filatelia, quando começou isso na sua vida?

R – Ah, filatelia.

P/1 – É, porque o senhor, de repente em plena escola em Campinas.

R – A filatelia é fundamental. A filatelia começa para mim aos cinco anos de idade, quando papai começa a receber cartas, quando ele recebia as cartas da Síria, eu pegava o envelope, e a chegada daquela carta criava tamanha comoção na minha família, meu pai e minha mãe, mamãe chorava, papai lia, que eu sabia que aquela carta era muito importante,

e na carta vinha um pedacinho de papel colorido colado nela, que tinha a ver com as minhas raízes, com as minhas origens. Era sempre um motivo, o selo sírio com motivo sírio, árabe. E eu comecei a recortar aqui e guardar. Depois eu descobri que um vizinho meu português da minha idade, fazia as mesmas coisas com as cartas de Portugal, começamos a trocar os repetidos e foi assim que começou. Havia um brasileiro que fazia isso, depois nós procuramos um maior de idade que tinha uma coleção e nos explicou o que era uma coleção. Sempre vizinhos, isso no subúrbio, quase toda criança colecionava selos. Depois eu soube que era a principal atividade no passado, os mais velhos nos contavam, toda criança colecionava selos, não havia nada de eletrônicos, não havia cinema, não havia televisão, as crianças colecionavam as coisas.

P/1 – E selos era uma delas.

R – Foi assim que comecei. Aí houve uma interrupção durante todo período da faculdade. Recentemente, há uns 35 anos, eu retomei a minha coleção, vendi minha primeira coleção para José Alberto Junges no Rio Grande do Sul. E, aí, ele era um comerciante e eu falei: “Porque não comercializar? Vou entrar em contato com selos cada vez melhores e vendendo. Eu não preciso ser um rico”. Um rico, para ter os bons selos de determinado país ou de determinada época, ou de determinado tema, você precisa ter uma situação financeira confortável, para poder sobrar algum dinheiro no final do mês e comprar selos. Uma outra maneira de mexer com selos muito valiosos, sem ter o dinheiro, arrumando o dinheiro para comprar os primeiros selos e depois você negociando, é ser comerciante. Vivo mergulhado, imersos em selos de boa qualidade, tendo contato com pessoas muito interessantes, porque o colecionador de selos é uma pessoa muito interessante, tem sempre muita sabedoria de vida e o comércio me possibilita isso, o comércio em si me possibilita o contato com os bons selos, o contato com as boas pessoas que colecionam selos e o contato, principalmente, com os conclaves filatélicos, reuniões, as feiras, onde há muito congraçamento. Os leilões, as exposições, isso é sedutor.

P/1 – Mas eu quero voltar para depois do senhor começar a trocar selos com seu vizinho português.

R – O Diogo. Era um jovem chamado Diogo da minha idade.

P/1 – O Diogo.

R – Português.

P/1 – O senhor com 16 anos estava querendo fazer um clube filatélico, ou seja, essa filatelia se tornou uma coisa séria nessa adolescência?

R – É, na escola para poder trazer mais pessoas.

P/1 – Mas como é que o senhor desenvolveu?

R – Porque praticamente só eu colecionava selos dentre os alunos. Mas depois eu fui descobrindo que outros colecionavam, porque não nos reunirmos para trocarmos selos e trocarmos impressões sobre os selos. O Exército não deixou.

P/1 – E como é que era colecionar selos no Rio de Janeiro menininho?

R – Era tê-los guardados em uma caixa.

P/1 – Como é que o senhor conseguia? Como é que o senhor conseguiu os selos?

R – Muita dificuldade.

P/1 – Além dos que chegavam na sua casa e o que o senhor trocava de Portugal?

R – Ah, eu pegava os da Síria, trocava por selos portugueses, então, eu passei a ter Síria e Portugal. Depois fui atrás dos vizinhos brasileiros que recebiam cartas do Brasil. Passei a ter Síria, Portugal e Brasil. Foi complicado chegar em outros pontos, porque durante anos você aí, até que você visita...

P/1 – O senhor comprava selos?

R – Até que você visita a primeira filatélica. Ah, é uma, quando descobri que haviam casas especializadas em vender selo, aquilo foi de uma alegria, eu fui na Filatélica J. Costa. Filatélica J. Costa foi fundada no Rio de Janeiro em 1890 por João Costa. E o escritório onde eles ficaram muitos anos foi na Rua Buenos Aires, 30, segundo andar. Eu fui nessa casa filatélica com meu pai a primeira vez, meu pai me viu gastando uma fortuna em selos, que era um dinheiro que minha mãe me dava e que ele não sabia que eu tinha. Chegou a questionar minha mãe, inclusive chegou numa loja de selo, e papai tinha uma loja, um armarinho, vendia sabonete, linha, agulha. E ele ficou bobo de ver como eu gastei dinheiro com selos, foi um mundo totalmente diferente. Depois eu fiz contato com um catálogo de selos do Brasil, que era muito importante, eu comprei um catálogo de selos do Brasil, aí, eu pude ver como se organiza uma coleção, como é que eles são dispostos em ordem cronológica, os selos mais raros pelas cotações. Aí, eu tomei, o catálogo é muito importante e visitar uma filatélica também foi muito importante. Foi um upgrade, quando eu visitei uma filatélica e depois outro maior ainda quando eu comprei, eu adquiri o catálogo de selos do Brasil.

P/1 – E o que é que lhe atraía nos selos dessa época? No início foi a emoção da família com selos.

R – É, depois da raridade, saber que uns eram mais raros que os outros e, a história do Brasil que eles contavam, aí, eu fui me especializando em Brasil, porque era impossível não fazer uma ligação, a história do Brasil contada em selos, essa história que os selos me contavam, que se casava com a história que eu aprendia nas escolas que eu frequentava, primário. Era interessante você ouvir a professora falar de um evento histórico brasileiro e depois encontrar aquele evento reproduzido num pedaço de selo e ver que afinal a professora estava falando a verdade, afinal o selo era um pedaço de papel oficial do governo brasileiro, essas coisas.

P/1 – Quando o senhor foi para Campinas, o senhor levou a coleção do senhor ou deixou aqui?

R – Não, ela ficou em casa. Eu não confiava na escola a ponto de levar uma coleção que não valia absolutamente nada, mas que era o único bem que eu tinha. Eu queria que ficasse na minha casa.

P/1 – Lá o senhor comprava ou não? Continuou?

R – Tentei trocar, mas isso foi mal compreendido pelos oficiais. Tentei trocar.

P/1 – O senhor não ia às filatélicas de Campinas?

R – Não, eu acho que não havia uma filatélica em Campinas. Hoje há, hoje há duas filatélicas lá em Campinas. É engraçado isso, eu devia ter ido até a filatélica em Campinas, mas eu acho que eu queria era perturbar os oficiais com essa ideia da filatelia, eu não queria comprar selos. Eu queria o associativismo.

P/1 – Bom, o senhor voltou para o Rio de Janeiro e, aí, o senhor imediatamente já entro na UERJ, em Direito?

R – Imediatamente entrei em Física.

P/1 – Física?

R – Fiz o vestibular no final do ano, fiz Física, entrei para a faculdade de Física da UERJ, que era UEG ainda, Universidade do Estado da Guanabara, não havia tido a fusão entre o Rio e a Guanabara. Aí, depois de ficar lá um ano, eu descobri que não era o que eu queria, aí, fiquei três anos parado, já completamente envolvido em movimentos clandestinos. E, aí, eu não pude fazer o vestibular, até que a minha sogra, a mãe da minha mulher, me matriculou a força no vestibular, ela perguntou o que eu queria fazer, eu falei: “Direito,” quando eu vi eu estava matriculado, aí, eu fiz a prova e entrei para lendária Faculdade de Direito do Distrito Federal, no Largo do Machado, onde hoje é a sede da UNE. Não é a sede que vai ser da UNE na Praia do Flamengo, está em construção, a UNE retomou o seu terreno na Praia do Flamengo, foi incendiado pela ditadura militar.

P/1 – Calabouço, né?

R – Não, o calabouço era o restaurante estudantil. Na Praia do Flamengo tem um terreno que está lá com uma placa, mas totalmente vazio, que o prédio foi destruído pela ditadura militar. Mas o prédio onde a UNE funciona hoje é a Faculdade de Direito do Largo do Machado, que fica na Rua do Catete, um prédio rosa que está caindo aos pedaços. Foi onde eu estudei um ano, depois no segundo ano, já foi no campus que foi inaugurado no Maracanã.

P/1 – Mas isso é uma curiosidade brutal, quer dizer, importantíssima. Como é que é aquela pessoa que só se relaciona com militares e um professor de Português de olhos abertos de repente entra para a vida clandestina, para a resistência à ditadura?

R – Esse período que eu passei na Unicamp, o fato de eu ter ingressado no comportamento mau...

P/1 – Então, na Unicamp o senhor já começou a se entrosar com elementos?

R – Eu estava muito, eu comecei a procurar saber o que estava acontecendo, não se falava em repressão lá dentro. Os jornais falavam nas entrelinhas.

P/1 – O senhor tinha 19 anos?

R – É. Comecei a ter contato com companheiros aqui, colegas, sobre...

P/1 – Como é que foi essa, o senhor chegou lá em Barão Geraldo e falou, quem o senhor procurou? Teve um fio da meada? Uma pessoa que o senhor já conhecia ou senhor chegou com a cara e com a coragem?

R – Não, na hora que eu entro na UERJ.

P/1 – Não, eu estou pensando na Unicamp.

R – Sim, na Unicamp não conhecia ninguém, só o burburinho, as conversas.

P/1 – E foi bem recebido?

R – Não, claro que não. Eu ainda estava com cabelo curto ainda, eu acho que acharam que eu era um quinta coluna. Tanto é que eu vim logo para o Rio de Janeiro. Eu começo realmente no movimento estudantil.

P/1 – Na Física tinha movimento estudantil?

R – Que, aí, eu fui fazer na faculdade o que não me deixaram fazer no Exército, reabrir as entidades estudantis. Na Física não, mas a Faculdade de Medicina da UERJ, que é na 28 de Setembro, fica a pouco metros do campus, a Avenida 28 de Setembro e o campus da UERJ distam 500 metros um do outro. Eu ia muito na Faculdade de Medicina, lá funcionava uma comissão universitária, uma CU, que eram poucos jovens de Medicina com alguns de Filosofia e tal e, eu de Direito. E eles olhavam para o curso de Direito com muita desconfiança, porque todo policial fazia Direito para poder ser delegado.

P/1 – Na Física o senhor não militou?

R – Na Física eu parei, porque não havia como militar na Física.

P/1 – Entendi.

R – Porque eram dez alunos interessados em passar o tempo todo no laboratório. Não havia clima inclusive, eu tinha que ir até a Faculdade de Medicina e sabia que no Direito havia movimento estudantil, fui para o Direito por isso e porque gostava também do Direito.

P/1 – Então o senhor já tinha decidido que o senhor ia fazer resistência ao regime? Isso foi uma coisa?

R – Não, eu não tomei uma decisão, eu não suportava mais ver na vida civil aqui fora aquilo que eu não suportei dentro do Exército. Eu não podia chegar numa Universidade e encontrar militares em sala de aula disfarçados de aluno, ninguém consegue suportar. A minha turma foi muito boa, a minha turma deu...

P/1 – De Direito?

R – De Direito, deu em um Fux, o Fux é de um ano anterior a mim e, deu agora um Roberto Barroso. O Barroso está sendo indicado pela Dilma ministro, dois ministros.

P/1 – E, aí, em Direito então a militância era total?

R – Total, aí, fomos receber os exilados, visitei o Brizola no Uruguai, aí, começamos aqui a o PTB. Até que o Brizola perde a sigla do PTB para a Ivete, rasga a sigla e funda-se o PDT. Aí, já era uma militância oficial.

P/1 – E porque a linha brizolista? Eram as pessoas que o senhor convivia? O senhor tinha essa...

R – Não, porque aí tem a ver, aí sim, com amigos. O maior número de exilados caçados, banidos dentre todos os partidos políticos foi do PTB, nem um partido sofreu mais a ira da repressão militar do que o PTB. E era natural que tivesse contato com muito desses banidos, exilados, caçados, que começaram a falar em Brizola. Brizola era a liderança natural de muito militares caçados, gostava muito de alguns militares caçados, tinha muito a ver comigo, eu não tinha sido caçado, mas eu tinha sido expulso da escola, mas eles tinham sido caçados. E foi natural, a linha nacional do Brizola era muita guerrilha, era Brizola, Arraes e Prestes, era o que interessava. Prestes ficou sem o PCB, o Arraes caiu naquela geleia geral do MDB e o Brizola sim, estava tentando reconstruir o PTB, que teve o maior número de caçados, banidos, exilados, torturados, dentre todos os partidos da era democrática. Era natural, então, se me interessavam esses três, Prestes, que afinal foi expulso do PCB, ficou sem partido. Depois Prestes fica com o Brizola, Arraes cai na geleia geral do MDB, que eu queria evitar isso de qualquer maneira e o Brizola que tenta reconstruir o partido que mais sofreu com a ditadura militar, foi natural. E dentro do PTB, e depois PDT, PTB caiu na mão da direita, do Golbery. Dentro do PDT vieram as correntes, havia uma corrente de socialistas revolucionários até os trabalhistas clássicos, getulistas. O PDT também era como o MDB, um mosaico também.

P/1 – E o senhor se formou em Direito?

R – Formei.

P/1 – E o senhor advogou? Começou a advogar?

R – Não, aí quando o Brizola ganha a eleição, o PDT ganha a eleição aqui, eu trabalho como advogado, diretor de uma empresa, do município, o Fundo do Rio, administrador regional, fui advogado da Comlurb, mas eu pedi demissão de todos os cargos. Dos cargos de confiança não, eu fui exonerado, mas poderia ter continuado como advogado do Fundo do Rio, pedi demissão. Hoje seria procurador do município, porque todos viraram procuradores do município, a procuradoria do município foi formada dessa forma, pegando os advogados das empresas. E depois da Comlurb eu pedi demissão também, não julgava ético, Brizola sai e eu continuo, embora ele já estivesse, os celetistas viraram funcionários públicos e viraram procuradores. Não julgava, eu não tinha feito concurso público, embora antes na Constituição de 88 não fosse exigível o concurso público. E achava que tinha terminado minha função, o partido tinha deixado o governo.

P/1 – O senhor fez direito em que período?

R – O curso de Direito durou de 75, a turma do Roberto Barroso, 75 a 79.

P/1 – O Brizola ganhou a eleição em 82, assume em 83, roubado quase, a Globo tentou tirar, mas não conseguiu.

R – Proconsult.

P/1 – Proconsult.

R – Tentou entregar para o Moreira, que depois ganha a eleição em cima daquele estelionato político do congelamento de preços do Sarney.

P/1 – De 79 a 83, o senhor trabalhou para o PDT?

R – Não, durou mais. Não, não trabalhei para o PDT, eu era militante.

P/1 – O senhor era militante? E o senhor trabalhava? O senhor advogava?

R – De 79 à 83 eu era militante. Eu trabalhava na Editora Coquetel, na Editora Tecnoprint, que fazia aquela revista Coquetel de Palavras Cruzadas. Eu fazia três revistas ali o Cobrão, o Desafio e o Desafio Maior.

P/1 – Mas o senhor já era um advogado formado, né? Porque não exercer a profissão?

R – Eu não exerci a profissão, porque eu estava construindo o partido. Eu construí o partido noite e dia, eu viajei por todo Estado do Rio de Janeiro, fui Presidente de um Diretório, do Lins de Vasconcelos, Engenho Novo, Méier. Não era fácil construir um partido, não é como agora, era muito difícil, a ditadura militar impôs uma série de regras para se criar um partido de oposição, sem dinheiro. E como freelancer na Editora Tecnoprint, fazendo palavras cruzadas, passatempos e enigmas, eu podia fazer essas revistas à noite e trabalhar pelo partido durante o dia.

P/1 – E o que é que seu pai achava da sua militância nessa época?

R – Não se intrometia, meu pai não dava uma palavra.

P/1 – O senhor já morava sozinho ou morava com ele? O senhor estava casado?

R – Não, eu estava casado, casei em 74.

P/1 – O senhor conheceu sua esposa aonde?

R – Em Cabo Frio.

P/1 – Ela não era da faculdade?

R – Não, ela fez faculdade de Letras, ela fez Português Árabe, na UFRJ, em minha homenagem.

P/1 – Ela é ascendente de árabe também ou não?

R – Não.

P/1 – Não? E ela era militante?

R – Não, ela era simpatizante. É um pouco diferente de ser militante.

P/1 – Não foi um casamento de militância, então?

R – Não, foi um casamento de amor.

P/1 – E a filatelia nessa época estava congelada?

R – Congelada pela falta de dinheiro, pela falta de estrutura e pelo PDT, o PDT era a razão de ser da minha vida. A luta contra o regime militar, não era o PDT.

P/1 – O senhor manteve a sua coleção ou não? Nessa época? Aquela sua antiga coleção?

R – Não, a antiga coleção era muito insipiente, muito pequena, eu fiz uma outra coleção de aerofilatelia, de selos aéreos do Brasil e do mundo.

P/1 – Em que época?

R – Agora eu estou meio perdido, foi nesse interregno de 83 a 87, eu fiz uma boa coleção de aerofilatelia, uma média coleção de aerofilatelia.

P/1 – Estava atuando no Governo Estadual e voltando a colecionar?

R – Não, depois que eu começo a atuar no governo, não na militância. Na militância não tive tempo de mexer com selo enquanto se construía o partido. Mas depois o partido virou governo e, aí, houve um contracheque, eu tive condições de pegar o meu salário e comprar alguns selinhos. Eu não tinha salário, eu trabalhava na Editora Tecnoprint recebendo por revistas que eu aprontava.

(PAUSA)

P/1 – Bom, quando o senhor saiu completamente do Governo depois da saída do Brizola, o senhor não quis manter os cargos que o senhor poderia, o senhor foi trabalhar?

R – Eu pedi demissão, eu era advogado do Fundo do Rio, pedi demissão, eles não aceitaram. Depois fui advogado da Comlurb, pedi demissão também, por quê? Quando eu pedi demissão, porque houve uma briga entre o Brizola e o Saturnino, o Saturnino era o Prefeito, eu era funcionário de uma empresa municipal, onde havia sido Diretor Geral, havia sido Diretor Geral, depois fui advogado. E não achei que era justo, o Brizola brigou com o Saturnino, eu continuar no município, todos ficaram, todos colegas ficaram, ninguém saiu, eu pedi demissão. Eu não teria feito isso hoje, eu acho, era um emprego estável, pedi demissão duas vezes em dois cargos de advogado do município.

P/1 – A sua participação...

R – Hoje eu não tenho aposentadoria, não tenho direito a nada. Primeiro Diretor Geral e advogado do Fundo do Rio, demitido do cargo de Diretor Geral, porque houve uma troca de governo. Eu poderia ter continuado como advogado, me pediram, o partido pediu para que continuasse como advogado do Fundo do Rio, eu achei que não. Brizola tinha brigado com o Saturnino. E, aí, o próprio Saturnino me pede depois que vá para a Comlurb, que ele ia criar uma consultoria, chamada Consoluvel, uma consultoria para vender produtos de limpeza urbana, a Fábrica Aleixo Gari, da Comlurb, aqui em Campo Grande, para vender no Terceiro Mundo, era importante, que eu tinha contatos com o Terceiro Mundo, vender implementos de limpeza urbana para o Terceiro Mundo. Eu fui para a Comlurb, me contrataram como advogado, eu fui para Comlurb para criar essa Consoluvel, essa consultoria do Comlurb para fazer essas vendas no exterior. A consultoria jamais saiu do papel. Aí, cinco anos depois eles queriam, o novo governo, queria que eu ficasse como advogado da Comlurb, defendendo na Justiça do Trabalho demissão de gari. A minha política não apontava para isso, a minha vida ideológica, defender demissão de gari, o cara não consegue varrer a Avenida Rio Branco de cara limpa, ele bebe um cachaça antes, cai sobre a vassoura, eu vou lá, eu que homologo a demissão dele no Ministério do Trabalho? Pedi demissão pela segunda do meu cargo de advogado do município.

P/1 – Aí, o senhor foi se encaminhar para que? Que atividades?

R – Comércio filatélico.

P/1 – E como é que surgiu essa ideia? O senhor já contou o porquê, porque era uma maneira de estar próximo dos grandes selos sem necessariamente investir neles.

R – Dos grandes colecionadores, dos grandes selos, das grandes exposições, sem desembolsar. Desembolsar para comprar, mas vendendo, enfim, o ambiente filatélico me agrada muito.

P/1 – E como é que surgiu essa ideia? Alguém lhe deu essa ideia ou era algo que o senhor já vinha ruminando? Como é que foi isso?

R – Não, não. Foi natural, eu comecei a ir a algumas feiras filatélicas e fui me identificando com aquela atividade da compra e da venda dos selos.

P/1 – Ah, que o senhor comprava os selos aéreos?

R – Na época eu comprava, eu era comprador.

P/1 – E o senhor ia às feiras? Lia alguns livros?

R – Ia. Depois passei a ir a feira exatamente para examinar como é que era o comércio e gostei muito do ambiente de honestidade, de palavra, aquilo me seduziu.

P/1 – E é um mercado ativo, atuante?

R – Ativo, atuante, em que a confiabilidade é que pesa muito. São poucos, cerca de 50 comerciantes. Agora mais, porque na internet você não sabe, surge muita coisa, eu sei que há gente negociando na internet que eu não conheço, não sei quantos são, onde moram. Eu conheço os 50 comerciantes brasileiros, que estão aí há mais de 20 anos trabalhando com selos, esses eu conheço, sei onde moram, onde atuam, onde tem sua banca.

P/1 – Brasil inteiro?

R – No Brasil todo.

P/1 – Não só no Rio de Janeiro?

R – Bem atuantes 50, no Brasil inteiro, a gente se encontra em dois encontros internacionais de comerciantes, pelo menos os comerciantes brasileiros se encontram nesses, um é em São Paulo, um é no Rio. Teve um agora no Rio de Janeiro há 15 dias atrás, haverá um outro em outubro. Mas vai haver uma exposição mundial no Rio e Janeiro, que é a chamada Brasiliana, em novembro. Colecionadores, expositores e filatelistas, dirigentes do mundo todo estarão no Rio de Janeiro por sete dias em novembro.

P/1 – Bom, poucas pessoas poderiam dizer como o senhor, um selo da vida, um selo que lhe marcou ou selo que o senhor ambiciona?

R – Eu não ambiciono porque eu tenho, mas o selo que me marcou é o “Olho de Boi”, o primeiro selo do Brasil, não é tão caro assim, mas é um selo de muito charme, muita fascinação. O Brasil foi o segundo país no mundo a adotar o selo postal e o terceiro a emitir. E é um selo que nos cativa, ele tem características muito próprias que nenhum outro selo no mundo tem. Ele não traz o nome do Brasil, não tem a efígie do imperador, são só os valores, 30, 60, 90, em um guilhoche, em um fundo muito bem trabalhado. Têm particularidades, peculiaridades que só o “Olho de boi” tem. Emitido em mais ou menos três tipos de papéis, um grosso, um médio, um fino. Isso tudo entra em conta, os múltiplos, as cartas de “Olho de Boi”. As cartas, então, são ótimas, porque você tem o texto da época e a parte postal, o selo, o carimbo, o remetente, o destinatário, o porte que pagou, o trajeto que a carta fez, o assunto.

P/1 – Então, não foi a toa as fotografias que a gente fez, né?

R – Não é a toa. A carta de “Olho de Boi”, para nós ela tem um significado muito importante.

P/1 – E como é que foi na prática, o senhor era um comprador, começou a frequentar algumas reuniões, em um momento o senhor entra no mercado, como hoje em dia se diz nessa linguagem neoliberal, um player. Então, o senhor entra como um jogador. Como é que na prática, você tinha um conhecido que introduziu? Porque se é uma relação de confiança, as pessoas precisam começar a confiar no senhor.

R – O meu guru aí, é ele, esse cara começou com dez anos, é obrigatório falar nele.

P/1 – E o senhor conheceu ele de onde?

R – Desses encontros. Eu me mirava muito no exemplo dele. Mais novo que eu, mas é comerciante há 40 anos, mais. Começou como garoto nas feirinhas de selo.

P/1 – Bom, já que ele não está no vídeo, o senhor precisa falar o nome dele, né?

R – José Alberto Junges, comerciante no Rio Grande do Sul. Realmente teve muita importância na minha entrada no comércio filatélico.

P/1 – E ele deu os conselhos?

R – Hoje eu preciso me manter um pouco afastado dele, preciso, porque ele vem com coisas muito boas, eu preciso comprar, fazer cheque, então. Hoje é o contrário, eu procuro fugir dele.

P/1 – Como é que funciona esse mercado? De onde esses selos vêm? De colecionadores que estão se desfazendo das coleções?

R – Arquivos particulares. As pessoas comunicavam, trocavam correspondências entre si nesses últimos 150 anos, foram bilhões de cartas. Sobraram milhões, boas milhares, nós vivemos dessas milhares. Um dia uma senhora resolve vender o arquivo da família, ela é a última descendente da família, procura um comerciante de filatélico, “Olha, eu tenho essas cartas, ou eu tenho essa coleção de selos que o meu avô deixou, que meu pai deixou. Qual é o preço de mercado? Quanto é que o senhor pode pagar?”. Muita confiança, ela precisa ter confiança no comprador, o comprador precisa ter confiança naquele selo que está comprando, precisa confiar no mercado. São selos raros, com poucos colecionadores, morreram os grandes colecionadores, nós estamos tentando difundir a filatelia também, além de vender selos, difundir a filatelia, é importante isso que está acontecendo nos 350 anos doa Correios. Os Correios tem sido um parceiro importante na divulgação da filatelia, é claro que nós queremos mais, claro que nós fazemos uma série de observações quanto a atuação dos Correios, eles sabem disso. E os Correios está tendo um papel muito importante agora na realização da Brasiliana, que vai projetar o nome do Brasil, mais uma vez, é a quarta Brasiliana que nós fazemos. Mais uma vez no contexto internacional da filatelia, os Correios é muito importante.

P/1 – E as Associações de Filatelia no Brasil?

R – São muitos importantes, elas que promovem o congraçamento e que congregam a filatelia.

P/1 – Elas são regionais? Existe uma brasileira?

R – Existe uma brasileira, uma Associação que se chama Febraf, a Federação Brasileira de Filatelia. Existem os clubes, as entidades, a federações regionais, São Paulo tem federação regional.

P/1 – Elas são todas ligadas a Febraf ou não?

R – São todas ligadas a Febraf, cada vez mais. Há a Fefibra também que é uma outra entidade, mas que não tem a centralidade e a oficialidade da Febraf.

P/1 – A Fefriba significa?

R – Federação dos Filatelistas Brasileiros, a Febraf é Federação Brasileira de Filatelia.

P/1 – Porque há essa cisão?

R – Não foi uma divisão, a Federação Internacional de Filatelia só reconhece uma entidade nacional por país, é como a Fifa e a CBF, não pode ter uma outra CBF. Mas ambas são importantes, a Fefriba tem uma ótima revista, emite revistas de publicação, são muito importantes. O colecionador não pode ir até a sede, mas quando ele recebe a revista com aqueles artigos importantes, com muitas informações, as revistas são muito informantes. A Fefibra tem uma boa revista. Mas agora a Fefibra e Febraf caminham, agora coisa de dois meses para cá, caminham para um destino comum, superaram a divergências e caminham para um mesmo caminho.

P/1 – Qual é o perfil do colecionador hoje?

R – É um homem de classe média, de grande e vasta cultura, normalmente com muita cultura e que quer ao mesmo tempo ter um hobby importante, mas não quer desperdiçar dinheiro em bobagem. Um hobby que proporcione no futuro, quem sabe, um retorno para a família daqueles investimentos que ele fez. Mas não foca no investimento, foca no hobby.

P/1 – Qual a faixa etária?

R – A faixa etária é o homem executivo bem sucedido, é aquele como eu, que saiu para viver sua vida, para ganhar dinheiro ou fazer militância política, mas depois que ele chega, normalmente ele volta com muito força depois que ele tem uma vida estabilizada, é o médico, é o advogado, é o profissional liberal, que se estabilizou com um grande consultório, um grande escritório e, aí, ele se volta para aquela velha coleção que estava sobre o armário e porque não incrementá-la agora que eu tenho algum dinheiro de sobra? Desce a coleção, busca os clubes, busca os comerciantes, procura saber em que ele podia comprar, que é que ele poderia adicionar aquela velha coleção de criança, descobre que aquela coleção de criança não vale nada entre aspas e, aí, procura fazer uma que valha e que lhe proporcione um prazer grande. Compatível com o status que ele conseguiu na sociedade, uma coleção que se compatibilize com o status, com a importância que ele hoje tem na sociedade, um grande médico, um grande advogado, um dirigente de empresa e passa a formar. Para isso ele precisa ter um comerciante de confiança, onde ele possa encontrar preço, qualidade, selos verdadeiros.

P/1 – A maioria, o senhor acha que frui os seus selos no escritório com a porta trancada ou gosta de expor?

R – A maioria não expõe, a maioria dos colecionadores hoje não expõe. Mas a parte que expõe é muito ativa, faz muito barulho, está sempre presente nas exposições. Então, a parte que expõe, evidentemente, aparece muito mais que a parte que não expõe. A parte que não expõe, vai nas exposições, olha as coisas que estão expostas, compra, compra bem, mas por uma razão de formação, não expõe, as vezes até porque não quer ser avaliado por um conjunto rigoroso de jurados, porque não tem vaidade nenhuma, o expositor precisa ter alguma vaidade.

P/1 – A exposição sempre, isso é uma coisa que para o leigo, por exemplo, eu não sabia, a exposição ela sempre diz respeito a uma competição? Há uma entrega de medalhas? Primeiro lugar, segundo lugar?

R – Sempre.

P/1 – Não é apenas uma exposição como uma exposição de arte?

R – Às vezes, raramente, há uma exposição numa escola, num SESC e tal, que é só para divulgar a filatelia, mas são raros.

P/1 – Museus?

R – No museu, normalmente o que se faz, o museu tem as suas coleções, alguns tens as suas coleções permanentes, mas as exposições, quando nós falamos de exposição, é isso, é premiação, é julgamento, é palmarés, com jantar de palmarés onde são entregues as medalhas.

P/1 – Bom, nós não temos nenhuma pretensão de fazer uma entrevista chapa branca, o senhor disse dos Correios que tem uma boa relação, mas que há problemas. Como é essa relação no seu conjunto?

R – Correios é uma empresa que busca o lucro, é uma empresa nacional que busca o lucro. E como tal, às vezes passa por cima de alguns princípios. Às vezes nós achamos, com cada pessoa da filatelia que você conversar, você vai obter uma opinião diferente sobre os Correios. Nós achamos que os Correios investe muito dinheiro, por exemplo, financiando o esporte nacional, que é importante, mas o dinheiro que os Correios investe, por exemplo, num nadador, daria para fazer mil, em um só nadador brasileiro, daria para fazer mil exposições de selos, são fortunas. É um critério da empresa, mas o objeto é o selo, a natação está servindo a empresa de uma maneira que nós queríamos que a filatelia servisse. No apuro da venda dos selos, nós queríamos que em cada agência dos Correios houvesse selos a venda para que a pessoa quisesse postar uma carta, pagando o porte com selo e não através de máquinas.

P/1 – Antes havia, né, cada agência havia um guichê de atendimento ao filatelista.

R – É, exatamente. Eu acho que isso está ressurgindo, acho que está ressurgindo, eu não visito tantas agências postais assim.

P/1 – Era isso que eu queria dizer e o futuro do selo, o selo autocolante pegou? Qual é o futuro na sua opinião? O futuro do selo postal?

R – O futuro do selo está muito ligado às outras formas de comunicação, o e-mail, que a juventude hoje se comunica muito através do e-mail, acabou muito com a correspondência clássica, né, então eu precisava me comunicar contigo, eu não pegava o telefone, nem pegava o computador, não havia isso. Eu mandava uma carta para você, um bilhete postal. Hoje eu tenho outras formas de me comunicar contigo, logo o volume de correspondência caiu abruptamente e os Correios buscar sanar isso de outras maneiras. Os Correios hoje tem Banco Postal, tem uma série de atividades que não dizem respeito à filatelia, uma agência dos Correios hoje, vende de tudo.

P/1 – Mas o senhor acha que o selo vai continuar existindo?

R – Acho. É impressionante, às vezes nós conversamos com o jovem, que não conheceu essa filatelia pujante e com que vitalidade ele fala e compra de selos, ele usa todo o dinheirinho que tem. E ele não conheceu, ele conheceu esse Correios de agora, jovem de 18 anos, mas que já discutem conosco, tem muita leitura sobre filatelia. Eles não deixarão a filatelia morrer no Brasil.

P/1 – Então, fora esse homem de meia idade bem sucedido que seria o colecionador clássico, talvez mais importante, tem uma nova geração de filatelista surgindo?

R – Tem, expõem em categorias juvenis, sempre tem. Não é com a pujança que poderia ter se os Correios estivesse realmente empenhado em trazer as novas gerações para isso. Não é com essa pujança, mas nós também temos nossa parcela de culpa, comerciante, entidades filatélicas, federações, todos nós temos nossa parcela de culpa nisso, o afastamento da juventude da filatelia.

P/1 – Existe algum curso de filatelia? Formal ou informal?

R – Alguns cursos que clubes, entidades filatélicas dão, mas não com regularidade. Às vezes a diretoria lembra de fazer um, faz para jovens iniciantes. Normalmente ensinando o jovem montar uma coleção e a expor, normalmente é por aí.

P/1 – Bom, a gente poderia falar aqui a tarde inteira até anoitecer, mas infelizmente a gente tem...

R – Eu também estou doido para te fazer algumas perguntas também, que eu vi que você viveu um pouco ali a Unicamp, tudo. Tive o imenso prazer de estar com vocês, agradeço muito. Vocês não sabem como foi importante para nós a vinda de vocês aqui.

P/1 – Eu queria que o senhor deixasse uma mensagem final do que o senhor quisesse. Sobre a filatelia, principalmente, que é o tema.

R – É, eu vejo a filatelia como um hobby, mas como dizem os estrangeiros, os europeus, a filatelia é o rei dos hobbies e o hobby dos reis. Pelo número de reis e dignitários estrangeiros que colecionavam selos, é difícil não encontrar um rei no século 19 e no século 20 que não tenha tido uma grande coleção de selo. A rainha Elisabeth é filatelista, a família da família da Inglaterra tem uma grande coleção de selos e ela é exposta nas atividades culturais que ocorrem na Inglaterra. A juventude toda da Inglaterra sabe que a rainha e seus herdeiros, seus descendentes, tem uma grande coleção de selos e se miram nesse exemplo e quase todos tem coleção de selo. Alemanha, França, eu queria que o Brasil se colocasse como segundo emissor de selos do mundo ao lado desses países. E tem se colocado cada vez mais, a filatelia brasileira tem sido muito respeitada. O que eu aspiro é isso, eu aspiro trabalhar com selos pelo resto da vida que me resta e me orgulho muito das amizades que eu conquistei através da filatelia, através do comércio filatélico e queria muito que a filatelia tirasse os jovens brasileiros de algumas atividades criminais, enfim, onde há filatelia, há uma geração saudável. Eu gosto muito da filatelia, gosto muito de selo, quero sempre ter um selo que eu não tenha, isso é importante. Você perguntou qual é o selo, é o selo que ainda não apareceu ainda, o selo que eu quero ter é o selo que nós não conhecemos. Nós sabemos que a Casa da Moeda usou muitos papéis, muitas tintas em épocas difíceis da vida da Casa da Moeda, em que havia muito pouco dinheiro. Nós estamos sempre procurando aquele papel, aquela tinta que foi usada em um selo que nós já conhecemos, mas em papel e tinta que nós não conhecemos. Estamos sempre atrás desse selo, com um picote que nós não conhecemos, um tipo de goma que nós não conhecemos, utilizados a 60, 70 anos atrás. Os selos nós conhecemos todos, mas nós temos certeza, todos os selos emitidos pela Casa da Moeda e pelos Correios, quem imprime é a Casa da Moeda e quem emite é os Correios, que é quem vende no guichê. Mas nós temos certeza que há papeis, há defeitos de impressão, há goma, há picote que nós ainda vamos conhecer em determinados selos e é atrás disso que a gente vive. Todo dia quando a gente acorda a gente acha que vai descobrir um selo novo. É isso, muito obrigado pela presença.

P/1 – A gente que agradece, muito obrigado.