Museu da Pessoa

Os primórdios da Vale

autoria: Museu da Pessoa personagem: Hélio Bento de Oliveira Mello

P/1 - A gente começa a entrevista pedindo para o senhor nos falar o seu nome completo, local e data de nascimento.

R - Hélio Bento de Oliveira Melo, nasci no Rio de Janeiro, 27 de agosto de 1917.

P/1 - Os pais do senhor nasceram aqui no Rio de Janeiro também?

R - Não. Meus pais um nasceu em Alagoas e minha mãe é mineira.

P/1 - Como é que eles se encontraram?

R - Bom, meu pai veio num porão de um navio lá do norte. Era filho de uma família daquelas longas, família grande e chegou aqui ele foi tudo, acabou se formando em odontologia depois, a história que eu sei é que minha mãe teve ciúme dele porque odontologia lida muito com mulher, né (risos) e aí ele acabou sendo advogado, aliás a carreira dele era essa mesmo, ele tinha jeito para advogado. E eles tiveram oito filhos, eu sou o um dos dois homens, eram seis mulheres e dois homens, eu sou o terceiro.

P/1 - Nasceram todos aqui no Rio de Janeiro?

R - Todos em Petrópoles. Eles moravam em Petrópoles, papai trabalhava no Rio, né, nós morávamos em Petrópoles e ele usava aquele trem da Leopoldina, ele era assinante do trem da Leopoldina, trem que não sei quantos anos depois eu vim a suprimir como presidente da rede, porque era altamente deficitário…

P/1 - (risos)

R - Com uma dor no coração tremenda.

P/1 - Como é que eles se conheceram ele em Alagoas e sua mãe em Minas?

R - Não, ele veio para o Rio e nunca mais voltou para Alagoas, apesar de gostar muito da terra onde nasceu. Esses nordestinos são, vocês, principalmente vocês de São Paulo subestimam essa raça, essa raça tem valor; quer dizer, não digo que vocês subestimem, talvez vocês não saibam o valor que eles tem e eles vem dispostos a vencer e fazem tudo. O mal é que eles deixam aquilo lá e depois eu fui secretário de ____________________ que tinha que pedir socorro a São Paulo, fui a São Paulo, o Governador era Carvalho Pinto e eu fiz lá um acordo para ele me emprestar alguns profissionais principalmente de _________________ , engenharia, tal, para dar um socorro a Alagoas naquele tempo que o pessoal bom de Alagoas saía e a gente pediu um socorro e ele deu um socorro desde que o Governo pagou durante seis meses, tal, os profissionais, uma meia dúzia de profissionais e eles deram uma ótima colaboração, quer dizer, o Brasil às vezes pede técnicos estrangeiros de nomeada, tal, eu pedi técnicos a São Paulo, para mim São Paulo é um repositório de gente competente que pode ajudar os outros brasileiros. Essa idéia eu dei ao Governador e ele aprovou e eu fui a São Paulo, mas isso não vem ao caso porque isso já foi muito tempo depois, né, nós estamos no tempo em que eu estava em Petrópoles com papai e mamãe com oito filhos e chegou a época que eu ia estudar e meu pai estava com dificuldades de me matricular no ginásio, né, meu avô era professor de matemática de nomeada em Petrópoles, tem até uma rua em Petrópoles com o nome dele, Professor Narciso de Oliveira, professor de matemática do colégio São Vicente de Paula e minha tia era professora primária e meu pai era um (cultodo?) português mas era um homem que se metia em muita coisa, sabia geografia e história, depois estudou botânica, não vem ao caso; aí os três fizeram um complô para ver se conseguiam

me colocar numa bolsa no colégio São Vicente e eu lembro que eu fui submetido a uma verdadeira campanha de colocarem aquelas coisas todas cabeça, papai se encarregou de geografia e história, meu avô de matemática evidentemente, e minha tia de português, tal, e eu acabei conseguindo a bolsa e fui matriculado e consegui o ginásio todo de graça; essa é a única maneira de você fazer o ginásio. Fiz o ginásio e depois, bom, que carreira que eu vou seguir? Eu queria ver se eu seguia o Direito, porque era a carreira dele, né, que ele tinha encontrado e eu sempre gostei muito, sempre lia Rui Barbosa, esses homens que entusiasmam qualquer um, né, Oração aos Moços, de Rui Barbosa. Papai veio com a mesma conversa, meu filho não dá para estudar num curso superior, vocês são oito. Eu estou contando porque vocês estão me perguntando, não estou choramingando, eu estou contando a verdade, então não podia, não podia e ele disse: você vai ser militar, porque militar você vai fazer um curso de graça, vai ter até um dinheirinho lá para as suas coisinhas, mandar lavar roupa, não quero que você fume, mas se você fumar você tem dinheiro para o cigarro (risos) e eu disse, mas onde que é esse negócio de militar. Ah, é lá no Realengo tem uma escola militar; e eu sei que eu tomei um trem na Central e eu consegui, fiz os papéis, me matriculei e acabei entrando na escola militar. Naquele tempo a escola militar era disputada, era um sinal de que o país ainda estava numa fase mais da pesada, porque as outras carreiras eram muito, né, engenharia era só para a elite, Escola Politécnica, medicina, sempre se ouve com ênfase no Brasil, odontologia, tal, mas faculdade de economia, engenharia química, engenharia eletrônica, engenharia mesmo a elétrica, essa coisa toda era muito difícil, então eu fui para lá e entrei, eram dois mil e tantos candidatos e eu acabei entrando lá, bem classificado e tirei meu curso lá, mas sempre pensando na engenharia, eu queria ser engenheiro, então logo depois houve essa oportunidade de me matricular na, chamava-se Escola Técnica do Exército, lá na Praia Vermelha, hoje é o Instituto Militar de Engenharia, né, que é um dos mais disputados do Brasil hoje, é tão disputado como o ITA, né, e lá eu fiz então o curso de engenheiro civil e militar, quer dizer, estudei as cadeiras também de engenharia civil e engenharia militar, então minha formação é de três anos, aliás para ser preciso, quatro, porque eu fui aviador durante dois anos, naquele tempo em que amarrava os aviões com arame (risos) e depois eu sai na _____________ no avião de treinamento elementar, mas quando chegou no avião de treinamento avançado eu ao sai, eu atingi o número limite de horas e fiquei doente, esse negócio de garganta, amígdala, tal, acabei dando uma desculpa (risos) eu não dava bem para o negócio, mas o fato é que eu tive que sair e mandaram eu escolher outra especialidade, né, e eu tinha média para escolher e eu escolhi engenharia, eu disse, bom, acho que nesse mundo a gente tem que ter uma das três características: ou milionário, isso eu não sou, meu pai já me botou sentado e me explicou; (risos) ou corajoso, essa me tiraram, né, então eu vou pegar a máscara de crânio, fui fazer engenharia e foi a minha sorte, e aí eu acabei o curso e fui logo para a estrada, andei por esse Brasil todo, eu tenho quatro, fiz um em cada lugar do Brasil, um nasceu no Rio Grande do Sul, outro nasceu em Água Vermelha, duas nasceu em Itajubá, uma está em Itajubá e a outra é de São Paulo, tal, e então foi aí que eu comecei, mas quando eu estava já aí fui chamado para ser professor no IME de cálculo integral e diferencial, tal, gostava muito de matemática, apareceu uma oportunidade, um convite para eu ser Diretor da Madeira Marmoré e eu aceitei esse convite na rua, sabe, o Governador me convidou e eu telefonei para casa e disse: vamos para o (Guaporé?) minha mulher disse: mas que negócio é esse, mas acabou se convencendo e nós fomos com os quatro filhos e lembro que a menorzinha tinha quatro anos ou menos e nós estávamos chegando em Porto Velho, lá no alto, e ela viu aquelas casinhas lá em baixo e ela virou-se para a mãe e disse, olha lá, mãe, uma porção de casinha de boneca (risos) e depois lá eu fiquei menos de um ano porque daí surgiu um convite para eu vir fazer um teste, uma entrevista, né, na Vale do Rio Doce para ser o Superintendente da estrada de ferro Vitória-Minas e era a melhor estrada do Brasil naquela época, já era, se não era a melhor era uma das melhores, as de São Paulo eram muito boas também naquela época, a Paulista, a Mojiana, a Sorocabana, a Santos-Jundiaí eram talvez melhores, mas depois que a Vale se tornou a melhor de todas, né, e aí eu fui para Vitória com os quatro filhos e fui superintendente da estrada. Eu estava contando para a Rosana que era uma estrada que transportava num dia o que a outra transportava em um ano, em termos de tonelada por quilômetro, que é a unidade do transporte, o número de toneladas multiplicada pelo número de quilômetros da a unidade, uma tonelada transportada por um quilômetro é uma tonelada/quilômetro, e em termos de tonelada/quilômetro é bem verdade que aqui era minério de ferro que tem peso específico da ordem de três toneladas por metro cúbico, três e meio, e lá era borracha, muito mais, em média, né, mas o fato é que eu me sentia com uma responsabilidade enorme mas me dei bem lá. Daí que eu encontrei o Doutor Beleza, o Doutor João Linhares, pai do João Carlos Linhares e um outro, o Doutor Martins, que eram meus assessores. O Doutor Beleza, aliás, ficou meu assessor porque ele não quis ser superintendente, ele não quis, não sei se por modéstia, ou se ele tinha outro…, ele era professor da faculdade de engenharia, tal, mas era o nome, já era o nome da estrada, né, quem falava de estrada de ferro Vitória/Minas já associava ao nome do Doutor João Crisóson Beleza, um homem extraordinário, e ficou como meu assessor, eu com aquele braço direito, Beleza e João Linhares também muito dedicado, Martins, tal, fizemos uma ótima administração que aumentamos o transporte, portanto a exportação, né, que depende fundamentalmente de trazer o transporte, naquele tempo só de Itabira para o Porto, naquele tempo não existia, então parava no porto em Vitória, e então nós aumentamos a exportação em 35% sem ter comprado um vagão a mais e uma locomotiva a mais, era uma questão mais de dedicação do pessoal.

P/1 - Como assim, o senhor poderia explicar melhor? Não aumentou a linha mais…

R - Não, a linha era a mesma, né, eu estou enfatizando que nós não compramos, por falta de dinheiro, mais nenhuma locomotiva, nenhum vagão, mas em compensação nós fizemos uma campanha tremenda de recuperação dos vagões velhos, quer dizer, o coeficiente de imobilização dos vagões aumentou tremendamente, a locomotiva que estava parada por um defeito ou outro nós conseguíamos recuperar, tal, então diante dessas providências todas que foram tomadas com entusiasmo pelo pessoal todo foi possível isso, e aí naquele tempo a Vale, nós achávamos isso uma coisa fantástica, a Vale passar de um milhão e seiscentos e tantos mil para dois milhões e trezentos mil de exportação, isso hoje é uma brincadeira mas naquele tempo, mesmo quando foi feito o acordo vocês devem lembrar que o compromisso era meta de um milhão e meio, um milhão e oitocentos mil toneladas, né, quando o Governo se comprometeu a recuperar a estrada, colocá-la em condições de transportar o minério, as minas foram incorporadas à Companhia Vale do Rio Doce que foi criada então, e o americano entrou com o que, entrou com o empréstimo do _______________ da ordem se não me engano de 14 milhões de dólares, e aí foi feito aquele acordo, então, mais voltemos a 1955, aí eu fui o primeiro Superintendente de estrada. Bem, aí procurando evitar toda essa parte de, mas vocês que me provocaram que disseram que isso tem alguma importância, eu tenho que contar, um episódio da minha vida, mas já dei um pulo, estou lá em 1955, já tinha construído estrada, ajudado a construir estrada no Brasil inteiro.

P/2 - Senhor Hélio, como que o senhor escolheu essa área de ferrovia, como que foi essa passagem da engenharia para o senhor trabalhar especificamente com transportes?

R - Foi e o seguinte. O transporte ferroviário e rodoviário é uma das cadeiras do curso de engenharia, né, e eu quando estudei não só na escola militar mas depois, eu sai e já fui uma espécie de ajudante de engenharia, ajudante de engenheiro das estradas, apenas não sabia fazer os grandes projetos de viadutos, os grandes projetos de túneis, os grandes projetos de pontes, né, mas depois que eu tirei o curso completo de engenharia eu já tinha esse background digamos, por que as primeiras coisas para as quais eles me mandaram era fazer estrada como auxiliar de engenheiro, então eu comecei a fazer exploração, locação da estrada, aquela coisa toda, ajudando a calcular as pontes os bueiros os viadutos, quando eu pude aprender mais talvez com a seguinte intuição, a gente não deve desprezar o know-how

que já tem, a vida não é tão longa assim para a gente estar mudando e isso é que talvez eu tenha aprendido com o meu pai, porque como eu contei, papai mudou muito, papai foi dentista, depois deixou de ser dentista foi ser advogado e no fim acabou como funcionário público, tal, e papai se queixava muito disso, que a gente não deve borboletear, depois que escolheu uma atividade e se aperfeiçoou naquilo, se s pessoa começar a mudar demais, então é assim que eu respondo a sua pergunta, eu tive um início aleatório, não fui eu que escolhi, mandaram eu servir numa estrada, para ajudar a fazer uma estrada e lá eu tomei gosto por aquilo e depois houve colegas meus que ao escolherem a especialização, na escola técnica, porque ela foi pioneira na especialização, porque existia engenheiro de metalurgia, eletrônica, eletricidade, químico, civil, geográfico, topografia etc., e eu escolhi a engenharia civil porque era a engenharia da qual eu já tinha esse princípio, as _______________ eu já tinha construído a três ou quatro anos, quando eu tirei o curso de engenharia mesmo. Bom, em função disso é que me chamaram para a Madeira (Marmoré?), em função da Madeira (Marmoré?) é que me chamaram para a Vitória-Minas, talvez arriscando demais, né, um homem que estava lá no (Guaporé?) para ir para Vitória-Minas. Aí tem uma história curiosa que naquela época, 1955, havia um clima de muita agitação lá, periodicamente isso há, né, manifestação, eles então o presidente da Vale foi ao Palácio do Catete, naquele tempo era o Governo Café Filho, e o Joarês era o Chefe da Casa Militar do Café Filho, e naquele tempo as empresas estatais, as organizações estatais estavam vinculadas ao chefe da Casa Militar, ele que era o intermediário entre o Presidente e as empresas estatais, e foram ao Joarês e pediram se podia indicar uma pessoa para ser da Madeira (Marmoré?) e que tivesse as seguintes características: que fosse engenheiro, que tivesse origem militar, por que aí precisava lá, o negócio estava muito agitado e que tivesse outras características ______________________________ e o Joarês disse, com aquele jeitão dele, não conheço não, não tenho na cabeça assim para indicar, mas o assistente dele que era meu colega de turma, Mauro Moreira, depois foi Diretor da Petrobrás, o Mauro Moreira, quando ele saiu, o Presidente da Vale saiu, ele disse, o senhor esqueceu o nosso companheiro lá da Madeira (Marmoré?). Tá bom, então telefona lá pro Presidente e diz que eu me lembrei, então, e assim foi feito e eu fui chamado, tive um entrevista de 40 minutos, fui aprovado e fui chamado. Voltemos agora a minha saída, né, porque que eu saí da Vitória-Minas se eu estou contando aqui prosa dizendo que aumentamos e evidentemente que eu fui _____________________ eu era o Superintendente e aumentamos 35% sem ter aumentado o material, tal, sem ter comprado mais material e tudo. É o seguinte, é o tal idealismo exagerado das pessoas, porque eu tenho uma pitada de orgulho desse idealismo, mas reconheço que é uma coisa exagerada, coisa da idade. Eu achei que, o Joarês foi candidato à Presidência da República, e eu tinha uma gratidão muito grande por ele, uma admiração muito grande, inclusive pelo fato dele ter me indicado, sem praticamente me conhecer, e eu achei que, não vou entrar nos detalhes, mas tinha determinados indícios de que realmente aquela eleição foi uma coisa tenebrosa em matéria de desvirtuamento das coisas, em outras palavras, que ele tinha sido lesado. Ele não achou não, depois ele me disse que eu tinha feito mal, eu pedi demissão em caráter irrevogável, não dei margem, aí outros vieram mas eu falei, eu botei a palavra irrevogável no meu pedido, e realmente, pedi demissão irrevogável e depois volta atrás então já dá uma demonstração de falta de caráter. Pense antes, se você quer voltar atrás, mas pedir demissão irrevogável e depois voltar atrás, então eu pedi demissão. Depois eu fui à casa do Joarês para conversar com ele, e é por isso que eu o admiro muito e por outros aspectos, mas esse aspecto que me diz respeito, né, contei a ele e ele disse: eu soube que você pediu e acho que você fez mal. Eu crente que ele ia me elogiar, né, mas quanta solidariedade e ele disse: acho que você fez mal pelo seguinte, acho que você está antecipando coisas, você devia ficar, agora se você, na continuidade da sua administração achasse que o Presidente, os novos homens que foram eleitos estavam te forçando a fazer alguma coisa, aí você sairia, mas você sair antes você fez um pré-julgamento, se todo mundo fizer como você. Eu sai de lá com o rabo entre as pernas, achei que tinha feito uma vantagem (risos) não, eu estou brincando, porque eu também tomei a minha decisão e aquela decisão estava tomada, não tem dúvida nenhuma. Mas daí que eu voltei para o Exército e ajudei a criar a Diretoria de Vias de Transporte, fiquei como assistente do Diretor de Vias de Transportes, passei lá uns três ou quatro anos e depois fui convidado para ser secretário de aviação de Alagoas e aí já estamos em 1961, no Governo do Jânio Quadros, federal, e lá era Luiz de Cavalcante, um homem extremamente correto _______________________ e o Luiz de Cavalcante me convidou para secretário de aviação e eu fui, mas fui quase que com a pré-monição, com a seguinte condição, que foi exposta não bilateralmente, mas foi exposta na frente da minha mulher que não queria ir, tal, mas acabou concordando e de outros amigos. Eu vou, mas se aparecer depois uma oportunidade de eu voltar, porque eu vou dividir, dois filhos vão ficar no Rio e dois vão conosco, a mulher então não gosta que os filhos fiquem longe, porque ela está cuidando da educação deles; muda de colégio tal, e ele disse, é claro muito bem, tal, mas cindo meses depois me aparece um convite para eu vir ser diretor administrativo executivo da Vale do Rio Doce quando o Eleser tomou posse, porque o Eleser quando eu fui Superintendente ele era o chefe da via permanente e o homem que eu ouvia para todas as coisas porque realmente ele desde aquele tempo ele se salientava como brilhante, né, então Eleser mandou

me convidar para vir agora para ele ser meu chefe e eu acabei vindo, tal, o Governador de Alagoas disse: é, você está tomando uma atitude que eu acho que não está certa, você está deixando m amigo, tal, e aí usou dessa expressão: eu, nem que me pagassem em ouro eu iria para lá deixando um amigo do jeito que você vai deixar. Eu não me envergonho de contar isso porque mostra a grandeza dele, eu não duvido, e a minha resposta me parece que foi uma das respostas felizes que eu dei na minha vida, ao par de outras infelizes que eu dei, mas essa foi feliz. Eu disse assim, Luiz, você faria isso porque você é mais perfeito do que eu, eu não sou tão perfeito assim. Eu estou com dois filhos no Rio, você sabe, e eu disse aqui para você e agora vem esse convite e eu não posso rejeitar, e ele acabou se conformando, mas ele está vivo até hoje, é um ermitão lá em Brasília, sujeito seríssimo, corretíssimo, não sei se ele me perdoou, mas ele há de ter me perdoado, né, mas se ele não me perdoou, são coisas, né, cada um tem a sua maneira de pensar e acredito que eu não tenha sido nenhum traidor, eu não quis abandonar uma oportunidade para a qual eu sempre tinha sonhado, de voltar para a Vale um dia, então o Eleser manda me convidar, nunca que eu sonhei que o Eleser seria Presidente da Vale. Sabe como que ele foi Presidente da Vale? Foi uma entrevista que ele teve com o João Agrepino lá na casa da Conceição, o João Agrepino saiu de lá e foi para o Jânio Quadros e disse: esse é quem eu quero que seja o Presidente, ele tinha trinta e poucos anos, o Eleser foi Presidente da Vale com trinta e poucos anos, se não me engano com 37 anos, e aí ele tratou de organizar um grupo em quem ele confiava, e ele lembrou de mim que estava lá em Alagoas.

P/2 - Por que o senhor sonhava em voltar à Vale? Qual é a impressão que o senhor teve naquela primeira vez que o senhor passou?

R - Veja bem. Eu tinha vindo por uma estada de primeira ordem. Eu tinha conseguido, com a ajuda do pessoal, particularmente ou especialmente ou nomeadamente, de Beleza, de João Linhares, etc., do filho de João Linhares, também, quem eu botei como chefe do movimento, João Carlos Linhares, o movimento na estrada que faz parte do departamento de transportes é um espécie de sistema nervoso da estrada, ele que faz toda a movimentação, o nome está falando, é a divisão do movimento, a movimentação da estrada e dirige os trens que serão carregados, os trens que vão voltar os trens

que vão pegar as cargas de retorno, tudo aquilo, é feito pela divisão do movimento, era o João Carlos Linhares, então eu me entusiasmei por aquilo, e depois por um rasgo de idealismo eu pedi demissão em caráter irrevogável porque eu achei que o meu chefe que eu tanto admirava tinha sido lesado nas eleições, não sei até hoje se tinha sido lesado ou não, mas naquela época eu achei, então, meu sonho era voltar, fatalmente, se um dia eu voltar para a Vale vou mostrar que aquilo não foi só um rasgo de precipitação, um rasgo de moço, eu tinha trinta e poucos anos também, foi uma coisa que aconteceu, essas coisas acontecem, vou dizer uma coisa que vocês estão fartos de saber mas que eu gosto de repetir para os meus filhos, as vezes uma folha que cai de uma árvore muda o destino de uma pessoa, por que que muda, a folha cai, você se embaraça com a folha e deixa de encontrar com o sujeito que ia te convidar para um cargo elevado, ou reciprocamente, você, a folha cai da árvore, isso tudo é imagem, e aí você encontra com o sujeito que vai passando do lado e diz, oh fulano, que bom que eu te encontrei, vamos fazer uma sociedade, e a sociedade tem êxito, muda, ou então você encontra com a mulher, e você dia, é com essa que eu vou casar, muda o destino de uma pessoa, tudo na vida me parece um radiograma, um radiograma me convidando para voltar para Vale, no top da Vale, eu ia rejeitar, de jeito nenhum, embora o meu amigo achasse que nem que pagasse em ouro a ele, ele aceitaria, mas eu não sou tão perfeito (risos) aí eu volte para a Vale e aí começa a minha saga, voltei à Vale do Rio Doce a partir de 1961, e eu tinha pensado, eu, José Carlos e Rosana,

tinha pensado o seguinte, que para ser sincero, eu até tinha conversado com esse meu filho que é ___________ lá em Brasília, o meu filho mais velho, foi o que nasceu em Lagoa Vermelha, lá no Rio Grande do Sul, quando fazia três graus abaixo de zero e ele é muito, todos são, felizmente somos uma família bem estruturada, mas ele como mais velho, tal, ele chegou a vir de Brasília, com a máquina de filmar e disse, pai, vamos treinar um pouco, você é sempre tão preocupado, e eu estou citando o nome dele porque ele me deu uma sugestão.

Fita 1
Lado B

R - Ele disse, pai, você não vai contar história de Vale nenhuma, eles estão com subsídio, eles hoje sabem a história da Vale melhor do que você, eles vão querer saber qual é o seu feeling, qual é o seu sentimento a respeito de eventos principais em que você tenha tomado parte, quase que repetiu o que a Rosana me disse logo que eu cheguei na primeira conversa.

P/1 - Pode vir trabalhar no Museu da Pessoa, ele. (risos)

R - Naturalmente com a experiência dele de ________________________, seminários, essa coisa toda, e aí ele disse assim, olha, eu se fosse ele eu faria para você a seguinte pergunta, pergunta chave, eu faria só a seguinte pergunta para você, companhias de economia mista, para mim chamadas de estatais, vivem sobre a pecha da ineficiência e ingerência política e empreguismo, o que acaba por vezes a levá-las a resultados desastrosos. A Vale do Rio Doce, ao contrário, sempre foi reconhecida como um empreendimento de sucesso, comparável a famosas empresas cujo êxito é admitido internacionalmente. Quais as razões que poderiam justificar e explicar esse fato. (risos) Bem, essa pergunta de certa maneira vocês fizeram, se não fizeram explicitamente fizeram implicitamente e se vocês quiserem eu disserto um pouco sobre o que eu acho disso porque a Vale a despeito de ser uma empresa estatal ela tem reconhecido o êxito, será algum milagre, será que os caras nasceram e foram trabalhar na Vale são uns privilegiados, são mais inteligentes que os outros, evidentemente que não, deve haver uma série de fatores que devem ter concorrido para que ela conseguisse ter esse êxito, evidentemente que em síntese a gente tem que, talvez pudesse dizer o seguinte, foi o de tomar decisões certas ou razoavelmente certas nas horas razoavelmente certas, decisões certas nas horas certas, talvez esse tenha sido em síntese o maior fator da Vale ter esse caminho razoável, isso de razoável eu aprendi com o Lauro Marinho, sabe, ele não gosta de exagerar então ele fala razoável. (risos) Na verdade eu aprendi também com o Dias Leite, vocês também devem entrevistá-lo, foi o nosso Presidente, o Dias Leite é também uma figura muito interessante, porque o Dias Leite evita o máximo, um dia talvez ele saiba disso que eu estou falando, não sei se ele vai concordar, ele evita ao máximo usar adjetivações exageradas e advérbios exagerados, ele diz que isso __________________ (risos) ele usa o que é necessário, ele diz isso e usa, não sei se você já leu livros dele, recentemente mesmo ele publicou um livro sobre economia no Brasil, o penúltimo foi sobre eletricidade, e pode ver, ele evita exageros de adjetivações, mas eu abri esse parênteses porque eu estava conversando sobre a síntese do motivo que eu acho que a Vale do Rio Doce teve êxito, foi de tomar as decisões certas nas épocas certas e quais seriam esses eventos marcantes, aí eu teria que separar os eventos de natureza estratégicas, os eventos da parte propriamente física, industrial, mina, ferrovia, porto, transporte marítimo, comercialização, os elos de toda a cadeia que constitui a Vale hoje, muito mais porque ela diversificou as atividades, mas a base de todo o sucesso da Vale foi o minério de ferro, as outras atividades surgiram como uma decorrência da necessidade de diversificar as atividades, então, eu poderia citar resumidamente, o seguinte e não necessariamente na ordem cronológica se não eu fico com uma preocupação didática exagerada, que é o que vocês disseram que não é preciso, mas certamente procurando encaixar, mas porque que eu estou dizendo isso, porque eu vou deixar Carajás para o fim, por motivos que ao abordar Carajás vocês vão entender porque eu deixei Carajás para o fim, então que eu me lembre é o seguinte, a estrada de ferro era vital para poder transportar o minério lá de Itabira paro o porto, mesmo que fosse para o porto de Vitória, e a estrada de ferro estava em condições de frangalhos, então a primeira etapa de recuperação da estrada de ferro que se deve a uma equipe de engenheiros, talvez, porque não foi na minha época, eu cheguei já no fim dessa recuperação, eu procurei continuar no mesmo ritmo, talvez tenha sido capitaneada pelo Eleser. A origem do Eleser é ferroviária, hoje que o pessoal pensa que o Eleser era um homem grande, depois é que ele se tornou isso, ele era ferroviário, era o chefe da via permanente. Eu estou dizendo que a estrada de ferro é vital no complexo mina-ferrovia-porto e na estrada de ferro o que é vital, a via permanente, se você não tiver uma via permanente boa, não digo perfeita, mas boa, razoavelmente boa, você só tem acidentes, você só tem atrasos, e o Eleser era o encarregado da via permanente. Então essa via permanente da estrada e toda a estrada, a estrada foi recuperada foi a primeira coisa que eu fiz quando eu cheguei lá em 1955 foi o plano de mudar o trilho, o trilho era 35 quilos por metros e ele fez um estudo para passar para 57 quilos por metro, 57 quilos por metro é uma viga, isso numa estrada em Vitória estreita, todo mundo botou a mão na cabeça, isso parecia uma loucura. Nós lemos o trabalho dele, eu trouxe para o Rio, para os diretores lerem, o doutor ________________, famoso porque ele tinha sido superintendente da estrada, e todos disseram, esse homem está com a razão, é o jeito, nós temos que mudar esse trilho se não nós não podemos mudar a capacidade dos vagões, nós não podemos mudar o tamanho das locomotivas, o peso das locomotivas por eixo e nós estávamos com aquele negócio na cabeça de acabar com a locomotiva à vapor, usando lenha e usando vapor para sair para locomotivas diesel e elétricas, lenha e carvão que era usado, né, inclusive devastando as matas lá de Minas, né, vamos passar para as usinas diesel e elétricas, esse era o plano. Então, vejam bem, mudança do trilho, (disierização?) da tração da estrada, são episódios marcantes, a mecanização da manutenção da via permanente, que era tudo com homem de enxada na mão e picareta na mão, foram comprados equipamentos modernos para poder fazer aquilo, sem liberar os homens mas os homens forma se aperfeiçoando também, aprendendo a lidar com esse mecanismo mais sofisticado.

P/1 – Mas de que maneira, era passado treinamento, essas pessoas iam estudar fora?

R – Treinamento, havia preocupação com treinamento e com intercâmbio nosso com as melhores estradas do mundo, principalmente nos Estados Unidos, e dormentes era outra coisa, dormentes tinha uma vida muito efêmera e cada vez desmatando mais as florestas e então foi feita de uma maneira pioneira, eu ia dizer prioritariamente, mas não foi propriamente prioritário, foi pioneira, foi feita as instalações nas estações de tratamento de dormente.

(PAUSA)

R – Bom, eu estava falando da estrada e das medidas que foram tomadas para botar a estrada num padrão bem melhor do que existia inicialmente, porque devem também ter visto que a raiz mesmo da Vale do Rio Doce foi a estrada, ela começou em 1901, em 1901 estrada de ferro Vitória-Minas, aliás Companhia de Estrada de Ferro Vitória-Minas, depois que ela se transformou

na estrada de ferro Vitória-Minas, que é outra coisa, depois é que veio _________________, aquela coisa toda, mas a estrada de ferro foi a primeira coisa que já existia. Então aí já estava no auge das providências, o pico das providências, estações de tratamentos de dormentes, os trilhos vieram todos pregados com talas, parafusados, soldas de trilhos, estalou-se um estaleiro de soldas em Governador Valadares que era um espetáculo, eram trilhos de cento e tantos metros. Construímos vagões abertos para poder botar os trilhos, os trilhos iam e eram depositados à margem das estradas justamente nos locais onde eles seriam implantados. Todas essas medidas de tecnologia bastante avançadas foram tomadas nesse época, então essa é uma das razões do sucesso da Vale, foi ter cuidado de sua estrada de ferro e mais tarde a duplicação da linha. A duplicação da linha foi uma iniciativa, foi uma providência fundamental, por que fundamental, porque não adiantava nada expandir as nossas jazidas, melhorar tecnicamente os nossos minério para poder ter uma quantidade maior, depois eu vou tocar nisso, o que já deve ter sido abordado aí com muito mais detalhes, inclusive pelo João Carlos Linhares e outros que é recuperação do (itabirito?), concentração do (itabirito?), processo eletromagnético em via __________. Isso tudo aumentou, a Vale ia fazendo contratos e contratos de longo prazo e a estrada cada vez mais responsável, o plano era de cinco, depois passou para dez e depois passou para vinte milhões e já se pensava em 45 milhões de toneladas e isso foi uma das razões, a outra razão foi de permitir a implantação do corredor de transporte do Planalto goiano e hoje é uma realidade com a então Central do Brasil, que hoje já foi privatizada também, mas era que a Vale chegasse até Belo Horizonte

e de Belo Horizonte tinha o acesso para Goiás

e aí a corretora de transporte foi vital para que a estrada tivesse que ser duplicada. A estrada era singela, era uma linha estreita simples, quando ela foi duplicada a Vale teve um aleito podendo então ficar tranqüila quanto aos contratos que às vezes até antecipadamente já tinha assinado ou pelo menos tinha apalavrado, e esse item de duplicação da estrada foi muito importante e uma particularidade nesse item que estou certo de que ele já foi abordado aqui, mas é bom vocês ouvirem também com outro enfoque, ou então com o mesmo enfoque fazendo justiça a quem falou. Essa duplicação da estrada foi feita com a estrada funcionando, nós não podíamos parar os contratos, se não nós perderíamos o mercado e nós íamos parar para entregar a divisão de obras, chamar os empreiteiros, tal, não, quem tinha que coordenar isso era a própria operação da estrada para saber em que momentos ela podia parar, em que horas da madrugada

ela podia cessar do trabalho porque não havia navios no porto ou havia poucos navios no porto, ou quando ela não poderia parar porque tinha um afluxo grande de navios no porto e a mina estava com estoques (esvaziados?) para fazer essa coordenação só poderia, então foi a própria operação, a própria estrada, que eram os próprios homens da estrada que fizeram, com empreiteiros naturalmente, mas eles é que coordenaram toda a duplicação da linha, e isso foi também considerado uma coisa extremamente singular no mundo, uma estrada dobrar a sua via, passar de via singela para via dupla e os trens continuando a trabalhar, naturalmente deve ter havido algum prejuízo, mas foi insignificante, não houve queixas, porque eles se dedicaram de corpo e alma àquilo. Bom, esse item eu dou a maior importância. Outro item muito importante foi o seguinte. Em determinada época nós fomos chamados à Brasília. Já estava pronto um decreto que passava a Vitória-Minas para a Rede Ferroviária Federal e em nome de uma quase ________________________ todas as estradas são da rede então essa também por que não é da rede, inclusive pode se ligar com a Central do Brasil com a _________ depois Belo Horizonte, tal, aí nós fomos à Brasília e conseguimos parar essa decisão que já estava a minuta do decreto pronto, e conseguimos que se criasse uma comissão interministerial, então nós fomos representar o Ministério das Minas, o Ministério dos Transportes mandou os seus representantes e aí que nós conseguimos então apresentar a alternativa do corredor de exportação, onde a estrada de ferro não se desintegrava do sistema mina-ferrovia-porto para não prejudicar aquilo que era uma das coisas mais importantes do trabalho operacional da Vale, mas ao mesmo tempo se unia à Central do Brasil para servir de último elo do corredor de transporte até o porto. Hoje existe o porto, o _______________, com todas as destinações inclusive a de grãos, intensivos, lá, tem grãos lá do cerrado, então tem essa coisa também que foi importante, porque se naquela época que se não me engano foi em 1980, 1981, por aí, se tivesse desintegrado o sistema a Vale não teria progredido como progrediu e conseqüentemente não teria conseguido fazer o Carajás etc. Bom, do ponto de vista da mineração eu sou menos especialista, aliás não sou especialista mas sempre acompanhei aquilo e citei para vocês um dos principais eventos que foi a Vale só aproveitar o (lâncreme?), uma tinta compacta e aqueles finos eram rejeitos cada vez maiores, dando tremendos trabalhos para se depositar aqueles rejeitos, e os técnicos da Vale naturalmente também com intercâmbio com outros países principalmente da Inglaterra, nesse particular, eles conseguiram desenvolver um processo, conseguiram concentrar, porque o itabirito é também um minério de anatita, mas é um minério de anatita contaminado pela sínica e pela argila, já devem ter explicado isso para vocês na parte de mineração, então eles adotaram um processo de lavagem e de concentração de alta densidade, separando o minério que era de 55% de teor de ferro levando para 65, 66% e propiciando os famosos ________________ alimento para os minérios que seriam alimentos para fazer as pelotas e os famosos _________________ que seriam também para fazer a cinterização e a Vale abriu um horizonte tremendo na mineração, induzindo também a que dobrasse a estrada e que aumentasse o porto. Veja que eu falei que a ordem cronológica eu não poderia situar exatamente, o porto, por exemplo, se situa cronologicamente anterior, o Porto de Tubarão de todas essas decisões que eu citei, eu diria talvez, porque é muito difícil você estabelecer qual é o mais importante, mas talvez tenha sido, certamente não foi o menos importante, isso certamente, eu diria que talvez tenha sido, talvez com dois traços embaixo, tenha sido o mais importante evento, porque o que fez o porto, nós exportávamos. O nosso minério fica situado a uma distância longa dos portos de embarque no litoral, Itabira já ficava a 550 quilômetros, hoje somando todos aqueles ramais e tudo já devem dar uns 700 quilômetros e mais do que isso além da distância grande que havia entre a mineração e o porto de embarque, a distância era muito maior proporcionalmente aos nossos concorrentes entre o porto de embarque e as usinas consumidoras, quer da Europa, quer dos Estados Unidos, que naquela época ainda era cliente, depois os Estados Unidos desenvolveram um processo de aproveitamento da tacomita, que daí quase ficou livre do minério da Vale (risos) ele que era um dos grandes consumidores passou a ser um modesto consumidor e a Alemanha e a Europa toda, principalmente o Japão, por que o Japão passou a ser o consumidor maior da Vale, porque a imagem que se pode fazer é o seguinte, você pegou o litoral brasileiro e esticou e botou mais perto do Porto de Tubarão, por que o Porto de Tubarão poderia dar acesso a (graneleiros?) de 250 mil toneladas, e nós só exportávamos em navio de 30, 35 mil, então nós demos uma capacidade oito vezes maior em termos de navio, cada viagem levava muito mais minério em vez de ficar aquela quantidade enorme de navios. Então o Porto de Tubarão teve uma importância vital para o desenvolvimento da Vale e para o êxito da Vale, mas adiantava o Porto de Tubarão ser um porto de águas profundas com canal de dragagem bem feitas, com equipamentos de primeira ordem com carregador de navios, aquele complexo todo de equipamentos se o porto de destino fosse pequeno, mal aparelhado? Não adiantava, aí é que saiam esses homens, e sem fazer nenhum exagero, fazendo juz, capitaneados pelo Eleser, ele esteve com o Marechal Tito, por exemplo, que achava que o minério da Europa tinha que entrar pela Iugoslávia e conseguiu convencer e então foi aumentado, o porto grande era muito mais ao norte, em Hambugo, e conseguiu também que no Japão eles fizessem portos compatíveis com os navios que poderiam chegar ao Porto de Tubarão, então aquela grande desvantagem que a Vale tinha de estar situada a distâncias muito grandes do mercado consumidor ficou atenuada, não digo que tenha desaparecido, mas ficou bastante atenuada com a construção de Tubarão, e depois foi duplicado, tanto a decisão foi certa que depois teve que duplicar o Porto de Tubarão em termos de capacidade, em número de 30 mil toneladas por hora naquelas correias despejando naqueles navios e aí também a conjugação que era um grande problema, porque esse elo do transporte marítimo e o chamado por muitos, o filé mignon dessa operação toda. é o que dá mais rentabilidade é o transporte marítimo, pelo menos em determinada situação, tanto que o transporte marítimo é muito oscilante, o frete varia muito, porque é uma coisa que é no mundo inteiro, todo mundo disputando no oceano, mas o fato é o seguinte, é que permitiu um dos aspectos mais importantes que é aproveitar o tráfico de retorno pelos navios combinados o _____________, por exemplo, levava minério e trazia óleo, parece impossível, né, limpava os tanques e trazia óleo, e está funcionando até hoje, navios poderosíssimos, hoje alguns já chegam a 300 mil toneladas, o porto estava capacitado para 280 mil toneladas.

(PAUSA)

R - Houve uma certa coincidência que em termos técnicos mais rigorosos eu não estaria em condições de dizer porque eu não seu especialista de mineração, mas pelo que eu sempre entendi fazendo parte nas decisões é o seguinte, a ocorrência do Carajás foi uma ocorrência providencial porque o minério de Carajás não era substitutivo do minério do sul, ele se somava, no seguinte aspecto, o minério do sul, com a concentração do itabirito ele se destinava mais à pelotização e as usinas siderúrgicas nacionais estavam mais com essa mentalidade, com esse intuito de incrementar a produção do aço através da pelota e também as usinas de pelotização que foram criadas ou estimulada pela Vale, onde a Vale ou é controladora ou é coligada, então um dos itens continuando no minério, ligado ao minério de ferro eu poderia dizer que um dos eventos que teve também enorme importância para o êxito da Vale como empresa foi ter feito no tempo certo ter construído e ter promovido a construção das usinas de pelotização no complexo portuário de Vitória, e lá como vocês sabem existem hoje sete usinas de pelotização, duas da própria Vale, que servem de parâmetro, de aferição do resultado das outras, duas são dos japoneses a _____________, uma é a Espanobrás, da Espanha, e outra é da Itália, a Itabrasco, e parece que já está em andamento bem adiantado o Cobrasco, que é da Coréia do Sul, também associação. Em todas elas a Vale tem predominância, todas menos na Cobrasco, que parece que é 50% a 50 %, nas outras a Vale tem uma ligeira predominância no número de ações, mas por que não são controladas e são coligadas, pelo fato de que existe acordo de acionistas que não dão ao acionista majoritário o poder absoluto e então para que seja controlada pela Vale, isto é, para que a maioria das ações signifiquem realmente o controle total das decisões é preciso que não haja um acordo de acionistas dizendo o contrário. A lei das sociedades anônimas permite que haja um acordo entre acionistas onde determinadas decisões, por exemplo, sejam tomadas por um maioria qualificada, onde uma empresa se compromete com a outra associada que determinado cargo de diretor será eleito só por um tipo de ações que é aquele pertencente a essa associada. É o caso, por exemplo, dos japoneses, dos espanhóis, dos italianos e dos sul coreanos que colaboraram para a montagem, porque a Vale tem 50%, se não tiver 50% tem um pouco mais, mas não controla, não sei se eu me fiz entender, ela não controla totalmente porque existe acordo de acionistas que diz que determinadas decisões só poderão ser tomadas por uma maioria qualificada, em outras palavras, só com a concordância do outro sócio, e isto é muito importante para compreender aquela organização da Vale.

(fim da fita 1)

Fita 2
Lado A

R - Não, a Vale a partir de determinada época quando ela entrou na diversificação, ela sentiu que não havia menor interesse para seu sucesso, para sua expansão em querer controlar totalmente, bastava que ela cumprisse as leis brasileira, né, e fizesse, a expressão no português, não que eu seja especialista, não, mas essa expressão joint venture parece que não tem assim uma equivalente em português tão feliz, porque ela significa o quê, associações onde há riscos, joint venture, né, há riscos, quer dizer, então nenhum sujeito entra, nenhuma organização, nenhuma entidade, nenhuma empresa, nenhuma sociedade entra com outra, ainda mais num país estranho e às vezes com fama de América do Sul e não sei o que e tal; não entra sem ter garantido certos direitos que são inerentes à aplicação que ela vai fazer do capital, o capital passa a ser um risco tremendo se ela não tiver certas garantias, né, então é por isso que, embora a Vale às vezes tenha maioria das ações, o que significa que ela tenha entrado com mais dinheiro, ou mais garantias aos financiadores, não é, que é (pró-rata?) é proporcional à composição acionária, embora a Vale tenha isso, ela não tem o comando absoluto, ela fez acordos de acionistas em que ela assegura ao associado que determinadas decisões só serão tomadas com a sua, anuência deles, decisões importantíssimas, não é. Acho que o caso talvez mais clássico disso e mais extremo seria quando da privatização da Vale quando foi criada a (Golden Share?), né, existe uma ação, né, lá que o governo se reservou se um dia a privatização, né, os novos donos da empresa quiserem tomar determinadas atitudes, são atitudes extremas que eles nunca vão tomar, que eles não são doidos, mas de qualquer maneira é uma salvaguarda, digamos assim, se eles quiserem tomar a Vale entra com a sua (Golden Share?) e desequilibra o negócio e esse sistema não é inovação, não, nos estados Unidos é comum isso, você faz associações, eles fazem associações lá, muito como fifty-fifty, né, não, ninguém manda em ninguém, 50%, bom mas 50% qual é o inconveniente, é que proporciona impasses periódicos, um quer uma coisa, o outro não quer, bom empata, e daí, então eles fazem o seguinte, eles ficam um com 49 o outro com 49, digamos, estou dando um exemplo e dois por centro eles entregam a uma terceira pessoa jurídica de absoluta confiança de ambos, esses dois por cento ficam num cofre, isso é o que chama de (scroll?), fica num cofre guardado, mas essa pessoa jurídica, ou até pessoa física também, mas de absoluta confiança dos dois que estão se associando, um dia que houver um impasse e aí vai dar prejuízo e vá-vá-vá, ele entra e diz, olha, é uma espécie de perito desempatador, eu olhei aqui, olhei aqui e acho que você é que tem razão dessa vez, pronto e aí sai do impasse, não é, então isso voltando agora às pelotizações; as usinas de pelotização que hoje estão na base da ordem de grandeza, se eu não me engano, de 24 milhões de toneladas, dessa ordem, dessa ordem, cada uma delas tem da ordem de dois, três milhões, se eu não me engano essa última tem quatro milhões de toneladas, capacidade de instalar quatro milhões anuais, não é capacidade de instalar meia dúzia de pelotas..., bom, mas eu estava dizendo, então, na área de minério de ferro foram tomadas inúmeras medidas, os tipos de minérios, sei lá, oito tipos de minérios, por que cada cliente tinha uma necessidade e isso custa dinheiro, isso custa massa cinzenta, isso custa trabalho tecnológico, você tem que fazer peneiramento, você tem que fazer separações, (granualmétricas?), físicas e químicas também para poder atender aos cliente e não perder mercado e tal. A mina portanto, é fácil de compreender que a mina tem uma, as minas, não é, elas tem uma interação muito estreita com os nossos escritórios do exterior, não é, porque os nossos escritórios do exterior transmitem para as minas o que que o cliente está eventualmente reclamando, o que que o cliente estaria mais interessado, não é, eu diria que nesse particular a atividade de mineração tem muito mais interação, quer dizer muito mais ação em comum com os escritórios e as subsidiárias no exterior encarregadas da comercialização do que, por exemplo, a estrada de ferro, a despeito de toda importância da estrada de ferro, né.

P/1 - Mas lá é que vai determinar?

R - Eu diria que depois desse elo da cadeia que tem talvez mais, também, são os portos, porto Tubarão e o porto Ponta da Madeira, Ponta da Madeira é outro, porque os portos tem muita importância de não deixar os navios esperando, isso é fundamental para o cliente, né. Nas vendas (fob?), não é, onde o minério é comprado aqui no porto, no porto de embarque, eles fazem contrato de transporte marítimo e querem que os navios carreguem o mais depressa possível, então o porto também tem muita ligação com o cliente, direto; o transporte não tem tanta ligação porque o transporte, desde que ele faça o transporte a tempo e à hora e a estrada está bem equipada e foi dobrada até e tal e tal, bom é a parte da mineração a parte do porto, ô desculpe, eu vivo mexendo nisso aqui.

P/2 -Caiu aí.

R - Tem uma coisa dessa que eu faço na minha ginástica que eu estou fazendo, quando eu ando naquela...

P/1 - Esteira

R - Naquela esteira, não sei se você já andou, mas quando é uma coisinha assim, para mim controlar a velocidade...

P/1 - Ah, para controlar a velocidade e a pulsação, o batimento cardíaco, aliás?

R - O batimento cardíaco, é isso mesmo.

P/1 - Eu já usei. O senhor aceita água, o senhor quer um pouco d’água, pode tomar.

R - _________ algum trabalho da memória da...

P/1 - Nós fizemos do Instituto de Psicologia, do Serviço de Psicologia do Instituto do Coração já.

R - Ai, ai, você me falou.

P/1 - A gente está fazendo o projeto do Encor agora.

R - Bom, então a mineração e o porto e a estrada.

P/1 - Espera aí, está gravando?

P/2 - Espera só um pouquinho.

P/1 - Está gravando?

R - Eu falei nos eventos, deixa eu consultar aqui. Eu quero justamente que vocês façam perguntas, senão eu fico muito...

P/1 - Eu vou voltar então àquela que eu estava fazendo para o senhor aí nos bastidores.

R - Agora, um ponto só esse que eu vou estabelecer, depois eu volto em Carajás, é o seguinte, baseado naquele aspecto que eu falei do, não digo segredo, mas um dos fatores do êxito da Vale, né, e eu digo isso porque esse ponto é um pouco polêmico, e eu fui aconselhado até, conversando pelo menos com meu filho e com mais alguém também, ah, não inventa isso, não adianta, mas não é, o meu temperamento não é de fugir da corrente, quando eu acho que, mas também não é nada de exagero, é o seguinte, é que o porque que a Vale distribuía sempre dividendos modestos e tendo lucros tão, né, vultosos, bem isto é muito importante, para mim este foi um dos fatores do êxito da Vale, eu vou procurar explicar porquê, quem decide sobre a destinação dos resultados dos lucros anuais que a empresa apresenta na assembléia geral ordinária do ano seguinte, né, quem decide é o acionista majoritário e se houve uma coisa que talvez seja um dos aspectos importantes para o êxito da Vale é que houve continuidade na seguinte política, isso independentemente de ideologias de governo, quer fosse o governo de João Goulart, quer fosse o Governo militar, quer fosse o governo de Juscelino, quer fosse o governo do Sarney, todos os governos, enquanto eu estive lá, eu ouvi isso, eles respeitavam a continuidade da Vale sob o seguinte aspecto, a Vale apresentava os resultados e depois antes da assembléia que ia destinar os resultados, ela fazia suas sugestões, olha, há a seguinte alternativa, ou distribui dividendos altos, vocês sabem, essa é um alternativa, ou reinvestir fazemos o reinvestimento desses dividendos, desses lucros, desses resultados na expansão do nosso sistema, ou na expansão vertical, na melhoria, na expansão ou na diversificação e o acionista majoritário sempre preferiu que a Vale, é como se diz na gíria grosseira, ele não queria matar a galinha dos ovos de ouro, a Vale além de dar anualmente um contingente substancial de divisas para o nosso balanço de pagamentos a Vale foi transformada ao longo do tempo num agente de desenvolvimento do país, único agente? Não; o mais importante? Não tenho meios para assegurar que tenha sido o mais importante, mas que seguramente foi um agente de desenvolvimento do país, que atuava em projetos, em iniciativas, em empreendimento onde a iniciativa privada não estava tão interessada, quer porque exigisse investimentos de vulto superior às suas possibilidades, quer porque houvesse um risco que ela achava algo desmesurado, algo, quer porque estivessem em regiões (ínvias?), de difícil acesso, essa expressão (ínvias?), de difícil acesso é sic, é a que saiu em Carajás quando nós conseguimos aumentar no código de mineração o requerimento de pesquisa de mil hectares para 10 mil hectares, e foi assim que Carajás tomou a dimensão econômica para poder ser realizado, mas esse é um parêntesis, então veja bem, esse ponto é muito delicado porque é polêmico, a Vale tem sido sobre certos aspectos injustiçada nisso, que a vale distribuía dividendos modestos, mas a Vale reinvestia os investimentos para crescer e qual é a maior prova de que esta política estava certa? Não é o governo ter decidido, porque o governo ter decidido, o governo poderia decidir errado, na minha opinião decidiu certo, justamente porque respeitou, não quis mexer numa coisa que estava dando certo, mas poderia, o governo poderia _______ , eu digo independentemente de ideologia, nem reforma de governo porque foi no governo militar que foi feito Carajás, então também não vamos separar isso porque o governo era isso ou era aquilo. Os governos todos, em relação à Vale do Rio Doce, me parece a mim que em relação à Petrobras, mas isso não estou autorizado, nem tenho, parece, ele sempre respeitou, respeitou e achou que era uma empresa que estava tendo êxito e não convinha mudar essa política de reinvestir, reinvestir judiciosamente, não é reinvestir (a la Diable?), não é reinvestir judiciosamente, se se provava que era preciso duplicar a linha, o acionista majoritário dizia “promova a..., vocês me convenceram que é necessário”, senão vocês não podem aumentar as vendas no exterior, etc, etc, não pode constituir, implementar o corredor de transporte, exportar grãos através de Vitória, não, através do litoral do Espírito Santo, etc, etc, etc. Muito bem, eu estava dizendo, qual é a maior prova de que essa política estava certa, não é a de ter sido aprovada sistematicamente pelo governo, que é o que tinha poderes para isso porque ele era o acionista majoritário, a maior prova é o seguinte, é que o acionista minoritário sempre considerou essa política certa, por que que ela considerou? Qual é o maior parâmetro num capitalista para você ver isto? São as ações na bolsa, as ações da Vale sempre foram as ações blue ship, sempre, sempre, e foram as ações com a maior liquidez, se o sujeito tem uma ação da Vale e quer vender, ele vende em cinco minutos, é claro que recebe dinheiro 24 horas depois, mas tem liquidez as ações da Vale e tem uma valorização constante as ações da Vale, o que que significa isso? É que o acionista minoritário sempre concordou com o reinvestimento, por que que concordou? Só por patriotismo ou patriotada, não, porque ele estava vendo que aquilo aumentava o valor intrínseco da empresa da qual ele possuía uma parte, porque a ação nada mais é do que um pedacinho da empresa, a ação representa um pedaço do capital da empresa, então eu acho que isso, que ainda não foi devidamente esclarecido, mas nessa oportunidade que eu tenho de falar com vocês e esperando que isso fique gravado, embora vocês claro que vão ter depois, politicamente no bom sentido, no bom sentido, há, há, pode ou nem deve ser cogitado, não tem importância, mas é um desabafo que eu faço porque isso é uma injustiça tremenda, e vou lhe dizer mais hein, não posso dizer que esteja autorizado, mas intrinsecamente ou indiretamente estou, na conversa que eu tive, com a única pessoa que eu conversei, antes de ontem, a única pessoa que eu conversei da Vale quando eu vim aqui, não conversei com o _______ , nada, eu quis ficar justamente sem, quer dizer livre, né, _______ , mas com o Marinho eu gostaria de saber se ele vinha se ele estava aqui e o Marinho lá me disse exatamente isto, viu, que isto é uma injustiça que fazem, e ele como diretor financeiro que foi há muito tempo, né, ele disse um dos segredos da Vale é que a Vale sempre trabalhou com caixas, com capital próprio e com empréstimos relativamente pequenos e isso é um dos segredos, é um dos segredos do grupo, do grupo sabe qual? Antonio Ermírio de Moraes, o Antonio Ermírio de Moraes só pega empréstimo quando ele não tem outra saída, ele podendo, ele trabalha com capital próprio, mas é claro e nós na vida privada o que que nós fazemos?” Poder-se-á dizer, é uma comparação grosseira, mas não é tão grosseira assim, porque muita coisa que se passa na empresa, passa-se no lar da gente também, nós temos nosso orçamento de custeio, nós temos nosso orçamento de investimento e nós não fazemos empréstimos se nós podemos usar o nosso capital próprio para investir e atender às nossas melhorias no nosso investimento, nós não vamos fazer empréstimos e ficar sujeitos a juros, muitas vezes, muitas vezes, escorchantes em função de outras políticas que eu não quero entrar nesse mérito. Mas o fato é o seguinte, eu creio ter enfatizado para vocês um ponto muito importante, que é um dos segredos, agora eu uso a palavra mesmo, do sucesso da Vale, ela sempre procurou trabalhar com a maior, a melhor possível relação _______ a relação _______ quer dizer a relação entre capital próprio e dívidas, né, a melhor relação, talvez a relação hoje, sabe qual é, olha eu vou dar um, como se diz na gíria, eu vou dar um chute, deve ser da ordem de 80, 20, por aí, dessa ordem, dos investimentos da Vale hoje, 80% mais ou menos são de capital próprio, 20 ou 20 e poucos, é dessa ordem de grandeza, de capital de terceiros, de países da Ásia, entendeu. E foi assim que foi feito Carajás, nós vamos chegar na equação financeira de Carajás para vocês verem como é que foi feita Carajás, por que que foi possível fazer o Carajás. Há também, não digo segredos não, mas há uns pontinhos aí que são sutis que a gente precisa compreender e um dirigente que não compreendesse isso é por que, estava ali como, não estava fazendo o seu papel, bom. Eu acho que eu tendo falado sobre esse ponto e depois me reservando para falar sobre o Carajás como eu disse na coisa, eu acho que devo, até por ponto de vista ético, pedir que vocês fizessem umas perguntas.

P/1 - Está ótimo, pode ir falando.

R - Senão eu fico muito centralizador.

P/2 - Essa parte que o senhor comentou eu acho que dá margem para comentar um pouco essa relação Vale-governo, como é que foi isso, quer dizer, não só como acionista majoritária, mas como uma estatal enfim, como é que gerência política?

P/1 - Deixa eu só pegar já gancho na pergunta dele, pensando a Vale como uma estatal e essa relação com o governo, a gerência, administrativo, político, diretrizes, eu emendaria um, vamos fazer um trinômio aí, minha parte do tripé seria transferência de tecnologia, sendo uma empresa estatal em que medida essas novas descobertas, essas modernizações que ela fazia, tanto na extração de minério, quanto na transformação desse minério e em transporte, em que medida essa tecnologia que ia sendo criada pela Vale e modernizada ela passava para o restante do Brasil e de outras empresas?

R - Bem, eu acho que essa é uma pergunta um pouco complexa no sentido de que nunca meditei sobre isso, talvez até um pouco egoisticamente, mas nunca meditei muito sobre isso, mas eu acho, vou conseguir dar uma explicação razoável, é a seguinte, em primeiro lugar a Vale sempre foi um repositório de técnicos porque ela, veja bem, 1962 foi feita a reestruturação da Companhia Vale do Rio Doce por uma firma chamada Ecotec, essa firma era dirigida por um grande especialista em reorganização de empresa, ele era, cujo nome era Jorge Felipe Cafuri, não sei se ouviram falar? Aí o apelido dessa reestruturação de projeto Cafuri, nesta firma, Ecotec, trabalhavam pessoas do seguinte, o homem chave, por exemplo, na parte de econômico, financeiro, econômico-financeiro, etc e mesmo na parte de informática era Antonio Dias Leite e anos depois viria a ser, talvez por esse know-how que ele adquiriu, tenha pesado, veio a ser o presidente da Vale e de presidente passou a ministro e foi ministro das Minas duas vezes, então era Antonio Dias Leite, era Jorge Cafuri, que era o cabeça, era Mário Costa Braga, depois foi para a Vale também, era Henrique Brandão Cavalcante que depois foi ministro, ministro do interior, ou ministro, um dos ministros aí, então a Vale fez, eles fizeram essa reestruturação com uma contra parte da Vale acompanhando, naturalmente, né, e essa reestruturação em que consistiu basicamente? A Vale tinha um diretor administrativo, um diretor comercial, um diretor financeiro, de executivos, eu não estou falando de diretores deliberativos, que são eleitos, eu estou falando de executivos, quando eu voltei para a Vale eu voltei como diretor executivo, 61, quando eu vim de Alagoas, né, eu já lhes contei, mas então eu era diretor administrativo, às vezes, diretor comercial e às vezes diretor financeiro, foi feita essa reestruturação, eu era o representante da Vale por contra parte da Ecotec, para fazer as ligação, fazer na-na-na e houve, foram criadas, se eu não me engano, oito superintendências gerais, então a Superintendência de Finanças, a Superintendência do Controle, Superintendência Administrativa, Superintendência Comercial, Superintendência, etc, oito, não vou fazer de conta se eu não me lembrar de todas, se eu quiser, eu me lembro, o importante é ganhar tempo. Oito superintendências com as atividades básicas da Companhia e Superintendência do Patrimônio, depois do controle, finanças, administração, comercial, Superintendência das Minas, Superintendência das Estradas, embora a Superintendência das Minas e a Superintendência das Estradas estivesse subordinada à Superintendência Geral de Operações e para ter ligação com isso que você me perguntou, isso em 61, 62. Em 62, ah, eu disse basicamente consistiu nessa mudança e na criação de um órgão que foi de vital importância para a atualização, modernização da Vale, chamava-se Junta de Programação e Coordenação, era composta de todos os superintendentes e todos os assuntos que iam para a Diretoria, para a deliberação, passavam primeiro pelo crivo dessa Junta de Programação e Coordenação que achavam denominadores comuns, um denominadores comum, achava, _________ as soluções para que quando fosse à Diretoria, havia um consenso na parte executiva, não se chamava um superintendente com uma opinião, outro superintendente com outra opinião e ia discutir lá na Diretoria, não, quando ia para a Diretoria já havia um consenso, a Diretoria aprovaria ou não, acharia ou não oportuno e tal, mas havia um consenso na área executiva, isso é de maior importância, muito bem, e entre essa medidas também de modernização, houve o seguinte, nós assinamos um convênio, firmamos um convênio com um tal de Instituto de Psicologia Aplicada da PUC, esse Instituto de Psicologia Aplicada ficou encarregado de fazer toda a seleção do pessoal que entrava na Vale, especialmente dos quadros mais gerenciais, então a Vale fazia a seleção, a Vale nem lidava com os candidatos, eles iam direto para o Instituto de Psicologia aplicada, que tinha no Rio, tinha em Belo Horizonte também, em Vitória também tinha uma sucursal ou alguma firma lá, ou algum instituto que eles delegavam, de um critério absolutamente austero, não adiantava pistolão, nem pedido político, nem coisa nenhuma, ali era na base no mérito, nós dávamos valor ao mérito, a quem tivesse mérito, fosse filho ou não fosse de ferroviário ou de empregado da Vale, era quem tivesse o mérito, pelo menos sempre procurou-se fazer isso e hoje, no outro dia eu estava ligando a televisão lá, eu tenho tempo agora como aposentado, estou vendo lá, discutindo porque o funcionário público e tal, agora querem fazer uma lei para avaliar o desempenho, porque se o funcionário público não tiver um desempenho satisfatório, não é, esteja aquém de um mínimo razoável então vamos botar para fora, mas chegam aí os demagogos, não, os funcionários públicos tem direitos adquiridos e tal, eu não quero entrar no mérito porque claro que isso tem aspectos positivos, tem aspectos negativos, tem aspectos sociais, tem uma porção de coisa, mas isso que estão discutindo hoje, nós em 62 implantamos isso rigidamente na Vale, era feito o controle do desempenho dos empregados, que depois e talvez em São Paulo na mesma época já houvesse, mas não era comum, no Rio de Janeiro não era, eu posso assegurar, nem em belo Horizonte, nem em Vitória. Era na base do controle, do desempenho, não era diário, mas era periódico, digamos, de seis em seis meses e tal, um controle, mas era um negócio sério, solene. E dir-se-á, bom, mas os chefes davam conceito ótimo para todo mundo, em todos aqueles itens, né, negativo, não davam, sabe por que que não davam? Porque eles eram julgados por nós, pelos diretores e se eles fossem complacentes e dessem, fossem bonzinhos e paternalistas, quando chegassem para eles serem avaliados, nós dávamos notas baixas para eles, então nós criamos, todos, né, e inclusive com essa assessoria de firmas altamente especializadas, essa mentalidade de que, ingresso pelo mérito, acompanhamento do desempenho e pronto, e prêmios e progresso funcional para quem tivesse valor, e isso foi empregado na Vale há 48 anos atrás, poxa. 48, 60 para 2000, 40 anos atrás, 62, né, 38 anos atrás, então esse foi um dos segredos e o que que fazíamos também, nós íamos nas ________________ homens chaves nossos, né, iam visitar as melhores faculdades, quer dizer, a predominância da atividade da Vale é engenharia, né, e a _________ é predominante, não digo que não fizesse isso com faculdade de economia, com outras faculdades, mas, direito e tal, mas predominantemente era engenharia, era engenharia, me lembro bem, isso era muito, fazia visitas à PUC, fazia visitas à Universidade de São Paulo, Campinas, não sei o que, ITA, não sei o que, Poli, a de Vitória também, Curitiba, Belo Horizonte, bom e tal, Ouro Preto e convidava os melhores alunos que estavam terminando os cursos, olha, vocês que quiserem vê lá uma seleção na Vale e tal, tal, apareçam lá se quiserem lá para fazer e muitos dos quadros que chegaram a diretores depois, muitos, para não dizer quase a totalidade, estou respondendo a sua pergunta, o governo não se metia nisso, havia ocasiões que as gavetas estavam cheias de cartas de políticos e de pessoas mais influentes ainda na área executiva e ficavam lá as cartas porque a desculpa, bom o sentido era o seguinte, aqui adotamos um critério que nós não podemos, sabe, não podemos abrir exceção, é o critério do mérito e tem que fazer concurso, então se o senhor está indicando fulano de tal ele vai ficar aqui anotado, quando houver um concurso para a especialidade dele, ele vai ser chamado e foi, aconteceu isso, aconteceu isso, muitas vezes o sujeito era chamado, se ele tinha valor, ele mostrasse o seu valor e tal. O que eu quero sintetizar, dir-se-á, mas isso é feito hoje rotineiramente, mas não era feito rotineiramente naquela época, há 30 ou 40 anos atrás, não, tanto que no funcionalismo público, agora que estão querendo fazer uma lei para avaliar o desempenho, porra isso é elementar, tem que avaliar o desempenho das pessoas, todos nós nos postos em que estivermos temos a responsabilidade de saber avaliar as pessoas que estão trabalhando conosco, sem (parte pri?), né, procurando ser justo, mas justamente para ser justo, o que que se, isso eu não sou jurista, hein, mas eu ouvi isso e guardei, Rui Barbosa dizia “qual é a verdadeira justiça? É tratar desigualmente casos desiguais”, não é tratar igualmente casos desiguais, é tratar desigualmente casos desiguais, é ou não é, então se você vai, mas isso vamos acabar com essa demagogia, o fato é que a Vale tomou providências no campo pessoal e agora entrando mais nas perguntas, e nada impedia que esses homens, muitos deles, depois que começou a mineração a se expandir no país, com a (NBR?) , com a KM, com, principalmente em Minas Gerais, né, mesmo só no campo do minério de ferro, não, no campo do alumínio, da bauxita, do alumínio, do cobre, do níquel, etc, e tal, tal, nós fomos uma espécie de escola, esses homens iam contratados pelas outras firmas, entendeu e iam para lá já com um know-how muito grande em conhecimentos, principalmente em pesquisa mineral, não é, e de lavra também, da lavra que é importantíssimo o sujeito saber fazer uma lavra que não seja predatória, que seja uma lavra racional para poder aproveitar...

Fita 2
Lado B

R - o minério de uma maneira racional, então a nossa, agora que eu saiba, convênios em que a Vale se comprometia a fornecer, por exemplo, a mineração x ou y, um know-how especial, isso eu não me lembro de terem recorrido à Vale sobre isso, se houve foram coisas esporádicas, não foram coisas sistemática, o que havia era o seguinte, a Vale se preocupava muito em mandar periodicamente homens, quem é que está mais atualizado em, digamos, concentração de minério, tarará-tarará ou para redução direta, ou para pelotização ou para isso ou para aquilo, ou nas estradas, quem é que está mais especializado em solda de trilho, quem é que está mais especializado em tratamento de dormente, quem é que está mais especializado nisso ou naquilo, ou naquilo, mandava, lá na estrada tal, é lá Austrália, porque na Austrália também tinha e no Canadá, não é concorrentes nossos, mas nesse particular é curioso, os concorrentes e também a Vale nunca, se existe, é curioso isso, hein, existe uma razoável ética nesse particular, se por exemplo, __________ pedia para um grupo de engenheiros dele virem, nós só ganhamos tarará-tarará, eu estou fazendo um exemplo simbólico, hipotético, vocês estão fazendo educação na linha, e se defrontaram com problemas sérios aí porque estão fazendo essa atividade, justamente sem parar as operações e tal, podemos mandar aí seis homens parará-parará? Perfeitamente, pode mandar. Se nós também fizéssemos, no Japão, olha, queremos fazer isso e tal, aprender isso assim e assim, quer dizer praticar, absorver o know-how, nisso existe no mundo uma ética.

P/2 - Caiu o fundo.

P/1 - O fundo de trás. O panteão ficou um pano preto.

R - É essa parte da administração eu não sei se ele gravou, da preocupação que nós tínhamos com o ingresso na empresa e com o acompanhamento do desempenho dos empregados, acho que ele consegui gravar quando interrompeu.

P/2 - Sim.

P/1 - Gravou.

P/2 - O senhor estava nessa parte de ida de profissionais da Vale ao exterior e colhendo essa tecnologia.

R - É, de fazer intercâmbio tecnológico, né, agora outra coisa que eu, todos aí já devem ter dito, mas certamente vocês não acham estranho que eu vá repetir, embora talvez pecando pelo giro demais, né, até peço a vocês para fazer perguntas sobre defeitos também porque eu não, sou, só achar que só tínhamos qualidades e muito menos achar que nós somos uns privilegiados que nascemos mais inteligentes, nem mais patriotas, nem mais coisas que os outros, acho que nós tivemos oportunidade e soubemos aproveitar e sempre com gente em cima que tinha cabeça boa e respeitado, justiça seja feita a todos os governos, todos os governos, respeitavam, nunca eles quiseram intervir na Vale para botar político a, político b, ou, não é que eu tenha má vontade com político, mas político, o lugar dele é lá, para fazer política, fazer lei e faz bem, e protege o Brasil e a democracia e etc e tal, mas botar só porque tem pistolão político um sujeito para dirigir uma empresa como a Vale, como Petrobras ou como Companhia Siderúrgica Nacional seria, na minha opinião, inteiramente errado, não é, isso foi um dos segredos, então no que eu estava dizendo um ponto importante que sempre preocupou a Vale era o aspecto ético com os seus, com as pessoas físicas e jurídicas, que pessoas físicas? Com os seus empregados ou aqueles que eram contratados eventualmente para prestar algum serviço à Vale. Que pessoas jurídicas? Principalmente os clientes que são firmas siderúrgicas normalmente, então a Vale tinha ética, ética em que sentido? Ela fazia rígido controle de qualidade de seus produtos para entregar o melhor possível nas condições em que tinham sido, das especificações em que tinham sido estabelecidos os contratos, isso era uma preocupação constante e entregar nos prazos certos, porque não adianta nada entregar coisa boa no prazo errado que não pode ser mais utilizado ou que seja utilizado de uma maneira anti-econômica. Bem, isto como se traduzia numa palavra, essa palavra eu ouvi dezenas de vezes, para não exagerar, quando eu tinha contatos com estrangeiros, é o que eles chamam de ____________ é a confiabilidade que a Vale tinha, isso vocês devem ter ouvido isso em todos os que depuseram aqui, mas ouçam também de mim porque isso é uma verdade, ela tinha uma ética que proporcionava essa confiabilidade, ora _______ e também os fornecedores? Os fornecedores também, por que que a Vale ao fazer determinados contratos ela obtinha bons preços? E eu estive em outras entidades, e posso estabelecer outra comparação? E eu não conseguia tão bons preços lá, ou às vezes até, preços exorbitantes, porque quando elas faziam contrato com a Vale, eles sabiam que iam receber no prazo certo, isso é importantíssimo no país, se você vai fazer um contrato com uma firma e ela começa com tergiversações e prolongando e não te paga e você tem que cumprir os seus compromissos, pagar o seu pessoal, fazer, né, para cumprir os seus, e você não recebe, não sei o que, o que que faz o fornecedor, ou o empreiteiro? Aumenta os preços porque bota ali na margem de risco e diz ou vou botar aqui, aumentar isso para ter uma cobertura e são inúmeros os casos, não vamos citar nomes, mas de empresas, não é, principalmente estatais, né, que talvez por falta de verbas, porque faltava os recursos e que eram recursos orçamentários, não sei o que e custavam a sair, barará, então elas não eram tão rigorosas no cumprimento das cláusulas contratuais e a Vale sempre fez disso um tabu, cláusula contratual é, não é, foram pactuadas, isso é um contrato bilateral, nós para exigirmos o cumprimento daquilo que nós exigimos e que eles tem que cumprir, nós temos que cumprir a nossa parte, a financeira era rigorosamente cumprida e a Vale quando podia e tinha sobras de caixa ela fazia antecipações de pagamentos, para que? Para ter descontos, para ter descontos, imagine eu era mestre nisso, quando diziam, bom aqui está afogando, eu não vou botar na caixa para ti, não, eu vou negociar uma redução se eu pagar antes, entendeu, não era isso, não era, vamos dizer, corriqueiro, não era a coisa mais comum, mas até esse ponto nós chegávamos no cumprimento, então era a ética com os fornecedores, com todos os clientes consumidores, com também com quem prestasse serviços, quem vendesse, quem, empreiteira, etc, ética. Ética não significa bom-moçismo, significa procurar fazer justiça e cumprir o que está pactuado, talvez isso tenha frutos nos contratos de financiamentos externos também que a Vale fazia no seu princípio, para começar pelo inicial, né, que para sair foi uma luta tremenda, aquele __________ quando foi criada a Vale lá, o Banco Mundial, né, o BIRD, o BIRD, é, Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento, Banco Mundial, o empréstimo inicial da Vale lá, quando foi feito, talvez foi esse rigorismo das cláusulas contratuais nos financiamentos de órgãos financeiros, né, onde a Vale sabia que se não cumprisse determinada cláusula contratual entrava em defaut, entrava numa porção de penas e penalidades e multas e ágios e o diabo, né, e esse foi um importante fator para que a Vale tivesse crédito ao longo da sua vida quando ia fazer um projeto novo, olha, eu não estou exagerando, havia ocasiões em que havia fila de banqueiros lá no escritório do diretor financeiro para, não estou precisando de financiamento e tal? E não foi raro, também não vou dizer que fosse comum, mas não foi raro o próprio governo usar a Vale, no bom sentido, para dizer, olha, isso você vai lá porque você tem ativos para dar em garantias, você tem conceito lá, você vai tirar isso com mais facilidade do que nós aqui que estamos com déficit, que estamos com dificuldades, e a Vale, é claro, como empresa do governo, fez isso.

P/1 - Que tipo de negociação que a Vale participou nesse sentido?

R - Ah bom, isso são negociações em que a Vale tirava os empréstimos para fazer determinadas atividades, né, determinados empreendimento, depois os resultados que vinham permitiam que ela trabalhasse com caixa próprio, com caixa próprio, e o dinheiro ficava depositado no Banco Central, não é, e o governo pagava rigorosamente os juros, também se não pagasse, pagava rigorosamente os juros cumpria tudo direitinho, mas a Vale servia também, não sei se foi só a Vale, talvez outras empresas poderosas do Brasil aí, serviam como elementos de poder captar recursos quando o próprio governo tinha dificuldade, porque você tinha talvez saturado ou então estava devendo aí, ou então o balanço de pagamento estava, como se diz, deficitário ou qualquer coisa desse tipo. Mas isso realmente não era o comum, o comum era aquilo que eu frisei, era o governo, o Tesouro Nacional, a União, são entidades abstratas, né, União, Tesouro Nacional, tal, mas era o acionista majoritário da Vale, ele decidia sempre pelos reinvestimentos, ao invés de dizer, não, eu prefiro que você não faça isso, mande o dinheiro para cá e aí pulverizar aquilo tudo, distribuir pelos Estados, pelos Municípios, pelas praças, pelos chafarizes, pelas estátuas, não, se apresentava um projeto bem feito, defensável, exeqüível, com estudo de viabilidade, técnico-econômica, com taxa de retorno boa, pode fazer, está autorizado, era isso um dos segredos, né, da Vale. Agora se vocês quiserem fazer algumas perguntas, depois eu posso entrar, se der tempo ainda, no Carajás, né, que eu prometi e acabo não falando.

P/1 - Eu não sei como o senhor está de tempo, o senhor pode ficar? O senhor tinha marcado 11 horas com o seu motorista?

R - Ah, mas isso ele fica.

P/1 - Ele não tem problema?

R - Vocês querem fazer alguma pergunta ou não? Ou quer que eu fale sobre Carajás?

P/2 - Carajás? As coisas dos defeitos, né.

P/1 - Vamos aos defeitos, está tudo muito bom. Está tudo muito certo, né.

P/2 - Está tudo muito bonito, o senhor mesmo já levantou a bola e os defeitos, eu queria que o senhor comentasse um pouquinho como essa engrenagem...

P/1 - A gente precisa falar um pouco, qual foi o custo, vamos falar de Carajás direto, vamos conduzir para Carajás, não, você quer, não antes de Carajás...

R - Quer que eu fale da equação financeira do Carajás em dois minutos? A equação financeira, é o seguinte, em 1979, aí não dá, eu tenho que começar um pouco antes, não, mas vamos começar pelo fim mesmo, a equação financeira do Carajás, em 1979 a Vale se defrontou com três grandes problemas, né, (US Still?) tinha saído, né, depois eu explico porque que a (US Still?) saiu, a Vale não fez nenhuma coisa a-ética, ela saiu, recebeu tudo que lhe era devido, mas tem uma passagem inclusive do (Macnamara?) com o presidente do banco Mundial em Carajás, não sei se já contaram aí, se não contaram eu vou contar porque é do folclore da Vale, bem, mas então qual os grandes problemas? Primeiro, era equacionar, fazer uma equação financeira para a realização do Carajás, vejam bem, o primeiro estudo de viabilidade concluía, viabilidade técnica, econômica, estudo do mercado, etc, estudo de viabilidade completo; concluía por um investimento da ordem de, tudo é ordem de grandeza, né, ordem de grandeza e número redondo, porque senão eu não tenho essas cifras na cabeça, eu não posso, na ordem de 4,4 bilhões de dólares, depois a (US Still?) saiu etc e tal e o Brasil disse, bom, a administração da vale disse, bom, ficamos sozinhos, né, para realizar esse projeto, ele era possível com um sócio como aquele, a (US Still?), poderosíssimo, né, tinha créditos nos bancos americanos e nos bancos na área do (eurodólar?), até em bancos japoneses, agora saiu, depois eu explico, do meu ponto de vista, acho, o porquê que ele saiu. E então como realizar isso, a primeira providência que foi tomada, aí já na segunda administração Elezer, 79, foi procurar simplificar o projeto, o projeto não pode, com essa cifra de 4,4 bilhões não é possível, então foi feito, aí por que que a simplificação do projeto foi exeqüível, ficou mais facilitada? Justamente porque a (US Still?) tendo saído e como passo seguinte a Amazônia Mineração S.A. tendo sido incorporada pela Vale porque não havia mais necessidade da Amazônia, a Amazônia só surgiu para congregar o capital e os esforços, não é, da Vale e da (US Still?) e cada uma com a metade e a (US Still?) como opção de compra da metade da produção do Carajás, como opção de compra da metade da produção, evidentemente a preço de mercado, bem, então tendo saído, a Vale disse, bom, como é que nós vamos realizar isso, vamos primeiro simplificar o projeto, o projeto foi simplificado de uma maneira drástica, haja vista, por exemplo, o primeiro item, um item importantíssimo, a estrada ia ser toda eletrificada, toda eletrificada, tinha lá energia elétrica de Tucuruí, , não sei o que, e pá, eletrificar, só se pensava grande, né, uma estrada de 890 quilômetros, da Serra do Carajás até a Ponte da Madeira, eletrificada, primeira ________ não vai mais ser inteira eletrificada, só será eletrificada quando, se e quando for possível, por que? Porque a eletrificação, ela dá resultados benéficos na operação, no custo operacional depois, mas o capital de primeiro investimento, o investimento inicial é muito superior a se a tração não for elétrica, se a tração for diesel-elétrica aí é óleo diesel, motores elétricos na própria locomotiva, não há linhas de alta tensão e eletrificação. Não lembro bem qual era a voltagem, 50 volts, 40 ou 60 volts. Bem, isso foi, simplificou-se a estrada, outro item, 2000 dormentes por quilômetro, 2000 mil dormentes por quilômetro, para dar a maior garantia possível, nossa, então passou a 1850 dormentes por quilômetro, eu guardo esse número porque era o mesmo número daqui do sul e mais uma série de fatores da estrada e sem prejuízo da segurança, porque foi instalado CTC, controle __________________________ , todos os aspectos para garantir a segurança da estrada, né, foram adorados, mas foram feitas simplificações muito grandes na estrada, nas minas também foram feitas muitas simplificações porque verificou-se através da pesquisa mineral que o minério era mais puro, era mais limpo, era mais puro do que se previa no início, não precisava tanta lavagem , tanto beneficiamento, o minério quase que era aproveitado in natura, para __________ era ao que o mercado estava precisando, então foram feitas simplificações na mina, foram feitas simplificações no porto, foram feitas simplificações no núcleo habitacional, havia quatro grandes itens para realizar o Carajás, né, a estrada, em ordem de gastos diria, a estrada, mina, porto e núcleos habitacionais com todos as suas benfeitorias e água e energia elétrica, com refeitório e tudo aquilo, residências, escolas, foi feita uma cidade no Carajás, né, isso também foi reduzido, foi simplificado, as especificações foram, agora por que que isso foi possível, era necessário, mas por que que foi possível? Porque aí, tendo a (US Still?) saído e tendo e se caracterizando obviamente a desnecessidade de haver uma outra empresa, Amazônia Mineração no meio, a Vale ficou com tudo, logo ela poderia sem nenhum constrangimento, sem nenhuma preocupação mandar os seus melhores homens aqui do sul para lá, com os seus conhecimentos tremendos que tinham de estrada, de mina, de porto para simplificar tudo aquilo e dizer, olha, isso aqui tem luxo demais, isso aqui pode ser feito aqui numa segunda etapa, então o orçamento caiu de 4,4 para 3,1 bilhões, diminuiu 1,3 bilhões, diminuiu 40%, é só fazer o cálculo aí que dá 39 vírgula qualquer coisa. 40% diminuiu, então a primeira coisa foi o seguinte, simplificar o projeto Carajás de tal maneira que ele ficasse a números mais palatáveis para o mercado, mais aceitáveis, isso teve uma repercussão excelente nos potenciais fornecedores, Banco Mundial, Japão, não sei que e tal, segundo, vamos encontra, esse foi o primeiro ponto, como estabelecer a equação financeira, né; o segundo ponto foi, como para conseguir financiamentos também, porque as instituições financeiras querem que, vocês sabem, e isso é óbvio, elas querem garantias, a Vale promoveu antecipações de venda de cujo contrato de minério, começou a vender aquilo que ela ainda não tinha, mas que a confiabilidade da Vale permitia convencer os clientes, fizeram contatos a longo prazo por conta da construção do Carajás, veja bem, em função disto, de ter feito alguns contratos a longo prazo, os bancos japoneses e os bancos do mercado potencial, alemão, da área do (eurodólar?) e o Banco Mundial também, porque todos os financiadores queriam saber qual era a opinião do Banco Mundial, eles usam o Banco Mundial como uma espécie de parâmetro. Qual é o estudo de viabilidade, ______________________ qual foi o relatório final de avaliação, não é, ___________________ do Banco Mundial? Foi satisfatório, foi positivo, então era um caminho andado para obter financiamento; claro, eles não vão fazer o estudo de viabilidade que custa caríssimo, eles usam o estudo de viabilidade do banco que vai ser o principal financiador, não é, então foi feita a equação e o terceiro, o primeiro foi o seguinte, antecipação de contrato, equação financeira para realizar o Carajás e terceiro, construir o Carajás, construir, implantar, implementar aquele complexo todo. A equação financeira foi mais ou menos a seguinte, 40 e tantos por cento era de capital próprio, capital próprio da vale, 42%, se eu não me engano, aí, mais uma vez a Vale reinvestindo para realizar coisas e 22% eram empréstimos do mercado doméstico, então já deu 44, 66, né, faltam 66, não, 56, 56 soma com 44 dá os 100, né, 56 com empréstimos do exterior, se eu não me engano é isso, mas isso eu escrevi aqui para não dar um número furado, deixa eu ver aqui...

P/1 - Não, tudo bem.

R - É isso mesmo, capital próprio, não, fonte nacional 68%, sendo capital próprio, eu falei 44 ou 42 , não sei. Capital próprio da Vale, 46%, empréstimo doméstico, 22, aí dá os 68, então faltavam 32, 32 foram do Banco Mundial da área do (eurodólar?) e das operações de crédito com o Japão ___________ do Japão, etc, essa é a ordem verdadeira, 68, 32, dos 68, 46, capital próprio e 22, BNDES, etc, financiamentos internos. Então a esse foi constituído o tal do Comitê executivo do projeto, mas foi herdando a máquina da (AMZA?), né.

P/2 - No estudo de viabilidade do Banco Mundial o que é que ele dizia a respeito?

R - Não, o estudo de viabilidade não foi feito pelo Banco Mundial, se eu dei a entender isso eu fui impreciso, é o seguinte, o estudo de viabilidade foi feito por uma nova empresa que se criou, que ainda foi feito no tempo da, que a (US Still?) estava, a (US Still?) tinha uma empresa a (United State Still _________ and consultants?), (UEC?), (UEC?) e a Vale tinha a Rio Doce Planejamento e Engenharia, REBEC, uniram as duas e fizeram a Valoec, e essa empresa que foi constituída pela fusão da UEC com a REBEC é a que fez o estudo de viabilidade, foi um estudo de viabilidade, muito também completo, mas que levou, ainda no tempo, digamos, das vacas gordas, em que os dois sócios, um tinha prestígio, o outro também tinha prestígio, um tinha crédito, o outro também tinha crédito, quando um se viu sozinho disse, bom, temos que simplificar isso senão nós não realizamos e vamos perder o bonde da história, isso me leva então a dar para vocês a razão porque a (US Still?) saiu do projeto. A (US Still?) saiu do projeto pelo seguinte, se há uma palavra que explica isso, e eu vou justificar, é por causa do time do projeto, o time do projeto, a (US Still?) tinha ainda minas, ela tinha minas no Canadá, se eu não me engano, Quebec, Cartier, mas tinha minas na Venezuela, Orinoco Mine Company, o homem que veio para cá, para o Brasil, para cuidar disso, com quem nós lidamos muito, chamava-se _______________ , ele era o presidente da Orinoco Mine Company e a (US Still?) lá nos Estados Unidos orientava, um homem inteligente, um homem inteligente, competente e extremamente ético, nós não temos queixa deles, os americanos lidaram conosco, de forma alguma, e acho que eles não tenham queixa nossa também, embora tenham talvez algum arrependimento, mas aí eles vieram para o Brasil e eles queriam primeiro terminar, esgotar as reservas da Orinoco Mine Company, das minas de Venezuela, para que então que eles queriam? Para depois então entrar conosco no Carajás, para entrar no Carajás eles tinham que fazer um esforço financeiro também grande, olha a Vale do rio Doce, com 46%, né, com capital próprio, eles também teriam que entrar com capital próprio e com financiamento e com aval e com não sei o que e tarará, então eles queriam terminar primeiro com as reservas lá e extinguir, mas por que que eles queriam? Porque a situação política da Venezuela estava periclitante e ameaçando de nacionalizar todas as minas e aquelas coisa que de vez em quando a gente vê, a gente vê, não é só na Venezuela, não, vamos nacionalizar e tal, então o negócio foi time, entendeu, achava que, também espantada, espantada não, impressionada melhor dizendo, com aquele orçamento oriundo do estudo de viabilidade do qual ela tinha participado junto com a Vale, mas de fazer tudo de primeira ordem, o americano quando ele quer fazer um troço, ele quer fazer tudo de primeira, né, então 4,4 bilhões de dólares, nós seremos responsáveis por 2,2 bilhões de dólares, e bá e bá, empréstimo e tal, capital próprio, 50% isso vai dar 1 bilhão e tanto e bam bam bam e o time é nosso, e primeiro vamos acabar e há também o mercado não estava auspicioso, aí é que o laboratório de concepções estratégicas do ________________ escreveu uma carta dizendo, ou nós fazíamos o Carajás logo, mais modesto, preconizando também, hein, a simplificação do projeto, trazendo a níveis mais razoáveis para o mercado financiador, né, e também para capital próprio, ou nós íamos perder o bonde da história, porque eles tinham conhecimento, estavam sempre atualizados com isso, o escritório do ____________________ e eles tinham conhecimentos que outros projetos estavam na prateleira pronto para serem lançados se o nosso não saísse, porque não podia sair todos ao mesmo tempo, senão inundava o mercado de minério e o preço ia lá para baixo, então era questão de time e a (US Still?), tergiversou, ou, ou, primeiro nós vamos acabar a Venezuela e aí veio outra administração na Vale, né, e na verdade a saída da (US Still?) se deveu muito, essa outra administração foi a administração Fernando Roquete Reis, também é controvertido, talvez eu seja um dos poucos que vá elogiar, porque eu fui diretor também do Fernando Roquete Reis, era um homem extremamente inteligente, morreu muito cedo, morreu de câncer, sabia que estava com câncer no fim, sabe e continuou trabalhando o tempo todo com o mesmo entusiasmo, pô isso me deixa até emocionado, um cara muito inteligente, sabe, ele tinha lá os seus defeitos e tarará, quem não os tem, mas ele vestiu a camisa da vale do Rio Doce, ele fez o melhor possível ali e conseguiu o destrato, também não tinha os compromissos, justiça seja feita, dos outros antigos, que tinham feito os acordos, que saíram com a (US Still?) com 100%, ela era dona de 100%, depois passou a fifty-fifty, depois conseguimos a maioria de 51, 49, depois elas quiseram sair e nós ficamos a 100%, 100% passou a ser do Brasil, mas aí ele teve papel decisivo no destrato na (US Still?) e foi inteligente na concepção desse destrato inclusive em termos de imposto de renda e coisa e tal, né, e também em termos de ética proporcionada à (US Still?) que em qualquer época que ela quisesse adquirir o minério, ela poderia adquirir...

Fita 3
Lado A

R - a preço de mercado, não é,

a preço de mercado é claro, e é claro que isso também não é nenhum compromisso que, para nós até era bom tivesse quanto mais cliente, melhor, né, mas eu acho que dificilmente eu teria abordado todos os pontos que eu imaginei, mas um ponto que me escapou eu falei _________ com o José Carlos, lá no café, né, que eu, eu também, depois eu soube que a Rosana conhece até, melhor, porque já esteve com o Vanderlei, o Vanderlei em termos de pesquisa mineral, não só do carajás, não, ele como foi diretor da Docegel, eu não pude falar na Docegel, a Docegel tem hoje um repositório de pesquisa mineral que, não é, é uma coisa impressionante e a Vale criou a Docegel justamente para isso, né. Não pude falar na pasta da Mineração do Norte onde eu fui o primeiro presidente lá no __________ , pude falar na Vale Sul, onde eu fui também o presidente do conselho da administração até a época da implantação, são muitas coisa, eu queria falar na (Docenave?), porque a (Docenave?) eu tive uma participação também muito, eu quase que diria apaixonada, né.

P/2 - Nós vamos ter que marcar isso.

P/1 - Eu acho que a gente vai ter que encerrar a entrevista e remarcar uma volta, porque tem um monte de perguntas que a gente está querendo fazer, queria pegar uns aspectos mais pessoais ainda, qual é a sensação do senhor quando chegou em Carajás e pensar isso para o Brasil

R - ...eu não faço questão, embora tenha também, digamos, meu justo orgulho de ter colaborado com a rede ferroviária, com o DNOS, não falei uma palavra sobre aquilo.

P/1 - Não, então a gente queria, a gente tem um roteiro...


(fim da fita)

P/1 - Projeto Memória Companhia Vale do Rio Doce, continuação do depoimento do senhor Hélio Bento de Oliveira Mello, dia 5 de maio de 2000, entrevistadores Cláudia Resende Silva e José Carlos Vilagarda. Então seu Hélio Bento, a gente poderia continuar a entrevista, a gente poderia continuar, é pedindo para o senhor retomar um pouquinho Carajás e contar um pouco esse processo de encaminhamento do projeto.

R - O Projeto Carajás, você sabe, ele se iniciou de uma maneira um pouco heterodoxa, né, porque quem descobriu minério de ferro foi a Companhia Meridional de Mineração, que era subsidiária da U S Steel. O Breno deve ter vindo aqui já, deve ter explicado a vocês isso, um dos maiores da área, ele que foi o homem que na época era profissional da Companhia Meridional de Mineração. Bem, então quando nós entramos, foi em 1968, a US Steel era, tinha praticamente, praticamente não, através da sua subsidiária no Brasil, da Meridional, ela tinha todos os requerimentos de pesquisa, lá naquela época o código de mineração estabelecia que cada requerimento de pesquisa poderia requerer no máximo a pesquisa em 1000 hectares e para dar dimensão econômica a pesquisa, eles tiveram que fazer então, se não me engano, 200 tantos requerimentos, que havia 200 tantos pessoas físicas que emprestavam o nome para fazer o requerimento, médico da rua da Assembléia, dentista da rua do (Ouvidor?). (riso) Bem, então uma das primeiras coisas que se tratou, quando a U S Steel se aproximou da Vale, por que ela se aproximou da Vale, justamente porque ela queria dar uma dimensão econômica ao projeto, ela sozinha, embora fosse uma potência, mas não era brasileira, então que a Vale tinha aquele conceito todo de empresa já bastante êxito, né, então ela procurou se aproximar da Vale para fazer uma associação, e isso foi no tempo do ministro, já faleceu ainda, José Cavalcante, depois entrou o ministro (Íris Leite?) e tal. Uma das primeiras coisas que foi feita então foi procurar modificar o código de mineração, foi criada uma comissão de três membros, que eu era representante da Vale do Rio Doce, Moacir Vasconcelos era o outro, era diretor do Departamento de Produção Mineral, e havia um advogado, o Moacir já faleceu, esse advogado ilustre, eu me lembro que chamava, se chama Alfredo (Lamir?), Alfredo Lamir, é famoso, advogado conhecedor da legislação e jurista, né. E os três então tratamos de encontrar uma maneira, e a maneira que, que foi encontrada foi de criar essa figura de regiões ínvias e de difícil acesso, essa expressão ficou consagrada, então em regiões ínvias de difícil, os requerimentos poderiam ser feitos não mais com até 1000 hectares e sim com até 10000 hectares. Então se havia 160 requerimentos de pessoas físicas, poderiam haver agora 16, né, dividiu por dez, multiplicou por dez a capacidade do requerimento.

P/1 - Quer dizer, foi feito uma...

R - Então o que que fez, foi feito o seguinte, a U S Steel é que tinha patrocinado tudo isso, ela se encarregou de indenizar a esses cento e tantos, (operativos?) 200 pessoas, né, para que eles abrissem mão, desistissem dos requerimentos, e entrassem então as pessoas jurídicas que seriam a Meridional, a U S Steel, né, a Vale do Rio Doce e várias subsidiárias controladas, deliberação que foram criadas, e que eram no princípio feita tantas, né, era só para terem direito a requerer.

P/1 - Foram criadas empresas para ter direito de requerer.

R - Para ter direito a requerer, né?

P/1 - Você modificou todo o quadro, mudou a legislação e tal em função do Carajás é isso?

R - (Tudo?) Carajás. E depois a mineração no Brasil com a criação da Docegeo, né, a CPRM que é outra companhia criada para minério da Usiminas, a Docegeo foi criada pela Vale, a pesquisa no Brasil foi de tal maneira intensificada que essa e outras modificações que houve no código de minas é até deveriam ter sido feitas mesmo, mas o pretexto inicial foi esse: foi dar dimensão econômica ao projeto Carajás, que era isso, o primeiro passo seria fazer um requerimento, quer dizer, que o requerimento tivesse uma capacidade mais alta de hectares, né?

P/2 - Seu Hélio, e muda...

R - 160 mil hectares parece, uma coisa, o total da área coberta pelos requerimentos da Vale e suas controladas, da Meridional, U S Steel, Meridional e suas controladas.

P/2 - E teria que ser pessoa jurídica apenas?

R - Não, não necessariamente.

P/2 - Continuariam as pessoas físicas?

R - É, mas acontece o seguinte é que arranjar 160 pessoas jurídicas era dificílimo, né, pegava 160 ficava meio escandaloso, (riso) já que tinha meia dúzia, né? (riso)

P/2 - Não, eu falo na modificação, exatamente quando muda, porque subsidiantes...

R - É as pessoas físicas teria problemas talvez mais tarde, né, em função, a subsidiária de uma empresa é controlada pela empresa, então quem manda é a empresa holding, a empresa (macra?), né, agora já uma pessoa física depois poderia... não foi fácil encontrar os direitos desse pessoal, direitos de requerer, eles tinham requerido, mas eles nem sonhavam que o Carajás ia aparecer, né, e que algum dia ia se tornar realidade nessa fase, por isso é que então quando era necessária um número muito menor de requerimentos foram feitas com as controladas das próprias _______ das associadas principais, quer dizer, a Vale e a U S Steel. Então a U S Steel começou a rigor com 100% dos direitos, nessa primeira etapa de negociações e tal em que a U S Steel se aproximou da Vale e a Vale ficou interessada por diversos motivos, mas o principal é que o minério aqui do Sistema Sul, principalmente Itabira, já estava com uns objetos contados, com os dias contados, não eram dias mas eram os anos contados ou pelo menos os decênios contados, (riso) talvez tivesse um prorrogação da lavra de 30 anos, se nada se modificasse, depois muita coisa foi modificada, inclusive o tipo de minério etc., já deve ter sido explicado aqui, e eu também abordei esse assunto, o aproveitamento de itabirito praticamente triplicou as reservas de Itabira. Bem, pois então eu estava falando foi a U S Steel e a Vale, ela começou com 100%, foram feitas as negociações, essas negociações duraram mais de um ano, cerca de dois anos e foram feitos os pré-contratos do acordo, né, é passou a ser fifty-fifty, 50%, mas o 50%, né, a U S Steel 50%, Vale do Rio Doce 50%, era difícil porque isso, isso estimulava os impasses, né, os empates e os impasses, né, havia nos Estados Unidos nessa época que eu aprendi isso, havia nos Estados Unidos um ___________, é uma, eu expliquei aqui da outra vez, é uma ação que fica, só entra quando o, há o impasse e essa ação que é de uma pessoa física ou jurídica depositada num cofre lá, ele só tem autorização para usar essa ação numa assembléia para desempatar, não haver um impasse irremediável, né. Pensou-se até nisso etc. e tal, mas depois caminhou-se e a U S Steel caminhou para o 51, 49, da legislação brasileira, para nós ter maioria, Brasil tem maioria, né, a legislação daquela época exigia isso, mas também permitia a legislação que houvesse um acordo de acionistas em que, embora essa maioria existisse formalmente, na prática haveria um acordo de acionistas em que os direitos delas seriam sempre respeitados, que direitos, por exemplo, os direitos de indicar tais e tais diretores, havia ações preferenciais A, B, C, D

tal, que junto com as ordinárias formavam maiorias, por exemplo, as ações B só podiam entrar para eleger o diretor tal com as ações ordinárias, aí eles elegiam diretor aquele que tinha o direito. Começou eles com direito a diretor de operações, nós com direito a diretor judicial, né, começou, a Vale com direito a presidência, né, criou-se a Amazônia Mineração S/A, as duas, famosa (Amsa?), né, com as duas empresas, quer dizer, a Vale e a Meridional, que a Meridional é aquela empresa brasileira subsidiária da U S Steel. Então passou de 100%, para fifty-fifty, depois passou para a Vale com maioria simbólica, foram feitos as minutas de diversos contratos da data de constituição da (Anva?), e contrato de opção de compra pela qual a U S Steel teria direito de comprar até a metade da produção do Carajás, devia _____________ teria direito, ela seria um consumidor preferencial, né?

P/1 - Até a metade?

R - Até a metade da produção. E havia um contrato de construção, havia um contrato de pesquisa, daí surgiu então a pesquisa mineral, a pesquisa mineral durou algum tempo e foi considerada na época como uma das pesquisas minerais mais completas que tinha sido feita até então, foi aprovada pelo departamento de produção mineral, procurava-se inicialmente o manganês depois ___________ e depois a pesquisa, o relatório de pesquisa verificou-se que além do ferro havia outras minérios, e que aquilo era uma verdadeira província mineral, né, descobriu-se manganês e cobre, ouro até, né, e minério de ferro há, somando todas aquelas serras, Serra Norte, Serra Araguaia, Serra Sul, (agora que eu lembrei?), dava qualquer coisa em torno de 18 bilhões de toneladas, né, minério.

P/1 - É 18 bilhões.

R - O projeto inicial estava previsto para uma exportação da ordem de 35 milhões de toneladas por ano, se divide 18, 18 bilhões por 35 e tal, vamos dar aí uns arredondamentos, era um, era um ___________ mineral, quer dizer, havia minério ali para durar 400 anos. E hoje cresceu a possibilidade, lá já está exportando 40 e tantos milhões, está exportando no Sistema Norte praticamente a mesma coisa que está exportando no Sistema Sul, 30 em número redondo, né, 40 e tantos milhões, 41 milhões, 42 milhões, 41, e só... Então aquilo ainda vai durar aí uns 300 anos, uns 350, aí se o minério de ferro for necessário até lá, né, tudo pode acontecer.

P/1 - Dr. Hélio.

R - Pois não.

P/1 - O senhor tinha comentado dos impasses, né, que impasses surgiram, surgiram que tipo de impasses entre a U S Steel, a Meridional e a Vale do Rio Doce nesse momento inicial?

R - Não, nesse momento constituiu-se a (Amsa?), né, e os impasses que eles temiam seria se houvesse 50, 50, 50%, porque aí ia empatar, nós tinha a maioria, mas nós tínhamos um contrato, um acordo de acionistas em que nós nos comprometíamos a não usar essa maioria, vamos dizer, de uma maneira prepotente, então eles tinham salvaguardas naquele contrato, naquela acordo de acionistas. E o grande impasse que houve, houve alguns impasses contornáveis, mas o grande impasse que ocorreu, acho que já me referi a ele, e foi do qual resultou a saída da U S Steel da associação, que foi o timing do projeto, a U S Steel queria primeiro acabar com as reservas que estava explorando na (Urinocu?) lá em (Nicambri?) na Venezuela, e nós achávamos que se nós fossemos esperar nós perdíamos o bonde da história, quer dizer, havia outros projetos em outros países, na Austrália, na Índia, na África mesmo, Gabão, Nigéria, não sei o que, que estavam nas prateleiras, quer dizer, se houvesse quem entrasse primeiro tomava a fatia do mercado que estava ainda disponível, o mercado não é elástico a ponto de, né, só seria se degradasse o preço, e isso ninguém iria querer. Então, quer dizer, a U S Steel achava que naquela conjuntura não iria haver necessidade de lançar tão rapidamente, o projeto poderia esperar mais alguns anos e nós achávamos principalmente, a bem da verdade, principalmente orientados pelo Eliezer Batista, que era o homem que estava mais a par das condições, ele, (não seria dele, José Cláudio Titer?), não sei se ouviram falar, esses homens, esses dois homens principalmente, estavam, eram senhores da situação do mercado, eles sabiam, pela formação deles, pelo (posicionamento?) deles e pela capacidade deles, intelectual deles eles tinham, então eles achavam que nós íamos perder a oportunidade se nós não apresássemos o projeto. O impasse surgiu aí, a U S Steel saiu, foi indenizada de tudo que ela tinha gasto, que foram os gastos da pesquisa, foi um bocado de dinheiro, ela recebeu da ordem de 50, 55 milhões de dólares de indenização daquilo que ela tinha gasto, recebeu mais do que tinha gasto, mas recebeu tudo que tinha gasto.

P/1 - Tudo que tinha gasto.

R - Eu não tenho nenhuma, mesmo o papel com ela que ela reconheceu, quer dizer, foi apresentado nas auditorias, tudo, tal, e todas as despesas que tinham sido gastas para criar a Amazônia de Mineração, principalmente depois para fazer, para realizar a pesquisa mineral tão ampla como foi, né, ela foi indenizada de tudo e saiu. Lá foi um episódio depois que... isso já foi em 1980 e poucos, que o presidente do Banco Mundial foi visitar Carajás, porque aqui estava o Banco Mundial para dar o parecer final a respeito do financiamento, e os outros bancos, não só o ___________ pelos japoneses, o (Exoriam?), todos, todo o estudo pelo parecer do Banco Mundial, né. E estava lá visitando e tal e o presidente do Banco Mundial nessa época era um tal de (Nac Namara?), famoso (Nac Namara?) que era, talvez o Eliezer tenha contado esse episódio, né, (sei que o Eliezer?) foi nessa hora, uma hora, foi feito tudo o estudo daquilo lá, tenho um retrato dele naquele dia do Vale 50 anos, nessa (pesquisa?) que ele deu, ele botou a mão na testa e falou: “My God, My God (a lui?)”, o equivalente mais ou menos a como ao seguinte: “como é que a U S Steel me faz essa bobagem, sair desse projeto todo.” (riso) aí já era tarde, já tinha saído. A (Amsa?) continuou, a Amazônia, mas aí modificou o seguinte que aqueles (tirantas?) que nós, a Vale era a única proprietária agora dos direitos todos, né, e era indispensável que o know-how todo que a Vale possuía em termos de mineração, em termos de estrada de ferro, em termos de atividades portuárias, em termos de comercialização, né, que fosse transferido para lá, porque aí o projeto seria realizado com muito mais êxito e inclusive poderia ser feito uma simplificação no projeto, esse técnicos todos se debruçaram no projeto, que a Vale tinha ficado sozinha também ela tinha que simplificar o projeto que inicialmente estava previsto na ordem de 4,4 bilhões de dólar, né, simplificar o projeto sem prejudicá-lo, para que a Vale pudesse arcar sozinha com os financiamentos para ele, mas sem o parceiro U S Steel, que era um poderoso parceiro, né. E então foi feita uma simplificação, talvez esse seja um dos pontos importantes, talvez não, certamente foi um dos pontos importantes do êxito do projeto, foi essa simplificação que houve, o exemplo típico da estrada de ferro Carajás ia ser eletrificada e na simplificação não foi eletrificada, a tração passou a ser diesel elétrica como era no Sul, né, até hoje é, podia ser bom, mas a alteração ________________, quer dizer, teria ____________ a linha, né, a operação ficaria mais barata, é claro, ficaria, mas o investimento inicial seria muitíssimo maior e a Vale teria que arranjar orçamentos muito mais vultosos, né, então eu estou dando um exemplo da simplificação, na linha, na via permanente, eram dois mil dormentes por quilômetro, passou a ser 1850, que era um número já experimentado e tal, lá era bitola 1 metro e 60, aqui a estrada de ferro Vitória-Minas é bitola estreita, 1 metro e 20, lá é uma bitola de 1 metro e 60. Então foi feito o estudo de viabilidade e o Banco Mundial apresentou um parecer favorável no ___________ dele lá, na apreciação deles, e financiamento, já expliquei aqui, qual foi a ordem de grandeza da parte nacional, quer dizer, a Vale entrou com capital próprio, né, na ordem de 46, os editais domésticos na ordem de 22%, né, 46%, e empréstimos no exterior dava 34, somando aí 66%, é claro, parece que dá os 100, né. Bem, e nesses empréstimos externos estava principal era o Banco Mundial, depois a área do euro-dólar e depois o __________ do Japão também, né, a companhia ficou interessada. A Vale então se defrontou, ah, não estava dizendo, não era mais necessário a (Amsa?) por essas razões todas e a (Amsa?) então foi incorporada a Vale do Rio Doce, e é claro que aquilo que se chamava S/A, sociedade anônima, passou a ser um mero departamento da Vale, é, o pessoal continua o mesmo, já estava enfranhado tudo, não é?

P/1 - A mesma equipe?

R - Praticamente o mesmo, que aí já estava só o pessoal da Vale quando a U S Steel disse que tinha saído, três anos antes talvez. E então inaugurou-se o Carajás em 1985, fevereiro de 85, no dia 1º de fevereiro é que foi concedida pelo Ministério ____________ a autorização para que a estrada de ferro de Carajás abrir ao tráfego público, isso é uma figura muito importante, é a concessão para ela, o dia primeiro, e lá para o dia 10 ou 15, eu não lembro bem exatamente, dia de fevereiro de 85 houve a inauguração oficial do Carajás, antes tinha havido a inauguração duma ponte sobre o rio Tocantins, obra mais maravilhosa, 2300 metros de ponte, ponte ferroviária, dando um corte de projeção você vê a ferrovia no meio, a rodovia dum lado e do outro, né, ___________ também as rodovia, os transporte rodoviário não seja prejudicado na travessia do rio. É um projeto grandioso que levou então a estrada a ter condições técnicas excepcionais porque as rampas no sentido exportação são mínimas, 0,3%, rampa compensada, quase que se você botar um trem lá, empurrar ele quase que (riso) ________ gravidade vai se exagerando um pouco, no sentido figurado, no sentido da importação a rampa era um pouco maior, para galgar o Carajás, mas não passava de 1%, e uma estrada ficou com 890 Km., interessante, um detalhe é que a estrada de ferro Carajás o Km. 0 não é no Carajás, o Km. 0 é no terminal da Ponta Madeira, a rigor, a estrada de ferro é Ponta da Madeira e Carajás, em terra dos Carajás, 890 Km., 889, 890, número redondo, e tem essas rampas compensadas bastante favoráveis, tem 65% de tangentes de retas, né, no Estado ali chama que tem gente que a tangente a curva, mas é reta, 65% de reta, 35% de curva só, e isso é importantíssimo porque o comprimento virtual da estrada ele aumenta tremendamente com o número de rampas e com o número de curvas, o comprimento virtual é um comprimento fictício, que é aquele que seria um comprimento em linha reta se não houvesse rampa e nem houvesse curva, então, entendeu, né, os (moderis?), quer dizer, lá no Carajás o comprimento virtual está próximo do comprimento real, ao passo que aqui no Sul não, com as curvas, com as rampas e com tudo, o comprimento virtual é muito maior, você tem que transformar as curvas numa reta equivalente, então vai somando aí, o comprimento virtual é a soma disso tudo. Bem, o trem tipo três locomotivas diesel acopladas de três mil cavalos, 160 vagões, né, cada vagão da ordem de 90 toneladas, eu sei que parece com oito trilhos de raio cada sentido, dava para transportar mais de 35 milhões de toneladas, que agora já está 40, 42. E assim foi feito o Carajás e liberou, houve um efeito chamado cinergia, né, com o Sistema Sul porque ele não foi substitutivo para o Sistema Sul, mas ele ajudava o Sistema Sul, certos tipos de minério que um cliente preferia __________, preferia daquele era aquele, em função também das distância, né, Carajás fica muito mais perto da Europa, por exemplo, (deu?) uma questão sobre __________ Vitória, que no porto de Tubarão, distância de porto no Brasil, as usinas siderúrgicas, acho que vocês com essas entrevistas aí vocês já devem (por em pé?), é uma coisa fabulosa, o Brasil para poder entrar no mercado de _________ e transformar a Vale, em 1975 ela já era o maior exportador de minério de ferro do mundo, ela teve que tomar providências heróicas, porque o Japão fica mais ou menos, é número é bom aproximar, né, é de 11, 20, todos em mil milhas marítimas, a Europa é da ordem de seis mil, a costa leste dos Estados Unidos da ordem de cinco mil milhas, e o porto Tubarão, como eu já expliquei é como você tivesse ganhado assim também a imagem, a imagem, ou se ele pegasse o litoral do Brasil e esticasse até e aproximasse mais, né, do mercado consumidor, por que, porque os navios que eram da ordem de 30, 35 mil toneladas passaram a ser da ordem de 280, 300 mil toneladas ________, né, __________, quer dizer, a tonelada _________ é a tonelada métrica, é um dado que a tonelada métrica significa o que, significa a carga, mais o óleo, combustível, mais a tripulação, mais os, o que estiver lá dentro para alimentação e tudo que estiver guarnecendo, guarnição, a tripulação, o óleo e a carga, né, tudo isso somado dá então 280 mil, 250 mil, a Docenave conseguiu no Japão o (Doce Kenion?) parece que é o maior (roroio?) do mundo, 280 mil toneladas, e aí a Petrobrás também se convenceu e construi um da mesma tonelagem, e assim para combinar para levar minério e trazer óleo, porque antigamente os navios que vinham...

Fita 1
Lado B:

R - ...buscar minério, né, cobravam como se tivesse vindo em lastro, quer dizer, como se tivesse vindo no navio, e aqueles que vinham trazer carvão para as nossas siderurgias cobravam como se fosse voltar vazios, mas eles não voltavam vazios, voltavam com minério de ferro. Então a Vale procurou como coordenar esse transporte combinado, minério para lá carvão para cá, minério para lá óleo cru para cá, até trilho foi combinado, a gente pensa que é impossível, não é não, aqueles os tanques são lavados em alto mar duma maneira, pressão, não é, e limpa tudo, tudo, é uma coisa difícil de a gente perceber, limpa tudo, pode tirar, botar carvão, daqui a pouco botar óleo, daqui a pouco bota não sei o que, navios combinados, isso foi _____________ há já lei para a capacidade do porto. Bem, mas aí o Carajás então, voltamos a Carajás, o Carajás constituiu o Sistema Norte da Vale, a Vale nesse interregno já tinha criado a Docegeo, a Docegeo se encarregou então da pesquisa de todo o território nacional, né, principalmente na a região Amazônica, já tinha subsídios da pesquisa mineral que feita com a Meridional e que a Vale tinha pagado, tinha indenizado a Meridional para ficar sozinha com os direitos, conforme eu te contei, né, criou-se a Docegeo, criou-se a Docenave, o transporte marítimo foi importantíssimo, foi um dos fatos marcantes para que a Vale tivesse êxito, assim como foi da outra vez, a Vale ficou com o Sistema Sul mais aliviado para atender as usinas siderúrgicas nacionais, aqui também se desenvolveu um sistema de pelotização que foi possível quando a questão do itabirito foi resolvida, né, porque aí o itabirito, o itabirito não é nada mais do que a ematita, quer dizer, está corrompida pela sílica e por outros, outros produtos ____________________, então foi feita a concentração eletromagnética via úmida, e o Cauê montou o sistema de enriquecimento, quer dizer, concentração das ematitas contidas no itabirito, criou-se famoso (péletirriti?), que é o alimento para produzir os péletis, construíram-se sete, a essa já são sete, usinas de pelotas de pelotização em mármore, um complexo portuário como Tubarão, duas propriedade da Vale, duas são japonesas da (Nibrasco?), uma é (Hispanobrás?), espanhola, uma é associação com italianos, (Itabrasco?), e agora a última é com a Coréia do Sul (Cobrasco?), todas essas coligadas, a Vale tem maioria, parece que é certo na (Cobrasco?) é que é fifty-fifty, nas outras tem maioria também simbólico, 51, 49 por aí, mas não são controladas por que, porque existe um contrato, um acordo de acionistas que assegura a elas certas garantias, né, por isso é que não são controladas, mas a maioria é para valer mesmo, agora na coligada tem a maioria para satisfazer as leis etc., mas no contrato de acionistas certos direitos são assegurados, que a Vale, como salientei aqui, mas quase todos que foram entrevistados devem ter enfatizado esse aspecto, é um dos aspectos positivos para o êxito da Vale tal ________________ a palavra que a gente ouviria lá no fundo, a confiabilidade também expia tudo, não expia essa confiabilidade só nos clientes, nos consumidores, inspira essa confiança nos fornecedores, nos prestadores de serviço, né, nos empregados, criando também estímulos para eles, procurando manter aquilo que ela criou, __________ não antes, né, a diretoria da Vale antes da privatização, eu sei porque eu fazia parte do conselho, né, sabe-se na firma que toda a diretoria era pessoal, quer dizer, feito lá na Vale, entrou na Vale __________ foi ,subindo, foi subindo até (diretor?), começar pelo Schetino, Schetino fez concurso em Belo Horizonte, e foi para Itabira, Itabira começou como engenheiro de minas, foi subindo, foi subindo, superintendente e tal, tal, foi diretor de operações e tal, foi presidente, foi o último presidente na época da... da, antes da privatização, né. É, acho que ele foi pro Carajás aquela coisa assim que falou, ah, eu já falei que houve antecipação de venda para poder justamente permitir, facilitar os financiamentos, porque com a antecipação das vendas, a Vale chegando nas instituições financeiras e mostrando que já tinha garantido, né, a venda do minério, ela, era muito mais fácil ela obter o financiamento, porque...

P/1 - Já tinha comprado trabalho.

R - A garantia era muito mais evidenciada, né, muito mais... E também a, as condições técnicas da estrada, do porto, o porto, condições técnicas excelentes para navios de até 280 mil toneladas também, né, tem um canal lá de 1600 metros de largura que pode dois navios circular ao mesmo tempo, um entrando, outro saindo, né, o porto também tem instalações praticamente iguais as do Sul, depois que o porto de Tubarão foi duplicado, né, a capacidade instalada dele em termos de tonelada por hora, carregadores de navio, (cardanta, chifrodo?) aquela coisa toda, aquele complexo portuário. Um ponto que eu apenas toquei a primeira vez que estive aqui foi a questão da duplicação da estrada de ferro no Sul, que foi importantíssima para que atender as demandas crescentes, a Vale tinha, em função daquele perigo, né, que havia de ter uma vida curta, as reservas já estavam se exaurindo, na medida... o Cauê, por exemplo, ele é um cone, né, na medida que ele vai rebaixando você vai tirando mais finos, cada vez mais, mais rejeite, quando estava mais em cima você tirava, digamos, para cada tonelada de ematita tirava uma tonelada de rejeito, no fim já era para cada tonelada de ematita duas toneladas de rejeito e tal. E então ele comprou, rendeu usinas para a Cesita também, de acordo com um contrato que garantia a Cesita todo o minério que ela precisasse sempre ela teria, né, permitiu a Vale exportar, garantiu reservas e que sustentasse os contratos também no Sul, né, e principalmente em virtude da situação geográfica das usinas siderúrgicas brasileiras, a Vale tem uma interação, uma espécie de cinergia com quase todas as usinas siderúrgicas brasileiras, uma Usiminas que fica inclusive em situação privilegiada, né, a Vale quando vem, vem para o litoral, um ramalzinho ali ele diz: “Não bota no vagão e leva para a Usiminas.” Vagão para a Usiminas, a Usiminas está como quer, não tem problema nenhum, quando volta diz assim: “Traz carvão para mim.” Vai, entra num ramalzinho e bota carvão lá para ela, pra a Usiminas, a Companhia Siderúrgica de Tubarão está noutra situação privilegiada, né, associação com (Kawasaki?) e agora parece que tem italiano também, e tem parece o Unibanco também, parece que é associada ao Unibanco, e a Usiminas parece que é __________________, o conjunto das associações aí justamente que varia muito, né, mas é creio que mostra o êxito, né, e o êxito é o interesse de todos em... Então é Companhia Siderúrgica de Tubarão, Usiminas, a própria Companhia Siderúrgica Nacional, pelo menos na parte de carvão, porque antigamente não foi fácil fazer essa conjugação, né, porque quem vinha trazer carvão, né, já tinha os seus navios lá, já tinha os seus contratos, já tinha os seus relacionamentos, não ia ceder assim de graça para a Docenave ou para a Petrobrás trazer o carvão que já era, vamos dizer, quase que cativo deles, né, não foi fácil, mas conseguimos pelo menos, né, 50% ___________ do transporte marítimo que é considerado o filé

mignon aí nessas operações todas, era na venda, proporcionou as vendas (ciander?), né, quer dizer, a venda lá no destino e não a venda afobe aqui, né, no porto, deixando o transporte marinho todo por conta.

P/1 - Com terceiro?

R - Lucro com transporte marinho, né, tudo isso. Mas eu estava dizendo na duplicação da linha, a duplicação da linha era necessária, porque o Sistema Sul tinha adquirido mais reservas na Cesita, também comprou (Sarrão?) (Timopeba?), outras, outras jazidas, todas elas nos entornos, nas imediações da via, né, a Vale hoje não é uma linha simples, ela é uma linha dupla e cheia de ramais, né, somando tudo isso deve dar uns 700 e tantos ramais, fez também um ramal de (faca?), quer dizer, aquele que eu disse que era importante a interação com a rede ferroviária não foi possível, porque antigamente a Vale ficava do lado de lá a Vale do Rio Doce, do outro lado, muito precária, né, e tal. Mas a Vale havia mineradores, ___________, os alemães da (Ferperto?) e o (Samiter?), (Samiter?) em Alegria e a (Ferperto?) lá em __________ que diferiam, o ramal está se introduzindo, mas preferiam transportar pelo lado de cá, para o porto de Tubarão, porque o porto era maior, né, e a estrada, a estrada inspirava mais confiança e tal. Então foi feito entendimento com rede para estimular também o transporte pelo lado de cá para a rede inteira, transporte de minério, mas daí, daí cresceu a idéia e surgiu o porto de Sepetiba que hoje é uma realidade, um porto que vai ser dentro de pouco tempo um porto maravilhoso dentro da América do Sul, não tenhamos dúvida.

P/1 - É nesse momento que surge o porto?

R - É, tudo isso surgiu quando a Vale galgou a Serra Geral, em torno de 1500 metros entrou na linha da rede ferroviária, mas ao mesmo tempo a Vale proporcionou a rede ferroviária diversas vantagens, inclusive de fazer o corredor de transporte, porque não adiantava nada a Central do Brasil e rede com aqueles trens indo até Goiás, indo até Patos de Minas, indo o Triângulo Mineiro, se não tivesse a linha da Vale para trazer para cá. Então quando integrou isso e fez o corredor de transporte trazendo os grandes de Cerrado, o Eliezer deve ter falado isso, eu diria assim que ele é um entusiasta desses. Hoje tem uma realidade, né, está aí parece que, eu li um jornal ontem ___________ de que só de soja nós vamos exportar 30 e tantos milhões esse ano, milho outros 30 e tantos milhões, quer dizer, isso tudo foi possível por causa do corredor de transporte que existe, o complexo portuário é um complexo de múltiplo, ___________, né, de múltiplas possibilidades, né, é para grãos, é para minério é claro, né, ________ minério dentro do carvão para receber carvão, para exportar grão, para receber óleo também para a Petrobrás, e aquele minério todo é um complexo verdadeiro, né, para exportar os produtos siderúrgicos da Companhia Siderúrgica de Tubarão, que exporta o aço bruto, né, e tudo isso. Então é no...

P/1 - Mas esse acordo não foi feito, como é que ele foi costurado, que que ele implicava?

R - Ele não, ele foi costurado pelo seguinte: porque existia o Conselho Nacional de Transportes, entende, o presidente da rede fazia parte integrante do Conselho Nacional de Transporte, na Vale tinha seu representante, durante muitos anos tudo o que um queria o outro achava que ia

prejudicar, quando chegou num acordo então ninguém, quer dizer, para ser, dar o exemplo concreto, a Rede Ferroviária concordou no Conselho Nacional de Transportes que a Vale fizesse o ramal até a fábrica porque, porque concordou, porque era um cliente dela, e para cada tonelada, a Rede não podia vender o minério, ela não é o vendedor, para cada tonelada que a (Fetec?) vendesse, quer dizer, transportasse para ela lá para a usina, pagando frete é claro, com o preço normal de tudo, tinha que colocar uma tonelada também para a Vale do Rio Doce com o minério dela de Itabira, ou da mina de Alencar, entendeu, também a mesma coisa foi o contrato com (Samirto?) nessa base. Quando a Rede compenetrou que isso ia beneficiar o Brasil, teria aumentar a exportação, e também a Vale emprestou gente, orientou e facilitou em tudo que era possível, ligando as linhas lá para o interior, para poder escoar e fazer o corredor transporte, né, o pessoal também ajudando, né. O José Inério, por exemplo, o José Inério, não sei se você já ouviu falar no José Inério, o José Inério é um dos grandes engenheiros, hoje ele está meio doente coitado, o José Inério, mas se Deus quiser vai ficar bom, ele, um grande engenheiro ferroviário, você sabe, ele a Vale botou a disposição da Rede, foi trabalhar como diretor da Rede, com toda a força possível na linha centro ele melhorou completamente aquilo. Então o minério que era uma coisa eventual, uma coisa precaríssima do lado de cá da Rede Ferroviária passou a ser o principal transporte.

P/1 - Na própria Rede.

R - Das minas que estão do lado de cá, né, no Quadrilátero Ferrífero, que o Quadrilátero Ferrífero não é só do lado da Vale, o Quadrilátero Ferrífero abrange toda aquela região, né, em Congonhas e Itabirito, tudo isso fica lá no lado da região de interesse da Rede Ferroviária. Então foi, foi, é difícil entrar em detalhes, eu estou, mas foi feito um entendimento em que cada qual procurava ajudar o outro sem aquela rivalidade que existia, porque a rivalidade quem saía perdendo era o Brasil, né, a Rede altamente deficitária, tendo um transporte de minério seguro, como passou a ter, melhorou consideravelmente, né, não chegou a se superávitar, mas chegou a melhorar consideravelmente ele __________________, mas quando chegamos, por exemplo, na Rede, nós conseguimos diminuir, por exemplo, uma décimo da terça parte do que existia, a terça parte.

P/1 - E tudo (dela?)?

R - A terça parte do que existia quando nós entramos, né, (porque ela tinha um pessoal político?) ________________ e tal. O problema ferroviário é um problema cíclico no seguinte sentido: as vezes eu costumo dizer, problemas ferroviários começam onde problemas rodoviários acabam, porque você faz uma rodovia, você faz o asfalto, o concreto, né, faz o revestimento, depois fazer as obras de arte e tal, é só manter a ferrovia, a rodovia, né, fazer a manutenção. A estrada de ferro depois que você faz a linha, a infra-estrutura, você ainda tem

que, você ainda tem lastro, você ainda tem dormência, você ainda tem os trilhos, você ainda tem aparelhos de mudança de via, você ainda tem a locomotiva, você ainda tem os vagões, e o minério de porta a porta, né, o trem não vai de porta a porta, o caminhão pode ir de porta a porta, há uma diferença muito grande entre rodovia e ferrovia. E no Brasil as ferrovias foram feitas praticamente até 1920, porque as ferrovias eram para exportar, era para levar produtos de exportação, né, café principalmente e tal, então você vê aquelas ferrovias de uma maneira geral elas são na direção do interior para o litoral, né, em busca do porto do Rio de Janeiro, em busca do porto de Vitória, mesmo em busca do porto de Paranaguá, um porto do Rio Grande do Sul, né, ela é assim nesse sentido. As rodovias vão longitudinal, as estradas, o transporte longitudinal, no sentido paralelo a costa, que devia ser preponderantemente de navegação de cabotagem foi, foi conquistado pelas rodovias, mas é sabido que o transporte rodoviário é muito mais caro, né, o transporte rodoviário ele é mais ou menos o custo na proporção de um transporte fluvial para custos um seis ferroviário, dois ou 14 rodoviário, ___________, né, e nada mudou. O transporte mais barato, é lógico, né, porque não tem drenagem, não tem

buraco, né, (riso) é o fluvial, mas acontece que o fluvial nem todos os rios são navegáveis, né, e o Brasil se descuidou um pouco disso, você pode ver que é um dos segredos da América do Norte, a América do Norte tem rios navegáveis por tudo quanto é lado, né, e a Europa também, né, navegável, né, rio navegável na Europa é a coisa mais comum, transporte fluvial, aqui... Bom, mas nós vamos devagar. Você me pediu para falar alguma coisa sobre a Rede, a Rede hoje está privatizada e tal, foi retalhada, né, está privatizada e é possível que dê certo, o curioso é o seguinte: é que houve uma fase no Brasil em que as ferrovias eram privatizadas, todas as ferrovias paulistas eram privatizadas, a Mogiana, a Sorocabana, a Paulista, a Santos-Jundiaí, da Rede várias eram São Paulo velho, a Nordeste, também era ________, a Leopoldina, a Leopoldina _____________ enorme também, várias estradas, aí passaram a ser centralizadas, né, a Rede Ferroviária Federal, depois, agora voltaram a ser privatizada, né, e é possível que dê certo porque agora a coisa está muito mais desenvolvida, e descentralizou, é entrou gente interessada em ter o transporte porque quer transportar aquilo que está produzindo, o Brasil produziu muito, né, em matéria de projeto de agricultura, em transporte. Agora ainda há, ainda há muita distorção nisso, você andando nas rodovias você vê cargas que são nitidamente ferroviárias nos países adiantados, nitidamente ferroviárias, estão sendo transportadas pelas rodovias em caminhões enormes, pesados, com um peso enorme por eixo, arrebentando aquelas pistas de rolamento que toda a hora tem que estar consertando aquilo, né, quando poderia ser, carros, por exemplo, viaturas, automóveis, __________ usar tudo em caminhão rodoviário, passa aquela estrada ali, ali perto da _________, subindo aquela cerca

num... (riso) aquilo botava dentro dum trem, nós botamos ___________ também, não sei porque, depois não houve qualquer coisa, não sei o que que houve, não sei também como é que está hoje.

P/2 - Dr. Hélio...

R - Vagões vazios, vagões livres, abertos, enche aquilo de automóvel e toca lá, mas é claro que não pode entregar na porta da, da, daí das empresas...

P/1 - Põe para funcionar.

R - Tem que ir buscar lá, né, no terminal, né, isso é claro. Mas o que você ia perguntar?

P/2 - É sobre as cargas, quais são as cargas preferenciais para os caminhões?

R - Bom, em tese, as cargas para os caminhões são as cargas maciças, quer dizer, transporte para os caminhões.

P/2 - Caminhões.

R - Bom, o caminhão é melhor raciocinar para ver se, as cargas ferroviárias são cargas, normalmente de __________, pode ser sólidos ou líqüidos e a grandes distâncias, não tem sentido você transportar ferro para o ferroviário, mesmo que seja cimento, daqui para ali, daqui para Petrópolis, daqui para aquele lado, aí tem que ser mesmo é caminhão, agora para transportar grandes é a ferrovia porque a ferrovia dá um pique inicial que depois é, né, ela vai embora, óleo diesel e tal, diesel e elétrico em geral tal. Mas a carga, as cargas são, as cargas ferroviárias em geral são os granéis, ou sólidos ou líqüidos, e a grandes distâncias, isso é uma coisa ______________. Agora então em Carajás eu acabei fazendo...

P/1 - Seu Hélio...

R - Depois eu fiz assim, eu tinha tomado nota daquilo que eu fiz aquela pergunta a mim mesmo, né, (riso) a pergunta é a seguinte: entraria as economias nesse ________________ atrás, livre sobre a peste de deficiência, gerência política e empreguismo, né, emplacava com pobreza sempre, né, eu não gasto muito para ser injusto, né, o que acaba por vezes a leva-los a resultados desastrosos, né, a Vale, ao contrário sempre foi reconhecida como uma empresa de sucesso, comparada aquelas cujo o êxito é admitido internacionalmente, quais as razões que progredimos? Deixa eu explicar, vou explicar esse fato, eu então, eu tinha abordado aqui esses, esses pontos, quer dizer, eu dividi assim na minha cabeça, quais foram as atitudes, os comportamentos, as práticas de ação continuada, continuamente a vale procurou abordar, chamei atenção política, a Vale sempre pegou aquele seu sistema ___________ que é vital, né, para a estrada de ferro Vitória-Minas, se existe lá vida lá, e não existe uma estrada, vocês sabem perfeitamente porque não é riqueza, riqueza é uma (gazeta?) pode ser explorada economicamente senão... Então aquele sistema ferroviário sempre foi tratado como o maior espelho ___________, sempre acompanhando o que havia de melhor, o que havia de mais adiantado no mundo, para isso os nossos engenheiros visitavam as estradas melhores do mundo. A Vale, há quem diga, mas eu não chego a esse ponto, é esse ufanismo também exagerado acho que é até perigoso, mas é uma das melhores do mundo, dizem que é a melhor, é uma das melhores, certamente é uma das melhores estradas de ferro do mundo em termos de que, em termos da geometria da linha, que que é a geometria da linha, é o ponto de vista altimétrico, rampas etc., o ponto de vista planimétrico, curvas, a curvas do Carajás, por exemplo, hoje, é

860 metros, é o raio mínimo Carajás, né, aqui no Sul é 360, mas no princípio era cento e tantos metros, mas você imagina o que é um trem fazer a curva, primeiro que não poderia ter uma composição desse tipo, 860 vagões, né, ___________ um outro motivo fazendo as rampas, tinha que colocar locomotiva help para ajudar, né, na rampa e tal. Bem, então um dos pontos fundamentais que não é a questão de ser segredo, mas que foi um dos pontos básicos para o êxito da Vale foi cuidar de sua ferrovia de uma maneira extremamente permanente, quer dizer, cuidadosa, evitando danos de segurança, o CPC, Centralize Traffic Control, é o controle de tráfego centralizado, lá em Vitória sabe direitinho se um trilho quebrou no Km. 422 mais 3 metros, sabe exatamente, vai um socorro imediato para evitar, né, um acidente, tudo é controlado, e ___________ morder, quer dizer, da mecanização completa, da manutenção da linha, a solda dos trilhos, os dormentes tratáveis, aquela tecnologia toda, que esse José Inério foi um dos artífices disso, né, o Eliezer também, o Eliezer foi chefe de via permanente lá na estrada, trilho, por exemplo, era 35 quilos por metro passou para 57 quilos por metro, quem fez os primeiros trilhos ________ 1950, quatro, se não me engano foi uma reserva assim, ele provou, todo o mundo colocou a mão na cabeça: “é, vai botar esse trilho lá”, o engenheiro ficava assim. Bom, a estrada de ferro sempre com um cuidado maior, o pessoal também, já chamei a atenção disso, todo o recrutamento era na Vale, de seleção em seleção rigorosa feita por terceiro que fomos fazendo com outras entidades, que representa o Instituto de Psicologia Aplicada da PUC etc. e tal, íamos __________, a Vale é uma empresa preponderantemente, não significa que seja unicamente, dou valor a todos os profissionais, todos os profissionais, aliás com seu calor cada um... mas na época preponderantemente engenharia, né, engenharia ferroviária, engenharia de mina, engenharia, engenharia portuária, né. então nós mandávamos emissários nas faculdades de engenharia para convidar os melhores alunos para fazer os concursos etc., a Vale pegou vários dos melhores alunos das faculdades que iam terminando os cursos, e fazia sistematicamente o controle do desempenho dos empregados, já disse para vocês também que o gerente também era controlado, porque se eles ficassem paternalistas, eles como fossem julgados, eles seriam julgados com rigor, e esse foi um dos segredos da companhia criar ambientes também e estímulos para que os concorrentes não tirassem empreendimentos que a Vale formava, mandava viajar, tirar curso, fazer estágios, não interessante quando chegasse um concorrente tirar, né, é para isso, não adianta também ser (pateotada?), tem que haver estímulos para todos os empregados para que eles se sintam...

Fita 2
Lado A

R – ...recompensados, e isso em qualquer empresa, qualquer organização. Na organização de vocês certamente existe isso. Bem, esse foi outro dos pontos que foi extremamente cuidado para a continuidade administrativa, um grupo começava e depois passava a um outro posto mais adiantado, passava para gerente, diretor, todos esses que conversaram com vocês aqui, João Carlos Linhares, Schetino, Eliezer, todos eles começaram do início, começaram do início parece redundância, mas eles começaram, entraram pela janela, não entraram por cima, eles entraram e foram galgando seus postos. Isso tem inúmeras vantagens que são tão óbvias que eu me dispenso de comentar, porque todos entendem disso, compreende isso, prega isso, mas nem todo mundo faz __________ porque eu vou fazer. Esse é um dos pontos. Outro ponto que eu considero vital para o êxito da Vale, responder por que ela fez todo esse sucesso apesar de ser estatal. Foi o Porto de Tubarão, porque sem o Porto de Tubarão nós ficaríamos a vida inteira, poderíamos trabalhar o melhor que pudéssemos mas ficaríamos a vida inteira com uma desvantagem enorme em relação aos outros concorrentes nossos, principalmente os da Austrália que estão pertíssimos do Japão, os canadenses e os africanos também. Então o Porto de Tubarão permitiu aquilo tudo que vocês já compreenderam bem. O Porto de Tubarão e a duplicação dele.

P/1 – E a diversificação?

R – A diversificação…

P/1 – Celulose…

R – A diversificação eu acho que também foi um dos pontos de êxito da Vale. Por quê? Porque, em primeiro lugar ela foi levada a isso, ela criou a Docegeo, mas por que foi criada a Docegeo? Já por causa do Carajás, por causa da pesquisa do Carajás. Foi criada logo no princípio, em 1970, começou Carajás em 1968, empreendimentos, já sabia que estava lá a U S Steel, estava lá outra empresa também americana lá no Amazônia, a Vale criou a Docegeo e da Docegeo resultou descobertas de outras ocorrências minerais e aí a Vale adotou aquele princípio, que se não me engano é um princípio do Dias Leite, ele dizia já naquele tempo, não é necessário que haja a maioria estatal, é necessário que haja a maioria brasileira, e a maioria privada, como é que era possível isso, maioria brasileira e maioria privada, vamos pegar o exemplo da (Valesul?), toda a _______________ veio do norte, a (Valesul?), por exemplo, que está aqui mais perto, nós tínhamos no início quarenta e tantos por cento e conseguimos depois de muitas tentativas etc., o apoio da Companhia Brasileira de Alumínio, do Grupo Votorantim, o Antônio Ermírio de Moraes, é um empresário espetacular, um sujeito de uma visão tremenda. Então ele, juntando com a Vale, a maioria ficava brasileira, mas ele juntando com a Shell, com a (Biliton?) da Shell e com a (Reinalds?) americana, ficava a maioria privada. Ele então, porque ele é privado, deu para entender, né? Então é o princípio de, várias dessas coligadas são assim, você vê que nós não temos, nós estamos na maioria com outras empresas brasileiras e o Mineração Rio do Norte aconteceu uma coisa parecida com Carajás, quem descobriu a bauxita, em (oriximiná?), Rio Trombetas, foi a (Ocam?), empresa canadense, mas a (Ocam?) chegou num ponto que também disse, bom, como é que eu vou, sozinha, me meter a explorar isso nesses confins do Rio Amazonas lá, perto da Guiana, e ainda tem que arranjar financiamento, tal, e tem aí perigo político de de repente internacionalizar, o melhor é a gente se unir, a Vale do Rio Doce é conhecida, tal, e nós então fizemos um, acordo com a (Ocam?) e procuramos várias empresas estrangeiras, a (Reinalds?), a (Nortsidral?), que é a norueguesa, tinha no princípio uma tal de (INI?), espanhol também, e a (Beneton?), holandesa, e CVA, também entrou lá, entrou, a CVA foi histórico esse dia, sabe, eles chamavam de (way dow?), retirar-se do projeto, estavam todo mundo querendo sair do projeto porque não tinha financiamento. Nós procuramos o Banco do Amazônia me lembro até de quem era o Presidente do Banco do Amazônia, se chamava Jesus não sei de quê, não sei de quê. Eu me lembrei desse nome porque surgiu uma piada na assembléia, até que surgiu Jesus para nos salvar, (risos) coisas desse tipo, aí arranjamos financiamento e aí eles que estavam retirando-se

(way dow?), só se ouvia essa palavra, tinham um medo danado, estavam se retirando, daí nós fomos a São Paulo, porque o tal de (Patrick Hathy?) que era o Superintendente da (Ocam?) no Brasil, sujeito extremamente, foi transferido porque foi promovido a Diretor no Canadá, e teve uma festa de despedida em São Paulo, nós fomos lá nesse jantar e por sorte sentamos lá com o, eu não lembro se era com o Lábaro de Setúbal ou era o Prefeito. Antônio Ermírio de Moraes lá, porque ___________________________ Diretor-Presidente da ______________ na época. Sentamos à mesa e tal, e aí no fim eu falei assim, Doutor Ermírio será que o senhor podia me receber amanhã, eu estou aqui em São Paulo, tal, e eu crente que ele iria dizer, então o senhor marca com a minha secretária, mas não, a hora que o senhor quiser, eu disse nove horas, tá bom. Fui lá, quando cheguei lá a moça já estava me esperando, já tinha meu nome, fui falar, fiquei até meio-dia e ele no fim da conversa ele disse, não vamos mais sair coisa nenhuma, e vou dizer mais, vou telefonar para a (Reinalds?) agora, porque me dou muito com o Mr. (Reinalds?), em __________ , Estados Unidos, e telefonou para lá e disse, olha, a coisa agora está bem esquematizada, está merecendo confiança, e ele voltou. Tinha 5% mais os 5% eram imprescindíveis, naquele princípio de que tinha que ter a maioria brasileira, depois ele passou para 10% se não me engano hoje ele tem 12,5% e hoje quem tem menos é a (Ocam?), entrou a (Alcoa?) lá, eles mudam muito, a (Alcoa?) entrou, mas a (Ocam?) continua. Na Mineração Rio do Norte hoje se não me engano quem tem mais é a Vale, a do norte é a (holding?), lá do alumínio, do alumínio vocês já entenderam também, né? É o sistema integrado vertical, bauxita, alumina, alumínio, a alumina 60% é para abastecer a (Albrás?) lá, a produção de alumínio, se não me engano 600 mil toneladas. A capacidade da Vale é da ordem de 340 mil toneladas de alumínio metálico, para isso ela precisa de 600 mil toneladas de alumina e manda mais 100 mil aqui para a (Valesul?), mas a (Valesul?)não tem alumina perto, vem de lá, mas o mercado está pertíssimo dela e o Porto de Sepetiba está ali, está a 21 quilômetros da (Valesul?), e o mercado, se não me engano 50 a 60% do alumínio metálico brasileiro é consumido nessa região Rio-São Paulo, está numa situação geográfica em termos de mercado privilegiada e em termos de matéria prima não está privilegiada mas recebe o minério de uma coligada da Vale que é a (Alunorte?). É a ________________, a (Alunorte?) e a (Albrás?) e a (holding?) é a (Alunorte?). Agora a (holding?) não é a (holding?) da _____________________, não, ela é (holding?) da (Albrás?) e da (Alunorte?) é Valenorte, a (Alunorte?) é a empresa de alumina que recebe a bauxita e transforma em alumina, vocês sabem que alumínio é alumina mais eletricidade, aqui também tem uma vantagem, é que tem a energia elétrica da Light e tem a energia elétrica de Furnas e entra numa tabela que é benéfica para a indústria do alumínio. Lá no norte a (Albrás?) não conseguiu até hoje entrar, ela entra na tabela normal de consumo, tanto que há uma perspectiva de na privatização a Vale entrar lá na Eletronorte porque assim ela estaria financiando a Tucuruí, para a Tucuruí dar mais uma linha lá para a (Albrás?), isso tudo é um complexo que eu ás vezes chegava a perguntar, será que a Vale não está ficando ingovernável, era o caso de perguntar. Hoje eles separaram, um estudo ainda feito em 1985, se não me engano, um comitê de administração, com a (Arthur Deliton?) um grande especialista em reorganizações de empresas, e elas fez, vocês viram um volume dessa grossura assim, um estudo que termina por sugerir, faz vários estudos de restruturação, segundo critérios geográficos, segundo critério tal, segundo critério de unidade de negócio, e conclui que a Vale estava pronta para se constituir criando uma (holding?) e a unidade de negócios dos ferrosos e a unidade de negócios do alumínio, a unidade de negócios da madeira e da celulose e a unidade de negócios dos transportes marítimos se não me engano. E hoje parece que a administração da Vale se aproxima muito dela, tem a unidade que não é de negócio é a unidade corporativa, mas tem a área do alumínio, a área da logística, transporte e tem a área da mineração e área da madeira e celulose também, isso foi feito naquela época pelo (Arthur Deliton?). Bem, então era esse ponto.

(PAUSA)

R – Eu estava falando sobre a dificuldade que se tem quando vai fazer um projeto desse (joint venture?) a equação financeira desses projetos, porque os estrangeiros com razão eles querem, primeiro, que você dê demonstrações fidedígnas, cabais, de que você vai entrar com capital próprio, uma porcentagem razoável. Segundo, que você tem conceito perante os bancos domésticos, principalmente banco do desenvolvimento econômico, que aqui é uma espécie de termômetro para eles. Se o banco aprova o seu projeto eles já olham com certa confiança, e o contrário também, se o banco desaprova nem vai falar com eles, então naquela célebre reunião da assembléia que parecia uma Liga das Nações, uma ONU, o que era importante era nós assegurarmos que o financiamento, aquela parcela, eu não me lembro exatamente quanto era, mas era da ordem de 40% do total, estava assegurada pelo Banco do Amazônia, o (BAZA?), e o (BAZA?) tinha disponibilidade de atender a projetos que fosse do interesse do Amazônia, e nós tínhamos já conversado com eles e mostrados e feito estudos de viabilidade, mas não tínhamos a palavra final, é isso que eu estava contando. Então essa reunião que eles estavam se retirando, estavam desistindo, era vital que nós conseguíssemos antes da viajem, foi uma coisa patética porque a gente olhava para o relógio e sabia que eles tinham que estar no aeroporto, digamos às 11:00 horas da noite

e já eram 6:30 da tarde, eu sei que a uma certa hora, quando eles já estavam se levantando chegou a notícia, o Doutor Jesus chegou aqui no aeroporto e conseguimos falar com ele. Naquele tempo ainda não tinha celular, nós conseguimos falar, meu assessores conseguiram a ligação com eles, parece que um foi para o aeroporto esperar, e aí telefonou para o hotel, foi para a linha, recebemos, eu botei outro sujeito no telefone para confirmar, embora ele disse confiar na minha palavra, mas eu disse, fala o senhor também com ele, pode ser que eu não esteja entendendo bem, e ele confirmou que estava garantido o financiamento, e aquele dia foi o dia então que eles não tendo saída garantiram a presença, por que ali não é só o financiamento que é importante, e talvez seja até mais importante, é preliminar, é prévia, é saber se você tem mercado ou não, e o regime ali era take or pay como é o regime na (Albrás?) também, se não me engano é take or pay aqui na (Valesul?) também é take or pay ou você toma a parte que você se comprometeu a pagar ou paga por ela, é toma ou paga. Aqui na (Valesul?) é o sistema que eles chamam de (toling?) é a encomenda, é sobre encomenda, a (Valesul?) ela tem digamos 80 mil toneladas de capacidade de alumínio metálico, ela vai em função das encomendas lá da Vale do Rio Doce ou do outro sócio principal hoje, que se eu não me engano é a (Biliton?) então esse sistema de (joint venture?) tem essas peculiaridades, quais são essa peculiaridades, recordando, eles têm que ter acordo dos acionistas que lhes garantam, de maneira bastante clara e que seja respeitada, porque se um dia, o que as entidades financeiras chamam, você entra em (be foult?) você entra em falta, não cumpriu, não cumprimento, daí você fica desmoralizado, e isso tudo, eles têm um sistema, que é natural, você compreende, eles tudo ficam sabendo, ainda mais hoje com esse sistema de Internet, esse sistema de comunicação que existe um deslize que você cometa faltando com a palavra ou tendo uma atitude que não seja ética você está pifado para outros empreendimentos, não tenha dúvida, isso eu enfatizei da vez passada com vocês porque eu acho esse um dos pontos vitais para o êxito da Vale, é essa confiabilidade que ela inspira. Não digo que em nenhum dia ela tenha feito uma injustiça, mas certamente nunca foi deliberada, ela sempre procurou cumprir todos os seus compromissos inclusive com as entidades financeira que é importantíssimo e com os clientes. Então esse ponto é vital, outro ponto é que com isso, esse desenvolvimento, essa diversificação que era proveniente de que, daquilo que eu já acentuei de que a Vale do Rio Doce é controlada pela União Federal, o Governo é um episódio, o Governo está ali no momento, ele representa naquele instante a União, mas quem possuía a maioria da Vale era a União Federal, o Tesouro Nacional. Através de todas estas administrações, eu fiz parte sem que sejam os três primeiros Presidentes, que foram Israel Pinheiro, _____________ e (Dermeval Pimenta?), os outros todos eu fiz parte, o Doutor ________, o Doutor Eliezer Batista, o Doutor (Mascarino?), o Doutor Dias Leite, O Doutor (Roquete?), o Doutor Joel Mendonça, esteve um ano lá, ele que foi da Petrobrás, esteve um ano na Vale, e bom Presidente, muito bom, sujeito inteligente, ele foi porque o Fernando teve lá um desentendimento com o Ministro ___________ e estava mais ou menos no fim do Governo e aí o ______________ pegou o Secretário Geral dele que era o Joel e botou na Vale, botou o homem de maior confiança dele, e para mim foi uma revelação, depois eu não admirei que ele tenha ido para a Petrobrás e tenha feito uma administração parece com êxito. Bom, mas isso não vem ao caso, o que vem ao caso é o seguinte, anualmente o acionista majoritário ou recomendava ou aceitava as recomendações da empresa no sentido de reinvestir nos resultados, não todos, distribuir alguns dividendos, mas reinvestir a parte preponderante dos resultados e é isso que alguns, uns inadvertidamente, outros de má-fé, dizem que a Vale distribuía pouco dinheiro para o Governo. Primeiro que era o Governo que decidia, o Governo preferia transformar a Vale em um agente de desenvolvimento para o país, e transformou, em empreendimentos, quer pela sua geografia, quer pelo seu risco, quer por quaisquer outras razões não tinham o (apell?) necessário para que a iniciativa privada se lançasse neles, eventualmente não tinham até, pelo volume de recursos que iam ser envolvidos, quem é que teria ativo tão grandioso, tão garantido para oferecer as entidades financeiras. Outras podem ter mas não é comum como a Vale. A Vale só 100 locomotivas que ela _________, ou a mina do _________, ou três navios daqueles monstros que ela dê por garantia já é uma garantia, então isso tudo concorreu para que a Vale se transformasse, quer pelo reinvestimento dos seus resultados, dos seus lucros ou margens como chamam, quer pelo seu crédito nas entidades financeiras principais, desde a criação dela, ela foi criada e uma das condições era _______________________ emprestar 14,5 milhões de Dólares, vocês sabem da história da Vale, é o Tratado de _____________ de 1948, então desde daquela época, então são estas condições básicas que a Vale tinha para reinvestir, diversificar suas atividades e se transformar num agente de desenvolvimento do país, porque no crescimento verticalizado, por exemplo, bauxita, alumina, alumínio, floresta, (wood cheaps?) cavacos de madeira, celulose, papel, essa verticalização, quer na horizontalização, coisas diferentes, projetos diferentes, projeto do ouro, coisas que eu não me disponho a falar porque realmente essa eu não estou muito, não estou alheio, mas não penetrei, não mergulhei nesse assunto, que eu estava muito ligado a outros nessa época, que foi em 1970, 1980, é o tal de, famoso, vocês já devem ter gente que explicou a vocês o negócio do ouro lá da Serra Pelada, eu sei que foi uma tragédia aquilo, o Governo _________________ também não queria criar problema social e aí,

a Vale tinha todos os direitos daquilo, aquilo tinha 10 mil homens, daqui a pouco tinha 50 e tantos mil, mas esses homens também coitados, ganhavam uma miséria, quem ganhava eram os tubarões que estavam ali controlando aqueles, como é que eles chamavam, os garimpos, os setores _____________________________ . O pessoal da Vale naquele tempo, vocês quando forem agora lá vocês vão ver, o pessoal da Vale viveu ali momentos de extrema ansiedade e extrema preocupação, não foi fácil não, e o Governo, e até certo ponto se compreende, não ia entrar lá à doida, a cometer desatinos, como depois parece que cometeram, mais tarde, aqueles homens lá que invadiram a estrada. Esse aspecto eu não estava mais, eu estive em Carajás durante a primeira fase que foi a fase até a saída da U S Steel então eu tomei parte da comissão que fez os _____________________, depois a ______________________ se encorporou à Vale e aí foi feito (stilling comite?), o comitê de implantar o projeto, tocar o projeto, foi na segunda administração do Eliezer, e aí foi feito a simplificação do projeto, como eu expliquei, a venda antecipada do minério, financiamentos garantidos, equação financeira garantida, tocaram o projeto e ele se inaugurou com êxito.

P/1 – O senhor estava no comitê, o senhor foi para o comitê?

R – Não, eu era da diretoria, esse era o executivo deles lá, era o comitê, se não me engano, era o pessoal da Amazônia mesmo, mas eu acho que o

França Pereira esteve algum tempo, o Paulo (Vivácua?), esteve também, o ______________ Silva também esteve, mas não na coordenação, esteve como elemento muito importante na parte financeira. Eram homens que eram da Vale mas tinham ido para o Amazônia, e quando a Amazônia foi incorporada eles vieram, mas aquilo foi feito por empreitada, os grandes empreiteiros do Brasil trabalharam, foi repartido, o Camargo Correia, os (Guttierre?), os grandes empreiteiros, foi feito e num tempo razoável em condições excelentes. A tipografia do terreno era muito favorável. Bem, então estes são os aspectos.

P/1 – O senhor ficou na diretoria, o cargo do senhor era Diretor?

R – Nesse tempo eu já não era Diretor, eu era do Conselho de Administração, mas o Conselho de Administração daquela época, ele só mudou as características no final da década de 80. Naquela época pela leio Conselho era para valer, era full time e o Conselho tinha três comitês, o comitê de finanças, o comitê de comercialização, e o comitê de administração. Eu era o coordenador desse comitê de administração, por isso que eu fui interface com a (Arthur Deliton?) naqueles estudos de restruturação, tinha um comitê de comercialização e um comitê de finanças, então todos os assuntos que vinham da Diretoria eram estudados por estes três comitês antes de serem submetidos ao Conselho, o Conselho não era de fritar bolinho não, era para valer. Depois voltou o Conselho composto por políticos, tal, depois mudou de novo, ficou no meio termo. Esta última vez que eu fui para o Conselho eu já estava aposentado, eu fui eleito pelos acionistas minoritários que tinham o direito de eleger, me convidaram lá, eu fiquei de pensar e no dia seguinte eu acabei aceitando, mas o Conselho, não digo que era de fritar bolinho, mas era de ir uma vez por semana, quando muito, uma vez a cada 15 dias, os assuntos vinham todos mastigados, a gente só fazia perguntas, não era um Conselho atuante, era um Conselho teoricamente para as grandes decisões estratégicas, mas teoricamente, na prática as próprias decisões já vinham praticamente prontas.

P/1 – Mas teve um momento atrás que o Conselho tinha uma…

R – Hoje, acredito que hoje, como as representações de força que botaram seu dinheiro lá, essa que é a verdade, eles devem ter os seus representantes lá que devem ser muito mais atuantes do que representantes nomeados pelo Governo, no Conselho. Então em termos de administração ela teve fases em que só tinha a Diretoria, a Diretoria era deliberativa e executiva. Houve fases em que ela tinha um Conselho deliberativo atuante full time e a Diretoria executiva, e houve fase que tinha um Conselho pró-forma e uma Diretoria executiva que tinha praticamente as funções deliberativas e executivas, o Conselho só referendava, homologava, por assim dizer. Isso nem sempre é pacífico, se faz com muita tranqüilidade, porque às vezes, as pessoas que se reúnem no Conselho dizem, bom, o que é que nós viemos fazer aqui, está tudo mastigado, está tudo pronto, já está decidido, mas às vezes há

possibilidades de orientação, depende muito do presidente, se o Presidente é hábil ele nunca avança demais lá na área executiva sem ter o sinal verde da área deliberativa. Nesse último ano foi o Francisco _____________ que tinha toda a sua formação, como eu contei, na Vale, fez concurso em Belo Horizonte e o ______________ tinha uma sensibilidade muito grande para isso, tinha muita habilidade…

Fita 2
Lado B

R – ...para trazer no Conselho, não trazer fatos consumados. Na minha opinião foi uma revelação como Presidente porque ele era um homem de minas, engenheiro de minas, metalurgia, e fez toda a sua carreira em Itabira, pegou a superintendência, depois foi para Diretor de operações, mas acontece o seguinte, é que ele é

filho de um ferroviário que foi Diretor da _______________ antes que eu fosse, antes da minha ida. Eu ouvia falar muito no nome do pai dele, deixou um nome lá, um bom nome de engenheiro ferroviário. O

_____________ nasceu no meio de linguagem ferroviária, vendo trens, como meus filhos, meus filhos sabiam mais do que eu quais eram as locomotivas que tinham entrado na oficina, diziam, pai a 326 entrou na oficina hoje, parece que está quebrada, e o ____________ foi criado nesse ambiente, depois chega a Diretor de operações da Vale para trabalhar nessa integração mina-ferrovia-porto e o cliente, porque tem que viajar para saber o que o cliente quer, se não tiver também, aí foi a Presidente, e chegou a Presidente com uma experiência enorme. Não foi só ele, mas ele foi um dos que, Mascarenhas foi outro que chegou à presidência com uma experiência muito grande. O Eliezer também, nem se fala. O Marinho, vocês conversaram com o Marinho?

P/1 – Ele foge da gente. (risos)

R – Ele foge? O Marinho me contou outro dia, acho que eu contei, uma boa do Eliezer, que um tal de Santiago Dantas foi lá na fazenda de concessões da _________ e aí o Eliezer estava contando lá para o Santiago que no Pacífico ele tinha visto uns transportes, tal, transportes marítimos, ___________, aquelas pranchas e aí que o Santiago Dantas, que era uma cabeça, disse, Doutor Eliezer, lá no Pacífico, será que aqui no Atlântico também daria certo uma coisa dessas, e ele respondeu, olha Doutor Santiago, o Atlântico perto do Pacífico é uma banheira (risos) é uma banheira de águas calmas. Têm ótimas do Eliezer, qualquer hora eu conto para vocês várias delas. (risos) Mas vamos ver se vocês tem mais algumas coisas porque da minha parte o que eu tinha que enfatizar eu procurei enfatizar e é claro que já estou distante, mas ainda tenho alguma coisa na cabeça.

P/1 – Esse Conselho de administração, qual que era a ingerência política dele, como que isso…

R – Houve épocas raras, que realmente houve ingerência política, no sentido de botar, quando há uma eleição sempre há figuras políticas de realce que perdem a eleição, nem todos ganham, então uma das salvações ou compensações que dão é botar em um Conselho desses. Então houve casos que a Vale, eu me lembro que houve uma época que, não vou forçar a me recordar para não ser indiscreto, mas que eu vi um Conselho, fui lá para expor qualquer assunto e o tratamento era assim, Governador, o Ministro o que que o senhor acha de…, Ministro, Governador, era só Governador e Ministro (risos) só não mas era o que preponderava era isso, Ministro e Governador, mas isso era raríssimo, tanto que eu apontei aqui e reafirmo que eu acho que um dos pontos diga-se da Vale foi que a despeito dos Governos ____________________ João Goulart, Jucelino, militar, Sarney, outro militar, eles todos respeitavam a Vale e deixavam que a Vale tivesse continuidade _____________ esse tempo todo com meia dúzia de presidente, sendo que o Fernando (Roquete?) Reis, por exemplo, que era completamente estranho à Vale, ele era Secretário de Fazenda de Minas, por que que ele foi para a Vale, porque como Secretário de Fazenda de Minas Gerais, ele tinha muito contato com o Delfim, que era o papa daquela época, mandava, não sei se o Delfim era Ministro das Finanças ou Ministro do Planejamento, ele era do Planejamento, das Finanças, foi Ministro da Agricultura também, o Delfim, depois voltou para o Planejamento, e ele era amigo do Delfim e o Delfim o admirava, então ele foi para lá, mas ele foi recebido assim com um pé atrás, mas em pouco tempo ele se impôs, sujeito inteligente, sujeito que tinha uma característica muito interessante, não é comum nos engenheiros, o engenheiro ser primoroso em redação, ele é meio relaxado, capricha mais nos cálculos, (risos) o que não quer dizer que não haja aqueles que redijam bem. O Fernando (Roquete?) Reis redigia primorosamente e nunca vi um sujeito com uma velocidade tão grande para calcular, ele tinha ordem de grandeza de tudo, e olha que quando ele chegou na Vale ele não conhecia nada da Vale, em poucos meses ele sabia ordem de grandeza de tudo, de trem, de __________, de tonelada, de minério, de preço do alumínio, financiamento, tudo ele tinha. Morreu muito cedo, morreu com câncer, coitado, durante quatro ou cinco meses ele trabalhou, já sabia que tinha e nenhum de nós sabia e ele trabalhou com o mesmo empenho e depois eu soube que ele já tinha feito operação, aplicações, tal, mas isso não vem ao caso, são os aspectos que todas as organizações têm, os seus aspectos, as suas passagens tristes, mas eu faço isso porque é uma justiça a um homem, a saída da U S Steel de Carajás se deve a ele, foi ele que foi firme, extremamente firme, sem ser deselegante e sem ser injusto, mas foi extremamente firme, ali precisava de muita firmeza, não havia destrato mas ao mesmo tempo firme também com o Governo, porque havia sempre os heróis que achavam que não deviam pagar nada, dava um pontapé na empresa, para a gente perder todo o prestígio no mundo, com as entidades financeiras e tudo, você ficava desmoralizado para o resto da vida, se você não pagasse a ela o que ela havia gasto na pesquisa. Se ela tinha 100%, depois resolveu se retirar por motivos que eu já expliquei e tudo, havia outros motivos, mas o preponderante foi esse, o ________ era diferente, ela achava que devia fazer daqui a 15 anos, 10 anos e nós achávamos que devia fazer logo, e aí mandar fazer um destrato aí, acho que nenhuma republiqueta sul americana teria apelado para isso, ainda mais o Brasil que não é nenhuma republiqueta, um país que já tem um certo prestígio, ainda tem muita coisa por fazer, mas é isso. De qualquer maneira foi um prazer de estar com vocês aqui, eu comentei outro dia até com o ex-presidente que de vez em quando me telefona, que eu tinha achado interessante que vocês são extremamente profissionais, na maneira de tratar, o que não me surpreende, porque embora
sem ser paulista eu sou um grande admirador de São Paulo, tudo lá é mais ou menos sério, mais mais do que menos é sério e o profissionalismo lá é um fato, de maneira que foi uma satisfação estar com vocês também aqui.

P/1 – Eu queria fazer umas perguntinhas para encerrar a entrevista…

R – Os eventos marcantes, que eu chamei de eventos marcantes, eu tenho a impressão que nós já conversamos de todos _________________ não botei em ordem cronológica mais o ______________ foi realmente, porque esse negócio de vender, tudo (FOB?), era uma preocupação, Porto de Tubarão e sua duplicação, a concentração da (hemitita?), das hematitas e do itabirito que era contaminada com sílica e argila, aquele processo todo. O Paixão esteve aí?

P/1 – O Paixão? Esteve. Fantástico!

R – Técnico de primeira ordem, se deve muito a ele isso. Porque às vezes, eu falo pouco nas pessoas, mas há algumas que a gente não pode deixar de falar por causa do papel relevante. Esse da parte tecnológica da Vale, que hoje têm laboratórios lá que são apreciados no mundo inteiro. O Paixão é um dos homens raros, nunca é uma pessoa só, mas é um dos homens raros, não sei como ele está agora, deve estar sendo aproveitado aí por alguma organização. A Docegeo, o incremento das reservas minerais no sistema sul, e no sistema norte também, mas no sistema sul foi a compra de ____________ e ___________, foi a Mineração Serra Geral que nós não falamos, foi uma associação com a Kawasaki japonesa e ia abastecer a Companhia ___________ de Tubarão de Vitória. O Projeto Carajás, a província mineral com manganês, com cobre, com ouro, e com o ouro parece que a Vale já está na ordem de 17 toneladas, por aí, né?

P/1 – É, por aí.

R – Esse negócio de número eu tenho (risos) eu lia um balanço e em geral eu guardava os números. Bom a pelotização, nós falamos sobre a pelotização, Projeto Carajás, duplicação da linha singela da Vitória-Minas, e depois o corredor de transportes do Planalto Goiânio até o litoral sul de Santos, um porto de múltiplos propósitos, múltiplas finalidades, a diversificação, a linha da madeira e a celulose, a diversificação na linha da bauxita, da lumina e do alumínio. Acho que todos os pontos nós conversamos.

P/1 – Bom, então eu vou lhe perguntar como é o seu cotidiano hoje? O que o senhor faz hoje, o seu dia-a-dia?

R – O meu dia-a-dia hoje. Ainda bem que eu tenho uma coisa para falar. Eu fiz uma cirurgia em São Paulo, uma ponte de safena, há 12 anos, e talvez esse seja um dos pontos que eu sou suspeito de admirar São Paulo (risos) porque foi bom, nunca mais tive nada, não tenho dor nenhuma, sei que tenho coração porque ele está funcionando, fiz uma operação lá e saiu tudo bem, foi na Beneficência Portuguesa. Recebi a honrosa visita lá, do Doutor Antônio Ermírio de Moraes, que é o Presidente do Conselho, sabiam disso?

P/1 – Patrono, também.

R – Ele lá sábado e domingo ele trabalha de graça lá. Bem, mais aí, porque que eu estou falando de São Paulo, mesmo?

P/1 – Do seu dia-a-dia, da sua operação.

R – Aí eu tenho que fazer, ir ao médico de seis em seis meses, fazer eletro, ecocardiograma, e da última vez houve um conluio entre a minha filha que é médica e o médico e eu acho que a minha mulher também entrou nesse conluio, disse para a minha filha que eu estava respirando com uma certa dificuldade à noite. Conversa. Eu gosto de fazer uns exercícios respiratórios ______________ e aí eu fui ao médico e ele disse, tem aí um negócio, agora você tem que fazer uma ginástica, e aqui em baixo tem, tem um prédio aqui no Rio que é todo de medicina, de consultório, ali na rua Siqueira Campos, em todos os andares e um dos andares é ginástica de medicina, acompanhada pelos médicos, então eu fui lá, e agora eu estou duas ou três vezes por semana eu vou lá, de manhã, uma hora, uma hora e pouco, faço lá uma bicicleta ergométrica, esteira, depois me estendem para cá, torcem o pescoço para outro lado, mas é bom viu, até do ponto de vista psicológico, por que a gente sai de lá crente que está rejuvenescido, então essa é uma tática de ocupação boa, né, duas ou três vezes por semana, uma hora ________________ muda a roupa, tal. Agora eu leio, gosto muito de ler História.

P/1 – isso é bom.

R – Gosto mesmo. Podem me perguntar sobre História que eu…

P/1 – Então tá… (risos)

R - Gosto muito de ler História. Aquelas biografias, por exemplo, do (Stefhan Wailles?) eu já li tudo. Tem biografias notáveis dele, né? Napoleão, Maria Antonieta, aquele Primeiro Ministro Inglês, __________________ é uma biografia notável dele, por aí vai. E eu tenho 14 netos, sendo oito rapazes e cinco moças. Alguns já estão formados, uma é engenheira ambiental, ela não deixou por menos, (risos) é da PUC, a outra é advogada, também é da PUC. Agora ela está estudando pós-graduação, ou doutorado, não sei bem, lá em Manchester, Estados Unidos. Bom, tem mais dois que estão na PUC, mas esses rapazes nem sempre, eu até diria raramente, de vez em quando eles tem lá as suas dúvidas e me telefonam e então a gente tem lá algumas conversas sobre matemática, né, matemática, economia também, a gente conversa um pouco. E não só eles, as meninas também, é isso, depois vocês vão ver as caras deles aí. O pessoal acha que eu fui muito feliz, e eu realmente tenho 14 netos, todos muito bonitos, inteligentes e são amigos, meus e da minha mulher, não tenho queixa não. Não são exageradamente amigos, porque esse negócio de ficar tomando cuidado demais com a gente é, a gente fica envelhecido, mas eles estão de olho. Os filhos também são muito bons, é eu tive muita sorte. O Mascarenhas é que dizia, você teve uma sorte, eu dizia, você também Mascarenhas, o Mascarenhas só tem homens, tinha sete ou oito homens.

P/2 – O senhor tem quantos filhos?

R – Eu tenho quatro. Dois homens e duas moças. Bom, engraço com os filhos, é claro que vejo televisão ,aí, gosto mais de ver entrevistas e também vejo de vez em quando aquelas sessões do Senado porque tem uns caras lá que eu acho engraçadíssimos (risos), mas são engraçadíssimos, aquele Pedro Simon, por exemplo, ele é um sujeito inteligente, inegavelmente, mas ele é uma graça, ele gesticula, ele jura por Deus, ele dá a palavra de honra dele, ele apela para pedir demissão, oh, peço demissão, eu digo mas que barbaridade, é muito engraçado, eu não estou criticando, estou elogiando até, o homem de valor mas ele tem uma franqueza muito curiosa, ele fala o que vem na cabeça. E têm outros. Tem aquele (Sucequinte?), é lá de São Paulo, é né o (Sucequinte?), aquele marido da Marta, o Suplici…

P/1 - O Eduardo Suplici.

R - O Suplici, outro dia eu falei para o meu filho lá de Brasília que conhece esse negócio todo de ___________, tal, aí eu disse, esse Suplici é um cara de valor, ele está em todas, ele se mete, ah pai, você sabe qual é o apelido dele aqui em Brasília, não, é suplício, porque ele começa a falar e não acaba mais, eu não acho não, eu acho que ele é um sujeito de valor. Então eu gosto de assistir esses homens. Outro que eu acho uma graça é o Brizola, o Brizola é um dos sujeitos mais engraçados que eu já vi, porque ele quando, primeiro é o seguinte, não sei se vocês repararam, quem vai entrevistá-lo não tem vez, porque se quiser interromper ele não deixa interromper, eu vejo, ele lá pá pá pá, e está acabado, não é verdade, não é verdade, não é verdade? Engraçadíssimo, então, houve uma época que não, eu era meio idealista, apaixonado por política, achava que um prestava, outro não prestava. Hoje não, hoje eu só vejo esse aspecto, acho que todos estão lá no seu papel, alguns são visivelmente fracotes, têm umas moças lá inteligentes, umas senadoras, vocês que não tem tempo, estão na época de trabalhar muito, precisam ver, Senadora do Acre, a outra de Alagoas, não deixam passar nada, e tem gente que tem medo delas, viu. E leio também algumas coisas. O último livro que eu estou lendo ainda mais estou gostando muito é um do Mário Henrique Simonsen Análises Econômicas, uma coisa assim, interessantíssimo, não sei se vocês sabem que o Simonsen entendia muito de música, sabia? O Simonsen é expert em música. Uma vez, ele era Ministro da Fazenda, e eu fui com o advogado, o nosso chefe jurídico, o Valdemar, e fomos à Brasília com japoneses, era um negócio desse, celulose, madeira, tal, grupo japonês, JBP, (Japan Brazil Pope?), uma coisa assim, uma associação que eles fizeram para entrar na Cenibra, não conversamos sobre a Cenibra, tem tanta coisa, viu, a Cenibra tem um sucesso viu, ela está com 700 mil, se não me engano, toneladas de celulose. Bem, mas aí fomos lá e fomos recebidos pelo Severo Gomes, estava vivo ainda, era Ministro da Indústria, depois o Simonsen, aquelas coisas de praxe, o que pretende, qual era a associação, em que pé estava, o apoio do Governo, e aquelas conversas, e saímos, nos despedimos e saímos, quando saímos eu vi que o Valdemar ficou para trás, aí eu falei com o japonês, você não quer esperar um pouquinho aqui na capelinha, o Doutor Valdemar, e a porta fechada e uma dupla cantando uma ópera, eu disse, meu Deus, mas que barbaridade, o Valdemar e o Ministro cantando uma ópera (risos) e o japonês, daqui a pouco sai o Valdemar de lá, esbaforido, eu disse, o Valdemar o que que se passa, ele disse, ah, eu fui colega do Simonsen no Santa Ignácio, e toda a vez que eu encontro com ele, eu gosto de música, não sei se você sabe, eu sou fanático por música e o Simonsen também, nós nos encontramos e acabamos cantando ópera, mas não é possível (risos), mas porque demoramos muito, eu disse, não, é que nós ouvimos um pedaço da ópera e estava razoável (risos), mas veja. Então nesse livro o Simonsen mostra a congeminação que existe entre a matemática e a música, e existe, por incrível que pareça, não sei se vocês conhecem música, talvez saibam disso, existe uma porção de coisas que a música tira da matemática, ela usa várias coisas, eu não entendo nada de música, não sei, mas ele em uma das partes do livro ele aborda esse assunto de uma maneira muito interessante. Então eu leio esses livros, passo os olhos nos jornais, gosto de ver um joguinho de futebol de vez em quando, mas o meu time está tão triste que eu já fiz várias promessas de deixar, de abandonar, mas não consigo abandonar o Fluminense, (risos) é uma coisa, a gente não consegue, meus netos são Fluminense por minha causa, pelo menos a maioria deles, têm uns que me traíram , são Flamengos, mas o Fluminense, que negócio é esse, daí eu digo, o jeito é fechar aquilo, fecha aquele departamento para a gente não sofrer mais. São Paulo logicamente está muito mais adiantado no futebol, né, sem dúvida. Aqui tem Vasco, e olhe lá. São Paulo tem quatro ou cinco bons times. Mas eu gosto de ver assim de vez em quando, não sou fanático de ficar torcendo e xingando, vejo futebol desde criança, sempre torci para o time do Fluminense. Agora tem também os meus amigos aí que cada vez vão se tornando cada vez mais raros, com a idade, mas de vez em quando a gente se telefona, troca idéias e tal.

P/1 - E a esposa, seu Hélio, o senhor conheceu sua esposa aonde?

R - Esposa, eu conheci minha esposa em Caraíta, ela era jogadora de vôlei na praia, e eu era metido a cortador, então ela ficou minha passadora, ou passadeira, não sei como falam, na praia, aí nos conhecemos, tal, depois eu fui para o Rio Grande do Sul, ela é do Rio Grande do Sul, acabamos nos encontrando lá, ela é de Santo Ângelo, e o meu filho mais velho nasceu em Lagoa Vermelha, é uma cidade do Rio Grande fria, no dia em que nasceu, fazia três graus a baixo de zero, e naquele tampo não tinha essas sopa aí de operação, né, como chama mesmo?

P/2 - Cesariana.

R - Era parto normal, e não sei que ela começou com umas dores às oito horas da noite e de madrugada continuava, em casa, uma casa de madeira, estavam fazendo estrada lá, um frio desgraçado, eu me lembro que eu tomei um litro de (Vermut?) um litro, e chegou uma hora que o médico disse, você esta sofrendo aí, quer dar uma olhada lá? Eu disse, não, não quero, mas desce para ver, para dar uma força a ela, e aí ele foi lá, ajeitou os lençóis, tal, e aí eu entrei no quarto, quando eu entrei no quarto eu desandei a chorar, e aí ele falou, sai daí desgraçado, você em vez de dar força você vem prejudicar (risos) eu achei que ela estava sofrendo demais, né, mas ele nasceu bem, mas nasceu às seis horas da manhã, ele tem o nome de um amigo meu da aviação que morreu muito cedo, que era muito meu amigo, Francisco Horácio, mas era conhecido como Horácio, Horácio da ______ de Brasília foi muito cunhado, foi gerente lá. O outro trabalha em uma companhia de transporte marítimo, a (Norte-Sul?), especialista em transporte marítimo, sabe direitinho onde é que está o navio, o que é que tem, a pernada que ele tem que dar para pegar a carga lá, marcar não sei aonde, pegar lá e trazer para não sei onde, fazer isso, otimizar essas coisas todas.

P/2 - Qual é o nome dele?

R - André Luiz, André Mello, lá da (Norte-Sul?), acho que é a principal aí do transporte de cabotagem, tem também o transporte de longo curso. A outra é médica, casou-se com um médico também, que era professor dela, é neuropediatra, mas ela saiu, ela e o marido foram muitos espertos, no bom sentido, eles foram para os Estados Unidos e lá fizeram tudo o que podiam, internaram, tal, ficaram cinco anos lá, quando eles voltaram, voltaram com muito ________________ conhecendo toda a evolução da medicina nos Estados Unidos, vão lá pelo menos de seis em seis meses, acompanhar aqueles seminários, aquela coisa toda, estão sempre __________________, sempre atualizados com tudo, então é, tenho um pouco de pena dela porque ela, a carreira muito penosa, ela se dedica de corpo e alma.

Fita 3
Lado A

R - ...corpo e alma, né, e nem sempre, uma coisa, parece que ela tem o dom, conceito aí, vida, tem reuniões nos Estados Unidos, no Canadá, ela vem, ela vai lá, não é, tem gente que vem aqui, conversa e tal, tudo isso. O marido dela também trata das crianças, é uma especialização muito interessante, chama-se neonatal, não sei se você já ouviu falar, né, são as crianças que nascem e imediatamente são submetidas a determinados testes e em função dos resultados desses testes são feitas determinadas correção para evitar que mais tarde surjam doenças que podem perfeitamente serem evitadas se forem atendidas na hora em que houve o parto, o nascimento. E isso é feito, tira o sangue, tira não sei o que, tira o oxigênio, não sei o que, não vê nada disso, mas sei que é uma coisa altamente atualizada, especializada, né, e útil, né, e então também. A outra, mais moça, ela fez o curso de veterinária, foi a primeira aluna e tal, e agora está atrás de cachorrinho, não sabe o que, casou, teve quatro filhos, aí largou a medicina, não é, a odonto, essa veterinária, infelizmente o marido fez o curso tudo com bolsa na PUC, porque precisava média acima de oito, ele tirou, chegou a diretor de informática do Citibank, São Paulo, não é, fui a São Paulo várias vezes, morreu de enfarto nos Estados Unidos, se esforçou demais, foi estresse, né. Morreu, ela está aí com os quatro filhos, mas está enfrentando galhardamente e não desanimou, não. Os meninos também estão indo bem, então isso também me dá uma certa taxa de ocupação, não é, eu ajudei a ela nesse negócio de inventário e tal e tal, os meninos precisando nos vestibulares e tal e tal, ajudando, né, naquilo que ela precisa, não gosto de me meter, mas naquilo que ela precisa e está bem, vai viajar, até, agora, vai passear um pouco.

P/1 - Senhor Hélio, eu queria perguntar um pouquinho. Eu queria lhe perguntar uma coisa, olhando a sua trajetória de vida, não é, se o senhor pudesse modificar alguma coisa, começar de novo e modificar alguma coisa, o senhor modificaria, nessa sua trajetória?

R - É, é possível que sim, viu, eu quando eu conversei com vocês sucintamente, mas não sei até se foi tão sucintamente sobre o início da minha vida, eu disse que eu segui primeiro uma carreira, né, por injunções de necessidades de meu pai, né, que tinha oito filhos, não tinha jeito, então eu segui uma carreira que se eu tivesse, depois eu segui a carreira que eu queria, né, de engenharia, no princípio da minha carreira eu fui aviador, dois anos, quando eu saí da aviação, devo ter saído por incompetência até porque, eu saí na cheia, sabe o que que é sair na cheia? Sair no vôo solo, no avião era treinamento elementar, não é, quando chegou no treinamento avançado, que era estilo, eu atingi aquele número máximo de horas de vôo sem ter sido apresentado para sair porque eu fiquei, baixei na enfermaria, fiquei doente, tive a operação de amídalas, umas complicações, mas aí eu, foi o maior desgosto que eu tive na minha vida, foi de sair da aviação, para mim aquilo era um fracasso, sabe, já conte isso aí, então, se você me perguntar hoje, você gostaria de ter ficado na aviação? Não. Ora, se nós éramos 23, já morreram 18, então tenha paciência, eu acho que eu tive foi sorte, né, morreram 18, nem todos de desastre, mas a maioria por desastre, inclusive na guerra, aqui mesmo no litoral na guerra de 45, aviões, os nossos aviões ficavam supervisionando aí a costa por causa daqueles submarinos alemães que andavam por aí, então quer dizer, há os navios brasileiros aí, o Brasil entrou na guerra por causa disso. Bem, mas quer dizer, para responder isso precisamente a sua pergunta eu acho que não podia ter causado com outra mulher, porque senão teria outros filhos, certamente, né, e outros netos, e estou muito satisfeito com o que eu tenho, não só com ela, mas com os meus descendentes, isso eu não teria feito, eu devia era ter casado com ela mesmo, agora carreira, tive muita sorte, dificilmente eu teria essa sorte se tivesse seguido outro caminho, não é, porque você vê, você é chamado da Madeira Marmoré para ir para o Guaraminas, fui diretor da Guaraminas, depois eu voltei, aí eu fui para ser secretário de aviação de Alagoas, comprei a _________ (Goulart?), eu me socorri de São Paulo, ______________ Carvalho Pinto e aí eu voltei para a Vale quando o Eliezer assumiu a presidência, ainda mandou me chamar lá, então eu tive muita sorte, eu tive muita sorte, depois eu estava lá em Itabira até, quando eu fui convidado para ser presidente da rede, veio a revolução, eu não era da revolução, eu também não, eu na época era da Vale, tem lá naquele papel que eu te dei lá, está lá escrito, foi recrutado nos quadros técnicos da Vale, né. Eu entrei na Vale em 1955, depois saí, depois voltei em 61, no governo Jânio Quadros, eu não, acho que se eu entendi bem a sua pergunta, se estivesse nas minhas mãos voltar, se eu preferiria outro caminho, eu diria que não, preferia pegar esse caminho mesmo. Preferiria não ter perdido meu pai tão cedo, né, não ter perdido esse meu genro tão cedo, claro que eu preferiria, mas isso são contingências que acontece com tanta gente, não é, a gente tem que estar preparado para tudo, eu mesmo quando fui fazer a minha cirurgia, tinha várias dúvidas, né, se ia ter sucesso ou não, mas lá a coisa é muito bem feita, né, vem uma psicóloga antes, sabe, na véspera ou na antevéspera, tem uma conversa longa com o paciente, com a gente, explica tudo, como é que vai ser a cirurgia e tal, quais são as chances, naturalmente anima a gente, mas com uma técnica, né, muito inteligente, a gente entra otimista e enfrentando o negócio. Quando acordei na CTI, eu vi lá, o primeiro rosto que eu vi foi minha filha, né, aí eu disse, íííí, não vai dar, não vou agüentar, “mas pai você está brilhando, você está brilhante, você está agüentando tudo, pode ficar descansado” e eu cá comigo, eu está me tapiando, mas, eu tinha dores horrorosas e levava tapas nas costas, sabe, você leva murros nas costa que é para não ficar com catarro, entupindo seus pulmões, é uma coisa, é poooollll, poooollll e os vizinhos também na UTI era levar tapas, bom, vai porque não sou eu só, mas é isso, quer dizer, enfim, pode fazer a segunda pergunta, a primeira, não, não teria nada diferente, eu estou muito feliz.

P/1 - O senhor tem sonhos?

R - Ah, tenho, sempre sonho e quando eu era pequeno, eu tinha sonhos, eu não falava certo, certo é ruím, né, então eu não tinha sonho ruím, eu tinha sonho ruim, então quando eu rezava de noite, eu rezava uma Ave Maria, e dizia Ave Maria, tararam, ofereço a Ave Maria para não ter sonho ruim, porque eu tinha sonhos horrorosos, eram uns monstros, tinha uma casa, eu morava em Petrópolis, tinha uma árvore grande e no sonho, lá dentro dessa árvore tinha uns bandidos, tinha uns monstros e de noite eles vinham me atacar, eu não entendi isso até hoje, mas depois passou, mas foi uma fase doida, agora hoje eu tenho sonhos, sabe, mas sonhos assim, sonho com colegas meus, né, e sonho também com, mas são sonhos normais, antigamente não, eram sonhos difíceis, né, tinha medo, chegava a rezar.

P/1 - E sonho de futuro, se o senhor tem sonhos para o futuro?

R - Eu tenho um sonho maravilhoso, volta e meia, sabe qual é, ah, vocês procurem ter assim, é que eu tenho o poder da levitação, eu dou um impulsozinho e saio, viu, pelo ar, ah, e dou um impulsozinho e subo mais e desço e tal e até os meus pés, sabe, quer coisa mais maravilhosa do que isso?

P/2 - Voar.

R - Depois que eu acordo, eu digo, ah, mas que pena que eu acordei ________ eu me lembro.

P/1 - Então eu vou fazer uma última pergunta para o senhor então, a última agora, o que que o senhor achou de ter participado desse projeto, do Projeto Memória da Vale e de ter dado o seu depoimento?

R - Bem, em parte eu já respondi, né, me antecipei, gostei muito de estar com vocês, eu acho que vocês são profissionais, né, mas profissionais nem é no bom sentido, no ótimo sentido porque além de saberem fazer as coisas, vocês deixam a gente muito à vontade e são extremamente educados e são pontuais, marcam as coisas, cumprem, eu gosto muito dessas coisas assim, sabe, então eu gostei de ficar com vocês, agora de ter colaborado é claro que eu gostei também, né, nem vocês, nem eu, nenhum de nós tomou a iniciativa de falar em privatização, certamente vocês fizeram isso de propósito porque não é esse o papel de vocês, vocês foram contratados pela Vale do Rio Doce de hoje e eu também não falei porque sou suficientemente ou razoavelmente inteligente para saber que não é isso que está em jogo, vocês me chamaram para prestar a minha colaboração daquilo que eu vi na Vale, que eu presenciei, que eu colaborei, que eu assisti e as conclusões, por isso é que eu talvez tenha, em parte acertado, quando eu quis mostrar para vocês, não a história da Vale que vocês conhecem, porque não serve, vocês conhecem, vocês estão montando a memória com outros enfoques, com outros aspectos e eu procurei acertar em parte, eu procurei ajudar a vocês no seguinte, eu vou dar para vocês o que eu acho, quais são as razões que eu acho pelas quais a Vale teve êxito, a despeito de ser uma empresa do governo, pô, estatal, aí, não é, por que que ela teve? É por que, insisti nisso, é porque ela tem pessoas privilegiadas, mais inteligentes que todos os outros, não é? Não é isso, é que ela teve determinadas oportunidades e criou determinadas oportunidades, não teve só, não caíram do céu algumas delas, e soube aproveitá-las e soube persistir e ser ético e ser honesto com os clientes, e progredir e diversificar etc, e é claro que então, tendo sido pedido a minha colaboração e recebendo uma carta do atual presidente, não é, que eu não tive o prazer de conhecê-lo, sei que deve ser um homem capaz, senão não teria sido posto e recebido a carta em termos muito delicados, embora seja uma carta tipo circular, é claro, né, mas é uma carta muito delicada, então, pedindo a minha colaboração, então perfeitamente, respondi para ele em poucas linhas, justamente dizendo que estava pronto para dar a minha colaboração e é isso que eu posso responder a vocês, foi uns momentos aí, uns dias em que seria um exagero eu dizer que nem pensei nisso, deixei para ir lá, improvisar tudo, não, pensei, meditei, conversei principalmente com meus dois filhos lá, homens, e para ser justo, conversei com as mulheres também, porque minhas filhas também são, para mim não tem esse negócio de homem, não é, as filhas são extremamente interessadas, né, na minha vida, em tudo que eu compreendo e trocamos idéias e tudo e fiquei muito satisfeito de estar aqui, é uma recordação, embora eu tenha deixado a Vale relativamente a pouco tempo, né, na última assembléia que privatizou a Vale, foi ali que eu apresentei a minha renúncia, como eu tinha que apresentar, é claro, né, foi em maio de 97, vai fazer três anos mês que vem, esse mesmo, né, e desejo que vocês tenham êxito aí e tal, e fiquei muito satisfeito em também, de saber que eu vou receber uma cópia disso aí, embora eu só peço a vocês, principalmente aos técnicos, tudo que estiver ruim, eu soando o nariz, qualquer coisa assim, vocês tirem, não é, cortem. Caramba, quando eu fiz lá, bodas de ouro, eu estava comovido, então eu fiquei com lenço, sabe, toda hora, meio emocionado, eu sei que a minha sogra chegou lá, ela que filmou, olha aqui, tira aquele negócio todo lá, vê se não põe aquele negócio dele pegar lenço toda hora e ele conseguiu; com jeito, não importa ter o corpo bonito, negócio porque as filhas principalmente, vem pai, uma chegou a me comprar uma camisa, só que a camisa era muito quente, nem vou dizer a ela, ela vai perguntar, “pai botou a camisa?”, botei. Mas é isso.

P/2 - Muito obrigada.

P/1 - Obrigado.

R - Eu que agradeço.