Museu da Pessoa

Orgulho, controle e acaso: memórias de linhas de transmissão

autoria: Museu da Pessoa personagem: José Leonardo Carvalho Filho

Entrevista de José Leonardo Carvalho Filho
Entrevistado por Torigoe e Daniela
28 / 07 / 2021
Projeto Memórias de Furnas
FURNAS_HV023

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P/1 - Qual que é o seu nome completo? Que cidade você nasceu? E que data que foi?

R -

Meu nome é José Leonardo Carvalho Filho, eu sou de Vitória no Espírito Santo. Nasci num hospital que hoje é um shopping, na Praia do Canto. Em 26 de janeiro de 1961, sessentão.

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P/1 -

Léo, o seu pai, a sua mãe te contaram, ou alguém te contou como é que foi a sua gestação? Ou como foi o dia que você nasceu?

R -

Não muitos detalhes, assim, eu sei que, mais interessante que eu posso falar é que eu nasci na maca, antes de chegar na sala de pato. Eles saíram correndo para o hospital, mas eu sempre fui apressado. O meu pai comenta que ele estava pagando o táxi ainda, ele conhecia o motorista de táxi, de Vitória naquela época, ainda mais morando num bairro operário, chamado Jardim América, nasceu por causa de uma empresa de ferro e aço. Então ele estava pagando o táxi, eu nasci na maca, no corredor do hospital. E o fato que ele sempre conta.

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P/1 -

Qual que é o nome inteiro do seu pai? Como que é a sua família paterna? De onde eles são? Quem são seus avós paternos?

R - Meu pai, o nome dele é José Leonardo Carvalho, eu sou filho. Ele é filho de português, meu avô veio de Portugal. Uma família grande, meu pai foi arrimo de família, porque meu avô morreu ele tinha 17 anos, ele era o mais velho. É uma família acadêmica, a maioria são professores, a minha avó paterna era professora, sobreviveu dando aula de cursinho, transformando o terraço da casa lá em Vitória, na praia de Santa Helena

em cursinho. E ela dava aula, depois os meus tios também davam aula, meu pai trabalhava. Minhas tias também, várias são professoras, tem aí vários Mestres, PHDs, tem até Chicago Boy na família. Então assim, basicamente ele meio que se sacrificou, mas ele falava que não, ele nunca teve estresse com isso, basicamente do meu pai era assim. Da minha mãe já era uma família típica lá do Espírito Santo, tinha uma descendência holandesa, no Espírito Santo tem muita descendente daquela região nórdica, isso na serra já, até chamam de pomeranos. Então a minha mãe é de uma família extensa também, acho que são 12 tios, se eu não me engano, basicamente isso. A maioria mora no Espírito Santo, hoje aqui no Rio eu tenho só um tio, que mora aqui, que quando voltou de Chicago veio para cá, para o Rio. Primos eu tenho alguns aí no Rio. Tio mesmo aqui no Rio, hoje em dia, vivo, eu tenho só um.

4:01

P/1 - E o teu pai, tua mãe, o que eles faziam? A profissão deles?

R -

Minha mãe, meu avô tinha comércio, tinha uma mercearia e padaria, minha mãe trabalhava nesse comércio. Meu pai trabalhava numa empresa chamada Ferro e Aço, no Espírito Santo, é uma Siderúrgica, em frente onde ficava o comércio do meu avô. Então meu pai conheceu a minha mãe assim, de tomar cafezinho, coca-cola. Coca-cola eu acho que nem existia, talvez aquela garrafinha pequena. Se conheceram assim. Eles casaram cedo, acho que a minha mãe tinha 17 anos, 18 anos. Tenho uma irmã mais velha.

4:57

P/1 -

Tem a sua irmã e você só, é isso?

R - Isso! Um casal!

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P/1 - E qual que é o nome da sua irmã?

R -

Maria Raquel Barros Carvalho. Ela tem o Barros da minha mãe, da família da minha mãe.

5:18

P/1 -

E é quantos anos mais velha que você?

R -

Ai zoou ela a beça. Ela é 5 anos mais velha que eu. É uma velhota.

5:33

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Quando você nasceu vocês foram morar no Jardim América, é isso? Você passou sua infância toda lá?

R -

Eu passei muito pouco tempo lá, logo a gente mudou, eu acho que hoje é centro da cidade, na época o pessoal chamava de Parque Moscoso, que aonde tem um parque, até bacana, um parque lá no centro, perto da região Portuária e tudo. Mas na época era uma região mais elitizada, vamos dizer assim. Meu pai deu uma melhorada boa de condição financeira, ele conseguiu progredir no comércio, ele tinha uma granja, construiu uma granja no interior, na cidade de Emílio Martins. E deu certo o projeto dele, ele chegou a ser um dos maiores produtores do Espírito Santo de frango. Então assim, aí eu morei lá nesse Parque Moscoso, eu acho que eu fui para lá com 3, 4 anos, saí de lá com 8. Então eu morei mais tempo, tenho mais memórias do apartamento do que da casa, da casa eu nem lembro para ser sincero, lembro muito pouco. Lembro só do quintal, não lembro da parte interna da casa. Então assim, basicamente eu morei no centro mesmo.

6:59

P/1 -

E como que era o centro de Vitória nessa época? O que vocês faziam? O que os seus pais levavam vocês para fazer? O que você gostava de fazer lá?

R -

As diversões lá, eram basicamente de moleque mesmo. Meu avô tinha roça, tinha uma fazenda, a gente chamava de roça. Então a gente ia muito para lá, meu pai tinha a granja, que a gente ia muito para lá. E também tinha uma casinha em Guarapari, na praia de Santa Mônica lá. Então a gente ia muito para esses três lugares. E o meu pai sempre foi uma pessoa que viajou com a gente, talvez eu conheça mais do Rio de Janeiro, do que os próprios cariocas, porque em toda viagem meu pai trazia a gente no Rio, e gente conhecia os pontos turísticos. Então talvez eu conheça mais, porque o próprio carioca às vezes não conhece. Mas eu conheço todos os pontos turísticos do Rio, sem exceção. Então assim, a gente passeava muito e muito com família, sempre família. Tenho muitas lembranças boas, muitos primos, muita bagunça, foi uma infância muito boa.

8:16

P/1 -

Tem alguma viagem que você se lembra com mais força? Que vem mais na sua cabeça, que você lembra com mais carinho, que te marcou de repente, dessas viagens de infância?

R -

Eu acho assim, com mais carinho e eu não sei. Talvez, a gente vinha às vezes à Campinas, porque a minha avó materna acabou indo morar em Campinas, por algum motivo que eu não me recordo agora, acho que até por causa do mundo acadêmico mesmo, acho que o meu tio foi para Universidade de Campinas, sei lá, alguma coisa aconteceu nesse sentido. Eu me lembro muito do frio, a gente ia para São Paulo, dormia em São Paulo, papai gostava de passear com a gente. Conheci bastante São Paulo também, naquela época. A gente viaja muito, então todas as viagens eram muito divertidas,

meu pai era uma pessoa divertida, animado, bem-humorado. Então assim, as viagens todas eram divertidas. O que marcou mesmo, até comentei com a minha irmã outro dia, por causa do frio agora, “pô, frio que nem esse, só aquele que a gente passou em São Paulo”. Que a gente passou muito frio, muito frio.

9:34

P/1 -

Não tinha roupa, não tinha preparo para o frio, é isso?

R – Exatamente! Eu me lembro que a gente foi... tem uma rua lá perto da estação da Luz, se eu não me engano, parece que tem mais lojas de roupa. Meu pai saiu comprando japona, falava assim, “precisamos comprar uma japona”, que é um casaco. Não esqueço disso. Aí ele comprou casaco para gente, comprou o gorro, aí pronto, aí resolveu o problema. Porque a gente não era preparado, eu acho que foi tipo uma frente fria mesmo, não foi uma coisa normal entendeu. Meu pai é muito à São Paulo, então não foi uma coisa normal, foi uma coisa fora do normal.

10:19

P/1 - Imagino que nunca mais usou essas roupas também, depois de voltar para Espírito Santo.

R -

A gente até usava quando a gente ia para Domingos Martins, que era onde meu pai tinha Granja, que é uma Região Serrana. Mas usava cedinho e de noite, porque era muito quente.

10:43

P/1 -

Me conta uma coisa como, como é que era o dia a dia na sua casa, nessa época? Vocês acordavam que horas? Como que era com o teu pai, com a tua mãe no apartamento, por exemplo?

R -

Meu pai sempre saiu cedo para trabalhar, a vida inteira, a recordação que eu tenho meu pai saindo cedo para trabalhar. Ele sempre acordou cedo, fazia café e ia trabalhar. E minha mãe cuidando da casa, típico, uma cultura típica da minha geração. Mamãe limpando a casa, lavando roupa, cuidando da casa, perturbando a gente, porque a gente fazia bagunça. Normal cara, minha infância, eu só tenho boas recordações, com certeza não foram só flores, as recordações maiores e melhores são boas. Então assim, uma família legal, família estável, normal, de vez em quando fazer uma arte, tomava castigo, normal. Sempre me dei bem com a minha irmã, então sem estresse.

11:54

P/1 -

Vocês tinham o hábito de ouvir rádio nessa época, de assistir TV? Vocês tinham TV em casa? O que vocês ouviam e o que vocês viam nessa época, Léo?

R - Isso é legal. Tipo assim, papai sempre foi ligado em tecnologia. Então, nós tínhamos televisão logo. Eu me lembro de estar andando de bicicleta e gritarem para a gente ver o primeiro homem na lua. Eu tenho umas memórias com televisão bem legais, me lembro quando surgiu a televisão colorida e que único desenho que passava colorida era da pantera cor-de-rosa, passava antes do jornal, então a gente ficava o dia inteiro esperando, para ver 10 minutos de desenho colorido. E uma coisa que eu tenho uma lembrança muito legal em relação a isso, que como ninguém tinha televisão, aí lá em Guarapari, meu pai botava a televisão na varanda, porque passava aquela novela Irmãos Coragem. E aí era um povoado de pescadores, pequenininho, chama Vila Perocão lá. E eles vinham todas a noite assistir a novela, todo mundo no muro, sentado na Jaqueira, banquinho, cadeira, era muito engraçado, eu tenho esses flashes, daquela galera, se alguém falasse era uma bronca danada. Porque perdi o som, a televisão imagina, televisão pequenininha, o som fajuto. Então assim, eu tenho umas memórias com televisão bem legais. Rádio, a gente tinha uma coisa interessante, que embaixo do nosso prédio, tinha loja de discos, mais famosa de Vitória, que chamava Jairo Maia. Então a minha mãe comprava muito compacto, a gente ouvia na eletrola. Então assim, primeira música que eu cantei, foi uma música do Roberto Carlos, que minha mãe era fã. Então assim, tenho essas memórias, a gente ouvia muita música, mas não de rádio e sim das eletrolas. São boas memórias, assim.

14:17

P/1 -

E por acaso vocês também acompanhavam futebol nessa época, no rádio, na TV? Vocês gostavam, torciam para algum time, nessa época?

R -

Sim! Eu já nasci Fluminense, eu já nasci tricolor. Minha família tem um monte de tricolores, e o meu pai sempre, o pouco tempo que ele estudou na vida foi aqui no rio. Ele morou um tempo aqui no Rio com a minha tia Sara. O que acontece, ele era tricolor, sempre acompanhou. Eu vou ao Maracanã desde 1968, regularmente, tinha carteirinha de jovem torcedor. Aí não pagava, até 13 anos eu não pagava, tinha uma carteirinha, não era da Suderge não, era alguma coisa que terminava com g, de Guanabara, agora não lembro o nome, esqueci, me deu branco. Mas aí eu tinha carteirinha, aí eu entrava de graça no Maracanã. Nós íamos a todos os jogos, Maracanã com 110 mil pessoas, 100 mil pessoas, não tinha esse horror que é hoje, foi uma fase que o Fluminense era muito superior aos outros, então foi muito bom. Curte bastante! A gente acompanhava sim, sempre acompanhou.

15:41

P/1 -

Teve algum jogo que te marcou nessa época? Algum jogador que você admirava muito? Como é que era?

R -

Vários jogos marcaram, cara, foram muitos. Um jogador que marcou foi o Rivelino, que quando o Francisco Corta, comprou ele do Corinthians, comprou com cheque sem fundos, a história na época borbulhava, foi isso né. E jogou muito. Tem vários jogos épicos, que eu me lembro, com muita, muita clareza, foi um campeonato carioca, que eu estava com meu pai, a gente ganhou do Flamengo no último minuto, e a gente na hora de comemorar, a gente tropeçou e descemos uns três degraus, abraçados, ficamos todo arranhados, mas nem, comemorando o título. Isso me lembro. E também me lembro que era um estresse, o estacionamento, todo mundo ia de carro para Maracanã, não tinha esse negócio de gasolina cara. Eu me lembro que a gente parava o carro na Praça da Bandeira, para ir para o jogo, quer dizer é longe, eu não sei se você conhece um pouco Rio, mas talvez seja assim, comparando, como o Morumbi ali, tem aquela Alameda enorme. Como você estacionasse lá no início da Alameda, entendeu. E isso chegando cedo, chegando 3 horas antes do jogo. Eu me lembro disso, era complicado, meu pai ficava, “vamos embora, temos que ir”. O jogo era 5 horas a gente saia de casa 1:30 da tarde, era uma saga, mas era legal.

17:25

P/1 -

E como que era você com a sua irmã, Léo? Como que era a relação, ela é 5 anos mais velha que você, o que vocês faziam entre si?

R - Por essa diferença de idade, e como mulher amadurece mais rápido, o que acontece, chegou numa determinada fase, que a gente ficou muito distante, porque a programação dela era totalmente diferente da minha, muito diferente, o que ela queria era muito diferente do que eu queria. Então teve essa fase, esse gapizinho aí durante um tempo. Até eu chegar aos 18, 19 anos, a gente ficou um pouco afastado, mas não por problemas, a gente se dava bem, não tinha stress, não tinha briga, não tinha nada. Mas porque os interesses eram muito diferentes, muito diferentes. Aí depois entrou numa fase de novo que eu conseguia sair com os amigos dela, que me tratavam como caçula, aquele negócio todo, foi voltando ao normal. Aí eu tenho muito mais memórias disso, porque de 10 a 17 anos, 18 anos, é muito menos tempo do que eu tenho agora, de memória. E nós sempre viajamos juntos, moramos juntos. Teve uma época que eu morei junto com ela em Vitória, porque ela tinha separado e eu estava trabalhando lá, moramos juntos um tempo. Então sempre fomos muito unidos. Hoje em dia ela mora com a minha mãe, lá no Espírito Santo, lá em Guarapari. A gente tem contato diário, sempre muito unidos.

19:07

P/1 - Léo, como que era o Rio de Janeiro nessa época?

R -

Saudade, viu cara. Era bom demais, muito bom! Eu andava de bicicleta o rio todo, saia de Botafogo, ia em Ipanema, ia no Leblon. Adorava andar no aterro, a gente ia pedalando até o Museu de Arte Moderna, ficava lá, era outro mundo, jogava futebol na rua. Quando eu mudei para o Jardim Botânico, a gente mudou para o Jardim Botânico em 76, eu acho, a gente jogava ali onde tinha o teatro da Globo, o teatro Fênix, famoso, bem na rua do Teatro Fênix, no quarteirão seguinte. A gente jogava futebol na rua, tinha um canal, tem um canal ainda lá. A bola caiu no canal, era maior estresse para pegar a bola. Mas era um outro mundo, a gente começou viver a violência realmente, aquela época tinha assalto, assalto em ônibus, mas era coisa assim, “fulano foi assaltado”. Caramba! Ficava todo mundo comentando aquilo semanas. Então assim, eu tive essa felicidade, cara, de ir para a praia a pé. Ia pegar onda, pegava prancha, peguei onda durante muito pouco tempo, não fui muito bem sucedido como surfista não. Mas ia com a pranchinha debaixo do braço, ia para a praia a pé, andando. Então assim, o Rio de Janeiro era muito legal, é legal! Mudou muito, mas continua sendo uma cidade maravilhosa mesmo. A gente fala, fala, do Rio, mas cara, morar no rio diferente, é diferente, olha que eu posso falar.

20:55

P/1 -

E vocês gostavam de ir mais aonde? Onde vocês frequentavam? Vocês comiam, iam no cinema, de repente, para além da praia?

R -

Meu pai gostava muito, a gente era sócio de um clube, chamado Marapendi, que existe até hoje, era afastado. Hoje ele está tão no meio da cidade, que passa por ele e nem vê, mas ele era afastado. Então eu me lembro do meu pai falando de manhã assim, “faz a mochila aí, que nós vamos para o Marapendi”. Tipo assim, era longe. Muitos domingos nós passamos lá. E a gente reunia muito, nessa época minha tia Sarinha era viva, a gente se encontrava muito com a tia Sarinha, meus primos, com o tio Tuca, que é o tio Zé Luiz, com os filhos, almoçava junto. A minha família sempre gostou de jogar baralho, jogava buraco, então fazia rodadas de buraco. Então sempre teve essa ligação com a família forte. A gente sempre passeava também, passeava bastante, zoológico eu devo ter ido umas 80 vezes, aquelas coisas, meu pai gostava mesmo.

22:13

P/1 -

Leo, quais foram as escolas que você frequentou durante os anos aí? Eu imagino que tenha começado em Vitória, depois foi para o rio, mas conta como que era você na escola, Léo?

R – Bom, Vitória, eu lembro muito pouco. Uma escola perto da minha casa, no próprio Parque Moscoso, eu me lembro que tinha uma moça que trabalhava lá em casa, o nome dela era Solemar, era sol e mar, Solemar. E eu era meio rebelde, eu era agitado, e ela reclamava que eu chutava a canela dela, porque ela queria me obrigar a atravessar a rua de mão dada e eu não queria, tem essas coisas. Então assim, eu tenho poucas lembranças de lá, muito pouca. Quando nós viemos para o Rio, a gente ficou morando na Dona Mariana, aí eu fui estudar no Santo Inácio, fiz aquela prova seletiva, não sei o que foi, fui estudar no Santo Inácio. Aí entrei lá no segundo ano primário, terceiro primário, um negócio assim. Na época tinha primário, admissão, aí quem entrava primeira série, segunda série, terceira série, depois científico. Aí o que acontece, aí eu estudei no Santo Inácio, aí teve a reforma, primeira reforma no estudo, aí acabaram com admissão, aí eu passei direto do quarto ano primário para recém criada a quinta série. Até alcancei um primo meu, ele era mais velho que eu um ano. Aí alcancei ele. Aí fiquei no Santo Inácio, fiz o ginásio no Santo Inácio. Mas eu não gostava do Santo Inácio, eu não me sentia bem lá não, eu arrumava muita confusão lá. Porque tinha muito bullying nessa época, e o Santo Inácio era um Colégio, principalmente naquela época, muito de estrela. Então assim, eu estudava com filho do Ibrahim Sued, filha do ator não sei das quantas, só gente... E eu não me enquadrava, não enquadrava e não aceitava determinadas coisas, então eu reagia, eu nunca tive uma reação com bullying de ficar calado, de ficar quieto, eu reagia, entendeu? Então tinha muita confusão comigo na escola, meu pai vivia... um dia ele falou: cara, não tá dando certo, eu queria que você se formasse... Porque ele estudou lá. Eu falei: pai, o negócio é o seguinte, eu não vou ficar quieto, os caras vem falar besteira para mim, eu não vou ficar quieto. Aí eu fui estudar num colégio, chamado Brasileiro de Almeida. Quando você fala esse nome aqui no rio, Brasileiro de Almeida era o colégio dos renegados, todo mundo que não deu certo em colégio nenhum, que não passou em colégio nenhum, ia para o Brasileiro de Almeida. Então cara, por incrível que pareça, foram os três anos que eu mais estudei na vida, porque eu adorava o colégio. Era um colégio com uma nova mentalidade, você tinha liberdade, podia ir de calça jeans, podia fumar se quisesse, tinha lugar para fumar e tal. Tinha uma mentalidade mais moderna, vamos dizer assim. E eu me encaixei super bem, cara. Aí eu estudei lá e foi muito bom, cara, muito, muito bom, adorei, adorava o colégio. Estudei com pessoas bacanas e tal. Agora, por incrível que pareça, nem no Santo Inácio, nem no Brasileiro de Almeida, eu levei amizades para a minha vida. Conheço as pessoas, às vezes converso no WhatsApp, pelo Facebook, pelo Instagram agora, Twitter, mas não fiquei com nenhum amigo de escola, eu não fazia minha vida na escola, nunca fui de formar a minha patota com a patota da escola.

26:08

P/1 -

Você pode me contar alguma dessas histórias de bullying que você sofreu, que você reagiu, essas confusões que você se envolveu lá no Santo Inácio? Tipo o que aconteceu, por exemplo?

R - O bullying era basicamente... eu era muito magrelo e eu não tinha grana. Então os caras gostavam de sacanear, a verdade é essa, tira onda com isso e tal. Eu ficava imaginando, cara, eu chegava das férias lá de Guarapari, que eu passava três meses, as férias duravam 3 meses, pescando, pulando da ponte, jogando futebol na rua, andando de bicicleta, jogando bolinha de gude, soltando pipa. E os caras chegavam da Disney, entendeu? Todo mundo de tênis All Star na época, então a diferença, era um choque, era um choque muito grande. Não dava para dar certo. Talvez hoje em dia, você não sinta tudo isso, porque existe tanta preocupação, “não, não pode ter”, todo mundo se preocupa com isso. Naquela época não tinha isso não, cara, era bullying mesmo. Gordinho sofria bullying, cara de óculos sofria bullying, magrelo, pobre, todo mundo sofria bullying. E as pessoas tem reação diferente. Isso não foi uma coisa me impactava, eu não entendia, eu ficava revoltado, o cara não pode fazer isso, o cara não pode fazer isso. Então assim, não sei se é porque eu sempre tive uma personalidade decidida, determinada. Posso dizer para você, será que isso me afetou, eu não sei dizer, eu tenho a sensação que não. Eu não falo disso com nenhum ressentimento não, eu tenho pena dos caras, eu até vejo alguns dias, e falo: aí, o cara não é feliz, o cara não é feliz. Não que eu deseje mal para eles não, também, quero que eles sejam felizes, quero todo mundo bem. Só que a vida tem dois lados, às vezes até mais.

28:28

P/1 E tinha algum professor do Santo Inácio, do Brasileiro que te chamava atenção, que você gostava, o que você odiava, de repente? E alguma matéria que você gostava mais, nessa fase?

R - Tinha os professores que eu gostava mais, tipo Zeidan que dava aula de matemática,(28:53...) que dava aula de geometria, eram pessoas que eu gostava. Eu gostava de matemática, então eu me lembro bem deles. Os outros não me marcaram muito, me lembro deles, mas não me marcaram muito. E no Brasílio de Almeida, quem me marcou mais, a gente tinha um professor de educação física, que ficou muito famoso, que é o José Roberto Light, que é um juiz de futebol, polêmico. E ele foi meu professor por 3 anos, 3 anos do científico. E ele era uma figuraça, eu tenho boas memórias dele, ele jogava bola com a gente. Mas eu sempre fui muito ruim no futebol, isso era outro motivo de bullying também. Mas persistia, fui bom em basquete, no Santo Inácio eu fui campeão jogando basquete. Mas cara, professores mesmo, eu lembro, mas não tenho memórias especiais.

29:56

P/1 -

Na época da adolescência você passou a namorar as meninas? Como é que se fazia essa história, na época?

R -

Eu comecei a namorar com 13, 14 anos. Então já namorava bastante tempo. Eu tenho namorado aqui até hoje conversa comigo, dessa época, que são pessoas lá do Espírito Santo, pessoas de Minas. Eu tenho muitos amigos em Belo Horizonte, porque Espírito Santo sempre foi uma praia mineira, então eu tenho muitos amigos. Eu namorei uma menina de Belo Horizonte, três anos, quase casei com ela. Então assim, tive muitas namoradas de lá. Então a minha vida era muito mais voltada para esse lado do quê... nunca tive problema com relação a isso, sempre foi tranquilo. Eu sou um cara que gosta de escrever poesia, tenho esse lado mais sensível, vamos dizer assim. Tem uma reação diferente das mulheres, geralmente as mulheres têm uma reação legal para isso. Cada um tem a sua maneira de ser, mas assim, nunca tive problema não, até exagerei em determinadas épocas. Mas normal, acho que garoto passa por isso, fica se achando o cara, cabeludão. Viu moita, eu tinha cabelo. Boas memórias.

31:51

P/1 -

Em que momento dessa época você acha que falou eu quero fazer isso, eu quero ter essa profissão? Teve algum momento que você escolheu ou seus pais falaram para você escolher, como é que foi isso?

R -

Isso é interessante. Porque eu acho que antigamente era diferente, a gente meio que era tutelado, em relação a isso, tipo assim, engenharia, medicina, direito, era meio que tutelado. E aí uma coisa que surgiu na época, meu tio ele economista, ele é PHD lá em Chicago, que é o Chicago Boy que eu falei, e ele era economista. E a economia era uma coisa que se falava muito. Eu até pensei na época em fazer engenharia Florestal, até fiz um vestibular para Engenharia Florestal, passei, mas não fui classificado, tinha um negócio que você conseguiu a nota, mas as pessoas conseguiam nota melhor que você, você classificava, mas você não conseguia nota suficiente para aquele semestre, aí eu passei para o segundo semestre. Só que aí eu falei, eu não vou ficar esperando um semestre. Aí eu tinha feito a faculdade de ciências políticas e econômicas do Rio de Janeiro, mas conhecida por Cândido Mendes, hoje em dia. Que era uma faculdade, cara, me surpreendi com a Cândido Mendes naquela época, muito legal. E aí eu fiz economia, tinha o meu tio, me incentivou. “Cara, é uma profissão que você vai ter um mercado muito aberto”. Aí eu fui indo na onda, sabe, sabe quando você vai na onda. Fui na onda, fiz econômica, me dei bem. Comecei a fazer mercado de capitais, na IBEMEC, nosso Paulo Guedes aí, era o diretor lá, me deu aula inclusive. Mas eu fui para o mercado financeiro, não é minha praia, eu fiquei muito pouco tempo lá. O mundo especulativo, não é minha praia, é agressivo, pouco produtivo, não me conecta com as coisas que eu gosto, eu saí bem rapidinho de lá, bem rapidinho, já estava desesperado para sair de lá. Então assim, eu fazia faculdade de manhã, fazia estágio à tarde e estudava de noite no IBEMEC, durante quatro anos, cara, eu tive uma rotina acadêmica violenta. Então assim, fiz vários cursos de formação, fiz muitos, tudo voltado para esse lado, econômico e administrativo. Então eu tinha uma base financeira muito forte, e aí isso me ajudou depois no futuro. Mas naquele momento ali, não bateu, não gostei. Aí fiquei meio que procurando as coisas, olhando. Aí minha vida foi se transformando, ai meu amigo, você já vai ouvir.

35:24

P/1 - Então você ficou esses quatro anos se formando, enquanto isso você estagiava aonde?

R -

Eu estagiei na Fundação Getúlio Vargas, depois no Instituto Brasileiro de Pesquisas Sociais, um Instituto que o meu tio formou com mais três professores lá da escola de pós-graduação de economia, o Van Gone, pessoal de conta na economia. Era estagiário, naquela época não tinha computador, a gente fazia a pesquisa na biblioteca, então para fazer os trabalhos, a gente tinha que montar tabelas enormes e módulos, mas tudo com pesquisa física, eu passava horas nas bibliotecas caçando material para poder fornecer informação para eles formarem os modelos econométricos que davam decisões para diretorias de empresas, como a Vale do Rio Doce, como o Banco Mundial. Eu gostava de participar disso, disso dai eu gostava, porque eu me sentia, to bem na fita né. Eu gostava, eu era um bom estagiário, todo professor lá queria que eu ficasse estagiando com ele, porque eu buscava as informações, eu tinha esse instinto de busca das informações, ficava ali, todo mundo nas bibliotecas. Isso aí foi uma época legal, que eu curti bastante. Passou.

36:58

P/1 -

Você se formou, aí você teve que entrar mesmo no mercado, você foi para uma agência, é isso?

R - Quando eu me formei mesmo, as oportunidades que eu tinha eram todas no mercado financeiro, e eu não queria. Aí eu tenho um ex cunhado, mineiro, minha irmã casou com ele, ele era mineiro, que é o pai dos meus sobrinhos, inclusive.

A família dele é uma família empreendedora lá em Minas, eles trabalhavam no segmento de refeição industrial. Onde fornecia uma quantidade absurda de refeição industrial, por dia, e essas empresas elas vão ganhando mercado. E aí eles ganharam uma concorrência no Espírito Santo, lá no porto de Tubarão, e aí eles montaram uma cozinha, que era num bairro próximo, que era para aproveitar que eles tinham que atender Tubarão e entrarem no mercado no Espírito Santo. Aí o meu cunhado... logo que eu me formei eu fui passar umas férias lá no Espírito Santo, em Guarapari. Aí ele foi e me convidou, “você não quer trabalhar comigo”? Aí eu falei: porra, trabalhar com meu cunhado, dono da empresa, vou arrebentar. Aí foi a primeira lição que eu recebi na vida, uma grande lição que eu recebi na vida. Porque quando eu cheguei lá para trabalhar, a gente entrou na cozinha industrial, eu não sei se você já entrou numa cozinha industrial, tem umas rampas enormes, onde eles colocam os panelões, e o pessoal vai fazendo as quentinhas, um bota o feijão, outro bota o arroz, é uma rampa mesmo. Aí eu entrei lá, ele me mostrou tudo como que funcionava, me apresentou, “agora você vai fazer o seu trabalho, é esse aqui”. Aí me botou na ponta da rampa, eu contava as quentinhas que iam para as caixas de papelão para ser entregue nos clientes. Aí eu falei assim: mas eu vou fazer isso? “Isso, eu quero que você organize aí, conte as quentinhas, eu quero ter certeza de quantas estão saindo”. Ele falou: não, faz isso cara! A gente vai aprendendo. Com isso eu fiquei super amigo do pessoal ali da rampa, obviamente eu comecei a ter ideias sobre o melhor transporte, como que ajeitava a quentinha melhor dentro da caixa de papelão, como que ajeitava as caixas melhor dentro do caminhão, ia nas entregas, porque eu ficava a toa, “eu vou contigo”, ia dando ideia nas entregas. E aí eu fui ganhando respeito das pessoas, não porque eu era cunhado do dono, mas porque eu estava trabalhando. E aí cara, com a minha própria capacidade, eu fui desenvolvendo, aí passei a ser o chefe do transporte. Fui comemorar e o caramba. Fiquei um tempo trabalhando lá, fiquei um ano e pouco. Aí ele virou sócio do meu tio, abriram um outro empreendimento, e aí eu dancei. Quando eu fui para esse novo empreendimento, eu fui gerenciando, e eles brigaram. “Isso não pode entrar”. Aí deu uma confusão danada, aí eu comecei a ver que não ia dar certo e voltei para o Rio. Fiquei lá acho que 2 anos, no Espírito Santo. Aí eu voltei para o Rio e comecei a procurar emprego. Comecei, jornal do Brasil no domingo, marcava lá e ligava. Aí consegui, fui ser gerente trainee, na aviação Itapemirim. Então já trabalhei em comida, e aí passei para o transporte, comida, transporte. Aí fui gerente trainee lá, uma baita de uma empresa, na época o Camilo Cola que é o dono, é que tocava a empresa, muito bom o cara, um empresário Fantástico, um cara visionário. E aí fiquei trabalhando lá por um tempo. E de lá, quando eu estava trabalhando lá, a minha irmã se separou, ficou um tempão separada, conheceu um outro cara, casou de novo. Esse novo marido, era o dono da Quebra-mar, não sei se você já ouviram falar na quebra-mar, talvez não, mas aqui no Rio a maioria conhece. Era uma confecção de surf ware, muito forte no Rio de Janeiro, ela era uma das de pontas do Rio de Janeiro. E aí ele me perturbou para ir trabalhar na fábrica dele, porque ele não tinha ninguém que trabalhasse com custos, que entendesse da parte financeira, que entendesse de produção. Eu relutei um pouco, porque lá na Itapemirim eu estava empregado. Mas aceitei. Pô, ia trabalhar do lado da minha casa, Itapemirim eu trabalhava lá na Avenida Brasil, longe para caramba, ia de ônibus. Nessa época eu andava de moto, eu comecei a fazer trilha de moto. E aí ele patrocinava também, eu corria, ele patrocinava algumas corridas e tal. Aí eu acabei indo trabalhar com ele. Então eu trabalhei em comida, fui para o transporte, agora é vestuário, necessidades básicas do homem. Comer, transporte e se vestir. E aí fui trabalhar na Quebra-mar, fiquei muito tempo trabalhando lá. E aí cara, tudo na minha vida vai acontecendo absolutamente encaixado, mas encaixado mesmo, impressionante. Tipo, vai acabando uma coisa, uma porta vai fechando, ao mesmo tempo que outra vai abrindo. Hoje é fácil falar isso, na época. Aí quando eu estava na quebra-mar, quando começou a fazer água na empresa, teve um grande desfalque na empresa, de um conhecido cidadão no Rio de Janeiro aí, é até Presidente de um clube de futebol adversário aqui. Aí o que acontece, eu fui e abri um restaurante com um amigo meu, era um dos meus melhores amigos. Aí fiquei com restaurante durante um tempo, não deu certo, a gente teve que fechar. Da Quebra-mar, eu trabalhei um tempo com o restaurante, um tempo a gente teve uma confecção. Aí o que aconteceu, deixa eu tentar lembrar aqui que é muita coisa. Aí eu já estava namorando a Andreia, na época da quebra-mar, me casei nessa época. Aí a gente foi morar na Barra, lá no Pontões da Barra. Aí tem mais um bando de histórias pela frente, continuo ou tu quer fazer uma pergunta antes?

44:55

P/1 -

Eu só queria que você falasse o ano que você saiu da Quebra-mar? Quantos anos você ficou com o restaurante? O nome do restaurante também?

R – Tá! Isso foi em 1988, eu me formei 85. Então assim, algumas coisas aconteceram simultâneas a Quebra-mar e o restaurante, foram meio que simultâneos, o restaurante chamava Cristóvão, porque ele ficava no bairro de São Cristóvão. Era um restaurante que era para atendimento comercial, ele funcionava de segunda a sexta, lá não tem movimento de sábado e domingo, funcionava em função das Indústrias, das empresas que tinham ali perto, tinha uma base do Banco Itaú, tem uma base do Banco Itaú muito grande lá, bem perto assim. Aí o que aconteceu, foi mais ou menos similar, na mesma época que eu já corria de moto, aí comecei a namorar com a Andréa. Comecei a namorar com a Andréa em março de 89 e casei em janeiro de 90. Eu namorei, novei, casei, em oito meses. No dia que eu comecei a namorar com ela, eu falei com ela que a gente ia casar, ela ficou me olhando com uma cara de... estamos casada a 31 anos, quer dizer, eu acho que eu tinha razão.

46:55

P/1 -

Como é que você conheceu ela?

R -

O que acontece, eu tinha feito parte de encontro de jovens, da igreja católica. E ela fazia parte do encontro de jovens, de outra igreja.

Aí teve uma época, eu já conheci ela a 4 anos, quando eu comecei a namorar com ela, só que ela namorava com outro cara. E aí o que acontece, dois ou três grupos de jovens, se juntaram para fundar um novo um encontro, em uma igreja que não tinha, que é a Divina Previdência no Jardim Botânico. Então juntou um monte de jovens e foi lá fazer o primeiro, aí o primeiro para poder trocar o projeto deles. E aí eu conheci ela nisso, porque ela era de outro encontro, entendeu? Então a gente ficou convivendo com as mesmas pessoas durante um tempo, mas ela tinha um namorado, e eu tinha várias namoradas. Aí foi acontecendo assim. Quando eu voltei, um amigo meu me ligou e falou: a Andréa terminou o namoro, e a gente vai hoje lá no Baixo Gávea. Quinta-feira a gente sempre ia no Baixo Gávea. Aí eu fui, fui lá. Ai lá... ia ter uma corrida domingo em Petrópolis, de enduro, enduro de regularidade que eu corria e mais alguns amigos corriam. “Vamos alugar uma casa, não sei o que”. Aí tinha uma menina, que a tia tinha uma casa que alugava. Fomos para essa casa e aí começamos a namorar lá. No início ela meio que ficou, mas não sabe se tá namorando, aquele negócio. “Não, estamos namorando, eu vou casar contigo”. Aí foi indo, foi indo, foi indo, começamos a namorar, namoramos, casamos. Casamos em 90. E eu, continuando com a minha moto, correndo lá os meus campeonatos e tal. Organizava muitas competições e tudo. Com isso o que aconteceu, eu fiquei um tempo desempregado, naquela situação. Aí aquele meu ex cunhado lá, que tinha empresa de refeição industrial, começaram a trabalhar com uma empresa de refeição convênio, ticket, chamava cupom refeição. E montou uma empresa, um escritório no Rio, aí me ligou e falou: to precisando de uma pessoa de confiança lá. Aí foi quando eu estava nessa, restaurante fechando, não estava dando certo. Por isso que eu falo, vai tudo... Aí eu aceitei e fui trabalhar lá. Aí eu fui trabalhar no centro da cidade, de terno e gravata, imagina cara, calorzinho do Rio de Janeiro. Fiquei trabalhando um tempão lá, tempão mesmo, sei lá, dois anos. Aí quando eu estava trabalhando normal, vivendo a vida normal. Aí fomos morar em Botafogo, na São Clemente, pertinho de Furnas de novo. Aí um belo dia, a gente tinha um almoço toda quinta-feira, com o pessoal de moto, no centro da cidade. Eu não sei se você conhece o Fausto Macieira, se você acompanha algum tipo de corrida, se você já viu o Grande Prêmio de velocidade, grande prêmio de moto, ele é o comentarista, era do esporte TV, agora é da Fox Sport. Ele é um corredor de motocross famoso, conhecido, e que sempre trânsito nesse meio. E ele é o comentarista hoje da motovelocidade, que é o top de linha de motociclismo. Aí ele foi almoçar com a gente tal e tal. Ele chegou, “pô Léo, pensei em você, ontem eu fui treinar numa pista lá em Jacarepaguá, e apareceu um cara lá com um cartão de um cara de Furnas, que ele está querendo treinar o pessoal para andar de moto, para chegar nas torres, para poder fazer lá os trabalhos deles, que é difícil acesso”. Aí eu peguei o cartão do cara, “tá bom”. “Pensei em você”. Porque quando a gente queria promover o esporte, a gente fazia uns enduros para iniciantes e agente ensinava como que navega, como que faz para passar nos obstáculos, dava meio que um cursinho. “E você sempre foi um cara que curtiu isso, que incentivou isso, quem sabe”. Isso, a empresa, eu não sabia, a empresa que eu trabalhava, estava sendo negociada, e eu não sabia, e eu era gerente financeiro, quer dizer, cargo de confiança, vendeu, morreu, né malandro. E o meu ex-cunhado não falou nada, até hoje eu brigo com ele por causa disso. Aí eu fui e liguei para o cara. O cara foi e falou assim para mim, “olha, eu quero treinar e coisa e tal. O cara chama-se Milton Pânico Júnior, é um nome bem controverso também em Furnas, é um cara que agradou muita gente, desagradou muita gente, mas que fez muita coisa por Furnas, o cara é um empreendedor nato. E aí ele foi e me contratou, cara. Ele fez a proposta. Ele fez a proposta num dia, no dia seguinte eu recebi o telefonema do meu cunhado, “ô estamos vendendo a cupom, provavelmente você não vai ser aproveitado, você tem alguma coisa em vista”? Eu falei assim: pô cara! Loucura, de um dia para o outro. Aí eu peguei o dinheiro que eu recebi da rescisão, comprei três motos, porque uma eu já tinha, chamei um amigo meu, montamos uma empresa e começamos a treinar os caras a andar de moto. Fizemos uma empresa, fizemos um contrato com Furnas, na época tinha um recurso administrativo, chamado AS, que era autorização de serviço, você faz lá os trâmites legais todos, é uma autorização de serviço, você chama duas, ou três empresas, não tinha ninguém para concorrer, porque não existia ninguém que fazia isso. Aí eu comecei a treinar os caras. Eu saía segunda-feira com os caras, ia para o campo e ficava treinando eles a andar de moto nas torres lá. E fazendo as inspeções,

aproveitando para fazer as inspeções.

E aí toda sexta-feira quando eu chegava, ele me chamava para ir almoçar, chegava de manhã, porque o pessoal volta cedo. Isso é uma das coisas que eu sempre questionei, cara perde muito tempo. Aí volta na sexta-feira de manhã, para poder prestar contas e tal, eu mudei um pouco isso, onde eu trabalho, tenho influência hoje. Então assim, aí a gente ia conversando, conversando. Aí no final do primeiro mês, do segundo mês, ele chegou para mim e falou assim: você não quer vir trabalhar comigo aqui. Eu falei bem assim: o que eu vou fazer aqui cara? Eu sou economista, especializado em área financeira, não entendo nada de setor elétrico. Falou assim: isso eu te ensino, agora o seu perfil, eu não tenho aqui. Na hora eu fiquei assim, pô! Ele falou: olha, pensa, se você quer primeiro, se você falar para mim que você quer, aí eu vou te fazer uma proposta. “Mas eu vou ser o quê, vou fazer o quê”? “Você vai ser supervisor de linha de transmissão”. Supervisor do caras que eu estava treinando. E você imagina cara, eu estava treinando os caras como uma pessoa externa, eu estava vivendo todo dia a dia, tudo que acontece no dia a dia dos caras. E aí eu comecei a perceber, porque ele tinha feito a pergunta, porque quando a gente conversava, eu sou um cara curioso, e aí eu estudei linha de transmissão um pouco, porque eu fiquei curioso. Aí eu peguei um livro, com um primo meu que é engenheiro e fiquei dando uma estudada, e aí eu comecei a fazer perguntas para ele, ligadas ao setor, não a o setor, mas a linha de transmissão especificamente. E comecei a dar opinião para ele, sou um cara metido, comecei a dar opinião. “Eu acho que isso está errado, isso aqui podia mudar, esse negocio não faz sentido, cara, é meio perda de tempo isso”. Fui falando as coisas que eu via. Aí cara, ele foi e fez a proposta, quando ele fez a proposta, não deu para recusar, porque é uma estabilidade que eu não ia ter na empresa. Eu ia treinar todos os caras e depois, ia ter que ficar no mercado aí procurando gente para ser treinada. Aí eu aceitei. “Então tá”! Aí eu fui trabalhar lá. Foi em 1998. Ele me botou para trabalhar, “sua data de início aqui, vai ser dia 24 de junho”, que era feriado, era um feriado, não 12 de outubro, 12 de outubro. “Cara, 12 de outubro é feriado”. Ele, “qual o problema? Não quer trabalhar”? Não esqueço dessa frase dele. Aí eu fui trabalhar com ele. Realmente fiz muitos cursos de especialização, cheguei a fazer, eu não sei como eu consegui, cheguei a fazer uma pós-graduação em engenharia elétrica, na Universidade Federal de Itajubá, os caras fizeram uma entrevista comigo. Eu não sou engenheiro, eu até estudei engenharia, quando eu já estava contratado por Furnas. Eu tentei fazer, mas não dei conta, eu viajava muito, não tinha como ir, a aula era cara. Fiz dois anos de engenharia, fiz o básico. Aí fizeram umas provinhas comigo. Cara, eu eu tive que estudar Engenharia em 1 ano. Porque você fazer uma pós-graduação em engenharia elétrica na Universidade Federal de Itajubá, que é o ícone das elétricas, entendeu. E aí cara, a galera que fez comigo, me ajudou muito, a gente passava horas estudando, eu praticamente fiz engenharia em um ano, muito doido. E eu brincava, que eu falava bem assim, a gente ia fazer os trabalhos, eu falava, quando dividir o grupo, eu brincava, os chefes que me perdoem ai, eu brincava assim: eu vou ser o chefe o chefe, que chefe não precisa saber porra nenhuma, e fica aqui só coordenando. Eles riam pra caramba com isso. E assim foi cara, consegui fazer a pós-graduação, passei super bem. Até que em 2009, eu fui infectado com uma bactéria, trabalhando em linha de transmissão, eu fui contaminado por uma bactéria que é transmitida pelo carrapato, que é uma derivação da febre maculosa, chama-se rickettsiose. E aí eu fiquei hospitalizado, fui para o hospital ninguém sabia o que era, foi uma loucura. De 11 em cada 10 médicos falava que não tem jeito, que o grande problema da febre maculosa, infecciosa, que você custa descobrir, os sintomas são parecidos com várias doenças. Então quando você não tem indicação de que foi um carrapato, você perde tempo cuidando de outras doenças. E enquanto isso ela se instala e é a falência múltipla de órgãos, você vai perdendo todos. E aí o que aconteceu, foi uma saga. Uma cunhada minha, trabalhou na Fundação Oswaldo Cruz, ligou para lá, falou com a doutora Elba, que é uma especialista em rickettsiose. Ela falou, isso está com pinta de ser febre maculosa, trata com a medicação tal.
Foi aí que eu comecei a reagir. Aí eu passei 50 dias no CTI, desses 50, 22 em coma, como mesmo, fui tomar chopp lá em cima. Então também foi uma coisa que foi marcante, porque mudou bastante a minha vida, não tem como você entrar num coma, voltar e ser igual. Ninguém volta igual. Tem até uma pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais, que ela tem uma tese de trabalho sobre isso, ela já me entrevistou umas três vezes,

de vez em quando ela manda e-mail perguntando, fazendo pergunta e tal. Mas é uma saga. Agora, vou te falar, trabalhar em Furnas, foi assim, uma coisa inesperada na minha vida, mas que ao mesmo tempo, parece que eu estou a minha vida inteira em Furnas. Não só eu sinto isso, as pessoas acham agem comigo, falam comigo e me tratam, parece que eu estou desde que fundou a empresa, desde sempre na empresa. Porque eu tenho uma ligação muito forte com tudo, eu sou aquele cara que veste a camisa mesmo, e sempre fui muito trabalhador, tipo assim, eu sou um cara que aprendo, se me der chance eu vou aprender, eu tenho humildade para saber que eu não sei tudo. Durante muito tempo fui conhecido por ser muito nervoso, e é uma verdade, eu tinha que ser mesmo. Porque assim, todo mundo tem que matar um leão por dia, eu tinha que matar 10, porque senão, eu era o cara que era indicado pelo Paulista, que é o Milton Pânico, que não é engenheiro. Então eu tinha que ser sempre muito melhor, do que o melhor. Então isso fez com que eu trabalhasse muito mais, fez com que eu me dedicasse muito mais, eu estudasse muito mais, eu me preparasse muito mais. Isso aí é porque eu sou fantástico, não cara, porque me esforcei. Quando eu era contratado, e Furnas começou a falar que ia ter o concurso público, eu comecei a estudar, tinha uma chance de entrar como assessor técnico, que permite a ser qualquer profissão. Então me dediquei cara, eu peguei a matéria no edital e fiquei estudando. Aí, “ah não vai ter mais concurso”, todo mundo parou de estudar, eu continuei. Falei, cara, esse concurso vai voltar, e voltou, quando voltou era um dos únicos que estava estudando, tiveram algumas pessoas que fizeram isso. Então eu passei em quarto lugar, no concurso público de Furnas. Passei a ser funcionário de Furnas. E aí nego teve que me engolir, não teve jeito. Mas isso foi bom, porque isso me deu uma tranquilidade, que eu não tinha, eu tinha que viver comprovando que eu era capaz. Aí caiu a ficha assim, não cara, tu é capaz, não precisa mais comprovar para ninguém. E eu tive dois gerentes, que foram assim, Roberto Junqueira Filho, que hoje é presidente da Santo Antônio Energia e Milton Pânico Júnior, que hoje é aposentado de Furnas, foram os caras que me ensinaram tudo. O Junqueira, quando eu comecei, ele me levou em todas as subestações, ele me apresentou equipamento por equipamento, ele me dava aula todos os dias, fez questão de me ensinar tudo. Eu tenho uma gratidão. E que ele mais me ensinou, ele me ensinou a ser um profissional honesto, decente e assim mesmo conseguir executar tudo. Porque a empresa estatal, ela te amarra muito, mas você consegue, tem que ser determinado, tem que ter padrão. Eu vou ser sincero, cara, hoje eu acho que a equipe que nós temos em linhas de transmissão, em Furnas, eu não vou falar que é melhor, porque não existe isso, tanta gente tão preparada que tem em Furnas. Mas ela é uma equipe de ponta dentro de Furnas, ela é uma Equipe unida, competente, comprometida. Trabalha com honestidade. Então isso para mim tem um valor que nenhum dinheiro paga, nenhum dinheiro paga. Hoje quando eu vejo as emergências, quando eu vejo a minha equipe, eu tenho uma satisfação, porque aquilo ali foi conquistado com muito trabalho, a gente era renegado, porque a gente era do Rio, carioca não gosta de trabalhar, não gosta de trabalhar, não chama os cariocas não. Hoje a gente é os primeiros a ser chamado, há muito tempo já, hoje não, ha muito tempo. Então assim, eu fico feliz para caramba com isso, porque assim, eu me doei muito para isso. E volto a falar, não é que eu seja fantástico não, eu só fiz o beabá cara, eu só fiz o beaba. É estudar, é trabalhar, é acordar cedo, e estar lá, ser o primeiro a chegar e o último a sair. Aí nos Bastidores tem a Daniela que está escutando, ela sabe que eu não estou falando mentira, ela convivia muito mais próxima de mim. Eu fico preocupado com as pessoas, com a segurança das pessoas, com tudo. Mas eu quero fazer o trabalho, eu vou lá para fazer, eu vou lá para fazer logo, eu vou lá para fazer bem. Então eu saio de casa não é para comer o lanche, eu saio de casa é para executar, para subir uma torre, para poder deixar o sistema em cima. Então assim, isso é uma coisa que eu tenho muito orgulho. Hoje, eu sou reconhecido por isso por várias pessoas. Não que o reconhecimento seja necessário, mas ele faz bem, então várias pessoas me reconhece, isso vale muito mais para mim, do que qualquer outra coisa. Então assim, realmente Furnas... acho que o que a minha mãe falava, quando eu era pequeno, quando ela passava em frente ao prédio, “você vai trabalhar aqui ó”. “Eu não mãe, tá maluca”. E acabou acontecendo, acabou que eu fui trabalhar realmente lá. Mais ou menos isso, tem muita história .

1:06:40

P/1 - Como é que foi a primeira vez que você chegou e foi dar aula para os técnicos? Você já tinha ido perto de uma linha de transmissão, de uma torre? Como que era o dia a dia dessas pessoas ali na época?

R -

Perto de torre eu já tinha chegado, porque em trilha, tem muita trilha que passa nas torres. Tem trilha das torres, em Teresópolis, tem trilha das torres, em Itaipava tem trilha das torres, lá no Sul tem trilha das Torres, vários lugares tem trilhas que utilizam as estradas das Torres, que hoje eu que tomo conta lá de uma parte delas. Então o que acontece, a parte de moto eu mudei completamente, porque eu comecei dando para os caras, um treinamento para o cara ser piloto, porque na minha cabeça, a vida inteira eu corri de moto. Então assim, vou ensinar o cara andar de moto. Que com tempo foi mudando, eu comecei a ensinar, hoje eu dou um curso para os caras, que eu ensino o cara andar de moto, para fazer inspeção de linha de transmissão, é totalmente diferente, porque eu não preciso ensinar o cara ser o Jean Azevedo do motociclismo, do off-road, eu não preciso ensinar o cara ser um piloto de Rally dos Sertões. Eu tenho que ensinar o cara, a andar de moto fora de estrada. Esse meu conceito mudou, em relação ao ensinamento de moto. Muita gente se machucou, muitas áreas pararam de trabalhar com moto, porque foi mal implementado, talvez se fizesse uma nova implementação, nesses moldes, tudo mudasse. Eu acho que deveria fazer, eu acho que a empresa deveria assumir isso corporativamente, porque é muito mais barato, é muito mais prático, vale a pena, é muito mais produtivo, a utilização da motos. Mas só quem utiliza as motos hoje, é o nosso departamento, o único departamento que usa é o nosso. Porque eu fui mudando, adequando a situação. O que me assustou em relação aos caras, é o seguinte, eu percebi que existia uma diferença nas equipes muito grande, tipo assim, você tinha uma galera mais nova, quem entrou nos concursos recentes, com uma mentalidade de técnico. E você tinha uma galera antiga, que conhecia muito, mas que era mais peão, vamos dizer assim, que era pessoal do ensino fundamental. E a minha briga era mostrar que os dois, um precisava do outro, porque o técnico não aceitava, e os antigos, pelo poder da antiguidade na empresa, é que mandavam. Então assim, esse choque me assustava muito. E uma cultura raizada antiga, de empresa estatal antiga, muito complicada de você combater. Cara que acha que o que é da empresa é dele. Cara que acha, que porque ele tem 20 anos, manda no cara que tem 1. Às vezes o cara que tem 1, sabe mais do que ele, determinadas coisas. Eu acho assim, a experiência é fundamental, mas sem a técnica não adianta. Então assim, a minha maior briga foi essa, o meu maior choque foi esse, quando eu comecei a conviver com eles.

1:10:50

P/1 -

Você foi contratado na época como supervisor de linha de transmissão, é isso?

R -

Isso! Quando eu fui contratado como funcionário terceirizado, eu entrei numa empresa terceirizada, eu fui contratado como supervisor de linha de transmissão.

1:11:11

P/1 - A sua função estava debaixo do guarda-chuva de que gerência, departamento, superintendência etc e tal? Sobre quais linhas de transmissão você trabalhava?

R - Quando eu entrei, o gerente chamava Eduardo Villar, o gerente de divisão. O supervisor de linha de transmissão, ele está dentro da divisão de manutenção eletromecânica, que cuida da parte eletromecânica, das linhas, equipamentos das estações, subestações das usinas e equipamentos das usinas. Então assim, a minha parte era linha de transmissão. Então você tinha um gerente de divisão, o gerente de departamento, um superintendente, um diretor e um diretor-presidente. Essa é a hierarquia acima da gente. Então, o departamento, do qual eu faço parte, ele abrange três estados. Ele abrange Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, minha área de abrangência vai daqui a São José dos Campos, de Nova Iguaçu a São José dos Campos, de Nova Iguaçu a quase Angra, de Nova Iguaçu até Silva Jardim em Espírito Santo, de Nova Iguaçu a Pouso Alegre em Minas. Então assim, ainda pega uma parte de Itatinga, indo para usina de Furnas. Então assim, é uma área grande, são 47 circuitos, é uma área extensa, 5.600 torres aproximadamente, sobre a nossa responsabilidade. Quando eu entrei, o gerente se chamava Eduardo Vilar, o gerente de divisão, e o gerente de departamento, já era o Milton Pânico, logo depois que eu entrei que eu entrei para Furnas mesmo, o gerente de divisão passou a ser Roberto Junqueira. Roberto Junqueira Filho, que para mim foi a pessoa que eu mais aprendi na minha vida, ele consegue reunir, honestidade, capacidade técnica acima da média, inteligência e raciocínio. Porque às vezes o cara inteligente, mas ele não consegue colocar em prática. E ele tem uma outra qualidade, que é essencial para quem comanda, porque ele sabe lidar com gente, ele sabe tirar o teu máximo, sabe como que é, sem ser agressivo. Então assim, para mim foi um modelo, aprendi muito, muito com ele. Acho que grande parte do que eu sou hoje, eu devo a ele. E o Milton Pânico, me ensinou empreendedorismo, garra, a coragem, ele teve uma coragem. Eu falo para ele, você foi louco quando você me contratou, ele foi muito corajoso, ele apostou muito no filling dele. Ele falou assim: eu sabia que eu ia acertar. “Pô, não dá...” “A cara, convive com as pessoas um tempo que você vê que dá para apostar ou não dá para postar”. Eu concordo com ele hoje, eu sei que tem pessoas que eu possa apostar e tem pessoas que eu não posso, mas mesmo assim ele foi corajoso. E a coragem faz parte, porque você só avança, só melhora, só progride, se você for corajoso, se você acreditar. Então assim, isso aprendi com ele, tem que acreditar cara. E outra coisa, não tem que ficar remoendo nada não, não fica remoendo nada não cara, parte para outra, não deu certo, nego não tá querendo deixar você fazer isso, vamos bolar outra coisa. Eu queria implementar um troço, não conseguia, pessoal da segurança, pessoal da engenharia, não pode, não pode é perigoso. Então tá, vamos partir para outra, esquece, não dá, muita gente puxando contra, vamos para outro lado. Então assim, isso eu aprendi com ele, sou grato a isso. Falo com ele, converso muito com ele até hoje ele, é um guru. Mas enfim, quando eu entrei era basicamente isso.

1:15:53

P/1 - Você trabalhava supervisionando os técnicos, é isso?

Quais atividades eram mais recorrentes de você fazer, já tinha emergências ou era mais inspeção?

R -

O dia a dia do supervisor de linha de transmissão, que eu acho que é o mais importante, e que a empresa de repente não valoriza, não bota isso em evidência, é o dia a dia. Porque o que faz com que a gente tenha menos problema é a preventiva. Então você faz uma boa inspeção e faz uma boa manutenção corretiva, a quantidade de problemas é bem menor. A emergência, ela é uma emergência, tipo ventou a torre caiu, você não tem como prever isso. Eu fico um pouco assustado quando eu vejo hoje, muitos trabalhos em reverenciados, mutirão para trocar o para-raio, eu fico pensando, como deixa chegar num nível, que precisa de um mutirão para trocar. Então assim, estão valorizando a corretiva, e não estão valorizando a preventiva, ou seja, as pessoas não estão fazendo o trabalho, o beabá delas, isso aí me preocupa. Porque Furnas já tem uma experiência, um corpo profissional grande, bom, competente, para enxergar isso. Mas é um problema de gestão. Então assim, porque que você tem uma parada de uma linha de transmissão, numa área tem que trocar 80 isoladores e na outra troca 5. Porque uma está fazendo manutenção e a outra não. Então o que é o trabalho do supervisor, é esse, não deixar chegar a 80. Ele tem que trabalhar para manter a manutenção de energia, tem que trabalhar para equipe entender, isso é importantíssimo, o técnico tem que entender, que a função dele é importantíssima e vital, que ele é o cara, se ele fizer uma baita de uma inspeção e valorizar isso. Hoje eu vejo a nossa equipe aqui no WhatsApp, que é uma ferramenta que ajuda a gente, eles têm orgulho, quando eles acham o problema, quando eles fazem uma boa inspeção, ai a gente vai lá e conserta, porque isso evita que a gente tenha problema no futuro, isso evita que eu tenha que fazer um mutirão, que gasta uma fortuna, e o pessoal bate palma. Então assim, eu acho que Furnas já devia estar nesse ponto de maturação, de enxergar esse tipo de coisa. E eu acho que os supervisores de linhas, tinha obrigação de passar isso para gerência, passar para gerencias superiores, entendeu. Mas as coisas não funcionam, a gente não está na Suíça.

1:19:05

P/1 - Como é o dia a dia do supervisor? Você entra lá tal hora, e a rotina é mais inspeção, pelo o que eu entendi, é isso?

O que mais podia aparecer para você?

R - Não cara. A inspeção ele gera um monte de nota de manutenção. Então a gente tem... a mesmo tempo, nos estamos conversando aqui, eu tenho uma equipe fazendo linha viva, trabalhando com a linha energizada, trocando acessórios, trocando isolador, trocando para-raio, sobe para raio, acrescentando peças que corroeram. Nós temos uma equipe de corrosão, de perna de torre, corrosão de estrutura, trabalhando também, direto, o ano todo. Nós temos duas equipes de estrada, fazendo recuperação e manutenção das estradas de acesso, porque nós precisamos chegar nas torres. Isso é que nem enxugar gelo, você termina de arrumar a estrada, começa de novo, você termina de arrumar estrada, começa de novo, são aproximadamente 7500, 8000 km de estrada de acesso, que tem som na nossa área. Temos equipes de inspeção e temos equipe de manutenção normal, que está trabalhando em outros tipos de manutenção de solo, que é aterramento de cerca, esse tipo de coisa que a gente tem que manter. Então é um trabalho complexo, ele tem uma logística complexa, o grande lance de linha de transmissão, é logística. Se você se organiza, você consegue, tem que estar organizado, tem que ter prioridade. Então assim, é um trabalho complexo, e principalmente você formando as pessoas, as coisas vão facilitando, e dando uma certa autonomia, as coisas vão acontecendo, começa a entrar no automático, que é aonde o supervisor tem maior importância. Esse automático tem que ser vigiado, por que o automático gera desânimo, o automático ele gera acidente, o automático gera acomodação. Então, onde que o supervisor atua, mantendo isso ai, variando, trocando, conversando, mantendo essa chama acesa. Porque o dia a dia ele é rotina, rotina é uma avassalador, rotina destrói tanta coisa. Então assim, a gente tem que manter essa rotina com prazer. E a nossa função é essa, como se a gente tivesse alimentando essa caldeira.

1:22:24

P/1 - E você supervisionava naquela época até você fazer o concurso quantas pessoas? Era todo mundo da região sudeste, ou quantos técnicos eram?

R -

Quando eu comecei, eram 34 técnicos em Adrianópolis, e 10 em Cachoeira Paulista. Hoje nós temos 14, no total, aqui e Adrianópolis e temos 10 em Cachoeira. Porque agora a gente tem o contrato de terceirizados, então nós temos 13 desses, que são terceirizados, eles não são técnicos de linha de transmissão, são auxiliares de linha de transmissão. Muitos deles são técnicos que aceitaram trabalhar como auxiliar, porque o cara precisa trabalhar. Mas é outro tiro no pé que Furnas está dando, porque o mercado inteiro, setor elétrico inteiro, está investindo em montar um corpo técnico próprio. Porque eles já perceberam o que é óbvio, você investe uma grana treinando cara, você precisa de 5 anos para treinar um técnico, 5 anos, para fazer todos os cursos de linha viva, todos cursos de linha morta, curso de inspeção, curso de inspeção de moto, curso técnica de off-road, para usar o carro de uma forma consciente, uma forma que proteja o carro, que proteja a vida dele. Aí você gasta uma grana com esse cara, você investe durante 5 anos no cara, e aí ele é terceirizado. Chega um outro cara e paga r$ 10,00 a mais e leva. Então, uma coisa óbvia, você está treinando o cara para o mercado, está treinando o cara para o mercado. Todas as empresas já perceberam isso, começaram com terceirização, Esteitigre, Celel, todas elas, já tem um equipe própria, Esteitigre começou aqui no Rio com equipe própria.

A Celel que é uma empresa que está, que é dona de uma linha que é compartilhada com a gente, já romperam o contrato de manutenção com Furnas e vão contratar, quem? Os caras que trabalham para Furnas, eles vão pagar mais, e vão contratar para o quadro próprio, vai pegar um cara com 30 anos de Furnas e vai para lá ganhando um pouco a mais, espero que seja muito, porque eu quero que o cara se der bem, tomara que seja muito mais. Isso me entristece, porque você ver que toda a prática técnica, a experiência, está indo embora. E os caras não estão vendo, ou estão vendo e estão deixando, aí não sou eu aqui que vou julgar, mas que está indo embora está.

1:25:50

P/1 - Além desse dinheiro para formação, essas pessoas tiveram muito esse contato que você mesmo anda falando, do supervisor que vai conversa, que forma, isso são professores que eu imagino que eles não teriam em nenhum outro lugar no Brasil.

R - Não!

Talvez eles tivessem em empresas como Cemig, empresas como a Chesf, como a Eletrosul a Eletronorte eu não conheço tanto, mas acredito que ainda possa ter essa cultura, mas não conheço tanto. Os trabalho que eu vi deles, são meio assustadores, em termos de coragem. Eu acredito que tem outras empresas que eu conheci também que fazem isso, menores. Mas essa cultura, Furnas realmente é de ponta nisso. Você tem uma emergência hoje, cai 3 torres lá, você vê, o quadro só diminui, só diminui. Pode ter certeza que vai chegar lá e vai fazer ou no mesmo tempo, ou mais rápido que já foi feito. Porque existe esse comprometimento, funcionário de linhas é um ser de outro mundo, é impressionante o comprometimento e a garra que os caras têm, e eles trabalham lá no meio do mato, ninguém vê, são heróis, realmente escondidos aí, encobertos. E eles precisam ser valorizados, então a gente faz o trabalho de valorização com eles, em menor escala, mas existe uma coisa, o cara precisa sobreviver, o cara precisa ser remunerado, não adianta, por mais motivador que seja, a gente montar uma equipe, com garra, com comprometimento. Você tem que ter por trás um reconhecimento financeiro. Não existe, como não? O mercado está aí, tá chegando no ponto, eu estou vendo agora, técnicos que estavam como auxiliares, que estão cedendo, o cara sai de Furnas chorando, mas ele precisa viver, ele precisa pagar a escola do filho, ele precisa fazer a viagem dele nas férias dele, ele precisa pagar as contas da casa dele. ter dignidade. Então assim, eu fico impressionado como que isso não está sendo valorizado pela empresa. Eu vejo, por exemplo, um movimento como esse do museu, é uma coisa super bacana, valoriza, as pessoas gostam disso, gostam de ser valorizadas, mas não pode ficar só no oba oba, Porque assim, o que eu vejo, na hora que você vê uma foto no sistema elétrico, você vê qual tipo de foto? Você vê uma torre bonitona, uma subestação, mas na hora de reconhecer, não é o cara que mantém aquilo lá, cara que mantém aquilo lá, é o cara que empurra. A gente é o padeiro da padaria, entendeu. E os caras estão preocupados em botar um balcão bonito, então é complicado, complicado. Espero que esse Museu consiga manter, resgatar e manter o qão grandioso isso era, e o qão grandioso pode deixar de ser.

1:29:51

P/1 - Que mudanças que você propôs, que mudanças que você orgulha de ter feito com relação às equipes, a forma de trabalhar, a forma de usar os equipamentos? O que

ao longo de todos esses anos você consegue lembrar agora para falar para gente?

R - Tem uma coisa boba, que eu acho maneira, que é o seguinte. Como a gente começou com negócio de moto, eu implementei umas botas de cano alto, que vão assim até os joelhos. E aí com o tempo, nossas equipes, começaram a usar essas botas no dia a dia, e isso acabou que espalhou pela empresa toda. Hoje eu vou numa emergência, olha todo mundo com a bota de cano alto, que é muito mais seguro. Mas que barato, como é que uma coisa vai progredindo. Aconteceu, uma coisa que eu acho bacana. Uma coisa que eu gosto de ter participado e tive muito apoio da gerências, foi que quando eu comecei a trabalhar como supervisor, técnico de linhas ele era muito mal, ele era tratado mal, tipo assim, é pião, o pessoal até brincava que era Eletrofoicista, muitas vezes o cara usa foice para poder chegar na torre, porque tem mato, a foice é o instrumento que o cara usa naquele momento ali, não quer dizer que ele não saiba sentar no computador e fazer uma baita de uma planilha em Excel. Então, o que acontece, foi mudar essa cultura, das pessoas mesmo a nossa volta. Foi dar carros melhores, equipamento melhor, brigar por equipamento melhor, brigar com ferramentas elétricas, parafusadeira, equipamento de prensar cabo, tudo mais leve, foi proporcionar melhores condições de trabalho, para eles. E mostrar importância deles brigarem e manterem, fazendo a manutenção desse material. Isso é uma coisa que eu gostei de ter participado, essa mudança de cultura, desse lado. E a mudança de cultura do seguinte, as pessoas têm que entender, por exemplo, a gente tem um exemplo, tem um técnico que faleceu, ele é terceirizado, Miguel. Que ele era um senhorzinho complicado, difícil de você conviver, mas tinha um conhecimento técnico de cabo de transmissão fantástico. Quando ele veio trabalhar com a gente, ele já veio mais velho, ele trabalhava por cinco, cara, no auge dele aqui, o cara era uma máquina de trabalhar. Aí todo mundo queria trabalhar com ele. Aí o cara foi ficando mais velho, sofreu um acidente domestico, aí todo mundo já não gosta tanto assim, ele é um cara chato, um cara complicado. Aí eu falava pessoal, olha só, nós temos que valorizar esse cara, nós temos que tratar ele bem, nós temos que levar ele para os lugares, porque ele enxergando, ele olhando, ele participando, ele vê coisas que a gente não vê, pela experiência. Experiência não se passa, encostando a cabeça assim, e transferindo arquivo, você tem que passar aos poucos, não se passa de uma vez só, numa transferência só. Você tem que ir convivendo com um cara experiente para poder passar a ter experiência dele. Não é que ela não se passe, ela se passa, mas ela é muito homeopática, vamos dizer assim. Então assim, isso é uma coisa que eu também sempre trabalhei, sempre trabalhei na questão de que a gente é equipe, não adianta, ninguém faz nada sozinho, não adianta, em linha de transmissão mais ainda. Então assim, eu não vou ser um bom supervisor se a equipe não for uma boa equipe, se não for um bom encarregado, ai o gerente não vai ser um bom gerente, por aí vai. Então assim, a gente tem que ser bom, e defender a pessoa do lado, está junto da pessoa do lado, olhar pela pessoa do lado, valorizar o que ela tem de melhor, mesmo quando ela vai ficando mais velha. Obvio, que tudo isso tem limite. Não é o cara, antigamente tinha muito isso. O cara que ficava na sombra, eu brinquei com o moita ai, porque tinha realmente muito isso aí. O cara vai para emergência e se esconde, se esconde atrás da moita e fica a emergência inteira atrás da moita, tinha muita gente, tinha técnico para caramba. Essas emergências tinham 300 técnicos, hoje não tem 100 na empresa, hoje tem 117 na empresa, eu acho. Então assim, eu me escondia, porque não fazia tanta falta. E um trabalhava por 2, 1 trabalhava por 3. Antigamente eu tinha corporativismo em relação a isso, hoje não, hoje o cara sabe se ele precisar, precisar mesmo, não tem mais o cara atrás da moita, antes o cara sabia assim, eu estou aguentando, deixa ele quietinho lá, que ele vai me atrapalhar mais aqui, mas se apertar mesmo, ele ia, o cara, vem aqui me ajuda, só segura aqui para mim. Hoje ele não tem esse cara mais, para dar um mínimo apoio, se ele precisar, aí muda tudo. Então assim, eu fiz parte dessa mudança, não que eu tenha sido a pessoa responsável por essa mudança, eu participei dela, puxando para o lado que eu acredito ser o certo, puxando para o lado mais humano e de competência, de realização e de eficiência. Não que eu fosse o cara que mudou isso tudo, mas tive a minha parcelinha lá.

1:36:29

P/1 - Conta para mim Léo, como que é uma emergência? Você pode me dar um exemplo, de algum caso que aconteceu, de uma situação que te marcou?

R -

Emergência cara, todas elas são muito marcantes. Emergência é um troço que se você for em uma desde o início, você muda sua opinião, sobre uma série de coisas, não só sobre os funcionários de estatal. Sobre o que é sincronia, sintonia, sinergia, o que é dedicação, competência específica. Porque você chega num lugar que está devastado, tem 2 ou 3 torres no chão, um monte de cabo retorcido, ferro retorcido. E você olha para aquilo, e fala, esse negócio aqui vai dar muito trabalho. Dá muito trabalho! Mas assim, se você ficar lá, todas as pessoas que foram pela primeira vez, gerente, pessoal de escritório que nunca tinha ido, fica todo mundo impressionado, eu fico só observando as reações. Porque parece que não tem ninguém fazendo nada, a sensação que você tem. Porque os trabalhos iniciais, você não ver ninguém fazendo nada, porque você está separando os cabos, você está mostrando os cabos, você está cortando as ferragens, você esta limpando a área. De repente, você começa a ver a área limpa, de repente você começa a ver a torre subindo, de repente você ver a torre pronta, de repente você vê o cabo na torre. Assim, para quem não está lá, e não conhece cada procedimento, isso é mágico, porque quem nunca viu, fala assim, caraca, que capacidade é essa que os caras têm, os caras são muito competentes. Então todas as emergências que eu fui, foram muito marcantes, eu vou destacar as duas, a primeira eu era recém contratado como supervisor, foi em 2000, eu tinha um ano, eu fui contratado no final de 98. Então assim,

porque foram cinco torres, porque tinha anos que não tinha emergência em Furnas, não estava muito organizada, foi meio bagunçado o negócio. Então para levantar cinco torres, a gente demorou 15 dias. Hoje a gente levanta cinco torres na metade do tempo, fácil. Então assim, essa me marcou por isso, porque foi um desafio inicial muito grande, que eu fui muito exposto, mas sobrevivi. Fiquei bem humilde, bem olhando, sendo pouco incisivo nas coisas. Foi um aprendizado para eu poder encarar as outras. E a outra foi a da copa, a da copa não tem como não citar, porque copa no Brasil, futebol no Brasil. E aí caiu umas torres do circuito 750, duas torres, uma de cada circuito, tinha dois circuitos. E a gente foi naquela, uma semana antes da Copa. Quando a gente estava lá consertando essas duas, nos chegamos, decidimos que iríamos atacar primeiro uma torre, que era mais próxima da estrada, para poder botar um circuito logo em cima, e ficar só com outro. E o tempo não colaborou, chovia para caramba, em uma dessas tempestades, caíram mais três em outro circuito. Aí a gente teve que se dividir. E a gente entregou a terceira linha, a copa ia começar às 14 horas, 14 horas, acho que ia ser a festa de abertura, e as 16 horas ia ter o jogo do Brasil. E a gente terminou às 13 horas. Aí foi uma comemoração, uma alegria. A gente sempre comemora muito, quando a gente termina uma emergência, a gente é muito unido. Então a gente sempre comemora muito, mas essa cara, aquele clima de patriotismo, que a copa querendo ou não traz, sendo bom ou não traz. Cara, foi muito emocionante. A Daniela por acaso estava nessa. Foi uma coisa, muito, muito bacana, o que a gente sentiu naquele momento. Pô cara, a gente botou sistema elétrico, íntegro, para não ser a causa

de uma vergonha para o Brasil. Foi muito, muito legal.

1:41:37

P/1 - Tem algum técnico que te marca, que te marcou, que você viu crescer?

R -

Tem vários! Nossa, eu sou muito chegado no pessoal, eu me amarro, assim, no ambiente. Tem muitos caras, muito bons, muitos caras que eu vi se transformarem. Eu vou eleger dois, mas na verdade são muitos, poderia ser até injusto. Um em especial, que esse não adianta, que é o Márcio Henrique, que hoje é supervisor lá. Foi um dos primeiros que eu treinei, na moto inclusive. Ele é um técnico, que a coisa que mais marcou ele é um cara bem-humorado, um cara alegre, brincalhão e muito competente.

E desde o início eu vi que ele era muito competente, porque o Marcio é um desses caras que pensam. Então eu ficava vendo os caras trabalhando, o cara vai amarrar uma corda em cima da torre para puxar o material, o cara sabe se ele amarrar a corda, sem pensar, ele vai errar, ele vai fazer força para pegar o material. O Márcio pensava, o Márcio amarrava no lugar certo. Ele para mim, foi chamando a atenção. E eu investi bastante nele, ele era contratado, há muito tempo já, e era novo. Então os meninos batiam muito nele, porque ele era novo e contratado. E eu fui dando todas as oportunidades. Eu igualei as oportunidades para funcionários e contratados, que era uma coisa que não tinha. “Contratado não pode dirigir”. “Porque não pode dirigir”? Tem que dirigir! Coloquei todo mundo para dirigir, porque ganha uma função acessória lá, não é muita coisa, mas o cara se sente valorizado. Isso é o tipo da coisa que não importa o valor, o que importa é valorização. E eu comecei a investir muito nele, e ele correspondeu, porque ele é muito bom. Hoje, na minha opinião, ele é o melhor supervisor de campo. De campo, porque o supervisor engloba muitas funções. De campo ele é o melhor supervisor, na minha opinião, claro que eu estou puxando a sardinha, a brasa toda para minha sardinha. Mas é minha opinião real mesmo. Tem caras muito bons, Alex aqui de Ibiúna, Hélio, Alexandro, Fabiano, o Ellison de Mogi, não quero ficar falando o nome que é ruim. Todos os supervisores de campo, de Furnas, são muito, muito bons, sem tirar nem por. O Márcio, porque, eu convivi a minha vida inteira com ele. Então assim, ele é um cara que hoje é supervisor, muito, muito bom, eu diria que assim, ele marcou em vários aspectos. Porque eu não esqueço, quando eu botei ele como

encarregado a primeira vez numa emergência, na reunião de supervisão, um supervisor que já saiu de Furnas, que era uma pessoa muito complicada, muito complicada mesmo, “esse cara não pode ser encarregado”. Por quê? “Ele brinca o tempo todo, ele não é sério”. Falei: cara, você tá confundindo o cara ser bem humorado, com ele ser incompetente. O cara pode ser bem humorado e competente, o fato dele brincar, cara, eu até prefiro, eu prefiro um cara trabalhando de bom humor, do que trabalhando com o teu amor. O seu mau humor me incomoda muito mais, do que o bom humor dele. Então eu não vejo razão para isso. E aí eu banquei, “vai ficar na sua responsabilidade”. “Pode ficar na minha responsabilidade e você vai se surpreender”. E todos se surpreenderam. Hoje ele é uma referência, vários trabalhos que a gente não faz se o Márcio Henrique não for. É uma verdade. Foi uma aposta. Outro que eu tenho que destacar também, é o Richard Alex lá de Cachoeira, o Richard é um cara, rapaz, tecnicamente, muito, muito bom, mas muito, muito bom. Ele é um cara muito inteligente, é um cara muito correto também, eu me lembro que ele veio da iniciativa privada, ele entrou primeiro lá em Ibiúna, e ele comparava muitas coisas, ele comprava Ibiúna com a gente, ele comparava a gente com... E eu achava normal aquilo, e a gente foi convivendo, e é engraçado isso cara, a gente teve muitos embates, muitas situações de eu não fazer o que eles queriam, ele e o Ronaldo são muito próximos aí. E aí chegou um dia, cara, fiquei tão feliz nesse dia, que ele falou para mim, cara, olha só, vou falar para você, você é chato para caramba, mas você é um cara que é correto, porque é justo, que chega junto, que quando a gente precisa você estar aí, que faz a tua parte. Então a gente tem que trabalhar bem contigo mesmo, não tem que ficar de onda, você é um cara que está ali, para o bem e para o mal. “É isso aí, só isso que eu quero”. E aí cara, os caras se transformaram, o cara explodiu a capacidade técnica dele. Porque o cara começou a trabalhar e começou a criar as coisas, ao invés de compara. Foi um cara que me marcou muito também, por isso, por ele ter reconhecido, porque eu sei que muitos vivera isso. Eu não quero nem que o cara me reconheça, o mais importante é ele se dá essa possibilidade de reconhecer, porque aí a gente muda, quando a gente dá o reconhecimento a outra pessoa, a gente muda muito mais que a pessoa. A gente muda muito mais do que quem a gente está reconhecendo, ser conhecido é bom, e momentâneo, passou, efêmero. Agora, quando você reconhece alguém, valoriza alguém, cara, isso muda tudo.

1:48:30

P/1 -

Me conta um pouco sobre a sua relação com alguém que trabalha em linha de transmissão, com outras áreas de Furnas? Vamos começar pelo campo, área de geração, construção, vocês tem conexões com essas outras áreas também, conversa? Você acha que as várias diferentes área de Furnas ainda se conversam muito?

R - Vou começar pela construção. Construção e operação sempre foi uma briga, porque a construção, ela chegar lá, constrói uma linha, por exemplo, e vai embora, ela nunca mais vai voltar lá. Quem vai conviver ali, com fazendeiro, com dono da terra, somos nós. Então o cara deixa a porteira aberta, sempre foi assim. Mas isso mudou com o tempo. E o que acontece, eu principalmente, graças ao Junqueira, aprendi a trazer os caras para o meu lado, a ser parceiro dos caras. Então assim, principalmente lá em Cachoeira Paulista e aqui em Jacarepaguá com alguns, que a gente tinha um bom relacionamento, a gente conseguiu mudar bastante isso, apesar da cultura ainda existir, em muitos lá. Mas a gente passa a conhecer. E aquilo que eu te falei, da mesma forma... quando você trabalha certinho, quando você chega junto, quando você tem conhecimento, quando você tem presença, as pessoas também mudam contigo, o cara começa a te respeitar. Então isso foi importante, a gente mudou a nossa postura em relação aí eles, eles sentiram e isso, demorou um pouquinho, mas o troço... Então eu diria que hoje, numa escala de zero a dez, a gente está em 8, era três, está em oito, entendeu. Outras áreas, eu acho assim, sempre achei a engenharia muito distante, mas a mesma coisa que eu te falo em relação à construção. A gente construir um canal com eles muito grande, e como a gente trabalha, trabalha duro, eles reconhecem isso, então eles apoiam a gente. Então assim, se tornou também, eu diria que até mais, de 8 para 9. Construção oito eles nove. O resto da empresa, o que acontece, comunicação social, por exemplo, sempre tivemos um excelente relacionamento, sempre. Porque a gente sempre achou legal o nosso trabalho ser divulgado, a gente sempre achou importante existir a comunicação para divulgar isso, e para defender a gente, e para falar pela gente muitas vezes. Então a gente sempre se deu bem também. A parte do CS, que é a parte administrativa, é um caos, é um caos, mas não é culpa das pessoas, embora em alguns casos seja. Mas assim, a gestão é muito complicada, Furnas é muito complicada na parte administrativa, a criação do CS era para ser um tiro certeiro, e não foi. Então hoje, eu acho que a gente tem um baita um prejuízo, por causa da administração ser muito falha. E aí, eu diria que tem muitas pessoas que atrapalharam muito, umas que ajudaram, então uma empresa que depende de pessoas e não depende de processos, está fadada a se dar mal, na área que está assim. Então, por exemplo, hoje, na nossa área lá, na nossa microárea, vamos dizer assim é importante que eu não dependa de uma pessoa, tem que ter vários. Por quê? Porque o processo tem que funcionar independente do fulano, de ciclano, do beltrano. Eu estava de férias, o Márcio estava de férias e o Márcio Henrique se acidentou em casa e ficou afastado, comandou tudo pelo telefone, assumiram o lugar dele, um técnico foi para emergência como supervisor, e foi brilhante, isso que é importante. As pessoas tem que manter o processo funcionando, independente das outras pessoas. E eu vejo que na administração de Furnas isso é um caos, se eu não tiver, vou ser sincero, porque eu conheço muita gente, muitos anos de Furnas. Se eu não tiver aqui no meu ramalzinho, pegar e ligar para determinadas pessoas, tem coisas que não acontecem, não acontecem. Nesse aspecto, eu acho que é isso que eu tenho, eu acho triste, quando você passa 15 dias no mato levantando torre e você entra no escritório central, e você olha em volta e parece que nada está acontecendo. Eu não acho que eles têm que dar bandeirinha para a gente nada, mas assim, as pessoas tinham que valorizar, tinham que valorizar que a atividade-fim da empresa é aquela. E muita gente não sabe que a gente existe, nem sabe. Então assim, o funcionário de Furnas não saber que existe linha de transmissão, usina. Falando em usinas, você perguntou sobre essas outras áreas. Nosso relacionamento, cara, totalmente diferente de algumas áreas, a gente trabalha em manutenção de subestação de usina, como uma equipe da divisão, a gente é uma divisão. Então a gente trabalha junto com os caras, a gente dá apoio para os caras, os caras dão apoio para a gente, não tem essa, não tem essa, eu sou de linhas eu não vou lá, eu sou de usinas eu não vou lá, não tem essa não. Todo mundo trabalha em tudo, não tem esse negócio, por exemplo. Paraná, tem Ivaiporã e Foid, parece que são duas áreas do mesmo departamento, são duas áreas, dos supervisores diferentes. Eu não tem esse negócio não, é todo mundo junto, aqui em Cachoeira Paulista todo mundo junto e misturado, não tem esse negócio não. “Eu sou do quilômetro zero, eu sou de Adrianópolis”, cara, a gente é de DRN, então a gente não tem esse papo não. Eu trabalho aqui, trabalho em Cachoeira, trabalha em São José dos Campos, trabalho em Pouso Alegre, trabalha em Itajubá, trabalho aonde a gente tem que trabalhar. E se eu tiver que ir para o Paraná, eu vou para o Paraná, acabou. É assim que funciona.

1:55:35

P/2 -

Léo, você lembra de algum caso engraçado, alguma coisa? Eu sei que tem muita brincadeira no campo, muita coisa divertida, então você tem alguma dessas brincadeiras para contar para a gente?

R - Ai Jesus! Eu vou tentar pensar uma aqui que eu possa contar que ninguém fique magoado. Ô Dani, essa pergunta aí a chute na canela.

Não estou lembrando de nenhuma Dani, deu branco, posso pensar?

1:56:28

P/2 - Pode! Pode pensar!

1:56:32

P/1 - Tem alguma figura folclórica?

R -

Miguel! Miguel é folclórico, já falecido, ele era uma figuraça. Um senhorzinho rabugento. Lembrei de uma história engraçada dele, a gente teve uma emergência lá em São Carlos, e o Miguel trabalhava com a gente na parte de cabos, então tem que separar os cabos, colocar o cabo na posição certa. E aí a gente estava no campo, e o Miguel foi lá para o meio do vão, para poder orientar o pessoal. E aí apareceu um sujeito andando, perto dos cabos, aí ele começou a gritar, “o seu Zé rolha”, falou um palavrão. “Não tem o que fazer na vida, não cara? Tá aí, andando ai atoa, sai daí, que não sei o quê”. E aí ficou aquele silêncio em volta dele. “Você é um Zé”, aí falou um palavrão. Zé Mané, mas mais grosseiro. Aí quando ele virou para o lado, todo mundo olhou para ele, você sabe com quem você está falando? “Um zé mané”. Aquele ali é o chefe do departamento, é o dono dessa porra toda aqui, é o gerente disso aqui tudo. Ele: ai meu deus do céu, é hoje que eu vou embora para casa. Tanto que nego zuou ele, a emergência inteira. E o cara teve que aturar, porque o cara estava no lugar errado. Então ele xingou o chefe do departamento, adoidado. Ele é um cara muito folclórico, ele já fez isso mais de uma vez. Ele já fez essa besteira mais de uma vez. Aí Dani, agora lembrei de outra. Quer que eu conte outra engraçada? Numa emergência que teve na minha área, a gente tinha acabado de receber um novo gerente de departamento, o cara era recém empossado, estava até com dois, porque estava em transição, foi uma época confusa em Furnas. E aí ele chegou lá na emergência, ele queria ver aonde eu estava, ai eu chamei o Jorge, é outro folclórico, dos folclóricos aí, sucatão. Falei para o Jorge: faz um favor para mim, pega o Luiz Eduardo aí na barraca principal, e traz ele aqui na torre que eu estou, falei o número da torre que eu não lembro agora. Aí ele foi pegou o Luiz Eduardo e veio. O Luiz Eduardo era simplesmente o gerente do departamento. E ele foi falando, ensinando para o Luiz Eduardo, linha de transmissão, quando chegava na porteira, ele falava: ô, abre lá para mim, pô. O Luís Eduardo abria. Ele é todo engraçado, “pô, tu demora para caramba, tu é lento, você não tá acostumado não com essas coisas”. E foi marretando o Luís Eduardo, falando que o Luís Eduardo demorava, e na hora que chegou na barraca, o Luiz Eduardo ia saltar do carro, sem capacete, ele: ô, você está sem capacete rapaz, tu não pode, leva aqui o meu, aproveita e vê se pega um pouco de inteligência através do meu capacete, que você é meio lerdinho. E foi embora, aí o Luiz Eduardo saiu do carro rindo. Aí eu falei, o que houve? Aí o Luiz Eduardo me contou, “rapaz, o cara veio me sacaneando lá de cima até aqui, me esculachando”. “Sério”? “Sério”! Peguei o rádio, quem é que está perto do Jorge aí, aí alguém falou eu tô, então fala para ele, que ele teve o prazer de transportar aqui para torre a torre o gerentes do departamento, o chefe novo, o cara que vai dar aumento, ou não para ele. Ele ficou abrindo a porta do Luís Eduardo o resto do ano. Luís Eduardo chegava, ele ia lá e abria a porta do departamento, corria, ia lá e abria a porta da sala. Foi muito legal, cara. A gente rir com isso até hoje. Porque os dois estão na empresa. Mas foi bem bacana também. Qual que era a pergunta que eu esqueci?

2:01:19

P/1 - Era essa mesmo, dessas figuras.

R -

Tem o Picuíra também, outra figura que eu amo. O Picuíra é um figuraço, garoto bom demais, é um cara que também está sempre de bem com a vida, está sempre rindo, está sempre louvando as coisas, agradecendo muito, muito bacana. Infelizmente também é terceirizado, tentei muito ajudá-lo, mas nem sempre a gente consegue. Mas enfim, é um outro cara que eu acho folclórico, no meu entender. Mas é esses que eu lembro, tem muitos. Tem folclóricos também do mal, pessoas que trazem más recordações, esses eu não quero lembrar não, folclóricos esquecidos.

2:02:06

P/1 - E tem alguma história que tem surgido de assombração, de coisa que viu no mato? Você já viveu isso? Já te contaram esse tipo de história?

R – Rapaz, o Miguel é o rei dessas histórias. O Miguel tinha os macaquinhos da Colômbia, que ele ensinou trocar isolador, então quando ele ia para o hotel, os macaquinhos ficavam trocando. Tem aranha radioativa, indutiva, que passou na cadeia, ficou energizada, quando caiu no mato saiu queimando tudo. E tem as histórias que o pessoal fala de onça, que viu onça. Não sei mais o que, que correu da onça, mas tudo fake. Histórias de onça tem várias aí, não sei se o Alex foi entrevistado, acho que foi né. Alex deve ter contado da onça, ele tem uma boa da onça, não sei se ele contou. Eu não sei direito, que foi na área deles, tem uma história lá que falaram que viram, depois descobriram que era um gatinho, não lembro, porque não foi comigo, eu já vi ele contando. Quando junta essa peãozada, malandro, o que não falta é caso, é de você passar mal de rir, você passa mal de rir mesmo, que os caras são impressionantes, povo bem-humorado, é povo de linha de transmissão, vou te contar. É ou não é Dani? O povo é bem humorado, cara.

2:03:43

P/2 -

A gente amassa barro, mas se diverte.

R - É isso ai!

2:03:49

P/1 -

Vocês passam muito tempo juntos né? Acaba criando companheirismo né Léo?

R -

O cara, vira uma família. Eu vou ser sincero, isso eu não gostaria que saísse. Mas tipo assim, como eu sou supervisor, e sempre fui muito caxias, muito radical, eu evitava determinados tipos de envolvimento, porque acaba que você fica com dificuldade dizer não para o cara. Mas mesmo assim eu tenho uma convivência muito grande com eles. E assim, quando viaja principalmente, você fica vivendo ali. A pandemia me afastou um pouco disso, agora que eu vou poder voltar um pouco mais, depois da segunda dose. Mas assim, eu tenho facilidade de lidar com eles e com isso, eu me sinto super à vontade com eles. E realmente eles são muito unidos, uns mais, outros menos, mas são muito unidos. Sai a noite, vai jantar junto. Ele inventam corrida de kart, boliche, sempre inventam alguma coisa. Depois de fazer aquele trabalho todo, você é louco!

2:05:13

P/1 - Léo como é que tem sido sua trajetória dentro da empresa depois do adoecimento? Que funções você foi cumprindo? Onde você está hoje?

R - O que acontece, acabou que eu fui meio que migrando, para parte mais de escritório. E eu hoje eu sou substituto do gerente da divisão. Então eu também exercer suas funções, em vários momentos, mesmo quando ele não está de férias, ou de folga, ou de licença médica, que acaba que ele me pede para participar de uma, ou outra reunião. Isso é muito bom, porque assim, eu vou dizer no caso específico da gente. A gente criou uma divisão de linhas, dentro da divisão, porque como eu tenho autorização para aprovar tudo, aprovar despesa. Então assim, a gente decide as coisas, a gente faz as coisas, a gente tem uma autonomia muito grande. Eu me dou muito bem com o gerente, é um cara que quando eu entrei era novo na empresa, ele era contratado também. Eu me lembro que foi o cara que foi até o cara que ele usou para comparar o salário. Você vai entrar com salário de fulano, que era essa cara. E aí o que acontece, a gente tem um bom entrosamento. Ele me dá muita autonomia, ele é um cara que dá muita autonomia geral, não é só comigo. Isso é bom para trabalhar, facilita, fica leve. Então hoje, eu tenho uma função muito grande. A gente foi mudando a nossa estrutura, quando a gente resolveu para o Márcio Henrique subir para supervisão, o Márcia Andrada, que é um cara assim também, esse também, eu não gostaria de falar dele. O Márcio Andrada foi um engenheiro que entrou em 2005, eu acho que praticamente foi o primeiro emprego dele, o segundo emprego, segundo ou terceira emprego dele, não, segundo emprego, e é um cara extremamente bom, tecnicamente, um cara muito, muito bom. Um cara que tem muita didática para ensinar, isso é muito bom, porque ensinou muita coisa para os técnicos, na parte de engenharia, na parte de computação, na parte de sistema, e até mesmo aulas, ele sempre dava aula para os caras. E é um cara muito bom de se lidar, um cara calmo, um cara tranquilo, um cara ponderado. Foi um presentaço a vinda dele pro DRN, porque fechou assim, uma equipe, a gente é muito unido, eu, ele e o outro Márcio. A gente não tem uma divisão, como eu vejo em outros departamentos, onde cada um é dono de uma parte. Na realidade tem um que faz mais uma coisa, que faz mais outra coisa e eu acabo que faço as duas coisas, mas todo mundo substitui todo mundo, todo mundo sabe o que está acontecendo. A gente se fala sempre, não tem essa história, de que Márcio fez diferente de mim, a gente criou essa cultura de que não. A gente não disputa, muito pelo contrário, a gente agrega. Então assim, a gente tem um ambiente de trabalho fantástico. Hoje eu fico muito mais como se eu fosse um supervisor, dos supervisores, vamos dizer assim, não existe isso, mas porque eu sou mais antigo, porque eu sou mais velho mesmo de idade, porque eu tenho mais experiência, porque a vida inteira eu fui supervisor de linhas. Então assim, essa facilidade de logística, como resolver, como decidir as coisas, eu faço naturalmente. Eles têm muitas habilidades específicas também, como eu falei, o Márcio é um baita supervisor de campo e o Márcio é um baita supervisor de campo e de escritório. Então assim, é uma união fantástica. E aí eu entro bagunçando isso tudo, boto todo mundo para funcionar, deu uma liga. Eu falo sempre para eles, eu fico olhando os outros departamentos, eu não vejo tanta união entre os outros supervisores, não vejo esse mesmo clima entre os outros supervisores, não que eles desculpa não. Mas assim, o que eu sinto é que não é tão unido quando a gente. É o que eu percebo, posso estar também com sentimento errado, mas eu acho isso, Márcio Andrada e Márcio Henrique, é uma dupla de supervisão, malandro, que levanta qualquer departamento, qualquer departamento.

2:10:18

P/1 -

Léo você tem filhos?

R -

Eu tenho um filho de 29 anos e uma filha de 25.

2:10:33

P/1 -

Qual que é o nome deles?

R -

O mais velho é Leonardo, só Leonardo, porque eu sou José Leonardo. E a mais nova chama Luísa, com s acento, ela faz questão de falar.
2:10:52

P/1 -

E como é que eles estão hoje? O que eles estão fazendo?

R - O Leonardo, ele tem uma pequena emprezinha de marketing digital, junto com um amigo, e tá na luta aí, tentando. Não se formou, ele fez Ibmec, fez Estácio, mas ele tem a dificuldade de compromisso muito grande, então tá fazendo alguma coisa que ele faz o horário dele, no tempo dele, do jeito dele, deixa ele, tá tentando. A Luíza é designer de interiores, faz arquitetura, deu uma trancada agora, que até a Dani vai cair dura da cadeira. Eu fiquei sabendo no domingo que eu você ser avô, é uma produção meio que independente, então vou ser um avô presente, pelo visto. Então assim, tá aí, tá na luta, vivendo a vida aí, tentando vencer, melhorar, ser uma boa pessoa.

2:12:06

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Léo, como é ser pai? Como é que foi quando o Leonardo nasceu, o que você pensou? Como é que você pensa ser avô?

R – Bom, ser pai era um sonho meu, eu não sei se todos os homens têm esse sonho, mas eu quando era pequeno, sempre perguntava para mim assim: o que você vai sair quando você crescer? E eu não respondi uma profissão, eu respondia vou ser pai, achava que ser pai era uma profissão, era uma missão. E acaba que está se tornando mesmo, para mim uma missão. Mas enfim, eu acho que ser pai, cara, é uma oportunidade maravilhosa, você tem a possibilidade de ajudar uma pessoa que você ama, incondicionalmente, a ser uma pessoa melhor, a ser uma pessoa do bem, a ser uma pessoa boa. Então assim, é uma baita de uma oportunidade, quer dizer que eu vou conseguir, não sei, só o tempo vai dizer. Acho essa geração muito complicada, principalmente a do meu filho, de 29 anos, uma geração muito perdida, ataca para muitos lados, mas respeito, cada um tem as suas dificuldades, cada um lida com os problemas de forma diferente. Então assim, eu sei que eles são dois seres do mundo e diferentes, o máximo que eu posso fazer é amá-los e ajudá-los, não posso determinar a felicidade deles. Então para mim ser pai é uma missão honrosa, vamos dizer assim. Ser avô, foi surpreendente, porque ela não está namorando, foi um descuido com o ficante. Hoje é muito comum isso. Ela não estava namorando tinha um tempo, mas estava ficando, vamos dizer, com esse rapaz aí, alguma vezes, e deram um baita de um mole. Então assim, como que eu recebo isso, eu não gostaria que fosse dessa forma, mas também não sou eu que determino a forma que a vida segue, eu acho que uma criança é sempre uma criança, é sempre uma benção. Eu só me preocupo que ela tenha estrutura, vai ter que abrir mão de muita coisa, é isso que eu conversei com ela. Ela vai ter que abrir mão de uma série de coisas para poder se dedicar ao filho, vai perder playboy. Agora vai ter que focar em outro objetivos, focar em outras missões. Claro que deve ser maravilhoso ser avô, passado esse momento aí que eu ainda estou meio assim, que é muito fora de hora, vamos dizer assim, não sei nem sei é essa palavra, não existe essa expectativa. Eu sou o tipo do cara que assim, as coisas que acontecem, elas me abalam só nos 10 primeiros minutos, eu tenho uma capacidade de absorção, é já de buscar uma forma de resolver da melhor forma possível, Graças a Deus, bem grande. Então já estou pensando nas soluções, estou mais focado que seja bom. Espero que na próxima vez que me faça essa pergunta, diga, ser amor é bom pra caramba!

2:15:56

P/1 - E como tem sido a pandemia para você Léo, e para sua família?

R - Eu tenho até vergonha de falar. Mas eu vou te falar que o primeiro ano da pandemia para mim foi uma maravilha, sabe o que é uma maravilha, cara. Não sei te explicar, tipo assim, a Luísa estava em Campinas, e em Campinas ela ficou, na casa de uma amiga, os pais de uma amiga, e uma amiga, uma baita de uma casa, em Alphaville. Então se deu bem, ficou o primeiro ano lá. Leonardo estava morando com uma namorada dele, na época, aqui perto. E eu fiquei sozinho com a Andréa aqui, então cara, vou te falar, foi maravilhoso. A gente fazia um ritmo, a gente caminhava, aqui dentro da vila, porque não tinha contato com ninguém, a gente fazia ginástica, a gente fazia yoga, a gente trabalhava, a gente ficou assim, sofrendo pelo mundo, que realmente o mundo está passando por uma transição violenta, você vê que o problema é no mundo, você sente na atmosfera, a ganância, o poder, essa coisa do homem de querer dominar, se poderoso, tá destruindo as pessoas, destruindo as relações, destruindo valores. Não estou falando que tem valores que são certos, que são errados, mas está desgovernado o planeta, realmente esta desgovernado. E é claro, que isso dói, mas eu tenho o meu micromundo, o meu micromundo e o da Andréa, o primeiro ano foi maravilhoso. No segundo ano para frente, começou acontecer muita coisa, eu tive muitos reversos na minha vida, no último ano, de vários tipos, mas cara, eu não gosto de reclamar, eu acho que reclamar não adianta não, aconteceu, as coisas acontecem, vamos pegar e fazer do limão a limonada, eu não vou fazer caipirinha, porque eu não estou bebendo. E vamos em frente, entendeu. Então a pandemia, para mim, ela teve um momento inicial muito bom, e agora está tendo um momento final, que assim, já está todo mundo de saco cheio, saudade das pessoas, saudade da vida normal. Foi bacana, brinquei de pandemia, foi bom, chega, levando na brincadeira, meio isso. Mas assim, eu diria que não foi o pior para mim não, lidar com isso.

2:18:42

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O que você projeta para o futuro de Furnas, daqui uns 10, 20 anos? O que você acha que pode acontecer? E o que você gostaria que acontecesse?

R - Furnas está vivendo um momento complicado, a capitalização de Furnas, traz um cenário desconhecido. Então eu vou falar primeiro do que eu gostaria. Eu gostaria que não capitalizasse, mas eu gostaria que mudasse a gestão. O meu desejo e que não se capitalizasse, mas que mudasse a gestão. Furnas tem que se tornar, precisa se tornar uma empresa competitiva, quando as pessoas falam Furnas, você imagina, Furnas está em 10 estados, 40% da energia gerada é Furnas e transmitida, tem um padrão de excelência na sua manutenção, na sua operação. Aí você me pergunta, quantos funcionários tem em Furnas? 10 estados, deve ter uns 10.000. Não, Furnas tem 2.300 funcionários. E eu acho que se você fizer um sacode ali cara, menos da metade é técnica. Então eu acho que Furnas tinha que aumentar o quadro técnico, diminuir e tornar eficiente a administração. Porque cara, é uma baita de uma empresa, faz pena ser vendida, de grátis assim. Não estou nem olhando pelo lado corporativo, ou pessoal, de defender o meu, porque eu acho assim, no fundo, no fundo, no fundo, isso você não pode publicar de jeito nenhum. Eu acho que a transmissão, onde eu trabalho, deveria ser privatizada. Eu acho que a geração que não deveria, mas a transmissão, se você tiver uma boa agência regulatória, honesta, competente. Eu acho que poderia sim, ser privatizada, eu acho que ia ser mais eficiente. Os caras estão tomando conta de linhas com mesma eficiência que a gente toma, ou até sabe, eles vão se superar também, porque os caras são bons de gestão. E transmissão cara, gasta muito dinheiro, manutenção de transmissão gasta muito dinheiro. Furnas só geração, ia ter mais lucro ainda par o país. Eu não botava geração a água e o controle na mão de ninguém estrangeiro, isso é minha opinião pessoal, e o que eu desejo para Furnas. Eu gostaria de gestores realmente focados em fazer a empresa dar dinheiro, e ter ferramentas para isso, poder contratar, poder de demitir, e sendo estatal isso é muito complicado. Mas a Petrobras consegue, então acho que pode haver uma forma de administração, por gestão tipo a Petrobras, que funcione. Eu acho que Furnas ia disparar aí, o lucro dela. Uma era como eu queria e a outra o que eu acho, é isso? Eu acho que é uma incógnita, porque se a capitalização vier, independente do grupo que vier, vai acontecer isso que eu falei, que eu desejaria, só que na mão de terceiros, na mão provavelmente dos chineses. Então assim, eu não gostaria de ver isso, mas eu acho que é o que vai acontecer, porque o que vai acontecer. Eu escutei uma palestra uma vez de um gerente financeiro, que veio para fazer o orçamento base zero de Furnas. E aí conversando com ele no Coffee Break, ele falou uma coisa que é uma verdade cara. O estrangeiro, o capital estrangeiro, melhor falando, olha para Furnas enxerga assim, essa empresa dá esse lucro todo com essa gestão aí, todo entrenhada, eu compro esse troço, mando 50% embora, priorizo a área técnica, melhoro ainda área técnica, e eu vou voar. É exatamente que o capital estrangeiro está pensando. Porque o cara não vai trabalhar com não sei quantos diretores, superintender, não sei quantos gerentes de departamento. No Rio de Janeiro tem dois gerente de departamento, tem o meu e tem o daqui de Jacarepaguá, tem quantos gerentes. O pensamento mundial hoje é diferente. Você tem que ter carreira em Y, eu não preciso ser gerente para ganhar, eu posso ser um engenheiro que vou trabalhar a vida inteira e ter uma carreira em Y, que me deu uma grana, que me satisfaça, não preciso mandar para poder. E Furnas tem essa cultura, o cara para ser respeitado tem que ser gerente, eu nunca quis ser gerente, nunca foi o meu objetivo ser gerente, porque eu acho que eu sou muito mais eficiente fazendo o que eu faço, eu quero ganhar bem fazendo o que eu faço, se todo mundo for gerente, quem vai trabalhar, não é que o gerente não trabalhe, mas quem vai executar, o que o gerente planeja, o que o gerente determina. Então assim, é uma pena que isso, que o que eu sonho para Furnas, vai acontecer via uma capitalização. Porque cara, eles vão ganhar muito dinheiro, mas muito dinheiro, porque isso dá muito dinheiro. Eu estou te falando porque eu sei, porque eu conheço, eu pego como exemplo, uma linha de Cachoeira, porque agora os caras estão tomando de volta, porque eles não são burros. Furnas recebi aí no início do contrato R$ 300 mil para operar a linha, operar e manter, 5 primeiros anos, essa linha não gastou em manutenção R$ 100 mil, R$ 200 mil. Olha o dinheiro que entra cara. O cara viu isso. A Celel comprou, da Cachoeira Paulista Elétrica, a linha de Jucupé, comprou todo o parque deles, e a linha Tijuco Preto 2, a subestação que liga Tijuco Preto, a nossa de Cachoeira Paulista, que era operada e mantida por nós, que essa linha que estou te falando dos resultados. Primeira coisa que o cara falou, “opa, quero a linha de volta”. Ele vai contratar, malandro, um supervisor, quatro técnicos, ou menos, dois técnicos, três técnicos e vai fazer a manutenção, em vez de gastar, hoje está em 600 mil por mês que eles pagam, acho, ele vai gastar 80, 50, entendeu? Não se inventa a roda, os números estão aí. Como Furnas é uma empresa política, está perdendo o rombo, os caras vão entrar botando para quebrar. E eu vou ser mais sincero ainda contigo. Eu devo sair, estou com 60 anos, se tiver um plano de demissão voluntária eu devo entrar. Porque eu não vou perder de ganhar uma grana. Que é um outro absurdo que eu acho, esses planos de demissão voluntárias, eu acho um absurdo, sei lá, 10 anos que faz plano de demissão voluntária em Furnas. Nego pega o cara no auge da produção dele, paga para o cara embora, o cara vai para o mercado, competidor, mas é uma empresa política. Enfim, então assim, eu fico triste com isso tudo, porque vejo que os interesses que tem por trás, não são bons interesses, são interesses no mínimo exclusos, porque não faz sentido, uma pessoa inteligente fazer um troço desse, você não pega uma empresa que dá o lucro que Furnas dá, e vende. Porque ela é ineficiente, como que é ineficiente? Como que fala que uma empresa dessa é ineficiente? Nego tá no jornal toda hora falando, que á ineficiência, caraca, aonde que está a ineficiência cara? Nego acha, todo amigo meu que eu pergunto, quantos funcionários você acha que tem em Furnas, fala 10.000, 8000, cheio de Marajá. Porra cara, nunca foi, nunca será. Tem gente com cabide de emprego lá? Tem. Ainda tem, com certeza, toda empresa estatal tem. Mas isso é o principal problema da empresa hoje? Não! O principal problema da empresa hoje é gestão, é amarras, são amarras. Que eu gostaria que acontecesse, vai acabar acontecendo, mas se acontecer vai ser na mão do capital estrangeiro, chineses, vão deitar e rolar. Os caras são donos de mais de 40% dela. Agora já são donos de mais de 40% dela, do setor elétrico brasileiro. Eles vão tomar conta de tudo, se deixar, entendeu. Culpa deles? Não! Ganância, o mundo está ganancioso. Dinheiro é que move esse troço ai. Você acha que nego lá, está preocupado com o Márcio Henrique lá no campo, não tá! O cara está preocupado com dinheiro. Mas é isso! Sem amarguras!

2:29:48

P/1 - Como é que foi contar um pouco da sua história e um pouco da história da empresa para a gente?

R - Eu vou ser sincero pra caramba, falar dos meus companheiros de trabalho de Furnas, pra mim, é sempre muito bom, sempre muito bom, muito bom mesmo. Porque assim, eu me sinto muito vitorioso. Não graças a mim só, tive muita ajuda, sempre tive muita ajuda. Lutei por ajuda, lutei por tudo isso. Eu tive muita sorte, muita gente boa que cruzou a minha vida. E Furnas proporcionou isso, proporcionou viver coisas que eu não imaginei que eu iria viver. E conhecer pessoas que talvez eu nunca conhecesse. Mas assim, falar sobre Furnas, sobre a minha vida em Furnas. Até porque eu não preparei nada, eu sou assim, eu chego espontaneamente. Então assim, se eu fosse escrever, detalhar, é tanta história, que a gente escreveria um livro, com certeza. Mas para mim é um prazer, falar de Furnas. É um prazer falar das pessoas que trabalham comigo, um prazer mesmo. E dizer que se eu fosse mais novo, nesse cenário agora, eu não ia ter medo da capitalização, não. Eu não ia querer, mas eu não ia ter medo não. Eu ia bater no peito e falar: pode vim que eu quero trabalhar mesmo. Vocês querem que eu trabalhe, vem comigo, entendeu? É isso que eu falo para o Márcio Andrade, pro Márcio Henrique. Eles pensam assim hoje, eles falam, isso mesmo, cara. A gente trabalha, quem trabalha não tem medo. Podem tirar tudo da gente, isso é uma frase que meu gerente fala, que eu me apropriei dela, porque eu gosto muito, podem tirar tudo da gente, menos o nosso conhecimento, o nosso conhecimento ninguém tira da gente. E com ele você pode mover as coisas. Tem uma outra frase, que um outro cara fala, do mundo motociclístico, que agora eu vou entrar no mundo motociclístico de verdade, que eu estou criando uma empresa de passeio de moto. Ele fala uma frase que eu acho bem bacana também, ele fala assim: quem é de verdade, sabe quem é de mentira. Então assim, a gente em Furnas, todo mundo sabe quem é quem, tá aí a Dani que trabalhou anos lá, que pode confirmar, todo mundo sabe quem é quem, quem é de verdade sabe quem é de mentira. Eu só agradeço, primeira terem me chamado, terem me de indicado aí. Eu brinquei com a Dani, tô velho mesmo, tô indo para o museu já. Mas assim, eu fiquei honrado, eu me senti honrado, é uma coisa que me honra mesmo, a gente aprende com a idade, em vez de ficar soberbo, ficar honrado, que é muito diferente, muito diferente. Então assim, eu me sinto honrado de ser lembrado, e de ser valorizada por isso. E poder fazer parte de Furnas, e fazer parte da história de Furnas, porque eu me sinto fazendo parte da história de Furnas, me sinto realmente parte da história de Furnas, tem um pedacinho meu lá, e foi com o sangue e suor. Sangue literalmente mesmo.

2:33:56

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È isso Léo, muito obrigado mesmo, pela sua paciência, pelo seu tempo, pela disposição de contar. Eu sei que a gente não se conhece, então você contar história para alguém que você não conhece. Quem ouviu deve ficar bem agradecido mesmo, então eu fico bastante agradecido por você ter falado dos seus companheiros, da sua família para gente. É uma honra do museu, tenho certeza que é uma honra da empresa também. E é isso, a gente vai fazer tudo para guardar essa história, registrar, divulgar da melhor forma possível, para que as pessoas que não são da empresa, conheço um pouco mais a empresa, essa coisa de que só conhece quando acaba a luz, tem que ser diferente. E principalmente os novos que vão trabalhar. Muito obrigado Léo, obrigado mesmo.