Museu da Pessoa

Onde está seu sonho

autoria: Museu da Pessoa personagem: João Alberto Hansen

Memória Avon
Depoimento de João Alberto Hansen
Entrevistado por Clarissa Batalha e Laudicéia Benedito
São Paulo, 2 de julho de 2008
Realização Museu da Pessoa
Código: AV_HV029
Revisado por Joice Yumi Matsunaga

P/1 – Bom dia senhor Hansen, vamos começar por favor. O senhor pode me dizer seu nome completo, local e data de nascimento.

R – Bom dia, meu nome é João Alberto Hansen, eu nasci na cidade de São Paulo no bairro de Capela do Socorro, no dia 9 de outubro de 1957.

P/1 – Qual é a sua atividade atual?

R – Hoje eu sou diretor de assuntos regulatórios e desenvolvimento de produtos para a América Latina na Avon.

P/1 – O nome dos pais?

R – ____ Desaparecido Hansen e Iodete Franco de Moraes Hansen.

P/1 – Qual era a atividade profissional deles?

R – Meu pai era torneiro mecânico e minha mãe do lar.

P/1 – A origem da família qual é?

R – A origem da família é uma mescla de italianos com alemães, com índios, com espanhóis, uma miscigenação bastante interessante.

P/1 – E você tem irmãos?

R – Eu tenho um irmão, Cristiano Hansen.

P/1 – Um só?

R – Um só.

P/1 – Certo. Vou fazer umas perguntas sobre sua infância.

R – Tá bom.

P/1 – Onde é que o senhor morava?

R – Eu nasci e fui criado no bairro Socorro. Eu digo que sou um caipira de Santo Amaro. Nunca morei do lado de cá do Rio Pinheiros. Sempre do outro lado, do lado do interior de Parelheiros, aquela região. Mas Capela do Socorro foi onde eu cresci, nasci e estudei sempre naquela região. Só quando eu fui fazer a faculdade que eu vim para o lado da Barra Funda, na Faculdade Oswaldo Cruz, aí que eu saí um pouquinho daquela área lá.

P/1 – Tá certo. E como era a casa onde o senhor morava, o cotidiano da família?

R – Quando eu nasci, eu nasci em casa, no bairro de Socorro na casa dos fundos onde meus pais moravam. Meus avós moravam na frente e a gente morava em uma casa nos fundos. Depois, em 1967, nós mudamos para o bairro, para a casa onde nós moramos até dois anos atrás. Depois que meu pai veio a falecer, minha mãe mudou de casa. Mas era uma casa simples com muitos primos, muita gente brincando na rua. Eu posso dizer que fui um moleque de rua entre aspas que rodava pião, jogava bolinha de gude, futebol nas ruas, uma rua contra a outra. Eu cheguei a pescar no Rio Pinheiros acreditem ou não, nós morávamos bem perto do Rio Pinheiros na região do Guarapiranga e nós fomos pescar com os mais velhos. Era inacreditável, que você venha a pensar que eu seja tão velho assim, mas o rio há quarenta e poucos anos atrás ainda não era tão poluído como ele é hoje. E a vida foi essa vida muito de um bairro formado por pessoas que vinham do interior de São Paulo. Da região da roça, nos anos de 1945, 1946, logo pós-guerra, quando a vida no interior ficou muito difícil, então eles vieram para São Paulo para tentar a sorte e uma boa parte dessa família que morava na região de Limeira, Araras e Leme, veio para São Paulo, para região de Santo Amaro e lá foram formando as famílias, casando entre conhecidos. E, praticamente, na rua, éramos todos colegas e conhecidos que vinham todos do interior de São Paulo.

P/1 – As brincadeiras favoritas? O senhor citou o pião, futebol...

R – Bola. Bola eu jogava bola quase vinte e quatro horas por dia. Não tinha dedão no pezão, era tudo estourado. Jogava descalço, não tinha como comprar chuteira, tênis, essas coisas, era tudo ali no chão. Mas era a favorita de todos, era jogar bola. A gente disputava _____, uma rua contra a outra. Então, quem ganhava levava uma ________, daí saía briga, daí ia reclamar com a mãe. Aí tinha uma história bem interessante que bem perto da curva do Rio Pinheiros com o rio Guarapiranga onde fica a baia, ali tinha uma lagoinha que a gente ia nadar lá. E de vez em quando aparecia mãe da gente lá, a gente apanhando da lagoinha até chegar em casa, porque era perigoso ir ali para o rio. Vários acidentes aconteceram ali naquela região do rio, as pessoas nadavam para atravessar o rio e às vezes abria uma comporta da represa para diminuir um pouco o nível da água e vinha aquele volume da água muito grande e acabava arrastando as pessoas que morriam afogadas. Então, era um desespero quando vinha notícia lá no bairro: "Ah, morreu gente lá na comporta", como a gente chamava lá na região. Aí era o desespero: "Cadê meu filho? Cadê isso e cadê aquilo". Até que se descobria quem foi a vítima. Então era um perigo e as mães ficavam atrás da gente. “Cadê o Joãozinho, cadê o Gilberto? Cadê o Alfredo?" e quando descobria que estava lá na lagoinha, aí elas iam lá com aquelas varinhas – você apanhou de espada de São Jorge? Até que ela desfia e vê você aguenta bem, depois que desfia é complicado.

P/1 – Mas como assim, a planta?

R – A planta chama espada-de-são-jorge, vixe, meu Deus do céu. Moleque era assim naquela época, não era violência, mas levava sim umas belas espalmadas de são-jorge no traseiro que tinha que ficar um pouco esperto. Era assim, totalmente diferente do que é hoje. Hoje, você tem os filhos e tem medo de deixar eles na rua em função da violência, em função do aspecto de drogas. Aquela época era anos de inocência, meados dos anos sessenta quando eu era, a minha primeira infância, vamos dizer assim, era um pouco diferente. Era um pouco mais, quem sabe, saudável. Não que não tinha violência, mas não era esse nível de violência que temos hoje.

P/1 – Certo. O senhor pode falar um pouquinho da cidade de São Paulo, como é que era nesse período?

R – Olha, a cidade de São Paulo, era interessante porque eu cheguei a andar de bonde que fazia o ponto final na região Santo Amaro, onde é hoje a estação do trem ali na capela do Socorro. Era uma cidade totalmente diferente do que é hoje. Era mais charmosa, não tinha todas essas vias que nós temos hoje, todas congestionadas, mas o trânsito fluía. Eu me lembro que ainda não tinha a 23 de maio, era Avenida Santo Amaro para poder chegar no Centro de São Paulo. Era o Mappin que era um ponto de referência que você ia. Você ia no Mappin para comprar móveis, você ia na Ducal para comprar roupa, você entrava na Mesbla que tinha na 7 de abril, na, na... Esqueci o nome da rua lá. Era uma cidade diferente e essa região em que nós morávamos ninguém queria morar. Santo Amaro, Socorro ali, era o fim do mundo. Aeroporto de Congonhas, “Meu Deus, você vai comprar casa no aeroporto de Congonhas? Você vai morar no fim do mundo?”, era essa a imagem que tinha nessa época dos anos sessenta. Uma cidade que era muito mais centralizada que na região que vinha de Pinheiros e Brooklin, passou do Brooklin para trás era um deserto. Quando nós mudamos do Socorro, que morávamos com meus avós, seis quilômetros e mais um pouquinho, bem em frente do que é a Avon hoje, meus avós falavam: "Vocês estão loucos, vão morar tão longe. Que absurdo!". Hoje nós estamos no meio da cidade. O que cresceu é uma coisa impressionante.

P/1 – E quais lembranças mais marcantes o senhor tem da época da infância?

R – Na época da infância era quando eu ia de trem para Limeira visitar meus avós. Era a coisa mais gostosa que tinha. Todo o final de ano, na época de natal, pegava o trem na Estação da Luz e íamos lá com duas horas e meia mais ou menos de trem. E aí ia parando em cada estação e era divertido. Eu queria entender um pouquinho de Física, então se o trem estava andando e eu corresse ao contrário eu estaria andando mais longe e ia bater a cabeça na porta e não dava certo, e eu queria entender porque eu não pulava mais longe se o trem estava andando para um lado e eu correndo do outro, né? Mais tarde a gente acaba aprendendo porque essas coisas não passam. Uma vez, muito divertido, eu e o meu pai, indo para Limeira, paramos em Jundiaí. Jundiaí era a cidade das antenas pé de galinha, era impressionante aquelas antenas de televisão, mas era forrado, parecia um pé de galinha a cidade inteira. E parando na estação, abre a janela, vem um menino, só que ele fala assim: "Olha o sorvete". Aí isso, até hoje, eu e meu irmão, a gente olha um para o outro e diz: "Olha o sorvete". Aquele sotaque inglês (risos) e era divertido, a vida da gente era essa. Vem para o interior, chupava laranja do pé, cana, caqui, abacate. Então, toda aquela coisa típica do interior. Então, era carambola, o cheiro do interior era diferente. A casa dos meus avós em Limeira era muito grande, então tinha uma parreira de uva que cobria uma boa parte do quintal. E tia ____ das irmãs da minha mãe falou assim: "Joãozinho"... Eu sou o Joãozinho da família, que a família tem pouca inspiração para colocar nome, então eu sou João, tio tem João, então era o tio João Peru, outro primo era João Cacareco e eu era o Joãozinho da Odete. Já ficava bem, senão ia confundir qual João que estava falando. Então ela falou: "Joãozinho, o que você quer?". “Eu quero aquele cachinho lá.” Então ela cortava aquele cachinho de uva. É são coisas que marcam a vida da gente quando a gente é criança. É dessas viagens para Limeira, muito legal, marcou muito para mim.

P/1 – E, os estudos, o senhor começou quando?

R – Eu comecei o primário em uma escola ali no Socorro, uma escola do Estado. Eu entrei em 1965, no primário, ai fiz o primário lá no Socorro. Ai no ginásio fiz em uma escola pública e talvez uma das melhores fases da minha vida, adolescência, foi o ginásio. Porque eu já era grandão, atleta, paparicado pelas meninas. Às vezes elas davam pipoca para mim, levar lá, todo pimpão. Todo gostosão lá e com professores que era uma coisa impressionante naquela época. A qualidade e o nível está, mas de longe, melhor do que nós temos hoje. A clientela melhor, as pessoas mais disciplinadas, professores extremamente qualificados, tanto é que eu entrei na faculdade sem fazer cursinho, sem fazer nada em função da qualidade que eu tive de estudo na escola pública. E o colégio também foi em uma escola pública toda na região de Socorro e Interlagos.

P/1 – E logo depois da escola já foi para faculdade?

R – Já entrei na faculdade. Fiz o colegial em 1977 e já fiz o vestibular e entrei na Faculdade Oswaldo Cruz, onde eu fiz todo o meu desenvolvimento dentro da área da Química.

P/1 – O curso foi qual, então?

R – O curso foi de químico industrial. Na verdade, sou bacharel e sou licenciado, sou professor de Química, mas sou bacharel o que qualifica você a trabalhar em laboratório e Química Industrial, toda a parte industrial da indústria na área da Química.

P/1 – Tá certo. E teve alguma influência na escolha dessa carreira?

R – Teve muita influência. Porque na verdade, quando nós mudamos para onde meu pai morava até pouco tempo, ela ficava, a casa, no morro. Você baixava o morro, você tinha onde é a fábrica da Avon na Interlagos. Eu era moleque, empinava pipa e via a fábrica ser construída. E quando meu pai ia trabalhar, que ele trabalhava na _____, que é uma empresa que fazia tanques de guerra, Urutu, Cascavel, meu pai era torneiro mecânico e ajudou a desenvolver esse equipamento e ele passava no meio da obra da Avon. Ele sempre chegava em casa e comentava: "Olha, estão construindo uma fábrica aí que é da Avon, que vai sair da João Dias, um negócio enorme. É uma grande empresa para trabalhar". E quando eu decidi com a minha esposa – hoje, que era minha namorada, eu comecei a namorar com dezessete e ela tinha dezesseis –, ela falava: "Olha a área química, farmacêutica, eu tenho um professor de Inglês que dá Lili ___, disse que é uma área legal". E eu como sempre tive facilidade na área de Exatas, Química, Física, Matemática, eu vou começar a trabalhar na indústria química. Mas na Avon, primeira indústria que eu ia procurar emprego era na Avon. Até que um dia eu consegui ser chamado, porque eu já trabalhava na indústria cosmética, eu fui chamado para trabalhar na Avon, mas depois de muita insistência em procurar. Eu queria porque queria trabalhar na Avon. E consegui. Eu namorava a minha esposa e a gente passava lá em frente e eu falei para ela: "Um dia eu vou trabalhar aqui". Então é o sonho, você tem que ter o sonho, buscar um sonho e eu nunca desisti desse de trabalhar na Avon.

P/1 – E com quantos anos você começou a trabalhar?

R – Eu comecei a trabalhar na Avon com vinte e um anos.

P/1 – Era o seu primeiro emprego?

R – O primeiro emprego? O primeiro emprego é uma história interessante. Não é emprego, era gastar um pouco por minha conta porque a família não tinha dinheiro, era muito apertado para comprar as coisas. Eu comecei a trabalhar como caddie em um campo de golfe. Então, aos doze anos de idade eu ia sábado e domingo no São Paulo Golfe Clube carregar bolsa de golfe e aí a paixão que veio pelo esporte. Que hoje eu jogo golfe, sou apaixonado pelo golfe, mas isso veio dessa época dos doze até os quatorze anos de idade. Estudava durante a semana. Sábado e domingo ia lá no clube, pegar a bolsa e ganhava lá um dinheirinho que dava para gente gastar durante a semana sem precisar depender muito dos pais. Com catorze anos de idade, eu consegui meu primeiro emprego de office boy, isso foi na Peterco, então eu tinha conseguido emprego no começo do ano na expectativa de mudar o ginásio que eu fazia na época do período matutino, que era das quatro até às oito da noite, para o período noturno. Só que daí eu não consegui vaga no período noturno e também não gostei muito de ser office boy, então eu juntei o não gostar de ser office boy, eu falei para o meu pai: "Vou continuar indo no golfe, mas eu vou pedir a conta na Peterco e vou continuar no vespertino". Foi uma das melhores decisões que eu fiz na minha vida. Uma das primeiras e grandes decisões. E aí eu continuei indo no Golfe. Mais um pouquinho, com dezesseis anos, eu fui trabalhar na têxtil ______, aí foi interessante, né? O primeira fim de semana que eu não fui trabalhar no golfe, o que eu fui fazer? Fui jogar bola. Aí o que acontece, leva uma entrada, cai e quebro o braço. Na segunda feira apareço para trabalhar lá com o braço quebrado. Aí o diretor vem falar: "Mas você está aí com o braço quebrado?". Mas não tem problema, porque eu escrevo com a direita e não com a esquerda. "Não, mas você não pode." Posso sim, me deixa aqui que eu trabalho. "Mas como é que aconteceu?" Aí eu expliquei para ele: "Olha, depois de quase três anos que eu não tinha sábado e domingo para mim, porque aí não dava porque eu ficava sábado e domingo carregando bolsa, o que eu fiz? Fui jogar bola. E um tampinha desse tamanho e um cavalão desse tamanho, o cara só me deu uma de lado, acabei indo para o chão e arrebentei o braço". Aí o braço enfaixado, trabalhando e aí foi. E aí foi com catorze anos, eu trabalhei um ano e sete meses na Gabriel _____. Depois disso eu fui trabalhar como, não sabia o que eu ia fazer, acabei saindo da ____, eu trabalhei em escritório de, na FFK tools, uma fábrica que fazia brocas, ferramentas de corte, eu trabalhei na área de Contabilidade. E aí teve uma cena muito interessante, porque eram duas fábricas na verdade. Era a FFK tools e fábrica paulista de ______ e ______. __________ são espécies de ferramentas e essa firma estava encerrando suas atividades. E eu que ia no Ministério da Fazenda aqui na Celso Garcia levar todos os documentos para poder fazer o encerramento fiscal da fábrica. Então, toda a semana eu ia com os documentos e faltava aquilo e aquilo e faltava outro até que um dia deu certo e o cara grita: "Quem é o dono da fábrica de machos ai?". Aí foi uma gozação e fechou a fábrica paulista de ____________. E a partir daí que venho então, “Bom, agora eu quero fazer Química” e foi o meu foco, “Eu preciso entrar em uma indústria química”. Aí eu consegui uma função de estagiário em uma área de vendas da Bayer, que é uma indústria química, estavam precisando de temporários e eu fui. Mas não era aquilo que eu queria fazer. Eu queria a parte técnica e fazia um monte de cadastro de clientes da Bayer, era uma loucura aquilo ali. Fiquei uns seis meses nisso daí e a Bayer em frente à __________, uma indústria de comércio. E, um dos meus tios, ele era pedreiro e ele trabalhava na _______. Eu conversei com ele: "Ô tio, você conhece alguém da ______ que possa me ajudar a entrar, eu estou estudando Química e tal". "Ah, eu conheço o diretor lá, Seu Luis Benedeti(?) e eu vou falar com ele." Aí, o meu tio falou: “Eu conversei com ele, com o Benedeti”. O Benedeti me passou para o gerente do laboratório, o Laércio Ruan (?) e comecei a trabalhar. E hoje, sempre que eu encontro com o Luis Benedeti, eu agradeço a ele, porque ele foi o primeiro cara que me deu oportunidade para poder entrar na indústria cosmética. Em função dessa possibilidade, eu consegui fazer meu desenvolvimento profissional, consegui fazer minha carreira. Então, o Luis Benedeti, ele é um marco na minha vida pessoal. Sempre quando eu o encontro no jantar da Associação Brasileira de Cosmetologia, ou da ABIHPEC, eu não deixo de relembrar a oportunidade de agradecer. Esse foi muito importante para mim. E depois da Iadler (Yardley?) que era aqui no Socorro, eu fazia Faculdade Oswaldo Cruz que era na Barra Funda. Aí ela mudou, a Iadler, ficou pequena e mudou para Osasco, ali no quilômetro 145 da Raposo Tavares. Então minha vida era realmente bastante corrida. Eu morava aqui na Santa Rita, perto da Avon – o bairro chama Santa Rita –, ia até o Socorro e pegava o ônibus da Iadler, ia até Osasco, saía de lá, pegava um ônibus da Iadler até Pinheiros, de Pinheiros eu pegava um ônibus que ia até a Barra Funda fazer faculdade. A faculdade terminava quinze para às onze, e eu pegava o ônibus para sair da Barra Funda. Quando eu perdia o último Bairro do Limão tinha – que era o ônibus que vinha até o Socorro –, tinha que ir até a Praça das Bandeiras para pegar outro ônibus para vir aqui para a região, chegava em casa por volta da uma e meia da manhã, uma hora. Aí comia alguma coisa, dormia, e cinco e meia eu já estava de pé para trabalhar outra vez. Não foi fácil, foi um sacrifício e tudo isso no ônibus. Quando eu vim embora da Barra Funda que eu pegava para o bairro do Limão, eu sentava no ônibus e dormia. Eu já sabia mentalmente onde, que rua que estava, qual era o buraco que estava passando, quando subia a Consolação, quando entrava na Paulista, quando subia a Brigadeiro, quando pegava a Santo Amaro eu já estava com tudo memorizado, sabia dos balanços dos faróis e tudo, era impressionante e que era aquela rotina que fora quase quatro anos. Aí comecei a ficar ruim de saúde de estômago, coxinha de bar, Jesus me chama, era impressionante. Aí eu falei: “Eu preciso dar um jeito de trabalhar na Avon”. Ia fazer entrevista todo ano lá na Avon para um dia surgir a oportunidade. E um dia me liga. Na verdade, eu não tinha telefone, era da casa da minha namorada. "Olha, aqui tem uma ficha do João, nós queríamos chamá-lo para fazer uma entrevista." E aí foi. A Márcia, minha esposa, foi lá para minha casa e no dia seguinte estava lá na Avon para fazer a entrevista e acabei sendo contratado pela Avon para ser inspetor de qualidade nas linhas de embalagem. E isso foi o meu primeiro dia na Avon, no dia 5 de março de 1979.

P/1 – Que ótimo. E o senhor já conhecia a Avon então, antes disso, né?

R – Eu já conhecia porque minhas tias eram revendedoras da Avon e quando chegavam as caixas e produtos da Avon lá, estava na casa lá e era uma festa. Aquelas colônias ____, aqueles produtos que a gente chama, depois eu fui saber o que era, que eram os decanters, Torre Eiffel, o sininho, o cachorro com cachimbo. Que eram muito mais embalagens de decoração do que o perfume que era o que a Avon era no início dos anos cinquenta e depois foi evoluindo para esses tipos de produtos. Mas já conhecia a Avon, usava Avon, né? Desodorante que dava para compra ou a tia dava de presente. Mas já conhecia sim e conhecia a importância da empresa, a origem e o crescimento do que era ali na João Dias, e que ficou sendo aquela fábrica enorme que eu vi construir quando era moleque, empinando pipa do outro lado do rio, que ia para cima da Avon.

P/1 – E qual foi a primeira impressão, chegando na Avon?

R – Quando eu cheguei na Avon eu já vinha de um ano e sete meses da indústria farmacêutica de cosméticos. Na verdade eu fui contratado pela Avon pela minha experiência na (Yardley?), experiência de laboratório, de controle de qualidade, de sistema de gestão de qualidade. A gente já falava naquela época em quality _____, não em quality control e esses conceitos que foram certamente os motivos pelos quais naquela época a Avon me contratou.

P/1 – Certo, e o senhor pode falar um pouquinho da sua trajetória na Avon então?

R – Então, eu entrei na Avon nesse dia 5 de março de 1979, trabalhando nas linhas de embalagem. O que que era? Era inspetor de qualidade, que tinha que fazer toda a revisão de qualidade nas linhas de produção. E era um trabalho bastante criterioso, era bastante corrido, nós tínhamos prazos para poder passar entre as linhas. De uma forma mais simples, eu tinha cinco linhas sobre o meu controle e a cada quarenta minutos estar fazendo o giro de passar nessas cinco linhas. Ou seja, era oito minutos por linha que eu tinha para poder fazer. Internaliza o que a gente chamava de variáveis, que era peso do produto que era tor___, então, tinha que pesar os frascos vazios e encher, pesar cheio, para ver se os bicos de enchimento das linhas estavam controlados. A gente não estava mandando frascos com produto com maior peso que o declarado, e nenhum com o peso abaixo declarado. Tanto abaixo é ruim porque você está mandando menos produto para o consumidor, quanto a mais acaba dando variação de uso de produto. As inspeções visuais, para ver se o texto estava correto, se o produto estava correto, isso é uma loucura. E era andando direto. Então, naquela época diferente do que eu estou hoje, naquela época era assim, fininho. Porque eu andava o dia inteiro. Era das sete até às quatro horas da manhã e depois ia para a faculdade. E tinha muita hora extra naquela época. Era sábado, era domingo, essa venda direto acabou sempre dando muito trabalho e a gente, não dava para perder aula na faculdade e você tinha que ficar dividido com os colegas. Então tinha lá a Dona Norma, Dona Jacira que, durante o período de aula, elas faziam os projetos para gente. E, quando a gente estava de férias, aí era época delas sossegarem e aí todos os caras que estavam estudando ralavam lá, que era das sete da manhã até às dez da noite trabalhando. E era bom porque daí você fazia hora extra e às vezes chegava quase que a ter cinquenta por cento a mais no salário só de hora extra que tinha. Eram cento e vinte, cento e trinta, cento e quarenta horas extras nesse período que a gente estava de férias. Começava as aulas outras vezes, a gente deixava de fazer. E eu fiquei, aproximadamente, menos de um ano, onze meses fazendo essa função. O meu objetivo não era, na verdade, trabalhar nessa área de qualidade de inspetor de linha, era ir para o laboratório. Eu estava estudando Química e eu queria trabalhar em um laboratório. Aí, um dia tomando o café no restaurante da Avon, eu vi lá uma mensagem: "Estamos precisando de técnicos para o laboratório". Aí, eu fui correndo lá falar com o Luciano do Recursos Humanos: "Eu quero me candidatar a essa vaga". "Ah, então tá bom, amanhã você vem e faz o teste." "Não, eu faço agora mesmo, não vou esperar amanhã não." Aí, eu fiz lá o teste, passei bem, aí foi, subiu lá para o pessoal do laboratório que era o Ariovaldo Minhoto(?) que era o supervisor naquela época do laboratório, a Beatriz Beneti(?) que era gerente do laboratório e ficou aí um tempo para tomar decisão e eu naquela agonia. Até que um dia veio a resposta: "Tá bem João, você foi o escolhido para ir ao laboratório". E aí foi. Primeira etapa vencida: entrar na Avon. Segunda etapa vencida: entrar no laboratório. E agora é fazer a carreira. E aí eu fui para o laboratório no começo dos anos oitenta e comecei todas as etapas do laboratório. Primeiro, eu comecei a mostrar a matéria-prima e a lavar louça. Aliás, químico, não tem quem lava a melhor louça do que químico e químico na cozinha bate em qualquer chefe. Então eu, na cozinha, quando me meto a cozinhar, não quero ninguém perto. Quando eu termino, a cozinha está limpa, a louça guardada e lavada. A mesa posta depois é outra conversa. Depois do vinho daí que ficam lá. Mas a grande, uma das coisas que você aprende na Química é você lavar uma vidraria bem lavada. Se você não lavar, pode ter interferência no resultado que você está fazendo. Então era lavar a louça, mostrar as matérias-primas, depois análise de matéria-prima. Depois da análise do produto terminado, daí uma área muito específica dentro da cosmetologia da indústria cosmética que é você ser colorista, ajustar a cor do batom, da sombra, da base que está sendo produzida com o padrão. Então, você tem que aprovar com tal semelhança que as consumidoras do batom não percebam que tenha diferença sobre o padrão e sobre o que está sendo produzido. Por quê? Se você gostou da tonalidade do batom, cada vez que você comprar lotes diferentes, você vai ter a mesma cor e precisa ter muita habilidade e percepção e não é qualquer um que tem essa habilidade, essa percepção de cor. Eu me tornei aí um colorista bastante, com habilidade bastante grande, e conseguia aprovar o produto com correções pequenas, sem dar muito número de correção. Às vezes tinha produto que dava muito trabalho, produto novo e você ia lá para entender o que estava passando. Na área instrumental que é a área mais sofisticada com equipamentos mais complexos, modernos e caros, cromatografia, espectrofotometria, absorção _______, teve essa área. A única área que eu não passei, eu odeio, é a parte de microbiologia. Aqueles cheiros daqueles meios e culturas, aquilo ali é um... me enoja até hoje. Quando eu passo na micro eu penso: "Ai meu Deus do céu". Ainda bem que eu fui responsável pela área, mas nunca tive que trabalhar dentro dessa função, não me agradava. E aí em 1982 surgiu a oportunidade de trabalhar dentro do laboratório mais com recursos regulatórios. E eu fui convidado: "João você quer ir nessa área?". "Por quê não? Vamos lá." Então eu sai do laboratório químico, de fazer aquelas análises tudo e fui para área de assuntos regulatórios. O que fazia essa área? Recebia todas as formulações dos produtos dos Estados Unidos, as fórmulas, como é organizado tudo aquilo que seria produzido e fazia o registro sanitário no Ministério da Saúde. E aí começou uma nova etapa da minha vida. Eu fui me desenvolvendo nessa área, aprendendo e, em 1986, a supervisora do laboratório dessa área de regulatory affairs, de assuntos regulatórios, a (Guênia?), (Guênia?) Polínia que era a minha chefe, ela saiu da Avon para poder trabalhar em uma outra empresa, em uma outra oportunidade, na época ela foi para Bozzano e, como o lema, sempre estar preparado, mostrar trabalho, né? Competência, dinamismo, surgiu para mim a oportunidade de ser gerente dessa área, supervisor da área de assuntos regulatórios. Então, em 1986, eu passei a ser essa pessoa e aí começou a minha projeção fora da Avon. Como nós tínhamos muitos problemas com a legislação, uma legislação extremamente obsoleta no Brasil, que dificultava muito a Avon e todos os seus produtos, quase que oitenta por cento das formulações que nós tínhamos na Avon tinha que ser reformuladas para poder atender a legislação brasileira cosmética que nós tínhamos aqui no momento. E outra coisa, eu tracei para mim que nós tínhamos que, de alguma forma, mudar a legislação, porque ela não acompanha a evolução da legislação mundial. E eu comecei a me envolver nesse período na Associação Brasileira de Cosmetologia, fazer parte dessa entidade que era a entidade que tinha um canal de comunicação aberto junto ao Ministério da Saúde. E aí, sendo membro dessa associação, participando dos grupos de trabalho foram surgindo muitas oportunidades das indústria reivindicando da ABC: "Não dá para ficar com esse tipo de legislação". A gente começou a criar grupos de trabalho para poder alterar. E eu liderei e presidi vários grupos de trabalho que culminaram com a mudança da legislação brasileira para torná-las muito mais próximas das referências mundiais que eram os Estados Unidos, que eram a Europa. Então, esse período de 1986 a 1991 foi um período de transição desse processo, eu dentro da área de laboratório como supervisor, cuidando de coisas, aumentou minha responsabilidade, em 1990, não só na área de assuntos regulatórios, mas eu passei a ser coordenador de todo o laboratório. Não só da área regulatória que eu era um especialista, mas cuidava de toda a parte de laboratório químico na área de qualidade. Em 1992 nós começamos a fazer um trabalho junto com a ABC, com o CITAPESP(?) e o Ministério da Saúde, que foi o divisor de águas da legislação brasileira, porque a gente fez uma mudança muito drástica. Nós tínhamos, naquela época, dezoito listas positivas de substâncias. Reduziu isso para uma lista muito mais próxima da comunidade europeia. E quando começou o Mercosul. Então, nesse início do Mercosul, eu estive em todas as reuniões preparatórias e reuniões de negociação do Mercosul no Brasil, no Paraguai e na Argentina. E aí que começou a aprender a falar o Portunhol e entrar no processo de negociação internacional, em discussões técnicas junto com as autoridades sanitárias nesse país, junto com os grupos técnicos de cada um desses países e tentando fazer um processo de harmonização. Em 1994 surgiu uma outra oportunidade para mim em que nós começamos um processo de qualidade total, em que a gerente do laboratório, a Regina Paulani(?), ela foi deslocada para ser a responsável, a gerente que ia coordenar esse processo de qualidade total na Avon. E aí eu fui promovido para gerente da área de qualidade no lugar da Regina. E aí eu fiquei responsável por toda a qualidade da Avon. Redesenhando processos, implementando e dando continuidade ao processo de qualidade assegurada, tentando diminuir o número de análise que nós tínhamos de fazer de produtos, de componentes que vinham de fornecedores para Avon para poder dar mais agilidade. Implementar muito mais do que a gente chama de asseguramento da qualidade, do que você fazer controle. Controle faz quem está vendendo para gente. A gente tem que receber já o produto bom aprovado. E foi nesse período de 1994 que eu assumi toda a gerência da área, e fomos desenvolvendo até que chegou em 1997 um novo período de mudança. Antes de 1997, teve um fato muito importante, a Avon começou dentro da gestão do Ademar Serodio a ter um envolvimento muito grande, a mudar a Avon. Então, só começamos a participar em feiras de cosméticos, dar palestras, então eu fiz palestras em todo o canto do Brasil, no Nordeste, Sul, São Paulo, falando sobre Cosmetologia, falando sobre os produtos Avon, falando dos benefícios dos produtos, a segurança e a qualidade que a Avon tem primeiro com segurança, performance e qualidade dos produtos. E feiras assim extremamente fantásticas no Anhembi junto com Alcântara Machado, aqueles stands que eram uma coisa impressionante de requinte e de luxo para mostrar realmente o poderio da Avon. E esses cursos, essas palestras e essas imagens começaram a mudar no comecinho dos anos noventa até que nós lançamos, em 1993, o Renew, que foi um grande divisor de águas da Avon em termos do que nós éramos na área cosmética e o que nós passamos a ser depois que nós introduzimos o Renew. E aí foi todo esse processo evolutivo até que, em 1997, saiu o Ademar Serodio, entra o Amílcar Meléndez e começa um novo processo de transição dentro da Avon. Nesse período, o Amílcar fez muitas mudanças e nós começamos, em 1998, um processo de redesenho mundial na área de (suppliers?). E essa área de (suppliers?), ela tinha que ser redesenhada, colocada novas ferramentas, novos instrumentos para dar mais controle para área de compras, para área de produção, para área de qualidade e eu fui convidado pelo Amílcar para fazer parte do grupo global para aprender e depois vir para o Brasil implementar isso. Então, eu saí totalmente da minha área que era área de Química para ir para uma área de Gestão.

P/1 – Certo, só uma pausa.

P/1 – Pode continuar...

R – Então, no comecinho de 1998, eu saí da área que era Química, que era a minha especialidade, e fui aprender uma nova atividade, uma nova área que eu não conhecia. Tinha um risco associado a isso, mas tinha a oportunidade de você aumentar o seu currículo, aumentar a oportunidade e aumentar a possibilidade de você crescer dentro da companhia. Ai eu fui morar três meses em Nova York junto com um grupo de (suppliers?) para poder aprender essa metodologia e entender do que se tratava. Aí voltei para o Brasil e comecei um processo de implementação aqui no Brasil. Mas ai ficou muito claro e eu sou muito assim de cada macaco no seu galho. E ficou evidente que, para o nível de implementação que requeria, eu não era a pessoa que tinha um skill para isso. Aí, a gente decidiu, eu e o Amílcar conversamos sobre isso, “nós temos que colocar uma pessoa que é do ramo de_____ e esse sistema da Sapi(?) e ____ que não era a minha especialidade, e o sistema era muito robusto, e aí, nós contratamos uma pessoa que veio da Johnson, o Telmo Pinto, que passou a ser o líder desse projeto e eu trabalhando com o Telmo. "Telmo, você coordena isso e eu vou te apoiando no que eu puder." E aí surgiu a oportunidade de novo de eu voltar para área de qualidade, reassumir a área de qualidade em função de problemas que nós tivemos com a pessoa que me substituiu. Voltei para área e o Amílcar pediu: "João, contrata uma pessoa no seu lugar". “Tá bom.” “Contrata uma pessoa para o teu lugar, e vai começar e eu vou treinar essa pessoa para ficar no teu lugar.” E foi quando eu comecei o trabalho de buscar e conhecia um colega que trabalhou comigo nos grupos de trabalho da ABC, nos grupos técnicos, especialista em Microbiologia que é o Gustavo (?) e aí eu contratei o Gustavo, falei: "Gustavo, vou te contratar e o objetivo para você é que você me substituta". "E você João?" “Aí eu não sei o que vai acontecer comigo.” Aí contratei o Gustavo em 1999. Quando foi janeiro de 2001, com as mudanças de reestruturação que já estava começando em um primeiro passo desse processo regional que a gente está vivendo hoje, foi início quando estava sendo planejado, o Amílcar me chamou e me ofereceu para trabalhar na manufatura. Então: "A gente está fazendo mudanças, o diretor de manufatura vai cuidar do centro de distribuição em Osasco, eu estou te oferecendo a diretoria de manufatura". Então fui promovido para diretor da área de Produção e aí comecei todo um processo de redesenho da manufatura que a gente chamou de "Inovando a Manufatura". Então, eram tantas oportunidades e tanta coisa para fazer que não dava para fazer tudo ao mesmo tempo. Mas eu falava que aqui era tão fácil, porque cada enxadada é uma minhoca, não tem como você errar, você tem que fazer. Mas era muita, muita coisa para ser feita. A Avon era um parque industrial que estava totalmente já obsoleto, precisava fazer mudanças, precisava fazer reformas e começou esse processo de mudanças de reforma nesse período. Então a gente começou a reformar a casa. Meados de 2001, de 2002 houve uma nova mudança de estrutura. A gente começou um trabalho em Miami onde todo o grupo de (suppliers?) foi para lá para redesenhar novamente os processos. E tinha vários colegas em fase de aposentadoria naquele momento, então nós tínhamos o diretor que era de qualidade, e de desenvolvimento de embalagens, estavam para se aposentar, aí foi-me oferecido: "João, você quer vir para cá para poder ser o diretor dessa área?". Porque, novamente, dentro desse processo que estava buscando uma manufatura precisava também de alguém com mais visão externa para poder fazer todo esse processo de mudança. Aí veio a Ana Gati que é a nossa diretora hoje de manufatura para Avon Brasil, e eu fui cuidar desse processo de qualidade, de desenvolvimento de embalagem da área regulatória. Isso foi no começo dos anos 2002. 2004 outra mudança. Então, a Avon do ano 2000 foi uma coisa assim, está sendo um processo de mudança, ano sobre ano tem novas mudanças com novos rumos para poder ajustar a companhia. No começo de 2004 começou um novo processo de redesenho que é o processo matricial, a gente deixou de ser uma estrutura local e começamos a trabalhar uma estrutura regional. Então, as áreas foram divididas. A gente passou a ter não o diretor de manufatura, não o diretor de qualidade para o Brasil, não o diretor de desenvolvimento para o Brasil. A gente tem Manufatura América Latina, Distribuição América Latina, Qualidade América Latina e colocou essa organização em funcionamento e nesse momento eu fiquei responsável pela área de assuntos regulatórios e desenvolvimento de produtos para a América Latina, tendo já um report com os Estados Unidos que era o (?) e um reporter em linha cheia (?) aqui no Brasil com o Luiz Barcellos. Isso começou no comecinho de 2005, em 2006 veio aquela história da reorganização global da Avon, corporativa, o processo de delay, todo aquele stress no grupo de ter que reorganizar, diminuir os níveis hierárquicos da companhia e outra mudança, aí eu passei a reportar direto aos Estados Unidos na área que estou ocupando hoje, de assuntos regulatórios e desenvolvimento de produto para toda a América Latina. É onde que a gente está hoje dentro desse processo da Avon.

P/1 – E você pode falar um pouquinho sobre o desenvolvimento de embalagens e produtos?

R – Então, o desenvolvimento de produtos, hoje ele é feito nos Estados Unidos no nosso laboratório central e nós temos o mundo da Avon que a gente chama de A_____ Sa_____ que hoje nós temos na América Latina onde, a sede principal é no Brasil, mas eu tenho pessoas no México e na Argentina que fazem parte do meu grupo de desenvolvimento, nós temos um grupo na Polônia que cuida de todos os desenvolvimentos locais para a Europa, nós temos um grupo na China que cuida do desenvolvimento para toda a China e a parte da Oceania e Japão. Então, são três grupos de _______, nós reportamos direto para os Estados Unidos, e qual é a grande função desse time? Desenvolver produtos específicos para cada uma dessas regiões, buscando oportunidades em produtos mais customizados, produtos com performance e com segurança em um custo adequado para a região. A parte de embalagem foi uma experiência que eu tive onde você, com os projetos regionais ou globais, implementar no país ou fazer desenvolvimento local junto aos grupos de marketing para atender também essa necessidade de performance e de custo dos produtos. São áreas totalmente afins, não existe produto sem embalagem e não existe embalagem sem produto. E toda essa parte técnica de teste, de compatibilidade entre o componente e o produto, ela tem que ser feita e isso é feito dentro desse grupo de produtos e que coordena o desenvolvimento desses produtos. Hoje essa parte é separada, não está mais comigo, é um outro diretor para região da América Latina que ele desenvolve. Então fica muito mais focado. Isso mostra que a interação seja maior e nós estamos ainda em um processo de maturar esse sistema matricial de trabalho.

P/1 – Certo, vamos voltar um pouquinho. Eu queria que o senhor falasse um pouco da mudança desse teste toxicológico que substitui o experimento com animais para o teste in vitro.

R – O que aconteceu foi no comecinho dos anos noventa, cada produto que a gente tinha que registrar na Vigilância Sanitária, nós tínhamos que mandar cada produto para o Instituto Adolfo Lutz e, lá no Adolfo Lutz, eles faziam uns testes desses produtos em cobaias, em coelhinhos. Então pegava o coelhinho, abria, colocava um xampu e não perguntava para o coelho se ardia ou não. Ele sofria lá todo esse maltrato. E a Avon por política desde 1989 decidiu não mais utilizar animais no seu desenvolvimento. Mas infelizmente tinha que cumprir a norma do país que requeria um teste em animal para poder fazer o registro de produto. Aí o que aconteceu, em 1991, a Avon nos Estados Unidos com parceria de uma empresa da Califórnia, a In Vitro Internacional, começou a utilizar uma metodologia in vitro para poder substituir os testes em animais para fazer um screening e depois finalizar esses testes utilizando seres humanos. E nesse processo, naquela época, nossa diretora de Toxicologia hoje é C.S.O, Chief Scientific Officer da Avon, ela veio para o Brasil e falou: "João, você me ajuda a validar esse processo no Brasil?". Eu falei: “Claro. Aí nós fomos para Brasília em uma reunião junto com o secretário da Vigilância Sanitária, a diretora da área de Registro Sanitário, naquela época se chama Dicop, divisão de cosmético e perfumaria. Apresentamos a proposta, eles aceitaram e nós fizemos um processo de validação junto com o Tecpar, que é um instituto de tecnologia do Paraná, um órgão do governo para fazer a correlação do teste em animal com o teste in vitro. E, no final desse processo, o Ministério da Saúde passou a aceitar o teste que nós fazíamos in vitro nos Estados Unidos para efeito de registro sanitário. Então, foi uma primeira empresa que conseguiu validar junto à Vigilância Sanitária a metodologia alternativa in vitro, substituindo o que era feito em animais. E hoje muitas empresas estão nessa linha. Na verdade, na Europa já vai ser banido o uso em animais para a área cosmética, para o desenvolvimento, para confirmar a segurança do produto e nós estamos muito próximos de chegar – pelo menos para alguns tipos de teste – à eliminação do animal. Existem coisas que não é possível, a parte de genicidade e carcinogenicidade, que você ainda tem de fazer testes biológicos. Mas, para fazer um teste de irritação dérmica, irritação ocular, certamente nós temos outras formas de poder avaliar qual é o potencial. Isso é uma bandeira da Avon desde 1979.


P/1 – Eu queria falar um pouco sobre o Renew, o senhor comentou sobre o lançamento dele, fala um pouco sobre ele, o parto.

R – Como eu disse já, ele foi um divisor de águas dentro da indústria cosmética. O uso do ácido glicólico dos Ahas antes dele, de 1992, 1993, quando foi produzido, para depois dele. E foi muito interessante, o primeiro lançamento do Renew foi feito em uma feira de cosmética no Rio de Janeiro no Hotel Nacional. Aí veio a nossa diretora de orandi(?), na época, a J______, fazer a apresentação e nós fomos lá na feira com o estande da Avon, com uma pochete branca com o Renew dentro para poder distribuir depois para as pessoas que frequentavam a feira. Pessoas que estavam fazendo cursos e tal. Aquilo foi um estouro, um boom que as empresas concorrentes pegavam papel de pão e escreviam “o meu produto também tem AHA” com pincel atômico e colocavam na frente do estande. Mas foi uma loucura, e o que que é? É o primeiro produto colocado no mercado que tinha a função de fazer um peeling químico e acelerar o processo de eliminação e redução de rugas para o rosto. Então foi assim realmente um marco dentro da Cosmetologia dentro do Brasil. Um produto que veio ajudar a Avon a sair de uma Avon que entre aspas estava fora do mercado, muito internalizada, como uma nova Avon mostrando realmente o poderio de desenvolvimento e a capacidade e captabilidade de desenvolver produtos de alta performance. Isso foi o primeiro Renew e na sequência, a cada dois anos e meio, um novo produto da linha Renew vem sendo produzido, cada um deles com mais tecnologia, com mais performance, com promessas que são comprovadas cientificamente, com comprovados estudos químicos que são realizados por especialistas e dermatologistas que comprovam esses benefícios. Uma coisa muito importante que a Avon tem, quem conhece o nosso sistema de desenvolvimento, é a capacidade que nós temos de desenvolver produtos e de colocar produtos no mercado que sejam seguros, que cumprem com o benefício que nós colocamos no nosso produto e que tenham a mais alta qualidade. Esses três vetores estão intimamente ligados para você atender o que o consumidor necessita. Se você compra o produto da Avon, você pode ter certeza que ele cumpre com aquilo que está dizendo na rotulagem. Isso quem fala é o responsável técnico da Avon Brasil que sou eu, mas eu conheço todo o processo de desenvolvimento do produto nos Estados Unidos.

P/1 – Tá certo. Senhor João, você pode me dizer quais são os principais desafios que você enfrentou na Avon ou enfrenta na Avon?

R – O meu maior desafio que eu tive, um dos maiores desafios que eu tive na Avon foi logo nos meados dos anos oitenta, 1986 e 1987, foi quando nós tínhamos sérios problemas regulatórios. E esse grande desafio de romper com essa tradição, com essa rigidez em uma fase de transição de se ter política, na parte da ditadura militar, entrando aí no estilo de governo do Sarney, foi romper, aproveitar esse momento para romper com essa barreira regulatória que impedia a Avon de lançar produtos imediatos. Então, a mudança da legislação brasileira foi um dos maiores desafios que eu tive de realizar para poder dar o nível de velocidade da Avon. E a outra barreira, barreira não, desafio, foi quando eu mudei da área técnica de Química, laboratório e qualidade para a área de supply (?). Isso me abriu muito a visão com business, hoje eu consigo enxergar a Avon quase end to end, todos os seus processos. Só falta a área de vendas. Mas, como todo mundo é vendedor, eu quando vou dar palestras de produto, falar de produtos da Avon, eu estou fazendo o quê? Mais do que vendendo a Avon, falando da qualidade do produto, do desenvolvimento desse produto. Mas hoje, a visão, com toda essa experiência que eu tenho, ela me dá muita tranquilidade em saber que o que a companhia espera de mim está sendo endereçado de forma correta.

P/1 – E as alegrias quais foram?

R – A foram muitas. Alegria de poder ter a imagem, o nome reconhecido, de ser uma pessoa respeitada dentro do setor, não só dentro da Avon como fora da Avon. Na semana que vem eu estou indo para os Estados Unidos em uma reunião em Washington, nós vamos com o pessoal do que a gente chama de PCPC, Personal Care Products Council, que é uma parte da ABIHPEC no Brasil para discutir temas regulatórios para América Latina e mundial, ou seja, a Avon me proporcionou tudo o que eu tenho em termos de bens. Paga pelo meu trabalho, mas esse sinergismos, o que a Avon necessita com aquilo que eu tenho a oferecer sempre tem muitas alegrias. Sempre tem muitos desafios, eu falo para minha esposa: "Eu nunca levantei um dia de manhã da cama e falei ‘poxa vida eu vou ter que ir para aquele inferno trabalhar’". Porque, o dia que eu tiver de fazer isso, certamente eu não vou mais. Então eu levanto, sei que tem problemas, sei que tem desafio, mas sempre disposto a chegar e dar o melhor de mim. E a Avon proporciona essa oportunidade para gente. É uma empresa que se você trabalhar sério e tiver garra, você acaba ficando que nem eu estou há quase trinta anos nessa companhia, e parece que eu comecei ontem. Eu me lembro do primeiro dia que eu cheguei na Avon com meu currículo que chegou na mão de um colega hoje, um grande amigo meu, o Paulinho, ele falou: "Ah, eu vou levar você para outro". E ele fala, depois eu virei diretor: "Poxa, eu peguei o seu currículo na mão, olha que erro que eu fiz, agora você é meu chefe". “Tá vendo, às vezes a gente comete cada erro na vida que não tem como voltar atrás, azar o teu.” Mais é isso a Avon, é uma empresa que a gente vive ela no dia a dia. Dos poucos dinossauros que ainda tem lá, e eu sou um deles, a gente entende qual é a essência dessa companhia. E quando você fala com a Claudia Cincinati(?), quando você fala com o Pedro (?), fala com o Luis Felipe, foram que viveram a história dessa organização e que nem perceberam o tanto que ela foi crescendo.

P/1 – Certo. Você falou dessas mudanças de reorganização regional, o senhor pode falar um pouco como é a relação com os outros países da América Latina?

R – Eu tenho hoje sob minha responsabilidade dezesseis países da América Latina. E é uma situação bastante interessante, que você tem que entender a característica de cada povo, a _______ de cada um deles, você tem que conhecer como é que funciona o governo de cada um desses países, como é a forma de trabalho de cada um deles para um mesmo problema. A solução na Argentina é uma coisa, no México é outra. Então, você acaba virando mais um diplomata nesse relacionamento que um técnico. Técnico é fácil, dois mais dois, quatro você chega lá e resolve. Mas, às vezes dois mais dois não é um quatro tão claro para todo mundo, pode ser um três e meio, um quatro e meio, então você tem que começar a entender como fazer para que todos compreendam que dois mais dois são quatro. E é muito desafiador. Hoje, nós estamos vivendo um momento muito específico de mudança de uma planta, vamos fechar a planta da Guatemala e mover toda essa produção para o México. E eu tenho que fazer em torno de quatro mil e trezentos registros sanitários até novembro em Nicarágua, Guatemala, Honduras, El Salvador e Panamá. Isso gera uma complexidade de negociação e temos hoje uma dificuldade política na Nicarágua muito forte em função de as autoridades serem bastante novas e bastante resistentes, então nós estamos trabalhando junto com o governo mexicano na relação bilateral comercial do México e Nicarágua, e tentar resolver os problemas regulatórios técnicos que estão acontecendo nesse momento. Então você precisa ter jogo de cintura, precisa ter habilidade política, você tem que segurar um pouquinho a pressão, não pode ser muito forte, senão você acaba tendo, estão querendo impor um poderio de uma empresa americana, então você tem que ter muito cuidado com essa relação. Você vai na Colômbia, por exemplo, um pessoal maravilhoso, apesar de todo o medo em função das violências das Farcs, mas é um dos povos mais competentes e amistosos que se tem para trabalhar. Nossos amigos argentinos são fantásticos de trabalhar, só não pode falar de futebol com eles que não tem conversa, não tem diálogo. Mas, para trabalhar, são uma maravilha, os chilenos, da América Latina só da Guiana que eu não fui. E Bolívia, preciso ir na Bolívia que eu também não fui. Mas é essa forma matricial de trabalhar é muito interessante. Eu tenho a cada duas semanas conference call com o meu grupo os, red(?) de cada um dos países. É interessante que cada um fala sobre os seus problemas, aquilo que é crítico, todos nós ouvimos, todos dão os seus comentários e recomendações e, enfim, sai um bloco unido. No fim do ano, eu faço um workshop com eles e é extremamente rico. O primeiro workshop que eu fiz, eu pedi para eles falarem umas características do seu país, o que que é importante, o que tem de mais interessante. Aí escreve o argentino: "Temos o melhor vinho do mundo". O chileno: "Temos o melhor vinho do mundo". Até aí você deixa o chileno e o argentino brigar por causa do vinho que são bons. Mas aí vem o colombiano falar que tem o melhor café do mundo para o brasileiro, aí a coisa ficou feia: "Escuta colombiano, não tá com medo de perder o emprego, não? Aqui na minha casa, você vem dizer que o café da Colômbia é melhor que do Brasil?". E assim que você acaba criando o time, o sinergismo entre eles. É uma estrutura que ainda nós não estamos maduros, estamos aprendendo como ser, como ter governança nesse processo matricial. E o tempo certamente vai nos ajudar a corrigir a rota e acertar os pontos que nós temos de oportunidade nisso.

P/1 – Tá certo. E o que o senhor considera sua principal realização na Avon?

R – Olha, talvez toda a mudança na parte regulatória e o impacto que isso teve na Avon tenha sido minha maior realização e continua sendo minha maior realização. Eu tenho um objetivo muito claro que ainda [está] para ser realizado, e nós estamos trabalhando nisso, que é harmonizar a legislação na América Latina. Você já poder, um produto feito no Brasil circular livremente em toda a América Latina sem nenhuma barreira. Para que isso passe, nós temos que equacionar todas as divergências existentes hoje. Isso ainda não é realidade, nós temos hoje na América Latina blocos harmonizados, temos o Mercosul, que por incrível que pareça é o mais antigo e o menos harmonizado, temos o _______ em um estágio de evolução extremamente alto, com reconhecimento mútuo de produto, um sistema muito ágil e temos na América Central, com a promessa agora para setembro de eles assinarem, todos os Ministros de cada um dos estados assinar um tratado de harmonização da legislação cosmética. E o que eu quero fazer e estamos começando a trabalhar nisso, e essa é a razão pela qual nós vamos estar em Washington na próxima semana, é como fomentar a ter uma América Latina dos mesmos moldes que nós temos hoje a comunidade europeia. Claro que isso requer não só nível da indústria cosmética, mas também um nível político de uma comunidade latinoamericana, mas quem sabe a gente consiga fazer ou iniciar esse processo pelo setor cosmético que é um setor extremamente autorregulamentado em altas geografias e nós temos aí uma oportunidade muito grande. Sem dúvida alguma, de todos esses tempos que estou na companhia, eu acho que eliminar as barreiras que impeçam que a Avon não tenha agilidade que a gente quer ter para implementar essas tecnologias seja minha grande contribuição. Eu já escrevi vários artigos dentro da revista da Associação Brasileira de Cosmetologia sobre esse tema. Nós temos hoje uma definição do que é produto cosmético e o desenvolvimento muito próximo de um divisor de água do que é um produto cosmético, do que é um produto medicamentoso. E essa zona já está ficando muito próxima e estamos entrando em uma área de conflito. Isso só vai resolver quando nós mudarmos um pouquinho o escopo do que é o cosmético. E se nós não fizermos isso, mais uns quatro, cinco anos, aí a gente vai estar com muita dificuldade, não só a Avon como todo o setor de introduzir tecnologias que fogem do escopo da definição de cosméticos. Porque o cosmético não tem a função de tratamento e de cura, tem a função de embelezamento, de aprimorar ou de prevenir. Mas vai chegar um momento que isso vai criar uma confusão muito grande com a área médica, com a área dermatológica. E que sai e esteja também o próximo grande trabalho para gente poder fazer, para fazer proporcionar o crescimento que a Avon precisa e que o setor cosmético precisa.

P/1 – Certo. E o senhor pode falar um pouco sobre o relacionamento com os colegas de trabalho? Aqui no Brasil, já falou...

R – Não, essa nova estrutura matricial é muito interessante, nós temos muita gente nova entrando, temos as pessoas que já estão há bastante tempo e tem essa oportunidade desse relacionamento matricial. A Avon sempre foi uma empresa que a gente chamava da família Avon. Quando eu entrei na Avon, em 1979, e ia trabalhar de sábado e domingo, tinha aquelas vitrolinhas que tinha disco do Roberto Carlos rodando e o pessoal trabalhando. Aqueles long plays do Roberto Carlos. E nós tínhamos naquela época, durante o almoço, competições coordenadas por um professor de Educação Física que a gente fazia campeonato de lance livre. Então, se a moçada vai lá na quadra, era dez pontos livres. E aí a moçada ia fazendo os cortes até chegar no campeão. Então sempre foi uma empresa de muito relacionamento. A avon é uma empresa onde o relacionamento é a base de tudo. Um milhão duzentos e sessenta mil revendedoras, se você não tem relacionamento, você não consegue sobreviver, não consegue sobreviver com isso. O que é nesse aspecto fora na área de vendas, ela é internacionalizada. Profissionais que preservam o relacionamento, que é fundamental a você trabalhar extremamente unido, mas que não tem assim nenhum problema de relacionamento com o que você tem que falar. As coisas que tem de ser dito na hora certa e com o respeito que tem de ser dito. Fora então do seu país é muito mais importante a forma como você trata as pessoas, como você se comunica com as pessoas, com respeito, com educação e com profissionalismo. Eu sempre fui tratado dentro da companhia com respeito, com educação e com profissionalismo, mesmo as vezes que as situações eram de extremos stress e coisas mais sérias precisavam ser ditas, precisavam ser faladas, mas sempre fui tratado com muito respeito. Essa é a forma que eu gosto de tratar as pessoas. Às vezes você está um pouquinho mais exacerbado, você fala: "Dá um tempinho, deixa assentar um pouquinho a poeira, acalma um pouco e depois a gente toca nesse assunto".

P/1 – E, na sua opinião, o que a Avon representa para os funcionários?

R – É uma pergunta difícil de responder, isso hoje. A gente tem que ver: qual é o sonho da pessoa naquilo que ela está fazendo? Eu vejo que hoje na Avon, percepção minha, tem muito mais gente pensando na sua carreira do que pensando na verdade na empresa como um todo. Eu acho que todos têm que ter um sonho na vida e tem que buscar seu sonho. Enquanto você não conseguir, você tem que continuar batalhando. E às vezes quando você vê que seu sonho está na Avon, você tem que lutar para que isso aconteça. Quando você perceber que o seu sonho não está lá dentro, você tem que ir atrás. Eu tenho várias ações dentro do laboratório que todo o funcionário lá era no mínimo químico, farmacêutico, biólogo, estudando. Depois que se formava, o que o cara queria? O cara queria crescer, só que não dá para criar vaga de diretor para todo mundo, de gerente para todo mundo, como é que a gente faz? Aí eles vêm falar comigo: "Ô João, e aí, o que eu faço agora?". "Qual é o seu sonho agora?" "Meu sonho é crescer. Eu tenho oportunidade aqui?" "Eu acho que tem." "Quando?" "Quando eu não sei, esteja preparado. Se o seu time foi adequado com o time do que eu tenho para lhe oferecer, vai se preparando e, se não for, vai se preparando." E vários deles saíram da companhia atrás do sonho e hoje estão em colegas da Avon no ramo de perfumaria e que foram atrás do sonho. Outros não, outros aquilo é o melhor do que você poderia ter na vida e continua lá. Eu te digo, abertamente e falo para os colegas, se eu não tivesse tido todas essas oportunidades de poder crescer na companhia, certamente eu não estaria mais na Avon porque eu tenho um sonho de crescer a minha vida pessoal, dando melhor qualidade de vida para minha família, tendo mais possibilidades de poder ter bens para poder usar, para poder usufruir da vida e a Avon me ofereceu tudo isso. Como eu disse, são trinta anos quase de trabalho e na minha vida eu não cheguei aonde eu quero chegar. Ainda tem mais caminhos que podem ser percorridos e eu continuo trabalhando para esses novos desafios da companhia. Essa é a minha visão da Avon. O que é para os funcionários, cada um tem que se entender em si mesmo, olha para o espelho e perguntar: “O que eu quero para mim?”. Qual o seu futuro? O meu futuro está aqui na Avon? Ou então tenho que fazer tudo para estar preparado quando surgir uma oportunidade. Se ele olhar para o espelho e ver que o seu futuro não está ali, não perca tempo. Aí vai ser um a mais lá e não vai contribuir da forma que está contribuindo para organização, essa é a forma que eu penso.

P/1 – Tá certo. Você tem algum caso engraçado para contar, que você se lembra? Algum caso pitoresco nesses trinta anos?

R – Ah, tem. Quando eu era supervisor lá do laboratório, a gente cuidava da produção, fazer o controle da qualidade da produção. E a gente tinha muito atrito, atrasava para fazer análise e dava muita correção. E tinha um supervisor lá, o Silva, Demerval Silva que sempre entrava no laboratório e brigava. Ele pegava as fichas de correção de batons, pegava aquelas que tinham dez, vinte correções, somava tudo isso e levava na sala do gerente e falava: "Olha, não dá mais, olha aqui ó, dez correções". E aí, o Ariovaldo me chamava: "O que está acontecendo?". "O Ariovaldo, ele escolheu a dedo né, olha aqui o tempo com uma ou duas correções. Então, ele só levou aquilo que está enchendo ele mais não está vendo todo o resto que está bom." Aí a gente brigava e tal. Aí quando estava na maré mansa, que não tinha problema, aí a gente encontrava no corredor e falava: "João, tá muito calmo". "Tá muito calmo." "Então vamos montar uma cena?" A gente entrava no laboratório chutando a porta do laboratório brigando, aí criava aquela superconfusão e o pessoal já sabia, estava muito mal ensaiado esse teatro aqui, não dá certo. E a outra coisa que era muito pitoresca no laboratório era a sacanagem que a gente fazia com o recém-entrado, com os estagiários. O cara sofria uma semana lá até ele ser batizado. O que ele fazia? A gente pegava rímel preto e colocava no telefone na parte de escuta. Aí a gente tocava o telefone e: "Ó, telefone para fulano de tal". Aí falava: "Fulano é para você". "Para mim, é?" "Vem aqui que estão te chamando." E ele pegava o telefone e metia na orelha, quando metia aquele negócio preto estava todo. Na gaveta quando ia abrir, a gente fazia um sabão com creme de barbear e metia polietileno em pó, parecia aquela massa de limpar mão de mecânico, massa Pinheiro, só que a gente colocava um corante que se chamava bromo ácido, é um corante que não dá cor no primeiro momento no produto. Mas, depois que você aplica na mão, ele fica mais vermelho. São os corantes que a gente usa para fixação no batom. Então o cara sujava a mão e a gente falava: “Lava com isso daqui que é bom”. Daí ele lavava a mão lá e dava dez minutos a mão ficava toda vermelha, aí era sacanagem porque demorava três, quatro dias para sair, aí era complicado. E, a outra vez, a

ngela lavava toda a vidraria para gente para poder, senão não dava resultado. E na pia fica uma cuba muito grande cheia de detergente, de sabão e coisas e beckers e erlenmeyers lá dentro. Aí eu peguei minha mão e coloquei fenolftaleína. Fenolftaleína é um indicador quando você faz titulação de produtos. Que quando ele muda o pH, ele sai do pH ácido transparente para o pH alcalino que fica vermelho. Então enchi minha mão de fenolftaleína e aquela cuba cheia de sabão,ou seja o pH estava alto, peguei o erlenmeyer, fiz um barulho como se tivesse quebrado e dei um grito: "Ai, eu quebrei a minha mão toda". E o negócio começou a ficar vermelho e saía como sangue nas mãos e eu comecei a gritar e gritar e ela começou a ficar desesperada: "Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus". Aí quando tirei a minha mão que eu limpei assim, ele saiu do laboratório correndo para me bater. A gente fazia pipoca no laboratório, fazia quentão no laboratório, aí vinha o Ariovaldo, gerente – naquela época não era –: "Escuta, você faz pipoca aqui na capela, o cheiro vai lá na minha sala. Pelo menos me chame para poder comer pipoca aqui". E era isso, brincadeiras, era um grupo naquela época muito assim amigo, muito unido, aí um sacaneava o outro e o mais gostoso são essas histórias. Futebol, churrasco, sempre estava fazendo, happy hours. Depois vai passando o tempo, o pessoal vai casando e vai tendo compromissos e não dá mais. Hoje, os novos devem estar fazendo o mesmo que fazíamos no passado. Mas era muito divertido o grupo. Tinha um colega, o Sérgio Carinhato, que era santista, então ele subia na embalagem para o processamento, aquelas escadas como estivesse saindo do vestiário do campo de futebol e entrando no gramado. Aí um dia ele sobe a escada lá como se fosse um atleta cumprimentando. Quando ele dá de cara com o Ariovaldo que era o gerente. Hum, ops.

P/1 – (risos)

R – Brincadeira, crianças e recém-iniciando na carreira, era todo mundo divertido.

R – Outra, não é maldade, mas outra integração, vamos dizer assim que nós fazíamos com os colegas novos, é o seguinte: depois de um certo tempo que o estagiário passou pela matéria-prima, amostragem, daí ia lavar louça, ele ia para área de aprovação de análise dos produtos que estavam sendo produzidos. E sempre tem o padrão que sempre tem que se comparar com aquilo que está sendo produzido. E o que a gente analisa? Cor, odor, aparência, densidade, viscosidade, algum princípio ativo, alguma substância que tem de ser analisada na parte instrumental. E a parte olfativa de você cheirar, você pega o produto, cheira e compara com o padrão. Aí chamava: "João, tá na hora de você ir para lá". Ou João ou Luís, aí... Tá bom, eu pegava um produto que tinha lá na minha sala, já vinha pisando duro lá para área do laboratório. Aí eu falava: "Chama todo mundo aqui!". Aí fazia aquela rodinha e aí o pessoal já começava a segurar para não rir, não podia rir, senão... "Quem aprovou esse produto aqui que liberou para produção?".

P/1 – (risos)

R – Aí: "Foi o estagiário". Eu pegava o produto: "Você aprovou isso?". “Sim senhor, eu aprovei.” "Mas você não cheirou isso antes de aprovar?" "É, eu cheirei." "Mas isso aqui tá ruim!" "Não, tá bom, eu comparei com o padrão." "Aí, cheira aqui," "Não, não, não, não, cheira você." Aí eu cheirava, ele cheirava. "Cheira outra vez." "Não, tá ruim!", "Não, ta bom!" E aí quando ele cheirava eu colocava direto no nariz dele o negócio. E todo aquele negócio ia na boca, no nariz assim, aí o resto tá todo lá. “Pô, o diretor, o gerente de área vir até aqui fazer sacanagem?” Então ele já sabia que aquilo ali era para brincar e eram essas formas que faziam que o pessoal se integrava dentro do grupo. E outros que eu não sei o que eles faziam. Eu sou adepto de pegar novos repertórios. Agora que, vinte anos atrás, hoje certamente já deve estar um pouquinho diferente.

P/1 – Certo. Seu João, o senhor é casado?

R – Eu sou casado, tenho duas filhas. A minha mais velha vai casar agora esse ano, é advogada, vai fazer vinte e cinco anos agora dia 24 de julho. Ela se formou na PUC advogada, está trabalhando em um grande escritório, o Mar___ Filho e já está encaminhada para vida. E a mais nova, Adriana, vai fazer vinte e um em novembro, ela está estudando Engenharia Ambiental, ela há um mês atrás conseguiu grandes efeitos na empresa onde ela trabalha, foi a primeira empresa a fazer um processo de validação de green building no Brasil, então tem uma companhia que eles assessoraram e a Adriana foi uma das coordenadoras do projeto. Então, veio lá dos Estados Unidos toda certificação dessa empresa, ficou toda pimpona, feliz falando ao microfone. Parece o pai, o pai não pode ver um microfone que fala e ela é igualzinha. E, quando ela mostrou as fotos para mim, eu fiquei pensando: "Filha de peixe, peixinho é". Então tá lá toda pimpona. Eu sou casado há vinte e seis anos, ano passado a gente fez nossa festa de bodas de prata, foi um recasamento, ela aceitou outra vez casar comigo, duas vezes fez besteira. Muito legal.

P/1 – Qual o nome dela?

R – Márcia. Mas, eu comecei a namorar com ela, eu tinha dezessete ela tinha dezesseis, aí, com vinte e quatro e ela vinte e dois para vinte e três, a gente casou. Com um ano e meio de casado já veio a Jú e depois com mais três anos e meio, quatro anos veio a Dri que é a minha mais nova. E uma família muito legal, com um cachorro que é o xodó da família. Aliás, para o cachorro tudo, para o cachorrão aqui o que tiver na geladeira você se vira. Para o cachorro não falta comidinha, aguinha, tudo, tá tudo lá em ordem para ele. Mas muito, uma família muito legal. Nós moramos praticamente todos juntos, eu, meu irmão, minha mãe, minha sogra, as irmãs da minha esposa, praticamente no mesmo bairro. Qualquer problema, cinco minutos tá perto. E é mais ou menos aquela grande família. Muito perto, muito junto, muita briga, muita paz, então é uma história muito interessante. Minha sogra dia 12 faz cinquenta anos de casada. Nós estamos preparando a festa toda, nós estamos em um processo de pegar fotos e fazer a história, então estou sendo diretor de arte e de montagem. "Não, isso aqui tá ruim, precisa pegar mais coisa." Então, eu estou me preparando para fazer a festa. Uma família muito legal. Da parte do meu pai também, eram sete irmãos, da minha mãe também outros sete. E é engraçado, quando a gente morava no Socorro, vinham todos irmãos, conseguia umas duas, três vezes ao ano conseguia reunir todo mundo que não era fácil. A minha vó ficava toda feliz da vida quando conseguia que todos os irmão estivessem juntos. Mas o engraçado, eu me lembro hoje que, todas as vezes que eles estavam lá, eles davam risada das mesmas histórias. Eu me lembro que o meu tio, pulando uma vaca deitada com o cavalo, a vaca levantou e ele se quebrou todo. Outro meu tio Capeli, que era mais vagabundão entre aspas, estava trabalhando na roça, mas, quando precisava fazer as necessidades dele ele, ia três quilômetros longe da enxada para poder não capinar muito as coisas e ia. E ficava conversando as coisas, dando risadas e ficavam contando as histórias deles. A família fantástica, muito boa. Gente muito simples mas maravilhosa.

P/1 – Tá certo. Então vamos falar mais um pouquinho de Avon. Qual a importância da venda direta para Avon?

R – É a razão de ser. Essa companhia é a venda direta. Essa companhia nasceu com David McConnell com esse princípio. E ela é fiel a essa metodologia desde que ela nasceu. E certamente a Avon não saberia fazer negócio se não fosse nesse sistema. Esse é o grande know how dessa companhia, é a força que nós temos esse canal de venda direta. É a forma que nós lidamos com essa imensidão de gente no mundo inteiro. Nós tivemos um momento na China no comecinho do ano 2000 que foi proibido a venda direta em função da estrutura do governo chinês e depois de muito trabalho em função da nossa CEO, de origem chinesa, conseguiu reverter esse processo. Mas a Avon certamente não seria Avon se não fosse esse processo de venda direto. Não estaria há cento e vinte anos no mercado se não fosse um outro tipo de gestão de negócios. A venda direta é relacionamento, entender da necessidade das pessoas, poder dar, não só vender produtos, mas a Avon faz uma série de outras atividades nessa venda de produto. É o programa do combate ao câncer de mama, são ajudas na saúde integrada à mulher. É a parte de violência no lar, então tem várias atividades hoje que decorrem desse processo de negócio da Avon da venda direta. Não é vender, “tá aqui o produto e ponto”. Tem muita ação social por trás disso e talvez essa seja uma das grandes forças que a Avon tem na venda direta em ser a precursora, a pioneira de vendas no mundo inteiro na área de cosméticos.

P/1 – E o senhor citou aí algumas ações sociais, qual é a sua visão a respeito dessas realizações da Avon?

R – Ela é extremamente importante. Quando você vê, na semana passada morreu a cantora Silvinha de câncer de mama, ela tinha já, desde os quarenta anos lutando contra essa doença. Se você tem condições de antecipar, fazer o autodiagnóstico, ter todo esse suporte para poder evitar, você pode salvar muitas vidas. Eu acho que essa é uma grande ajuda social, essas campanhas "Um beijo pela vida" de você sair e arrecadar fundos com as corridas e as vendas de produtos específicos, alocando ou direcionando uma parte desses recursos na compra de mamógrafos que são entregues por várias entidades dentro do Brasil, para poder estar ajudando as pessoas mais carentes a ter acesso a essa tecnologia, para poder fazer o diagnóstico prévio, antecipar a doença para que ela seja pega no início, não tem preço para isso. Acho que é extremamente importante, é foco da companhia, ela se dedica a isso e se dedica de coração. Não é para ficar fazendo propaganda na mídia sobre essas coisas, é para realmente poder ajudar quem tem necessidade. O programa de saúde integral da mulher, que foi lançado nos meados de 1990, chegou a ser reconhecido pelo Governo Federal da Ruth Cardoso e do Fernando Henrique pelo tamanho desse network que a Avon tem de atender essas classes mais necessitadas e poder levar a essas pessoas um pouquinho mais de informação. Para que as pessoas com esse pouquinho mais de informação possam ter uma qualidade de vida melhor. Possam saber como tratar um pouquinho melhor dos seus filhos, dos seus maridos, ter um lar mais organizado, poder ter um pouquinho mais de bens que vêm em decorrência disso para poder administrar sua casa melhor. Acho que e a saúde da mulher é fundamental dentro de uma estrutura familiar. Você perder um pai, com toda a sua importância, mas você perder uma mãe deve ser uma barra um pouquinho mais pesada. Não que o pai não possa cumprir, mas eu acho que a figura da mulher é fundamental dentro da estrutura familiar. Sem ela as coisas ficam um pouco mais difíceis. E esse é o foco da Avon, é para oferecer para mulher a necessidade de produtos e serviços e ______. E onde você pode dar o apoio para que esse grupo que não tem acesso a um médico, a uma medicina um pouco mais avançada, você poder contribuir com isso, isso dá muito orgulho para gente que trabalha nessa companhia. E fazer parte de uma companhia que tem como princípio e fundamento poder estar ajudando os mais necessitados.

P/1 – E como o senhor avalia a Avon dando oportunidade para tantas mulheres, inserir a mulher no mercado de trabalho nos anos cinquenta e atualmente tantas mulheres com cargos gerenciais, presidente.

R – É o mundo, a Avon é uma empresa moderna, nós temos hoje nossa CEO que é mulher. E, na verdade, a Avon deu chance para os homens trabalhar. Porque quando eu entrei na Avon, na embalagem só trabalhava mulher. E nós éramos lá os colocados de lado. Hoje não, hoje nós temos mesclas de homens e mulheres trabalhando nos trabalhos mais simples e muitas mulheres nos cargos gerenciais e diretorias que antes eram só ocupados por homens. Hoje nós não temos esse tipo de restrição, hoje o que manda é a competência. Se você tem competência, se você tem talento, você pode estar trabalhando na posição. Seja essa pessoa homem, seja essa pessoa mulher. Não mais aquele tabu não, “para essa função tem que ser homem, para essa função tem que ser mulher”. Hoje não. Quantas diretoras mulheres tivemos? Tivemos presidente mulher aqui no Brasil, a Eneida, gerente, diretoras, mulheres. Acho que a Avon realmente, e não é só aqui no Brasil não, é no mundo inteiro, no mundo inteiro. E é extremamente importante e acho que nós temos de tirar hoje, para mim nunca houve diferença entre homem e a mulher, em termos profissionais, em termos de competência. Tenho uma esposa e duas filhas e isso para mim, quanto mais elas crescem profissionalmente... mas elas têm que estar preparadas. Eu sempre falo para elas: "Meninas se vocês não se prepararem, não estarem preparadas, não vão te oferecer nada. As coisas acabam vindo quando você está preparado". Tem uma filha mais nova que já pela profissão dela já terminou o Inglês e está fazendo o Francês e está aí a mil por hora. Então, você precisa estar preparado e seja homem ou seja mulher as coisas não caem no colo, não caem do céu. Se você não estiver preparado, em duas pessoas certamente você não vai ser escolhida, vai ser a outra pessoa que está mais preparada que você.

P/1 – Tá certo. E como é que você vê a atuação da Avon aqui no Brasil? Esse alcance que a Avon tem nos lugares mais distantes?

R – É, uma vez eu estava dando uma palestra de Logística e aí quebrou o computador, até que arruma a tecnologia você tem que ir falando para entreter o povo. Mas a Avon entrega onde a coca-cola não chega, onde a Souza Cruz não vai. E a gente entrega com todos os modais de transporte, entrega com navio, entrega com carro, entrega com bicicleta, entrega com barco, entrega com costa de jacaré e no dia seguinte sai na reportagem: "Avon entrega produto até em costa de jacaré". Agora meu emprego foi, né. Aí foi, pois é. Aí, o que aconteceu? Veio a revista Veja na Avon e: "Olha, agora eu quero fazer uma revista, um artigo mais completo e profundo sobre essa história da Avon". E começou com as costas do jacaré. A Cida Medeiros, falou: "João, mas você falou isso?". Mas eu ia saber disso, que ia ter jornalista lá falando essas coisas? Mas é isso. A Avon, hoje, dentro desse processo de abrangência, não tem igual. Nós entregamos em todos os rincões desse país e usando todos os modais. Não digo que costa de jacaré, mas os barquinhos, as bicicletas e a pé, em cima da cabeça, os produtos chegam. Por incrível que pareça, existe lugares na Amazônia que nem dinheiro se faz, é quase que no escambo, troca galinha pelo produto e, depois, e o outro vende a galinha e vai lá nas regiões mais antigas. Mais isso em áreas... E a Avon nesse aspecto teve um período que implementamos um indicador chamado "pedido perfeito". O que é o pedido perfeito? É entregar para nossa revendedora aquilo que ela pediu na quantidade certa com qualidade e no tempo correto. Isso foi no início dos anos 2000. Aí o que aconteceu, o Amílcar é uma pessoa que gosta muito de ir ao campo, ver o que estava acontecendo, viajava por esse Brasil todo. E um dia ele estava na Ilha do Marajó, em uma das reuniões de venda que nós temos. E ele falou toda essa história do pedido perfeito, que o compromisso da Avon é entregar o produto com tudo que a senhora pediu lá dentro. Aí uma senhora de mais de setenta anos de idade, depois que ouviu toda a conversa e a história do Amílcar chegou pertinho dele e disse assim: "Olha, Seu Amílcar, tá tudo muito bem, tá tudo muito bom, muito bonito o que o senhor disse, mas sabe o que é? Faça isso que o senhor falou, não deixe que nenhum produto falte na minha casa porque eu vivo desse dinheiro com os produtos da Avon". E nós usamos isso dentro da, internamente dentro da Avon como uma estratégia de comunicação e de envolvimento dos funcionários internos. E quem está interno e não teve a oportunidade de conhecer o campo, não tem ideia de conhecer o campo. Então, nós fizemos uma dinâmica lá com o apoio do (Lírio Cipriani), não sei se ele já veio aqui ou se ele vai vir. Aí ele pode ratificar essa mentira que eu posso contar aqui. Que, na verdade, o que nós fizemos? Nós fizemos um projeto: nós vamos distribuir uma latinha para cada um dos funcionários internos da Avon e às dez horas da manhã de um determinado dia nós íamos parar, cada um ia ter a sua latinha na mão e nós íamos contar uma história que tinha nessa latinha. E aí o que nós dizemos: "Você está recebendo uma latinha e cada latinha dessa tem um relógio para você usar". Essa era a nossa promessa para eles. E assim foi feito, chegou naquele dia, dez horas todo mundo parou, cada supervisor, gerente, diretor com seu grupo, seus diretos, repórter aí, para poder abrir. Contou a historinha e daí, quando abriu, a grande maioria estava vazia, outros tinham uma calculadora e nenhum tinha relógio. "Mas você tá dizendo aqui que tem um relógio, tá dizendo que... A minha tá vazia, a outra tem uma calculadora..." "É exatamente essa frustração que a nossa revendedora sente quando ela abre a caixa dela e ela vai conferir e vê que os produtos que ela pediu não estão lá dentro. E nós somos os responsáveis por colocar o produto lá dentro." Então, isso deu uma ideia para quem nunca teve a oportunidade de ir ao campo para sentir a mesma sensação de frustração, de desapontamento que uma revendedora tem quando ela não recebe o pedido que ela pediu. E muitas delas, como a senhora da Ilha de Marajó, vivem em função desse dinheiro que ela faz dos produtos que vende da Avon. Então, a nossa responsabilidade não é dizer que não tem e não mandar. Não. Para aquela senhora vai fazer a diferença. É que nem aquela historinha do cara que estava na praia desesperado com um monte de estrela-do-mar morrendo e ele jogando as estrelas-do-mar na água, aí passou: "Você tá louco, você não vai conseguir salvar todas, não vai fazer diferença!". "Aquela que eu consegui voltar dentro da água, para ela vai fazer diferença." Então, se a gente não fizer diferença internamente, não, se eu não entregar o produto, aquela senhora, ela vai ser prejudicada, ela vai deixar de ganhar o dinheiro e vai perder a credibilidade na gente, a gente não vai revender mais nossos produtos. É porque ela não acredita mais na gente. Então, essa importância que tem o nosso revendedor. Nós temos que cumprir com a nossa obrigação para com elas que é de entregar aquilo que ela nos pediu. Dar qualidade, dar condições dela poder fazer negócio e fazer com que esse negócio da venda direta da Avon cresça sempre. Isso nos levou, estava buscando aqueles materiais que eu trouxe para vocês verem aí de 1993, em 1993 nós tínhamos quinhentas mil revendedoras. Hoje nós temos um milhão e duzentas efetivas e não sei quantas cadastradas aí. Quase um milhão e meio talvez. Eu não tenho esse número correto na minha cabeça, mas de pedidos lá mais de um milhão e cem colocados em todas as campanhas. É uma coisa maravilhosa. Essa é o tamanho, é a força que essa companhia tem dentro da venda direta.

P/1 – Quais foram os maiores aprendizados de vida que o senhor teve trabalhando na Avon?

R – Que você não é dono da verdade. Sempre tem uma opinião diferente da tua. E que você tem que aprender a ouvir e aprender a olhar para dentro de si e refletir. Muitas vezes a gente age na emoção, naquele calor do sentimento e acaba deixando de usar um pouquinho a razão. O grande aprendizado é saber ouvir, saber se posicionar, saber se relacionar para você poder realizar seu trabalho com tranquilidade, não com menos pressão, mas que você tenha serenidade para poder tomar as decisões que você tem de tomar.

P/1 – E o que o senhor acha da Avon estar resgatando seus cinquenta anos através desse projeto aqui?

R – Eu acho maravilhoso, a história que a Avon tem. Eu estava comentando esses dias com a Cida. Quando nós fomos buscar os catálogos de venda das Avons dos anos sessenta e se você colocar cada uma das décadas do final dos anos cinquenta quando a Avon começou, anos sessenta, anos setenta, anos oitenta, anos noventa, dois mil, você vê a evolução de uma série de coisas. Você vê evolução de moda, de cabelo, de produtos, de hábitos, de costumes. Tudo isso armazenado nos nossos folhetos de venda. Aí você olha de uma forma um pouco mais técnica, você vê o que eram os produtos, as embalagens, e como foi evoluindo a tecnologia até chegar onde nós estamos hoje. Esse resgate é você deixar documentado aquilo que pessoas que naquele início, em 1958, 1959 quando a Avon começou a surgir e resgatar a história viva de quem passou por esses movimentos. E a somatória de tudo isso certamente vai dar um material maravilhoso, que vai perpetuar nesses cinquenta anos o que é essa companhia no Brasil e somar a toda essa história que ela tem de mais de cento e vinte anos no mundo. Para mim é uma honra, é um orgulho poder estar participando, ter o privilégio de ser uma das pessoas que está contribuindo para a formação desse material. Com um pouquinho da minha história somando com a história de todos os colegas que vão passar por aqui. Isso é uma coisa que vai ficar inesquecível e na memória da organização para sempre.

P/1 – Você quer perguntar alguma coisa? O senhor quer falar sobre mais algum assunto que eu não perguntei?

R – Só dizer que para mim a Avon está na pele, eu sou rotulado aí fora “o João da Avon”. E eu quero continuar e vou continuar dedicando todo os meus esforços para continuar sendo o “João da Avon”. Uma companhia que me dá muito prazer de trabalhar onde sempre fiz grandes amigos, sempre tive grandes desafios, onde pude mostrar todo o meu trabalho e tive a liberdade de poder demonstrar aquilo que eu gosto de fazer e aquilo que eu poderei fazer. A Avon nunca me proibiu e nunca me talhou de fazer nada. E é uma oportunidade trabalhar em uma empresa que você pega o telefone e fala com a China, fala com o Japão, fala com a Alemanha, e fala com os Estados Unidos. Não é qualquer empresa que proporciona isso. E o ambiente e as pessoas e, a Avon, a entidade Avon para mim acima de tudo é o que mais me motiva a continuar nessa organização. É uma honra realmente muito grande pertencer a uma companhia como a Avon.

P/1 – Tá certo. A Avon e o Museu da Pessoa agradece a sua participação aqui com a gente.

R – Muito obrigado.

P/1 – Obrigada.