Projeto CTBC Telecom
Depoimento de Celso Machado
Entrevistado por Luiz Egypto e Rosali Henriques
Uberlândia, dia 27 de abril de 2000
Entrevista CTBC_HV014
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Maria da Conceição Amaral da Silva
Revisão por Carolina Cervera Faria
P/1 – Boa tarde Celso, eu queria que você, primeiramente, dissesse seu nome completo, a data de seu nascimento e o local de seu nascimento.
R – Celso Venâncio Teixeira Machado, eu nasci em Uberlândia, em 24 de março de 1951.
P/1 – E o nome do seu pai e da sua mãe?
R – Meus pais são Eduardo de Almeida Machado e Cacilda da Conceição Teixeira Machado.
P/1 – Você conheceu os seus avós maternos e paternos?
R – Não, os avós maternos não. E conheci a avó... Não, perdão, não conheci foi os avós maternos, eu conheci só uma avó paterna, por parte do papai.
P/1 – A sua família é daqui da cidade mesmo, de Uberlândia?
R – Não, a minha família, eu sou descendente de portugueses, inclusive tem o meu irmão mais velho, ele também é português, então eles são oriundos, só a matéria-prima que é local.
P/1 – Ah, tá. Os imigrantes foram seus avós?
R – Não.
P/1 – Seus pais?
R – Meus pais.
P/1 – Eles vieram de onde?
R – Vieram da região da Beira-Alta, de Castro Daire, daí porque já existiu essa identificação com a família Garcia, porque o Senhor Alexandrino não é da mesma cidade do papai, mas é da mesma região do papai, que é da região de Nelas, de Canas do Senhorim, que é também parte do que eles chamam lá da Beira-Alta.
P/1 – Desculpe, a sua cidade é Castro Gaia?
R – Daire, Castro Daire
P/1 – Daire, ok. E eles vieram para cá quando?
R – O papai veio para cá com vinte e poucos anos, né, ele veio na frente. E depois, até uma coisa muito interessante, porque minha mãe ficou lá e aí juntaram, foi um período de grande imigração de portugueses, e eles se reuniram aqui para pagar a passagem para mamãe vir...
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Depoimento de Celso Machado
Entrevistado por Luiz Egypto e Rosali Henriques
Uberlândia, dia 27 de abril de 2000
Entrevista CTBC_HV014
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Maria da Conceição Amaral da Silva
Revisão por Carolina Cervera Faria
P/1 – Boa tarde Celso, eu queria que você, primeiramente, dissesse seu nome completo, a data de seu nascimento e o local de seu nascimento.
R – Celso Venâncio Teixeira Machado, eu nasci em Uberlândia, em 24 de março de 1951.
P/1 – E o nome do seu pai e da sua mãe?
R – Meus pais são Eduardo de Almeida Machado e Cacilda da Conceição Teixeira Machado.
P/1 – Você conheceu os seus avós maternos e paternos?
R – Não, os avós maternos não. E conheci a avó... Não, perdão, não conheci foi os avós maternos, eu conheci só uma avó paterna, por parte do papai.
P/1 – A sua família é daqui da cidade mesmo, de Uberlândia?
R – Não, a minha família, eu sou descendente de portugueses, inclusive tem o meu irmão mais velho, ele também é português, então eles são oriundos, só a matéria-prima que é local.
P/1 – Ah, tá. Os imigrantes foram seus avós?
R – Não.
P/1 – Seus pais?
R – Meus pais.
P/1 – Eles vieram de onde?
R – Vieram da região da Beira-Alta, de Castro Daire, daí porque já existiu essa identificação com a família Garcia, porque o Senhor Alexandrino não é da mesma cidade do papai, mas é da mesma região do papai, que é da região de Nelas, de Canas do Senhorim, que é também parte do que eles chamam lá da Beira-Alta.
P/1 – Desculpe, a sua cidade é Castro Gaia?
R – Daire, Castro Daire
P/1 – Daire, ok. E eles vieram para cá quando?
R – O papai veio para cá com vinte e poucos anos, né, ele veio na frente. E depois, até uma coisa muito interessante, porque minha mãe ficou lá e aí juntaram, foi um período de grande imigração de portugueses, e eles se reuniram aqui para pagar a passagem para mamãe vir para cá. E a mamãe, quando veio, deixou, na época eu tinha meus dois irmãos lá, porque eu tive uma irmã que veio a falecer mais tarde, então eles ficaram lá, foram criados em Portugal, e a minha mãe veio para cá. Eles vieram, inicialmente, para São Paulo, e depois vieram aqui para Uberlândia. E, em São Paulo, o Doutor Luiz chegou a morar na nossa casa, né, quando ele estava estudando, uma coisa assim.
P/1 – A atividade do seu pai qual era?
R – Papai era viajante.
P/1 – Fazendo?
R – Ele trabalhava com... Inicialmente, grande parte da vida dele ele trabalhava com armarinho, trabalhava para o Araújo Costa e para o Martins Costa. Depois ele veio a trabalhar também com móveis, né, ele foi vendedor, viajante para a Lafer e ultimamente ele trabalhava era para a fábrica de pregos Triângulo. E ele fazia toda essa região aqui do Triângulo Mineiro, Brasil Central, enfim, uma região grande aí.
P/1 – E a sua mãe, a atividade?
R – Não, a mamãe sempre ficou cuidando dos filhos, ela sempre ficou dando apoio no lar.
P/1 – Como é que era a sua casa? A lembrança que você tem da casa onde você passou sua infância? Onde era, como era?
R – Olha, eu, vamos dizer assim, a mais antiga das minhas memórias eu devia ter aí na faixa de quatro a cinco anos, foi em São Paulo onde a gente morava na Praça Dom Pedro, que foi onde o Doutor Luiz chegou a morar com a gente um pouco, mas eu não me lembro dessa passagem dele. Me lembro que eu era criança, eu fui atravessar a rua, e vinha um carro da polícia, e ele freou em cima de mim e eu cheguei a ficar sentado no pára-choque, então essa imagem é uma imagem que me marcou muito, eu devia ter de quatro a cinco anos. Depois, aí eu já me lembro quando a gente morava aqui na Rio Branco, aí sim, aí me lembro, porque quebrei o braço, aí me lembro do falecimento da minha irmã, que eu tenho pouca lembrança dela, porque ela tinha problemas do coração, e esse período que eu convivia com ela, ela já ficava assim, praticamente doente. E a família portuguesa, a família mais antiga, sempre tinha uma forma de manifestar o carinho através da surra, né, que o português é bem carinhoso e a forma disso é que bate em quem ele gosta, né? Então eu apanhei demais e a minha irmã era a minha protetora, na hora que eu não queria apanhar, eu corria para debaixo da cama dela e naquela região lá eu estava protegido. Depois me lembro quando a gente comprou a casa que é em frente à produtora hoje, de todas as reformas. Mas aí já...
P/1 – E esse garoto? Como é que ele brincava, como é que ele se divertia ali com a vizinhança?
R – Não, uma das coisas que a gente teve, quem tem a idade que eu tenho, na faixa de cinquenta anos, é que a gente pôde ter infância, né? E tinha a infância e tinha a adolescência, hoje você praticamente não tem a adolescência, então, a infância nossa era de brincar na rua mesmo, brincar com bete [taco], com finca, com bola de meia, usei muito bola de meia, quando você realmente vivia a fase de que quem tinha uma bola era dono do time, né? Vivi muito isso. E eu sempre fui assim, muito criado na rua, que era uma coisa que era muito rica antigamente, que era a possibilidade de você ter uma vida mais solta, mais em contato, vamos dizer assim, mais livre no sentido de ter espaço e oportunidade de convivência. Uma das coisas muito ricas antigamente, que infelizmente o mundo moderno hoje cerceou, foi a riqueza do convívio independente do nível social, né? O pobre morava junto ao rico e ele frequentava a casa do rico, o rico frequentava a casa do pobre. Não tinha essa distinção, então, muitas vezes você convivia com pessoas que tinham muito mais do que você e convivia com pessoas que tinham muito menos, né? Não tinha essa separação, que hoje acontece na hora que você vai para um edifício, ali só mora rico, você vai para uma escola, só frequenta quem tem aquele padrão. Você não tem essa simbiose que era extraordinariamente rica, de conviver pessoas de diferentes níveis sociais da mesma forma, né? Era muito comum você jantar na casa de uma pessoa muito mais pobre do que você, compartilhar lá daquela comida e ao mesmo tempo ir para uma outra pessoa que era mais rica sem essa separação, né, sem distinção. E depois, uma outra coisa que era rica, que infelizmente hoje a gente perdeu, foi essa fase dos dez aos quinze, que você já não era tão criança, mas que você não tinha essa preocupação com... sei lá, com sexo, com isso... Então você tinha muito a amizade entre pessoas de sexo diferente mas na fase da adolescência. Era comum, não tinha esse problema. Você podia sair, tinha muito mato, antigamente você convivia muito no mato, porque a cidade, a gente morava às vezes em um bairro mais afastado, você andava era em... tinha os terrenos vazios, cheios de mamona, dessas coisas, a gente brincava demais de guerra de mamona, né? Então você ia menino, menina, não tinha esse despertar para sexualidade que os próprios meios de comunicação depois fizeram, através de televisão dessas coisas, né? Então eu acho que essa vida saudável na infância, de poder ter um cachorro, brincar com cachorro, andar com cachorro na rua, de poder, sei lá, andar descalço, isso foi muito contributivo para dar um certo equilíbrio na sua formação.
P/1 – Tinha um rio perto da sua casa?
R – Não, não. Eu na minha infância mesmo, assim, até ali para os dez, até talvez quatorze anos, eu não frequentava nem clube, porque a gente não tinha essa condição. Então para nadar, também reforçando isso, eu ia muito na chácara do Senhor Alexandrino. Então, lá na granja tinha uma piscina lá de vinte e cinco metros por doze e meio, e a gente ia nadar lá todo final de semana. Ajudava a lavar a piscina no sábado e no domingo tinha a recompensa de você poder nadar. E tem umas passagens que são interessantes porque, vamos dizer assim, um dos estágios de graduação era poder nadar no fundo. Puxa, o cara que nadava no fundo da piscina ele já tinha atingido um status. E eu uma vez fui tentar nadar e quase afoguei, né? Então fui proibido de fazer essas tentativas e fiquei muito frustrado, porque tinha uma neta do Seu Alexandrino, que era a Catita, que era mais nova do que eu, já nadava no fundo. E eu achava aquilo, para os padrões machistas da época, um absurdo né? Alguém mais novo, uma mulher, nadar no fundo e eu não nadar. Aí um dia o Seu Alexandrino no final da tarde falou: “Não Celso, você vai fazer um teste aqui no fundo.” E eu falei comigo mesmo: “Olha, se eu afundar aqui você vai ver o que é que eu vou fazer com você.” Comigo mesmo. Dei um pulo lá no fundo, atravessei assim em paralelo e saí de lá vitorioso, porque consegui romper a barreira de nadar no fundo e me tornei uma pessoa assim, reconhecida já na sociedade que frequentava, como um menino que conseguiu nadar no fundo. E a partir daí tive sempre uma atração também pela natação.
P/1 – Vamos falar um pouquinho da sua escola. Como era a sua primeira escola a sua primeira professora, que lembranças você tem disso?
R – Eu estudei no Externato Nossa Senhora Aparecida e tenho boas recordações. Foi uma escola municipal, assim, que a gente tinha lá essa riqueza que eu falo da convivência entre pessoas de diferentes níveis sociais, né? E assim, nunca fui um aluno brilhante não, mas principalmente no primário, eu não tive grandes problemas para passar não. Depois, quando fui para o ginásio, que eu fiz o ginásio no Liceu, aí sim, eu fiz a primeira série mais ou menos e na segunda tive o grande prazer de tomar bomba. Repeti, que foi uma frustração danada para a minha família, né? Mas me fez um bem danado, porque eu sempre fui uma pessoa muito tímida, de certa forma até introvertida. E depois o fato de ter tomado bomba me custou muito do ponto de vista pessoal, por privações, porque a punição era muito severa e a restrição era muito grande. Mas em contrapartida me transmitiu uma segurança muito grande em relação a ter uma personalidade um pouco menos introvertida, a ser um pouquinho mais cara de pau. E aí assumi a partir dessa segunda série uma irreverência que eu acho que me caracterizou, caracteriza a minha vida, que eu acho que é ser uma pessoa bem humorada, às vezes ser bastante irreverente, às vezes ser até um pouco malicioso no sentido das colocações, mas sempre assim, muito bem humorado e ser sempre uma pessoa, vamos dizer, muito alegre, muito mais comunicativa e com capacidade de fazer e manter relacionamentos duradouros, de amizade, de negócios, enfim, de viver a vida assim, numa situação muito mais bem resolvida.
P/1 – E a continuidade dessa sua educação? Você acabou o Liceu...
R – Não, quando eu me formei, eu fiz o ginásio no Liceu e, por opção, eu poderia fazer científico e tal, eu resolvi fazer Química Industrial. Foi uma guinada, eu fui fazer Química Industrial na Escola Técnica de Química Industrial aqui de Uberlândia, me formei em Química Industrial. Depois fiz vestibular para Administração de Empresas na Faculdade de Ciências Econômicas. Passei em terceiro lugar em Administração de Empresas. E fiquei lá, era para mim ter formado em 72, mas depois eu já estava trabalhando na CTBC nessa época, e aí já estava assim, muito seduzido pela área de Jornalismo, pela área de comunicação, porque uma coisa que marcou muito a minha vida, porque eu tive ótimos professores de português no Liceu, no ginásio. E eu sempre tive, talvez pela qualidade dos professores que eu tive, sempre tive uma atração muito grande pelo ensino do Português, e com isso eu desenvolvi assim, uma certa tendência a escrever, me agradava muito. Antigamente os livros de Português, eles tinham histórias, né, trechos de livro, Malba Tahan, tinha trechos de livro de Gonçalves Dias, poesias de Gonçalves Dias, tinha poesias de Menotti Del Picchia, essas coisas. E eu adorava isso, eu tenho coisas que eu guardo de cabeça até hoje, trechos disso. E depois, quando eu fui fazer química industrial, eu sempre me destaquei na área de português, e quando eu fui fazer administração de empresas, eu comecei a conciliar um pouco, comecei a ficar um pouco mais seduzido pela comunicação, comecei a fazer o Teleco, que o Teleco é de 68, né? Então coincidiu com a minha entrada na universidade. Eu tive um professor da faculdade, que eu levava o Teleco com muito orgulho para ele, um dia ele me falou: “Ah, eu acho esse jornalzinho uma porcaria, porque não vejo mérito nenhum seu, você só coloca nisso aqui texto dos outros, então, eu acho que eu vou ver mérito no dia que tiver textos seus.” E aí , virei cronista. A partir daí comecei a escrever minhas crônicas, hoje talvez, não eu, mas o Celso Machado cronista é conhecido no Brasil inteiro. E aí ficou uma dúvida, eu tive uma opção, eu cheguei a ir à Brasília para fazer jornalismo lá na faculdade, no Ceub [Centro Universitário de Brasília] lá, mas aí chegou um dilema na minha vida. Eu estava muito bem colocado, muito bem satisfeito na CTBC, tinha um trabalho que me gratificava muito e eu sentia que dentro de Uberlândia eu tinha um espaço muito grande na comunicação. E ficou a dúvida: “Eu me qualifico tecnicamente e volto para Uberlândia? Eu não sei se quando eu voltar eu terei o espaço que a comunicação hoje me proporciona.” E tem uma passagem até interessante, que também marcou isso, porque a CTBC, na época, tinha três dirigentes, que era o Senhor Alexandrino, o Senhor Walter, que cuidava da área financeira, e o Doutor Luiz, que cuidava da parte de engenharia. E eu sempre gostei muito da área de comunicação, mas eu trabalhava na área financeira. E o Senhor Walter tinha uma empatia muito grande por mim, muito grande mesmo, tanto que o cargo mais importante que tinha na CTBC era de gerente, que cuidava da área financeira e quando a gerente saía de férias, ele só aceitava que eu ficasse no lugar dela. E como eu tinha uma estima, uma admiração, um respeito muito grande pelo Senhor Walter, mesmo eu não tendo atração pela área financeira, eu fazia com muito bom gosto, porque o Senhor Walter era uma pessoa que tinha uma liderança excepcional, que era a liderança do carisma, né, da fala mansa, da parceria, de pôr a mão no ombro, né? E ele gostava muito que eu trabalhasse junto com ele, só que aí nesse período, logo em seguida ele teve, já por volta acho que de 72, 73 já, quando eu estava nessa indefinição se eu iria ou não, ele teve um acidente, acabou vindo a ter câncer, então ele ficou afastado. E nesse período que ele ficou afastado por tratamento, da CTBC, eu fui deslocado para a área de relações públicas, que era meu grande sonho, né, que eu desejava muito. E ele falou comigo assim: “Olha Celso, o Luiz te tirou de mim, mas na hora que eu voltar você vai voltar para a área financeira.” Então quase que eu viro um financeiro. E aí eu fiz a opção de ficar cuidando da oportunidade de comunicação, que eu achava em Uberlândia, uma decisão que eu não me arrependo até hoje.
P/1 – Perfeito. Eu queria retornar um pouquinho, em dois momentos: primeiro, essa convivência já histórica, havida entre a sua família e a família do Seu Alexandrino. Eu queria que você me falasse do Senhor Alexandrino num primeiro momento e, num segundo momento, da sua entrada efetiva nos quadros da CTBC.
R – Luiz, até essa questão aqui, é uma questão que a gente precisa situar, precisa voltar um pouco no tempo para entender, né? A ligação afetiva que a gente tem com a família Garcia, assim, eu acho que eu faço parte da família Garcia como eles fazem parte da minha vida. A questão genética é uma outra coisa, mas a questão de afinidade e da identificação vem disso. E a gente frequentava muito a casa deles, e o papai, eu sou da época, quando tinha lá, sei lá, doze anos, tinha muito isso assim: “Nas férias eu vou mandar meu filho lá para a empresa para ele aprender a trabalhar.” Então as minhas férias do Liceu eu ia para a CTBC para aprender a trabalhar. Você não tinha remuneração, porque na verdade esse era o sentido mesmo. Tanto, que isso é uma das coisas que eu acho que são ricas na minha vida, que eu aprendi a trabalhar. Tanto que, quando eu comecei a trabalhar mesmo, já tinha uma qualificação, né, trabalhava melhor. Então eu ia para lá com treze anos, e uma coisa brilhante que Senhor Alexandrino tinha, o Senhor Alexandrino era muito rigoroso. Ele era muito rigoroso e muito rígido, né? Então, eu ser criança ou não ser criança, isso não tinha nada a ver com a responsabilidade que ele atribuía. E o Senhor Alexandrino tinha uma capacidade extraordinária de mandar você fazer as coisas e querer que você fizesse. E se você não soubesse, achava quem te ensinava. Ele te entregava uma missão e falava: “Se vira.” E isso é que marcou muito esse relacionamento, então eu ia para lá e ficava cuidando, meu irmão trabalhava no distribuidor, então grande parte minha foi no distribuidor. Com treze anos eu ficava lá trocando fusível, fazendo jumpeação, essas coisas todas. E chegava, isso é que era legal, o Doutor Luiz, por exemplo, trabalhava até cinco e meia no escritório lá, cuidando das coisas. Teve um período que eu fiquei sozinho no distribuidor. Meu irmão estava de férias, me puseram lá para ajudá-lo, para ficar no lugar dele para aprender. E tinha uma outra pessoa, que era o Gilson, e o Gilson não sei que cargas d’água , eu não consigo me recordar o que que ele fez, o Gilson foi suspenso, e eu fiquei com treze anos cuidando sozinho do distribuidor. Então tinha esse jumpear, que é quando você faz uma mudança na rua, você tem que fazer uma mudança na cabeação interna lá. Então, o volume de trabalho era muito grande, e eu fazia aquelas mudanças todas, né, de listão, par, sai de um, vai para o outro. Aí chegava cinco e meia, o Doutor Luiz terminava a jornada dele, ia lá junto comigo, para estar fazendo essa jumpeação, essas coisas. Eu me lembro que eu usava relógio, levava muito choque no braço por causa da corrente. Mas uma coisa que era muito importante, que aí precisa voltar, que o Senhor Alexandrino vendia muito para nós, era a importância da atividade de quem trabalhava em telecomunicações. Cada vez que eu atrasava uma mudança de jumper eu deixava um telefone sem falar, né? Então, se eu ganhava ou não, se eu podia ou não, não era tão importante quanto o fato de eu estar isolando uma casa, estar isolando um estabelecimento comercial. Então a gente aprendia muito com isso, sabe? Então com isso, eu convivo com a CTBC muito antes de ter sido mesmo funcionário da CTBC.
P/1 – O caráter de serviço público de fato, né, a atividade de telefonia?
R – Ele vendia isso muito bem. Isso é uma coisa que eu sempre falo, que acho que ela explica muito a origem da CTBC. A CTBC, o Seu Alexandrino nessa época que eu estou me referindo, que é na década aí de 60, ele e o Doutor Luiz moravam em apartamentos no mesmo prédio da CTBC. Eles ficavam no terceiro andar e a CTBC tinha a parte distribuidora, a parte do escritório, no térreo. A parte de telefonista e central no segundo, no primeiro, né? E no segundo então tinham dois apartamentos, sendo que o Senhor Alexandrino morava no da frente, o Doutor Luiz no fundo e depois tinha uma outra área que era um terraço, assim. E o alarme da central e do distribuidor, ele ficava na sala do Senhor Alexandrino, de trabalho, na sala de trabalho do Doutor Luiz, e na sala da residência do Doutor Luiz e na sala de residência do Senhor Alexandrino. Então o que que acontecia? Cada vez que dava um problema em uma máquina da central, que dava um problema na bobina do distribuidor, isso acionava na sala do Senhor Alexandrino. Então você imagina o barulho que aquilo fazia na sala do Senhor Alexandrino, o tempo que uma pessoa demorava para consertar aquele problema. E se era à noite ou se era no final de semana ele acordava, o Senhor Alexandrino, na casa, se fosse de noite ele tinha que descer lá para arrumar, porque não tinha jeito, né? E nessa época, isso é que começa assim, eu já frequentava a casa do Seu Alexandrino por causa das festas, por causa de tudo, e já aconteceu de estar em uma festa, por exemplo do Lions, que Senhor Alexandrino sempre foi ligado ao Lions, aí de repente está lá no meio da festa, aquele: “Pan, pan, pan.” Você olhava assim: “Pum”, deu um problema no distribuidor. Então tinha sempre alguém ligado à CTBC, que Senhor Alexandrino chegava e falava: “Fulano, vai lá e arruma.” Quando não tinha, às vezes me pegava, mesmo com doze anos, falava: “Celso vai lá e arruma isso.” E eu sem ser funcionário nem nada, e ai de quem recusasse uma ordem do Senhor Alexandrino. Descia eu pelo distribuidor lá, eu saía, entrava lá nas telefonistas, pegava o faxineiro: “Oh, vai lá e arruma aquilo lá que eu não vou voltar lá para cima enquanto você não arrumar isso, né?” E com isso, quer dizer, o serviço saía. (riso) Daí vem uma das grandes coisas que mostram a filosofia da CTBC de estar com foco no cliente. Esse foco do cliente não é um foco do modernismo, de uma gestão, de estilo de administração nem nada, vem da genética dele, vem lá do presidente, que tinha na casa dele o alarme da central e o alarme do distribuidor. E tinha na sala de trabalho isso. E ele tinha essa importância de botar o seguinte, não por discurso, mas por consciência, por atitude de saber que quem trabalhava, isso Senhor Alexandrino cansava de falar com a gente: “Quem trabalha em telefonia, trabalha vinte e quatro horas por dia. Não tem o direito de parar, não tem o direito de descansar.” Daí vem uma coisa que era o sentimento de responsabilidade que nós tínhamos. Depois, quando eu fui trabalhar na CTBC, primeiro, a polivalência. A CTBC sempre foi uma empresa que primou em formar mão-de-obra, ela tinha técnicos e ela trabalhava muito com jovens, a CTBC sempre gostou, o Senhor Alexandrino sempre gostou de trabalhar com jovens. Com pessoas dispostas, com vontade de crescer, com vontade de progredir na vida. E pessoas polivalentes, tinha espaço aberto para aprender, essa sempre foi uma característica da CTBC. E ele nos impunha a condição da responsabilidade que a gente tinha, não pelo cargo. Eu tinha a responsabilidade quando eu estava lá, que eu tinha treze anos, que estava lá aprendendo a trabalhar no distribuidor, não pelo cargo, eu não era funcionário, eu não ganhava, nem nada. Eu tinha responsabilidade porque o meu trabalho era responsável pela comunicação entre as pessoas. Então isso, o Senhor Alexandrino sabia atribuir como ninguém a responsabilidade social da comunicação, da telefonia, não a responsabilidade pelo nível hierárquico, não tinha essa diferenciação, um manda o outro faz, não. Então, nós sempre tivemos na CTBC uma coisa assim, de tomar decisões, de trabalhar, não porque era mandado. Ninguém te mandava trabalhar fora de hora, ninguém te obrigava a trabalhar fora de hora, mas você pegava, porque eu cansei de ver, pegar pessoas como um Zé Luís, como um Zé Leonardo, que eles, deu um problema em uma rede interurbana e alguém ligava para eles no final de semana, nunca chegaram a contar paro seu Alexandrino, contar para o Doutor Luiz, contava depois. Mas o sujeito levantava de noite, levantava de manhã, ia lá ligar aquele... arrumar aquela linha, porque ele sabia que uma cidade estava isolada naquela hora. Se morresse uma criança, se alguém estivesse doente e não tivesse uma ajuda, não tivesse auxílio, se não chegasse, era responsabilidade daquela pessoa. Então, cada um que trabalhava, o sentimento de serviço público, a consciência da cidadania da empresa, ela nasceu na empresa. Sabe, isso não foi um modernismo, não foi uma gestão. Então todo mundo que trabalhava na CTBC tinha isso, por isso tinha orgulho. Quando alguém ia na rua, falava assim: “Eu sou um funcionário da CTBC.” O Seu Alexandrino era muito atento à isso, tanto que o comportamento nosso não se restringia às oito horas de trabalho, nove horas, sei lá, que na época você trabalhava sábado também. Você estava na rua você era, estava representando a empresa, num boteco era um cara que estava lá botando o nome da CTBC.
P/1 – Perfeito. Nós vamos interromper um pouquinho só para trocar a fita.
P/1 - Eu gostaria que você retomasse um pouco esse sentimento, que é na verdade uma característica histórica da Companhia, a sua profunda identidade com as pessoas a que servia, as comunidades a que servia. Uma coisa que não nasceu do discurso, mas nasceu na prática dos líderes dessa Companhia. Isso vem desde muito tempo, desde o tempo que você se lembra dessa Companhia, então?
R – É, isso é genético, a Companhia nasceu por isso, né? E o Senhor Alexandrino, ele conseguia transferir isso de uma forma extraordinária, ele repassava para cada um de nós a importância da nossa atuação perante a comunidade, sabe? Por isso, nós sempre nos julgamos importantes, porque na verdade nós éramos importantes mesmo. Ele nunca deixou que a gente tivesse uma atividade sem a razão dela. Eu, por exemplo, eu não era responsável, nesse período que eu estava lá, sei lá, fazendo um jumpe, e não era responsável para pegar um fio do par dois do listão três, e ligar no... Não, eu era responsável por fazer a ponta final de uma transferência de telefone. Então, alguém que cuidava da linha interurbana, não era responsável por emendar fio drop no meio do mato, não, ele era responsável por fazer a ligação entre as cidades. O valor do que você fazia estava muito ligado a isso, então, daí vinha uma responsabilidade que não estava ligada a cargo. Essa responsabilidade era responsabilidade de quem trabalhava. E ele vendia isso muito bem, por uma característica muito particular. Porque o Senhor Alexandrino foi um líder que não falava, o Senhor Alexandrino era um líder que fazia, que acompanhava, né, que estava junto. Quando Senhor Alexandrino botava lá o alarme na sala dele, é porque ele descia para arrumar. Quando o Senhor Alexandrino falava do final de semana, é porque ele fazia isso. E a questão de falar do Seu Alexandrino subir em poste? Subia sim. Com quarenta e sete anos, quarenta e nove anos, subia em poste e arrumava as coisas. Então, ele fazia isso e te levava junto.
P/1 – Era mais uma prática refletida em uma atitude.
R – É, ele era um companheiro. Uma coisa muito interessante é que naquela época o Senhor Alexandrino tinha um Buick, Buick era aquele carro preto e tal. O Buick era da CTBC durante o dia e de noite era dele, que era o carro dele. Não tinha essa separação. Então você pegava, por exemplo, meu irmão, que era novinho, pegava o carro do dono, que era o carro mais importante da empresa, e ia fazer qualquer serviço, então você pegava os carros, eram cheios de fio drop, quando você chegava no final de semana era muito engraçado, né, aqueles pedaços, ponta de fio, aqueles macarrõezinhos, que eu esqueço o nome daquilo, estava tudo dentro do carro. O Doutor Luiz, o primeiro carro que o Doutor Luiz teve, logo que casou, foi um Gordini, né? E era engraçadíssimo, porque o Gordini era de carregar escada, no Gordini, e era um exercício de equilíbrio, né? Mas tinha muito de aventura, tinha muito de empolgação. O que eu quero passar dessa fase da CTBC, essa fase que eu tive o prazer de viver, é que era empolgante trabalhar com a CTBC. A gente tinha por essa contrapartida da responsabilidade da nossa atividade, a remuneração maior que um profissional pode ter, que é do prazer de atender bem, do serviço bem feito, de ser reconhecido, que é uma característica que sempre a família Garcia teve, tanto do Seu Alexandrino, quanto do Senhor Walter, do Doutor Luiz, foi de comemorar e de compartilhar resultados. Normalmente, especialmente o Senhor Alexandrino, o Senhor Walter não era diferente, o Doutor Luiz também não era, como que o português comemora, como que ele manifesta assim, a recompensa, né? É compartilhando a mesma mesa. Sabe, então Senhor Alexandrino estava junto no trabalho, aí quando concluía o trabalho, ele ia tomar um vinho, ele ia comer uma boa comida, aí ele chamava a gente. Não interessava se você estava sujo, não interessava se você era o funcionário mais humilde, não, você sentava com ele na mesma mesa, aí ele te servia, aí ele invertia, ele te dava o pedaço da comida, ele te servia o vinho, o mesmo vinho dele. E você andava no mesmo carro dele. Então, essa coisa de igualdade é que nos botava em um nível de responsabilidade que eu ousaria até dizer que, guardadas as proporções, nessa época o Seu Alexandrino conseguia fazer de cada um de nós um pouquinho dele. Nós temos, cada um de nós, que vivemos nesse período, que tivemos esse prazer de conviver, essa formação extraordinária de conviver com Seu Alexandrino, a gente acabou tendo um pouquinho dele impregnado em cada um de nós. Lógico que sem a grandeza dele, sem aquela missão, mas ele deixou um genezinho dele em cada um de nós, sabe?
P/1 – Sobretudo um sentimento de ser útil, né, de estar contribuindo para alguém e para alguma coisa.
R – De ser importante não pelo que nós somos, mas pelo que nós fazemos. Então isso era muito rico na história, sempre foi muito rico na história da CTBC, porque a CTBC sempre se colocou à frente do seu tempo. Ela sempre se colocou como alguém que leva um benefício. Ela, a CTBC, nunca usou a tecnologia pela tecnologia, nunca usou um equipamento pelo equipamento, mas pelo que aquele equipamento vai agregar de melhoria, de contribuição em uma cidade.
P/1 – Mas como é que era a contrapartida, como é que as pessoas reagiam a esse tipo de postura?
R – Você esta falando...
P/1 – Sobre os clientes, especialmente. As pessoas que usavam e utilizavam-se desse serviço?
R – Olha , a CTBC sempre teve esse sentimento de ser uma empresa pública. O sentimento da CTBC de ser empresa pública, não tem nada a ver com a personalidade jurídica dela, de ser uma Companhia privada. Ela tinha a importância da cidade, de levar o serviço à cidade. Então, a própria história da CTBC, aí tem depoimentos do Seu Alexandrino que fala isso, a gente, eu me lembro quando a gente saía daqui, ia para Uberaba para ligar para São Paulo. Ou você pedia uma ligação interurbana e ficava esperando o dia inteiro essa ligação e às vezes não saia no dia. Então, se alguém viveu essa época, imaginar depois, o que é que foi trazer um serviço interurbano de qualidade, que foi uma das primeiras coisas que a CTBC fez, o que é que isso significou para o avanço dessas cidades, né? Então a CTBC sempre teve esse sentimento de ser uma empresa da cidade. Então, independente de ter nascido aqui em Uberlândia, que eu me refiro a aqui, mas posso falar isso com segurança de outras cidades onde a CTBC atua, ela é dali. Porque na verdade ela impregnou o desejo de crescimento de cada cidade, atendeu esse desejo e ainda se colocou à frente dele. Eu acho que a CTBC nunca foi parceira do progresso de nenhuma cidade onde ela se atua, ela foi promotora dele. Ela estimulou, provocou e liderou o progresso dessas cidades, então daí porque existe uma relação, vamos dizer assim, passional entre as empresas e a CTBC. A gente às vezes até fazia observações críticas, e a CTBC ela foi muito criticada, porque gente cobrava a CTBC pela CTBC, comparando a CTBC com a CTBC, não com outras empresas. Ninguém: “Ah, eu prefiro trabalhar com outra.” De jeito nenhum. “Eu quero mais da CTBC”, porque a CTBC criou sempre nas cidades a condição de cada vez serem mais exigentes, porque ela provocava isso no alto desafio de crescimento dela, juntamente com as cidades.
(pausa)
P/1 - Quando é que você efetivamente, formalmente, ingressou na Companhia? Quando você já não era mais um estagiário, não passava suas férias, como é que você se tornou funcionário da CTBC?
R – É, eu entrei na CTBC, quer dizer, minha carreira profissional na CTBC efetivamente começou em primeiro de agosto de 1968. Eu entrei para ser contínuo, que era fazer serviço de banco, buscar encomendas na rodoviária, na ferrovia, enfim, estar lá cuidando das coisas que eram de menor importância. Mas como eu tinha muita vontade, e isso sempre foi uma coisa que a CTBC estimulou, a ascensão dentro da organização, eu tinha uma pessoa que era o Vidal, que escrevia as cartas da empresa, né, então, eu sempre, nos intervalos que eu tinha lá, eu treinava à máquina para mim melhorar, tanto que uma das poucas coisas que eu sou competente na minha vida é em datilografia, e eu ficava junto com o Vidal, copiando as cartas do Vidal. Eu tinha prazer em bater as cartas do Vidal, ele rascunhava e eu batia, para aprender a escrever, que o Vidal tinha uma boa redação. E com isso eu fui desenvolvendo também a capacidade, tinha assim como meu primeiro sonho dentro da CTBC, passar a ser o responsável pela elaboração das cartas. Consegui isso logo, que pouco tempo depois fui trabalhar como auxiliar do Vidal, né, e aí eu era responsável pela elaboração e pela datilografia de toda a correspondência comercial da CTBC. E logo aí, logo nesse período, tem uma passagem que é muito agradável lembrar, que a CTBC comprou as primeiras máquinas de escrever elétricas, eram italianas, da Olivetti, italianas, e elas não tinham mais como as máquinas manuais as fontes do mesmo tamanho. Então o “m” é lógico ocupava um espaço muito maior do que o “i”, e eu apanhei demais em poder fazer, porque naquela época o bonito da correspondência era ser toda alinhada, né, quando chegaram essas máquinas de escrever, e você encostava o dedo elas batiam, eu fiquei um final de semana inteirinho, sábado e domingo lá, fuçando nessas máquinas, batendo e tal, com orgulho de ser talvez o primeiro dentro de Uberlândia a trabalhar com uma máquina de escrever elétrica. E aí vem uma coisa que também é um exemplo que ficou da CTBC, o que eu gastei de fita de polietileno para aprender, mas nunca fui punido por isso, porque a CTBC nunca puniu quem gasta aprendendo, isso é uma característica dela. Aí veio do Seu Alexandrino, ele era absolutamente rígido com gasto, mas quando você estava fazendo no sentido de aprender, sempre foi bem-vindo isso, sempre foi muito bem visto. Então todo investimento que é feito no sentido de aprender, também é uma coisa que veio da origem da CTBC, e é uma característica que ela mantém até hoje.
P/1 – O diferencial desse pioneirismo é que essa idéia de empresa, do conhecimento, ela passa a ser banal apenas agora, de muito poucos anos para cá, mas a CTBC já era uma empresa do conhecimento.
R – É, o Seu Alexandrino, a gente falava que ele enxergava de trás do morro, né? O Seu Alexandrino era brilhante. A gente ressentiu durante muito tempo de alguém de planejamento estratégico dentro do grupo, mas quem mais teve planejamento estratégico foi o Seu Alexandrino. O Seu Alexandrino foi um homem absolutamente moderno, ousado e um visionário extraordinário. Então, todo esse aprendizado, toda essa coisa que a gente fala assim, ah, do funcionário se sentir dono da empresa, da questão de não ter níveis hierárquicos, dos diferentes níveis de responsabilidade, mas a responsabilidade pela função e não pelo cargo, essa coisa social, isso vem da origem, ele colocou isso dentro da empresa.
P/1 – Nesse tempo que você, quer dizer, a sua trajetória, demonstra um garoto que aprendeu a ler, começou a gostar de escrever. O rapaz que começou a trabalhar com textos dentro da empresa, a Companhia tinha algum tipo de publicação, circulava algum tipo de periódico?
R – Não. A CTBC tinha naquela época, e nós estamos nos referindo aí a 1968, tinha um departamento, eu não sei se era departamento de propaganda, e trabalhava uma pessoa que chamava Hélvio Felice. O Hélvio era um desenhista brilhante, brilhante, uma pessoa que tinha uma habilidade manual que na época era absolutamente fantástico de desenho, mas tinha uma mente introvertida muito grande. E o Hélvio era uma pessoa que tinha um projeto de fazer um jornal. E eu me lembro que eu ia conversar, como eu gostava demais, era uma empolgação, eu ia conversar com o Hélvio, quando eu sentava para falar com o Hélvio, o Hélvio pegava as coisas todas de cima da mesa, falava: “Espera um pouquinho”, pegava todas as coisas em cima da mesa dele, botava em uma gaveta, trancava e falava comigo: “Então vamos falar.” E aí é bom fazer uma interrupção, eu, como gostava demais de jornal, gostava demais de escrever, porque isso tem a ver com a história do Teleco, o Seu Alexandrino usava essa característica minha, então o Seu Alexandrino ficou responsável pelo (Uberleão?), que era o jornal do Lions. E Seu Alexandrino pegou, passou a... teve um período... porque no Lions você tem que exercer todas as atividades, então teve um ano que ele ficou com a atribuição de fazer o (Uberleão?). Ele chegou para mim, falou: “Seu Celso, o senhor cuida disso.” Então eu tinha um orgulho fantástico de fazer o (Uberleão?) para o seu Alexandrino, lá no jornal O Triângulo, conhecer a linotipo, diagramar, botar as matérias, né? E um dia faltou uma matéria, não tinha matéria nenhuma, o Seu Alexandrino não escrevia nem nada, deram lá e tinha que fazer um jornalzinho, aí eu falei: “Olha, seu Alexandrino, está faltando matéria.” “O senhor se vira aí, o senhor escreve alguma coisa.” E eu, “pum”, resolvi fazer um artigo, e fui lá para o Triângulo e montei o linotipo tudo, imprimimos lá o jornal. O jornal era impresso de manhã, o Uberleão, porque o O Triângulo era vespertino, ele circulava depois do almoço. Aí o pessoa do Triângulo, faltou uma matéria, viraram e lá e falaram assim: “Ô Celso, puxa, essa matéria sua está tão boa aqui, a gente pode usar essa matéria sua no jornal?” e aí, para orgulho meu, tive uma matéria publicada no O Triângulo. Então aquela paixão por querer fazer um jornal que me levou a querer fazer o jornal da CTBC. E aí o Hélvio tinha o projeto e tinha uma pessoa na CTBC que chamava César Pereira Costa, que o César falou para mim: “Não Celso, vamos fazer. Faz um jornalzinho” E ele deu o nome: “Teleco. Vamos fazer o Teleco” “Você me ajuda?” “Ajudo.” “Então vamos fazer”. Pegamos e fizemos ele no mimeógrafo, era mimeógrafo a álcool, e aí eu falei: “Ah, eu vou fazer isso.” E fui trabalhar, escondido, né, fui fora de hora, de noite, trabalhei lá, tirei uma tiragem de uns cento e vinte exemplares e quando no outro dia as pessoas chegaram para o trabalho estava lá o Teleco em cima da mesa, com muitas coisas: os filmes do mês, alguns aniversariantes, alguns artigos e tal, e foi no dia das telefonistas, que era sempre uma festa marcante na vida da CTBC. Aí eu fiquei num medo danado de levar uma bronca, porque gastei papel da CTBC e fiz sem ordem, e não me vaiaram não, sabe? E a coisa teve uma aceitação boa, logo em seguida eu resolvi fazer o número dois, isso foi acho que em junho de 68. Fiz o de julho, aí já foi com tiragem maiorzinha e aí, lá para o terceiro número, aí já eu ia para lá ficava sábado, domingo, eu me lembro muito bem disso, que o auge de Uberlândia era o cine Regente, as pessoas irem no cinema do cine Regente, sessão das seis, né? E eu saía da CTBC com aquele calhamaço de jornal na mão, com a mão toda suja de tinta de mimeógrafo, né, que aquilo para sair era uma tragédia. Mas saía com o ego lá em cima, porque eu estava fazendo um jornal, através do mimeógrafo, mas era um senhor jornal.
P/1 – A primeira publicação regular da Companhia saiu à revelia da direção? É isso que senhor está dizendo?
R – Saiu, saiu. Uns três, quatro números. Eu fazia de noite, escondido, quer dizer, fora de hora, fora de horário, escondido. Não por uma decisão da diretoria em me proibir não, mas pelo receio de saber como que isso seria. Mas aí, o pessoal da CTBC sempre teve essa característica de apoiar a iniciativa, e lá pelo terceiro número o Senhor Walter já me chamou, que aí: “Puxa Celso, vamos fazer isso aí melhor, bota isso...” Começou a dar idéia e aí lá pela sexta edição eu já consegui fazê-lo, vamos dizer assim, em um mimeógrafo a tinta, que já foi uma evolução fantástica. E hoje esta aí, O Teleco aí, essa publicação reconhecidamente premiada, anualmente, como a melhor de Minas Gerais, né, e nasceu do sonho de um poetinha em um mimeógrafo a álcool. Então acho que as coisas... Daí vem um aprendizado muito grande para mim, que você ter idéias não significa nada, o que significa é a capacidade que você tem de viabilizar a idéia, é você colocá-la em prática. E fico assim, que é um exemplo do Hélvio que eu carrego comigo, que o Hélvio acabou falecendo louco, ele acabou ficando louco, infelizmente, né, que ter talento não significa absolutamente nada, se você não manifesta esse talento de uma forma produtiva, se você usar o seu conhecimento internamente embutido não te faz bem e não faz bem nenhum para sociedade. Que pena que o Hélvio não tenha colocado todo aquele talento dele para fora. Então eu aprendi o seguinte: a gente nunca deve tardar a oportunidade de colocar as coisas para fora e nunca deve ter vergonha de tomar iniciativa e nem de botar a sua opinião, a sua impressão, ou a sua marca naquilo que você faz. Porque você pode ser incompreendido, pode ser o que for, mas sempre vão ter aqueles que te apoiam, e vão ter aqueles que tiram benefício disso.
P/1 – Você está falando do “Teleco”, mas havia uma outra publicação que chamava Família Algar, ela é anterior ou ela é posterior ao Teleco?
R – Não, não, o “Teleco” foi e é a primeira publicação. Quando, aí já muito tempo depois, aí eu já tinha voltado, porque eu fiquei na CTBC até 1975 e em 1975 resolvi seguir uma carreira solo me dedicando mais a atividade de jornalismo. E resolvi montar uma empresa especializada em jornalismo empresarial que poderia ter sido embrionária... (Pausa)
P/1 – Sim, falávamos da “Teleco”. Então, essa publicação que nasceu e começou a ter uma repercussão que talvez esse poetinha que a fazia não suspeitava, né?
R – Nunca imaginei que fosse gerar um produto tão bonito. Mas uma coisa que é bem interessante, só para voltar naquela questão de fazer à revelia ou não da diretoria. Eu sempre tive uma característica, que hoje está moldada, de ser uma pessoa rebelde, e de ser uma pessoa independente. E eu jamais aceitaria fazer alguma coisa que eu tivesse que submeter à apreciação de alguém. E uma das coisas que foi muito gratificante para mim, que fez com que crescesse cada vez mais o conceito que eu tinha pela administração da CTBC, pelos seus dirigentes, é que nunca houve uma participação, não digo uma censura, mas uma reprimenda de alguma matéria, nem nada. E eu, essa época do começo do “Teleco”, eu explorei ao máximo essa capacidade provocativa minha, né? Essa capacidade às vezes crítica humorada. E eu deitava e rolava lá nos filmes do mês, e era bem engraçado, que a gente pegava um título do filme e botava em uma situação de humor. Então, eu me lembro lá, o “Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, e a gente botava o nome do fulano de tal contra o fulano de tal. Me lembro quando nós começamos a fazer o faturamento da CTBC, o primeiro serviço que foi feito em formulário contínuo, o que teve de erro, foi feito pela Datamec. Aí eu taquei o título, o filme do mês era “Cinco milhões de erros” e nunca teve assim, nada. Mas era um barato, sabe? Pegava um mote de um filme e “pum” botava uma situação que a gente vivia dentro da empresa ou familiarmente. E era muito legal, que a gente tinha muita festa entre nós, a gente tinha uma vida, uma relação interpessoal muito legal, e eu matava o pessoal de raiva nas fofocas minhas, então, teve uma que eu não me esqueço, assim, que era, essa é a marca registrada minha, né, eu falava assim: “Ah, aniversário da fulana de tal.” Então botava: “Não, aniversário da fulana de tal, aconteceu isso, aconteceu aquilo.” Em determinado momento eu botava, assim: “O fulano de tal estava com a fulana de tal.” Aí veio a segunda festa, teve a segunda festa e tal, pá, pá, pá, pá, pá, pá. “E na festa da fulana de tal, o fulano de tal continuava com a fulana de tal.” (risos) Aí teve a terceira festa, eu chegava lá: “Ah, a festa aconteceu isso assim, assim. E o fulano de tal não largava do pé da fulana de tal.” E eles não eram namorados nem nada, aí depois vem os nego falar comigo: “Poxa, mas o que é que você está insinuando?” Eu falava: “Eu não estou insinuando, eu só estou contando o que é que aconteceu lá de uma forma diferente.” E isso era uma coisa que eu delirava de fazer, por isso que eu fazia o jornal à noite, talvez por isso que eu fazia ele fora de hora, porque o que ficava de nego pegando no meu pé para ver o que que ia sair! Então eu tinha que fazer ele de uma forma absolutamente isolada. Aí, em função disso, O Teleco era uma publicação em que o redator, o impressor, o circulador, o grampeador era sempre o mesmo, né, era um só, era equipe de um só, porque você não podia fazer com nada, que o cara falava assim: “Eu não vou grampear o jornal não, você falou isso de mim!” “Eu não vou imprimir isso não, porque você botou isso de mim!” Então, eu só reservava o direito de não falar nada a meu respeito, o resto eu mandava brasa.
P/1 – Você já tinha a preocupação em fazê-lo periódico? Ele já era um veículo periódico?
R – Sim, sim.
P/1 – Mensal, bimestral?
R – Já nasceu praticamente mensal. Era para ser bimestral e virou mensal, né? Depois ao longo do tempo ele teve algumas interrupções, agora hoje ele é bimestral, mas ele já tinha... Aí voltando à questão da outra publicação, eu saí da CTBC em 75 e fui seguir uma carreira solo, e isso foi logo após o falecimento do Senhor Walter, e me dedicando ao jornalismo empresarial. Mas mesmo assim, eu estava sempre ligado à CTBC, o Doutor Luiz me convidou para vender telefone, então, foi um período que eu aprendi muito no aspecto comercial, ganhei muito dinheiro, porque vender telefone era uma mina de dinheiro. Infelizmente eu devia ter tido mais juízo naquela época, podia ter ganho muito mais. Mas foi uma época que me deu uma projeção financeira muito boa e a empresa que eu montei poderia ter sido a primeira agência de propaganda de Uberlândia mas, talvez por uma falta de... aí essa falta de base, de formação minha, tenha dificultado isso, aí eu voltei em 79...
P/1 – Desculpa eu te interromper um pouco. Como é que era esse trabalho de vender telefone? Você saía para a rua vendendo telefone?
R – Não, antigamente a venda de telefones era terceirizada, e você era remunerado, você tinha comissão para isso. E era sempre um malandro que vendia isso. tinha um espanhol da televendas Tupi que ele dava um cano danado na CTBC. E o Doutor Luiz botava: “Não, mas isso é um baita negócio.” E eu não gostava de vender, sabe? Mas ele me botava para vender. Às vezes saía eu, o Régis... Aí nós fomos em Pará de Minas, vendemos telefone feito água.
P/1 – Tinha que ir na casa das pessoas?
R – Ah, não. Primeiro, quando você falava em telefone, você tinha que receber as pessoas. No primeiro estágio, fazia aquela fila, você vendia telefone e o telefone para a gente instalar dois anos depois, três anos depois. Depois ia rareando, aí você ia fazendo visita. Depois chegava ao ponto de você ir de porta a porta e sempre sair vendendo. Nós fizemos isso em Uberlândia, fizemos isso em Pará de Minas, isso eu sempre junto com o Régis, fizemos isso em Carmo do Paranaíba, né? E daí tem uma passagem também interessante, porque antigamente o telefone tinha duas categorias: a residencial e a não residencial. E essa diferenciação é um pouco diferente do comercial, ou seja, tudo que não era residência era não residencial. Não era como se falava comumente que era comercial. E era muito legal, que a gente ia vender telefone e a gente descobriu uma nova denominação da profissão mais antiga do mundo, né? Quando uma praticante dessa profissão ia comprar telefone, a expressão que ela usava era sempre costureira, coisa assim. E na época, com esse espírito, vamos dizer, crítico meu, eu falava para o Régis e a gente sempre colocava relações públicas. (risos) Eu achava que a expressão relações públicas caía absolutamente bem dentro do fim a que se justificava esse telefone, que a gente tinha uma dificuldade danada de convencer que não era residencial. Essa foi uma capacidade de argumentação extraordinária que a gente teve que exercer.
P/1 – Era um momento de expansão da Companhia, nós estamos no final da década de 70.
R – Foi o período que a CTBC expandiu muito. Aí quando eu saí, voltando a essa questão, o Doutor Luiz me chamou, me disponibilizou vender telefone aqui em Uberlândia. E eu montei uma equipe de venda, vendia, tudo. Mas aí eu estava tão ligado nessa questão de propaganda que o dinheiro que eu ganhava em telefone, eu resolvi montar uma revista aqui em Uberlândia, que chamava Liderança. Depois montei uma chamada Panorama. E eu fazia o Jornal do Praia, Jornal da Aciub, Jornal do Lions, tudo. Mas tinha um problema, que Uberlândia não tinha gráfica, né? Então eu... você tinha uma dificuldade em rodar isso. Então eu ganhava dinheiro vendendo telefone, algum, bastante eu apliquei, não posso reclamar disso, mas perdia nessas publicações, por isso que eu não era, eu não tinha o foco na venda, mas vendia bem. E foi interessante que depois a vida me ensinou que... me colocou de certa forma na atividade comercial, porque hoje eu sou o quê? Sou um vendedor de idéias.
P/1 – Esse momento da constituição dessa sua empresa, embora com todas essas dificuldades de infra-estrutura, mas já te abria um pouco um caminho de, digamos, de desenvolvimento de negócio futuro. Isto para você estava claro? Que teu caminho estava por aí?
R – Estava claro que meu caminho seria comunicação, né? E eu tive bons momentos, mas também passei uma dificuldade financeira muito grande. E daí veio o meu respeito muito grande, pela situação do dono, pela responsabilidade financeira que você tem em cima do seu negócio. E isso foi uma coisa que me marcou muito, e acho que é um aprendizado que é muito rico na vida de uma pessoa, ela ter tido um negócio e depois voltar a trabalhar, vamos dizer, de empregado. Porque essa sensação de ter tido um negócio, esse aprendizado da dificuldade, a questão da relação com o empregado que você teve enquanto patrão, te dá uma experiência, uma vivência muito grande, para quando voltar a ser empregado a sua visão nunca mais voltar a ser só de uma pessoa, que a sua responsabilidade está restrita à descrição do cargo ou à atribuição de função.
P/1 – Daí a sua volta à CTBC, quer dizer, você volta para cá já focado em um outro tipo de atividade?
R – Eu... A minha volta para CTBC foi também uma volta de quem não saiu, né? Eu era muito ligado à CTBC por essas razões de telefonia. Eu montei aqui em Uberlândia, nesse período, a primeira emissora FM que é a Paranaíba. Eu montei essa emissora, fui o primeiro a comercializá-la e veio daí também a ligação, fortaleceu ainda mais a minha ligação, aí sim já saindo da área de jornalismo e entrando em si na comunicação em um sentido mais amplo. E aí eu estava com esse pequeno negócio, uma situação realmente um tanto quanto difícil, quando eu fui convidado, em uma lembrança do Régis, que havia um cargo disponível lá, de assessor de diretoria na CTBC e ele sugeriu meu nome ao Seu Wilson, e o Seu Wilson me fez um convite para voltar. E eu já tinha em mim esse grau de independência, eu, apesar de estar seduzido para voltar para a CTBC e pela tranquilidade financeira que isso eventualmente pudesse me proporcionar, fiz uma proposta um pouco ousada e, para minha surpresa, fizeram uma contraproposta muito perto disso, e aí eu voltei para a CTBC, voltei para ser assessor de diretoria, para trabalhar diretamente ligado ao Seu Wilson, ao Doutor Luiz e ao seu Alexandrino. E continuei com essa empresa minha, fazendo o jornalzinho do Praia e tal, até que uns seis meses depois o Doutor Luiz me chamou, falou: “Celso, larga isso. Ao invés de você ficar saindo daqui no horário, às vezes ficar sem almoçar cuidando disso depois das seis, a gente melhora o seu salário um pouquinho e se você gostar tanto disso vem e dedica o seu tempo que tiver aqui dentro, se você tiver disponível para isso.” Aí eu, “pum”, retomei o Teleco. O Teleco estava com o Régis, aí dei uma mão grande para o Régis. Comecei a dar contribuição para o Teleco. E como nessa época passei também a ser procurador da pousada, que aí o grupo já tinha comprado a pousada, eu comecei a cuidar da propaganda da pousada, fazer anúncio para a pousada, fazer revista para a pousada, né? Até que depois a gente, a Algar, aí na época quando se criou o grupo, né, eles entenderam que deviam juntar as competências de comunicação que existiam dentro do grupo, que eram o Beto e o Paulinho, dois diretores de arte que eram responsáveis pela criação das peças na SABE, eu, que era um apaixonado por isso e o Régis que era da área de relações públicas. Daí nasceu a ABC Propaganda.
P/1 – Eu queria falar da ABC mais demoradamente, eu só queria checar, o Wilson, esse Seu Wilson a que você se refere, quem é?
R – Wilson Luiz da Costa, ele era o diretor superintendente.
P/1 – Resolveu-se, quer dizer, na verdade essa idéia de se criar, reunir essas competências conforme você mencionou, vem um pouco no bojo da própria reestruturação do grupo, não é isso?
R – Não, veio no sentido da estruturação do grupo, da estruturação. Porque as empresas trabalhavam isoladamente. Então, quando foi... existia assim: existia um agrupamento, vamos dizer assim, o Seu Alexandrino era dono disso, o Doutor Luiz trabalhava no... o Doutor Luiz dava expediente nessa época, ele dava assim: ele passava uma hora no táxi aéreo, uma hora na Agropecuária Brasil Central, e passava uma hora lá na CTBC, então ele dividia o tempo dele diariamente em cada uma das empresas, tirando as do setor de veículos, né? Ainda tinha a Sucotrisa [Sucos Salinas LTDA], ele ia lá e tal. Aí começaram a ver que estava tendo perda de tempo e era até inviável mesmo, porque o Doutor Luiz estava em um lugar e tinha que tratar de um assunto, aí ligava para ele, você não sabia quem que você estava falando, se era o Doutor Luiz do táxi-aéreo, se era o Doutor Luiz da Agropecuária, se era da CTBC ou se era da Sucotrisa, né? Aí quando começou a constituição do grupo, constituindo um grupo mesmo, é que começou a ter idéia, né? E nesse período aconteceu uma passagem muito interessante, que foi a comemoração dos cem mil telefones da CTBC. Quando a CTBC alcançou cem mil telefones eu já estava então trabalhando como assessor da diretoria, e uma pessoa que trabalhava junto ao Doutor Luiz, que era o Doutor (Luri?), que tinha sido presidente da Massey Ferguson, trouxe para o Doutor Luiz a necessidade de se buscar uma agência de propaganda para fazer então as peças referentes aos cem mil telefones da CTBC. E ele trabalhava com, na época que esteve na Massey Ferguson, com a MPM [Propaganda], que era a maior agência do Brasil. E veio um cara da MPM para fazer isso, enfim, pegar “briefing”, elaborar as peças, né? E essa pessoa foi atendida pelo Régis, porque o Régis é que era responsável pela relações públicas, mas eu acabei... Não tinha jeito, ou as pessoas chegavam em mim ou eu chegava nas pessoas. Acabei tendo um contato com ele também, mas tinha uma dificuldade de comunicação da CTBC muito grande pela peculiaridade que a CTBC vivia naquele momento, de ser a única empresa privada em uma época absolutamente dominada pelas empresas estatizadas. Então a comunicação, você tinha que ter uma sutileza nela, que era um investimento em conhecimento da atipicidade da CTBC, sem ter a contrapartida de ter um verba compatível com isso. Então eu não sei se a MPM não enxergou isso ou se mandou para cá um irmão de um dos donos lá que não teve paciência para conhecer as características, eles mandaram para cá algumas peças absolutamente fora da realidade da CTBC. Eu, na época, estava fazendo as Revistas Pousada, peguei o Paulinho, que era o diretor de arte que trabalhava na SABE, falei: “Paulinho, vamos fazer um Teleco especial dos cem anos?” “Então vamos.” Fizemos assim, da noite para o dia, “pum!”, cem anos, cem mil terminais. Fizemos esse Teleco e eu criei dois anúncios, sendo que um deles era falando: “Você que tem telefone, que nós chegamos até os cem mil e é por você, que não, porque a gente ainda vai chegar a um milhão.” E aí foi um sucesso, e isso dentro do que queria passar. E tinha um negócio do Seu Oranides, que foi o assinante de número cem mil também, uma comparação entre o que ele gastava de combustível com o Galaxy dele na época e o preço de uma ligação telefônica. Isso causou tanto impacto no Doutor Luiz que ele entendeu que seria muito bom para o grupo juntar as competências e as pessoas que gostavam e que se dedicavam à comunicação em um núcleo só.
P/1 – E com cor local, né?
R – E com cor local. E daí vem uma coisa que eu também me orgulho muito, que eu fui convidado para coordenar esse departamento e eu impus uma condição inicial para poder aceitar isso, que não fosse um departamento. Eu só aceitaria largar a confortável posição de assessor de diretoria para liderar uma atividade se fosse uma empresa, porque eu já sabia, esse é um desafio que eu enfrento até hoje, que eu jamais teria respeito interno como fornecedor se eu não tivesse a chancela externa. Então daí, em vez de nascer um departamento, nasceu uma empresa.
P/1 – A ABC Propaganda?
R – A ABC Propaganda.
P/1 – Quando foi isso?
R – Em 1982.
P/1 – Atendendo primordialmente as contas do grupo, nascente grupo?
R – Não, de cara nós já começamos a trabalhar fora, porque a gente começava com um negócio que era conta telefônica, conta envelopada. Nós vendíamos mensagens para serem encartadas dentro da conta telefônica,que foi uma idéia que o Doutor Luiz trouxe dos Estados Unidos, e aí você tinha que criar as peças, porque as empresas não tinham quem criasse. E as nossas peças eram tão bem criadas e tão bem feitas que as pessoas queria utilizar isso para outros negócios, então de cara nós já fizemos aí campanhas para imobiliárias e tal. Então nós sempre tivemos, sempre tivemos clientes externos. Então ainda que a CTBC, nunca na ABC Propaganda, nunca nasceu “house” no sentido de ser focada exclusivamente para dentro, né?
P/1 – Certo. Mas trazia resultados também para o grupo?
R – Nessa época nós não tínhamos esse negócio de contabilidade, de gestão financeira separada, era um saco sem gato mesmo. Como a CTBC nessa época era muito rica, né, então tinha um caixa único, gestão única, nós só viemos a conhecer isso em 89, com a chegada do Mário Grossi, porque aí sim a gente pode separar o que é que era o resultado. Eu não sei, eu sei que a gente cobrava, mas o que é que era? Que nós tínhamos receita, nós tínhamos, mas se essa receita era maior que a despesa, eu não poderia afirmar, porque a gente não tinha uma gestão financeira dedicada. A partir de 89 aí a gente passou a ter e felizmente a evolução financeira dos resultados sempre foram crescentes.
P/1 – Nesse período, até 89, vocês já contavam com uma infraestrutura de serviços e fornecedores suficientemente consolidadas para que as tuas idéias pudessem ser preservadas?
R – Olha, nós, dentro do grupo. já fomos ousados, atirados e inconsequentes. Então nós sempre... Porque o Doutor Luiz, quando assumiu a direção do grupo, o Doutor Luiz é um centroavante, rompedor, e ele tem uma coisa que é a capacidade de levar a gente junto com ele. O Doutor Luiz é um perigo no comando, porque ele leva a gente para um buraco, você cai e vai feliz da vida, sabe? Então, porque ele é muito companheiro e ele é muito atirado, e ele estimula e enseja muito isso, né? Então, quando nós fomos sócios da Listel [Listas Telefônicas], que a gente fazia lista telefônica, a ABC Propaganda chegou a ter sessenta e quatro funcionários, e nós tivemos uma estrutura em São Paulo de trinta e quatro funcionários. Nós tínhamos uma senhora empresa em São Paulo, a ABC propaganda, para atender uma conta única que era a Listel. E nós fazíamos propaganda para o Brasil inteiro, sabe? Então nós já fomos muito ousados, e pagamos até um preço caríssimo por isso, não que a gente não seja mais hoje, mas hoje a gente está moldando a nossa ousadia com a capacidade de fazer isso de uma forma sustentada, né? Mas a gente esbarrava muito aqui em Uberlândia na dificuldade de fornecedor. Por quê? A tecnologia existia, uma coisa que é muito bonita hoje no mundo moderno principalmente no que nós estamos vivendo hoje, é a democratização da tecnologia. Por quê? Quando nós começamos a ABC Propaganda, em 82, a gente ia fazer anúncio ou mesmo as montagens com linotipo. Você pegava o linotipo, montava as matérias, fazia prova de prelo, recortava e depois ia fazer as matrizes. E você trabalhava com título em letra 7, você não podia fazer seleção de cor, material colorido aqui, então, você fazer um certo filme, você não tinha recurso nenhum. Então, esse material que a gente tem aí de acervo reflete isso. Você tinha uma emissora de televisão que era absolutamente tirana na época aqui, porque ela queria ter o monopólio da verba, então ela fazia as produções. Você chegava a trabalhar aqui na Globo local, eles chegavam a produzir vinte, vinte e cinco VT’s por dia, então você chegava lá, o cara falava assim: você tem um horário de cinquenta minutos, para você usar o estúdio, né, com câmera, e você pagava o preço. E você estava lá editando o material na hora que dava cinquenta minutos, o cara tirava dalí e pronto, né? Então eu brinco, mas é uma realidade, eu falo assim: olha, a gente não tinha pôr-do-sol, né? Porque não tinha jeito, eles não trabalhavam. O pôr-do-sol não podia ser no horário comercial, né? Então você não tinha nada disso que você podia fazer de imagem nem nada. Então era um “table top” animado, que era mais o que o sujeito fazia. E a ABC Propaganda rompeu isso, porque ela, não por ser ligada a um grupo forte economicamente, ela não dependia da receita que a televisão liberava, porque a televisão matou as agências de propaganda, isso é uma coisa de depoimento que é real. E a ABC Propaganda foi a grande libertadora e a grande... que quebrou essa barreira, porque nós não precisávamos da televisão. Daí vem uma grande competência na área gráfica, se você pegar a história um pouquinho, das agências de Uberlândia, das pessoas mais antigas que estão aqui, nós sempre tivemos uma grande competência na área gráfica. Depois, com o tempo, é que foi possível situar isso na área de vídeo, né? Mas a gente não tinha, na tecnologia não tinha nada, por exemplo, você não tinha fotógrafo, você não tinha fotocomposição, você não tinha fotolito. Aí nós começamos, aí nós compramos uma câmera, quando a ABC comprou uma câmera aí foi um achado, né? Porque aí a gente podia filmar o sol, podia filmar a lua, podia filmar a chuva, criança nascendo, enfim, tinha liberdade para fazer isso. E aí a gente foi... mas aí tivemos que comprar uma ilha de edição para poder fazer. Aí a gente, com essa característica pioneira, nós fomos pioneiros em fazer programas independentes aqui na televisão de Uberlândia, lançando o Terra da Gente e o Linha Aberta, um para as coisas da região e o outro para a CTBC. E, veio daí, assim, a ressurreição ou o ressurgimento das agências de propaganda de Uberlândia.
P/1 – Perfeito. Vamos fazer só uma interrupçãozinha.
R – Mas um fato visto de um ângulo dife..., de um ângulo, né, que um ângulo ele vê, é o mesmo fato da dificuldade financeira mais assim.
P/1 – Você queria voltar um pouco e contar o episódio sobre...
R – Não, eu queria comentar que a CTBC nesta época lá de 60 e poucos, as tarifas ou eram tarifas municipais ou eram tarifas outorgadas para a empresa, né? Então o que é que acontecia? Existia toda uma burocracia, até puniam muito a CTBC, porque era uma forma que tinha de, de certa forma, cercear o crescimento dela e outras coisas assim. Então, o que eu comento, que olhando sob uma outra ótica, como que era interessante essa relação. O Seu Alexandrino, com a sagacidade dele, ele estimulava com que nós fizéssemos abaixo-assinado solicitando aumento de salário para a empresa, né, e essa lista de reivindicações nossas, esse abaixo-assinado com as assinaturas do maior número possível de pessoas, era um documento de pressão que ia para os órgãos superiores, no sentido de ver as novas tarifas. Mas efetivamente também com as novas tarifas, vinha a melhoria dos nossos salários. Então, o que eu quero passar sob essa visão meio romântica minha, é que essa questão da distribuição de rendas e participação nos resultados, ela também é uma coisa que é antiga na CTBC, né? Porque na verdade a gente exercia esse papel nosso de reivindicar, e a reivindicação gerava um fator de reforçar a necessidade de atualização de tarifa e revertia parte dela em melhoria do salário de cada um de nós.
P/1 – E outra parte significativa para responder à necessidade de investimento?
R – Necessidade de crescimento. Mas tinha, quer dizer, tinha. O Seu Alexandrino não fazia isso só como uma pressão e depois quando vinha não tinha aumento. Não, tinha sim.
P/1 –Cumpre sua palavra também, né?
R – Isso é o que eu estou te falando. Esse ângulo é que eu acho que é interessante você mostrar. Puxa, então essa questão da participação nos resultados de certa forma também é uma coisa...
P/1 – Vamos agora fazer uma volta ao futuro com relação à ABC Propaganda. Nós estamos no ano 89, quando o grupo passa por uma séria reestruturação, radical no sentido mesmo de revolver as raízes do grupo para a chegada do Senhor Mário Grossi. O que é que isso significou para a ABC Propaganda no momento?
R – Nós vimos um período muitíssimo difícil aí para 87, 88, que o Seu Alexandrino estava já numa fase onde a contribuição dele não podia ser maior do que era, e ele já estava em uma idade que não podia dar mais tudo aquilo que tinha sido o grande, o grande rumo das vidas das nossas empresas. Nós tínhamos crescido exageradamente, né? E o nosso diretor gerente, que era o Seu Wilson, teve uma missão que estourou o limite da competência dele. Então ele teve um problema financeiro de depressão grande, de stress que levou à depressão, teve que se afastar e o Doutor Luiz ficou, vamos dizer assim, não só isolado, mas ficou com uma tarefa que estava acima de toda a sua extraordinária capacidade de trabalho e disposição. E a gente que estava ligado, nós imaginávamos que, precisava de vir alguém. Eu particularmente imaginava que vinha um salvador, e nunca imaginei que viesse um cobrador, mas a forma de nos salvar foi trazer uma pessoa absolutamente forte no sentido de cobrar. E quando o Mário Grossi veio foi um choque, mas um choque mesmo na cultura nossa. E ele que era um grande “controller” com uma visão muito clara de custo, ele provocou, e sabia que precisava provocar, um corte muito grande na irresponsabilidade nossa, na nossa pouca atenção à números, né? E com isso teve um corte brusco nas nossas ações, nas nossas decisões e nós tivemos que rever bastante os nossos planos, várias empresas foram vendidas. Mas o Mário Grossi, eu sempre costumo falar, e ele, quando estava aqui, eu falava que ele era muito bom de mira, né? Com certeza, e não é diferente, quando alguém vai fazer uma grande mudança como ele se dispôs a fazer, você acaba acertando muitos inocentes na hora que você sai atirando. Mas ele acertou, foi muito feliz nos alvos, e se no meio disso algumas pessoas que acabaram conflitando com ele ou com o seu estilo não ficaram, ele soube também, promovendo aqueles que ficaram e naqueles que entraram nessa capacidade de responsabilidade, resgatando essa questão que o Seu Alexandrino tinha colocado há tantos anos atrás de cada um se sentir responsável pelo seu negócio, né? Então foi um momento duro, né, um momento difícil, foi realmente uma revolução. Eu acho que o grupo tem que ter, sem dúvida, como tem, a estátua do Seu Alexandrino na entrada do Algar, mas eu acho que não ficava mal ter uma do Doutor Mário lá dentro não, pela dedicação dele, pela capacidade que ele teve de ser um agente de mudança e de transformar as mentalidades que até então às vezes acomodadas, às vezes não muito dispostas a traduzir em números o fruto do seus trabalhos, então, foi um negócio magnífico ter vivido essa época e eu falo assim, a gente... Eu sou formado na escola da vida e meus professores acabaram fazendo um aluno ruim, um aluno até mediano pela competência deles, porque quem teve o privilégio de ter professores como o Seu Alexandrino, o Seu Walter, o Seu Wilson, o Doutor Luiz, o Mário Grossi, dentre outros, tinha que aprender nem que fosse por osmose. Então fica aí... Mas foi um negócio, olha, foi um choque cultural que o Mário Grossi deu.
P/1 – Um choque cultural, veja se essa avaliação procede, um choque cultural dado em um momento em que o país começava a descobrir competitividade, começava a partir do início dos anos 90 a quebrar o monopólio estatal em algumas atividades.
R – É. A grande felicidade do grupo foi ter trazido o Mário Grossi em um momento que antecedeu algumas mudanças pela qual o país ia passar e até pelo mundo dos negócios, no mundo todo ia passar. Então, nós sofremos antes da hora, por isso que a gente sofreu muito e sentiu demais na pele isso. O Mário Grossi nos preparou para as mudanças antes que elas acontecessem, então foi tão extraordinário o efeito disso que quando elas começaram a acontecer, a gente já estava preparado, ele nos antecipou. Então quem vinha de um certo comodismo teve que mudar muito rapidamente e ele foi muito exigente nesse sentido. Então, quando vieram as mudanças que pegaram no país, essa questão de abertura, essa questão de tudo, a gente já estava preparado. Então essa foi a felicidade nossa, porque ele antecipou ao que vinha. E um dos papéis que ele exerceu com muita competência foi sempre estar sinalizando para nós: “Vai ser assim, vem isso, vai aquilo.” Ele foi, guardada as proporções, um profeta no mundo dos nossos negócios.
P/1 – Você diria que essa fase, digamos, mais traumática, foi a fase que possibilitou a Companhia crescer, mesmo nesses momentos em que o mercado se abriu e a competitividade passou a ser um valor?
R – É, fica difícil a gente fazer uma análise, mas eu acho que o sofrimento é uma coisa muito rica. Eu acho que quem aprende fazendo ganha muito mais do que quem aprende só vendo ou ouvindo, né? Então o que é que nós vivemos, o que nós passamos nisso? Toda nossa dificuldade nos fortaleceu muito, porque para ter sobrevivido, vamos dizer assim à “Era do Mário Grossi”, você precisava ter valor e você precisava demonstrar esse valor. Então, uma coisa que eu acho que foi muito legal ter participado disso, é porque o Mário Grossi te orientava, ele era disponível, se você precisava dele para qualquer orientação, ele era seu avalista também. Ele te cobrava mas te acompanhava, te ensinava e te orientava, né? E com isso ele formou um conhecimento, ele nos preparou para todas essas transformações. Então quem quis olhar o Mário Grossi, não pelo Mário Grossi, mas pelo que o Mário Grossi falava, teve um aprendizado muito grande.
P/1 – Nesse momento, já passando a fase do Senhor Mário Grossi, a Companhia tem uma nova configuração, que é bastante próxima a esta que ela tem hoje. Como é que esse processo se manifestou na área de comunicação da Companhia?
R – Eu acho que a comunicação hoje, do grupo, ela reflete a maturidade com que o grupo está sendo conduzido. Hoje uma das bandeiras maiores que a direção da Algar tem é a sua marca. Ela tem mais do que a consciência, ela tem a atitude de ter todo um trabalho focado na valorização da marca. E aí vem um decisão que para mim ela tem um efeito muito maior, mas muito maior do que muita gente percebeu dentro do grupo que é essa questão de nós termos uma marca onde ela remete todas a uma só identidade. Nós não temos mais separação de cores por setor nem nada. No fundo, o que nós temos é uma marca única com denominações sociais diferentes. Mas o que eu comento sempre, que quando alguém passa de carro na rua com a marca de uma empresa qualquer, e esse carro joga água em um transeunte, a imagem da empresa que vai ser afetada é de todos nós. Então o que eu falo, acho, hoje, é o seguinte: ninguém olha em um carro que está passando, não dá para perceber se esse carro ele é da CTBC, se ele é da Engeset, se ele é do Consórcio, se ele é da SABE, da Inco ou da ABC Propaganda. Então, nós verdadeiramente passamos, estamos passando a ser um grupo. Por quê? As pessoas gostando ou não, a ABC Propaganda faz parte da CTBC, como faz parte do Consórcio ABC, como faz parte da SABE, como faz parte da Engeset e vice-versa. Então hoje, cada um de nós tem além da responsabilidade sobre a sua própria empresa ou sobre o grupo, ela tem a reciprocidade da responsabilidade pela empresa, pela imagem de cada empresa que tem a marca da Algar. Então, quando eu estou na rua, eu estou dirigindo um carro que tem essa seta amarela, verde, o fundo amarelo com a letra azul, eu estou levando junto com a imagem da ABC Propaganda, a imagem das vinte e duas ou vinte e três empresas que são as razões sociais da Algar. Então, cada um de nós tem a responsabilidade da empresa sua, da empresa da marca maior, que é do grupo, mas também de cada uma das nossas empresas co-irmãs.
P/1 – Perfeito. Você diria que a comunicação, digamos, é um agente amalgamador dessa responsabilidade comum pela imagem da Companhia, ou do grupo, melhor dizendo? Ela que dá o cimento dessa responsabilidade?
R – É, a comunicação tem um papel relevante nisso, mas acho que mais do que a comunicação é o comportamento e a coerência da atitude de cada um de nós e dessas empresas como um todo, né? Nós temos agora, nós estamos muito visíveis. Nós ficamos muito fortes enquanto empresa, porque nós temos uma coisa que é brilhante também no aspecto dessa marca nova, é que ela traduz uma coisa que tem muita lógica para nós, é o sentimento de brasilidade, né? Não porque nós queremos ser, porque na verdade nós também queremos, mas porque nós somos reconhecidos como uma empresa brasileira. Não nacional, brasileira, né? Nós temos a cara do Brasil, nós temos, as nossas empresas, essa questão do interior que conquista a capital, do interior que inova, do interior que opina. Esse jeito, essa capacidade do brasileiro de ousar, de suportar, de enfrentar grandes desafios, de enfrentar grandes empresas, de enfrentar grandes multinacionais. Essa capacidade nossa de resistir, de crescer, né? Então, essas cores traduzem isso. Então a comunicação o quê? Ela faz, é estar ligando isso, mas acho que a gente está vivendo um momento difícil, porque cada um de nós vai ter que abrir mão do poder. Nós temos que pensar muito menos hoje no CGC, de onde nós estamos situados, mas na marca maior que é o nosso guarda-chuva. Mas vai ser uma maravilha trabalhar na comunicação, em qualquer empresa do grupo daqui um ano. Feliz de nós que conseguimos superar as nossas vaidades pessoais, os nossos espaços, as nossas opiniões, porque uma coisa que a comunicação também tem que saber trabalhar é com isso, que não é gosto. Nós não estamos discutindo gosto, nós estamos discutindo objetivos. E para alcançar objetivos a gente vai ter que abrir mão do gosto pessoal, né, do gosto artístico. Mas vai ser extraordinário trabalhar na comunicação do grupo. Eu quero ver se eu dou conta de sobreviver até o ano que vem lá, porque quem já comeu carne de pescoço não incomoda de servir filé, né?
P/1 – Eu não vou lhe pedir nenhum exercício de futurologia, mas você está pensando no ano que vem que é um ano em que a desregulamentação vai ser total. Como é que você enxerga o futuro do grupo, o futuro da CTBC e desse conglomerado de empresas, pronto, na ponta dos cascos do jeito que parece estar agora?
R – Eu tenho uma percepção e tenho uma dificuldade em definir essa percepção. Mas eu espero que seja o mais rápido possível, que a gente consiga dentro do grupo romper as barreiras do CGC e trabalhar de uma forma diferente no sentido de aglutinar os valores e as competências dentro do grupo, em novos negócios, negócios que estão surgindo aí. Eu entendo que logo logo nós vamos ter muito mais negócios e menos empresas. Nós vamos ter que desenvolver dentre nós uma capacidade de unir as nossas competências sem estar focado na individualidade de cada empresa. E aí vem uma coisa que é um exercício difícil, mas está muito rápido de ser resolvido se a gente romper a forma com que a gente geri hoje, ou gestiona as nossas empresas, que é por resultado. Nós temos que exercer, e já a direção da Algar foi muito feliz nisso, ela já estipulou, principalmente para os superintendentes, um índice de solidariedade onde, para mim ter uma participação nos resultados, independente do resultado da minha empresa eu tenho que alcançar o resultado do grupo como um todo. Então o que é que nós temos que romper? Nós temos que romper, nós somos tão competentes em fazer parcerias externas, por que que nós não somos de fazer parcerias internas, né? Então nós temos que ver o futuro do grupo, o futuro da Algar, muito mais sob a bandeira da Algar do que sob a bandeira da CTBC, do que a bandeira da Tess, a bandeira do Consórcio, a bandeira da Engeset. Nós precisamos pegar as competências e olhar sob o foco do cliente, o que que nós podemos levar de diferencial e de que forma que nós vamos levar. Se nós estamos levando boas soluções em comunicação para os nossos clientes, pouco interessa para eles se isso está sendo feito pela ABC Propaganda, está sendo feita pelo CMC da CTBC, ou se está sendo feita pelo CCM da Algar, ou se está sendo feita pela equipe de vendas do Consórcio. Então nós temos que começar a identificar essas competências e usá-las no sentido de contribuir para resultados dentro do universo maior,que é a Algar. Eu acho que nós vamos ter mexidas nas nossas estruturas, eu acho que nós temos estruturas demais e negócios de menos. Eu acho que isso precisa ser invertido, né? Nós precisamos ter mais foco em negócio e menos foco em estrutura. Estrutura você busca. Então o que é que acontece? Essa coisa que eles criaram dentro do grupo, que é o “center service”, se a gente olhar isso não é nada mais do que isso: você está colocando em um centro de serviços tudo aquilo que não é o foco do negócio de cada empresa, e você vai pegar cada empresa e situar as competências dela voltada para o cliente e para o mercado. Agora, não é confortável você sair do planejamento para a execução. Eu diria que o grande desafio que o grupo vai ter, mas eu tenho certeza que vai ter competência para transferir isso, é nós sairmos da fase do planejamento para a execução.
P/1 – Perfeito. Celso o que você diria para uma pessoa que estivesse chegando no grupo agora, para se tornar um associado. O que você diria para um jovem que estivesse ingressando?
R – Olha, é difícil falar do passado para quem vai fazer parte do futuro, né? Eu diria primeiro para ele conhecer um pouquinho da história do grupo, ou parar para assistir a fala do Seu Alexandrino, que é uma lição de sabedoria extraordinária. Mas falaria para ele o seguinte: “Olha, venha de cabeça aberta mais do que de ouvido aberto. Venha no sentido de contribuir e no sentido de saber que a sua competência vai fazer uma enorme diferença aqui. E venha no sentido de trabalhar com ética, no sentido de saber que é importante o trabalho de equipe muito mais do que a competência individual. Que você, mesmo tendo todas a dificuldades que têm todos os negócios, aqui você vai encontrar um ambiente de trabalho que é uma liberdade associada à responsabilidade, que é absolutamente motivadora, né? E venha sabendo que você vai construir o futuro e esse futuro vai ser tão melhor quanto mais dedicação, mais amor, mais coerência, consistência a gente der a ele.
P/1 – E a pessoa Celso Machado, quais são os seus sonhos? O que é que você pessoalmente está pretendendo para um futuro próximo?
R – É, apesar de ser muito ligado no passado, ter um orgulho danado de muitas coisas que eu já fiz, eu falo assim, quando eu olho o meu passado, principalmente dentro da ABC Propaganda, eu falo: “Gente, como que uma empresa aguentou tanta incompetência assim, né?” Então, mas as vezes eu olho assim e vejo o que é que eu já enfrentei, eu falo: “Puxa, mas como é que alguém foi tão resistente assim?” Mas eu olhando, eu até escrevi uma crônica uma semana atrás que reflete muito isso, que é a minha expectativa no momento. Eu tenho um “curriculum vitae” que poucos podem ter. E é um “currículum vitae” que eu mais me orgulho. Porque o meu “currículum vitae” é do que eu não fiz, do que ainda falta fazer, né? Eu ainda quero ser um associado da Algar, que eu dê a ela tudo o que ela me deu; eu quero ser um pai de família, que eu dê à minha esposa e aos meus filhos todo o afeto, todo o respeito, todo o carinho que eles me dão; eu quero ser um cidadão uberlandense, que eu dê à minha cidade todo respeito, todas as oportunidades, tudo o que ela já me deu; eu quero ser um cidadão brasileiro, que eu retribua ao meu país por tudo o que eu tenho. E quero ser um ser humano que eu devolva ao mundo tudo de bom que ele me deu. Então pouca gente pode ter esse “curriculum”, porque o meu “curriculum” é do que falta fazer. E eu descubro, cada vez que eu faço alguma coisa, que mais ainda me falta fazer. O que mais me agrada é que a cada dia, quando vai passando os anos da minha vida, mais eu descubro que eu ainda tenho vontade de fazer.
P/1 – Bom, o que é que você achou desse depoimento?
R – É muito bom. Eu falar... (risos)
P/1 – Alguma coisa que você gostaria de ter dito e que eu não instiguei a dizer?
R – Não, se eu não parar de falar eu não paro, né? Mas acho que foi muito bom. Acho que é sempre bom a gente dedicar um tempo para rever essas coisas, porque a gente faz uma viagem, né? É uma coisa...
P/1 – Tanto mais quando você sabe que isso vai ser útil para as pessoas.
R – Útil para outras pessoas. Esse é que eu acho que é o sentimento de utilidade da gente, porque eu não quero ter conhecimento para mim, eu não quero ter lembrança para mim, eu quero ter um sentido de compartilhar, de ser útil. Eu falo muito assim: “Ah, o que que você quer ser?” Uma vontade danada do dia que eu morrer as minhas coisas fiquem aí, né? Que possam permanecer vivas algumas ideias, algumas lembranças, algumas recordações, para estarem sendo úteis para os outros, né? Acho isso ótimo.
P/1 – Está bom Celso, muito obrigado. Eu só queria te fazer uma pergunta, que você contasse como você conheceu a sua esposa, um pouco sobre ela e seus filhos nesse tempinho que a gente tem aí final, cinco minutos.
R – Eu acho que... engraçado, minha vida tem umas coisas que são interessantes, né? Apesar de ser uma pessoa muito feliz com o que eu tenho, e sempre tive isso na minha vida, eu sempre quis o melhor, eu nunca me conformei muito... tem uma coisa, tudo bem. Tudo o que tem para mim está ótimo, mas eu penso sempre no melhor. Eu acho, que por exemplo, no caso da minha esposa, que é a Rosilei, ela é uma recompensa maior de uma postura que eu tive na minha vida, que foi sempre respeitar o sentimento dos outros. Eu tive um momento da minha vida que eu passava umas dificuldades aí, e acho que era muito confortável, porque eu sempre fui uma pessoa, vamos dizer, razoavelmente bem financeiramente, né? Cuidava do financeiro. Podia ter sido um boy, fiz um planejamento na vida para não ser. Podia ter aproveitado muito pelas oportunidades que a vida me deu, de ter tido uma vida aí mais leviana e mais mundana, né? Mas eu tenho muito respeito pelos sentimentos, né? Eu acho que eu não tenho o direito de ferir esses sentimentos de ninguém. Então eu sempre fui muito ético em relação a sentimentos, né? E a vida me recompensou assim, exageradamente, quando me colocou em contato com a Rosilei, que foi um encontro até na Feniub, eu estava com o Mário Pão e no auge lá dos meus, sei lá, vinte e poucos anos, já tinha tomado as minhas cervejinhas tradicionais no sábado, quando passa aquela moça linda, maravilhosa, na Feniub [Feira Nacional da Indústria de Uberlândia], né? E eu estava em fase de entrar na CTBC e havia recebido um convite para ir para o Martins, que era onde ela trabalhava. E quando eu a vi ainda brinquei, falei: “Nossa, se eles botarem ela no contrato eu vou amanhã.” E nós tínhamos uma amiga em comum que trabalhava no Martins, que é a Dejanira, que tinha trabalhado no Liceu. E aí ela foi, vamos dizer assim, a interlocutora aí, minha e da Rosilei. E aí estamos aí juntos e felizes, eu mais ainda do que ela, mas espero que um dia eu consiga fazê-la tão feliz comigo quanto eu sou com ela. E aí vieram meus filhos. Eu falo assim: “O que é que são meus filhos?” Eu sou muito imaginativo, eu sou muito criativo, então eu sempre imagino uma coisa melhor do que ela é, sempre. Eu vou fazer uma viagem eu acho que o lugar vai ser muito mais maravilhoso do que eu vou encontrar. Quando eu encontro não é tanto assim. Então eu vou fazer uma coisa… Só tem duas coisas que a vida superou a minha expectativa que são meus filhos, né? Eu nunca imaginei que eu fosse ter os filhos que eu tenho, então eles superaram tudo que eu dei conta de imaginar. E eu tento ser uma coisa para eles, que alguns acham que é mais fácil eu acho que é mais difícil, eu quero ser amigo deles, né? Porque pai é uma instituição em decadência, eu quero ajudá-los na vida, quero orientá-los. E me debato muitas vezes com o conflito, que é tentar impedi-los de passar por dificuldade, que eu acho um equívoco, apesar de ter consciência disso, porque o que eu tenho na vida foi formado em cima de dificuldades, e às vezes quando você interfere, na sua proteção, no sentido de que eles não sofram, na verdade você está impedindo que eles cresçam e que eles aprendam na mesma escola que você estudou. Mas apesar de conhecer isso, o afeto que eu tenho... Mas são três tesouros que eu tenho em casa.
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