Museu da Pessoa

Minha trajetória no Banco do Brasil

autoria: Museu da Pessoa personagem: Reynaldo Miranda de Abreu

Projeto Fundação Banco do Brasil
Entrevista de Reynaldo Miranda de Abreu
Entrevistado por Tatiana Dias e Aurélio Araújo
Brasília, 1° de Fevereiro de 2006
Realização Instituto Museu da Pessoa net
Entrevista número FBB_HV020
Transcrito por Carlos Eduardo Sampietri
Revisado por: Érika Gonçalves


P/1 – Senhor Reynaldo, boa tarde. Obrigada por ter vindo participar desse projeto conosco.

R – Boa tarde.

P/1 – Eu gostaria que o senhor começasse falando seu nome completo, data e local de nascimento.

R – É Reynaldo Miranda de Abreu, nasci no Rio de Janeiro no dia 3 de junho de 45.

P/1 – E o nome dos seus pais?

R – Meu pai se chama Sebastião Soares de Abreu, e minha mãe, Maria Miranda de Abreu.

P/1 – E o Senhor tem uma irmã, né?

R – Uma irmã, tenho uma irmã. Chama-se Roseli.

P/1 – Roseli?

R – Isso.

P/1 –

E o Senhor fica no Rio de Janeiro, é criado no Rio de Janeiro, em que bairro?

R – Fui criado sempre na mesma rua, ali em Botafogo, e fiquei lá até os 18 anos, quando eu saí e fui trabalhar no Banco do Brasil em Goiânia, no dia 6 de abril de 1964, tomei posse em Goiânia. Só que eu saí do Rio de Janeiro no dia 31 de março de 64, é uma data bastante conhecida, né? E quando estourou a revolução, eu estava na estrada, então os bancos estavam fechados e eu tive que esperar aqui em Brasília o banco abrir em Goiânia, fiquei na casa da minha irmã e, quando o banco abriu, eu fui lá, com medo de perder o emprego também, né, revolução, não se garantia mais nada. Então no dia 6 de abril, quando o Banco do Brasil abriu, eu fui lá e tomei posse.

P/1 – Como é que era o Rio de Janeiro na sua infância, senhor Reynaldo?

R – O Rio de Janeiro na minha infância era um local onde você podia sair sozinho, onde você podia transitar à noite, onde você podia andar a pé. Eu morava na Rua São Clemente, estudava no colégio ali na Rua Bambina, ali pertinho, mas eu ia jogar voleibol no clube Sírio Libanês a oito quarteirões da minha casa e ia a pé, ia e voltava a pé, 10 horas da noite, meia-noite, então ainda era uma época boa de se morar no Rio de Janeiro. Você ia à praia tranquilamente, você pegava um bonde para ir à praia, saudosa memória desse bonde também, né, mas foi muito interessante naquela época.

P/1 – E o ensino secundário o Senhor realizou também no mesmo bairro, onde o senhor estudou lá?

R – Eu estudei 12 anos no mesmo colégio, entrei no primeiro ano, antigamente primeiro ano primário, e me formei no terceiro ano científico, então estudei 12 anos no mesmo colégio.

P/1 – E qual era o colégio?

R – Colégio Rezende, na Rua Bambina.

P/1 –

E como é que era ser jovem no Rio de Janeiro nessa época?

R – Olha, naquela época, a gente tinha muita coisa para fazer, né, a gente estudava, eu fazia inglês também à tarde, estudava no colégio de manhã, jogava meu voleibol e a gente ocupava o tempo bastante, era muito interessante.

P/1 – E o senhor pensava em seguir alguma carreira, o senhor tinha algum plano?

R – É, tinha planos sim, a minha ideia era fazer engenharia, mas a situação para fazer engenharia não permitia que você trabalhasse e estudasse ao mesmo tempo, então a minha preocupação maior era arranjar um emprego, então fui fazer o concurso do Banco do Brasil em agosto de 1963 e passei, né, passei e falei: “Bom, agora vou a luta, né? Vou trabalhar.” Aí, depois eu fui pensar em faculdade. Como eu estava no banco, eu tinha feito um teste de vocação profissional na Fundação Getúlio Vargas e eles sinalizaram com três opções que eu podia fazer: Economia, Contabilidade ou Ciências Atuariais. Como naquela época, Ciências Atuariais era um curso que não havia em Goiânia, eu fiz Economia.

P/2 – O que significava em 1963 se tornar funcionário do Banco do Brasil? Qual era a perspectiva que você tinha quando fez o concurso e, finalmente, quando tomou posse?

R – Naquela época, o que se passava na cabeça do jovem naquela época era o seguinte: ou você vai fazer concurso para o Banco do Brasil, ou você vai seguir a carreira militar, ou aqueles mais abastados que podiam ainda ser sustentados pelos pais partiam para uma faculdade de Medicina ou Engenharia. Essas eram as três opções que você tinha e eu escolhi uma, e dei sorte de ter passado na primeira prova do concurso, aí, fui seguir a carreira porque achei que o Banco naquela época, era muito interessante a carreira no Banco, né, aí eu fui, deixei meus pais no Rio de Janeiro, ficaram sozinhos, minha irmã já morava em Brasília, e eu vim tomar posse em Goiânia.

P/1 – E como foi a saída para Goiânia?
R – Foi triste.

P/1 – Litoral a vida inteira…

R – Foi triste, inclusive 18 anos de praia, eu que saí com 18 anos de idade.

P/2 – O clube Sírio Libanês fica ali ao lado da praia.

R – É, fica pertinho, eu morava também pertinho, mas foi difícil porque com 18 anos não tinha servido o serviço militar ainda, eu estava como excedente no alistamento, depois eu me apresentei aqui em Brasília para então regularizar a situação militar, mas Goiânia era muito pequena, Goiânia era uma cidadezinha pequena, hoje está maravilha, mas Goiânia era pequena, e o que se fazia lá era trabalhar, trabalhar e trabalhar e quando fiz o vestibular, fui estudar lá também. Mas acabei me enturmando muito, né, com aquele negócio de esporte, voleibol daqui, dali, e comecei a preencher o tempo, sábado e domingo, essas coisas todas e passou, eu ia ao Rio passear nas férias,

voltava, até porque não tinha outro jeito, tinha que trabalhar, então não tinha jeito, né?

P/1 – E como que era a rotina de trabalho no banco? Você falou que trabalhava, trabalhava, trabalhava, mas em termos de tecnologia, o que era o Banco do Brasil?

R – Naquela época era tudo incipiente, tudo era na mão. Você tinha uma conta no banco, você tinha uma ficha gráfica, onde eram lançados os cheques, os depósitos, aquela coisa toda, um negócio bastante rudimentar. Se hoje em dia você olha para trás e... mas, a gente até passava horas e horas calculando na maquininha os juros, todas aquelas contas, então era muito incipiente mesmo, tecnologia não havia de jeito nenhum, e por isso era uma contratação de mão de obra muito grande. Depois que a tecnologia veio, aí começou o esvaziamento das instituições bancárias principalmente.

P/2 – A sua função lá em Goiânia era de caixa?

R – É, eu trabalhei como escriturário em vários setores, porque na agência você tem que trabalhar em tudo quanto é lugar, né, cobrança, cadastro, depósito, aí depois eu entrei para a tesouraria, porque a tesouraria era mais ou menos um prêmio, você imagina que prêmio, ser caixa, mas a concorrência era grande, o que ia falar, o que ia fazer? Então eu fui sendo caixa lá em Goiânia e depois, aqui em Brasília, já estava precisando de caixa executivo, aí eu me candidatei e vim para cá.

P/1 – Mas o Senhor passa um ano no Rio, né?

R – Passei um ano na Carteira de Comércio Exterior, Cacex, fui para lá e fiquei na área de análise de projetos de importação, tudo que era importação fraudulenta que existia caia naquele setor que eu trabalhava. Já naquela época existia fraude e principalmente via Bélgica, Porto de Antuérpia, aquele negócio todo... Eu fiquei um ano lá, mas confesso que o trabalho em agência era mais interessante, embora eu achava que a Carteira de Comércio Exterior tem um nome grande, uma instituição de... Depois acabaram com ela, mas de prestígio na época. Aí eu retornei à Goiânia porque eu estava fazendo faculdade já também, comecei a namorar minha atual mulher e tudo isso aí me puxou para Goiânia, né, para voltar para Goiânia.

P/2 – O carioca não quis ficar no Rio.

R – Não, é porque, como eu digo hoje, eu sou carioca de nascimento e goiano de coração. Eu casei com uma goiana, meus filhos são dois goianos e uma brasiliense.

P/1 – Eu sou de Goiânia.

R – De onde?

P/1 – São Simão. Mas então o senhor vem para Brasília em 72?

R – Setenta e dois, é.

P/1 – Como era Brasília nessa época?

R – Muito boa também, uma maravilha de tranquilidade, entendeu, era realmente uma cidade administrativa, sede do governo para ter a sede também das relações diplomáticas, era muito gostoso Brasília, muito gostoso.

P/2 – O Senhor já veio casado para cá?

R – Já vim casado, com dois filhos.

P/2 – A família gostou também?

R – A família gostou, embora no início, porque a minha mulher quando veio, estava grávida do segundo filho, depois voltou a Goiânia só para dar à luz e voltar. Com dez dias, ele já tinha vindo para cá também, e no início foi difícil, porque a gente chega, quase não conhece ninguém, só tinha uma irmã aqui que me ajudou bastante, esse relacionamento aqui, a integração na cidade, mas depois acostumou, e hoje ninguém quer sair de Brasília na verdade.

P/1 – O senhor vai para a Agência Central, né?

R – É.

P/1 – Ficou lá um ano?

R – Fiquei um ano lá como caixa, trabalhando na caixa de câmbio também, que é um setor bastante complicado para atender os turistas e outras coisas. Aí eu fui requisitado para trabalhar na diretoria da sexta região, uma diretoria operacional. As sete diretorias eram todas aqui em Brasília, depois cada uma foi para sua região, então fiquei aqui trabalhando na diretoria durante três anos.

P/2 – O senhor foi requisitado para a diretoria ou conseguiu por concurso interno?

R – Não, não teve um concurso interno, foi indicação mesmo, indicado por diretor, “aí tem um rapaz, funcionário, assim, caixa lá no central, está desperdiçado”, vamos dizer, né, “pode ser melhor aproveitado, tem curso superior e tal”, aí requisitou.

P/1 – Sim, aí o senhor tem a saída para trabalhar no governo... com a vice-presidência.

R – Foi.

P/1 – Como foi esse convite?

R – Foi, porque, a diretoria da sexta... Todas as diretorias eram aqui em Brasília, primeira região é Amazonas, segunda é Nordeste, terceira São Paulo, quarta Rio de Janeiro e Minas, quinta, sexta Paraná e Santa Catarina e sétima Rio Grande do Sul, todas aqui em Brasília, aí o banco resolveu regionalizar isso mesmo, falou: não, a diretoria é do Rio Grande do Sul, então vamos botar em Porto Alegre, a do Rio de Janeiro, vamos botar no Rio de Janeiro, por que tudo aqui em Brasília? Então descentralizou, e descentralizando a diretoria, não podia levar todo mundo para lá, porque era uma despesa muito grande, então eu falei que já que vai terminar essa diretoria, eu... Aí eu recebi o convite de um amigo meu que tinha tomado posse comigo no banco, Luiz Antônio, e ele trabalhava na vice-presidência e me levou para lá, me convidou e eu falei: “vou”. Fiquei três anos lá.

P/2 – Qual era a sua função na vice-presidência?

R – Eu era supervisor financeiro.

P/2 – Da vice-presidência?

R – É, da vice-presidência.

P/2 – Quem era o vice-presidente?

R – General Adalberto Pereira dos Santos.

P/2 – No governo…

R – No governo Geisel. Depois virou o governo, o presidente Figueiredo tomou posse e o Doutor Aureliano veio ser vice-presidente, né, aí eu continuei, fui até promovido lá, mas para diretor administrativo com outro nome, era chefe adjunto. Mas eu fiquei lá ainda uns nove meses na época do Doutor Aureliano, e resolvi voltar para banco porque já estava há três anos fora e achava que aquilo ali era mais para ficar lá sem nenhuma perspectiva, assim, de carreira e tal, né? Aí retornei a convite de um amigo meu também para trabalhar no Fepec [Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde], uma pessoa que eu tinha trabalhado com ele na diretoria, que ficou aqui em Brasília também, Luiz Gonzaga Campos da Eira, um funcionário exemplar, e ele me convidou para trabalhar no Fepec como analista de projeto. Aí eu fui. Fiz o curso de análise de projeto, um MBA, que naquela época não chamava MBA, mas era um curso de quatro meses intensivo, então era um MBA na verdade.

P/1 – O Senhor podia explicar para a gente como era a preparação: o que era o Fepec, como funcionava.

R – O Fepec era um fundo instituído pelo Banco do Brasil, que recebia do banco uma verba correspondente a 2% do lucro líquido do banco. Essa verba era destinada ao fundo, e a gente recebia propostas de financiamento à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico. Esse dinheiro era financiado para as instituições de pesquisa, universidades, ao que o pessoal chamava na época de fundo perdido, ou seja, sem retorno. Você dava o dinheiro para a instituição desenvolver a pesquisa. Aí você pergunta, qual é a vantagem que tem? O banco descontava esse dinheiro, uma vez aportado na instituição, no imposto de renda do banco. Esse era o incentivo fiscal-tributário. Por outro lado também, o banco, ao financiar uma pesquisa, começava a colocar à disposição dos projetos que fossem desenvolvidos toda a sua cartela industrial, fazia empréstimo para as empresas que quisessem absorver tecnologia, não é, então o Fepec começou assim funcionando. Funcionava muito bem, era a segunda maior financiadora de projetos do país depois da Finep [Financiadora de Estudos e Projetos] , era o Fepec, porque o CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] trabalhava mais com bolsa de estudos e o Fepec não fazia bolsa de estudos. A gente não queria fazer o que o CNPq fazia para não confundir as coisas, e a gente trabalhava muito na área de pesquisa aplicada e desenvolvimento tecnológico, então vários projetos hoje, que estão aí, começaram sendo financiados pelo Fepec. E eu me orgulhava muito de trabalhar lá, primeiro porque você tinha um contato com a massa crítica, né, com pesquisador, com professor de universidade, e isso era muito gratificante. Segundo que você tinha uma visão do que ia acontecer no futuro, fala: “eu estou desenvolvendo um negócio desse daqui, estou ajudando”, e o nosso trabalho era a parte financeira do projeto, a parte científica era na universidade, e eu estou colaborando para o desenvolvimento tecnológico do país, não é verdade? Essa era a grande vantagem do Fepec e hoje tem projetos aí que a gente... às vezes as pessoas nem sabem o que é. Por exemplo, hoje a vacina contra o sarampo, foi o Fepec que deu o dinheiro para a Fundação Oswaldo Cruz nacionalizar a vacina contra o sarampo. Sarampo, poliomielite, então tem muita gente que não sabe isso, né?

P/1 – Você saberia me dizer quem foi que desenvolveu essa ideia do Fepec lá dentro, quem foi que teve esse…

R – Foi no governo do presidente Rischbieter, Karlos Rischbieter, que foi criado, agora realmente quem teve a idéia do Fepec, porque quando eu cheguei lá o Fepec já havia sido criado recentemente, né, criado em 78, 77, cheguei em 79. Mas foi no governo Rischbieter que começou, que ele era presidente do banco. Depois do Fepec, o banco também tinha um outro fundo, o Fundec, e todos os dois fundos funcionavam na consultoria técnica, quer dizer, não tinha nada a ver uma coisa com a outra. A consultoria técnica não tinha nada que gerir fundo, são operacionais.

P/2 – Famosa Cotec.

R – Famosa Cotec, depois então se pensou em criar uma Fundação, porque havia uma dificuldade nesse benefício fiscal que o banco tinha, o banco só podia usufruir quando você assinava um convênio com uma universidade, quando você repassava o dinheiro, aí sim o banco fazia o desconto. Na Fundação não, quando ele aportava o recurso para a Fundação, imediatamente ele já se beneficiava, então... E a Fundação também por ter uma... ela tem a personalidade jurídica própria, a fachada do banco, né, então poderia fugir daquelas amarras que o banco tinha, que o Fepec tinha, que o Fundec [Fundo de Desenvolvimento Comunitário] também, por ser do banco. Então ela tinha mais liberdade de atuação. Mas, na época, quando se pensou em fazer do Fepec uma Fundação, aí na época do presidente Camillo Calazans, falou: “Não, não vou fazer só Fepec e Fundec não, vou fazer tudo, vou fazer a área social, educacional, cultural, científica, tecnológica”, entendeu? Deu uma amplitude muito grande.

P/2 –

O Senhor conheceu o doutor Camillo Calazans?

R –

Conheci.

P/2 –

Doutor Calazans, a administração dele significou que tivessem mudanças na estrutura do banco, o senhor pode descrever como era o doutor Camilo?

R –

O doutor Camillo é um empreendedor, entendeu, ele foi diretor antes, do banco, antes de ser presidente, ele foi diretor. Mas eu não o conhecia não, conheci quando ele foi presidente e ele começou a alavancar coisas para o banco que ninguém pensava. Foi na época do doutor Camillo também que o governo resolveu tirar a conta movimento do banco. Era uma conta de recursos do governo que ficava à disposição do banco sem remuneração de juros nem nada, então esse dinheiro, o banco fazia muita coisa com ele, aplicava, aí acabaram com essa conta movimento e o banco caiu muito, ele teve de ir ao mercado concorrer com os bancos particulares e foi o doutor Camillo que falou: “Não, então vamos fazer agora a caderneta de poupança do banco”, e ele fez a caderneta de poupança. “Não, agora vou fazer o cartão de crédito. Então agora é para brigar com os outros? Então vamos brigar”, então partiu para isso. Ele era empreendedor. Agora, ele fazia e você tinha que ir arrumando a casa atrás, né, porque não dava tempo não, ele era danado, é um cara, ainda é um cara, hoje está mais de idade, né, já é uma pessoa... Mas ele ainda é uma pessoa formidável, muito querido no banco, entendeu, tem um prestígio muito grande com o funcionalismo, doutor Camilo é uma pessoa... ele fez alguma entrevista com vocês, ou não?

(P/?)_________

R – Vai fazer?

P/2 – Ele está em Campinas.

R – Ele está com bastante idade já, né?

P/1 – Isso, ele tem uma filha lá acho, né?

R – É.

P/1 – Ele vai ser entrevistado lá.

R – Que coisa boa.

P/1 – Nos próximos dias.

R – Ele vai dar uma contribuição muito grande, porque ele tem uma bagagem muito grande, né? Muito bom.

P/1 – Senhor Reynaldo, quem é que vai fundar essa Fundação? É uma pessoa que está na Fepec? Quem é que sai do banco para a Fundação nessa época?

P/2 – Complementando _______________ porque a Fundação entre 85 e 88, ela fica naquele processo de…

R – É, uma coisa é a criação e depois a implantação mesmo.

P/2 – Como se dá essa situação?

R – Havia nesse período aí, 85, que ela foi criada até... ela foi criada através de um estatuto, né, mas depois disso, nós tivemos que trabalhar em cima de regimento interno, normas operacionais, quadro de pessoal, transição Fepec e Fundec para Fundação, então como o presidente do banco era o presidente da Fundação, o pessoal achou que era fácil por causa disso, e na verdade não era. Isso tornou mais difícil ainda, porque o cargo de presidente do banco é um cargo que ocupa muito uma pessoa, a pessoa quase não pode se dedicar a Fundação, quase não podia se dedicar à Fundação. O diretor executivo da Fundação era um diretor do banco ou era um chefe de gabinete do presidente do banco, também a mesma coisa, o cara não podia ter uma dedicação integral à Fundação. Depois, vinha na hierarquia o secretário executivo da Fundação, aí sim, esse era uma pessoa que foi colocada lá para... mas com um cargo que não tinha ainda representatividade que se queria, não é hoje que tem presidentes, que tem dois diretores disponíveis integralmente para a Fundação. Então essa foi a grande dificuldade, mas como tudo que tem que acontecer vai demorando, aos trancos e barrancos a coisa saiu, demorou mas saiu, né? Levamos três anos nessa luta aí, coincidentemente também em um período em que o sistema financeiro passou por um problema sério, o banco também, por questão de rentabilidade.Teve uma época até que o banco deu prejuízo, né, então isso aí dificultou o aporte de recursos de caráter social para uma situação que, na empresa, não estava indo muito bem, na época do presidente Mário Bérard e tal, enfim, mas aí saiu a Fundação com o quadro reduzido, com toda aquela dificuldade. Os funcionários foram colocados à disposição da Fundação. É o que a gente chama de quadro suplementar. E, daí para frente, foi só se adaptar mesmo aos regimentos, às normas operacionais, e diversas pessoas passaram ali pelos cargos da Fundação, como diretores executivos, como secretários executivos. Alberto Merchede de Oliveira mesmo foi secretário executivo.

P/1 –

Só para a gente entender mais ou menos, enquanto fica tramitando essa parte burocrática da Fundação, vocês continuam trabalhando no Fepec?

R – Continuamos trabalhando no Fepec, porque tinham algumas coisas que você não podia parar de imediato e também não podia transferir para a Fundação, porque a Fundação ainda não estava a todo vapor, funcionando, então aqueles resíduos dos projetos do Fepec iam terminando, e a gente ia terminando e não aceitando mais propostas do Fepec, aguardando que a Fundação funcionasse, né? Foi uma época difícil de transição.

P/2 – Essa questão da sua ida para a Fundação... continua trabalhando com a análise de projetos?

R – Na Fundação?

P/2 – Isso.

R – Sim, mas aí eu já estava exercendo o cargo de coordenador lá na Fundação, e tinham os analistas, tinha o coordenador. Depois a terminologia mudou, na Fepec era analista na Fundação, passou a ser assessor e nós continuamos a trabalhar no mesmo... havia uma divisão, a coordenação na parte científico-tecnológico que eu trabalhei nela, depois nós absorvemos educação e cultura nesse setor, depois havia uma outra coordenação que absorveu o Fundec que era a parte de comunidades rurais, a parte social e tinha uma área também que era a área administrativa, planejamento, contábil. Essa parte era basicamente três divisões além do Fepec, três setores específicos da Fundação.

(P/1) E como é que funcionava a chegada dos projetos lá? Eles eram buscados nas universidades? Como é que fazia, quem encontrava quem, o projeto ou a instituição?

(R) Isso é muito interessante porque no Fepec a gente sempre criticava essa postura nossa de balcão, a gente ficava no balcão e só examinava os projetos que fossem apresentados ao Fepec e a gente pretendia fazer um estudo dirigido disso, não, por que a gente não faz uma análise das carências, os projetos mais carentes, os setores mais carentes para fazer? É, a gente mesmo demandar esse tipo de coisa, bom, aí chegamos à conclusão de que seria interessante consultar as pessoas que viviam criticando esse tipo de modelo de balcão. Então, nós fizemos um contato com dois pesquisadores da Unicamp, professor Amilcar Herrera e Renato Dagnino e encomendamos um projeto para eles, “olha, nós queremos... o projeto chama-se ‘Projeto Prioridades’”. Aí eles falaram: “Poxa, mas agora vocês nos botaram na parede”. Eu falei: “Bom, mas por quê?”. “Porque criticar é fácil, né, você está do outro lado do balcão”, aí eu falei “Não, agora nós vamos fazer isso aí, nós vamos eleger os setores que são importantes”. Elegemos saúde, agricultura, porque na época _____ de importação e essas coisas todas e habitação, habitação para tornar os materiais de construção mais baratos, que têm acesso à população mais carente e tal. Mas esse projeto não foi para frente, não foi porque eles mesmos não se interessaram muito em desenvolver e a pessoa do banco achou que era muita pretensão nossa querer fazer esse tipo de coisa. Hoje em dia acabou isso, hoje a Fundação que sabe, traça as prioridades dela. “Não, esse ano nós vamos fazer isso assim, assado e acabou”. Para isso tem um conselho consultivo, para isso que as pessoas têm que opinar, têm que dar a sua contribuição, mas na época não e o balcão continuou com a Fundação de uma maneira difícil de você segurar, porque vêm as interferências políticas e depois as seleções dos projetos começaram na época do presidente Collor, passaram a ser... aquilo que era prioridade para a tropa de choque era prioritário para a Fundação e isso aí teve gente que se insurgiu contra isso e eu fui um deles e por isso fui “convidado” - entre aspas - a sair da Fundação porque eu estava atrapalhando. Sai, né, fiquei dois anos fora da Fundação e depois eu voltei. Quando eles saíram da Fundação eu voltei.

(P/2) Retomando um pouquinho essa questão do balcão, ela surge desde o princípio da Fundação e foi até uma herança do Fepec e no início de 88 para 89 nós temos a construção do hospital no Maranhão, o Senhor chegou a participar _____________ que coincide também com o ________do presidente José Sarney________?
(R) Houve muita relação, né, muita relação, na verdade aquele projeto não era para ser feito no Maranhão, era para ser feito em Salvador, mas aí houve uma interferência e “não, tem que fazer no Maranhão”, aí fizeram no Maranhão e nós tentamos segurar até onde podia para viabilizar o projeto para sair. Na verdade saiu o hospital e para a gente não interessava mais se era em Salvador, se era no Maranhão, se era em São Luiz, tinha que fazer, né, ele foi feito, seguramos aquelas medidas, liberação de recursos para a construtora, para as empreiteiras e tal e foi feito com muita dificuldade, muita dificuldade. Essas interferências. Mas na época do Fepec nós fizemos até um concurso de tecnologia, foi uma iniciativa interessante nossa e eu me lembro na época, foi uma... o primeiro colocado foi um pesquisador do CTA de São José dos Campos, professor Estulf (?), ele foi o primeiro colocado, era um motor movido a óleo vegetal, motor de carro, cinco cilindros, interessante. Nós financiamos esse projeto, nós pagamos esse projeto para ele desenvolver lá no CTA, Centro Tecnológico da Aeronáutica, então algumas iniciativas davam para fazer, né? Hoje a Fundação faz concurso também em diversas áreas, não só na área de tecnologia, mas o que realmente atrapalhava eram aquelas interferências, mas aquelas interferências até hoje existem em várias entidades, não digo que na Fundação exista, mas em outras entidades a gente está vendo aí que são interferências difíceis de você brecar, difícil, por isso que é bom quando você estabelece as suas prioridades, direciona os seus recursos, porque aí você não tem esse balcão. O balcão é triste, cara apresenta lá e já manda a cópia para um deputado, um senador, então aí é que atrapalha a coisa e na época do presidente Collor que teve essas interferências grandes.

(P/2) No período Collor existiu uma intensificação do balcão e a crise em 92 chega a tal ponto que a Fundação sofre uma intervenção do Ministério Público. O Senhor já estava nesse período?

(R) Estava, inclusive essa intervenção do Ministério Público, eles queriam até que a gente assumisse a Fundação e afastasse o presidente Lafaiete da Fundação, o Ministério Público atuou com... mas aí ele não conseguiu não. Eu, por exemplo, recebi uma encomenda para apoiar um projeto de uma artista nossa, do teatro e da televisão e fui chamado lá na presidência do banco. Ela levou o projeto e o presidente do banco disse para o diretor, falou para mim “Olha, isso aí é um projeto de interesse do Presidente da República, o Presidente da República está interessado em ajudar com um milhão de dólares esse projeto dela”. Era na época da Eco 92 e eu falei: “Projeto interessante, grande, bonito. Tudo bem, eu vou levar para examinar”. “Não, agiliza lá e tal”. Aí eu chamei o pessoal da área cultural e falei: “Olha, vamos examinar esse projeto, ver se ele é viável, ver se compensa botar esse dinheiro, ver se o retorno pode ser interessante ou não”. Aí o pessoal me apertando, naquela época eu estava substituindo o secretário executivo, estava de férias, né, sempre assim, naquela época era o Andrade, Raimundo Andrade Aragão, ele estava em férias e eu falei: “Poxa essa coisas só acontecem com o substituto”. E foi isso, me apertando, me apertaram e a área cultural, os técnicos, inclusive o Jairo, o Jairo Brod trabalhava nessa época lá, ele era funcionário, analista de projeto nosso lá, ele falou “Reynaldo, isso aqui não vale não, não vale a pena não, tem tudo para não dar certo, minhas contas não batem e tal”. Eu falei “então tá bom, vamos fazer um parecer negando”. Fiz um parecer e ele disse: “Você assina”, eu disse: “assino uai, vamos lá”. Fiz um parecer, assinei e levei para o diretor da Fundação, aí ele olhou e ficou muito espantado, isso era sexta-feira, tipo nove horas da noite, que era o horário que a gente tinha para despachar com ele. Ele disse: “Mas você não sabe que o Presidente da República dá esse dinheiro para...”. Aí eu disse: “Sei, mas o Presidente da República não tem compromisso nem com a Fundação, nem com o banco. Ele é Presidente da República, mas depois ele não é e nós temos compromisso, então a minha opinião é essa. Agora, se ele quiser dar, o Presidente bota aqui um despacho”. E deram o dinheiro, foi um fiasco danado, entendeu, inclusive na prestação de contas sabe? Foi um desastre, mas vai fazer o quê, aquilo que o Presidente dá, quem pode, quem tem a caneta. Mas nós estamos com a consciência tranquila de que nós não rolamos a bola para ninguém chutar, na verdade, né? Mas quando no Fepec na Fundação aconteceram coisas mais interessantes e hoje o saldo é positivo e hoje você olha assim e fala: “Poxa!”. Mas... até você fica surpreso com certas coisas. Ontem eu estava em um restaurante, pedi um adoçante para tomar um cafezinho e o cara me trouxe um adoçante de Stevia, que foi um projeto que nós desenvolvemos em Maringá, no Paraná. Eu falo: “Poxa vida, isso faz quanto tempo?” Faz 15 anos que nós fizemos isso, hoje eu estou comendo aqui o produto que foi desenvolvido com os recursos da gente.

(P/1) Teve algum outro projeto que o senhor teve orgulho, o senhor já citou aqui alguns, mas algum outro projeto que tenha mais ______ e que até hoje o senhor acompanha?

(P/2) Uma atuação mais aproximada?

(R) Bom, na área de saúde tem essas vacinas contra sarampo e poliomielite. Nós fizemos também um laboratório para a Fundação Oswaldo Cruz para a febre amarela. O próprio Incor [Instituto do Coração], nós colocamos equipamentos lá na época do próprio Doutor Adib Jatene, que era o diretor do Incor. A Fundação do Fígado, do Doutor Silvano Raia, nós demos uma ajuda muito grande para desenvolver aqueles trabalhos de transplante de fígado, de medula óssea também, no Hemocentro de São Paulo. Na área industrial o avião Tucano que é fabricado pela Embraer, o simulador de vôo, fomos nós que financiamos o dinheiro para o CTA fazer o simulador de vôo, até eu andei no simulador do Bandeirante quanto eu fui lá ver o projeto que a gente estava acompanhando. Muito interessante o simulador e hoje o Tucano está aí, é um sucesso, vendendo para... tentando vender para a Venezuela, mas os Estados Unidos não quer deixar (risos) , mas é interessante, então esses projetos todos assim. Tem indústria de hidrelétrica em pequenas quedas d'água que nós fizemos, o Instituto de Pesquisa Tecnológica de São Paulo, foi transferida essa tecnologia para empresa que fabrica. Enfim, eu sempre falei no Fepec, conversando, mesmo projeto de pesquisa que não dê certo é interessante porque ele indica um caminho que você não deve seguir mais. Você já tem na referência bibliográfica, olha por esse caminho, usando essa metodologia não dá certo, porque já tentaram. Agora, tem o lado pitoresco das coisas, porque o cara chegou aqui de posse dizendo que tinha o segredo da vacina contra a Aids, falei: “Pô, o que é que é isso, bicho, maluco o cara”. O cara: “Não, por que?”. Você atende, deixa o cara, vai lá no banco, apresenta a proposta, desse jeito. Uma vez chegou um camarada lá querendo construir uma geladeira com um motor que contrariava toda essa tecnologia de refrigeração, né, mas o cara tinha uns desenhos assim, era um pesquisador, mas por conta própria, né, eu falei: “Descartar o cara aqui, já pensou você tem um ovo de Colombo aqui, esse negócio aí não vamos descartar. Aí o que nós fizemos? Levamos-o lá na PUC Rio, ele morava ali perto, no Departamento de Engenharia da PUC, mostramos para o pessoal e o pessoal falou: “Vamos tentar e tal”, aí ele ficou agregado lá no laboratório da PUC para desenvolver o projeto. Foi a forma que a gente encontrou para dar um embasamento científico, o respaldo científico para ele também. Essas coisas a gente fazia com muita satisfação, hoje a gente fala, esses microcomputadores cada vez menores, quando a gente começou a financiar isso lá no laboratório de sistemas integrados da USP era um caixote desse tamanho, um negócio grande e a gente tinha um contato com um professor lá, João Antonio Zuffo, um especialista na área. Então todo esse relacionamento nosso com a comunidade científica era muito interessante, isso para a gente era muito interessante.

(P/1) Vocês iam muito a campo, visitar os projetos?

(R) Íamos, mas nós não íamos tanto quanto precisava, até porque tem o problema do dispêndio também, né, a gente ficar viajando para lá e para cá, mas a gente ia sim, fazia um revezamento, cada um ia para um lado e quando ia já ficava uma semana e visitava logo dez projetos de uma vez, quando permitia isso as cidades.Os centros mais demandados eram o Estado de São Paulo,capital, São Carlos, Ribeirão Preto e Campinas e Florianópolis. Fortaleza, tinha muita coisa, Recife. Projetos de Recife também interessantes, projeto de merenda escolar no laboratório de nutrição da Universidade Federal de Pernambuco. O professor achou que tinha que distribuir o biscoito para a criança quando ela entrasse na aula, não esperar tocar o sinal para a hora do recreio, do lanche, porque a criança já vinha com fome de casa, não conseguia aprender nada, mas o que me chamou mais atenção, achei muito interessante, foi um projeto que nós recebemos, um balcão, projeto da Universidade Federal do Maranhão. Eu fui olhar o projeto, o pesquisador é aposentado da USP de Ribeirão Preto, um cientista, Warwick Estevam Kerr o nome dele. Naquela época a gente tinha o cuidado, pedia muito esclarecimento, baixava muita diligência, aquela coisa toda. Ele queria desenvolver um projeto lá e também em Fernando de Noronha com abelha, criação de abelha, porque Fernando de Noronha se você colocasse abelha lá não dava para misturar com as daqui, é só pura mesmo, porque daqui não chega lá.Eu fiz uma carta de duas páginas perguntando uma porção de coisas, aí o professor respondeu o seguinte: “Olha, se eu soubesse responder todas essas perguntas, ou eu seria um charlatão ou já tinha feito o projeto.” Falei: “Mas que cara desaforado, rapaz! Vou lá conversar com ele.” Peguei um técnico do CNPq que fazia uma parceria com a gente, os técnicos do CNPq examinavam a parte científica e tecnológica para a gente e a gente só a financeira, né, cada macaco no seu galho para não... Aí nós fomos lá conhecer o professor, ele nos recebeu no aeroporto, nós fomos para a casa dele, olha, uma pessoa formidável, sensacional. Ele fazia experiências na periferia de São Luiz para misturar legumes e verduras que tivessem mais condições de vitaminas para a população carente, porque ele fez uma pesquisa lá, os alunos não aprendiam porque não enxergavam no quadro por falta de vitamina A, entendeu, então ele começou a desenvolver esse experimentos e esses produtos e a senhora dele fazia a embalagem e ia na feira para oferecer para as pessoas comprarem. Chamavam a pessoa para vender para ela na feira, quer dizer, aí ele instituiu um prêmio lá para a garotada: “Quem trouxer a maior criação de patos daqui a seis meses eu dou um prêmio”, mas sabe para quê o pato? Para comer o caramujo para não dar esquistossomose, então quer dizer, são soluções tupiniquins que na época ninguém sabia disso, né, para que isso e ele não, ele lá, batalhando. Aí eu perguntei o que ele foi fazer lá, falei: “Professor o que o senhor veio fazer aqui em São Luiz do Maranhão? O senhor lá de Ribeirão Preto?” Ele falou: “Não, porque eu aposentei lá e eu não vou ficar em casa arrastando chinelo não, eu vim para cá porque eu sou útil aqui.” Aí chegou lá e montou um laboratório de genética, ele era um dos maiores geneticistas do mundo, entendeu, conhecido no Japão, ele não era conhecido no Brasil mas era conhecido no Japão e ele foi para lá para fazer isso. Quando você conhece uma pessoa dessas é muito gratificante, né rapaz, e tinha idade, não era novo não, tinha mais de 70 anos, estava lá batalhando, tentando melhorar a faculdade, a universidade.

(P/1) O que vocês financiaram para ele?

(R) Nós financiamos esses experimentos de cruzamentos de legumes e o negócio da abelha em Fernando de Noronha, criação de abelha pura. Ele tinha várias colméias na casa dele, quando eu cheguei lá ele falou: “Olha, não se assusta não, eu vou assaltar aqui, mas elas não mordem não”, porra, aonde é que eu vim parar, o cara abriu lá bzzzzz, daqui a pouco elas zum, recolheram, isso na casa dele e o técnico do CNPq comigo, né, o Dedivaldo: “Reynaldo, estamos vendo cada coisa aqui que eu vou te contar, viu.”(risos)

(P/1) Mas assim, quando o Fepec vai para a Fundação e lá ele se propõe a atuar em outras áreas, há uma certa diluição dos recursos, né, como é que foi isso?

(R) Sim, isso prejudicou a parte científico-tecnológica, prejudicou porque ela era um fundo que tinha 20 pessoas trabalhando, 25, passou a ser um setor da Fundação com 6 pessoas, 7 pessoas, então a produtividade caiu, os recursos, como você mesmo disse, para fazer o orçamento era uma briga danada, para fazer o orçamento para a área social, tecnologia, educação, cultura, desenvolvimento comunitário, né, então não foi fácil não, houve um prejuízo sim.

(P/1) Havia uma espécie de aproveitamento dos recursos, dos projetos desenvolvidos pela parte científico-tecnológica para a área social, havia essa preocupação de haver um diálogo entre os projetos?

(R) É, essa era a grande motivação nossa, que nós pudéssemos pegar um projeto já desenvolvido ou em desenvolvimento e aplicar e para isso a gente poderia ter uma experiência com o próprio Fundec, que era de desenvolvimento comunitário, atendia pequenas comunidades, mas era muito difícil fazer isso. Muito difícil porque às vezes uma pesquisa desenvolvida em São Paulo não quer dizer que vai beneficiar a população de São Paulo. O IPT [Instituto de Pesquisas Tecnológicas], por exemplo, realizou diversos experimentos lá com materiais de construção, mas que era para ser aplicado lá no Nordeste, na Amazônia, com o aproveitamento da vegetação local e coisa... Mas a gente tentava fazer isso, mas era muito difícil conciliar esses interesses lá em uma comunidade... Biodigestor foi uma coisa que foi feita em várias cidade pequenas, comunidades rurais, né, essa parte de eletrificação também. A eletrificação rural já veio entrando, a energia solar já não estava atendendo muito bem, a eólica muito menos, entendeu, então algumas coisa se aproveitava, outras não.

(P/2) A diminuição do Epec que já foi citada por alguns entrevistados _________________, como que o senhor vê isso?

(R) É, foi porque a comunidade científica acredita naquilo que ela faz e a gente se propunha a fazer e eles sentiam um interesse nosso em ir lá na faculdade discutir projetos com eles. Eles iam às vezes à Brasília, não vinham muito porque Brasília não é um local que eles visitam muito, a comunidade científica, mas eles acreditavam na coisa que era feita sem interferência política, difícil. Eu não me lembro de nenhum pedido de político para atender na área de ciência e tecnologia, eu não me lembro, agora, na área social, educacional, cultural, aí meu filho, sai de baixo, né? Por isso que a comunidade sentiu muito isso, porque ela vira lá, minimizou o Fepec, criou-se uma Fundação e agora as interferências lá são políticas, quer dizer, eu vou ter que agora arrumar um senador, um deputado para pedir para mim? É ruim, muito ruim, mas foi um baque para eles, né?

(P/1) O que o senhor considera maior desafio dessa época, do início da Fundação até 92, qual foi o grande desafio?

(R) Olha, o grande desafio foi a gente tentar implantar um tipo de trabalho na Fundação que ficasse imune à essas interferências. A gente procurou cercar de todos os lados, via conselho consultivo, via conselho técnico, mas era uma época que não dava para mostrar claramente, senão podiam até acabar com a Fundação e para não ter um revés desse aí era melhor a gente ir tocando devagarzinho, sempre na esperança que vai mudar, o governo vai mudar, não é, como mudou, mas nós pagamos muito por isso, né, foi um ônus muito grande. Então o desafio era aquele, fazer um trabalho que pudesse ser tanto quanto possível técnico, bastante técnico, não quer dizer que o trabalho, o projeto, o resultado, não possam interessar uma classe política, podem interessar sim, mas não que ele seja o grande autor do projeto, o grande alavancador de recursos, isso não dá, não dá para fazer.

(P/2) Após ___________________________________________esse período da criação o senhor entrou na tropa de choque. A tropa de choque seria aquele grupo que estava empenhado em segurar a ___________________.

(R) Collor, é, exatamente.

(P/2) Após essa saída do Collor ________________________ saída da Fundação Banco do Brasil o senhor foi alocado em qual área do banco?

(R) Eu voltei para o banco, fui alocado no gabinete da presidência. Você diz: “mas pô, o seu problema foi…” Eu fui para uma área que não tinha interferência alguma com nada, era uma ilha aquilo ali, se chamava comissão de recursos, era uma área disciplinar. Todos os funcionários que eram punidos pelo banco tinham o direito de recorrer administrativamente a essa comissão de recursos, era formada por cinco pessoas e aí a gente examinava aquele recurso do funcionário, recurso administrativo, se tinha sentido ou não, cabia rever a pena, reduzir, cancelar, a gente só não agravava. Agravar também não era a nossa função, então eu fiquei lá dois anos nisso, aliás, um trabalho muito difícil, para você receber pessoas que são punidas pelo banco, colegas seus, chegam lá e expõem aquelas dificuldades, aquelas coisas.

(P/2) Dava saudades da Fundação.

(R) Poxa, como dava. Eu fiquei dois anos (risos), como dava saudades, dois anos e meio lá, dava muita saudade, até porque eu não tinha nada a ver com aquele negócio de disciplina, né pô, eu nunca trabalhei nessa área de disciplina do banco. Fiquei de 79 a 92, 13 anos mexendo só com projetos nessa área de ciência e tecnologia e era realmente aquilo que eu gostava, né? Você sabe que nós fizemos um negócio muito interessante no Fepec, nós abrimos uma concorrência para os funcionários do Banco no Brasil inteiro que tivessem uma formação acadêmica na área de ciência e tecnologia, porque nós sentimos essa dificuldade de mesmo com a ajuda do CNPq, a gente relacionar com o pesquisador também, porque é um cara difícil, um cara complicado, não é nenhum normal. Pesquisador é um cara formidável, mas é quase um extraterrestre, quase, fica ali naquela faixa, então foi muito interessante, nós fizemos essa circular e as pessoas se cadastravam, mandavam currículos para a gente, em função disso, a gente trazia essa pessoa para cá, fazia um estágio aqui, né, aí a pessoa via se queria ficar em Brasília ou não. Uns ficavam e outros não, mas as experiências mais interessantes foram as seguintes. Nós pegamos e levamos para o Fepec para trabalhar como analista de projetos nossa uma funcionária da agência central que era formada em química na UNB (Universidade de Brasília). Foi para lá, colocamos ela para trabalhar em projetos da área de saúde. Veio uma funcionária lá de Copacabana, ela como caixa na agência em Copacabana com pós-graduação em sensoriamento remoto na Holanda, ela veio, ficou conosco, mas aí aquela história, a família está no Rio, coisa e tal, voltou, mas deu sua contribuição, certo. Veio outro também graduado na COP (?) Rio, engenharia, esse veio, está trabalhando aqui em Brasília no Ministério da Fazenda, trabalhou comigo no Ministério da Fazenda, pós-graduado em engenharia e está trabalhando no Ministério da Fazenda. Pegamos essas coisas assim, muito interessantes, né, foi uma experiência muito boa e que de uma certa forma valeu porque enriqueceu nosso trabalho porque quando a gente participava de exposição e feira, a gente chamava também para eles comparecerem e irem lá conversar com os professores e tal, foi muito interessante.

(P/1) __________Senhor Reynaldo, nessa época de início de Fundação, quem o senhor destacaria?

(R) Como colega?

(E/) Colegas, isso.

(R) Tem muitos, eu posso até cometer uma injustiça aqui de não lembrar (risos). Mas tem umas pessoas muito interessantes, tipo, eu tive um diretor da Fundação, Luiz Reginaldo Lima, uma pessoa muito séria. No Fepec, o Luiz Gonzaga Campos da Eira me inspirou bastante, foi um exemplo para mim de trabalho. Na Fundação eu tive companheiros formidáveis, o Francisco mesmo, Chicão da Fundação, Francisco de Assis Machado Santos, o Onório, Zé Onório da Silva trabalhou comigo muito tempo, o Jacques Pena Gonçalves, Márcio Ladeira que foi analista nosso, o Jairo Brod, o Jairo é um cara formidável, o Merchede, Alberto Merchede, apesar de ter ficado pouco tempo o Merchede foi uma figura interessante. Hoje tem muito pouca gente lá, eu estava falando para o Jacques Pena, né, quando ele foi, almoçamos aí eu falei: “O Jacques, você... eu tenho três ou quatro conhecidos na Fundação e até gostaria que você os procurasse para ter uma base boa da Fundação e tal”, pessoal que foi da minha época. Falei do Alfredo, do Chicão para ele e tal e ele não se arrependeu não, outro dia ele me ligou e falou : “Pô, Reynaldo, valeu aquela indicação sua e tal”, até foi no dia da comemoração lá dos 20 anos lá na Academia de Tênis, nós tivemos lá.

(P/2) Eu estava lá nos bastidores.

(R) Estava lá né?

(P/2) Pesquisando ali, perguntando.

(R) O doutor Siqueira também foi uma pessoa interessante, Luiz Fernando Duarte Siqueira, Maurício Teixeira. Maurício esteve aqui.

(P/2) Siqueira também.

(R) Siqueira também esteve? Siqueira é uma figura, né, Siqueira é uma figuraça, o Maurício Teixeira também foi muito bom. Maurício até também fez um curso comigo de MBA lá em Administração, na Coppead, mas ele era da Fundação e eu estava lá na Recur, nesta Comissão de Recursos e ele era diretor da Fundação.

(P/1) O Senhor falou que teve um curso que vocês fizeram antes de agregar ao Fepec, como foi esse curso, quanto tempo durou?

(R) Ah, esse curso era um curso de análise de projetos, Elaboração, Avaliação e Análise de Projetos, era promovido pelo Ipea [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada] do Ministério do Planejamento e a duração era assim de quatro meses, intensivo, eu ficava à disposição do curso, oito horas por dia de aula e foi um curso muito interessante para a gente que era da área de análise de projetos. O banco forneceu todos os elementos para a gente aprimorar, né, treinamento, essas coisas, hoje é muito maior, também a oferta de cursos hoje é fantástica, você tem que escolher a melhor, porque antes você tinha que procurar, ir atrás, encomendar cursos. Fizemos mesmo um curso de análises de projetos de ciência e tecnologia, encomendamos da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, só para o pessoal do Fepec, aí foi uma semana, dez dias, um intensivão assim, extensão, né?

(E) O senhor comentou que durante a saída para a Comissão de Recursos, bateu aquela saudade da Fundação, como é que foi o retorno para a Fundação em 1994? Como é que isso aconteceu?

(R) Havia um sentimento, modéstia à parte, de que eu fui injustiçado, até o Jacques Pena que era presidente da Fundação e presidente do Sindicato dos Bancários, ele foi o cara que botou no boletim mesmo do Sindicato que eu estava resistindo, que eu fui tirado da Fundação porque eu estava resistindo compactuar com os pedidos do Lafaiete Coutinho e tal. Bom, aí eu fui lá para a Recur, Comissão de Recursos, fiquei quieto lá e depois que mudou, saiu o Lafaiete, entrou o Caliare e o chefe de gabinete do Caliare foi o Doutor Siqueira, Luiz Fernando Duarte Siqueira, que tinha trabalhado na Fundação antes, que tinha sido meu chefe lá. Ele falou: “Reynaldo, está na hora da gente resgatar um pouquinho dessa injustiça aí e tal, o que você acha?”. Falei:

“rapaz, é comigo mesmo”. Falou “Não, pode deixar, que a primeira chance lá e tal, você se incomoda de voltar lá para o mesmo lugar, para o mesmo nível?”, “de jeito nenhum, vou voltar para o mesmo lugar”. Aí voltei e ele que proporcionou isso aí, o Maurício Teixeira era o diretor, concordou com o meu retorno para lá. Na verdade o Maurício que devia indicar, mas o Siqueira falou com ele: “Tem algum problema, Maurício?”, “Não, de jeito nenhum, conheço o Reynaldo, tal, não sei o quê e blá blá blá”, aí voltei, deu esse retorno foi assim, quer dizer, foi um negócio bem... Para mim foi muito bom, para mim foi ótimo, voltei com toda a vontade de... Mas aí eu fui impedido pelo governo, né, porque o governo começou com a ameaça do Fernando Henrique entrando o Reinhold Stephanes que ia ser o Ministro da Previdência Social, de começar a baixar uma medida provisória. A conversa era essa, medida provisória suspendendo temporariamente qualquer pedido de aposentadoria até que se reveja aquele assunto do INSS [Instituto Nacional do Seguro Social]. Aí eu consultei o Doutor Siqueira, que era chefe do gabinete do Presidente e falei: “Pô, conversa com o presidente e vê se ele me garante que isso não vai acontecer”, ele falou: “Olha Reynado, o Galhare (?) falou que não garante” (risos). Bom, o nível de informação dele é muito melhor do que o meu, vai depender do banco, se o cara não garante, eu vou me garantir? Eu não, pô, eu tinha 31 anos de banco, podia me aposentar, falei: “Ah, lamento profundamente mas eu vou embora, né?

(P/1) Como é que o senhor encontra a Fundação nessa volta? O que tinha mudado depois que o senhor voltou lá?

(R) Ah, tinha mudado muita coisa, a Fundação estava agora com diretor exclusivo, então tinha uma pessoa de respaldo, o Maurício Teixeira que foi diretor do banco depois, então um prestígio muito maior, podia se trabalhar com mais autonomia. Estava localizada realmente fora do banco, não é mesma localização, era fora, enfim, estava muito bem, tinha já conselho de crédito, a gente decidia as coisas no conselho, o Maurício gostava muito de fazer esse tipo de trabalho em conjunto, de

conselho e tal. Quando eu voltei achei ela melhor do que quando eu sai, ainda bem, né, ainda bem.

(P/1) Em termos de projeto, de aplicação mesmo, o que o Senhor…

(R) Quando eu voltei?

(P/1) Sim.

(R) Os projetos de ciência e tecnologia estavam muito reduzidos. Quando eu voltei o enfoque maior era para o social mesmo. E o Fundec sempre teve uma atuação bem forte, mas os projetos da área de ciência e tecnologia estavam bem reduzidos e eu até não gostei e falei: “Poxa gente, vamos incrementar um pouquinho mais essa área aí”. Até na distribuição do orçamento, né, mas aquela história, o professor também, a comunidade científica perdeu um pouquinho de relação com a Fundação quanto terminou o Fepec. Então essa história, é difícil você contornar isso, mostrar a sua cara. “Não, e estou aqui novamente”, né, “estou à disposição”, mas o enfoque não é esse mais, o enfoque é encomendar coisas, encomendar projetos.

(P/2) ___ Maurício Teixeira________________________ reverter aquela imagem da Fundação em 94 aquele, que segundo o próprio Maurício, ela volta ao trabalho. Alguns projetos tiveram muita atenção, o projeto Senec (?) e o projeto Bandas, o senhor chegou a acompanhar ou participou de algum desses projetos?

(R) Participei do Bandas.

(P/2) E como é que foi essa... Muita saudade.

(R) Muito interessante. Esse projeto sacudiu a turma do interior, das pequenas comunidades e o Senec também, né, o Senec também era um projeto interessante. Mas o da Banda foi muito interessante, o que tinha de constituição de Banda por aí era fantástico.

(P/2) O Senhor chegou a ir a alguma inauguração?

(R) Não, não cheguei a ir não, rapaz, não deu tempo de pegar, sabe, porque quando eu retornei fiquei só três meses, eu aposentei, então não deu tempo de aproveitar projetos desse tipo. A gente fazia também as cozinhas comunitárias, sabe, fizemos muita coisa. Só no interior mesmo, aquele interiorzão ”brabo” mesmo, aquelas associações de moradores e tal, faziam os pedidos para a gente para montar essa cozinha comunitária e tal, aí montamos.

(P/2) Como o Senhor avalia o papel da Fundação no movimento social do país?

(R) Eu acho que a Fundação, quando foi criada, a gente sempre pensou que ela realmente fosse o braço social do banco, né, o braço social do banco é por ali e hoje eu acho que ela... A gente quando sai um pouquinho da Fundação perde um pouquinho o contato com... A gente vê que é pouco explorado na mídia, podia ser mais aproveitado, eu acho que o próprio banco podia ser melhor aproveitado. Eu não sei se falta de verba para publicidade mesmo ou então cobrar das instituições beneficiadas a divulgação disso aí, porque nós tínhamos no contrato, na minha época lá do Fepec e também da Fundação, a obrigatoriedade de você citar a fonte de recursos, mas aí a mídia não permite, o professor fala e a edição corta o nome do banco (risos) então como é que faz, né? Mas eu acho importante que ela ainda é uma instituição que tem um nome e pode atuar muito no desenvolvimento social tanto no interior do país quanto na periferia das grandes capitais, das grandes cidades, tem força para isso, tem a capilaridade da _____ do banco, né, que pode ajudar bastante então em mecanismo para fazer. E tem vontade política também, hoje pelo ao menos tem, acho que é só consolidar isso mesmo.

(P/1) Nessa época, senhor Reynaldo, como é que era o papel das agências, dos funcionários do banco com a Fundação? Havia uma dependência maior por ser atendimento de balcão, como que funcionava isso?

(R) Essa era a grande dificuldade nossa, sabe que os funcionários das agências, alguns entendiam o trabalho, a importância desse trabalho, outros não, sabe? E a maioria das vezes o gerente tinha aquelas metas para cumprir, os funcionários também, então o trabalho da Fundação era um trabalho marginal, então “eu vou fazer esse assunto da Fundação quando acabar o meu serviço”, “eu vou encaminhar a minha proposta quando acabar o meu serviço”, entende? Sempre ficava de lado e ele atuava também na prestação de contas, naquele exame da prestação de contas junto à instituição e isso dava trabalho e não entendendo o sentido do trabalho, ficava ruim, ficava difícil a gente cobrar do funcionário lá, primeiro que a gente era da Fundação, o cara era do banco, aí vinha: “ah, aquele cara da Fundação vem me cobrando isso e aquilo outro e tal”, chato, né? Não era muito legal não, sempre dificultou, mas como a gente tinha que usar as agências mesmo, o que ia fazer? Não é? Era o jeito, tinha que ser por ali.

(P/2) Qual a fase que o senhor vivenciou mais marcante na Fundação Banco do Brasil?

(R) Mais marcante? Em termos de projetos interessantes?

(P/2) Na sua vida_________________.

(R) Marcante mesmo foi a dificuldade que nós tivemos de resistir à 92, isso foi marcante, isso aí foi um negócio que desgastou muito a gente. A gente estava se desgastando até entre os próprios funcionários, isso gerou um clima, um astral muito difícil, isso foi uma época que marcou muito, mas teve outras também. É aquela história, se puser na balança vai compensar, né, eu me lembro que, agora me ocorreu um fato muito interessante, que uma vez eu estava assistindo um programa de televisão que era aqui em Brasília e que dava

conta de uma corredora de Sobradinho que ela tinha três tênis velhos e um ladrão entrou na casa dela e roubou os três tênis dela. Era uma corredora maratonista, de cinco mil metros, dez mil metros, aí o diretor até me chamou e “Reynaldo”... Edmar da Costa Barros, “Reynaldo, você viu o jornal hoje, meio-dia, agora, uma hora?” eu falei “Vi, o negócio da corredora lá, é, rapaz...” Carmem de Oliveira. Ele falou: “A gente pode fazer alguma coisa por ela”, eu falei “Pode uai, podemos patrocinar, ela é corredora e parece que está correndo direitinho aí e tal, não tem nenhum problema”. Ai eu liguei para o gerente lá de Sobradinho, do Banco do Brasil e falei “O senhor viu a notícia aqui e tal?”, “Ah, conheço ela, mora aqui pertinho e tal, a Carmem, ela tem o técnico dela aqui também, o Sena”. Aí pensei: “Se o Sena correr igual ao outro também ela vai ser campeã”. Ela foi lá, nós preenchemos a proposta para ela assinar, patrocinamos a Carmem e ela acabou ganhando a São Silvestre. Rapaz, depois que ela ganhou a São Silvestre o banco patrocinou ela, sabe? Pegou ela da gente (risos). Era sempre assim, a gente patrocinava, o cara começava a dar certo, o banco pegava, mas tudo bem, o papel nosso era esse, mas foi um negócio interessante, quer dizer, nós tivemos que ir atrás pela notícia, a gente não conhecia, o gerente de Sobradinho só veio a lembrar disso porque passou na televisão também, porque não falou isso antes para a gente? Precisou roubar três tênis para ter sorte e conseguir um patrocínio. Essas coisas não podem acontecer por acaso, tinham que ser um trabalho mais de observação do atleta aqui e essas coisas todas, mas eu acho que a Fundação podia apoiar mais o esporte também. Acho o esporte, o atletismo principalmente, atinge muito a classe menos favorecida, acho que o pessoal está acostumado a correr para dar conta dos problemas (risos), mas eu acho que aí tem outra coisa também, é que tem patrocinadores institucionais, do próprio governo, Caixa Econômica, Correios, mas não custava nada a gente atuar também um pouquinho, né? Precisava, nas pequenas comunidades, tem o projeto também, a Fundação e o BB fizeram uma parceria interessante, né, o BB Comunidades, muito interessante a capilaridade das BBs também.

(PAUSA)

(P/1) O senhor estava lá no início dele?

(R) Estava, acho que estava, o BB Comunidades acho que estava sim, não me lembro agora não.

(P/1) Senhor Reynaldo, como é que era o clima de trabalho dentro da Fundação? Tinha mais ou menos quantos funcionários?

(R) Olha, eu nunca tive problema nenhum com funcionários da Fundação, nem com superior... com superior às vezes, né, por causa desse tipo de... mas para baixo não. Agora, também não sou muito difícil de relacionar não, sabe? Eu sou um cara muito extrovertido, gosto de brincar com as pessoas e tal, eu sempre achei o ambiente bom, sempre achei, nunca vi nada que pudesse colaborar para dificultar o ambiente não, aquela choradeira de sempre, aquele negócio de salário, greve, quem faz greve e quem não faz, mas isso aí é natural, né? Aquilo ali não, todo mundo chora o mesmo salário, reclamar do quê, né?

(P/2) Muita gente comentou aqui que o funcionário da Fundação parece que veste a camisa de verdade, que ele tem um carinho muito especial pelo recurso que ele está aplicando, ele fica muito apreensivo, é como se fosse dele, o senhor concorda com essa…

(R) É, concordo, concordo em partes, porque nós tivemos uma época lá que o negócio foi um pouco perdulário, né, mas de um modo geral sim, eu acho que a gente sempre se preocupava com isso, muito, se preocupava muito, até porque se não aplicasse bem, os recursos podiam se esgotar, né? Então, a gente sempre fica dependente daquele aporte de recursos do banco que poderia vir ou não, dependia do resultado da instituição, então a gente fazia tudo para que a coisa fosse a mais parcimoniosa possível. Até porque críticas do próprio pessoal do banco poderia... ele é o nosso patrocinador, né, não podia também a gente dar margem para esse tipo de coisa.

(P/1) Qual é o significado para o senhor de ter participado de vários projetos que tiveram uma contribuição para a melhoria do Brasil como um todo? O que isso significa na carreira do senhor, na sua vida?

(R) É, eu até falei que a gente trabalhava lá com muita satisfação, não só pelo tipo de trabalho, pelo que a gente estava já tentando saber o que ia acontecer no futuro, né, isso nos dava uma chance muito grande de você participar. Hoje eu acho o seguinte: eu me sinto confortável, bastante confortável, entendeu e falo: “olha, trabalhei no setor durante 13 ou 14 anos, dei a minha contribuição para isso e me sinto bastante reconfortado com isso, nunca reclamei de nada, mesmo aquelas coisinhas que aconteceram lá, porque hoje eu falo coisinhas, mas na época tinham uma dimensão maior e eu sinto muito orgulho de falar, sabe, sinto mesmo, sinto orgulho de falar que participei, que aquele ali eu conheço, aquilo ali nós participamos, fizemos amizades, grande amizades. Não é que hoje a gente se sai um pouquinho, mas que ficam. Coisa de uns dois anos mesmo eu encontrei com um pesquisador lá da Fundação Oswaldo Cruz que me reconheceu: “Reynaldo” e tal, no Ministério da Saúde, ele estava em uma solenidade lá. “O que você está fazendo?”, aquela história, enfim. Até porque o banco estava me pagando bem, né, me pagando em dia, a obrigação era trabalhar, agora, como resultado, eu achei fantástico, diferentemente de você trabalhar em uma agência e depois ir embora, não é? Você trabalhou, trabalhou, agora você não esteve muito próximo do que estava acontecendo hoje aqui. Você ver que você participou, que você deu a sua colaboração, é fantástico, eu acho que é um trabalho fantástico, quem tem condições de continuar na Fundação, que continue né, eu sempre falo lá que a gente não sai daqui não, fica aqui, o banco está tão difícil hoje, bradescalizou tanto (risos), que…

(P/2) O pessoal do dia a dia, o Chicão, o Alfredo, sempre comentam que depois do expediente na sexta-feira o pessoal ia para um barzinho no setor bancário para conversar e tomar uma cervejinha, o Senhor participou alguma vez?

(R) Muitas, (risos) muitas vezes.

(P/2) O senhor lembra do nome lá?

(R) Rapaz, como é que era o nome ali... não era setor bancário não.

(P/2) Ali na Avenida do Planalto o senhor está falando.

(R) Não, eu estou falando aqui no setor comercial, setor comercial sul.

(P/2) Isso, setor comercial sul, um trailerzinho…

(R) É, um negocinho, tinha um toldo, rapaz, tinha um tira-gosto lá, eu participava, o Chicão, Alfredo, Artur, Onório, quem mais? Bem, sexta-feira era o dia, né, pessoal saía para tomar uma, interessante, né, até isso muda (risos).

(P/1) Engraçado é que nessa época, parece que a participação do quadro de funcionários era bem masculino, né?

(R) Muito, muito masculino, quando eu voltei eu fiquei horrorizado, falei: “Mas rapaz, só tem mulher trabalhando aqui”, não conhecia direito as meninas lá. Quando eu saí tinham poucas, três ou quatro, Cristina... Cristina já deu depoimento aqui, Cristina?

(P/2) Cristina Souto Maior.

(R) É.

(P/2) Sim.

(R) Cristina Souto Maior, arquiteta ela. Germana, a Raquel... A Raquel não, a Raquel saiu, né, tem a Conceição que também saiu, aposentou.

(P/2) A Estrela!

(R) A Estrela, a Estrela foi eu quem levou ela para lá, ela trabalhava na agência da ____________. A Estrela está lá até hoje, né? É isso mesmo, faz tempo que eu não vou lá, quer dizer, visitar lá assim, mas não tem tempo nem para trabalhar, vai lá para atrapalhar os outros, tem que ser na hora do almoço (risos).

(P/1) Mas aí o senhor sai da Fundação e vai para o Ministério da Fazenda, como é que foi essa diferença assim?

(R) Não, porque eu fiquei oito meses sem fazer nada, ai o “Jaque”: “Já que você está em casa”, “Já que você não faz nada”, “já que você está aposentado”, então vira motorista de menino, eu falei: “Não”. Espera aí pô, o “jaque”, eu falei: “não, vou fazer o seguinte, tem que trabalhar e tal”. Aí eu estava cansado de não fazer nada mesmo, porque esse negócio é ilusão sabe, você fala: “ah, vou aposentar e vou viajar”, vai nada, não vai. Primeiro que você não vai ficar o dia todo viajando, o dinheiro acaba, segundo, vai viajar sozinho? Minha mulher trabalha, como vai viajar sozinho? Então isso aí já era... Então o Braga, que trabalhava comigo no Fepec, o João Braga, ele estava na Fazenda, “Pô Reynaldo, o que você está fazendo?”, “Nada!”, ele: “Você não quer vir para cá não?”, eu falei: “Ué, fazer o que aí?”, “Ah, aqui tem análise de projetos para fazer para a área econômica, acompanhamento econômico, estou mexendo com plano de saúde”. Eu falei: “‘Ixi’ Maria, vai ser comigo mesmo”. Fui para lá, fiquei lá dois anos.

(P/1) O senhor vai para o Tesouro…

(R) Não, aí eu fui indicado para ser conselheiro lá na Dataprev [Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência], porque o Ministério da Fazenda, através da Secretaria de Tesouro Nacional, tem um assento no conselho fiscal da Dataprev, é um do Ministério da Previdência, outro do Tesouro Nacional e outro da própria empresa. Eu fiquei três anos lá como conselheiro fiscal e também fui convidado pela Previ [Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil] para ser conselheiro na Gazeta Mercantil, porque a Previ tinha uma parte da sociedade da Gazeta Mercantil, aí eu fiquei três anos também na Gazeta Mercantil.

(P/1) Que é um jornal de público bom no país.

(R) É, atua na área econômica, né? Bancária, econômica, tal. Mas eu saí do Ministério por uma questão de ética também, porque eu falei: “Poxa eu estou aqui no Ministério e conselheiro da Gazeta, qualquer notícia que sair na Gazeta que tinha um furo de reportagem sobre o Ministério, vai dizer que fui eu que vazei a notícia”. E também para trabalhar o dia inteiro para ser conselheiro de três instituições não vale a pena também, né?

(P/1) Era a Santos Brasil, a Gazeta Mercantil…

(R) É, a Santos Brasil era uma empresa de containeres lá do porto de Santos no Guarujá, que a Previ era sócia, a Oportunit também e quem me indicou para lá também foi uma pessoa da Previ, aí eu fiquei nesses três conselhos. Mas aí acabaram e o conselho ficou renovado, nem faliu, mas fiquei três meses na Brasil Telecom no conselho fiscal, mas não valeu a pena, porque foram três meses só. Depois cismamos de montar uma consultoria, um escritório de consultoria na área tributária, mas nós pegamos uma época muito ruim de fase de... as pessoas não queriam fazer mais nada, veio a eleição depois e aí eu achei melhor sair fora, eu saí do escritório. Encontrei o funcionário lá do banco, a Bancobrás, que foi uma instituição criada pelos funcionários do banco, mas é uma entidade privada e ela atua hoje na área de turismo, consórcios e seguros, é um conglomerado. O rapaz perguntou se eu não queria ir para lá e eu falei: “Vou”. Aí vai fazer três anos lá agora, muito satisfeito lá, muito satisfeito.

(P/1) Mas assim, voltando um pouquinho, a vivência do senhor na Fundação, como é que o senhor avalia a sua passagem por lá? O senhor é um dos fundadores, está lá desde o início, como é que o senhor avalia a sua atuação lá dentro?

(R) Olha, eu não gosto muito de falar daquilo que eu fiz não, sabe? O que eu faço é a obrigação da gente primeiro, mas nós demos uma contribuição sim, todos nós da minha época, principalmente na fase de constituição dos instrumentos de trabalho lá, do próprio estatuto, do próprio regimento interno, das próprias normas operacionais. Como é que faz, quais são os limites para isso e para aquilo, enfim, eu acho que nós tivemos uma contribuição efetiva e eu acho que a experiência toda que nós tivemos no Fepec contribuiu bastante para isso, embora a gente ainda não quisesse... que a nossa intenção no Fepec é que o Fepec fosse transformado em uma Fundação e não absorvido por uma Fundação, mas não pode ser, né, interesses outros que quiseram ampliar a Fundação para outras áreas. Muito certo, muito justo também, então não pode ser maior a nossa contribuição, mas que foi válida, foi. Acho que se não fosse a situação na época eu poderia ter trabalhado mais tempo do que trabalhei, né, podia ter ficado lá até 2000, sei lá, até hoje, sei lá. Hoje seria demais também, né, 40 anos de banco o pessoal ia dizer: “oh, velho demais esse cara, por que não vai embora e dá lugar para outro?” Essa história, tem sempre no banco isso, então a gente não pode deixar chegar a esse ponto também, né?

(P/2) O que o Senhor aprendeu na Fundação Banco do Brasil?

(R) Rapaz, eu aprendi que a gente pode fazer muito ainda para essa área de desenvolvimento econômico, desenvolvimento tecnológico, de que o Brasil ainda precisa, né, não pode parar. Nós tivemos uma época de substituição de importação, era o lema na época, né, época do João Paulo dos Reis Veloso, que era o Ministro do Planejamento. Ele vivia falando isso e isso aí nada mais é do que você ter autonomia científica, tecnológica. O mundo globalizado hoje não sei nem como é que faz, os chineses entrando aí, botando sapato mais barato do que se comprar em Franca, é um negócio chato de você ver isso e não sei bem se você hoje tem esse desenvolvimento tecnológico como estratégia, sabe, não sei nem... Mas a parte social também eu vi o que a gente pode fazer para ajudar as comunidades carentes, projetos sociais. Aliás, a responsabilidade social hoje é um negócio na moda, está na moda, né, no próprio banco tem projetos de responsabilidade social e eu acho que a gente pode fazer muita coisa, sabe, eu acho que a parte educacional,

a parte de educação fundamental, de preparar o jovem, seja através da parte cultural, seja através da parte musical, eu acho muito interessante sempre aqueles projetos lá de banda, mas não é só de banda não, projetos mesmo de pessoal que toca em orquestra, né? Tivemos o projeto lá no interior de Pernambuco muito interessante, meninos aí que foram... Enfim, tudo aquilo que você faz para ajudar a criança nessa área educacional e cultural é válido. A Fundação ajuda também essa parte de saúde, essa parte de combate ao câncer com crianças, o trabalho com hospitais próprios especializados nessa área, a Fundação atua também muito. Então eu acho que aprendi muito com isso, a ver o mundo de outra forma e a gente está muito acostumado naquele dia a dia ali, naquela disputa de banco pelo não sei o quê, fica muito materialista, né, fica muito... E na Fundação não, você pode ver o que pode ser feito, o que as pessoas precisam, as carências, você sente isso lá.

(P/1) Você seria capaz de definir a Fundação em umas poucas palavras?

(R) É complicado, né, (risos). Definir em poucas palavras é complicado, eu acho que a Fundação tem uma responsabilidade. A partir do momento em que ela foi criada levando o nome do banco, a responsabilidade é maior do que você vê outras Fundações aí. Até o pessoal denigre um pouco a imagem em função do nome dela, do seu patrocinador e tal, mas eu acho que não, eu acho que a Fundação Banco do Brasil tem uma responsabilidade, é um órgão voltado para ser o braço social do banco mesmo, não pode se afastar disso e para gente é uma grata surpresa depois de 20 anos verificar que a Fundação está preocupada em resgatar e manter essa memória, fazer esse trabalho que vocês estão aí fazendo.

(P/1) E já que o senhor não está lá mais e tem tanta gente que continua levando essa idéia aí para frente, o senhor gostaria de deixar alguma mensagem para as pessoas que estão lá?

(R) É, gostaria, eu acho que eu não gosto de servir de exemplo para ninguém não, é muita responsabilidade, mas eu acho que eles devem trabalhar com bastante empenho, como estão trabalhando e cada vez mais gostar da instituição, gostar do que estão fazendo e se preocupar bastante com a questão ética e que só isso pode fazer com que a instituição permaneça, ela tenha uma sobrevida.

(P/2) _____________________ da nossa entrevista e eu gostaria de saber o que o senhor achou de ter participado dessa entrevista?

(R) Pois é, como eu falei, foi uma grata surpresa, sabe, eu no início falei: “Poxa”, eu não sabia por quê, né, até estava no trânsito atendendo o celular e falei, depois você me liga porque eu estou aqui no trânsito e pensei por que será? Aí liguei para o Alfredo lá da Fundação e o Alfredo: “Não Reynaldo, isso é um trabalho que nós estamos fazendo aí e tal, Maurício também vai, fulano, fulano e fulano”, aí eu entendi o que era, a continuação lá daquela comemoração dos vinte anos, inclusive um trabalho aí de manter a memória da Fundação e eu acho que é interessante a idéia, não sei de quem partiu, se foi do Jacques, não sei, mas achei muito interessante, se todo mundo fizesse isso, né, seria bastante... E isso eu acho que ele foi até bom demais de ter relacionado todo mundo assim nesse trabalho, eu acho que todos ficaram muito satisfeitos e orgulhosos de participar.

(P/1) Tem alguma coisa que o senhor queira, que o senhor tenha lembrado agora que a gente deixou de perguntar, enfim, de registrar alguma história, alguma passagem, casos pitorescos?

(R) (risos) Casos pitorescos? Precisava puxar pela memória e realmente às vezes a gente lembra de uma coisa ou de outra e tal. Coisa pitoresca assim foi o assalto que o Onório sofreu lá em São Paulo que foi muito pitoresco, foi assaltado lá em São Paulo, à serviço da Fundação (risos). Coitado, mas é bom nem registrar isso não senão ele fica... Coitado, oito horas da manhã na São João com a Avenida Ipiranga, você imagina o Onório _______ e o cara passou e vapt, caiu o óculos que ele não viu nada. Ele me telefona: “Rapaz”, e eu mexendo com ele sem saber o que tinha acontecido e ele gaguejava para caramba e eu falei: “Que é rapaz?”, “O, o, o fo fo foi...”, eu falei “Rapaz, fala direito.” Isso rendeu, porque ele fez um relatório sobre isso que você morria de rir do relatório que ele fez da viagem contando esse aspecto, isso foi comentado durante seis meses lá (risos) na Fundação. Mas sobre a Fundação mesmo eu não tenho nada que me venha à memória assim que eu não tenha deixado de falar não.

(P/1) Tem algum projeto hoje da Fundação que o senhor tem notícias, o senhor tem notícias da Fundação, o senhor acompanha?

(R) Acompanho pelo site do banco, as notícias, prêmio disso, daquilo. Acompanho, às vezes eu ligo para lá, falo com o Chicão, com o Alfredo, “Que interessante você aí e tal, hein?”. Eu sempre acompanho, quer dizer, podia acompanhar melhor, podia acompanhar mais, mas a gente também não tem tempo de ficar... A gente sempre almoça uma vez por mês, os egressos da Fundação lá, eu, o Siqueira, o Onório, o Chicão, o Maurício, a gente vai à Vila Planalto, a gente vai lá na Asa Norte, o Chicão levou a gente uma vez lá na Asa Norte naquele boteco lá. Rapaz, que coisa, o Siqueira que gosta daquilo, o Siqueira tem horror àquilo e o Siqueira é o seguinte, rapaz. Terra para ele é Vossa Excelência, entendeu? Coisa assim que buchada de bode nem pensar, então o negócio dele é filezinho sem gordura, filezinho e tal, o Chicão leva ele lá na Vila Planalto e ele ficou horrorizado, garçom passando suado, coisa caindo, aquele negócio todo, prato feio para cacete, talher que enverga assim, “Reynaldo, aonde é que nós viemos parar, Reynaldo?” ele fala assim, né, aí eu falo: “pois é, as coisas do Chicão aí, ué, inventa moda para caramba”.

(P/1) O senhor falou bem no início da entrevista de soluções tupiniquins que o... O senhor tem conhecimento do banco de tecnologia social que hoje em dia dá uma premiação para essas soluções?

(R) Tenho.

(P/1) O senhor participou de alguma dessas…

(R) Não, eu já tinha saído já, mas eu acho que o CNPq também faz algumas coisas interessantes nessa área se você pensar que todo ano tem sempre um prêmio. Eu participei de uma comissão julgadora do prêmio de invenção do Governo do Estado de São Paulo, por ser da Fundação e eles pediram para uma pessoa participar da comissão do invento. Julgava os inventos, a aplicabilidade na indústria, aí mandavam para a gente uns dez inventos para cada membro e a gente ia para lá dar a opinião da gente, dizer o que a gente achava, “Isso aqui se funcionar tudo bem, isso aqui se não funcionar, amém”, “Esse aqui tem aplicabilidade, esse aqui não”, e dos inventos de toda a natureza, você ficava impressionado, até eu levava para a Fundação para mostrar para o pessoal e o pessoal ficava: “Mas rapaz, esse inventor deve ser maluco” e eu falava: “deixa quieto, ele é maluco mas ele está inventando, deixa ele, quem sabe?” Até falamos lá dos primeiros colocados, a gente pode até financiar o projeto do cara, não é, por que não? O Projeto é bom. E tinham coisas bem simples, mas de uma aplicabilidade muito grande, então foi a mais interessante essa participação lá, do invento. Mas eu acho que não tenho a lembrança de muita coisa para acrescentar não, porque vocês também devem estar com a bagagem sobre a Fundação violenta, né, quantas pessoas já falaram aqui?

(P/1) Todas são extremamente fundamentais.

(R) Com certeza (risos).

(P/2) A gente vai descobrindo uma ligação aqui, uma ali e vai juntando e começa a conhecer o grupo todo.

(R) É verdade.

(P/1) Senhor Reynaldo, então eu gostaria de agradecer muito o depoimento do senhor.

(R) Eu que tenho que agradecer, fico muito honrado de ser lembrado.

(P/1) Então tá, eu gostei muito.

(R) Tá bom.

(P/1) Espero que o senhor tenha gostado também.

(R) Gostei, achei as perguntas pertinentes e vocês estão de parabéns pelo conhecimento da Fundação que vocês já têm, né.

(P/1) Obrigada, mas nada seria possível se vocês não tivessem…

(P/2) É verdade...

--- FIM DA ENTREVISTA---

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