Museu da Pessoa

Lalá, o defensor comerciante

autoria: Museu da Pessoa personagem: Carlos Pierin

P/1 - Estamos aqui em Santos, 28 de janeiro de 1999. Eu gostaria que o senhor dissesse o seu nome completo.

R -

Meu nome completo é Carlos Pierin, o apelido no futebol, nos anos que joguei, Lalá.

P/1 - O senhor nasceu aqui em Santos?

R -

Não, eu sou do Paraná. Nasci na cidade de Lapa, no sul do Paraná.

P/1 - E quando o senhor nasceu?

R -

Em 28 do 08 de 34.

P/1 - Quais são os nomes dos seus pais?

R -

Júlio Pierin e Maria Luiza Serena Pierin.

P/1 - O senhor poderia repetir o nome da mãe, por favor?

R - Maria Luiza Serena Pierin.

P/1 - Bom, continuando, a gente vai gravar... Precisa preencher uma fichinha aqui. A gente vai perguntando para o senhor, o senhor vai dando as respostas. Qual é o endereço que o senhor reside aqui em Santos?

R -

Rua doutor Ciro de Ataide Carneiro, número 10, apartamento 95, Ponta da Praia.

P/1 - O senhor sabe o CEP? Não? Ok. O senhor tem telefone?

R -

Tem: 236-2947. O CEP está aqui. Depois eu te dou o CEP.

P/1 - Tá certo. O senhor já passou o nome do seu pai, mas o senhor se lembra da data de nascimento dele, do seu pai e da sua mãe?

R -

Não lembro, não. Não tenho a data de nascimento deles. Eu sabia, mas agora eu desconheço. (riso) Poderia depois procurar a data.

P/1 - A cidade que o seu pai nasceu?

R -

Nasceu em Lapa também. Colônia São Carlos. É uma colônia perto da Lapa. E meus avós vieram todos da Itália, são todos italianos, tanto da parte da mãe quanto do pai.

P/1 - A sua mãe também nasceu na Lapa?

R -

Também, na cidade da Lapa, na Colônia São Carlos.

P/1 - Qual era a atividade do pai do senhor?

R -

Comerciante.

P/1 - E a sua mãe?

R -

Doméstica, do lar. Mas comerciante também porque ela que atendia o armazém. O braço direito do meu pai.

P/1 - Quantos irmãos o senhor tem?

R -

Somos em 7.

P/1 - O senhor é o mais jovem?

R -

Eu sou o mais jovem. É que o meu pai, depois de falecida a minha mãe, tornou a casar e tem quatro irmãos por parte de pai, da segunda mulher dele.

P/1 - O senhor é casado?

R -

Casado.

P/1 - Qual o nome da sua esposa?

R -

Ana Lúcia Oliveira Pierin.

P/1 - A data de casamento do senhor?

R -

Foi dia 03 de Setembro de 71.

P/1 - O senhor sabe a data de nascimento da sua esposa?

R -

04/04/44. (riso)

P/2 - Só assim para guardar.

R -

Fácil, né?

P/1 - Ela é de Santos?

R -

Ela nasceu em São Paulo, mas criou-se em Santos. Veio menina, com sete anos de idade. Nasceu na cidade de São Paulo, capital, e veio para Santos.

P/1 - E qual é a atividade da sua esposa?

R -

É também do lar.

P/1 - Agora são os filhos. Nome, data de nascimento e atividade deles.

R -

Correto. Carlos Júlio... Ô, Gabriel!!! Eu não sei... eu confundo. Um fazia 20 e outro 15. Bom, Carlos Júlio Pierin... Você faz dia 15 ou dia 20?

Gabriel - Dia 15.

R -

Ah, você é dia 15 de 75 e a Daphne é dia 20 de 77.

P/1 - Então, Carlos...

R -

Não, ele é o Gabriel. Carlos Júlio Pierin, 22 de Julho de 72. Você nasceu em Agosto, né?

Gabriel - 15/08.

R -

15/08. Eu confundo.

P/1 - De 75?

R -

O Carlos Júlio é de 72.

P/1 - Carlos Júlio, 22/07/72.

R -

Gabriel Davi Pierin. Que data que ele deu? 25/08, né? Não, 15/08/75. É isso.

P/1 - Sou mais velho que ele, um dia. Não, ele é mais velho que eu, um dia.

R -

Um dia? Ah, é, que beleza! 14?

P/1 - Não, 16.

R -

Profissão deles? Carlos Júlio se formou em Administração e Direito. Se formou esse ano em Direito.

P/1 - E o Gabriel?

R -

Gabriel é Comércio Exterior. Agora vem Daphne Dessirée. Que nome, né? Minha mulher que vai buscar essas coisas no fundo da mala. Pierin. Para dar o da neta vai ser lindo.

P/1 - A data de nascimento dela?

R -

A Daphne é 15/06/75, né Gabriel?

Gabriel - Eu sou de 20/08/75. A Daphne é 20/06/77.

R -

20/06/77. Eu confundo os dois.

P/1 - Atividade?

R -

A Daphne está fazendo Administração. Não, agora ela mudou. Agora ela está fazendo Turismo.

Gabriel - Está trabalhando. É comerciária.

R -

Ela está fazendo Turismo, mas ela trabalha no escritório da firma, que são quatro lojas. E ela está fazendo Turismo.

P/1 - Mais algum filho?

R -

Tem. Antonio Lucas - a raspa da panela - Pierin.

P/1 - A data de aniversário?

R -

09/01/83.

P/1 - Estudante?

R -

Estudante.

P/1 - Agora, voltamos a falar sobre o senhor. A sua formação escolar.

R -

Tenho Contabilidade. Me formei em Curitiba, e fiz a primeira turma aqui da Faculdade de Educação Física . Fui a primeira turma. Aquela turma: Gabrielzinho... Pepe. Não, acho que o Pepe foi da terceira. O Pelé também foi da terceira. Marçal fez a primeira.

P/1 - Contabilidade era técnico?

R -

Técnico em Contabilidade. Naquele tempo, o curso era de três anos.

P/1 - E a sua formação profissional?

R -

Como futebolista?

P/2 - Em geral.

R -

Em geral, eu fui comerciante aos 16 anos. Tinha um armazém em meu nome. Eu e meu cunhado, em sociedade. Depois comecei a jogar futebol amador, aos 15 anos.

P/1 - Nós estamos aqui no campo profissional. Então, a gente poderia, nesse campo, dizer a trajetória toda do senhor. O senhor começou com 16 anos...

R -

É, 15 para 16 anos, na Lapa, jogando futebol. E, ao mesmo tempo, aos 17 anos, abri um armazém na minha cidade, em sociedade com o meu cunhado.

P/1 - Então, futebolista...

R -

Amador. Até os 19 anos, amador. Até os 19 anos, quando fui para Curitiba, profissional.

P/2 - E comerciante.

R -

É. E comerciante.

P/1 - O senhor jogava amador como?

R -

Amador. Na cidade. Uma cidadezinha pequena. Eu jogava de goleiro e centroavante.

P/1 - Tinha algum clube?

R -

Clube União da Lapa. Da cidade da Lapa, Paraná.

P/1 - O senhor disse que era comerciante. Um armazém?

R -

Era um armazém.

P/1 - Isso foi quando o senhor tinha 17 anos?

R -

Isso. Aos 19 anos eu vim para a capital estudar e jogar futebol pelo Ferroviário. Eu vim para a capital. Foram me buscar na cidade para eu vir jogar no Ferroviário de Curitiba. Ferroviário esse que, hoje, é o Paraná Clube. Foi uma fusão de diversos clubes: Britânia, Bloco... Tinha diversos times, então fundaram o Paraná Clube.

P/1 - Que hoje é o Curitiba?

R -

Não. Hoje é o Paraná Clube. Tem o Curitiba e o Paraná.

P/1 - Como goleiro, mas já profissional?

R -

Eu vim para a capital como goleiro, pelo Ferroviário. Passados três anos - 56 a 59 -, em 59, eu vim para o Santos. De 55 para 56, fui para Curitiba, fiquei até 59. Em 59, vim para o Santos, trazido por Ferreira, que tinha sido campeão de 35 pelo Santos. Meio campo do Santos. Eram dois irmãos: Ferreira e... Ele me viu jogar na minha cidade, me trouxe para o Ferroviário porque ele tinha ascensão sobre o clube. Foi meu treinador lá, mais tarde. Era diretor, depois passou a treinador no Ferroviário. Então, aí, mandou um telegrama para o Roma, aqui no Santos. Então, o vice-presidente, Modesto Roma, foi me buscar. Mandou que eu viesse fazer um teste no Santos.

P/1 - Foi quando o senhor ingressou?

R -

Foi quando eu ingressei aqui no Santos.

P/1 - O senhor permaneceu no Santos de 59 a...?

R -

Eu joguei no Santos em 59, 60 e 61. Fui para o México. Assinei contrato no México, antes de sair. Eu joguei a carreira toda com o passe livre, passe meu. Então, quando terminava o meu contrato, eu decidia em que clube eu ia jogar. E houve uma dificuldade na renovação de contrato com o Santos - eu exigi uma quantia, o clube queria me dar outra -, eu acabei indo embora, então contrataram o Gilmar.

P/1 - E o senhor foi para o México?

R -

Então fui para o México.

P/1 - E lá no México o senhor jogou...

R -

Joguei por três equipes da Cidade do México. Joguei no Atlas, de Guadalajara.

P/1 - Quando o senhor foi para lá, o primeiro clube que o senhor...

R -

Atlas, de Guadalajara.

P/1 - Em 61?

R -

Joguei em 61 e 62. Título não precisa, né?

P/2 - Não, por enquanto, não.

P/1 - É só um histórico profissional sobre o senhor.

R -

Aí, em 63 eu joguei no Atlante Futebol Clube, da Cidade do México. Em 64 eu joguei na cidade de Zacatepec.

P/1 - E qual o nome do clube?

R - Zacatepec, da cidade de Zacatepec. É uma cidade que fica entre a Cidade do México e Acapulco. Ela fica bem no meio. A 200 quilômetros de uma e de outra.

P/1 - E depois de 64?

R -

Vim para a Venezuela. Joguei em 65 na Venezuela.

P/1 - Qual o ...

R -

Lasalle Futebol Clube, da cidade de Caracas, capital.

P/1 - Em 65?

R -

Em 65 eu retornei para o Santos, só que não assinei contrato. Retornei, fiz diversos jogos com o Santos. Saí com o misto do Santos. Estava nascendo o Clodoaldo, estava nascendo o Negreiros. Então eu fiz diversas excursões para o interior do estado, para o interior do estado do Paraná. Mais tarde, passado um tempo, não acertei as bases com o Santos, assinei contrato com o Paulista de Jundiaí.

P/2 - Então, em 65, o senhor jogou no Santos.

R -

Isso. Passados 66, 67 no Paulista de Jundiaí.

P/1 - Então, o senhor jogou de 65 a 67 no Santos.

R -

Não, em 65 eu joguei diversas partidas em excursões pelo Santos. O Lula me viu jogar na Venezuela. Como fazia excursões para a América do Sul, América Central e América do Norte, na Venezuela, como eu estava jogando lá, disseram: "Lá necessitam novamente de você. Quando terminar seu contrato, volta. Quando chegar lá nós vamos acertar o seu contrato." Quando chegou aqui, não chegamos nas bases certas. Então, o Paulista me ofereceu um dinheiro muito bom na época. Ele queria ascender na divisão principal, então me ofereceu um contrato bem melhor que o Santos, então eu assinei um contrato com o Paulista. Em 66 e 67, por aí. Eu parei em 68. Em 68 eu saí do Paulista e fui para a Portuguesa de Desportos, onde encerrei minha carreira no ano de 68.

P/2 - Portuguesa?

R -

De Desportos. Eu tenho uns recortes da Portuguesa, umas fotos.

P/1 - Paulista de Bragança?

R -

Paulista da cidade de Jundiaí. Paulista Futebol Clube.

P/2 - E aí o senhor abriu o seu comércio? Parou...

R -

Ainda não. Em 68 eu joguei pelo Paulista, já estava em final de carreira, regressei para Santos. Pretendia fazer uma faculdade que estava abrindo, a Faculdade de Educação Física. Terminei meu contrato com a Portuguesa. Vim e fiz minha matrícula. Eu, Leivinha... Leivinha veio junto, moramos juntos. Fizemos a inscrição e cursamos a faculdade. O Leivinha ficou um ano, mais ou menos, depois desistiu. Não dava para contornar o futebol. Foi para a Espanha. Uma coisa assim. E eu continuei e me formei em Educação Física. E, nesse ínterim, eu treinava no Santos. Também não estava dando certo para mim. Encerrei minha carreira de futebolista para fazer uma faculdade interessante. Eu pretendia continuar dentro do futebol, então necessitava da faculdade. E, no decorrer da faculdade, eu havia visto esse serviço de lavagem rápida, que ainda não tinha aqui, na Cidade do México. E, com um amigo meu, (Edimil?), que foi meu sócio durante 25 anos, abrimos o primeiro posto de lavagem rápida em Santos. Um caso interessante é que, como não existia esse serviço no código da prefeitura, ficou paralisado quase oito meses para que pudesse entrar dentro do código. Então nós fizemos o primeiro posto de lavagem de carro em Santos, na avenida Epitácio Pessoa, 153. E iniciamos isso aí. Fazia a faculdade e tinha o trabalho de lavagem de carro automática.

P/1 - Uma trajetória e tanto, hein?

R -

É, era difícil conciliar tudo. A faculdade, a lavagem de carro... Mais tarde, entrei na Portuguesa Santista como fisicultor, porque eu já tinha me formado. E à parte, anteriormente, já do primeiro para o segundo ano, como eu era um aluno mais ou menos (bobo?), eu consegui entrar no Senai. Fui professor durante dois anos no Senai. Conciliava a faculdade, Senai - dava aula como professor -, o posto a jato e, mais tarde, quando saí do Senai, fui ser fisicultor, com o Clóvis, que jogou no Corínthians, como treinador e eu fisicultor da Portuguesa Santista, durante um ano. É a minha carreira.

P/2 - Qual é a mágica?

R -

Mágica? Correndo até hoje. Tem quatro lojas aí. Não paro um minuto. Estou parado agora porque a minha perna estourou, meu joelho. (Doutor Pierre?) está olhando para mim.

P/1 - Voltando aqui à ficha, a atividade atual que o senhor exerce?

R -

Atualmente, uma rede de lojas . São quatro lojas aqui na cidade de Santos.

P/1 - Então seria empresário?

R -

Empresário.

P/1 - Comércio, né?

R -

Comércio.

P/1 - E uma outra pergunta que ficou aqui perdida: o senhor possui religião?

R -

Católico Apostólico Romano. E acredito um pouquinho no espiritismo.

P/2 - Dá para ver porque o senhor está com uma medalhinha e...

R -

É.

P/1 - Aqui tem 'localidades em que já morou', mas já deu para ver que vai encher. Então eu resgato pelos lugares em que o senhor jogou. Tem uma outra pergunta aqui atrás. O senhor participou de alguma atividade associativa? Sindicatos, associações?

R -

Não, só a associação que eu participo no momento é o veterano do Santos, que eu sou tesoureiro.

P/1 - Então o senhor disse que é...

P/2 - Tesoureiro.

R -

Tesoureiro da Associação de Masters do Santos Futebol Clube. Durante 15 anos que nós temos a associação. 18 anos.

P/1 - De Masters?

R -

É. Do Santos Futebol Clube.

P/2 - Não é a mesma que tem aquela sala? Que tem o Expedito.

R -

É, aquela sala é nossa. O Expedito fica lá. Nós paramos. Íamos sempre nos reunir ali, mas a gente deu uma parada.

P/2 - E agora estão se reunindo aqui atrás?

R -

É, a gente faz sempre um churrasco. A gente sai. Tem uma caixinha. A gente joga. Retiram 10% porque tem uma cota. Essa cota é destinada aos jogadores. Faz-se uma divisão do percentual recebido e é distribuída uma parte. Uma parte é revertida à caixinha para os jogadores que estejam em dificuldade, qualquer coisa, ou precisem do dinheiro. A gente empresta. De vez em quando dá algum churrasco, uma visita de algum jogador que vem, um veterano da antiga. A gente faz aquela festa para ele. No final do ano, a gente se reúne.

P/1 - Agora, o senhor Expedito disse que essas reuniões aconteciam com mais freqüência.

R -

Sim. Depois que passou da idade da década até 70, veio a turma de 70, 80 a 90, que meio que separou-se da turma dos antigos. Então eles estão... A nossa intenção era dar continuidade a isso. E é a intenção dos jovens...

P/1 - Estávamos falando sobre essa associação. Que não houve continuidade...

R -

Ah, não houve continuidade porque já vieram com outras intenções. Com essa arrecadação, já pegava um jogo de camisas, fazia um jogo aqui, outro ali. Então houve uma dissolução. Dissolveu mais ou menos essa... O intuito era dar uma segurada nisso tudo, mas agora está para ser feita uma reunião para que se unam novamente todas as forças das décadas de 50, 60, 70, 80, 90, para que não termine isso aí que é muito bonito.

P/1 - Seria interessante promover uma reunião dessas e talvez um bate-papo.

R -

Já tivemos uma primeira reunião. Vamos ter uma segunda, uma terceira. Não pode ninguém fazer jogo como eles estavam fazendo. Cada jogador arrumava um jogo, pegava essa cota e distribuía ao bel-prazer. Normalmente é em torno de 3, 4, 5 mil reais. Então, pegava essa cota, guardava três e distribuía dois, guardava dois e distribuía um. Eu sou tesoureiro. Fui diversos cargos.

P/1 - A última vez que o senhor...

R -

Estou sendo agora tesoureiro. Mas já fui vice-presidente, já fui...

P/1 - Não. Me desculpe, me expressei mal. Desde quando o senhor é tesoureiro?

R -

Ah, agora faz um ano. São dois anos o mandato. Tem um ano.

P/1 - Para encerrar, quais são suas atividades de lazer?

R -

Eu tenho uma casa na Riviera, gosto muito de praia, então passo meus fins de semana lá em São Lourenço. Gosto muito de filme. Sou apaixonado por filme, uma boa música. E o bate-papo aqui com os amigos porque aqui é um teatro na costa. (riso) O dia todo é um teatro. Passam-se mil coisas aqui. É porque é atividade, muita coisa diferente. Acontece cada uma aqui... Mas a principal é o cinema. Levo meus três filmes para casa no fim de semana na praia, com churrasco. E bater papo com os amigos.

P/1 - Tá jóia. Bom, então vamos começar a entrevista propriamente dita. Vamos deixar o papo fluir. O senhor poderia contar como é que foi essa transição do Paraná para o Santos? Da primeira vez que o senhor veio para o Santos, como é que o senhor se sentiu?

R -

Eu tinha recém acabado de me formar na Contabilidade, e meus irmãos abriram uma tenda muito grande de beneficiador de café, serraria. Meus irmãos sempre foram do comércio, todos mais velhos. Foram para o norte do Paraná, perto de Paranavaí, quase que fundaram uma cidade, que é Tamboara. E, na época, eu jogava o meu futebol no Paraná. Futebol, na época, pobre. Futebol que a gente não ganhava nada. E, como eu tinha recém me formado, meu irmão foi taxativo. Meu irmão era o cabeça da família, disse: "Você tenta o futebol no melhor time do Brasil. Qual é o melhor time de futebol no momento?" Digo: "Santos Futebol Clube." "Então, eu vou te dar um dinheiro para você... Como você poderia ir lá?" "Ah, tem uma pessoa que é o meu treinador, o Ferreira, que tinha sido jogador do Santos, e que pode interceder nas reuniões." "Então vê se há condições, se não você pára de jogar futebol e passa a trabalhar com a gente porque vai ter necessidade de uma pessoa para fazer a contabilidade." Era beneficiadora de café, beneficiadora de algodão. Expandiu muito. Era uma cidade recém formando, com aqueles desmatamentos totais, serrarias. Aquelas perobas que precisavam de cinco, seis pessoas para abraçar. Hoje, graças a Deus, ele foi muito feliz. Eu também muito feliz do meu lado, graças a Deus. Todos eles da família muito felizes no campo que abraçaram. Ele recebia para tirar a peroba de dentro do terreno para plantar café. Então, tirava, beneficiava a peroba que trazia para dentro da serraria e vendia para o próprio agricultor. Então, era uma mina de ganhar dinheiro. E eu, graças a Deus, fui para o maior clube do Mundo e fui muito feliz porque vim jogar com Pelé e companhia. E tive a aventura de conhecer o Mundo todo, e isso não tem preço também. Depois, me erradiquei em Santos, uma cidade maravilhosa, que eu, no momento em que cheguei aqui, disse: "Vai ser a minha segunda cidade." Cidade de berço, Lapa, e de coração, Santos. "Se Deus quiser, quando eu encerrar a minha carreira, eu vou me erradicar aqui na cidade." E estou até hoje, com minha família constituída, graças a Deus, todo mundo nos seus caminhos.

P/1 - E o senhor disse que era de uma cidade do interior.

R -

Isso. Então eu vim para Curitiba, como eu ia falando, e o Ferreira abriu o caminho para eu vir a Santos fazer um teste. Cheguei em Santos sem conhecer nada, absolutamente nada. Não conhecia São Paulo. Passei por São Paulo. Pegamos um avião de Curitiba a São Paulo. De São Paulo, descemos de ônibus. Cheguei aqui e não conhecia ninguém. Tinha um telegrama dizendo que era para eu me apresentar no Santos, mas eu cheguei à noite já. Peguei hotel na cidade. Eu não sabia nem que tinha praia aqui, do lado de cá. Fiquei na cidade, em um hotelzinho zero estrela, abaixo de estrela. (riso) Depois eu vim conhecer o dono. "Pô, quando você chegou em Santos você ficou no hotelzinho." Ficava na General Câmara o hotel. Bom, no dia seguinte eu me apresentei ao Santos. Nunca tinha visto os jogadores. Tinham recém conquistado o título mundial. Vim fazer o treino. Entrei em campo tranqüilo porque havia treinado um ano antes de vir para cá com um dos maiores treinadores da época, Elba de Pádua Lima, El Peón. Fabuloso como treinador, como homem. E ele me treinava, quase que diário, durante meia hora, uma hora.

P/1 - Lá no Paraná?

R -

Lá no Paraná. Ele disse: "Olha, o dia que você..." E ele não me botava no time porque a minha estréia no time foi horrorosa. Eu joguei contra um time que tinha sido campeão pan-americano, o Grêmio. Estreei e tomei quatro gols. Dois eu fiz contra. (riso) Foi uma história desastrosa. Eu vim como maior sucesso do Mundo e no segundo tempo não sabia nem quem estava jogando, então fui substituído. Então, devagarzinho, fui andando e cheguei a isso. Então, a minha estréia foi de arrasar. E o Tim veio depois, pegou o time, treinou e disse: "Olha, a torcida não te agüenta, só que você é fabuloso como goleiro. O time que eu for um dia você vai ser o meu goleiro." Então era muito amigo, fizemos muita amizade. Ele saiu, logo entrou o Ferreira, e já me lançou no time. Me lançou, e eu fui um sucesso. O melhor jogador em campo, melhor não-sei-o-que... Eu tinha alguma qualidade. (riso) Estava no auge, então exigi isso aqui. Ao mesmo tempo, apareceu o Santos para me fazer essa oferta. E eu vim no auge. Então, cheguei aqui e, no bate-bola, no primeiro dia, deslumbrei todo mundo que estava aqui. 15 dias depois, eu estava viajando para a Europa. O Laércio machucou-se, eu era titular do Santos. Em um mês eu já estava sendo titular do Santos. Na primeira excursão do Santos para a Europa era Laércio e eu os goleiros. Parece que o Laércio fez três ou quatro partidas, e eu fiz o restante - 20 partidas. E jogávamos quase que diariamente. Jogávamos e viajávamos ao mesmo tempo.

P/1 - Muitos jogos, né?

R -

É, parece que fizemos 26 jogos em 32 dias, 33 dias, parece. Era um jogo em cima do outro.

P/1 - Dentre esses jogos tem algum que o senhor, logo na estréia, já começou...

R -

A minha estréia foi muito interessante porque vinha jogando o Laércio. Vinha jogando o Laércio e eu tinha vontade de jogar. Logo que saí daqui, nós fizemos a primeira partida - daqui para a Europa. Nós jogamos em Recife, contra o Santa Cruz. Ganhamos de 5 a 1. Eu entrei no segundo tempo. Ele me colocou no segundo tempo. O Santos jogou a primeira partida, jogou a segunda, jogou a terceira, na quarta partida - eu acho que foi na quarta -, eu já estava louco para jogar porque o Santos fazia três, fazia quatro, fazia cinco. Eu digo: "Pô, o Lula não me põe no time." Quando chegamos na Holanda eu conheci uma menina e levei essa menina no banco de reservas. Eu e o Pagão. O empresário estava de olho na menina - o empresário que levou o Santos. E o Pagão falou para mim: "Ah, Lalá, vai deixar aí com o cara? É ladrão. Vamos levar essa menina." Aí eu levei. Fiquei no banco com o presidente, o Lula... O Santos era um família. Levamos a menina para dentro do campo. Foi na Holanda. Em que cidade? Não me vem o nome agora.

P/1 - Amsterdã?

R -

Não. Foi em... A qualquer momento eu lembro. Não foi em Amsterdã.

P/1 - A gente pode levantar isso pela súmula. O senhor se lembra do adversário?

R -

Não, mas eu vou lembrar o nome da cidade. Bom, começou o segundo tempo, entramos tudo normal. No segundo tempo, eu pedi para o Modesto Roma: "Dá uma olhada porque eu..." O vice-presidente estava lá. "Seu Roma, eu deixei a menina com o senhor, o senhor deixou ela lá em cima da arquibancada com o ladrão. Ele vai me dar o tombo." "E o que você quer que eu faça?", ele respondeu. Eu digo: "Tá bom." "Espera aí." Fomos lá para o alambrado, chamamos a menina, ela veio, botamos ela atrás, sentada. Estava na reserva, eu também. Ela sentou no meio. Ficamos sentados. No decorrer do segundo tempo, com uns dez minutos de jogo, o Lula olhou para trás e me viu com a menina: "Pô, onde é que nós estamos?" Ficou bravo, naturalmente. Aí ele cutucou o Roma. Seu Roma: "Pô, mas aqui é lugar de trazer a menina? Você não tem jeito. Pode mudar de roupa porque vai entrar no time." (riso) Entrei no time graças a essa passagem. (riso)

P/2 - Mas o senhor não se abalou? Quer dizer, de repente, em um período tão rápido, o senhor estava jogando no melhor time!

R -

Não abalei. É interessante porque eu fui muito feliz. Ninguém conhecia aqui em São Paulo. "Que Lalá? Carlos?" Às vezes saía Carlos. "De onde apareceu esse aqui?" Jogando no melhor time do Mundo. Nós tínhamos sido campeões da... Eu fiquei na reserva aqui antes de viajar, nós jogamos contra o Vasco e ganhamos de 3 a 0 aqui no Pacaembu. Fomos campeões da Copa Brasil. Ganhamos o Rio-São Paulo em 59. Eu não joguei porque tinha que ter registro. Aí viajamos. Eu viajei com o Santos com o passe livre. Eu não assinei contrato com o Santos. Passei no teste e já embarquei. É umas coisas anormais.

P/2 - Mas não abalou o senhor?

R -

Não, eu tinha muita confiança em mim. Eu tinha uma confiança bárbara, muito grande. Eu achava que eu sempre era o melhor. Eu só, só - e isso aqui não é para jogar confete: não tinha goleiro para mim, não tinha -, só respeitava uma pessoa... Nós fazíamos bate-bola no gol. Entrava Laércio e Dorval. Nós fazíamos um tipo de um bate-bola. E os atacantes ficavam quase na área pequena, a quatro, cinco metros. Entrava Laércio e Dorval, Coutinho e... Tinha outro goleiro. Não me vem agora... Boneca, Odair. Entrava Odair e Pelé no gol. Então chutava a dois, três metros. O único que dava para encabular um goleiro era o Pelé quando entrava no gol. Porque eu nunca vi pegar a bola como pegava o Pelé. O único que dava...

P/2 - Era um bom goleiro?

R -

Bárbaro! O único que dava para encabular qualquer goleiro. A minha reação - não sei a do falecido Laércio, não sei a do falecido Manga... Ah, desculpe. O Cláudio ______, mas eu não cheguei a jogar com o Cláudio. Quando eu voltei do México, o Cláudio estava (em outro?) time. Batia bola o Manga e o Coutinho, aí dava para encabular. O Pelé era de encabular. Chegava a três metros, enchia ela no chão, e o Pelé caía com ela, seguro, como se estivesse pegando um passarinho. Então, dava para qualquer goleiro se encabular. Quando eu batia bola com ele, tinha que arrasar. Pegava meio gol, um, meio gol, outro. Quando batia do lado dele, era uma rajada, uma velocidade, um reflexo maravilhoso. Era o único. Os demais goleiros...

P/1 - Se o Pelé fosse goleiro, ainda seria o Rei?

R -

Eu acho que sim. Seria um dos maiores zagueiro-central. Quando ele fazia dois toques de zagueiro, também, era deslumbrante. E no gol, então... Ninguém via. Eu, como observador... Ninguém observava. A primeira vez que ele jogou no gol, ele me substituiu.

P/1 - Quando foi isso? Poderia contar essa história para a gente?

R -

O Pelé me substituiu em um jogo contra o Comercial da capital. Eu saí em uma bola no decorrer do primeiro tempo do jogo. Um jogo dificílimo. No segundo tempo. No segundo tempo de jogo, no rebate, eu saí em uma bola cruzada, caí. Ao cair - eu dei um salto muito alto -, se soltou de mim a bola, e eu acho que foi um rechaço do Formiga, e acho que pegou meio na minha cabeça. Desse momento em diante, eu continuei jogando, mas sem saber que eu estava jogando. Eu estava em (comoção?), mas em pé, normal, jogando. Então, vinha o ataque do Comercial, eu saía até a área, virava as costas e voltava para o gol, como se não tivesse acontecido nada. Eu sabia que tinha um jogo, mas não sabia o resultado, não sabia nada. Até que o falecido... Foi um repórter muito bom aqui: Perón de Castro. Ele era repórter de campo. E o Perón disse: "Lalá, o que está acontecendo com você? Por que você não está prestando muita atenção no jogo?" Aí eu cheguei perto da trave, porque ele veio perto da trave para me entrevistar, e disse: "Você pode me dizer quanto é que está o jogo?" "Você está se sentindo bem? Deita." Aí foi a hora em que eu segurei na trave e desfaleci. Só fui acordar horas depois, já dentro do hospital. E aí o Pelé me substituiu e fez uma grande partida. Diz que foi um fenômeno. Pegou quatro, cinco bolas estupendas. E ganhamos o jogo, graças a ele.

P/2 - Mas voltando lá, na primeira excursão. Aí o senhor entrou. Uma pessoa que era desconhecida...

R -

Desconhecida no futebol brasileiro.

P/2 - Teve alguma pressão dos jornalistas? Teve alguma manchete de alguém falando alguma coisa?

R -

Quem viajava conosco era Pedro Luis e Fiori Giglioti. Até o Pepe brinca... Fiori gostava de falar. Então, as minhas defesas, ele falava: "Seguuuuura, Lalá!" Os caras ficavam aqui todos endoidecidos para saber quem era. E eles falavam que realmente eu tinha um futuro muito grande, poderia chegar à Seleção Brasileira. Poderia, da maneira como eu estava jogando. Vinha conversar comigo: "Como você está se sentindo, jogando no maior time do Mundo?" Eu não conhecia nem o Real Madrid. "Vamos jogar contra o Real Madrid." Eu não conhecia. Eu sei que era um partida... A Taça Valência, contra a Internazionale, ganhamos de sete. Então a gente pegava esses times. Barcelona, seis. Pegava esses times... Eu via que tinha qualquer coisa estranha, quando chegamos em Madrid. Eu estranhei muito porque entraram os dois times com as luzes do estádio apagadas. Eu digo: "Esse jogo deve ter uma importância muito grande", cá com os meus botões. Eu não podia perguntar, senão iam dizer: "Esse cara não conhece nem o com quem está jogando?" Parecia o Mengálvio. O Mengálvio foi jogar uma vez com o Guarani e disse: "Pô, vamos repetir de novo esse Guarani? Jogar duas vezes na semana?" Era o Palmeiras que ia entrar. Os dois de verde... E eu fiz a mesma coisa. "Esse jogo deve ter alguma importância muito grande." Era o Jogo do Século, na época. O Jogo da Década. O Real Madrid era considerado o melhor time da Europa, e o Santos, melhor time das Américas. Entrei normal, vi tudo apagado. Entrou os dois times. E quando entramos, que acendeu a luz, os dois times estavam de branco. Foi uma briga para ver quem é que tirava a camisa. Normalmente teria que ser o Real Madrid, mas o Real Madrid não tirou a camisa. O Santos teve que botar outra camisa, uma camisa de treino. Jogou com uma camisa azul, eu acho, porque não tinha uniforme dois, se bem me lembro. Foi o que aconteceu nessa noite. Então eu jogava normal. "Ah, jogando assim, você vai para a Seleção Brasileira", falava o Fiori, muito conceituado radialista, o mais conceituado no futebol paulista. Digo: "Eu jogo mais. Realmente eu jogo mais. Estou entrando agora, estou conhecendo." Mas eu fui infeliz porque, quando eu voltei dessa excursão, que tivemos diversos títulos, fui pra Paris, fizemos diversos jogos, quando eu cheguei aqui, o Manga tinha se recuperado e eu não tinha assinado o contrato ainda. Eu fiz tudo isso, não tinha assinado o contrato. E o Lula, falecido Lula, me deu uma despensa. Disse: "Ah, você vai até o Paraná, descansa." Quando eu voltei assinar contrato com o Santos, depois eu assinei o contrato, passe livre, tudo isso aí. Então, raramente um clube vai deixar se projetar. O passe livre vai fazer um jogador para outro clube. Talvez fosse por aí a coisa. Ou talvez um preferência por Manga, preferência pelo falecido Laércio. Dois excelentes goleiros, tanto o Laércio quanto o Manga. Depois o Manga foi embora, ficou Laércio e eu. Contrataram (Irving?), do Rio Grande do Sul, outro goleiro. Aí já terminou o meu contrato, eu já peguei as minhas malas e fui para o México. Mas foi isso aí. Talvez pelo passe livre, não me deixavam projetar. Eu jogava quando o Santos precisava. Jogava uma ou duas partidas e saía. A estréia do Mauro, por exemplo, fiz uma partida exuberante contra o Palmeiras. Considerado o melhor jogador em campo. Estava 0 a 0, peguei um pênalti do Djalma Santos. É uma passagem lindíssima porque o Djalma Santos disse no dia seguinte: "Olha, nunca mais eu vou bater pênalti." E realmente eu fui, peguei o pênalti. Tinha o segundo jogo... O Mauro, que tinha feito... Ele me agradece até hoje. Eu encontro o Mauro, o maior agradecimento do Mauro é: "Lalá, você me salvou. Na minha estréia eu fiz o pênalti, você pegou. Isso eu guardo até hoje." Então, quando nós nos cruzamos: "Pô, aquele pênalti, eu fiz, você pegou..." No jogo seguinte, contra o Botafogo do Rio, eu fui, peguei minha camisa. Na hora em que eu fui botar a camisa número um: "Shhhh!!! - falecido Lula. Volta Laércio." Então é assim. E eu ia contornando. E o Pelé sempre: "Vai lá! Bate bola desse jeito. Vai..." Eu digo: "Ah, tá bom. Eu vou jogar sabe quando? Nunca." (riso)

P/1 - Eu queria voltar um pouco na excursão, para que o senhor dissesse... Tem a foto lá do Troféu ______. Eu queria que o senhor falasse um pouco sobre o jogo.

R -

É, viajamos para esse jogo, que seria um jogo histórico, um jogo também da época. Porque o troféu mais cobiçado da época - não sei hoje -, era o Teresa Herrera. Seria disputado sempre. Normalmente eram convidados diversos times - os melhores de cada país. E caiu de ser convidado o Botafogo, o Santos. Da Europa tinha diversos times que foram desclassificando. No final do torneio ficou Santos e Botafogo. Chega na cidade de La Coruña. Eu me dava muito com o Pelé. A gente convivia muito aqui em Santos. Era Dalmo, Pelé... "Vamos no cinema?" "Vamos no cinema." "Pra praia?" Ele saía. Nessa época ele namorava a Rose. O Dalmo tinha um namorico. Eu com a Isabel, irmã dele. Os três, o trio. Então, chegava à tarde, a mãe da Isabel, da Rose, fazia um quindim, a gente ia lá comer. O Pelé levava o violão. A gente ficava lá na casa da Rose. _______ o mais sério era o Pelé. O Pelé tinha intenção de casamento, ele tinha que segurar. O primeiro beijo do Pelé, na minha pensão aqui, eu digo: "Olha, essa menina aí você tem que casar. Não vai se aventurando, se atirando aí porque essa menina é para casar. Vê o que você vai fazer aí. Na minha frente, você não vai fazer coisa nenhuma." E no futuro foi a esposa dele. Tem a Kelly, o Edinho. Então, a gente convivia muito. Nas viagens, ficávamos muitas vezes no mesmo quarto. Saímos para comprar um sapato esporte. E, numa das lojas, estava exposta essa taça Teresa Herrera; essa que o Santos guarda com muito orgulho, e as medalhas. E o Pelé disse: "Pô, meu, que coisa maravilhosa. Vou te dar de presente. Essa medalha, hoje, eu vou te dar de presente." "Que vai dar de presente..." "Deixa comigo. Você vai ver hoje o que eu vou fazer." "Tô esperando." Fomos para o estádio. O jogo começou. Botafogo, maravilhoso. A escalação dele eu guardo com muito carinho. A escalação do Botafogo é um dos maiores ataques da época, que estava no Brasil, tanto o Santos quanto o Botafogo com Garrincha, Didi, Quarentinha, Paulinho e Zagallo. Era um ataque maravilhoso. O Santos era Dorval, Jair, Coutinho, Pelé e Pepe. Então eram dois ataques fenomenais. Fomos para o estádio, fomos para o campo, e o jogo estava dificílimo - 0 a 0, 0 a 0. E o Pelé, normalmente, quando o jogo estava meio difícil, ele voltava para ajudar a defesa. E, num corner, num ataque do Botafogo, houve um corner e o Garrincha foi pela direita para fazer esse centro, fazer o lançamento, tirar falta, no que eu olho do meu lado - eu saí e fiz a defesa no alto -, o Pelé está do meu lado: "Pô, não vou pegar a medalha nunca com você aqui. Tó ela aqui." Eu rolei a bola para fora da área para ele. Ele driblou o time inteiro do Botafogo e fez o primeiro gol. Aí veio: "Não te falei." Iniciou a goleada e ganhamos de 4 a 1. Foi uma passagem maravilhosa, que eu guardo até hoje. Talvez ele não se lembre do ocorrido, mas foi isso durante esse jogo. Então são coisas lindas que passamos. E esse foi um detalhe histórico. Ele disse: "Agora você vai ver." Parece-me que ele fez um ou dois gols nessa partida. Não sei se foi ele ou o Coutinho.

P/2 - Então foi um desafio entre vocês dois?

R -

É, foi mais ou menos um desafio. Ele disse: "Pode deixar que você vai ver." Aí, quando eu vi ele perto de mim, disse: "Na minha defesa, não vai fazer gol, nunca. Posso não tomar, mas fazer..." (riso) O Santos tinha um lema. Nas excursões, nos jogos, o Santos já iniciava ganhando de 1 a 0 porque o Pelé fazia um. Então a gente brincava: "Vai jogar o Pelé?" "Vai." "Então, 1 a 0 já está. O resto, vamos ver o que vai acontecer."

P/2 - E você disse que vocês dormiam no mesmo quarto, às vezes.

R -

É, muitas vezes a gente ficava no mesmo quarto. Outras vezes eu ficava com o Laércio. Mas eu fiquei muitas vezes com o Pelé. De vez em quando ele tinha uns repentes. Ele era meio sonâmbulo. Gostava de levantar à noite.

P/2 - Não acredito.

R -

Ah, o Pelé gostava, gostava muito. Irradiava o jogo. Teve um caso aí na concentração de levantar e sair atrás dele. Ele dizia que era um touro. Quase subiu na janela da concentração aqui na Vila Belmiro. Foi uma brincadeira do Pepe. O Pepe gostava muito de brincar. Botava bomba para estourar às 11 horas da noite. "Tá na hora de dormir todo mundo!" Dali a pouco o Pepe botava uma bomba. Estourava: booommm. (riso)

P/1 - O que a gente ouve falar é que o convívio entre todos do grupo era um convívio quase familiar.

R -

Era um convívio muito familiar. Era brincadeira... Entrava no ônibus - viagens longas que se fazia pela Europa ou mesmo no Brasil -, não havia nada. Não havia rixa, não havia nada. Havia, sim, brincadeira desde que entrava no ônibus, até o final. Os apelidos que cada um tinha. Cada jogador com o seu apelido. Uma brincadeira saudável, limpa. O Formiga tinha apelido dessas coisas que vinham. O falecido Laércio era 'Porquinho'. Então, nessa viagens para a Europa, quando via um porco - que tem muito viajando entre Suíça... passava por milhares de fazendas: "Ó o porquinho!!!" E todo mundo: "Viva o porquinho!!! O Laércio tá lá..." Achavam que o Formiga tinha cara de cavalo. Então, quando via um cavalo: "Ah, o Formiga apareceu." E aí passava uma viagem de duas, três horas, sempre com brincadeira. O Tite cantava muito. Um belo cantor, então cantava. O samba comia solto: Coutinho, Dorval, Pelé. Aquele sambão na entrada de campo. Parava o estádio para ver o Santos entrar sambando.

P/1 - É verdade que vocês faziam samba até no vestiário?

R -

Ah, sim. No aeroporto, vestiário. No aeroporto, parava todo mundo para ver o Santos tocar. Era maravilhoso. Era uma família, por isso chegou onde chegou, senão, não chegaria. Ninguém queria saber de dinheiro. Um ou outro, mas queria jogar bola. Tudo com 16, 17, 18, 20 anos. (Sormani?), Coutinho, Pelé, Afonsinho. Todos jovens, querendo galgar. Então...

P/2 - Na verdade, vocês eram atração dentro e fora do campo?

R -

Dentro de fora. O Santos sempre foi atração dento e fora. Era maravilhoso a saída do hotel e a chegada ao estádio. Com esse sambão que fazia dentro do ônibus. Era maravilhoso. Chegava descontraído e virava de três, terminava de seis. Não adiantava. (riso)

P/1 - Vou adiantar um pouquinho no tempo. Quando o senhor saiu do Santos, o senhor foi para o México. Naquele momento era comum, naquela época, os jogadores do Brasil irem para outros países? Era uma coisa que estava começando?

R -

Estava começando naquele momento. O Santos só tinha exportado - maneira de falar -, só tinha vendido o Del Vecchio. Quando estivemos na Europa, o Del Vechio tinha ido nos visitar. E, nessa excursão para a Europa, tinha ficado o Ramiro. Tinha sido vendido para o Atlético de Madrid. E eu era para ter ficado já, na segunda excursão para a Europa, ou terceira, era para eu ter ficado na Grécia. Mas como eu tinha contrato ainda de um mês pendente com o Santos, eu não pude ficar. Perdi um grande dinheiro na época.

P/1 - O senhor se lembra do nome do time?

R -

É (Sparatinaikos?). Fui com a diretoria, tinha conversado, estava tudo certo. Mas eu não pude ficar porque eu tinha contrato com o Santos. Mas, recém terminou, apareceu o México, melhor ainda, e eu fui embora para o Atlas.

P/1 - E era uma coisa que estava começando naquele momento?

R -

Era. E o Valter Marciano, que nós jogamos a jogar nessa Copa Valência contra o Valtinho, falecido Valter, que foi um fenômeno de jogador. Ele tinha sido também um dos primeiros jogadores. O segundo jogador, parece que foi. O primeiro foi Del Vechio, Valter, Ramiro, eu e depois foi o Sormani. Aí começou a debandada de jogadores. No México, eu fui o primeiro.

P/1 - E como foi essa experiência de jogar? O futebol é diferente? A adaptação?

R -

Completamente diferente. Adaptação diferente, clima, altitude. Quando jogava na Cidade do México, faltava ar porque é uma cidade que está a quase dois mil metros de altitude. Então falta oxigênio. Num pique de 20 metros, era um sofrimento. Povo que exige muito porque, fora, você tinha que ganhar a partida para o time. Ganhando, quem ganhava eram os seus companheiros. Quando perdia era só você. Era o estrangeiro, era a pessoa. Então tinha que carregar o time. Você tinha que ter sempre uma qualificação boa dentro do jogo, senão era dificílimo.

P/1 - E sofria muita pressão?

R -

Muita pressão, embora, na época, o brasileiro fosse muito considerado no México. Era maravilhoso o tratamento fora. Com os companheiros, bom. Era muito exigido o futebol, mas era muito qualificado diante da torcida. Gostavam muito do brasileiro. As amizades... o povo mexicano adorava o brasileiro. Adora até hoje. Acho que tem um time que leva o nome do Santos lá no México. É muito exigido fora. Mesmo agora na Europa, sempre são muito exigidos.

P/1 - Depois o senhor retorna para o Brasil.

R -

É, feito esse trabalho lá, eu retornei ao Brasil. Jogando esse tempo todo lá, Venezuela, tudo, retornei ao Brasil e ingressei visando, num futuro... Eu digo: "Eu vou parar com o futebol, faço a faculdade e continuo." Aí entrei, em 78, com o Clóvis na Portuguesa. Aí eu parei e inauguramos o comércio aqui. E eu era treinador do Santos. Aí eu fui chamado pelo Santos numa renovação dos meninos da Vila, em 78. Fizeram uma comissão, entrou o Zito, entrei eu como treinador de goleiros, o Formiga como treinador. Remodelamos. O Santos vinha mal, fez uma reformulação, e o Santos sagrou-se campeão nesse ano, com muita felicidade. E eu abri minha loja e senti que não dava para conciliar as duas coisas - o futebol e a loja de esportes, que, com a graça de Deus, foi muito bem aceita pela população de Santos. Eu acho que foi a segunda ou terceira loja de esportes da cidade, aqui no Gonzaga. Foi no auge do agasalho, do tênis. Eu fui com tudo e, graças a Deus, (recuperei?) de bola cheia. E aí então eu parei com o futebol.

P/2 - Mas deixou amor, a bola?

R -

Até hoje. Eu vivo a bola os 90 minutos. Aqui são 12 horas de futebol diário. Eu tenho 12 horas de futebol aqui na frente. Todos os fregueses querem saber alguma coisa do Santos. Todos os amigos, ex-jogadores vêm aqui. Acabou de chegar agora... Esteve aqui... Não chegou nem a jogar comigo, mas todos os ex-jogadores do Santos têm mais ou menos um ponto determinado, que é aqui: "Ah, vai na loja do Lalá porque lá eu encontro." Oberdan está lá em Santa Catarina, chega aqui: "Lalá, cadê a turma? Eu queria encontrar o Geraldino. Como eu faço para ver o Pepe?" Como eu tenho telefone, eu tenho contato, o pessoal aparece aqui. Não só eles, mas os treinadores de futebol. Leão, Evaristo. Os caras, quando chegam aqui, que vêm para cá... Eu cheguei a jogar com o Candinho, então o Candinho é irmão meu. O Candinho faz parte da família. A gente estava jogando no Paulista de Jundiaí juntos. Ele era o meu zagueiro-central. Bom jogador. Foi infeliz porque, numa brincadeira de dois toques, eu fraturei a tíbia e o perônio dele. Eu encerrei a carreira dele numa brincadeira de dois toques. Ele jogando contra. E como morávamos juntos, aquela brincadeira, eu cheguei para rachar a bola e ele bateu com a tíbia no meu joelho e estourou. Mas hoje, graças a Deus, ele é um fenomenal treinador. Para mim, conceituado entre os melhores treinadores do Brasil.

P/2 - Naquela época era comum o passe livre?

R -

Não. O Santos não dava para ninguém e time nenhum dava o passe livre. Desde que eu iniciei a minha carreira, eu exigia. Por exemplo, eu cheguei no Santos. Da maneira que eu treinei, da maneira que aconteceu a coisa... São coisas que você grava. As coisas boas você grava, as ruins, eu tiro. No dia que eu treinei, que foi o primeiro teste aqui, que botaram o Pepe aqui, na época , o chute dele era a 300 por hora. Eles botam 150 hoje, mas o Pepe era 300 por hora. Eu nunca vi. Era um canhão! Pepe, Alfredinho - uma potência no chute. E eu vim fazer esse teste. O Santos tinha um gol um pouquinho maior que o atual. Era removível esse gol. E eles botaram na parte da social. Esse gol era tirado para não queimar a grama. E era um pouco mais alto, uns 20 centímetros mais alto, meio metro mais comprido, com oito metros, oito e pouco, para treinamento de goleiros. E botaram essa turma toda para chutar em cima de mim, mais ou menos à noite, e estava garoando. Eu fiquei acho que mais... Depois, falando com uma pessoa: "Lalá, você ficou mais no alto, durante o treinamento, que no chão. Você ficou mais voando que parado." Terminado esse treino, eu fui para o vestiário - era o primeiro treino - com o falecido Laércio. Estávamos tomando banho e veio o Alfredinho - da turma que estava jogando bola - e disse: "Olha, apareceu um goleiro..." E eu guardei essas coisas boas, a gente guarda. "Apareceu um goleiro aí, batendo bola. E quem jogou no gol do Santos, jogou. Quem não jogou não vai jogar mais porque eu nunca vi uma coisa igual." Quer dizer, são passadas lindas de um companheiro, que foi o Alfredinho, Lambreta. Hoje ele está em Ribeirão Preto. Eu acho que ele tem posto de gasolina lá, é empresário lá. Então essas coisas a gente guarda. Mas, no futuro, com o passe livre... Eu não sei o que é. E também tinha grandes goleiros. O Manga foi um fabuloso goleiro. Laércio também pegava. E o Santos ganhava os jogos. Não tinha condição de jogar.

P/2 - Mas não era comum então?

R -

Não, não era comum jogar de passe livre. Mas, como foram me buscar lá em Curitiba, exigi passe livre. O Santos vinha aqui... "Eu assino, mas quero passe livre. Não quero luva, não quero nada. Quero tanto por mês. Quando terminar o meu contrato, eu vou para onde quiser." Então eu exigi. E o Santos, para não me perder... "Ah, vamos pegar o homem. Ele quer passe livre, dá passe livre para o homem." E, quando terminou, eu exigi uma certa quantia, o vice-presidente, que era o Modesto Roma, e que era o meu padrinho dentro do Santos, já que mandou me buscar para vir fazer o teste, achou que eu estava pedindo muito. Eu achei que não era. E ficou aquela coisa. "Então você tem que esperar porque eu vou levar para o Conselho." Eu digo: "Não. O senhor decide agora, senão eu não vou voltar a conversar." E aí, passado...

P/2 - Deixa eu fazer uma pergunta para o senhor. Na verdade foi assim: foi o seu irmão quem deu aquele ultimato. E aí, quando você conseguiu?

R -

Foi o meu irmão quem me deu o ultimato. Quando eu consegui, que eu peguei o meu primeiro contrato, eu peguei as luvas e entreguei para eles, porque eles estavam lá, para aplicar esse dinheiro. Aplicaram e abriram essa beneficiadora, tudo isso aqui. No meu retorno de lá, peguei e comecei a abrir os meus negócios aqui.

P/2 - Não, eu quero saber dos comentários.

R -

Ah, ficaram maravilhados porque é um passo muito grande. Mas nenhum era do futebol. Naquele tempo, jogador de futebol não tinha muito conceito. Principalmente lá porque o futebol era pobre. Aqui já não. Jogando em time de São Paulo, era outra coisa. Mas no Paraná... "Ah, vai jogar futebol..." Ganhava pouco, aquele negócio todo. Mas, na hora que foi, pelo amor de Deus. Saí no Mundo todo. Comentários depois: "Ele está na Europa..." Tinha um médico que brincava comigo, doutor (De Buona?). Ele falava: "Pô, agora vai voltar na Lapa, né: LAPA SAÚDA O SEU HERÓI" (riso) Ficava o tempo todo brincando comigo dentro do ônibus. "Já pensou, quando você chegar naquela cidadezinha?" A cidade tinha 15 mil habitantes, 12 mil, na época.

P/2 - Se não fosse ele ter...

R -

Ah, se não era o meu irmão dar o ultimato: "Ou joga no melhor time do Brasil ou vamos trabalhar, vamos lá para o norte." E lá tinha muito borrachudo. (riso) Só selva. Eu digo: "É por aqui que eu vou." (riso)

P/1 - Eu queria fazer um gancho

com essa experiência que o senhor está vivendo agora com o filho do senhor. Como é que é? Agora é ele que está buscando.

R -

Tá buscando. Só que, na época... Eu fui fazer isso com o meu filho agora, exigindo, transmitindo, e eu dei uma carga muito forte para ele. Dei uma carga muito forte do valor, como homem, como filho. Graças a Deus eu tenho uma família muito firme. Ele trabalha na Johnson & Johnson's. É muito conceituado na firma. Já tem quatro, cinco anos, entre 100 pessoas. Já saíram mais de 100 pessoas da firma, ele continua. Então é muito bom funcionário. Ele já está fazendo o seu Inglês, está fazendo o seu estágio. Depois quero ver se mando para os Estados Unidos para ele pegar uma visão bastante grande, depois a gente dá andamento na firma. Essa é a minha intenção com ele. Então eu dou muita responsabilidade. O mais velho, então, com 15 anos... E o mais novo, hoje, com 16 anos, eu dei uma carga muito grande. Haja visto que no primeiro treino ele desmaiou agora no Santos, quando viu o Pelé, tudo. A carga emotiva, a carga muito forte que eu transmiti a ele. A responsabilidade para estar em um time igual ao Santos. E isso veio causar um desgaste muito grande dele no primeiro treino. Ele passou agora para o juvenil. Ele era do infantil, passou para o juvenil, e teve essa carga. Ele passou mal porque queria abranger o campo todo e chegou quase a desmaiar. "Pai, no quinto pique que eu dei, já não veio mais o ar, eu senti vômito..." "Isso é ansiedade, filho." Agora eu bati um papo com o Samir. Ele disse: "Puxa, Lalá, foi bom. Não tinha nem médico lá e tal." Mas são coisas que às vezes acontece e precisa, né? Mas não é o caso. Ele já tinha tido um problema respiratório antes pela carga que eu estou dando. Então, antes do jogo agora que teve a vitória contra o Palmeiras, encontrei (Ramos Delgado?) e ele disse: "Lalá, vê se larga o teu filho. Deixa que eu sei o jogador que ele é. Você joga brincando. Larga de dar responsabilidades para ele." Ele já está formado. Tem a cabeça muito boa o menino. E eu espero grande coisa dele. (riso)

P/2 - É um bom jogador?

R -

Eu acho ele um bom jogador. Ele é muito técnico e muito inteligente.

P/1 - Que posição que ele joga?

R -

Ponta de lança. Ele joga meio campo, ponta de lança, chegando. E ele é muito inteligente. Ele é um estilo - dadas as proporções -, penso eu, assim, que eu vejo, um Evair. Ele é do estilo do Evair. Vai ser um jogador alto porque a família é alta. A família toda 1,90 metro. Ele vai ser um jogador de 1,85 metro, 1,84 metro. Eu acredito que ele possa vir a ser um jogador. Como pai coruja, tenho que esperar qualquer coisa dele. Tenho até a fotografia dele. Aqui foi na inauguração do CT. E a primeira fotografia dele, tirada - são coisas que eu não relato -, a primeira fotografia que ele tem é na casa do Pelé, no campo da casa do Pelé, que é aqui na Ponta da Praia. Ele está dando um chute e tem uma fotografia dele. "Se um dia ele foi jogador, vai começar com uma fotografia dele..." "Onde você aprendeu a jogar futebol?" "É aqui", com essa fotografia. "Sabe onde ele iniciou?" Esse vai ser o título. E vai ter um prêmio para quem descobrir onde ele iniciou. (riso)

P/2 - Bom, vamos encerrando...P/1 - Eu só gostaria de fazer uma perguntinha para finalizar.

R -

Pode ficar à vontade.

P/1 - Para finalizar mesmo, eu gostaria que o senhor falasse um pouco dessa experiência de estar sendo entrevistado pelo Museu. O que o senhor está achando dessa entrevista? Como o senhor sentiu isso?

R - A iniciativa... Eu parabenizo a todas as pessoas, a todos os presidentes, a todos os diretores, a todos os conselheiros quando eles fazem alguma coisa pelo Santos Futebol Clube. Embora eu tenha vindo de outro estado, eu levo o Santos e Santos, a cidade, dentro do coração. Porque eu sou tratado como um filho aqui. O Santos, para mim, é meu pai. O Santos Futebol Clube é a coisa que eu mais adoro, naturalmente, por fora. Não gostaria nunca de ser um diretor do Santos, mas carrego o Santos comigo. Se der, por fora, para ajudar o Santos, eu estou à disposição. Não porque ocupa muito tempo, tem que se dedicar e eu não poderia conciliar as minhas lojas com o Santos Futebol Clube. Mas, por fora, o que eu posso fazer pelo Santos. Então eu compartilho e enobreço a todos os diretores. E parabenizo muito, principalmente, o Milton Teixeira, do Ernesto Vieira, que foi presidente no meu tempo, com o Roma, o Atiê, falecidos. Eu parabenizo. Estou sempre com o filho dele, o Marcelo. E com o Samir eu dou milhões de louvores porque é um presidente que fez muito pelo Santos, até o momento, e acredito que vai fazer muito mais. Reconstruiu o estádio, arquibancada, iluminação, um campo que não tem igual no Brasil, igual ele fez agora. Agora ele fez a luminária. Um CT que ele está construindo. Tudo isso aí é dinamismo. A equipe que ele procura ter, os treinadores que ele está trazendo. Então é um dinamismo incomparável. Porque o Santos, dentro de São Paulo, tem que lutar contra quatro grandes. É o filho menor... É o anão querendo ganhar de Golias. É dificílimo. Precisaria de uma plêiade de gente da capacidade de um Edson Arantes, de um Samir para correr junto, para que o Santos alcance. Eu acredito que, com gente da capacidade desses homens, o Santos pode alcançar e chegar a onde foi um dia: essa glória imbatível. E eu acredito muito no Samir.

P/2 - Muito obrigado, foi uma boa entrevista.