Museu da Pessoa

É por isso que eu não perco a fé

autoria: Museu da Pessoa personagem: Josefa Felipe de Araújo

P/1 – Para começar, eu queria que a senhora falasse o seu nome completo.

R – Josefa Felipe de Araújo.

P/1 – A senhora nasceu que dia, mês e ano?

R – No dia 16 de abril de 1952.

P/1 – Qual é o nome do seu pai e da sua mãe?

R – Maria Felipe de Azevedo e José Felipe de Azevedo. Eles eram primos.

P/1 – O que eles faziam? Qual era a ocupação deles?

R – Eles eram da roça. Plantavam, criavam gado, porco, cabra; colocavam roçado, faziam farinhada, moagem.

P/1 – O que tinha na roça?

R – Plantava o feijão, o milho, milhozinho para pipoca, jerimum, cabaço, gergelim.

P/1 – E isso era onde?

R – É lá onde eu morava, na Susana.

P/1 – Susana? É uma cidade?

R – Sim, no interior.

P/1 – A senhora tem irmãos e irmãs?

R – Só tenho uma irmã, a Luzia, e um irmão de criação, o Pedro. Os meus pais tiveram oito filhos, mas só se criaram três. Depois morreu uma, atropelada por um carro. Ela desceu do ônibus e o carro a pegou. Deixou duas filhas. Uma é essa que está aqui. Ela mora aqui. A outra mora do outro lado daqui. São as minhas duas sobrinhas que eu acabei de criar.

P/1 – A senhora cresceu no meio de oito irmãos?

R – Os meus irmãos eram só três: a Luzia, a Toinha e eu.

P/1 – Todas mulheres?

R – Três mulheres. A mamãe criou um menino, que é o Pedro, que tem uns quarenta anos. Ele já se juntou, tem uma família.

P/1 – A senhora falou dos seus pais, mas agora quero saber: a senhora tem lembrança dos seus avós, lembra-se dos nomes deles?

R – Só do meu avô. Agora dos nomes deles eu sei porque a minha mãe dizia: Francisca Alves de Azevedo, a minha vó; o meu avô era José Cândido de Azevedo.

P/1 – Eles também eram de Susana?

R – Sim. A Susana era deles. O local era dos pais dele. O pai morreu e o meu avô comprou as partes dos irmãos. Aí ficou para os filho. Ele tinha oito filhos. Era um bocado. Quando ficaram de idade, casaram, esparramaram uns para cada canto. Depois venderam a herança. A mamãe nunca vendeu a dela, mas deixou para mim.

P/1 – A senhora ficou com as terras que era da sua mãe?

R – Da minha mãe, é foi minha mãe.

P/1 – Será que a senhora conhece alguma história de como os seus pais se encontraram? Você falou que eles eram primos.

R – Meu pai mais a minha mãe eram primos.

P/1 – Eles contavam alguma história de como se aproximaram?

R – O meu pai já morava em Caiana e sempre vinha, porque era bem pertinho do outro. Aí, quando casaram foram morar em Susana, perto de Cumbuco. Depois voltaram para São Paulo quando o meu avô morreu - a minha vó já tinha morrido. O jeito foi tomar conta dos terrenos, das coisas. Eu já nasci aqui. De lá mamãe só trouxe uma filha, a Luzia. As outras tinham nascido e morrido. Ficamos eu e a Toinha, que morreu debaixo do carro.

P/1 – Como era a casa que você morava lá em Susana?

R – A casa do meu avô era grande. Tinha casa de moagem, casa de farinha, tudo perto. Aí, as pessoas foram fazendo as casas. A nossa casa era de taipo, que até caiu. Quando caiu, nos aperreamos muito. Tinha um terreno lá perto, do Seu Chico Vidal. Ele me deu madeira para fazer a nossa casa. Colocamos um pessoal para tirar a madeira e fizemos a casa em nove compartimentos.

P/1 – Nossa!

R – Sim. Mas quando veio essa desapropriação a casa foi desmanchada. Tiramos alguns telhas e deixamos lá em Matões. Ainda tem umas partes da forquilha. Outros ficaram embaixo e ninguém pôde tirar.

P/1 – E o que a senhora lembra dessa casa? Como era a vida dentro dessa casa?

R – Criávamos uns patinhos, umas galinhas, fazíamos empréstimos pequenos para poder criar os porcos, as galinhas e para semear as plantas. Todos os anos fazíamos uma plantaçãozinha. Tinha o milho e o feijão. Deixamos a roça porque tudo que pegava tinha de tirar para um e para outros.

P/1 – Essa casa da sua infância era uma grande propriedade?

R – Tinha a casa da minha família, tinha a casa dos filhos - tinha um filho que começou a casa e ficou no alicerce. Eles tomavam conta dum terreno lá em Matões, mas ficou só o alicerce da casa. Tinha uma casinha do genro que foi derrubada e tinha a casa da outra sobrinha, que eu chamo de filha, que era perto e que também foi derrubada. Quando eles começaram a nos tirar de lá, chegaram os tratores e, aí, acabou. Derrubaram o resto. Nós alugamos as terras, a madeira, os porcos - foi preciso alugar uma casa e pagar alguns meses. Eram quatrocentos reais o aluguel da casa que fomos morar. Passamos dois anos lá. Os meus filhos ainda estão morando por lá. Todos tem mulher. Enquanto eu recebo, me pagam para comprar a localidade, mas até agora não ganhei nada.

P/1 – Vamos voltar para a sua infância. Digamos que estamos lá em Susana...

R – A igrejinha ficou lá, com um cemitério de três catacumbas. Eu tenho o maior desejo e eles prometeram de comprar a localidade para colocar a minha igreja com a capelazinha e as três catacumbas. O meu marido morreu e foi enterrado no outro cemitério, no Campelo. Eu vivo esperando que saia pois nem a catacumba do meu marido ainda foi feita.

P/1 – Mas, por enquanto, tentar lembrar de Susana na época da sua infância. Vocês cresceram entre os primos ou tinha vizinhos de outras famílias?
R – Tinha vizinhos também.

P/1 – Como eram as brincadeiras naquela época? A senhora se lembra?

R – Naquela época as brincadeiras eram de rezar um terço numa casa. Tinha muitos que batiam numas latas e outras coisa para dançar. Mas eu nunca gostei de dançar.

P/1 -

Tinha outras coisas além da música?

R – Colocavam umas latas e tampa de guaraná ligada. Faziam um tal de “riolette”, uns arames num pau enrolado para inventar um toque. Nesse tempo era tudo era difícil. Depois começou o radiozinho. A televisão foi de uns tempos para cá. Antes não tinha, não senhor.

P/1 – Hoje utilizamos a televisão para a diversão. Como era a diversão naquela época?

R – Hoje em dia tem para tudo. Eu assisto muito a missa na televisão.

P/1 – E naquela época, como era?

R – Naquela época, se não saísse, não assistia. Não tinha o que tem hoje, de jeito nenhum. Para gente pobre era só o serviço, não tinha brincadeira não. Quando alguém brincava, era com sabugo. As meninas colocavam uma tirinha de pano enrolada no sabugo - eram as nossas bonecas. E os vestidos? Pegávamos um pano, a mãe ensacava um bocado de areia para fazer uma bola para as crianças brincarem.

P/1 – E a senhora gostava de brincar de bola?

R – De bola eu já gostava.

P/1 – Fomos um pouquinho para a frente. Vamos voltar um pouquinho porque eu queria saber como é que as pessoas nasciam lá em Suzana. Quem fazia os partos?

R – A Comadre Maria Café. Quase todo mundo naquele município era chamado. O filho dela mora bem aqui, onde tem uma mesa de sinuca. Ela foi a minha parteira. Dos meus filhos, só dois eu tive na maternidade. Os outros foram com ela. E a redondeza toda. Bem depois, tinha uma pessoa que estava com o menino nascendo e eu tive que... Mas isso já foi mais para cá. Tinha que levar para a maternidade. Eu já ia lá para levar e chamaram a ambulância. Chegando lá, o menino já vinha nascendo. Do jeito que vinha a gente já levava.



P/1 – A senhora nasceu com a parteira ou na maternidade?

R – Foi com a parteira. Meus filhos também. Só tem dois que foram na maternidade, o resto tudo foi com a parteira.

P/1 – Já assistiu a um parto?

R – Sim.

P/1 – Como é que é isso?

R – É muito feio (risos).

P/1 – Como assim?

R – É feio para eu contar para um homem. Muitos colocam a pessoa numa rede e outros num assento. A pessoa se abre toda. Quando o menino nasce é muito escandaloso.

P/1 – A senhora chegou a praticar partos? Fez muitos partos?

R – Foram quatro.

P/1 – Quatro?

R – Que eu peguei e cortei o umbigo. Até a Raimundinha, a minha filha, já socorreu outras pessoas: enrola num pano, ninguém mexe com a tripa do umbigo. Coloca para um lado, leva o menino aqui mais perto e encaminha para maternidade. Esse aí eu levei uns poucos. Mas pegar, medir, cortar, banhar, só foram quatro.

P/1 – E a senhora fez esses partos por necessidade do momento?

R – Sim, por necessidade, porque não tinha parteira. Eu socorria e levava para a maternidade. Assim o menino nascia, era o jeito que tinha.

P/1 – Mas a senhora não fazia os partos.

R – Não, senhor. Agora eu já tenho... Fui chamada para fazer umas fichas para tirar o registro e me colocaram como se eu fosse uma parteira, porque eu disse que tinha assistido o parto desses quatro meninos. Por isso, me colocaram como se eu fosse parteira. Mas eu disse: “Eu não faço mais desse tipo, não”.

P/1 – Em Susana a senhora falou da casa, das brincadeiras, do trabalho...

R – Tínhamos coqueiros, cajueiros, mangueiras, pé de azeitona. Haviam muitas fruteiras por lá. Laranja, mamoeiro. Era cheio. Limão do grande, do pequeno, graviola...

P/1 – Como era a alimentação naquela época? A senhora se lembra das comidas, de almoço, da janta. Como é que era isso...

R – As comida era mais feijão, arroz, uns ovinhos, franguinhos para se matar. Bacurote.

P/1 – Chegava a faltar alguma coisa?

R – Faltava sim, porque éramos pobres.

P/1 – Como faltava?

R – Porque na maioria das vezes comíamos ovos. O bacurote estava magro, mas queríamos mais. Fazíamos um dinheiro com eles para comprar uma roupa, uma rede, uma coisa que estava precisando. As coisas eram mais...

P/1 – A senhora chegou a ir para a escola?

R – Fui. Estudei até a quarta série.

P/1 – Como era o nome dessa escola?

R – A mamãe pagava a finada Florinda, lá nos Pereiras, nas Caraúbas. Depois, eu tive que a Madrinha Cristina, mas tudo era escola particular. Não tinha grupo escolar. Mas os meus meninos estudaram em grupo.

P/1 – E por que parou de estudar?

R – Parei de uma só vez.

P/1 – Mas por que parou?

R – Porque o meu irmão adoeceu. Só íamos os dois para a escola. Depois, os outros foram embora. Sozinha eu também não ia não. A mãe achou que para pagar só para uma pessoa... E, aí, parou.

P/1 – O que a senhora começou a fazer depois que não tinha mais escola?

R – Fui fazer trança, trabalhar com palha. Com isso eu trabalhei e criei as duas filhas, com elas me ajudando. Riscava, fazia o chapéu de trança, a malha com uns furadinhos, tapete grande para pôr no piso – artesanato, como falam. Ensinei uma prima a fazer cesta de tampa - um samburá grande para colocar as roupas dentro. Em outros fazíamos várias rodas e da palha mesmo fazia uma rede. Fazia umas tiras compridas e ficava como se fosse uma sianinha, colocando aquelas rodas. Ali, pegava outra roda e enchia. Muita gente comprava. Fazia aquela mesinha, colocávamos umas cadeirinhas e vendíamos um bocado de tapetes lá em São Gonçalo (do Amarante). Eu era feliz. Outras pessoas queriam uns compridos para colocar na entrada da casa. Fazíamos uns desenho de linho, outros faziam umas flores.

P/1 – E com quem que a senhora aprendeu a fazer isso?

R – Esse aí eu aprendi com a Madrinha Cristina, a mulher que me ensinava a ler. Ela era meio inteligente, ela, agora trança minha mãe fazia. Minha mãe fazia chapéu, fazia uru, fazia surrão. O senhor conhece surrão?

P/1 – Não.

R – O surrão é feito de uma trança larga que fazemos - é da largura duma mão. Trança uma roda medonha. Quando está grande, pegamos uma grade, como de um portão como esse. Não enche o portão todo, somente até certa altura. Vai costurando e rodando. Quando termina, puxa a grade para fora e a costura para o lado de fora. Ficam duas bocas. Costura uma fazendo fundo e a outra fica para colocar. Surrão é para colocar rapadura, estrume... Tudo no mundo que pode botar é no surrão. De uns tempo para cá se usa o saco. Mas, antigamente, não tinha esse saco. Era o surrão e bolsa. Tudo de palha de Carnaúba.



P/1 – Que tem muito na região?

R – Tem lá em São Pedro, Primavera.

P/1 – E vocês faziam isso para uso próprio ou para vender?

R – Era para vender.

P/1 – E a senhora saía para vender ou ficava fazendo?

R – Eu fazia isso com o meu marido. Isso já foi depois de estar casada. As minhas duas filhas ficavam com a minha mãe, que morava pertinho. Eu enchia de cestinhas e levava para a praia do Pecém, São Gonçalo, Cumbuco, nesses cantinhos. Levava e vendia tudinho.

P/1 – E quem era o público que comprava?

R – O pessoal de lá mesmo. Eles compravam para revenda.

P/1 – Entendi.

R – De mês em mês eu ganhava um bocado num canto, levava para outro canto... Revendia colorau. Eu movimentava muita coisa.

P/1 – Colorau?

R – Eu comprava a semente, ia para o pilão, pisava tudinho, enchia uns vidros essas mantegueiras e levava para o Pecém e vendia tudinho. O colorau era feito em casa. Hoje em dia esse colorau... Se colocava uma coisinha, já pintava. É como o café. Antigamente, era só torrado. Comprávamos o café e torrava no calo com rapadura e fazia com rapadura para beber. Hoje em dia, o café já está em pó, o pessoal faz com açúcar e ainda acha ruim fazer um café. Tem muita mulher que tem preguiça de fazer um café. No meu tempo tinha de colocar milho de molho e torcia no moinho para fazer cuscuz, para comer com feijão e com carne de porco. Papai gostava muito de carne de porco.

P/1 – A senhora foi lá na frente, mas eu quero voltar um pouquinho na sua história. Vamos dizer que a senhora já saiu da escola, está trabalhando, vendendo, trançando...

R – Eu fazia o chapéu, a trança e a mamãe costurava o chapéu para vender. Tinham as bolsas...

P/1 – Mas vamos lembrar um pouquinho antes o que que fez a senhora sair de casa. A senhora falou que não gostava muito de dançar.
R – Não gostava. Eu nunca namorei.

P/1 – Mas como é que eram as festas?

R – Tinham as festas – eu ouvia falar de festa. Uma vez eu fui com a mamãe e uma irmã minha que estava noiva. A Luzia tinha vontade de brincar mas a mamãe não deixava. Ela brincava assim com esses toques em casa, agarrada uma com a outra. Mas, em festa mesmo, ela nunca brincou. Quando estava noiva, o rapaz a convidou para ir à festa e a mamãe disse: “Depois de casar vocês pode ir”. A mãe não soltava. Hoje em dia é muito diferente. Antigamente, se a pessoa chegava, a mamãe é quem atendia a pessoa lá fora. Quando queríamos alguma coisa: “Mamãe, vem aqui”. Aquilo já estava feito. Hoje, quando se chega em algum lugar, as crianças são as primeiras a chegar. Se o pai ou a mãe estão dizendo alguma coisa, já ficam desmentindo: “Não foi assim. Foi assim”. Eu acho essa lei tão... Eu não fui criada assim. Aguentamos cada coisa...

P/1 – A senhora falou que não namorou. Como assim?

R – Não namorei. Tinha uns parentes que tinham vontade mas eu nunca simpatizei. Aí foi um parente da mamãe lá pra casa e pegou trabalho em roçado e namorou com uma irmã minha. E a mamãe queria que eles se casassem, que era um rapaz muito trabalhador, dizia que daria certo, mas o papai não quis. Ela deixou por outro. Eu pensei: “Quando eu crescer eu caso com o padrinho”. Eu chamava de padrinho. “Você não sabe o que é um casamento. Deixa de ser besta!” Quando fiquei moça, ele disse: “Deixa de se aperrear.” Disse para eu casar com ele, porque ele ia casar comigo. “Eu quero ser casada com você”. Falaram para os meus pais e eles fizeram o meu casamento. Foi a finada Augusta, a do São Pedro, que era dona do cartório. Eu me casei no civil e com o padre em Caucaia. Quando me casei eu tinha 16 anos. A mãe deu o casamento e disse: “Mas vocês...” Ele já vivia trabalhando com o papai: “Vocês ficam morando aqui e eu dou uma parte da casa”. Ela deu dois compartimentos, nós fizemos a cozinha e por lá ficamos. Morei lá por dez anos, sem sair. Lá vivia cheio de gente aos domingos. Estava no meio de um monte de gente – e pra quem tem família é ruim ficar no meio de muita gente. Eu estava esperando descansar da Raimundinha. Já estava construindo uma casinha. Pedi uma casinha perto da igreja, que vivia fechada, para eu ter o menino por lá, para depois ir morar na minha casa. E fui para lá. Ave Maria! Mas, era muito ruim. Para poder sair de dentro de casa, quase fiquei doida. Passei o Dia de Reis pra lá, mas, de vez em quando, vinha em casa. Quando me mudei para a minha casa - era bem perto: eu fazia um prato e ia comer na casa da minha mãe. Vivemos lá até Deus tirar ela. Papai morreu e fizemos um compartimento, pertinho. Eu dormia com ela e as meninas. Eu cuidei até ela se acabar. Ela passou dois anos prostrada. Quem botou a vela na mão dela fomos eu e o meu esposo.

P/1 – E como foi o seu casamento? A senhora tem lembranças, tem fotos do casamento?

R – Não tenho porque nesse tempo não tiravam. Era muito difícil.

P/1 – Mas como é que foi essa celebração?

R – Não foi muito boa não.

P/1 – Por quê?

R – (risos) Porque eu não sabia de nada. Estranhei muito.

P/1 – Teve festa?

R – Teve comida, alugou um carro para nos levar. Festa não teve.

P/1 – Teve vestido?

R – Teve sim. A mãe mandou fazer. Hoje se aluga, mas naquele tempo era com a costureira. Vestido branco. Ele estava de calça azul, quase preta, com uma blusa branca e manga de punho.

P/1 – E a senhora se lembra da ansiedade da época? Da questão de se casar.

R – Eu não esqueço.

P/1 – E como era?

R – (risos) Isso eu não digo.

P/1 – Como se fazia lá em Suzana quando alguém não estava bem de saúde?

R – Era remédio caseiro.

P/1 – Como assim?

R – Usava remédio caseiro conforme as doenças. Se fosse uma gripe, uma febre, a pessoa fazia o chá de eucalipto com alho. Coloca um dente de alho e em dois dias... Eu gostava dessas coisas. Meia colher de café, ferve com um pedacinho de casca de laranja, três folhas de eucalipto. Dá uma xaropada. Hoje em dia tudo é na geladeira, mas não gosto de geladeira para isso, não. Eu coloco em cima duma mesa e cubro. Coloco numa garrafa e fico bebendo. É muito bom. É como esse boldo. Para a gripe, eu pegava um ovo, batia e tirava o suco de uma laranja. Hoje em dia tudo é no liquidificador, mas antes era na mão mesmo. Batia com a colher, espremia a laranja, lavava as mãos, espremia a laranja, batia bem batido com açúcar e bebia. O mastruz: a pessoa pisava no pilão e tirava o sumo. Tem também o breu, que é para pancada - hoje em dia ainda existe. Eu misturava para beber. E para a gripe tem o leite. Pegávamos o leite de gado ou em pó mesmo. Misturava tudo e coava na tela. Agora as coisas são diferentes.

P/1 – Quando a senhora conheceu médico e hospital?

R – Médico foi depois. Quando eu fiquei grávida que começou esse negócio de exames, na maternidade de Caucaia. Agora aqui tem muito, mas naquele tempo a maternidade só existia em Soro, em Caucaia. Era lá que as mulheres tinham os filhos.

P/1 – E a senhora lembra das rezadeiras, curandeiras da região?

R – Me lembro sim. Tinha muito lá onde eu morava.

P/1 – A senhora lembra o nome de alguma?

R – Tinha a finada Sinhá, a finada Chiquinha, a finada Alzira, a minha mãe, a tia Petronila. Comadre Maria Café era rezadeira. Curava tanto… Tinha o finado Martinho, o finado Sebastião, a Maria Escócia, também lá do rio. Todas eram curandeiras. Tinha a Maria Milagre.

P/1 – E como era a atividade dessas pessoas?

R – Se a pessoa adoecia elas iam na casa dela rezar, medir a espinhela. Às vezes ensinava a pessoa a tomar um remédio caseiro. Para dor de cabeça a mãe sempre pisava gergelim, dava banho de galinha na nossa fonte e colocava pinhão-roxo. Ela amarrava uma tira de pano e sossegava por ali; tinha o café amargoso com eucalipto e o alho.

P/1 – E a senhora conhece alguma benzedeira ou rezadeira hoje em dia?

R – Hoje em dia eu não conheço. Se querem curar, o povo corre para cá.

P/1 – Como assim?

R – Eu ainda rezo.

P/1 – A senhora reza?

R – Rezo, sim senhor. Outro dia, chegou um menino aqui gritando com uma dor de barriga. A mulher foi numa crença e quando chegou, parece que botaram mau olhado na criança, durante a viagem. Era uma criancinha de uns cinco meses. De longe tinha o choro da criança. Quando esse menino entrou em casa encheu de gente para saber o que tinha acontecido. Trouxeram para eu rezar. Era dor de barriga. Eu emborquei ele, tirei a roupinha. Esse povo empacota o menino. Não precisa fazer isso, não. É muito serviço. Antigamente era diferente. Estava todo empacotado eu tirei os sapatos e as meias. A menina me disse: “Não faz isso que a mãe dele vai achar ruim.” “Se ela achar ruim, que faça do seu jeito”. Tirei a blusinha dele, deixei-o só com a cuequinha e a fralda. Esfreguei um óleo doce nele. A menina pegava e passava no seu umbigo. Mandei fazer um chazinho de alho e dei a ele. Esfreguei nele. Colocava-o na minha perna, emborcada. Colocava-o para cima, para baixo, esfreguei. Ele foi melhorando. Quando o colocava pra baixo ele começava a chorar de novo. Tornei a fazer, de novo. Rezei por três vezes nele, que dormiu. Eu disse: “Pronto, leva ele, comadre”. Só com o paninho aqui em cima. Ela colocou o paninho e foi embora. Ela disse que ele não sentiu mais nada. Esses dias chegou uma menina - deste tamanho, toda “engurujada”, não podia nem andar. Rezei só um pouco só e a menina voltou. Sempre chega gente aqui com espinhela caída, com dor no peito, dor na cruz, dor de cabeça. Não sou Deus, mas sempre gostei de rezar. E sou doente. Às vezes eu não posso, em que estou arriada. Você viu quando chegou? Eu estava gemendo. Mas depois melhora.

P/1 – Há quanto tempo que a senhora reza para as pessoas?

R – Desde que morreu um menino meu. Eu já tinha quatro filhos. Ele morreu com oito meses. Colocaram um quebrante. Eu levava para as pessoas rezarem. Aí, eu pensei: “Levo o menino para a mãe e para as minhas tias rezarem. Por que eu não rezo? Vou aprender”. Aprendi a rezar, mas minha mãe dizia que eu não tinha fé. Eu rezava, mas não tinha fé. “Filha, o que a gente precisa é da fé. Se a pessoa não tiver a fé, nada feito”. “Eu vou rezar, mas parece que a reza não serve”. “Serve”.

Depois que eu acostumei, pronto. Tanto eu rezo para os meus como para os outros. Até pela foto. Muitas vezes, mandam uma foto, uma roupa e eu rezo. E eles ficam bom. Até de engasgo.

P/1 – E o que é a fé para a senhora?

R – É fazer aquilo com a fé que Deus vai nos ajudar e que vai vencer aquilo. E se for pensar negativo, nada dá certo. Por isso que eu não perco a fé ainda. Tenho muita fé em Deus que, ainda antes de morrer, vou receber o meu dinheiro para pagar as minhas contas. Ainda hei de fazer a catacumba do meu marido, e para quando eu morrer, ter também o meu cantinho. Não perco a fé não em Deus.

P/1 – Eu queria saber qual a sensação da senhora quando trazem uma criança para a senhora benzer?

R – Eu peço a Deus para me ajudar, para que aquela criança fique boa e para que aquela reza sirva. Não podemos fazer nada, só as palavras. E pedir forças a Deus, para ajudar aquela pessoa.

P/1 – Foi construído o porto em Suzana?

R – Sim.

P/1 – Que história foi essa? O que aconteceu que a senhora teve de sair de lá?

R – Não foi construído nada ainda, mas vão construir a Petrobrás. Dizem que lá dá o gás. É de lá do Pecém. Fomos desapropriados.
P/1 – Como foi isso? Como a senhora recebeu essa notícia?

R – Veio um bocado de gente, mediram os terrenos, as casas, até o cemitério foi medido. Fizeram fotos da casa uma porção de vezes, tanto do tamanho da casa como da largura do terreno. E não foi só na minha casa. Eles foram por uns dois anos e quando pensamos que tinha se apagado o fogo, incendiaram. No final, foi tudo ligeiro. Foi saindo todo mundo. Disseram que num mês todo mundo tinha que se retirar, e todo mundo se retirou.

P/1 – E já veio direto pra cá?

R – Não, senhor. Fomos para a casa alugada. Passamos dois anos por lá. Foi ali no Matões, indo para o lado do Pecém, perto dos barreiros, do Louzardo – que é um que mora em Caucaia, filho do Zé Bezerra. Susana era perto do Seu Lica, o terreno era conjugado: Seu Ícaro, Zé Caetano, dos Pereira, Seu Chico Vidal.

P/1 – Esse terrenos, onde vai ter a plataforma da Petrobrás, eram dos seus avós? Foi vendido?

R – Não vendeu, ficou para os filhos, que foram vendendo para gente de fora. O do Seu Lica foi herança do seu pai. Do Seu Lica para cá já eram terras do meu avô. O Zelison, Seu Chico Vidal, o Chico Dantas. Tem uma porção deles. Todos os terrenos eram do meu avô.

P/1 – Mas como foi essa mudança? Sair lá de Susana e ir para Matões e depois de lá vir para cá.

R – Teve um carro que eles mandaram. O Seu Brilhante tem um motorista, um negócio do governo. Teve uma camioneta que carregou as nossas coisas para cá. Eles fretaram um carro grande e trouxeram todas as coisas.

P/1 – E o que ficou lá em Susana?

R – Lá em Susana só ficou o chão, as fruteiras e a minha capelazinha. Disseram que enquanto não resolvesse, que eu não mexesse. Então, não mandei tirar a capelazinha.

P/1 – A capela é da senhora? Qual o significado dessa capela para a senhora? O que tem lá?

R – Era uma promessa que a mamãe tinha para São José. Eram quatro missas por ano. No dia de São José ela fazia a procissão, saia com os andor, com as crianças andando e muitos santos. Faziam a missa da Caucaia. No andor eram só duas pessoas grande, para quatro ou cinco crianças, todas com as asinhas, um caixãozinho com aquele pauzinho, com São José. Num colocava um grande, mas um pequeno para sair um bocado de gente cantando. Rezavam o terço e rezavam a missa quando chegavam lá. Depois, soltavam os fogos. Na missa sempre tinha um batizado.

P/1 – A senhora lembra de alguma canção?

R – Não lembro mais não.

P/1 – (risos) A senhora já chegou a cantar alguma delas?

R – Tive que cantar.

P/1 – A senhora não lembra mais qual é?

R – Não me lembro.

P/1 – Há quanto tempo a senhora mora aqui?

R – Já fez um ano, em 21 de fevereiro. E lá também foi, em Ferreiro, no dia 16, quando já completado dois anos. Tenho tudo num papel que eu mandei as menina anotarem.

P/1 – A senhora veio pra cá com as suas filhas?

R – Para cá só a Raimundinha e o seu marido.

P/1 – Quem mora aqui com a senhora?

R – Ela ganhou essa casa. Eu vim morar com ela. A outra filha não tem família. Vou para casa com os meus filhos. Vou num dia, passo dois dias, aí eu não aguento e venho embora.

P/1 – A senhora falou que se aposentou.

R – Aposentei de doença, há mais ou menos uns 17 anos.

P/1 – O que aconteceu com a senhora?

R – Foi o meu coração. Eu tive a veia entupida, fiquei internada, estive depressiva umas três vezes. Tive osteoporose. Eu gritava. No tempo em que meu marido era vivo, eu gritava dentro de uma rede com dor. Eu não podia nem fechar as mão, cheia de dor nos meus ossos. Tinha gente que dizia que era câncer, mas eu comprei a Vital 500 e a vitamina da ostra. Em dois dias eu ia tomando. Graças a Deus que não sinto mais dor nos ossos. Agora tenho este problema de cansaço. Já fui ao médico de cérebro, rim e do coração. Já fiz uns exames e dizem que eu fiquei boa do coração. Dizem que é pulmão, empurram para o outro. Depois dizem que eu não tenho nada no pulmão. Eu não sei o que dizer. Sei que tem horas que me dói até o meu juízo. Eu tomo remédio para os nervos. Eu já tive um AVC [Acidente Vascular Cerebral]. Eles dizem que é AVC, eu digo que é ataque. Foi quando saímos daquela casa alugada. Ave Maria! Eu quase fiquei doida.

P/1 – Quando saíram de Susana?

R – Sim. Quase fiquei doida. Para derrubar o meu altarzinho - tinha a casa cheia de santos para retirar. Ave Maria! Eu cheguei lá na casa do homem, tudo dentro de umas caixas. Eu não tinha jeito nem de colocar nas paredes. O homem mandou que eu podia colocar em cima de uma mesa e tirar tudinho. Disse que era melhor pra mim. Pôr os santos em cima de uma mesa, porque ninguém sabia o tempo que eu ia ficar lá. Até que as meninas foram se ajeitando, mas eu não tenho mais, nem gosto. Para mim, se eu tivesse morrido naquela época, teria sido a melhor coisa.

P/1 – Por quê?

R – Desgosto. Nascer e se criar num lugar por quase 60 anos. Agora fiz 62. Fiquei lá por 59 anos. Nunca passei mais de um mês num outro lugar. Casei, mas sempre com todos morando perto. Mas sair de um canto e ir para outro, não.

P/1 – Sempre no mesmo lugar?

R – Sim.

P/1 – E a senhora teve que sair de lá?

R – Sim, tive que sair de lá. Quando tenho que sair daqui pra ir para lá, parece que o tempo voa. Quando chego é um vento tão do bom. Mas quando volto sozinha, acho uma tristeza, porque já ficam os outros lá. Gostaria de morar com todos, pertinho dos meus filhos.

P/1 – Quando foi a última vez que a senhora foi para lá?

R – Tem uns quinze dias que eu fui para lá.

P/1 – O que a senhora foi fazer lá?

R – Eu gosto de ir pra lá. Por eles, se eu fosse todos final de semana, era ainda era melhor. Eu amo meu filho. Um dia pode ser que Deus me ajude, e que eu possa comprar um canto para que possamos morar perto. Um lá, outro cá, nunca!

P/1 – Os seus filhos ainda moram lá?

R – Sim.

P/1 – Eles não precisaram sair de lá?

R – Não. Eles estão nessa casa alugada, do outro lado da pista.

R – Tem uma outra filha que toma conta de um terreno de um homem. Ela mora por lá. Tem o meu filho que também toma conta lá de um outro terreno de outro pessoa. Os dois moravam comigo e a menina. Eram os quatro junto comigo. Agora já tem uma que mora aqui no entrada da rua. A avó do marido dela, a Dona Francisca, ganhou a casa e deu para eles. Eles estavam numa casinha alugada.

P/1 – Como é o seu dia a dia?

R – Aqui? Só aqui neste meu aposento. A menina arruma uns emprestimozinhos e cria uns pintinhos. Tem muita gente que fez galpões para criar uns franguinho, umas galinhas e uns porcos para vender. Acabaram tudo. Não se pode criar nada solto. Vamos ver se cria uma galinha. Mas não dá para criar. Não tem onde plantar. Tem morrido muito. Os pintos já morrem grandes. Deve ser essa quentura daqui.

P/1 – E como é viver aqui nesse loteamento?

R – É muito quente. Tem que fazer uns alpendres. Com mais sol não fica bom.

P/1 - A senhora tem alguma expectativa, algum sonho a realizar, alguma coisa que a senhora pensa no futuro?

R - Eu penso em receber o meu dinheiro e comprar um lugar para colocar os meus filhos.

P/1 - E a senhora sabe onde?

R – Eu ainda não sei, mas espero que Deus me dê um canto. Sempre peço a Deus que me coloque num canto para que eu não sofra tanto. E tem tanto assalto nesse mundo.

P/1 - A senhora teve quantos filhos?

R - Eu tive sete filhos e dois abortos. Foram nove, mas criei seis. São três homens, três mulheres e tem as duas sobrinhas.

P/1 – A senhora tem quantos netos e netas hoje?

R – A minha filha mais velha tem duas meninas, de nove e três anos. O mais velho tem uma filha. Ela tinha um casal, mas é de outro marido. Do meu filho é só uma, que tem doze anos. A minha filha mais nova tem uma menina. Já as minhas sobrinhas tem uma menina com dez anos, mocinha, que já está estudando. A outra tem três meninos. E pronto. Os outros dois ainda não tem família não. Tem mulher, mas não tem família. E essa aqui também não tem família. Ela tem 36 anos e não tem família.

P/1 – Como a senhora acha que vai ser a vida dos pequenininhos que estão chegando?

R – Muito péssimo. É muito diferente de onde fomos criados.

P/1 – Esqueci de perguntar, a senhora disse que seu marido veio a falecer. Quando foi isso?

R – No dia 21 de maio faz cinco anos.

P/1 – O que foi com ele?

R – Infarto. “– Traga a foto dele Raimundinha”. Quando ele morreu, faltavam nove dias para ele completar 91 anos.

P/1 – Isso foi quando você morava, quando vocês moravam ainda lá em Susana?

R – Era em Susana. Ele morreu lá.

P/1 – E quando ele faleceu já tinha essa ideia de desapropriação?

R – Sim. O povo ia medir as terras e ele dizia: “Meu Deus, só imagino morrer e não ser enterrado no cemitério. Aí, eu dizia: “Não, você será enterrado”, mas não foi porque as gavetas estavam cheias d’água. Lá é só da família: os meus avôs, avós, os anjinhos que morreram. Enterraram o meu pai, a minha mãe e a minha irmã lá. Tem uns primos meus, muitas crianças. O cemitério é pequeno. Terminou? Posso tirar?

P/1 – Está acabando. O que a senhora achou de nos contar a sua história nessa tarde?

R – Foi bom, me despertei. Graças a Deus. Estava pensando nisso. Ontem foi o dia quase todo de cansaço, até a noite. Ontem foi péssimo. Hoje, eu já amanheci melhor, graças a Deus. “Tomara que quando o homem chegar eu não esteja assim”. Quando o sol começou a esquentar a menina disse: “Ave Maria! Meu Deus! A mãe não vai poder nem falar”. Mas Deus é maravilhoso.

P/1 – Será que tem uma espécie de remédio bom em contar história? (risos)

R – Não sei. Quando se deu o passamento eu entortei a boca. Voltei para o hospital, pois eu já tomava o remédio para evitar... Como é o nome do problema na cabeça?

Voz – Derrame cerebral.

R – Sim, derrame cerebral. Eu tomo. São dois comprimidos. “– Depois você traz o remédio para eles verem, minha filha? E traz aquele Vitral500 e a vitamina 75”. Elas fazem o pedido e eles vem deixar aqui.

P/1 – Só pra finalizar agora, a senhora falou que gosta de televisão, assistir a missa. É isso?

R – É, eu assisto, todo dia de domingo eu assisto a missa. E no correr da semana eu assisto Nossa Senhora Aparecida, no canal 38. Tem dia que é o dia todinho.
P/1 – E o que que é bom assistir da missa?

R – Na missa? É porque tá ali é melhor do que a pessoa tá chamando nome como a muita gente, né? Ou sair numa casa, casa de conversa, assim. A gente tá rezando. Reza pros vivo, reza pros morto. Eu acho aquela, nosso reino de paz, eu esqueci bem, que mal, acho que não tem não, né? É.

P/1 – É isso Dona Josefa. A gente quer agradecer, né? Então, muito obrigado por ter deixado a gente entrar e conversar com a senhora.

R – Sim, senhor.

P/1 – Espero que tenha feito bem pra senhora como fez bem pra gente...

R – Foi.

P/1 - Contar a história da senhora. Então, o Museu da Pessoa agradece a senhora e depois a gente vai oferecer o material da entrevista pra senhora poder mostrar pros netos.

R – Esse aqui que eu tomo pra gastrite, pro estomago. E este aqui eu tomo pra cabeça, pro nervo pra não dar problema cerebral. E esse aqui é o Vitral500, e esse é o cálcio. Esse aqui foi que eu vim ficar boa pra, que isso aqui meu, ele disse que inchava essas veia aqui, e ficava cheia aqui que nem se uma muriçoca tivesse mordido, como ferroada e depois que eu peguei a usar esse remédio, pronto. O sangue nem saia mais era tomando, aerosol num mim do não - - Como é o nome Naninha, que eu ia pro hospital? - tomava injeção e tomava...

Voz – Oxigênio.

R –

Oxigênio. Eu só posso tomar oxigênio. Aí só repondo oxigênio. Foi, num foi tava no hospital. E depois que encarrinhei nesse remédio, eu só vou mesmo pra, pro posto, até Agente de Saúde e passa: “ a senhora toma os três meses e não foi pro posto. Porque?” Digo, porque eu já tomando do vivo, porque de cansaço, senão eu não fico boa. “Mas, tá na hora da senhora ir, não dá mostração que a senhora tá indo no posto”. Aí, eu vou pra saber que eu sou viva, né? É.

P/1 – Então tá, Dona Joseja, saúde pra senhora.

R – E pra vocês também. Minha filha bote uma bolachinha pra eles.

FINAL DA ENTREVISTA