Museu da Pessoa

É do lixo que eu sustento a minha filha

autoria: Museu da Pessoa personagem: Vanessa Meneses do Santos

Histórias Que Reciclam
Depoimento de Vanessa Meneses dos Santos
Entrevistado por Lucas Torigoe
São Paulo, data
Realização Museu da Pessoa
TM03_Vanessa Meneses dos Santos
Transcrito por Karina Medici Barrella

P/1 – Boa tarde, obrigada de novo. Você pode falar pra mim o seu nome completo.

R – Vanessa Meneses dos Santos.

P/1 – Onde você nasceu e quando?

R – Eu nasci na Bahia, em Itajubá, em 1992, dia 13 de agosto.

P/1 – E o seu pai, qual é o nome completo dele?

R – Meu pai? É Valdeci Pereira dos Santos.

P/1 – Ele nasceu onde?

R – Ele nasceu em Itajubá.

P/1 – E você sabe qual é a origem da família dele, de onde eles vieram?

R – Não.

P/1 – E a sua mãe, qual é o nome completo dela?

R – É Miralva Maria Vieira de Meneses.

P/1 – Ela nasceu onde?

R – Eu acho que foi na Bahia também.

P/1 – Na Bahia também. E você sabe como é que seus pais se conheceram?

R – Não.

P/1 – E como era a vida em Itajubá, você se lembra mais ou menos?

R – Ah, era uma vida meio complicadinha.

P/1 – Ah é? Por quê?

R – Porque não tinha muito trabalho, aí nós tinha que capinar, às vezes não tinha o que comer. Difícil.

P/1 – E como é que era a cidade de Itajubá, Vanessa?

R – Era bom. Tirando nossas partes era bom.

P/1 – Então desde pequena você morava com seus pais, era isso? Você tem irmãos?

R – Tenho.

P/1 – Quantos irmãos você tem?

R – Tenho três.

P/1 – Três irmãos, quem são eles?

R – Uma chama Valdeilda, outro se chama Vademilson e outro se chama Vadeildo.

P/1 – E tem algum motivo pra ser todo mundo com v?

R – Não sei, meu pai e minha mãe que colocou.

P/1 – Entendi.

E como é que é o seu pai e a sua mãe? Como é o humor deles?

R – Bem legal. Minha mãe já não está mais aqui, ela morreu. Mas o meu pai é bem tranquilo.

P/1 – E você, além de ter que trabalhar lá em Itajubá, que você falou, vocês trabalhavam com o quê, desculpa.

R – Com capinar roça.

P/1 – Todos os seus irmãos.

R – Todos os meus irmãos.

P/1 – E o seu pai fazia o quê, ele era agricultor?

R – Não, ele trabalhava junto.

P/1 – Vocês tinham que plantar alguma coisa?

R – Sim, plantar mandioca, pepino, feijão, tudo.

P/1 – E vocês plantavam pra comer mesmo.

R – Sim.

P/1 – E na cidade de Itajubá o que tinha lá? O que vocês faziam, vocês brincavam?

R – A gente brincava, estudava. Acho que não me lembro de muita coisa lá, não.

P/1 – E você saiu de lá cedo, foi isso?

R – Sim.

P/1 – Com quantos anos você saiu?

R – Acho que uns seis, sete anos.

P/1 – E vocês se mudaram por quê?

R – Porque meu pai veio pra cá arrumar serviço, aí ele arrumou e em seguida minha mãe foi buscar nós. Ele comprou uma casa aqui em São Paulo e nós viemos.

P/1 – E vocês vieram pra cá que ano que era, mais ou menos?

R – Nossa, não lembro, não (risos).

P/1 – Mas você tinha seis anos, você falou.

R – É, por aí.

P/1 – E o seu pai e a sua mãe vieram trabalhar com o quê aqui em São Paulo?

R – Meu pai trabalhava num, como que fala? Em obra.

P/1 – E a sua mãe?

R – Minha mãe em casa de família.

P/1 – E vocês moravam onde quando vocês chegaram aqui?

R – Nós morava ali em Pirituba.

P/1 – Pirituba? E como é que era lá?

R –Ah, lá legal.

P/1 – É?

R – Lá era. Lá nós pedia no farol, nós pedia nos carros, nós brincava, ia pra escola, era legal.

P/1 – Quando você foi pra Pirituba você morava em que rua, você se lembra?

R – Nossa, não.

P/1 – Não tem problema. E quando vocês chegaram aqui vocês brincavam, o que mais vocês faziam?

R – A gente ia pra escola, a gente pedia na rua, ia no farol pra ajudar meu pai a construir a casa. Ah, nós fazia um monte de coisa.

P/1 – E como era essa coisa de pedir no farol?

R – Pra mim era legal (risos).

P/1 – Ah, é?

R – Pra mim era legal, eu gostava.

P/1 – Você se divertia fazendo?

R – Aham.

P/1 – Por que você se divertia?

R – Era legal pedir, melhor pedir do que roubar, né? Então nós pedia. Era legal.

P/1 – Como é que você fazia? Vocês ficavam no farol e pedia nos carros.

R – Pedia nos carros.

P/1 – Onde que era mais ou menos?

R – Você conhece Pirituba?

P/1 – Sim.

R – Você conhecia o antigo Big?

P/1 – Não, não exatamente.

R – Nós morava ali perto, tinha um farol ali e a gente pedia ali.

P/1 – E de brincadeira, o que vocês brincavam?

R – Ah, de pega-pega, esconde-esconde, bambolê. Ah, de um monte de brincadeira.

P/1 – E como era a casa em que você morava?

R – Era barraco.

P/1 – Era barraco?

R – Era.

P/1 – O que tinha lá, como que era construído?

R – Ah, tinha cama, tinha tudo.

P/1 – E quando chegou aqui você foi estudar onde?

R – Fui estudar no Silvio Portugal, eu acho que era o nome da escola. Acho que era esse.

P/1 – E como era lá?

R – Era legal.

P/1 – Era bom, você gostava de lá?

R – Gostava.

P/1 – Teve algum professor que te marcou, ou alguma coisa que te aconteceu?

R – Não. Nada me marcou.

P/1 – Você estudou até que ano lá?

R – Ah, faltava mais do que estudava.

P/1 – Ah, é?

R – Acho que foi até a segunda série, que eu ficava repetindo.

P/1 – E por que você faltava?

R – Pra ir pro farol, ficar na casa dos outros, não queria ir pra escola.

P/1 – Vocês iam pra casa de quem?

R – Na casa dos amigos.

P/1 – E vocês faziam o quê, brincavam?

R – É, nós brincava, aí acabava perdendo a hora de ir pra escola. Aí no outro dia eu nem aparecia em casa senão a minha mãe ia me bater, né, aí ficava por lá mesmo.

P/1 – A sua mãe era muito brava?

R – Era.

P/1 – O que ela fazia? (risos)

R – Ela me batia quando eu faltava na escola.

P/1 – Ah, é? Seus irmãos também?

R – Meus irmãos também.

P/1 – E o seu pai, como que ele é?

R – Meu pai já é tranquilo.

P/1 – E depois dessa escola você foi estudar em qual?

R – No Euclides.

P/1 – Euclides?

R – É.

P/1 – E como é que era lá?

R – Era a mesma coisa que a outra.

P/1 – Você ficou de que ano até que ano lá?

R – Eu fiquei pouco, eu preferi sair.

P/1 – Por que?

R – Porque eu quis.

P/1 – Você não gostava da escola.

R – Não, não gostava de estudar.

P/1 – Por que você acha?

R – Não sei, não gostava.

P/1 – E nessa época tinha alguma coisa que você queria ser, você tinha um sonho de: “Ai...”.

R – Não, meu sonho era ser mãe.

P/1 – Era ser mãe?

R – Era. Mas aí Deus me abençoou com uma filha. Tenho minha casa, tenho meu marido.

P/1 – Você queria ser mãe por quê?

O que você pensava?

R – Ah, não sei (risos). Ah, me sentia sozinha, eu acho.

P/1 – Ah é? Mas isso com quantos anos, mais ou menos?

R – Já com uns 17 anos, 18.

P/1 – Você pensava em ser mãe.

R – É.

P/1 – E por que você se sentia sozinha? Você não tinha seus irmãos?

R – Eu tinha meus irmãos, mas eu me sentia sozinha.

P/1 – E como é que foi esse período? Você começou a namorar, saía com os meninos.

R – É, comecei a namorar, aí ficava com um, ficava com outro. Aí eu arrumei esse marido meu, juntei, demorou um tempo, aí engravidei e tive minha filha.

P/1 – E como é que você fazia na época pra ir namorar? Como é que funcionava?

R – Ai, nossa (risos). Deixa eu ver, deixa eu lembrar. Nossa, nem lembro, pra falar a verdade, sabia? (risos).

P/1 – Mas você saía numa balada, num baile?

R – Não, não saía, não. Quando eu era pequena não saía. Namorava ali, nem namorava, ficava, né?

P/1 – Ficava.

R – Ficava, só.

P/1 – Mas você ia pegar o pessoal da escola ou da rua?

R – Não, lá da vila mesmo.

P/1 – De Pirituba, você ainda morava lá.

R – Isso.

P/1 – E como é que foi que você conheceu o seu marido?

R – Foi onde eu moro hoje.

P/1 – Onde você mora hoje?

R – É lá na Rua Joaquim da Costa Miranda.

P/1 – E por que você foi pra essa rua?

R – Porque minha irmã morava lá, aí eu fui morar com a minha irmã. A minha irmã vendeu a casa, aí eu fui e comprei uma, lá mesmo.

P/1 – Ah, você comprou uma lá?

R – Comprei uma lá.

P/1 – Você juntou um dinheiro?

R – É. Juntei um dinheiro, a minha mãe tinha me dado mais um pouco, aí eu fui e comprei uma.

P/1 – Onde que fica essa rua? Que bairro?

R – Ali perto da Marginal, fica ali perto. Tem uma favelinha ali perto da Marginal.

P/1 – Mas é que zona, é zona norte? Zona oeste?

R – Eu não entendo esse negócio de zona aí, não (risos). Zona leste, zona sul, eu não entendo, não. Sei que é ali perto.

P/1 – Ah, é perto aqui da Cooper?

R – É.

P/1 – E você trabalhava no que pra ter juntado dinheiro?

R – Trabalhava em casa de família.

P/1 – E como é que era esse trabalho? Você trabalhou muito?

R – Trabalhei uns três anos.

P/1 – E deu pra juntar um dinheiro bom.

R – Deu.

P/1 – Como é a casa que você comprou?

R – É um cômodo e banheiro.


P/1 – Isso na Rua Joaquim da Costa Andrade, é isso?

R – Miranda.

P/1 – E você conheceu o seu marido lá. O que ele fazia?

R – Não, ele morava lá em Guaianases, aí ele veio pra ver a irmã dele. Teve um forró lá mesmo, eu fui, ele estava lá e nós se conhecemo (risos).

P/1 – Você gosta de forró, de dançar?

R – Gosto de forró.

P/1 – O que mais você gosta de dançar?

R – Todo tipo de forró.

P/1 – Todo tipo de forró?

R – É. Menos funk, black, esse negócio eu não gosto, não.

P/1 – É? Por quê?

R – Não sei, eu não gosto.

P/1 – E o que você gosta do forró, da dança?

R – Da dança.

P/1 – Você gosta de dançar, então?

R – Aham.

P/1 – Você sempre gostou, desde criança?

R – Sempre gostei.

P/1 – O que você acha?

R – Eu poderia ser uma boa bailarina (risos).

P/1 – Ah é? (risos) Você já teve aula ou tentou dar aula?

R – Não, não.

P/1 – E como é que é? Lá no seu bairro tem muito forró, tem muito baile?

R – Tem muito baile.

P/1 – Quem que faz esses?

R – As pessoas lá mesmo fazem.

P/1 – Nas casas das pessoas?

R – Não, nos bares.

P/1 – Nos bares mesmo. E como é que é? Que horas vocês vão?

R – Umas onze horas começa, aí vai parar lá por umas quatro, cinco horas da manhã.

P/1 – Você aguenta dançar tanto tempo assim?

R – Não, a gente dá uma parada, né?



P/1 – Dá uma parada.

R – Mas é bom, gostoso.

P/1 – E você faz amizade lá? Você tem um pessoal que você conhece?

R – Sim, conheço todo mundo lá.

P/1 – E como é que é? Divertido? O que você acha, como é que é lá?

R – É bom. Melhor lugar pra morar é ali.

P/1 – Ah é?

R – É, pra mim é.

P/1 – O que tem lá? O que você acha que é tão bom?

R – Não sei, acho que é o lugar, o pessoal. É bom.

P/1 – Você conheceu ele, qual é o nome dele?

R – Luciano.

P/1 – E o que ele fazia na época que vocês se conheceram?

R – Ele trabalha até hoje na mesma empresa.

P/1 – Onde é que ele trabalha?

R – Lá em Guaianases.

P/1 – O que ele faz?

R – Ele faz massa de pão.

P/1 – Você conheceu ele e aí vocês namoraram.

R – É, nós começamos a namorar.

P/1 – E quanto tempo vocês namoraram até...

R – Acho que foi uns seis.

P/1 – Aí vocês já se casaram?

R – Não. Não é casado no papel, é casado no modo de falar, juntado. Aí depois eu tive a minha filha.

P/1 – E qual é o nome dela?

R – Beatriz.

P/1 – E como é que foi quando você descobriu que estava grávida?

R – Foi estranho.

P/1 – Ah é?

R – Foi.

P/1 – Por que?

R – Na cabeça a gente quer engravidar, mas quando acontece é diferente.

P/1 – É diferente como?

R – Eu pensei em tirar, ia atrapalhar a minha vida. Um monte de coisa passou.

P/1 – Você tinha quantos anos?

R – Eu tenho 23. Tinha 20 anos.

P/1 – Vinte anos. E ela ficou quanto tempo você na barriga?

R – Nove meses.

P/1 – Nove meses certinho. E como é que foi esse período de gestação.

R – Foi bom.

P/1 – Foi bom?

R – Foi.

P/1 – Você gostava, o que aconteceu nesse período? Você recebia visitas dos parentes?

R – Não, visita não, mas eu gostava.

P/1 – Por que você gostava?

R – Porque mexia, né? As roupinhas. É gostoso.

P/1 – Você sente saudades desse período?

R – Sim.

P/1 – E ela nasceu quando?

R – Ela nasceu dia cinco do sete de 2013.

P/1 – 2013. E como é que foi o dia do nascimento dela?

R – Ah, foi bom. Foi emocionante.

P/1 – Ah é? Como é que foi? Você estava em casa?

R – Eu estava em casa aí deu umas dorzinhas mas não era aquela dor de ganhar, aí eu fui pra saber se estava tudo bem. Chegou lá minha bolsa já tinha estourado, aí eu fui e fiquei. Teve que fazer cesárea porque a respiração dela estava ficando fraquinha.

P/1 – E quando ela chegou pra você, o que você sentiu? Quando ela estava na sua mão?

R – Ah, não sei nem explicar o que senti.

P/1 – É?

R – Não sei.

P/1 – O seu marido estava lá?

R – Estava.

P/1 – Legal. E ela está com quanto tempo agora?

R – Ela está com dois anos.

P/1 – E ela gosta do quê?

R – Ah, ela gosta de tudo. Mais de rua.

P/1 – De rua?

R – É.

P/1 – Ela já quer sair, já?

R – Já quer sair, quer ficar brincando sozinha na rua. Abre a porta. Aquela ali vai ser danada.

P/1 – Ah, é?

R – Vai.

P/1 – Ela dá muito trabalho?

R – Dá, um pouco.

P1 – Ah, é? (risos) O que ela faz?

R – Ela é muito bagunceira (risos).

P/1 – Já com essa idade?

R – Ela é bagunceira.

P/1 – E você estava trabalhando na época antes dela nascer?

R – Não.

P/1 – Estava mais em casa.

R – É.

P/1 – Quando é que você voltou a trabalhar?

R – Assim que ela nasceu. Com dois meses eu voltei a trabalhar.

P/1 – E você deixava ela com alguém?

R – Deixava com alguém.

P/1 – Com quem você deixava?

R – Com a Patrícia.

P/1 – Parente?

R – Vizinha.

P/1 – E você foi trabalhar onde?

R – Eu fui trabalhar na TNT, numa firma de limpeza. Depois da TNT eu vim pra cá.

P/1 – E como é que você ouviu falar aqui da cooperativa?

R – Eu já trabalhava na cooperativa.

P/1 – Ah, você já trabalhava?

R – Aham. Aí eu saí, fiquei um bom tempo, aí arrumei outro serviço, depois eu saí desse serviço e voltei pra cá.

P/1 – Como foi a primeira vez que você trabalhou aqui?

R – Foi estranho, né? Eu não conhecia os materiais. Depois eu fui acostumando, é legal.

P/1 – E você veio trabalhar aqui em que ano? A primeira vez.

R – Não era aqui. Era lá perto da minha casa.

P/1 – Ah, mas era uma cooperativa.

R – Era a cooperativa.

P/1 – E o que você achava desse trabalho época?

R – Bem interessante.

P/1 – Interessante. Por quê?

R – Ah, tem gente que joga fora, mas eles não sabem o bem que faz, né? Porque entra nós que recicla, separa os materiais tudinho. Porque eu vi na televisão que um cigarro demora não sei quanto tempo só pra dissolver, né? É bem interessante.

P/1 – E aí você soube de uma cooperativa perto de casa.

R – É. Eu fui, fiquei trabalhando lá pouco tempo, depois eu saí e depois eu vim pra cá.

P/1 – E como é o trabalho, como é o dia a dia? Pra gente que não sabe como é que é, como é o trabalho na cooperativa?

R – Ah moço, um pouco complicado.

P/1 – Ah é? Por quê? Pode falar pra gente?

R – Assim, é bom trabalhar aqui. Mas o pessoal não tem muita, como eu vou falar? Nossa, me fugiu da mente, calma aí. Não tem muito diálogo, bem difícil.

P/1 – É difícil às vezes a convivência?

R – Isso, bem difícil. Mas está indo.

P/1 – E por que é difícil?

R – Porque cada um tem a sua opinião, né? Então tem vezes que não concorda com o que eu falo, senão eu não concordo com o que a pessoa fala, é isso.

P/1 – Mas todo mundo tem que falar alguma coisa.

R – Sim.

P/1 – Como é que isso funciona?

R – Às vezes ela faz uma reunião e pergunta se a gente quer falar alguma coisa, a gente fala. Tem muita discordação. Ou senão às vezes a gente fala, aí a pessoa não aceita que a gente fala. Mas mesmo assim é legal trabalhar aqui.

P/1 – Aqui é diferente de outros lugares que você trabalhou?

R – Aham.

P/1 – O que é diferente?

R – Que aqui você trabalha por produção, né? E nos outros lugares você não trabalhava por produção, você trabalhava salário fixo. Eu gosto de trabalhar aqui, gosto.

P/1 – E Vanessa, o que você acha da questão de reciclagem? Você acha que é uma coisa importante?

R – Sim, muito importante. Como que fala? Pra sociedade, deixar tudo limpinho. Bastante coisa.

P/1 – E tem muita gente que não vê com muitos bons olhos o trabalho de reciclagem. O que você acha disso?

R – Que as pessoas não veem com bons olhos?

P/1 – É, tem gente que não vê muito.

R – Eu não acho nada, cada um tem sua opinião, né? Eu não acho nada.

P/1 – Mas você acha que existe preconceito com quem trabalha com reciclagem do lixo?

R – Eu acho que sim.

P/1 – Mas você acha que isso vem melhorando?

R – Sim, agora sim, está melhorando bastante.

P/1 – Por que você acha isso?

R – Porque agora tem mais gente procurando reciclagem pra trabalhar. Antigamente os outros falavam: “Eu, trabalhar em lixo? Sai fora”. Eu falava assim: “É, mas é do lixo que eu sustento a minha filha, compro minhas coisas, compro as coisas da minha filha”. E não troco cooperativa por firma nenhuma, viu?

P/1 – Ah, é?

R – Não.

P/1 – Por que?

R – Porque aqui o que você ganha aqui você não ganha numa firma. Ainda mais pessoas que não sabem ler, não sabem escrever.

P/1 – Então você acha que é uma chance pra você, esse trabalho.

R – Sim.

P/1 – E está difícil de achar.

R – Tá, tá difícil serviço, viu?

P/1 – Eu queria saber como é o dia a dia. Você chega aqui.

R – Eu chego aqui, aí vou tomar café, arrumo meus bags. Aí espera dar a hora de ligar a esteira, todo mundo fica na sua casinha. Eu pego o material, daí na hora de ir embora aí nós vai embora.

P/1 – Certo. Mas o que você coleta?

R – Cada dia a gente coleta um material diferente. Às vezes na casinha que eu to, eu to pegando tetra, que é a caixinha de leite, a outra pessoa já não pode pegar tetra, aí vai indo.

P/1 – E quem mais trabalha aqui na cooperativa?

R – Ah, bastante gente.

P/1 – Mas como está dividido o trabalho?

R – Cada um faz uma coisa. Nós da esteira separa os material, os da prensa, prensa. De lá de fora faz a carga e organiza. Tem o escritório. Cada um tem uma função.

P/1 – E essas pessoas que trabalham com você, quem elas são, de onde elas vêm?

R – De onde elas vêm, tem umas que veio daqui, mora ali perto. Tem outras que moram lá bem longe.

P/1 – Ah, é?

R – Aham.

P/1 – E você está se dando bem com o pessoal?

R – Sim, me dou bem com todo mundo.

P/1 – Quantos anos você está aqui?

R – Vai fazer dois anos.

P/1 – Tem alguma história aqui que te marcou nessa cooperativa, nas amizades, alguma coisa de trabalho, alguma coisa que você encontrou?

R – Não.

P/1 – Qualquer coisa que você lembra mais?

R – Não.

P/1 – E você já encontrou alguma coisa estranha, diferente, no meio da coleta?

R – Se já vi?

P/1 – É.

R – Ainda não.

P/1 – Ainda não (risos). Mas já ouviu histórias?

R – Não, também não.

P/1 – Não. Você hoje, quais são os seus planos pro futuro, quais são seus sonhos?

R – Meu sonho é construir minha casa, pagar todas minhas dívidas que são muitas (risos), e que isso aqui vai mais pra frente, né?

P/1 – Você tem dívida, é isso?

R – Sim, tenho.

P/1 – O que você fez dívida?

R – Fiz dívida no banco (risos).

P/1 – Ah, é? Mas pra pagar o quê?

R – Pra pagar um empréstimo que eu fiz.

P/1 – Pra casa?

R – É, pra construir a minha casa.

P/1 – Mas o trabalho aqui está bom, o salário.

R – Tá, tá bom.

P/1 – Você que já está há dois anos aqui, você viu alguma evolução, uma melhora?

R – Sim, melhorou muito.

P/1 – E quem são seus melhores amigos aqui?

R – Amigos? Amigos eu acho que a gente não tem, né? Tem colega de trabalho. Colega de trabalho, todo mundo aqui, eu gosto de todo mundo.

P/1 – E como é que está a sua filha hoje?

R – Está tudo bem, graças a Deus.

P/1 – Casamento também.

R – Está tudo bem.

P/1 – Está certo, então. Tem alguma pergunta que eu não quis e você quer que eu faça?

R – Não.

P/1 – Tá bom, então. A gente agradece a você, tá bom Vanessa? Foi ótimo.

FINAL DA ENTREVISTA