Museu da Pessoa

Desde o início fazendo parte da mudança

autoria: Museu da Pessoa personagem: Maria Ignez de Souza Pereira Andrade

Projeto: Pueri Domus - 40 Anos
Depoimento de Maria Ignez de Souza Pereira Andrade
Entrevistada por Damaris do Carmo e Mauricio Rivero
Local: São Paulo - SP
Data: 10 de agosto de 2006
Realização: Museu da Pessoa
Código do depoimento: PUERI_HV006
Transcrito por Augusto César Mauricio Borges
Revisado por Grazielle Pellicel

P/1 - Damaris do Carmo
P/2 - Mauricio Rivero
R - Maria Ignez de Souza Pereira Andrade


P/1 - Boa tarde, senhora Ignez.

R - Boa tarde.

P/1 - Eu gostaria que a senhora nos dissesse seu nome completo, local e data de nascimento?

R - Maria Ignez de Souza Pereira Andrade, [nasci] no dia 15 de maio de 1929.

P/1 - E qual que é a atividade da senhora?

R - Dona de casa agora.

P/1 - Agora, e a atividade da senhora no Pueri Domus?

R - Eu trabalhei 10 com a Beth, diretamente com a Beth. Éramos só nós duas e não tinha mais ninguém e depois trabalhei no departamento administrativo.

P/1 - E o nome dos pais da senhora?

R - Meus pais?

P/1 - Isso.

R - Orlando de Souza Pereira, Estela Barroso de Souza Pereira.

P/1 - E a origem da família da senhora?

R - Portuguesa, brasileira e portuguesa.

P/1 - Paterna?

R - Do meu avô paterno era português. O meu avô materno era um brasileiro - avô e avó brasileiros, mas filho de português.

P/1 - E qual que era a atividade profissional dos seus pais?

R - Minha mãe era dona de casa. Meu pai tinha uma fábrica de chapéus no começo da vida dele. Ele tinha uma fábrica, em Sorocaba, de chapéus, depois parou e ficou no comércio mesmo. O problema é o calor, o único.

P/1 - É o calor. E como é que era a casa onde a senhora morava na infância?

R - A gente morava, eu vou falar, em 1935, por aí, até 39, nós moramos em Moema. O bairro era novo, água de poço, não tinha esgoto, não tinha asfalto na rua - era uma delícia. Então nós construímos uma casa grande lá, tinha um terreno enorme também, de 40 por 40; a gente brincava e frequentava a escola lá. Depois, eu frequentei a Escola Nossa Senhora do Patrocínio, em Itu - fiquei interna quatro anos, fiz o ginásio lá. E aí mamãe morou em Sorocaba, meus pais moraram em Sorocaba por uns três anos, depois voltaram e moramos num apartamento na Rua Galvão Bueno [por] muito tempo, também era nosso, o apartamento. O prédio era nosso e lá ficamos na Liberdade, que é pertinho da cidade, né? Conhece a Liberdade?

P/1 - Conheço. E voltando um pouco, lá pra infância da senhora nessa casa em Moema, quem é que morava lá?

R - Nossa família mais duas empregadas, a minha avó e a nossa família. Minha mãe, papai e cinco filhos.

P/1 - Cinco filhos. E como que era o dia a dia, as atividades de vocês, as brincadeiras das crianças?

R - As brincadeiras de infância, né, de esconde-esconde, pedrinha, bola, corda. A gente tinha infância. Não tinha televisão, né, tinha que brincar mesmo.

P/1 - E o dia a dia da casa como é que era da família?

R - Normal.

P/1 - O pai trabalhava?

R - Trabalhava; a mãe, dona de casa, mãe de família. Minha avó era muito, como direi, artista. Era uma artista, ela pintava muito bem. Eu fiz até um estudo de pintura no colégio dela, que ela estudou, das freiras, e ela pintava muito bem, tinha muito jeito pra artes e ela [acabou] dando aulas de pintura. No sítio dela, ela ficou viúva muito pequena, com 18 e ficou viúva com 22, e aí foi morar na casa dos pais com duas filhas. Ela quis trabalhar e então foi dar aulas de pintura pras moças da sociedade. E dava aula de pintura muito bem, por sinal. Eu tenho um quadro dela lá em casa.

P/1 - E dessas brincadeiras que a senhora brincava na infância, qual brincadeira que gostava mais?

R - Ah, não lembro.

P/1 - Não tinha uma, assim, que a senhora gostava mais de brincar?

R - Eu acho que era queimada mesmo.

P/1 - De queimada.

R - É.

P/1 - E as brincadeiras eram ali pela rua, pela casa?

R - Não, pelo terreno grande, e não tinha perigo de ladrão nem nada. A gente brincava na rua, não tinha trânsito, né, os meninos brincavam na rua de futebol. Perto de lá, tinha um campo de futebol onde eles jogavam bola, onde é o grupo, agora, César Martinez, ali na Rua Iraé.

P/1 - E as comemorações, as festas em casa, aniversários? Como é que era, a família gostava de festa?

R - Gostava, mamãe gostava.

P/1 - Preparava as...

R - É, fazia questão de comemorar, sabe? Nada de fugir, nada de não fazer.

P/1 - Aniversários?

R - É. Natalícios. Depois, Natal sempre teve a ceia, sempre comemoramos. Fazíamos novena no domingo de Jesus, porque lá tem o menino Jesus de Praga de madeira, coisa autêntica. Veio de Portugal dois séculos aí. Então ela fazia novena no domingo de Jesus para o natal, isso era obrigação da gente.

P/1 - É aquela que sai na rua? Como é que é?

R - Não, não. Novena em casa mesmo. Conosco, fazia conosco.

P/1 - Reza?

R - É, tinha uma reza própria e ela fazia.

P/1 - Com a família?

R - É.

P/1 - E quando tinham as festas, preparavam os comes e bebes?

R - Isso mesmo.

P/1 - Avó, a mãe, como é que era?

R - Não, a avó não fazia muito as coisas, ela tinha horror de cozinha. Mamãe gostava e tem empregada boa.

P/1 - E, nessa época de infância da senhora, a senhora lembra de algum acontecimento que lhe marcou?

R - Eu lembro que quando eu tinha 10 anos nós fomos internas pro colégio, eu e minha irmã. Nossa Senhora do Patrocínio, em Itu. E mamãe estudou lá, então fez questão que a gente fosse estudar lá também. E, nessa época, eles estavam morando em Sorocaba e era pertinho, uma hora de ônibus, não tinha problema. Ficamos e fizemos o ginásio lá.

P/1 - E como é que foi pra senhora ir pro colégio?

R - Ah, foi ótimo.

P/1 - A senhora gostou?

R - Nossa, adorava.

P/1 - E a primeira escola da senhora aqui foi em Moema?

R - Foi em Moema, não me lembro muito.

P/1 - Não lembra da época de escola?

R - Não, não lembro.

P/1 - As atividades?

R - Não, não lembro.

P/1 - E onde ela ficava, próxima de casa?

R - Próxima de casa, em Moema mesmo. Era um colégio de freiras, Nossa Senhora Aparecida, que hoje, depois, tem um colégio agora lá que chama Nossa Senhora Aparecida que são outras freiras, mas é no mesmo local.

P/1 - E, nessa época, aqui em Moema, tinha ônibus?

R - Não, era só bonde.

P/1 - Nada, não tinha nada?

R - Só o bonde.

P/1 - Pegar o bonde e fazia tudo a pé?

R - É.

P/1 - Ia pra escola a pé?

R - É, pertinho, um quarteirão, dois quarteirões. A gente andava e andava sozinha na rua, não tinha problema. Eu me lembro que ia na casa da minha tia, eram três quarteirões de lá de casa nossa, e eu ia perfeitamente sozinha, não acontecia nada.

P/1 - Tranquilo.

R - É.

P/1 - E a iluminação, a senhora lembra?

R - Como assim?

P/1 - Iluminação de rua? Não tinha?

R - Pouca, né? A iluminação da rua?

P/1 - É.

R - Pouca.

P/1 - E essa escola, a senhora lembra tinha uniforme ou era roupa comum?

R - Não; tinha uniforme.

P/1 - Era colégio público?

R - De freiras.

P/1 - Ah, colégio de freiras já no...

R - Em Moema.

P/1 - Mas, nas primeiras séries que a senhora estudou, já foi em colégio de freira e aí tinha uniforme?

R - Tinha uniforme.

P/1 - A senhora lembra?

R - Não.

P/1 - Como era o uniforme? E as atividades dessa escola, além daquele currículo, como é que era? Por ser uma escola de freira, tinha muita atividade religiosa?

R - Tinha, mas eu não me lembro porque eu era pequena, não ia fazer aula de música, nada disso, né, que eu era muito nova.

P/1 - Hum. E de material, a senhora lembra os materiais que tinham? Se eram com cartilhas, nessa época? A senhora não se recorda como que a senhora estudava?

R - Não lembro.

P/1 - Tá. E de matéria, lembra a matéria que mais gostava?

R - Não. Também faz tantos anos, né?

P/1 - É. E depois, a senhora saiu dessa escola e foi pra Itu. E de Itu, como é que foi lá a adaptação?

R - Itu foi ótimo. Eu fiquei lá, fiz quatro anos [e] fiz o exame de admissão que naquele tempo tinha. Eu tinha 10 anos só, então fiz o exame de admissão em fevereiro, e fiquei interna sozinha lá, sem a minha irmã, pra fazer o exame. Passei e daí nós cursamos lá - eu, minha irmã e minhas primas foram também.

P/1 - E como é que era lá essa escola?

R - Era ótima, muito bom.

P/1 - Muito bom? Assim, conta pra gente assim o dia a dia, à noite, aquela meninada.

R - Era dormitório grande. A gente não tem ideia que horas que a gente levantava porque não tinha relógio, né?

P/1 - Mas era cedo?

R - Tipo, seis horas eu acho, acredito. E tinha missa todo dia. A gente ia na missa e depois tomava café. Depois, ia pra classe fazer lição, aquele negócio todo. Quem tinha aula de piano, saía nesse período pra ir à aula de piano - eu tinha aula de piano -, e depois ficava na hora de estudo. E depois tinham as aulas à tarde e as professoras vinham e freiras, só freiras, e davam as aulas pra gente. Tinham classes grandes de 30 meninos todos internos. Era só internato, o externato era separado do internato. Era outro prédio, na outra rua.

P/1 - E as matérias, a senhora lembra?

R - Matérias... Latim, tinha latim.

P/1 - Tinha o latim.

R - Geografia, história da civilização.

P/1 - Tinha francês?

R - Francês.

P/1 - Também nessa época.

R - Inglês tinha na segunda série em diante.

P/1 - Já tinha inglês?

R - É.

P/1 - E lá também eram uniformes?

R - Completamente. Morria de calor porque era manga comprida, saia vinha aqui, meia preta grossa, e o calor. Não pode imaginar como era quente, Nossa Senhora! A gente vivia assim: arregaçava a manga e a freira mandava abaixar. Ah, não dava, viu?

P/1 - E lá ficava interno por quanto tempo?

R - Ficava o semestre.

P/1 - O semestre.

R - E depois saía em junho, tinha 15 dias de férias. A gente saía, vinha pra São Paulo, passava com a família e depois voltava lá.

P/1 - E nos finais de semana?

R - Ficava no colégio. Tinha visita, visita dos pais.

P/1 - Ah, os pais iam lá visitar?

R - Visitar.

P/1 - Mas vocês tinham alguma atividade fora?

R - Nada. Uma vez durante o ano vinha a gente passar o dia no sítio das freiras que era uma delícia, né, era um divertimento, mas só isso, não tinha piscina, não tinha nada. Era só passar o dia lá.

P/1 - Na natureza.

R - É. Hoje onde é Terras de Itu, Terras de São José, lá em Itu, elas lotearam, venderam o sítio e fizeram Terras de São José.

P/1 - E os materiais? A senhora lembra dos livros, como é que era essa dinâmica de aulas nessa escola?

R - Era tudo com livro. A gente comprava os livros, né? O material o colégio fornecia e a gente pagava.

P/1 - E a caneta já era caneta...

R - Já era caneta de tinta.

P/1 - Tinteiro?

R - Tinteiro. Na sua cadeira, na mesa, tinha um tinteiro no canto assim e a gente usava.

P/1 - Aquelas carteiras antigas [que] sentavam de dupla?

R - Não, sozinha.

P/1 - Individual as carteiras?

R - E aqui a gente guardava as coisas, aqui embaixo, né? Não tinha mala antes, na escola, o material ficava embaixo da mesa, dentro da mesa.

P/1 - E como é que transportava da sala até o quarto?

R - Então; não transportava. A vida da gente era lá, saía andando assim e ia pro quarto. Não levava nada.

P/1 - E biblioteca, tinha biblioteca? A senhora lembra?

R - Não lembro. Acho que não tinha biblioteca. Tinha museu, tinha laboratório isso tinha. Biblioteca, não me lembro de ter.

P/1 - E Educação Física?

R - Ah, fazíamos.

P/1 - Faziam Educação Física.

R - Uniformes imensos, vinham até aqui. Era calça comprida, era gozado. A gente fazia, jogávamos vôlei, fazia educação física direitinho.

P/1 - E a senhora lembra da cor dos uniformes?

R - Lembro, lembro.

P/1 - Qual era a cor?

R - Era riscado, azul e branco.

P/1 - E a camisa?

R - A camisa era branca. Branca de pano de algodão e a saia azul marinho. E, no domingo, a gente “punha” um vestido branco. O uniforme de domingo era um vestido branco.

P/1 - E nos finais de semana, não tinha assim uns passeios na praça?

R - Nada, nada. A gente não punha o pé pra fora, ficava enclausurada lá.

P/1 - Namoro?

R - Nem pensar. Tinha, por exemplo, uma moça que era noiva e ela estava interna fazendo o curso porque, no interior, antigamente, não tinham escolas, né? Era difícil. Agora que todo lugar tem faculdade... Mas não tinha escola, então as meninas que moravam no interior vinham pra estudar neste colégio, que era muito boa a escola, e aí completava o curso lá. Lá só tinha o Normal. Todo mundo fez Normal, menos eu. Eu tenho horror de dar aula, tenho pavor de repetir as coisas, assim, pra criança entender. Eu sabia disso com 10 anos, que eu sabia que não queria ser professora e não fui professora.

P/2 - Você sentia muitas saudades dos seus pais?

R - Hum?

P/2 - Você sentia muitas saudades dos seus pais?

R - Muito, não. A gente escrevia carta bastante. Tinha muita... O recreio, a gente brincava muito, né, jogava bola, queimada e depois, à tarde, a gente passeava pela chácara. A gente andava bastante, sempre com freira junto, né, mas não dava tempo pra sentir saudade. Tinha umas meninas que choravam de vez em quando, mas eu nunca senti.

P/1 - E o recreio?

R - O recreio era ótimo.

P/1 - Tinha brincadeiras?

R - Tinha, de ping-pong, queimada, que a gente jogava e quem queria ficava sentada conversando em cima dos bancos que tinham em volta do pátio.

P/1 - Nessa época, já tinha mimeógrafo? Lembra daquele mimeógrafo?

R - Eu lembro, mas não lembro se tinha mimeógrafo não.

P/1 - Ainda não tinha.

R - É, ainda não tinha. Daquele roxo, né?

P/1 - É.

R - Não, não tinha não.

P/1 - É, aquele que saía roxo.

R - Tinha dentista na própria escola. Quem precisava, o dentista atendia.

P/1 - Médico?

R - Médico, não.

P/1 - E tinha, assim, alguma atividade extra curricular?

R - Tinha piano, que eu saiba, e é só.

P/1 - Alguma aula de arte e pintura?

R - Não, não tinha aula de artes.

P/1 - E, nessa época, a senhora lembra de algum acontecimento que marcou mais essa época da senhora lá? Pode ser algum caso pitoresco também.

R - Não lembro.

P/1 - Assim, várias meninas juntas aprontam bastante?

R - Aprontava. Eu, por exemplo...

P/1 - Conta pra nós.

R - As meninas, toda semana tinha uma fita de bom comportamento. “Quem vai receber a fita de bom comportamento, levante a mão”. Eu nunca levantava porque eu nunca tirava a fita. Só uma vez no ano, era dia do aniversário da freira, essa de classe nossa; pra fazer bonito pra ela, eu me comportava bem e tirava a fita, e aí ficava andando o domingo inteiro com aquela coisa aqui.

P/1 - E quem dava aula, eram todas freiras?

R - Todas freiras. Tinha um professor, só um senhor, que era professor de ciências, mas pra mim nunca deu aula.

P/1 - E como é que era essa relação das professoras com as alunas?

R - Era boa.

P/1 - Era boa, tranquila? E coral, fanfarra?

R - Tinha, eu não... Minha irmã era do coral. Fanfarra não, mas coral tinha. Eles cantavam na igreja. Todo ano tinha uma peça de teatro que as professoras de música ensinavam pras alunas e elas representavam pra mestre pra madre provincial, madre diretora, tudo no dia de festa pra gente.

P/1 - Então tinham muitas atividades lá dentro, né?

R - Tinha sim.

P/1 - Comemorações?

R - É.

P/1 - E o aniversário das alunas? Festejavam?

R - Não. Passavam por branca nuvem.

P/1 - Ah, é?

R - (risos)

P/1 - E depois que a senhora saiu de lá? Algumas fizeram normal.

R - Todas fizeram Normal.

P/1 - Todas fizeram Normal.

R - Nossa, tudo fizeram Normal.

P/1 - E a senhora fez o quê?

R - Eu fiz Biblioteconomia.

P/1 - Saiu de lá, mas isso correspondendo ao segundo grau?

R - É.

P/1 - Lá mesmo?

R - Não. Aqui em são Paulo, no Sedes Sapientiae.

P/1 - Veio pra cá...

R - É, e aí meus pais já moravam aqui em São Paulo, então eu estudei no Sedes Sapientiae, que tinha o curso de Biblioteconomia.

P/1 - Quantos anos?

R - Dois anos.

P/1 - E como é que foi?

R - Foi ótimo, eu adorei. Tanto é que eu saí de lá com dois empregos, tão boa aluna que eu fui.

P/1 - E quais os empregos que a senhora, quando saiu de, saiu trabalhando onde?

R - Eu tive convite pra trabalhar na Biblioteca Municipal Mário de Andrade e na Faculdade de Medicina de São Paulo, no Departamento de Anatomia Descritiva. Aí eu optei pela Faculdade de Medicina, que era um senhor muito amigo da nossa família que ofereceu. Ele era diretor da Faculdade de Medicina, e lá estavam precisando de uma pessoa e eu fui, fiquei 10 anos lá.

P/1 - Dez anos e qual que era, como é que era, assim, o dia a dia da senhora lá no seu trabalho?

R - Ah, era bom. Eu ia tinha horário, né, eram seis horas de trabalho só. Funcionária pública. Trabalhava sábado.

P/1 - Atendimento? O que a senhora fazia?

R - Não. Atendimento assim pra médicos, só pra médicos, né, e estudantes também. E eu trabalhava no Departamento de Anatomia Descritiva, que é anatomia normal. Tem uma belíssima biblioteca. Agora desmancharam tudo, eles mudaram pra USP (Universidade de São Paulo). Uma biblioteca muito boa. O professor Alfonso Bovero, você deve saber de nome, tem rua dele no Sumaré, né? Ele era um professor, foi contratado da Itália pra trabalhar na anatomia e trouxe verdadeiras relíquias de livros, e quando ele faleceu ficou tudo, ele deu tudo pra faculdade. Então tinha desde o Vesálio, que é primeiro livro de medicina escrito, um livro deste tamanho assim, papiro, sabe? Coisa de louco, desenhos maravilhosos.

P/1 - Ele trouxe de lá?

R - Ele trouxe de lá. Esse acervo da biblioteca é muito bom. E eles continuam assinando revistas alemãs, revistas inglesas, tudo isso eles fazem lá na faculdade de anatomia, faz uma seção de produção de teses. Vem muita gente interessada fazer tese, então eles frequentam a biblioteca e fazem pesquisa, tudo isso. E fazem pesquisa ao vivo também, nas peças, e saía mais uma tese no departamento de anatomia.

P/1 - E, essa época, a senhora tinha quantos anos?

R - Ah, eu comecei trabalhar com 17 anos.

P/1 - E ficou por 10 anos?

R - Aí já era casada e tinha duas filhas.

P/1 - E, essa época, a juventude da senhora aqui, como é que foi em São Paulo? Bailes, passeios?

R - Bailes, nós sempre, familiares, né, com o meu irmão - tinha que ir junto. A gente não ia sozinha; mesmo com o namorado, a minha irmã ia junto. Então a gente tinha um grupinho que chamava Icaraí, então toda semana tinha festinha e a gente dançava música de vitrola, né?

P/1 - Clubes?

R - Clube não frequentei.

P/1 - Não frequentava.

R - A gente era sócio do Tênis Clube, mas não frequentava.

P/1 - Nessa época, a senhora morava onde?

R - Na Liberdade, na Rua Galvão Bueno.

P/1 - O Tênis Clube que a senhora fala é no Paraíso?

R - Isso, o Tênis Clube.

P/1 - O Tênis Clube.

R - Que era perto de casa, né?

P/1 - E aí a senhora trabalhou lá, e nessa época casou?

R - Casei e tive duas filhas. Quando eu tive a segunda filha a gente resolveu morar, nós compramos uma casa aqui na altura do Borba Gato. Conhece, o Borba Gato, na avenida? Então, na altura ali, na Rua Estilo Barroco - chama-se.

P/1 - Conheço esse lugar.

R - Então, ali. É uma vilinha chamada Amauri de Oliveira Lima. Então a gente comprou essa casa. E pra vir morar aqui, que era fim de mundo, eu parei de trabalhar.

P/1 - E depois?

R - E fiquei 10 anos em casa.

P/1 - Cuidando das filhas?

R - É, e tendo filho.

P/1 - Quantos filhos?

R - Eu tenho quatro.

P/1 - E a senhora, nesse trabalho de bibliotecária, lembra de alguma coisa que marcou? Alguma lembrança que a senhora gostaria de contar? Lembra algum acontecimento?

R - Não, não.

P/1 - Nem engraçado, alguma coisa engraçada que aconteceu?

R - Não lembro.

P/1 - E depois, então, a senhora ficou 10 anos sem trabalhar?

R - E daí eu comecei a frequentar o Pueri Domus. A minha cunhada que era sócia da Beth e me pediu pra bater máquina uns negócios, uns trabalhos lá, o relatório psicológico de cada aluno, de cada criança, que eles fazem. Agora mudou tudo, né? Antigamente, era a psicóloga que fazia e entregava de três em três meses, entregava o relatório da criança. Então eu comecei a bater a máquina e eu sempre tive [uma] boa empregada - a minha atual está há 40 anos comigo.

P/1 - Puxa vida, está aniversariando junto com o Pueri Domus.

R - Junto. Pois é. E aí o meu marido trouxe a máquina do escritório pra casa e eu comecei a bater pra Maria Lúcia trabalhar para o colégio. E aí resolveram. “Você não quer vir bater aqui no colégio?”, porque eu tinha dúvidas com letras horríveis e palavras que eu não conhecia muito bem, né? E elas escreviam mal, tinham um português errado. Além de tudo, tinha que corrigir. Então eu comecei a vir no colégio pra bater a máquina e ficava lá na salinha batendo. Vinha todo dia, mais ou menos, tinha empregada boa e deixava as crianças com; as meninas iam pra escola, os meninos já estavam na escola também e aí começou o meu conhecimento com a Beth. Foi assim. Aí Beth me convidou pra trabalhar com ela.

P/1 - E a senhora vinha aqui só pra ajudar e recebeu o convite pra trabalhar?

R - Não, não. Eu vim trabalhar o dia inteiro. Entrei de cabeça o dia inteiro com quatro filhos e pus as meninas semi-internas no colégio onde elas estudavam, no Emilie de Villeneuve, e os meninos um em cada horário na escola. A empregada dando conta do recado. E “punha” lavadeira, passadeira e mais a empregada fixa. E aí deu certo, vinha pra cá. Eu dei conta do recado.

P/1 - E logo que a senhora começou a trabalhar aqui, qual que era a função que a senhora exercia?

R - Eu era, trabalhava com Beth, diretamente com ela.

P/1 - Diretamente, mas fazendo explica melhor pra gente.

R - Fazendo outras coisas, por exemplo, eu batia máquina todas as lições. As lições das crianças eram tudo mimeografadas.

P/1 - Lições pra elas completarem, assim, material didático pra depois elas completarem?

R - É, atendia ao público.

P/1 - E, nessa época, trabalhava, o Pueri lá...

R - Na Avenida Brasil.

P/1 - Lá, na Avenida Brasil. E qual eram as séries que eles atendiam, era primeira série?

R - Começou o colégio com segunda série, que já vieram os alunos. Tinha seis alunos, uma coisa assim. A primeira turminha não foi a primeira turma que se formou no colegial, porque eles estavam na quarta série e não deu tempo da gente fazer o ginásio. Então eles saíram do colégio e a segunda turma, que hoje é a primeira, que completou o curso, fez até o terceiro colegial.

P/1 - E quando a senhora entrou, o Pueri Domus tinha acabado de começar então?

R - É.

P/1 - Tinha o que questão de meses?

R - Não. Meses não, anos. Eu entrei em 69 e ela começou no dia 15 de novembro de 66. E aí 67, 68, e 69 eu entrei.

P/1 - Então quando a senhora entrou, já tinha crianças no terceiro ano?

R - Terceira e quarta, né?

P/1 - Terceiro e quarto ano.

R - Que foi justamente a turma que saiu do colégio.

P/1 - E depois, a senhora ficou por quanto tempo nessa função?

R - Dez anos. E aí viemos pra cá.

P/1 - Trabalhava diretamente com a senhora Beth?

R - Sempre. Eu que descobri o colégio pra Beth também. Passava todo dia aqui, vinha de carro, passava aqui pra pegar a Marginal e via esse seminário fechado. Aliás, estava completamente inutilizado. E disse pra Beth: “Beth, tem um convento lá perto de casa. Eu vou ver se eles não querem alugar pra gente”. E aí viemos. Eu vim, falei com o padre, que por sinal, eu nem conhecia, mas conhecia de vista porque ele dizia a missa lá onde eu frequentava. Ele era alemão e não falava bem português. Eu falei que estava [com] uma pessoa interessada em alugar o convento e como é que faria uma entrevista ou alguma coisa, aí eles foram lá no colégio, ele e o Padre Paulo _________ e o padre Paulo __________. Foram lá e adoraram a escola, né, porque a escola era uma coisa louca de boa, e cederam. Em três meses, o marido da Beth, o (Mailto?), reformou esse prédio, construiu essa ala toda aqui, reformou a ala lá de dentro e a gente veio pra cá em três meses. Com chuva no meio e tudo, e a gente: “Será que vão dar, será que não dá?”. Então era uma torcida, sabe? E deu. Aí viemos pra cá e deu tudo certo.

P/1 - E quando, a senhora fazia também o atendimento dos pais quando iam fazer matrícula. Como é que era pra explicar o método? Eu gostaria que a senhora explicasse o método Montessori para os pais dos alunos.

R - Em geral, quem vinha já conhecia. Justamente, a procura era de pessoas que conheciam o método e acharam interessante para os filhos. Então a gente falava com era o método, tudo isso explicava, falava do Montessori e eles vibravam, né?

P/1 - E conta um pouquinho pra gente, assim, pra ensinar um pouquinho como é que é sobre esse método?

P/1 - É um método [em que] eles estudavam tudo em fichas. Por exemplo, na alfabetização, tinham umas tabuinhas, assim, com letras e a criança tinha que formar as palavras com as tabuinhas tudo no tapete, cada um tinha o seu tapetinho e ficavam trabalhando. Trabalho individual, viu? E aí a criança se alfabetizava sozinha. O meu filho se alfabetizou sozinho. No final do infantil II, quando entrou no pré, ele num mês já foi alfabetizado.

P/1 - Entendi. Quer dizer, é deixar a criança agir.

R - Agir.

P/1 - E se descobrir ali, ela com aquele material didático?

R - E eles adoravam porque levantavam, sentavam. Tinha, assim, liberdade na classe. Não era enfileirado, assim tudo, sabe, com carteiras?

P/1 - Uhum.

R - Não, não era. Andavam na classe procurando material, levantavam, iam buscar material [e] voltavam. A professora passava por eles. Corrigiam e tudo isso, né?

P/1 - Dona Ignez, e, nessa época, quais os outros métodos que as outras escolas estavam trabalhando?

R - Eram métodos antigos, né? Por exemplo, a minha filha mais velha estudava num colégio de freiras e a alfabetização foi feita por cartilha, a Pata Nada - [como] se chamava a cartilha.

P/1 - A Pata?

R - Nada.

P/1 - Nada?

R - Nada. Nada.

P/1 - Sei, de nadar.

R - É. Era [a] primeira frase da cartilha e a gente achava: “Qual é a cartilha?”, “A Pata Nada”. Mas não é; não tinha nome, a cartilha, né? E era tudo antigo mesmo, não era... Era um sucesso, o Montessori.

P/1 - Então, mas, nessa época, tinha algum outro método que se igualava a este sucesso também como o Montessori?

R - Não sei.

P/1 - Ah, a senhora não sabe. Quer dizer, tinha...

R - Tinha o método antigo, né, que todo mundo estava acostumado, passava de ano em ano tendo efeito.

P/1 - Entendi. E como é que era, nessa época, a relação dos pais com a escola?

R - Era muito bom. Eles tinham liberdade, sempre conviviam com a gente. A gente conhecia os pais das crianças, todos. A gente, por exemplo, se um ia fazer uma cirurgia, a gente ia visitar no hospital, sabe? Era como se fosse uma casa mesmo, muito ligado. Todo mundo muito ligado.

P/1 - E as atividades escolares, os pais participavam também?

R - Eles tinham os boletins que eram...

P/1 - Mas, assim, quando tinha festa junina, como é que era essa interatividade dos pais?

R - Tinham jogos, os meninos jogavam vôlei a gente chamava os pais pra assistir. Essa história de pais aumentou muito aqui, porque a escola lá não tinha muito...

P/1 - Espaço.

R - Espaço físico, né, pra fazer grandes acomodações. Mas eles tinham este acesso completo, Beth era muito amável e acessível. As mães conversavam muito com ela, comigo também.

P/1 - E, nessa época, as crianças ficavam lá em qual período? Meio período, período integral?

R - Meio período.

P/1 - Sempre meio período?

R - Sempre meio período.

P/1 - E depois de três anos, como é que foi a mudança pra cá?

R - Foi que viemos pra cá, viemos pra cá e o pessoal; houve uma certa queda nas matrículas. Todo mundo pensando, por exemplo: “Imagine, vamos mudar pra Granja Julieta?”, pensavam que era a Granja Viana. Granja Viana é quilômetros daqui, né, era 10 quilômetros, daqui dá 10 quilômetros, mas o trânsito permitia que a gente fizesse uma coisa dessa. Então o pessoal vinha de lá dos Jardins, não tiraram as crianças não; continuaram aqui.

P/1 - E depois, como é que foi aqui pra aumentar o número de matrículas?

R - Do próprio bairro foi vindo gente: Interlagos, aqui, Brooklin, Campo Belo, daqui da Granja Julieta também.

P/1 - E como é que era a senhora (Elizabete?), assim, como uma mãe, uma mulher empreendedora? Naquele ano que poucas mulheres tinham, assim, essa iniciativa. Como é que era?

R - Ah, ela era muito legal, muito mesmo. Uma pessoa inteligente, preparada, [com] facilidade de falar, dominava assim, sabe? Tinha uma presença muito dominante. Nas fotos, você viu, teve esta impressão?

P/1 - Tive pelas fotos, não a conheci pessoalmente. E a senhora veio pra cá na mesma função?

R - A mesma função. Então nós trabalhávamos é a sala dela e a minha salinha aqui, mas as cartas, por exemplo, da escola nós que escrevíamos, não tinha pessoa encarregada que escrevia a carta. As lições, a gente que corrigia. E tinha, achava alguma coisa esquisita, ia lá e perguntava, por exemplo, pra Cleide - deu muito apoio pra gente também. Ela é uma pessoa muito boa, muito inteligente também, muito competente. Ela foi orientadora educacional, acho, que da terceira a quarta série, uma coisa assim, lá na Brasil.

P/1 - Entendi. E, nessa época, quantas pessoas trabalhavam, assim, nessa administração que a senhora fala? Corrigia, quer dizer, fazia um pouco de tudo, fazia matrícula, recebia os pais?

R - Olha; praticamente, trabalhava a Beth, que era diretora administrativa, eu, Maria Lucia Andrade, que era diretora pedagógica, mas ela era muito doente e pouco frequentava a escola. E daí, quando a gente veio pra cá, tanto é que ela não frequentou aqui, frequentou lá só. Depois, deixa eu ver quem tinha. Tem as __________, as professoras, né, tudo isso, as __________, __________ tinha uma pra cada duas classe, terceira e quarta, porque era uma classe de cada, né? Depois que foi criando mais. Uma orientadora pra terceira e quarta, uma para a primeira e segunda, uma pra pré-escola, Maternal I, Maternal II até infantil II. Você pode contar nos dedos, tudo era a gente que fazia, tudo, cartas, tudo, entrevistas. A Beth atendia pessoalmente ao telefone, sabe? Mas isso era dela mesmo. Depois que foi aumentando o número de alunos, aumentando o trabalho, aí teve que separar um pouco. Aí teve uma época que tínhamos uma seção só de escrever à máquina as lições, tinha uma corretora que corrigia o texto e tinha os datilógrafos, tinha algumas datilógrafas que batiam as lições. Isso quando não tinha apostila ainda, né, as lições eram batidas na máquina.

P/1 - A senhora lembra mais ou menos, nessa época, quantos alunos? Porque na Brasil a senhora falou que começou com...?

R - Não sei.

P/1 - Não lembra?

R - Cem alunos, né, [que] começou.

P/1 - Cem alunos, começou lá. E depois de três anos, vocês vieram pra cá?

R - Aumentou. Nós chegamos, teve uma época [com] quatro mil alunos aqui neste prédio. Nós tínhamos três Maternal II, três Infantil I, três Infantil II - três em cada período.

P/1 - E as mudanças relacionadas aos métodos pedagógicos?

R - Isso deu certo, porque ela já tinha uma equipe formada e orientadoras que era esse tipo de gente que usava esse sistema de método e tudo isso. Então elas tinham que saber e entender pra poder corrigir as professoras, tudo mais, e orientar as professoras. Tinha muitos cursos para as professoras, sempre teve. Eles facilitavam, sabe, davam curso pra professora, pra educar mesmo.

R - Treinamentos convidavam pessoas de fora.

R - De fora, isso mesmo. Mesmo a Cleide ainda faz isso. Há pouco tempo, ela fez aqui com os professores daqui.

P/1 - E teve, nessa época, de lá pra cá, da época que a senhora trabalhou, teve alguma mudança, assim, que sobressaiu, que foi mais representativa na própria dinâmica da escola, não só no método?

R - Teve isso daí de você arranjar diretores de curso: tem diretora do ginásio, diretora do primário, diretora do colegial, depois tinhas as _________ e depois tinham as professoras.

P/1 - Quer dizer, o quadro de funcionários, ele foi se ampliando?

R - Foi se ampliando devido ao número de alunos, também, que aconteceu, né?

P/1 - Teve que serem divididos?

R - É.

P/1 - Por áreas, por séries?

R - Por séries e por áreas. Depois, teve uma época que teve coordenador de matéria, quer dizer, de Português, de Francês, de Inglês, de História, cada um lidava com as professoras.

P/1 - Era um coordenador, o coordenador de Português era o coordenador pra vários professores que atendiam várias séries.

R - Isso.

P/1 - Entendi. E desafios na profissão?

R - Criar a escola já foi um desafio.

P/1 - É. (risos)

R - E grande.

P/1 - Mas, assim, pra trabalhar com educação, fazer a escola, como que a senhora vê, assim, de maior desafio? O que são, as crianças, os pais, a administração da escola?

R - É a administração da escola de se adaptar às modalidades novas, né? Que a coisa foi se (abuntando?) de tal jeito que tinha que ter uma adaptação nova, não podia ficar com aquele círculo fechado daquele jeito. Então, por necessidade, foi abrindo empregos pra muita gente.

P/1 - Pra ir acompanhando.

R - É.

P/1 - Acompanhando o mundo moderno também.

R - Isso.

P/1 - As tecnologias.

R - É.

P/1 - A senhora trabalhou aqui até que ano?

R - Até 96.

P/2 - Havia muita discussão entre os professores?

R - Hum?

P/2 - Havia muita discussão entre os professores sobre as mudanças pedagógicas? Você chegou a ver algum tipo de conflito, questionamentos?

R - Não. Eles aceitavam bem. Mas é tudo muito planejado, né, não era assim de um dia pra noite. Feito pesquisas, cursos, todo mundo fazia cursos se adaptando, conhecendo os métodos novos, né? E a coisa foi muito, porque nós éramos montessorianos aqui também. Ficamos montessorianos muito tempo, uns 10 anos aqui. Depois que foi passado para um método próprio, e depois para o construtivismo.

P/1 - Ficaram por 10 anos montessorianos?

R - É.

P/1 - E depois, o que é este método próprio?

R - É um método que a escola inventou, também baseado em algumas coisas. Ela criou o seu próprio método.

P/1 - Já com base em toda experiência, isso depois de 10 anos?

R - É.

P/1 - E dificuldades, assim? Qual que a senhora vê ou as maiores dificuldades nesse processo de trabalho?

R - No começo, a maior dificuldade eram professores que tinham que ter uma especialização própria. A gente precisava pegar uma professora que tinha o curso da Madre Valentina - lembrei o nome dela -, é uma senhora que tinha um curso lá na Mooca, coisa assim. E as moças estudavam o Montessori puro, então elas vinham diretamente de lá pra trabalhar aqui. Isso era necessário, que elas fizessem esse curso, e nós fazíamos muitas viagens também. Quase todos os anos tinha uma viagem. A segunda série tinha, a quarta série, a quinta teve e depois eu parei também, ia nas viagens. Nós fomos até Assunção, no Paraguai, até as Cataratas com a primeira turma. A primeira turma foi demais de bom, viu?

P/1 - Foi?

R - Era uma turma fechada, tinha vinte e poucos alunos e todo mundo se conhecia. Os pais se conheciam, tudo, eram muito amigos.

P/1 - Mas foram os alunos e os professores?

R - Eu, e duas professoras. E eu ia junto pra dar segurança, porque as mães perguntavam: “Você vai junto Maria Ignez?”. Falei: “Vou”, “Ah, então ela vai.” Era isso.

P/1 - Confiavam.

R - Confiavam.

P/1 - E pra onde que foi essa primeira vez?

R - A primeira vez foi pro Rio de Janeiro. Beth foi no apartamento que ela alugava no Rio, levou as crianças. E uns quatro ou cinco, seis alunos, mais ou menos, ela levou pro Rio. Isso, eu não trabalhava lá ainda, mas eu soube. Então ficaram lá quatro ou cinco dias passeando pra lá e pra cá, e tudo mais. Depois, Paiol Grande, você já ouviu falar, né?

P/1 - Já.

R - Então, Paiol Grande era a segunda série que ia. As professoras iam também e ficavam lá uma semana. Quarta série, era Minas Gerais - eu fui a Minas Gerais também.

P/2 - A cada série tinha um...

R - Acompanhando o estudo da classe, fazia a viagem.

P/1 - Quer dizer, um aluno na primeira série, ele viajava pra um lugar; da segunda série, viajava...

R - É.

P/1 - Por isso que era dividido assim?

R - É, por série e a programação da classe.

P/1 - E como é que era viajar com essa criançada toda, hein?

R - Era bom.

P/1 - Eles eram obedientes?

R - Obedientes, acompanhavam a gente. Eles eram educados, as crianças, não tinha ninguém louco de varrido, assim, de pular a cerca, de sair à noite do hotel, nada disso. A gente ficava em hotel com eles. Mas eu tinha medo, às vezes, por exemplo, lá em Assunção, no Paraguai, nas Cataratas, lá naquela cidade onde tem o contrabando.

P/2 - Punta del Este.

R - Isso. Eu com as crianças de lá pra cá porque antigamente era terra, não sei se vocês conheceram lá como era, loja aqui, loja aqui e terra no meio e ônibus e carro passando no meio e as crianças soltas, completamente soltas e a gente sabendo “onde está fulano?” “Está ali.” “Ah, bom, tá bom, tá bom, pode ficar.” A gente designava o horário que tinham que encontrar e eles ficavam comprando coisas e tudo isso. Perguntavam pra gente “o que eu levo pra minha mãe, o que eu levo para o meu pai.” Tinha um elo muito grande da gente com as crianças.

P/1 - E quantas crianças, a senhora lembra mais ou menos?

R - Iam?

P/1 - É, que iam.

R - Essa primeira viagem, nós fizemos... Fomos pra Salvador também, um ônibus só, que era a primeira turma. Já aí era a segunda turma que ficou primeiro. E pra Minas, por exemplo, às vezes, três ônibus, quatro ônibus.

P/2 - Que local de Minas?

R - Nós chegamos a ficar até no Mineirão.

P/2 - Mineirão?

R - Na sede lá, que tem dormitórios [e] tem tudo. Que os esportistas, né? E nós ficamos lá. Depois arranjaram, não é um pensionato, era um abrigo, talvez, do SESI, uma coisa assim. Então ficavam lá também ou em hotel. _____________, por exemplo, pra Brasília, até a sexta série que ia. Ficava em hotel. Eu nunca fui pra Brasília. E com isso, a minha amizade com as crianças era por causa desse entrosamento que a gente tinha, né, de viajar junto.

P/1 - Em que época vocês viajavam do ano?

R - Em setembro, mais ou menos.

P/1 - Em setembro, na primavera.

R - É, no segundo semestre.

P/1 - E durante a vida profissional da senhora aqui no Pueri, o que a senhora considerou, assim, como uma a principal realização? Como que a senhora mais se realizou aqui?

R - Acho que com o público, né? Eu conversando, dando informações e propaganda da escola; tudo isso eu achava muito interessante.

P/1 - O contato com as pessoas?

R - É, o contato com as pessoas.

P/1 - A senhora quer tomar água?

R - Acho que eu queria um pouquinho.

P/1 - Vamos parar?

[Pausa]

P/1 - Contasse uma história pra gente, um caso pitoresco ocorrido, assim, no ambiente de trabalho com os alunos?

R - Não sei.

P/1 - A senhora não está lembrada?

P/2 - Com a Beth, funcionários?

R - Eu tenho um caso que aconteceu com a Conceição. Ela sempre conta, capaz que ela queira contar também. Um pai, muito simpático por sinal, português, veio matricular o filho. Daí tudo bem, e tinha que pagar tal coisa. Então a Conceição falou: “De pé, o senhor escreve nesse pedaço aqui”. Falou assim “de pé” e ele ficou de pé pra escrever.

P/1 - (risos)

R - E a Conceição conta com muita graça este caso. Aliás, ela tem casos bem positivos.

P/1 - Daí ela aproveitou que era de português.

R - É.

P/1 - E com a senhora, lembra de algum caso? Nessas viagens com as crianças devem ter acontecido cada uma. Bom, se a senhora lembrar alguma, fica à vontade. E a senhora que acompanha esse trabalho há muitos anos, de educação, como que compararia, assim, fazendo uma comparação entre a escola que a senhora estudou e a escola aqui, que trabalhou, a Pueri? Como que a senhora faria uma comparação assim lembrando a escola que a senhora estudou naquele tempo?

R - Eu estudei no método antigo, né, que era nem sei o nome do método, como que é. E o Pueri é moderno, um método que estava no auge, né, montessoriano. É bem diferente mesmo. [Para] nós era tudo decorado, tinha que saber tudo e lá não, a criança dava de si pra fazer as coisas. A professora puxava da criança.

P/1 - E as avaliações desse método montessori, como são?

R - Tudo escrito.

P/1 - Tudo escrito. Teste?

R - Não.

P/1 - Era as perguntas de múltipla escolha?

R - No começo, elas tinham uma norma, né, mais ou menos, falar isso, isso e mais aquilo. Futuramente, pra facilitar a vida das professoras, porque você tem que fazer isso de 300 alunos, é de endoidar, né? Então eles citam os tópicos sobre isso [e] isso. Às vezes, até frase. “Punha” frase e as professoras copiavam no original, no ______________. Hoje em dia não sei como que é feito mais.

P/1 - E depois que vocês mudaram pra cá, a relação dos pais, como é que era?

R - Mesma coisa, porque eles vinham e não iam embora, ficavam aqui. Achavam longe e ficavam aqui de prosa com a gente. Tomavam café.

P/1 - Até os filhos saírem?

R - Até os filhos saírem.

P/1 - Durante quatro horas?

R - É.

P/1 - Traziam os filhos e ficavam.

R - É. As mães, né?

P/1 - As mães.

R - E muito pai também traziam de manhã, ao passar já deixava e a mãe vinha buscar.

P/1 - E atividade com os pais e com a comunidade, a senhora presenciou? Como é que foi a relação do colégio aqui com a comunidade do entorno?

R - Não teve nada específico.

P/1 - Porque eles sempre fazem trabalhos com a comunidade.

R - Aqui nunca foi feito.

P/1 - Aí os pais participavam aqui? Festa junina, comemorações?

R - Ah, tudo.

P/1 - Sempre estavam participando?

R - É.

P/1 - E hoje em dia se fala muito que a escola hoje ela é vista muito como um prestador de serviço, né, que antigamente era outra relação. Como é que a senhora vê assim, porque a senhora vem de uma época que a escola tinha um outro tipo de relação com ao pais, né? A senhora entende, assim, em que período que se deu essa passagem da escola ser mais como um prestador de serviço?

R - Quando aumentou o trabalho das pessoas, de número de pessoas, foi dividindo as obrigações, não é? Então já ficou meio separado. Esse problema do relacionamento ficou diferenciado porque aí gera uma terceira ou quarta pessoas que tinha que falar tudo isso, né? Acabou aquele comportamento bem familiar.

P/1 - Entendi. Já ficou mais, assim, profissional.

R - É. Com hora marcada, né?

P/1 - Mais dividido, né?

R - É.

P/1 - E teve assim alguma outra mudança durante a trajetória que a senhora trabalhou aqui? Que a senhora falou dos métodos, né, Montessori, aí teve um método próprio, construtivismo. Mas, assim, teve alguma mudança que a senhora lembre que foi uma mais marcante?

R - Que eu acho interessante é essa abertura para a escola inglesa, americana, né? Isso é uma novidade também que está dando certo aqui no colégio. Você está sabendo disso, né?

P/1 - É o intercâmbio que a senhora fala?

R - O intercâmbio, é. Eles ficam dois anos aqui estudando a matéria americana, quando vão para os Estados Unidos já tem a matéria feita daqui.

P/1 - Entendi.

R - Quando vem de mudança com o pai e mãe, procuram aqui a escola e eles fazem. É um tipo de novo que está aqui há uns cinco anos talvez.

P/1 - E a Escola Ampliada?

R - Ampliada é muito boa, é muito boa a ideia de ser Ampliada porque muitas mães trabalham fora, né, bastante mães. Daí o problema filho-mãe, aquele problema eterno. Eu não pus as minhas filhas semi-internas por causa que eu fui trabalhar o dia inteiro? Quatro anos elas ficaram semi-interno. Aí quando acabaram o ginásio, não quiseram mais nada. Aí já estavam grandinhas, com 15 anos, já dava pra soltar mais, né?

P/1 - E pra criança, a senhora acha isso bom?

R - Eu acho bom. Acho bom, porque ficar na mão de empregada também não resolve muito, né? É muito diferente, tem que ser uma empregada muito culta, que não existe, pra poder dar uma educação pra criança. Senão pega uma empregada artista que fale atrapalhado e a criança pega tudo. Então eu acho muito prático essa história da Ampliada.

P/1 - E aqui as crianças também ficam e se relacionam com outras crianças, né?

R - É. Ficam e é falado em inglês aqui pras crianças, são monitoras tudo de inglês.

P/1 - Da escola Ampliada?

R - É.

P/1 - Ah, mas, por quê?

R - Justamente para aprender a segunda língua.

P/1 - Ah, então eles aproveitam essa extensão de horário e aí aprendem inglês?

R - É.

P/1 - Tá certo. Aquela sala lá em cima que é toda inglesa, brincadeiras.

R - Isso.

P/2 - E a senhora, você, né, ia visitar outras unidades ___________?

R - Eu não saía muito daqui. Eu ficava meio... Beth saía e eu ficava. Beth viajava muito e [eu] ficava tomando conta também.

P/2 - Como era a relação da Dona Beth com as demais unidades, com os professores [e] com as demais unidades?

R - Ah, muito boa. Ela frequentava uma vez por semana, mais ou menos. Ela ia lá e tinha a presença dela, né, mas também a unidade tinha o seu diretor, tinha o seu tudo. Cada unidade tem o seu padrão de empregados, né?

P/2 - E a Araraquara? Como é que foi essa experiência?

R - O quê?

P/2 - Araraquara.

R - Araraquara? Estamos ainda em Araraquara, né? Foi uma coisa meio de repente também. As pessoas ofereceram à escola, ofereceram o local pra fazer a escola, a Beth entusiasmou e fez. Agora eu recebi uma carta dizendo que tinha mudado o endereço e também não entendi o porquê e não perguntei. Não falei com ninguém que me explicasse o porquê mudou de lugar. Acho que acabou o contrato, alguma coisa, né, porque era uma faculdade lá que estava desativada.

P/1 - Dona Ignez, com relação a educação brasileira, na opinião da senhora que trabalhou 30 anos com a educação, o que a senhora acha que a nossa educação brasileira mais precisa?

R - Hum...

P/1 - (risos)

R - Ai, meu Deus do céu! Eu acho, principalmente, [que] precisa da família. A família é o esteio da sociedade. Depois vem a escola. A escola vem; outras coisas que se adaptam ao assunto, mas a família é o primordial para a educação, para tudo.

P/1 - Quer dizer, a educação começa na família?

R - Na família. E a maioria das pessoas quer que seja na escola. Querem que a escola dê tudo, entende como é?

P/1 - Entendo.

R - Não sei se ainda está essa cabeça assim: “Mas a escola tem a obrigação de ver isso, ver aqui, ver aquilo”. Briga e aluno, essas coisas assim, né? Não é a escola que tem que ver, né, tem que vir de casa. A escola complementa.

P/1 - Entendi. E existe essa exigência, essa cobrança por parte dos pais?

R - Existia. Não sei se continua existindo.

P/1 - Que a escola, além de ensinar, educar, também.

R - É, tinha que educar, ensinar, tudo isso.

P/1 - Fazer o papel.

R - “Eu pago”, conhece?

P/1 - Sei. (risos)

R - “Eu pago.”

P/1 - E a senhora acha que a educação brasileira, pra melhorar, é uma questão de recurso financeiro? Eu digo, assim, a educação de uma maneira geral, né, considerando a educação pública, o investimento na educação do Governo Federal, do Governo Estadual. A senhora acha que é uma questão só de dinheiro de recurso financeiro?

R - Ajuda, viu? Ajuda.

P/1 - Mas precisaria do que, além do dinheiro?

R - Precisaria, o público ser diferente, a educação da escola pública, né? Eles não têm recursos, não tem nada que ajude. Os professores são mal pagos e você precisa de um... Agora eu não sei, a coisa está melhorando talvez. O computador, eles são os últimos a aparecer com o computador, né? Não tem tanto método pra educar.

P/1 - A senhora usou o computador?

R - Não.

P/1 - Há 10 anos ainda não usava o computador. E sobre a formação dos professores? A senhora que conviveu com o ___________?

R - A formação dos professores, eles tinham que ter antigamente, né, tinha que ter o curso da Madre Valentina pra dar aula no Pueri Domus. Depois, foi passando isso e a gente orienta as professoras a fazerem estágio. Então, pra você trabalhar aqui, tem que ter estágio: uma série de estágios pra poder assimilar o método, assimilar o sistema, tudo isso.

P/1 - Entendi.

R - E que tenha futuro também, que tenha cursos. Atualmente, já estavam exigindo. Não é bem exigindo, gostariam que todos estivessem faculdade, né, de Pedagogia principalmente.

P/1 - E sobre a formação dos professores, assim, de uma maneira geral, da nossa formação de professores da educação pública, como se forma o professor? Como é que a senhora vê isso, a senhora acha que corresponde a necessidade de ensinar os alunos, essa formação de professores?

R - Ah, eu acho, acho sim.

P/1 - Treinamento?

R - Complementa o curso que eles têm. São cursos que tem semanas de estudos nas férias de julho ou durante o ano. Aqui tem muito, as escolas associadas dão muitos cursos. Vem diretores do Brasil inteiro, vem aqui gente pra assistir ao curso.

P/1 - E a senhora falou das Escolas Associadas. A senhora participou de todo esse processo das Escolas Associadas, como é que foi este processo?

R - O negócio é o seguinte: a gente começou fazendo apostilas e então veio daí a ideia de vender as apostilas pra outras escolas. Então essas escolas compram o nosso material, acho que compram é, não sei se falei certo, mas compram o material e dão para os alunos o tipo de aula que é dada.

P/1 - Então eles usam o método.

R - O método, só por isso. As escolas associadas. Então você vai de mudança, por exemplo, daqui ao Rio de Janeiro, [e] não tem a necessidade de frequentar outra escola, [porque] você tem a associada. Tem no interior, muito, no Brasil inteiro.

P/1 - Mas, por exemplo, os professores daqui recebem determinados tipos de treinamentos, os professores de uma escola associada também?

R - Se eles quiserem, eles vêm fazer os cursos.

P/1 - Ah, entendi, quer dizer, não é só o material. Tem toda uma estrutura.

R - É.

P/1 - Toda uma estrutura de qualificação de professores, de métodos. Entendi.

R - Em geral, é feito aqui mesmo nesse prédio, que é o maior que a gente tem, tem refeitório grande e tudo isso. Às vezes, tem 300, 400 pessoas aqui.

P/1 - Mas até o uniforme também dessas outras escolas?

R - Usam.

P/1 - Usam o mesmo?

R - O mesmo nosso.

P/1 - Entendi, quer dizer, praticamente as associadas são Pueri, só que elas são administradas por uma escola que já existia?

R - Isso.

P/1 - Agora, essas escolas, quando elas se associam ao Pueri, são escolas que variam entre escolas que já existiam há muito tempo, há pouco tempo, são escolas novas?

R - Tem de tudo.

P/1 - Tem de tudo?

R - Tem de tudo. Eu sei que tem algumas funcionárias lá na Escola Associada que viajam constantemente, vão para os outros lugares fazer demonstrações da escola, do método, levam apostilas. Com isso, elas aceitam e ficam associadas.

P/1 - Então, quer dizer, nessas escolas associadas existem escolas que elas se utilizam de um método e aí, de repente, mudam porque já se associaram a... E na opinião da senhora, qual a função que escola deve ter hoje? Pergunta difícil?

R - Dificílima.

P/1 - Porque a senhora colocou que os pais cobram que a escola eduque, ensine.

R - E é verdade, você não sabe disso?

P/1 - Eu sei, mas e pra senhora, o que a senhora acha especificamente [que] deveria ser feita à escola. O que deveria ser exatamente a escola, formar? Como será que ela deveria formar, ensinar e formar?

R - Não sei. Eu acho que, pessoalmente falando, deveria ter uma aula de formação. Ou educação ou cultura ou...

P/1 - Cidadania, assim?

R - É, isso. Uma matéria que desde pequenininha fosse percebendo a existência de outras pessoas que trabalham pra gente. Entendeu?

P/1 - Entendi. E o que a senhora achou da escola Pueri Domus comemorar os seus 40 anos por meio de um projeto de memória? Resgatando toda a história?

R - Eu acho bárbara a ideia.

P/1 - Explorando a memória. (risos)

R - Que está apagada, né? Dez anos descansando.

P/1 - Não; a senhora trouxe muitos dados importantes. O que a senhora achou desse projeto?

R - Acho válido, acho bom. Deve ser comemorado mesmo. É uma data, é uma data, né?

P/1 - É. E a senhora achou interessante comemorar esta data resgatando as histórias, as memórias?

R - Que pessoas, mesmo [os] professores daqui, não sabem. Mesmo as auxiliares, funcionárias, não sabem a origem, o momento.

P/1 - Entendi, quer dizer, por meio desse livro, eles podem conhecer melhor a história?

R - É.

P/1 - E da senhora ter participado?

R - Eu ter participado?

P/1 - Ter sido convidada. Gostou?

R - Gostei.

P/1 - Tem alguma coisa que nós não falamos que a senhora gostaria de contar?

R - Não. Está tudo bem.

P/1 - Não? Alguma coisa que a senhora lembrou que acha interessante nesse processo todo no início como surgiu o Pueri?

R - Não. Tá bem, está bem explicado.

P/1 - Tá bem? Então Mauricio, tem mais alguma coisa que gostaria de perguntar? Então, em nome do Pueri Domus e do Museu da Pessoa nós agradecemos a entrevista da senhora. Obrigada.

R - Por nada.

[Fim do depoimento]