Museu da Pessoa

Construindo o Morumbi

autoria: Museu da Pessoa personagem: Agnelo Di Lorenzo

Projeto: História em Multimídia do São Paulo Futebol Clube
Depoente: Agnelo Di Lorenzo
Entrevistado por: Cláudia e Itamar
São Paulo, 23 de novembro de 1993
Entrevista nº 001


P - Bom, Seu Agnelo, eu gostaria que você falasse o nome completo do senhor, onde e quando o senhor nasceu.

R - Eu nasci 12 de fevereiro de 1928. Salerno - Itália.

P - E o nome dos seus pais?

R - Francisco Di Lorenzo.

P - E da sua mãe?

R - Angela Mazziotti Di Lorenzo.

P - Eles nasceram aonde?

R - Nasceram lá também.

P - Na mesma cidade?

R - É.

P - E o que que o senhor lembra da casa, da sua infância, em Salerno?

R - Eu me lembro assim, muito vagamente, a casa de, onde a gente morava, digamos assim, era uma espécie de sítio que tinha, inclusive ia a beira-mar e eram essas casas que existem lá, casas de pedras, aquelas casas grandes, inclusive pra, pra, o inverno, enfrentar o inverno, precisava fazer depósito de tudo, tinha ocasião de passar vários dias sem poder sair de. Então isso eu me lembro vagamente.

P - E quem construiu essa casa?

R - Ah, eu não tenho, aquilo quando eu nasci já ela já tava construída de tempo.

P - E senhor falou que vocês faziam depósito do quê?

P - De tudo, comida, tudo.

P - Que tipo de comida?

R - Até, desde de frutas secas, carne, porque lá era uma espécie de sítio não tinha assim, vamos ver, geladeira essas coisas, era tudo a base assim, de coisa salgada, uma conserva e frutas secas. Lá tem muito, quase tudo quanto é tipo de fruta, dá pra secar.

P - O quê que seu pai fazia?

R - Ele era farmacêutico e era piloto também de navio mercante.

P - Ele fazia as duas coisas?

R - Não.

P - Como é que ele conseguia?

R - Fez duas. Porque ele era formado lá em farmácia e piloto. Então fez ali, vamos dizer, eu não saberia dizer quanto ficou, fazendo, desempenhando uma função ou outra, ele tinha, teve essas duas, fora aqui no Brasil. Aqui no Brasil ele veio ser comerciante.

P - Mas, o senhor lembra, como piloto, o que ele fazia exatamente?

R - Não, não lembro. Não lembro porque praticamente eu quando nasci ele veio pro Brasil, ele veio antes da, propriamente da família, ele, dois, uma irmã

e um irmão.

P - O que é que ele veio fazer aqui no Brasil?

R - Veio estabelecer, fazer a América, como dizem o ditado. Estabeleceu com o comércio de fumo em corda.

P - Rum?

R - Fumo, fumo em corda é.

P - E ele veio.pra onde? Onde é que ele se estabeleceu?

R - Em Sul de Minas, numa cidadezinha ali no, antes da divisa de São Paulo, Passa Quatro, não Santa Rita do Passa Quatro, é Passa Quatro mesmo, fica depois de Cruzeiro, depois do túnel onde teve aquela, 32, que teve a revolução lá, foi nessa cidadezinha aqui pro lado de Minas.

P - E o senhor e seus irmãos vieram quando?

R - Aí viemos em 34. Desembarcamos aqui no Rio em setembro de 34.

P - E qual foi a primeira impressão do senhor no Rio de Janeiro. O senhor lembra?

R - Não aí, não alterou muito, ali já saimos de Nápoles, aquela cidade grande assim, assim não teve, não teve nada que chamasse assim a atenção, diferente. Desembarcamos, já em Minas, sim, em Minas é cidadezinha pequena e ali corria assim tipo de, brincadeiras faziam, que era cheia de índios, que ainda usavam flechas, dava bicho no pé (risos).

P - Eram histórias pra dar medo?

R - É. Então aquilo ficou. Mas isso quando chegamos lá a cidadezinha de Passa Quatro hoje é pequena, na época menor ainda.

P - O que é que era diferente em termos de brincadeira o senhor como criança, que é que o senhor brincava, quê que o senhor jogava, que é que o senhor fazia como criança na Itália que passou a fazer no Brasil, o quê que modificou, assim?

R - Ali, bom. Ali geralmente era mais as brincadeiras de praia né, porque ali era um, como se diz, vamos dizer chamar de sítio era uma vasca de terra. Ela ia dar,

pegava a praia né, saia perto do porto de Palermoro e ia até a Passado. E ali aquelas brincadeiras de praias, querer caçar gaivota, fazer buraco na areia, aquelas brincadeiras de praia né. Aquilo lá já não tinha, era mais assim brincadeira de pique, né que chamava, correria, e nadar em rio, apesar de ser assim novo mas eu já nadava. Então só que tem que lá era só rio, rio, como até hoje, né que tem..

P - O senhor veio então com quantos anos pro Brasil?

R - 6 anos.

P - Só um minutinho, vamos dar só uma paradinha, aconteceu um problema.

P - O senhor veio pro Brasil o senhor tinha 6 anos, na época na Itália, Mussolini estava no poder, o que o senhor ouvia falar do Duce nessa época o senhor como criança?

R - Bom. Aí é como se diz, um fato que ficou fixado era o problema da vadiagem, quer dizer que, a Itália tava mergulhada no desemprego, e tinha muita vadiagem e grande número de espécie de trombadinha né. E dizem que ele mandava dar uma dose de óleo de ricínio após o período de 30 dias de vadiagem né, pra arrumar emprego quando era pego pela polícia então dava uma dose de óleo de ricínio e na reincindência ia aumentando, quer dizer dobrava. E só que tem que o cidadão arrumava emprego rápido, e virava fascista, isso é diziam né, eu sei pelo que me contaram, que isso aí funciona porque a pessoa arrumava um emprego rapidinho e aí adotava a camisa preta lá. Na época do Mussolini desde de, a pessoa já nascia com uniforme né, de fascista.

P - E vocês tiveram, a sua família teve algum problema em 42, quando da guerra, por serem italianos?

R - Há tivemos, tivemos sim. Inclusive meu pai era uma espécie de, de um representante consular da região não é, uma espécie de cônsul, digamos assim, ou subcônsul, e durante a guerra tínhamos que viajar com, vim aqui passear em São Paulo tem que vir com salvo conduto, bloquearam conta bancária, aqueles problemas que existiu. Lá talvez não tenha assim por ser uma cidade, uma cidade pequena né, tudo conhecido e tal, mas é, pra sair de lá precisava de salvo conduto dado pela polícia lá, senão era preso né.

P - Como é que nasceu a sua paixão pelo futebol, como é que você passou a gostar do futebol?

R - Praticamente foi no São Paulo né. Porque em Minas, em Minas assim tinha ligação com o futebol, mas aquelas brincadeiras de time botão né, inclusive o meu time lá quando eu jogava era o Flamengo. No tempo do Leônidas, do Zizinho que jogava no Flamengo, do Jurandir, depois o Tricha, o Domingos da Guia e lá não, não dava pra pegar o futebol aqui de São Paulo, só o do Rio. Depois quando eu vim pra São Paulo não é, coincidentemente eu vim para o São Paulo.

P - Como foi essa história, como é que o senhor acabou chegando no São Paulo?

R - É que vim pra fazer o científico e tava na residência de uma irmã que morava no Canindé, e ali nessa ocasião o São Paulo trouxe o Orozimbo, que ele foi jogador da primeira fase, da segunda e foi também do Fluminense mas já como na parte administrativa e o Fluminense era considerado na época o clube mais bem organizado do Brasil. Então o São Paulo montou uma sede de gala na Avenida Ipiranga e trouxe o Orozimbo pra implantar essa organização do Fluminense e ele era, como se diz, ele era amigo da família e então tava procurando um emprego num escritório de engenharia que a minha intenção era estudar engenharia, inclusive ele procurando né, mas ocorreu que um filho, quer dizer não era, era enteado, enteado não, filho da, ele era casado, a senhora dele era casada em segunda núpcias e tinha um filho que trabalhava no São Paulo, no restaurante, de caixa, ele então tinha feito um, tinha feito um, como se diz um, prestado um concurso na Antárctica do Rio e passou e precisava assumir o emprego no dia seguinte, aí o Orozimbo falou: você não quer é como se diz aqui ficar um mês ou dois e tal até a gente arrumar um, e explicou o caso né. Eu disse: Bom, não sei, nunca trabalhei, nunca tinha trabalhado realmente. Nunca trabalhei e nem sei. Ele falou: Ah, isso é simples, eu ensino. Então comecei pra ficar 2 meses, mas levado por esse fato do Orozimbo. E por sinal, o Orozimbo saiu quase logo em seguida, voltou pro Rio foi pro Maracanã e eu acabei ficando até hoje né, 44 anos (risos). E aí então a gente começa, como se diz, a gostar de tudo né, o universo de um clube de futebol é um, como se diz é apaixonante né, é apaixonante, a gente vê o que se faz em, o que ocorre, o que não acontece por causa do futebol, que a gente fica, parece que tá noutro mundo, tá noutro mundo. Aí eu então acabei ficando esse tempo todo.

P - O senhor jogava futebol?

R - Por incrível que pareça é, jogava de vez em quando no colégio, mas eu jogava mesmo era basquete, tinha lá um time do colégio, mas jogavam em todo aquele sul de Minas, Caxambu, São Lourenço, aquelas estâncias lá, era bonzinho, não era, apesar da pouca altura mas era bom. E eu gostava de basquete, futebol não, futebol a gente fazia aqui, como se diz, inclusive no São Paulo a gente fazia brincadeira de, é conserve a Bandeirantes, quando mudou a Bandeirantes pro coisa, volta e meio a gente fazia jogos de, lá churrasco, show, chopes e, mas era brincadeira só, né.

P - E esse primeiro emprego que o senhor arrumou, o senhor ficou quanto tempo?

R - Estou até hoje(risos).

P - Não, o senhor trabalhou primeiro no bar..

R - Ah, sim. Bom, aí eu passei quase todas, porque nessa sede, era uma sede de gala que o São Paulo tinha.

P - Como é que era essa sede, de gala, assim?

R - Ah. Tinha desde jogos, barbearia, biblioteca, sala de estar, restaurante não é, e ali eram 3 andares dali da Avenida Ipiranga, no 13º era a secretaria, salão de reuniões né, eu fiquei o quê? Uns 3 ou 4 meses e depois passei a encarregado da sede não é, da sede que abrangia os 2 andares lá no centro.

P - Como encarregado da sede, o senhor fazia o quê?

R - Aí fazia de tudo. Era uma espécie de gerente da, como se diz, tinha desenvolver ali uma, um estudo profundo, que da onde eu saía o prato mais sofisticado era bife a cavalo (risos). E ali era um cozinha internacional não é, com todo, a equipe toda estrangeira, era, a maioria dos garçons era tudo do Conte Grande, aquele navio que ficou preso aqui no Brasil. E tinha inclusive garçon que tava acostumado a servir aqueles lordes lá na Inglaterra, era um negócio todo sofisticado e eu tive que aprender ali a, aquela, mas deu, deu pra, tanto é que se foram me escolhendo é sinal de que eu correspondi.

P - Como é que foi

essa história do aprisionamento do Conte Grande, Sr. Agnelo?

R - Quando estourou a guerra ele estava aqui em Santos.

P - Era um navio italiano?

R - É. Era um navio, de transatlântico, de passeio, de turismo, e ele estava em, na época se lembra mais ou menos, não estava assim pra estourar vamos dizer uma guerra, porque o Brasil tava neutro e ainda a turma dizia que o Getúlio era a favor do Eixo, aquela coisa toda né, e de repente aí comecou o movimento e aí, e esse navio tava em, tava em Santos e ficou preso, mas aí.

P - E a tripulação do navio, a tripulação e os passageiros ficaram aonde?

R - Não aí eu não sei assim dizer porque cada um, porque muitos deles acabaram voltando porque esse fato vamos ver, de eu entrar no São Paulo foi em 1950 e agora isso ocorreu em 40, quando houve a declaração da guerra. Então muitos voltaram pra Itália, muitos, mesmo da, como se diz, da, do pessoal que lidava vamos dizer nessa área, pela conversa a gente via que eles voltaram pra Itália né, agora alguns se radicaram aqui, que exatamente esse, a maioria, não digo todos, né que tinha muita gente: romenos, alemães, a cozinheira era alemã né, tinha garçon, inclusive português que era do Conte Grande.

P - Como é que era São Paulo nessa época?

R - Bom, ele era quer dizer..

P - A cidade, a cidade de São Paulo?

R - É tinha o bondinho ainda, tinha o bondinho Canindé que ali da, do Largo São Bento da, como se diz, era menos movimentado né, garoa, garoa faz tempo que a gente não vê. Ali eu saía às vezes a noite, quando tava construindo aquele prédio do INPS ali na, no Viaduto Santa Efigênia, então no começo do viaduto assim a gente não enxergava 2 metros, aquela cerração, se existisse trombadinha e larápio naquela ocasião pegava a gente dentro do nevoeiro, da garoa ele já via (risos). Era assim uma questão de 2 metros, uma cerração. Aí nem o frio, pra dizer a verdade, nem o frio não é aquele frio que tinha temperatura num, faz muito tempo, tem as ondazinhas né que vem lá do sul. Mas aquele frio de mudar a temperatura não tem. E era assim, assim, talvez agora até

mais romântico o tempo dos bondinhos lá, era um negócio mais simplório, hoje já tá mais sofisticado, já tá mais mundo cão também não é.

P - O que que mais marcou o senhor, quando o senhor mudou pra cá? Saído de Passa Quatro pra São Paulo.

R - Bom, quer dizer, mais que eu já vinha, passeava aqui, inclusive quando eu vinha lá eu ia ao Canindé, ia pra nadar na lagoa, porque a piscina do São Paulo era ali a lagoa do, mas era uma água limpa. Assim acontecer de coisa apenas aquela dificuldade de não conhecer a cidade né, só a única coisa que, de resto já tava mais ou memos acostumado com, com o, já conhecia o movimento, né.

P - Você morava aonde e com quem?

R - Morava com... inicialmente morava com a minha irmã no Canindé, ali perto do, morava ali na, na, como se chamava ali, na Rua Araguaia, Rua Araguaia, ali tem, era o ponto final do bonde Canindé.

P - O bonde Canindé, saia do Largo São Bento pra lá?

R - Saia do Largo São Bento pra lá. Ele não chegava até o campo lá, depois tinha a esteira do Pari né, ali ficava encostadinho o ponto final, fazia ali uma estação, fazia uma curva e tinha que andar um trechinho pra chegar lá no Canindé.

P - Quem eram os grandes jogadores quando o senhor chegou no São Paulo, no primeiro emprego seu? Como é que foi essa relação com os ídolos, quem era os ídolos?

R - Era, como se diz, o Leônidas, o Ubaldo, Noronha, o Mário, o Poy, o Poy tem quase a mesma idade do que eu de São Paulo, o Bertolucce também era da época, o Friaça, o Ponce de Leon, o Teixeirinha, o Rui.

P - O senhor teria amizade mais pessoal assim com algum deles, chegou a ser mais próxima?

R - Não, porque a gente assim teve, que teve muito, porque a sede era separada do Canindé e tinha muitos que num, aparecia uma vez ou outra na sede, então a gente não tinha muito, depois peguei amizade com o Leônidas, por exemplo, o Leônidas agora que tá assim doente mas ele era assim uma pessoa assim que, que ficou muito ligado e vinha sempre visitar a gente. O Noronha.

P - E o Leônidas, como jogador, como é que o senhor avalia?

R - Bom o Leônidas, ele um senhor jogador né, inclusive jogava sozinho, né.

P - Como assim?

R - Ele ia pra casa e os marcadores iam atrás dele, eram 4 ou 5 marcadores. Teve ocasião que ficavam né, assim, o marcador, 3, 4 marcadores e policiando e ele jogava sozinho.

P - O senhor lembra por que ele foi chamado de homem-borracha?

R - Não, não lembro. Porque eu praticamente assim, conhecia pelo nome quando ele jogava no, mas tenho impressão que foi dessa fase da copa do mundo de 38.

P - Na França.

R - Quando saiu o cigarro, quando saiu o chocolate, né. A gente chamava ele só de borracha, nem homem-borracha, era borracha.

P - Isso por que assim, o senhor lembra?

R - Eh?

P - Por que borracha?

R - Não ele era o homem-borracha, ele foi apelidado né, então a gente chamava ele pelo apelido de borracha.

P - E a vinda dele pro São Paulo, o senhor já tava no São Paulo?

R - Não.

P - Quando ele veio do Flamengo pro São Paulo.

R - Não, mas ele foi... quer dizer, gente sabe por histórias, por conta da época.

P - O quê que o senhor sabe da vinda dele?

R - Da vinda dele que, como se vê, primeiro ele veio com o Sílvio Caldas. Sílvio Caldas acompanhou ele desde o Rio até aqui na estação. Saiu lá da Pedro II e veio até aqui, era a Central do Brasil.

P - A Estação Roosevelt, era no Brás.

R - Roosevelt é. Tinha mais de 10 mil pessoas, segundo o depoimento da época né, e como se diz, ele inclusive na estréia dele ele deu um público que segundo Feola né, não poderia dar: 72 mil pessoas mais ou menos..

P - No Pacaembu.

R - No Pacaembu. Feola me contava que, era tanta gente que a polícia mandava rodar, andar, não podia parar, e teve gente que nem pisou no chão, entrou numa porta e saiu na outra (risos). Comprou ingressos várias vezes.

P - Porque oficialmente hoje, a capacidade do Pacaembu é de 45 mil pessoas.

R - Mesmo sem, não tinha o tobogã pra dar 72 mil pessoas, não tinha jeito, então ele dizia olha tinha gente lá que entrava numa porta e saía pra outra porque a polícia não permitia que parasse, anda, anda, anda e aquilo lá tinha nego lá que saiu carregado. Torcedor lá que saiu nos ombros e quando viu tava saindo. Porque 72 mil pessoas não tinha jeito, nem com tobogã. Agora ele foi, foi um negócio assim, criou impacto, criou uma nova era, né pro São Paulo. Foi o Pedrosa que fez, era tempo do Dr Décio, e o Pedrosa é que foi, ele tava, ele tava já considerado com fim de carreira e ele tinha tido problemas com documentação, essas coisas toda, então ele tava paradão, tava com problemas de joelho não é.

P - Isso era 1940 e..

R - 42 né. Ele estreou contra o Palmeiras em 42. Data eu não me lembro bem.

P - O time mais ou menos o senhor se lembra, o time que ele estreou, mais ou menos qual era a escalação?

R - Não é que eu lembre né, tem, eu não tenho assim, eu não assisti né, mas era o, 42 eu não me lembro bem o goleiro se era o King ou o Gijo, assim pra dizer não daria pra.

P - Depois ele foi campeão no ano seguinte.

R - Em 43. Inclusive nessa estréia do, nessa estréia dele jogou, aliás, na estréia dele não, num jogo, no primeiro jogo que marcou a bicicleta, eu tô fazendo um pouco de confusão, que jogou o Cascão, só jogou essa partida, nem ele lembra (risos).

P - Como é que foi isso?

R - Que era o Pardal né, então jogava o Cascão, um ponta chamado Cascão que era Eurípedes Gomes da Silva, uma coisa assim, e ele na, como se diz, ele contando as coisas ele foi o Pardal não coloca o Cascão na estréia contra o Palmeiras. O primeiro gol de bicicleta que ele marcou, né.

P - Sr. Agnelo, quando o senhor comecou a trabalhar no São Paulo o senhor estudava, o senhor veio pra fazer o científico, como é que ficou isso?

R - Não o científico eu parei, depois aí eu fiz aqui a escola, o curso técnico de contabilidade pra fazer Direito. mas depois acabei parando, fiz o curso, não exerci a profissão não é. Aí no São Paulo como se diz..

P - O quê que aconteceu que o senhor..

R - Não é que eu comecei a exercer várias, várias, inclusive a comissão pro estádio né, a construção, eu fui, vamos dizer mesmo quando eu trabalhava na sede eu já ajudava a comissão em 52, 53 e depois eu, quando eu saí, em 53 saí da sede social, eu de manhã eu já atuava na comissão, fui regra 3 e depois o administrador da comissão até o término, terminou em 70 e.., 76.

P - No começo, como o senhor ajudava a comissão?

R - Em todas porque era uma administração completamente separada do clube, a estrutura do clube a única coisa em comum era só o presidente, o resto: a diretoria, funcionários tudo diferente. Então é como se diz, desde a venda de cativa, o controle não é, aquelas coisas assim de administrativas da, então aquilo a gente ajudava de manhã, agora depois aí passei a atuar também lá nas, nas obras, tinha que acompanhar, porque o administrador era o Mário Naddeo, né e eu era vamos dizer o regra 3 dele, e como ele viajava muito então eu precisava tar, como se diz, estar a par da construção, eu então acompanhei desde essa época até a saída dele em 67, aí fiquei sozinho, a superintendência também exerci com o Feola, aí não dava mais tempo pra pensar em estudo nem, essas campanhas do, que ocorreram pra a construção tudo, campanha violenta né, uma campanha que dava pra, a primeira campanha feita com carnê dava pra construir quase o estádio, quase um milhão de, e isso aí tinha que ser controlado como se diz, por uma equipe reduzida e não deu tempo de, quando aconteceu, explodiu e né, e não teve tempo nem de fazer uma equipe de retaguarda né, de parte administrativa, tem a equipe de vendas, de coisa, mas, em termos do São Paulo a parte administrativa não teve tempo de fazer nada, foi 2, 3 meses e aquele volume de 100 mil foi pra quase 900 mil carnês. Dava exatamente pra fazer, pra ter uma idéia, o último lance de 230 metros não chegou a 5 milhões, quer dizer partindo daí, deu 9 milhões e meio de saldo líquido, quer dizer dava pra fazer 460 metros, que é mais da metade.Em termos de volume era um valor de 5 cruzeiros que a pessoa pagava.

P - Qual foi a participação do Osvaldo Moles na venda desses carnês, dessas campanhas?

R - O Osvaldo. Que a idéia inicial era a venda de cativas não é, então tava programado vamos dizer 6 mil e poucas cadeiras cativas pra se vender, mas numa época que esses estádios tinham o quê cadeira cativa do prefeito, do padre, do, eram 3, 4 cadeiras cativas. São Paulo lançou 6 mil numa época em que a situação financeira tava meio, meia apertada, então como se diz ninguém acreditava que o São Paulo fosse vender cadeira cativa pra empregar no estádio, pra construir o estádio, estádio de futebol, então não teve essa, essa receptividade assim do, e ficou vamos dizer, algum tempo que precedeu o Moles que não vendeu quase nada, aí depois o Moles fez a primeira campanha que era do SO né, que é o Sócio Olímpico (risos) que tem o Sentadinho de Oliveira, segundo ele é seu Raimundo lá era o proprietário de uma cadeira cativa né, era o Sentadinho de Oliveira, que o Moles tinha isso né, pra ele qualquer coisa era de Oliveira, então era o Sentadinho de Oliveira e ele fez uma campanha como se diz assim, que penetrou profundamente e chegou a se vender cativa aí por, pelo telefone aqui por todo Brasil, até pro México, teve um mexicano aí Nogolongo Gi que comprou uma cativa e mandava pagar inclusive em dólar na época. E ele fez assim essa campanha de, eu não sem bem o nome, mas aparecia o SO sem identificar o que era né, aparecendo aquela, o SO, o SO tem uma piscina, o SO tem ar puro, o SO, uma coisa assim que ficou assim, cobriu a cidade toda com essas..

P - Criava uma expectativa...

R - É. Seja um sócio olímpico comprando uma cadeira cativa no maior estádio do mundo né, então aí vendeu, quer dizer aí começou realmente a venda maçica do, e a primeira venda foi pela Bandeirantes quando era na Paula Souza, ali na, antes de mudar pro, eles estavam lá na Paula Souza não e ali é que faziam a primeira venda, depois aí ele montou uma firma, o próprio Moles.

P - Ele era parceiro do Adoniran Barbosa, né. O Adoniran não participou da campanha nada? Não teve nenhuma participação?

R - Ele participava, ele não largava do Moles. Ele e Fabiano Sobrinho onde eu ali tavam junto, você via o Adoniran, podia saber que o Moles tava por perto né. Eles fizeram aquele "Trem da Onze", aquele charutinho na história das maloca e o Moles, ele era como se diz, era um doutor em gíria, tinha lá uns lavador de carro e vinham saber gíria com ele e ele, nunca vi ele ler, era só livro em inglês, em estrangeiro, em, eu nunca vi ele nem pegar mas sabia, era um doutor, um doutor em gíria. Ele foi um grande produtor né, ele ganhou a, ganhou a, aquele Roquete Pinto, né.

P - Várias vezes.

R - Até depois de 7 anos, 7 ou 8 anos aí não podia ganhar mais, mas ele fez do, das cativas e dos títulos também né, o título era em termo assim de aceitação, eu particularmente achava que não ia vender nada, no entanto, foi um, foi um sucesso a venda de.

P - E como era o bairro do Morumbi na época que o São Paulo comprou o terreno?

R - Era só, ali é como se diz pra ter uma idéia depois de inaugurado parcialmente, ainda tinha umas vaquinhas que pastava ali do lado, (risos) tinha um retiro ali na, hoje, era a Avenida Antonis, hoje tá canalizado ali, tinha um retiro, umas vacas holandesas que pastavam ali do lado, isso não passava ainda a estrada ali, lá em cima ainda não dava, então, era só terra, isso aí começou o desenvolvimento bem, bem mais tarde, bem mais tarde, era só o terreno.

P - O Adhemar de Barros tinha alguma uma relação com o São Paulo, a mulher dele?

R - Não, com o São Paulo veja bem, ele tinha esse Jardim Leonor que parece que era da família.

P - Da mulher dele, Dona Leonor.

R - É, eu sei que ele, o Figueiredo Ferraz né, foi com o Dr. Werneck aventou essa hipótese, porque o São Paulo naquela época tava pretendendo não trocar, mas dar o Canindé e pegar o terreno do Ibirapuera pra fazer o estádio lá e graças ao Jânio não deu certo.

P - Como assim?

R - Ele era vereador e ele como se diz, na veemência dele acabou não passou na Câmara, né.

P - O quê que o Jânio falava?

R - Assim que eu lembro, mais aquelas né, aquela, a gente vê inclusive o processo existe até tá lá porque transformou aquilo como se o São Paulo quisesse dar em pagamento o Canindé e não era propriamente isso era o São Paulo abria mão desse terreno, quer dizer, a prefeitura doava esse da do Ibirapuera né, então assim a, vamos dizer a doação a coisas não tem o, e talvez tenha até sido melhor né, depois o, esse Manuel Figueiredo Ferraz que é, acho que é genro do Adhemar tinha o escritório com o Dr. Werneck e ele é que ia, São Paulo continua procurando, ele lembrou do Jardim Leonor que esse loteamento aí.

P - Onde está o estádio hoje.

R - É, e foram conversar com o Adhemar e tudo, então houve uma doação, uma doação de 25 mil metros e pouco, direto da construtora e 99 mil metros e pouco era praça pública, ruas, essa coisa toda, teve anuência da prefeitura, era o Dr. Armando de Arruda Pereira na época o prefeito, então deu essa área total de 154,520 metros quadrados mais ou menos que é área atual né, mas aí começou a se desenvolver em decorrência do estádio, em decorrência da parte social, com a parte social, inclusive na época a gente tava pensando em comprar terreno lá para instalar, para fazer, edificar um prédio para os funcionários porque não estava fácil pegar gente para trabalhar lá né, era uma região assim meio, era uma viagem, né, uma viagem lá, e eu sei dizer que com a inauguração, com a inauguração da parte social ficou parado o que uns meses, então o preço do metro quadrado onde, inclusive nesse retiro a mil e cem metros e do lado ainda tem um pedaço da chacrinha ali, tem umas plantas, era uma chácara que dava uns 6 mil e poucos metros e um tava 600 e pouco o metro quadrado e outro mil e quebradinhos, inaugurou a parte social, quando voltamos pra lá já tava em quase em 9 aí já não deu pra conversar mais.

P - De certa forma o estádio contribuiu para valorizar a região?

R - Ah sim, valorizou muito, valorizou muito, aquilo era uma região meia, inclusive no começo, hoje ela é considerada uma região sofisticada e tal mas ela teve uma imagem que não era, ali como se diz, no começo era até perigoso, uma área perigosa, quando estava descampado, inclusive tinha, à noite lá era bandidão fazendo partilha de roubo lá e, desova de presunto como diz aí na gíria (risos), não era como se diz, era meio, como se diz, meio perigosa mesmo e era descampado né, não tem, tanto é que teve uma época que funcionário perdia o último ônibus ia dormir no estádio (risos), ele não tinha condições nem de atravessar ali do portão para ir na Francisco Morato, que ali tinha umas maloquinhas, gente simples, boa mas tinha muito bandidão também misturado ali né, então assaltavam, machucavam, tanto é que o primeiro ônibus (riso). Conto? O primeiro ônibus o motorista, cobrador fazia a chamada às 6:15 fazia a chamada do pessoal né, era ali e no Hospital Infantil, ele tinha a relação de todo pessoal que trabalhava lá porque se não pegasse o ônibus, e o ônibus ia até Pinheiros, né, se não pegasse o ônibus ele dormia lá, era muito arriscado lá.

P - Como é que foi aquela estória do pinheirinho na época da construção do, da terraplenagem do estádio?

R - Ah o pinheirinho, do pinheirinho é o seguinte, na época a situação financeira estava bem bem curta né, dinheiro tava curto né, eu não tinha muita condição de fazer promoção não é de jornais, aquela, e como a cadeira cativa também tava difícil de vender aí então era, de vez em quando sobrava um dinheirinho fazia um, fazia inclusive um churrasco para a Imprensa, era assim uma promoção de um, dois dias, três dias no máximo né, noticiava e tal no, e um belo dia não sei porque cargas d'águas tinha um casal de gavião em cima de um pinheirinho porque tava derrubando, tava cheio de pinheiro, árvores então tava limpando e surgiu que a senhora do presidente não queria que derrubasse o pinheiro por causa dos filhotes de gavião e aquilo ficou sendo noticiado quase um mês inteiro: não é amanhã que vai derrubar, não a mulher do presidente não quer, a firma vai rescindir o contrato, eu não sei daonde surgiu, só sei que ficou isso nos comentários e coisa e divulgou né aí o pinheirinho olha ele só saiu lá, quando, em 60, quando teve que fechar o estádio para inaugurar parcialmente aí teve que, aí foi derrubado, teve que passar o muro, mas ele ficou até 60.

P - O estádio está sendo construído já e o pinheirinho tava lá.

R - É, porque depois aí não tinha mais razão mas também não tiraram não é, ele serviu para esse fim na época, é isso aí, quando fez o movimento de terra foi em 53, 53 fins para 54, então era, aí depois já, já essas campanhas com bônus, isso aí, ele fez com cobertura total, televisão, jornais, rádios, né, isso já teve mas no começo não tinha, não tinha nem as reservas do São Paulo para atender os clientes não chegou.

P - Falando em televisão, Sr. Agnelo o senhor se lembra do quando começou a televisão no Brasil aqui em São Paulo em 50? Os programas que passavam, o primeiro dia que passou a televisão, o senhor se lembra disso?

R - Lembro, eu saí lá da sede tinha uma, ali no Largo São Bento era a antiga Tupi né, aquelas, aquela antiga da Tupi e assim nessa oportunidade que foi no dia que saiu eu tava andando só tava aquela imagem com o símbolo da Tupi, mas depois aí ofertaram uma televisão na época era até um, 56 polegadas, mas é, parecia tudo risco, era uma Amstrong, e a firma deu de presente então a gente via: a Bola do Dia, David Neto, até diziam que o David Neto era parecido comigo (riso), o Valter Stuart que fazia a Bola do Dia.

P - Tinha um sãopaulino famoso, quem que era? Um sãopaulino famoso que começou na televisão, se lembra dele? Lima Duarte.

R - O Lima Duarte, o Lima Duarte e aquele o, até o maestro lá o ............ era muito ligado à gente desde quando estudava música e ele fazia com o Frederico Martins, o Lima Duarte, e tinha um outro..

P - Esse pessoal era todo era sãopaulino? Esse pessal todo era sãopaulino ou tinha alguma ligação com o São Paulo?

R - Era tudo sãopaulino, se inscreviam, o ............ era, eles brigavam por causa do São Paulo, depois ele comprou a orquestra lá do, daquele maestro que foi para a Itália, lá, mas ele fazia naquele tempo acho que a TV de Vanguarda, antiga Tupi né, tinha que era comédia e TV de Vanguarda, que era uma coisa assim, ele também trabalhava, era Henrique Martins, Henrique Martins.

P - Henrique Martins era o ator né, eu me lembro.

R - É, era o Lima Duarte, inclusive quando ele sofreu aquele desastre que ele veio contar, hoje até não, ele sempre vai lá mas eu nem perguntei porque não parece mais que ele, ele ficou com a mão torta muito tempo né, ele deve ter feito cirurgia e tal, mas ele é, eu me lembro que ele inclusive contando na televisão né que ele estava na beira da estrada e todo mundo parava para socorrer ele queria morrer né com mão toda esmagada né, ele bom, na época ele não, era sãopaulino mas nun, que lá na sede geral de José de Almeida esse era inclusive foi conselheiro muito tempo, chegou a ser diretor dessa época, mas ele era mais no campo, de televisão tinha a Isaurinha também que cantava muito, ela, eu não sei se ela era sãopaulina, ou não, mas ela frequentava muito a sede lá na época da televisão né, que se iniciou a televisão, né.

P - Em 50, né. O senhor parece que participou diretamente da contratação do Zizinho, como é que foi essa história?

R - Não do Zizinho é o seguinte, eu estava no Departamento Técnico na época não é, e fui que fiz o registro dele como jogador, o registro mais rápido até hoje no São Paulo.

P - Por que?



R - Ele, ele, O Zizinho veio da Argentina não é, é que ele tava no Bangu, então a transferência dele teria que ser entre federações não é, então tinha que ter vamos dizer o São Paulo consultar, quer dizer encaminhar pra Federação Paulista, a federação paulista, vamos ver, consultar a CBD na época né, a CBD consultar a Metropolitana, a Metropolitana consultar o Bangu e depois o mesmo, a mesma rotina de volta não

é, então aquilo dava uma transferência dava normalmente quase uma semana. E o Zizinho chegou de viagem as 2 e meia e tinha que assinar o pedido de transferência e tirar fotografia, que demorou mais foi pra tirar a fotografia inclusive quem vamos dizer salvou a situação na época era o Benedito Rui Barbosa. Esse que é, escreve essas novelas aí de, ele era, fazia, era setorista da Última Hora e já era sãopaulino assumido, então ele tava de carro e falou: olha Rui, você. Ele queria assinar como testemunha, tanto é que o contrato do Zizinho tá assinado como testemunha o Rui. Você põe ele dentro carro, você vai entrevistando que a foto, Foto Rafaele é ali na Avenida São João, só assim que consegui tirar, assim perdi um tempão enorme porque não deixavam o Zizinho sair de, puxavam pelo braço, puxavam pelo paletó, quer dizer parecia que ele tava em fim de carreira né. Mas tirou a fotografia aí já tinha um, como se diz, encaminhamos lá pra federação já tinha um outro funcionário, levou de avião. Quando chegou lá na CBD, a Dona Marina já deu pelo telefone o ok, ela já tinha feito toda a consulta do Bangu, lá da Metropolitana, então ele chegou lá foi só entrar o pedido de transferência e já comunicou. Então isso foi numa sexta-feira, 6 horas já tava, e ele estreou contra o Palmeiras no domingo.

P - O senhor lembra como é que foi o jogo?

R - Como?

P - Como foi o resultado do jogo?

R - 4 a 2.

P - E o Zizinho como jogador?

R - Não, ele era um grande jogador, ele era um líder né. Ele em termos de disciplina como se diz, ele deixou um pouquinho a, mas termos de liderança ele..

P - Como é que foi a saída dele do São Paulo?

R - Foi, você vê como ele, ele mesmo já contou então não tem problema nenhum eu tar contando, foi por causa de disciplina né, ele transgrediu, e houve, não houve assim praticamente uma aplicação de uma pena, houve uma advertência, ele era genioso na época e tal, ele então pediu a rescisão, ele pediu a rescisão, em 58 né, e o São Paulo poderia até ser em 58 o campeão né, mas ele pediu a rescisão. E ele foi como se diz, ele morava ele e o Lanzolini né, então eles iam pra boite e tal e o São Paulo nessa época mantinha uma, inclusive equipe de detetives né, tinha o livro ponto né, reduzia os dias de concentração, mas ia um funcionário com livro ponto, então o jogador tinha que tá em casa pra assinar o ponto, e assim dizer, que ele, como se diz se apresentava de pijama, ele e Lanzolini o funcionário passava lá não é, no prédio onde, e quando o funcionário chegava lá que ele olha assim fechava a luz, bem de pijama, fechou a luz e foi dormir aí e os torcedor: ah, eu vi lá o fulano tal boite, e tal, não sei quê, até que botou um detetive, e ele descobrir que ele fechava a luz e saía pelo fundo do prédio. Ele contou isso na Cultura né, então não tem. Mas ele depois de, quando ele foi ser técnico ele voltou no São Paulo pra pedir todo o regulamento disciplinares, do regime de concentração, de viagens, porque o São Paulo tinha né, do, da concentração, e foi com o Lanzolini por incrível que pareça que ele também tava como técnico no Paraná. Até o Lanzolini ele falou: você só não me dá é a forma do memorando de aplicação do 60%, porque essa eu sei de cor. (risos). Até é expressão dele mesmo, o resto ele levou também o Lanzolini, o Zizinho e o Lanzolini. O Zizinho parece que tava no Rio não sei, parece que tava sendo como técnico e o Lanzolini no Paraná.

P - Sr. Agnelo pra gente terminar o que o senhor coloca como o fato mais importante, marcante na sua vida?

R - No São Paulo?

P - Da sua vida com o São Paulo. Qual foi?

R - Eu acho que a inauguração do estádio né, porque foi é, como de diz, foi um período desacreditado, era objeto assim de chacota, de gozações, de, o que passamos, e às vezes a gente, aquele trabalho imenso e a turma dando risada né, então quando foi a inauguração a gente via aquele pessoal, que tinha gente aqui mesmo de São Paulo que não conhecia aquele primeiro pedaço de, e quando chegava lá ficava deslumbrado né. Aquilo, eu pra dizer a verdade eu não chorei de vergonha não de chorar, eu não tenho vergonha de chorar, mas é que ficava muita gente né, em volta querendo saber a história, porque era eu e o Mário Naddeo só que fazia parte da administração, porque o resto praticamente era as empreiteiras né. Então ficava aquela multidão querendo saber como é que foi isso, como é que foi aquilo e tal, eu não chorei por vergonha de falar, mas que me deu um negócio assim que, que, vontade realmente de, porque foi, porque foi assim todo o tempo foi, foi como se diz como pessoas tivessem né, diminuindo a gente, de repente vê aquele né, tinha gente que arrancava os cabelos. Um cidadão um dia apareceu de, de terno branco aquele linho 120, tudo engomadinho, ele rolou lá, ele saiu com o terno marron. (risos). Aquele linho 120 que usava antigamente, mas ele ficou tão emocionado que ficou rolando lá grama, né. Então era um... vinha gente do norte, do sul, do exterior, era, parecia aquele, aqueles santos, né que eles descobrem, que tá fazendo milagres e cada pessoa que chegava lá não imaginava, imaginava um estádio lá de madeira e tal, depois que via aquele monstro.

P - Qual foi o maior jogador que senhor viu jogar no gramado do Morumbi?

R - Einh?

P - O maior jogador que o senhor viu jogar no gramado do Morumbi?

R - Foi o Pelé né. O Pelé não tem, o Pelé acho que não tem, um senhor jogador, né.

P - Do time do São Paulo assim?

R - Ah bom, do São Paulo, teve o Litércio, teve o próprio Pedro Rocha né, no São Paulo né, no Morumbi, o Pedro Rocha um estilo de jogo bonito, o Gerson não é, que o Gerson mudou, mudou completamente a fisionomia do, esse era um líder mesmo do campo e fora dele. O que ele falava a turma não desobedecia, ele falava xingando, xingava até a sétima geração, mas era um leão pra defender bicho, então ele liderava a turma o que ele falava a turma, o cidadão tinha que correr senão ele ia lá e chamava atenção.

P - Tá ok, seu Agnelo a gente agradece muito, a colaboração. Muito obrigado o senhor.