Museu da Pessoa

Benzedeira de tudo

autoria: Museu da Pessoa personagem: Hilda Martinha Vieira

P – Vamos começar então?

R – Vamos.

P – Eu queria que a senhora dissesse primeiro o nome completo, pra gravar.

R – Como é?

P – O nome completo da senhora.

R – O meu nome completo, como eu disse dia hoje?

P – O nome da senhora, qual o seu nome?

R – O meu nome é Hilda Martinha Vieira.

P – A senhora nasceu...

R – Eu nasci no dia 23 de dezembro, antes da véspera de Natal, dia 23.

P – E qual era o nome dos seus pais?

R – O nome do meu pai era José (Virgulino Filho ?) e o nome da minha mãe, Martinha (Rosarinha?) de Oliveira.

P – O quê que eles faziam?

R – O meu pai era pescador, o meu pai era muito pescador, patrão de lancha, tudo. E a minha mãe era lavadeira. Minha mãe lavava muito pra fora. Todos os dois ______.

P – Conta um pouco pra mim da sua infância, como que era.

R – Ah, a nossa infância. Nós, até 12 anos, quando era mais pequeno eu via, quando eu me lembro, a minha mãe, nós éramos muito pobres, nós

passávamos muita necessidade. Meu pai pescava, tudo, mas naquele tempo peixe não tinha valor. Não tinha caminhão, não tinha estrada, não tinha nada, era tudo de barco. Aí nós fazíamos a renda, nós éramos rendeiras. Com 12 anos, 13 anos, já estava fazendo renda, eu mais a minha irmã. Eu tinha uma irmã também, de lá também, já morreu. Também trabalhava muito pra ajudar o meu pai. E nós fazíamos a renda. Nós íamos lá no Saco do Limão vender a renda pra nós comprarmos, chegar em casa, pra nós comprarmos o açúcar, a farinha, o fumozinho do meu pai, que o meu pai fumava. Pegava lá na vendinha. Quando o homem não estava em casa, nós voltávamos. Só tem fome. Nós saíamos três horas da madrugada. Tinha um polícia aqui, um soldado que estava destacado na praia tomando conta do navio. A minha mãe lavava pra ele. Era muito longe: “Não, deixa, Dona Martinha”. Quando ia comprar lá, nós saíamos três horas da madrugada pra nós irmos pra lá vender, lá na vendinha. Vinha pra cá, morta de fome. Uma fome, uma fome! Quando chegava numa reta que tinha melancia, nós íamos roubar. Aí roubava melancia, nós íamos comer escondido. Era eu, a Maria e mais um rapazinho também. Nós vínhamos. Chegava em casa, aí primeiro era a melancia. Depois, aí vinha uma outra viagem pra vender renda. Um sol muito quente. Está no verão, um sol muito quente. Fomos lá, chegamos lá, não estava. Muitas vezes vendia a renda, muitas vendiam. Nós vínhamos com sono também, sem dinheiro, sem nada pela estrada a fora, de pé, _______ com um aparelhinho. Eu me lembro tão bem como se fosse hoje. Subindo o morro, o homem prendeu nós, o homem do aparelho prendeu nós. Aí: “É, porque vocês são ladrão, estão roubando”. Roubava melancia, né? Nós roubamos porque estávamos com fome. Vinha vender renda, não vendemos. Aí tinha um delegado muito bom. O rapaz foi dar queixa nossa pro delegado. “Não, solta as meninas que as meninas não fizeram isso por coisa, fizeram que é pra matar a fome delas!” Soltaram nós. Aí nós viemos embora. Viemos embora, viemos embora, viemos embora. Mas aí tinha lá, você não conhece. Ali no Rio Tavares, onde chegava o gavião, nós temos uma conhecida ali. Eu falei: “Rapaz, nós vamos lá na casa da conhecida do meu pai. Conhece nós, nós vamos lá. Ela lá dá comida pra nós”. Aí chegou lá, ela: “Oh, minha filha, vocês por aqui?” Eu falei: “Pois é. ______ nós aqui porque nós roubamos melancia” “Não, eu vou fazer comida pra vocês”. Ela pegou, esquentou água, assou a carne seca, nós comemos, enchemos a barriga e viemos embora. Ali nós passamos esse trabalho todo, meu filho. Aí nós chegamos em casa, a gente chegava e contava pro meu pai. O quê que vai fazer? Nós íamos apanhar café lá no morro ao lado. Ia apanhar café lá no morro ao lado, não tinha comida pra levar. Ah, meu Deus, nós íamos só com o cafezinho, só. Nós tínhamos um cafezeiro, o dono era lá da Costa de Dentro. Ele aí disse: “Não, você volta comigo e você leva o cafezeiro”. Aí eu levava, comia, levava tainha, levava tudo. Nós fazíamos, nós comíamos. Quando nós apanhávamos o café, um aqui, um aqui, nós trazíamos nas costas cá pro engenho dele. Trazia do morro, do nosso serviço, apanhar café. Aí nós chegávamos em casa e nós comprávamos a farinha, que vendia farinha. Nós comprávamos farinha, _______. “Leva essa farinha pra você, pra tua mãe”, dava alguma coisa. Nós chegávamos em casa muito contentes. O meu pai foi pescar, a minha mãe dizia: “Olha, o teu pai foi pescar e matou uns peixinhos. Eu tenho uma irmã lá na costa ___________”. Aí a nossa vida era essa. Aí o meu pai era pescador, o patrão dele era pescador de tainha. O meu pai era o único pescador de tainha. Cercava tudo, cercava. Quando foi no dia de tainha, ______ tainha, aqui cercava. O meu pai era o patrão. O meu pai cercou (o serradinho da noite?), o (serradinho da manhã?). A luz era (bomboca?), aquela lamparina grande. Aí o meu pai cercou. O caminho do cemitério era ali pertinho da nossa casa. A nossa casa era ali. Aí mataram 40 mil. Se não acreditam, podem perguntar. Muita tainha não pegaram não, mas muito tainha pegaram, 40 mil de tainha. Tainha foi tanto, o peixe foi tanto. Agora, dessa vez cavaram no (cilão ?) e veio gente do Ribeirão, do Morro das Pedras, do Tavares, tudo. Estava voltando pra cá, que lá vendia mas ganhava também. Mas aí era a Hilda, Maria e ______. Aquela _____ começamos a roubar. Nós três começamos a roubar no caminho de casa. Aí minha mãe disse assim: “Você ____, minha filha. Mataram 40 mil peixes de noite. Aí nós sempre roubamos tainha, colocamos assim escondido. Quando o meu pai chegou ele disse assim pra minha mãe: “O nome desse peixe, Marta?” _______ achou roubando” “Ah, mas todos os três vão me pagar”. Aí o meu pai foi fazer conta. Foi lá pra ver os peixes lá com eles, lá com os camaradas tudo, faltou um (quinhão?) de peixe. O meu pai se _______, não foi pescado, foi roubado. Quando o meu pai chegou, falou assim: “Martinha, olha, esse peixe é roubado, é do Mané Correia, que faltou um quilo de peixe. Foi lá que roubaram. E agora?” O rapaz diz que tem que ir lá. Eu vou dar uma sova em todas as três. Nós tínhamos uma malha de (vete ?). Não tem aquele (vete ?), aquele

____, né? O meu pai foi lá, apanhou três. Deu uma sova em mim, deu uma sova na Maria, deu uma sova no _____ pra nós não roubar mais peixe. Quase matou nós, nossa vida. Aí nós fazíamos a renda. Aí, naquele tempo a gente andava que nem _______ que não podia comprar roupa. Era um vestido de pelúcia. O meu pai adiantava uma pesquinha. E tinha um ________era muito colega do meu pai. O meu pai trabalhava com a pescaria dele. Ele dizia: “Não, _____, pega uma roupinha pros teus filhos. Vai lá na loja, compra que eu pago”. E foi _____. Aí o meu pai ia lá com nós, comprava vestido de pelúcia. Ficava ______ vestido de pelúcia, uma sandália, umas ramonas, era uma ramona, um tamanco daqueles balagandã. E o quê que nós faz? _____ E aí nós ficávamos muito contentes. Depois, aí o meu pai. Aí nós fomos indo, fomos fazendo renda, fomos trabalhando nos dias, fomos fazendo renda, fomos indo, fomos aquilo. E tinha um senhor, ele já faleceu. E nós comprávamos roupinha, a gente comprava um vestido e ia à festa ______ com aquele vestido. E aí ele dizia assim pra nós: “Uai, você não lava o vestido porque, se lavar o vestido não é mais novo”. “E como é que nós fazemos?” “Não, vocês vão à festa. Quando sair da festa você bota um outro. Não lava, porque se lavar não é mais novo”. Aí fazia esse trabalho pra depois poder comprar mais roupa. Aí nós nos divertíamos, nós brincávamos. Nós íamos brincar de ratoeira, nós íamos tomar banho lá nos congo branco. Você vê, rapazinho, tudo nosso colega também. Agora tem maldade, a gente fica com medo, mas naquele tempo não. Os rapazes tomavam banho, tomavam banho tudo nu. Era menina, era menino, tudo. Aí não havia nada. E nós íamos, tomávamos banho lá no córrego. O sol estava queimando. Chegava em casa, a minha mãe perguntava pro meu avô: “_________ Nós íamos lá no congo, tomava banho, vestia a roupa, depois enxugava, vestia a roupa e vinha embora, minha mãe perguntava: “Onde vocês andaram com o sol queimando?” “Estávamos no congo”. Aí voltava, ia embora pra casa. Quando era noite dormia, os nossos colegas tudo: “Ah, vamos brincar, vamos brincar”. Nós vamos brincar de missa. Vamos rezar a missa, vamos fazer uma procissão, tudo embaixo do cafezeiro”. Aí era ali, nós íamos brincar ali. Tinha um que tinha um cavalo de bambu. E aí trepava no cafezeiro. Ele trepava no cafezeiro e nós tudo ali. Aí nós íamos brincar. Aí nós íamos pra debaixo de um cafezeiro. Aí ________________, que era o meu compadre. Aí nós íamos brincar debaixo do cafezeiro, aquela (horta?), aquilo tudo lá. Tinha o (Parataí, tinha o Oto?), tudo rapaz. Aí dizia assim: “____ mas quando eu for grande e se casar, eu vou convidar a Hilda _____________ pra ser o meu compadre, pra ser minha comadre. Aí casou lá na fazenda. Aí ele pegou a menina, me convidou. Ela mora ali. E a missa também, batizou uma filha dele também. Era tudo colega nosso, nosso colega. Aí nós íamos por aí. Tinha um que trepava no pé do cafezeiro, ficava os cinco. Aí meu pai passava, chegava em casa a minha mãe dizia assim: “Meu pai, você não viu as raparigas?” “Olha, estão lá no cafezeiro da (Maria Urbana ?) rezando. Um está trepado no cafezeiro com o cavalo de bambu”. Aí o pai veio assim: “Basta tocar o sino, não é?”, o meu pai contando pra minha mãe, “está uma farra lá que é uma barbaridade”. Aí nós cantávamos, nós rezávamos, nós fazíamos a oração toda, toda, toda, toda, debaixo de um cafezeiro. E brincava lá e tudo. Quando nós chegávamos em casa a minha mãe: “Por onde vocês andaram?” Nós falamos assim: “Nós tivemos rezando”. Aí nós saíamos dali, acabava aquela brincadeira. No outro dia ia pro congo branco. Aí nós íamos lá. Lá nos congos tinha muita areia e nós apanhávamos folha de mamona, folha de mamoneira, e fazia boneca de folha de mamoneira. E cada uma tinha o seu marido. Aí nós casávamos ali, sabe? Nós casávamos. Nós tínhamos neto, nós tínhamos filho, criança, tudo. A Maria brincava ali, fazia aquela cama bonita de areia e botava essa folha de mamoneira, tudo. Todo dia brincava ali, que aquilo era uma maravilha, a turma se dava bem e tudo. Aí fazia um baile, aí dançava também. Nós íamos dançar e tinha _____________, também vinha para o bailinho: “Vamos dançar, vamos dançar”. Aí coloca as bonecas. “Eu vou tocar pra nós dançar”. Aí: “Eu vou arrumar um machado. Quem quiser acabar com o nosso baile já sabe”. Aí nós escolhíamos, nós íamos lá dançar. Nós dançávamos, dançávamos lá embaixo. Nós dançávamos, dançávamos, dançávamos. Oh, foi muito gozada a nossa mocidade. Nós brincávamos muito, nós passeávamos muito, nós e os colegas. Aí, quando eu cheguei, já moça, aí eu já fui moça, aí nós tínhamos o nosso namorado. Aí já a coisa, como diz o outro, a coisa, o meu pai já trancava, já tomava conta de nós. Aí nos bailes eles iam pedir pra papai: “Olha, Senhor José, nós viemos falar com o senhor pra Hilda ir no baile”. Eu era muito dançadeira, mas ______ dançar não, era muito dançadeira. O meu pai assim: “Hum”. O baile era às seis horas. O baile começava às seis horas e acabava à meia noite. Aí nós fomos. Aí o meu pai deixava nós irmos ao baile, eu, a Maria. Nós íamos com aquela rapaziada toda. Nós dançávamos. Chegava a meia noite nós íamos cada uma com o seu namorado. Vinha cada uma com seu namorado e ___: “Agora vocês voltam porque nós já estamos perto da nossa casa”. Aí voltavam, nós íamos embora. E quando foi outro dia ele... Assim, no baile não houve nada. Aí nós dançamos, tudo, chegamos em casa. Quando foi um dia, ela já morreu, essa moça já morreu. Aí a irmã dela _____, ela assim: “Olha, vamos ou não vamos?” “Nós vamos _____________ com essa escuridão ______________ pegar uma (bomboca ?) e levar a luz acesa. Mas mesmo assim não traz namorado não. Eu tinha namorado, a minha irmã tinha namorado, a outra tinha namorado, nós tudo tinha namorado. Aí nós dissemos assim: “A Ivana veio?” “Não, a Ivana não veio”. Na nossa casa tinha um pasto grande assim de ________, nada vezes nada ______ vocês, senão não vá porque ali está com a (bomboca ?) acesa. Ela disse: “Nós vamos”. Aí já estava combinado pra levar a luz acesa, pra apagar a luz pra poder beijar ela porque era escondido. Aí: “Porque vocês trouxeram essa (bomboca ?) pra cá, porque trouxe essa (bomboca ?) pra cá?” “Porque ____ quis trazer”. Ele: “Não, ______”. Aí acabou a energia. Quando chegou no caminho, acendeu a luz. Quando chegou no final eles apagaram a luz. Poxa vida, mas deu um trabalho. Aí apagou a luz, pra que? “Vamos pra lá, suas (levadas ?). Nós não pudemos dar um beijo em vocês”. Apagamos a luz mas a energia apagada, nós __________. Isso tudo acontecia com nós. Era gozado, era bom. Aí nós chegávamos em casa. Quando foi outra vez também, o meu pai disse, isso aconteceu. O meu pai não queria ______ ir embora com nós, o meu pai começou a brigar, brigar, brigar, não queria que nós fôssemos pro baile. Aí o meu pai _________ levar a senhora. Para com isso _____ Aí a minha irmã foi. Veio a minha mãe, a Maria, o Senhor Arantes, que era pequeno, foi também com nós, o Arantes também foi com nós. Aí nós estivemos lá no baile, tudo. Quando foi meia noite, o baile acabava meia noite, nós viemos embora. Aí cada um veio pro seu lugar, a minha mãe também veio. Era _____. A Maria tinha namorado, eu tinha um e a outra tinha outro. Aí vinha. Quando chegou na praia nós mandamos ele voltar. Se nós aceitássemos ia ver o que ia acontecer, mas já tinha mandado ele voltar. Aí eu mandei ele voltar: “Não, você volta. Nós vamos _______. Pode voltar”. Aí voltou. Mas a minha mãe _____ ele voltou em casa com nós. Quando chegou no caminho do cemitério, que o cemitério era ali, a nossa casa era assim. Quando chegava de noite no caminho do cemitério havia aquele homem, um padre. Ele andava assim pra nós, dava as costas. Nós quase morremos. Agarramos com a minha mãe, e o Arantes também com a minha mãe. Agora ia ver o homem, ia ver o homem, ia ver o homem,. Ele não andava na frente pra nós, dava só as costas. Veio, veio, veio, veio, acalmou. A subida, assim, uma picadinha que tinha. Um outro colega nosso também estava vendo lá da casa dele, _____ lá também. Ficou com medo do que viu. Quando o moço chegou em casa, nós abrimos a porta, eles ficaram tudo na cozinha. Era gente morta, né? Nós ficávamos tudo na cozinha. Foi o rapaz lá do litoral. Nós também quase morremos ________ gente morta, a pessoal tal. Aí, quando nós chegamos, aí o meu pai assim: “O que é isso, o que é isso? Ai, ai, ai.” Aí meu pai respondia: “_____ você podia estar em casa muito bem, quem mandou vocês irem pra lá? Vocês _____________?” Aí, desse dia pra cá nós ____, não fomos mais. Nós não fomos mais porque vimos essa coisa no mato. Isso tudo aconteceu com nós. Assim, eu não estou...

P – Dona Hilda, como que a senhora virou benzedeira?

R – Meu filho, eu virei benzedeira foi assim, quer ver? A minha mãe sabia de tudo. A minha mãe sabia benzer de tudo quanto era forma, mas eu não aprendi nem um _____ ela. Ela nunca me ensinou. Mas eu, quando via ela benzendo, eu aprendi. Aí eu aprendi só quatro, aprendi quatro benzeduras, quatro. Agora, a reza estava meio ______, a reza da Santa Bárbara. Quando ronca trovoada a gente reza ao Senhor, reza quando dá o primeiro sinal. A gente reza, reza assim: “Santa Bárbara sem destino, São Geraldo _________

Nosso Senhor perguntou a Santa Bárbara, vai correr com essa trovoada que está nesse céu armado, _____ e abençoa os meninos. Ela ia caminhando por detrás daquela serra com a sua capa amarela que _____ Madalena. Madalena ia descalça, vestidinho de

___________vem seguindo o Manoel. Manoel vai te curar ______________ quem souber essa oração tem que ser sete anos _____ porta do paraíso aberta pra quem ___________ quem puder entrar”. Essa era a reza da trovoada, ela me ensinou. E a reza lá, as outras rezas, tem muita reza. A que aprendi foi a de (mariá ), do céu de (madrugada?), estia do (ucubreiro?), estia da vida, sinto o calor e o frio. Quer que eu diga?

P – Claro.

R – A de madrugada é assim, o nome da pessoa, pra Maria: “Maria que Deus que criou, a terceira pessoa da Santíssima Trindade, se há na Casa Santa _______ dia. Se for um quebrante maior e o resto tudo para, dado pelo teu pai, dado pela tua mãe. Se te der na comida, na bebida, __________ cidadão, avisa essa senhora que leva esse mal pras ondas do mar sagrado que não vejo o galo cantar. Canto o santo nome de Jesus. Na capela São João ___________ no teu corpo não tem nada. O Senhor Jesus Cristo representa no altar o teu corpo está sarado, está sarado. Três vezes Ave Maria, três vezes Ave Maria. Maria, três vezes te chamo, três vezes te digo, Maria, três vezes te chamo, três vezes te digo, quero tirar todo mau-olhado, invejado e pensado. Se der na comida, na bebida, no teu serviço, no teu andar, no teu passeio, no teu domínio. Por Nosso Senhor Jesus Cristo leve esse mau pras ondas do mar sagrado que não vejo o galo cantar. Todo em cruz, todo o nome de Jesus. Na capela e São João ___________ no teu corpo não tem nada. O Senhor Jesus Cristo representa no altar o teu corpo está sarado, está sarado. Três vezes Ave Maria, três vezes Ave Maria. Maria, eu que te benzo e Deus que te cura. Maria, eu que te curo com o nome de Deus e da Virgem Maria. Em nome do pai, do Filho e do Espírito Santo”. Esse é do __________. E tem a do cobreiro. A do cobreiro é assim: “Menino Jesus _____ não anda senão porque não posso. São José foi _________ corta a cabeça e o rabo, que esse mal não pensa. Eu agradeço em nome de Deus e da Virgem Maria, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. A gente reza a do cobreiro nove vezes, benze nove vezes. Menino Jesus, eu sinto que não ando, eu sinto que não posso. São José São José foi _________ corta a cabeça e o rabo, que este mal não pensa. Eu agradeço em nome de Deus e da Virgem Maria, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Essa é a do cobreiro. E tem a ___ assim: “O Pedro Paulo foi a Roma e encontrou com Jesus Cristo. Jesus Cristo perguntou: ‘‘Pedro, o que é que há por lá?’ ‘Muita zica, muita ___’ ‘Volta, Pedro Paulo, vai curar isso’. ‘Senhor, com que que eu curo isso?’ ‘É com _____, é com ______’. Em nome de Deus e da Virgem Maria, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Pedro Paulo foi a Roma e encontrou com Jesus Cristo. Jesus Cristo perguntou: ‘Pedro, o que é que há por lá?’ ‘Muita zica, muita ___’ ‘Volta, Pedro Paulo, vai curar isso’. ‘Senhor, com que que eu curo isso?’ ‘É com _____, é com ______’. Em nome de Deus e da Virgem Maria, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. A gente benze três vezes a pessoa e diz assim, quando ele vem, ______: “Eu só queria _____________________ é com a água da fonte, o (funcho ?) da noite, da terra, da lua, em nome de Deus e da Virgem Maria, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E ____¬¬¬¬¬¬____________________ é com a água da fonte, o (funcho ?) da noite, da terra, da lua, em nome de Deus e da Virgem Maria, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, que assim seja”. Foi a reza dela que eu aprendi, mas as outras eu não aprendi. Aí ela dizia pra mim: “Olha, quando uma pessoa aqui pedir, a minha filha não nega, a minha filha não nega. A minha filha benze. Ela vai e benze os vizinhos”. Eu benzo muita criança. Vindo de Portugal, em Portugal era o Arantes. Eu já benzi mau olhado. Ah, já benzi demais. Chegou um médico, aí ____________. Ele chegou, eu estava lá. O ____ conhece o Arantes, não conhece? Era o rapaz que _____ esse trabalho todo. “Ah, que a minha tia sabe ler. A minha tia benze de mau-olhado”. Aí o médico pediu pra eu benzer ele. Eu benzi ele e benzi a mãe dele e benzi uma moça que tinha. Aí eu falei: “Você está me pedindo pra benzer. Você não é médico? Como que o senhor quer que eu benza?” O médico respondeu pra mim assim: “Pois é, eu sou médico da doença e a senhora é benzedeira de mau-olhado” “Ah, ta, você quer que eu benza?” E ele assim: “Pode benzer”. Benzi eles todos. Foi uma benzeção até bem boa, ô. Aí ele falou assim: “É pena eu morar muito longe, em Portugal”. Ah bom, isso foi pra ____. Depois chegou outra família de Portugal, que eu conhecia. Aí foram lá, queriam que eu fosse lá e eu falei: “Só se você arrumar um (saco de lixo ?) pra me trazer de volta, meu filho, porque eu não embarco nessas coisas”. Aí veio esse de Portugal _____ pra nós cantar ratoeira, _______, aí até o dia que eu fui operar a minha vista. Ia operar essa aqui. Eu tinha que ir bem cedo, ______ de Portugal, está lá na salinha esperando” “Eu vou operar a minha vista” “Não, não, não, não, não, mas ele quer que tu vá lá, vai lá”. Aí fui, cantei ponto, cantei ponto, cantei ponto. Quer que eu cante aqui?

P – Canta um pra mim.

R – Aí o primeiro de tudo é cantar essa ratoeira. Aí eu cantei a ratoeira: “Mão direita, o que tem na oliveira? Mão direita, o que tem na oliveira? _____ na beira, _____ na beira. Oliveira, entra na roda. Oliveira entra na roda _________”. Aí a gente entra e aumenta a roda ____. “Da janela o meu pai, da janela o meu pai avistou uma pessoa, avistou uma pessoa que namorava escondido, que namorava escondido. Ai, namorar, coisa boa. Ai, namorar, coisa boa”. Aí canta outra vez. Quer que eu cante mais? Aí vai cantando: “Mão direita, o que tem na oliveira? Mão direita, o que tem na oliveira? __________ primavera, _________ primavera. Oliveira, entra na roda. Oliveira, entra na roda, diga um verso ______ diga adeus e vá embora. Minha rica camarada, minha rica camarada, não houve hoje (presunção ?), não houve hoje (presunção ?). Vem a morte, leva tudo, vem a morte, leva tudo debaixo do frio chão, debaixo do frio chão. Vem a morte, leva tudo, vem a morte, leva tudo. Vem o caixão, leva o corpo. Ai, vem o caixão, leva o corpo. Fica só _____ menina, fica só ______ menina. Morre um, está vindo outro. Morre um, está vindo outro”. É a ratoeira.

P – Dona Hilda, eu vou perguntar uma coisa pra senhora: tem muita gente vem se benzer aqui com a senhora, muita gente? Todo mundo te conhece aqui?

R – Obabá... Que já bateu aqui, gente de fora não falta. Olha, eu tenho um colega. Até um cachorro eu já cheguei a benzer. Veio uma senhora aqui, era do Rio de Janeiro e ela morava _____. E aí ela chegou aqui, ela falou: “Dona Hilda, assim, eu vi no jornal aqui, _______ eu vi que era” “Não sou eu” “É a senhora, é a senhora”, que o meu retrato ____ , você já viu? Já viu, eles já mostraram lá?

P – Já.

R – Aquele retrato eu não saí bem. Aí ______: “Você é a minha mãe? A minha mãe benzia cachorro.” “Eu também já benzi um vira-lata _______. Era um cachorro grande desses, né? “Você vai trazer ele?” “Não, é o retrato dele”. _____. Ela aí trouxe o retrato e disse assim: “Ah, é pra benzer?” ______ “Ah, o meu cachorro está morto. Ele levou um acidente muito grande e não volta nem nada. Já levei lá, eles disseram que o cachorro está (desviado ?), está morto e aí eu queria que a senhora benzesse”. Aí trouxe o retrato do cachorro pra benzer. Aí eu falei: “Eu vou benzer”. Aí eu benzi o cachorro, benzi. Aí eu falei assim: “A minha mãe benzia. Eu também benzi um vira-lata lá dos (açougues ?) que estava morto e eu benzi. E ela trouxe o retrato do cachorro pra eu benzer. “Ah, então você benze”. Aí eu benzi o cachorro. Quando foi no outro dia veio ela: “Oh, Dona Hilda, foi Deus. Nós chegamos em casa, estava o cachorro na grade me esperando”. Eu também dei um remédio pra ela, sabe, essa senhora, eu dei o remédio, que na época _____: “A senhora leva e ____ no lugarzinho que está”. Ela levou. Olha, benzi só três vezes. Aí ela veio cá, ela disse: “Olha, Dona Hilda, o cachorro está bom, está perfeito” “O quê que ele come?” “Ele só come é peixe, só tainha”. Ela disse assim: “Então eu vou comprar uma tainha pra senhora na praia”. Aí ela pegou, nesse dia não tinha peixe. Aí ta bom. Passou, foi embora. Quando fez assim uns 15 dias ou um mês, aí veio aquela mulher com aquele negão, com uma caixa grande nas costas. Ela disse assim: “Oh, Dona Hilda” “O quê que há, minha filha?” “Ah, eu vim trazer um presente pra senhora, umas coisas pra senhora”. Mas de tudo ela trouxe. Ela trouxe batata, ela trouxe aipim, ela trouxe laranja, ela trouxe, de verdura ela trouxe tudo. Agradeceu muito, muito: “A senhora não quer nada não? Eu trouxe pra senhora. ___ muito, aí o cachorro ficou bom”. Quando foi outro dia veio um senhor aqui com cobreiro nas costas, tinha tomado isso tudo aqui. “Oh, Dona Hilda, eu estou com um cobreiro” “Oh, menino, se alastrou não tem mais jeito” “A senhora me diz assim?” “O cobreiro é assim, alastrou no corpo não tem mais jeito”. Aí eu fui benzer. Fui benzendo, fui benzendo, fui benzendo. Quando fez seis dias que eu benzi, “Oh, senhora, _____________ maravilhoso”. Eu benzi de novo. Quando chegou cem vezes ele já estava bom. Aí ele veio assim: “A senhora podia benzer o cobreiro pra mim”. Eu disse assim: “Não, não, nós vamos benzer o cobreiro, é até melhor”. Aí ele trouxe um cado de coisa pra mim também. Outro dia veio também um repórter, e ele é repórter assim de jornal, essa coisa. Ele mora lá não sei aonde. Ele veio de lá de ____________ (Jemirim ?). Ele era lá de (Jemirim ?), daquele lugar lá. Eu falei assim: “Meu filho, você bateu aqui”. Ele falou assim: “É, Dona Hilda, eu vim aqui pra...” Era um senhor de idade, com outro. Aí eu benzi ele. Eu benzi duas vezes. Ele já veio aqui duas vezes e não apareceu mais. E aí eu benzi ele. Ele não sabia o quê que tinha, se era de (maldade ?) _____ se era de mau-olhado. Eu benzi ele e depois outro dia ele veio outra vez, eu benzi ele. Aí ele veio com um colega, trouxe o colega dele também, e falou assim: “Tiago, fica aí com ela que eu vou lá no supermercado. Ele fez um rancho ______ Aí o outro rapaz disse assim pra mim: “Cala a boca, ele gosta de fazer ______” “Então está tudo bem, mas ______ tudo, tudo, tudo, tudo, mas ________” “Mas pra quê que você trouxe?” “Não, eu trouxe pra senhora”. Aí foi embora. Passou, foi embora, foi embora, foi embora, foi embora, foi embora. Quando foi no meio do mês ta ele outra vez: “Não me conhece, Dona Hilda?” “Não, não conheço” “Ah, foi a senhora que me benzeu”. Aí eu disse, aí eu benzi ele mas ele estava muito rouco. Estava tão rouco, tão rouco, tão rouco que quase matou __________________ uma missa com ______ na igreja, e uma santa missa, e nisso ele benzeu. Ai eu disse: “Toma uma colherzinha de água com doce”. Aí ele tomou. De ____ trouxe mais ________ Ele me falou: “Ah, Dona Hilda, eu gosto muito da senhora, a senhora me tirou o olho grande e não apareceu mais, _______. Ai, ai, ai, eu mexi. Agora, quando foi outro dia veio outro aqui, aí da cidade mesmo. Aí veio três da cidade, eram três mulheres. “Dona Hilda, a senhora é capaz de benzer a minha mãe?” Não, primeiro veio uma _____, uma velhinha de 95 anos. “Eu vim conversar pra senhora benzer a minha mãe” “Mas benzer de que, querida?” Ela assim: “____ o que foi. O médico disse que é uma erisipela” Eu disse: “Não, querida, não é erisipela não, é uma (zica ?) que a sua mãe tem. Erisipela não é assim. A gente ___ de molho. Isso é (zica ?) que ela tem. Aí eu benzi ela, benzi a perna dela bem benzida, benzi. Ai ela passou o remédio. Quando foi outro dia ______ 95 anos, _____ trazia ela, oh vontade de trazer. “Oh, senhora, a senhora não sabe o bem que fez. Ela não ______. A minha mãe amanheceu clarinho, clarinho, clarinho. O remédio que a senhora deu, Dona Hilda, ________ eles tomaram, mais a minha mãe ______. Me fez tanto bem que a senhora nem imagina o bem que me fez”. Aí eu benzi ela outra vez, tornei a benzer ela, benzi. Os três dias eu benzi. Ela veio aqui perguntar quanto era. “Não, minha filha, não é nada não. Eu não cobro nada não” “Mas eu quero dar uma gorjetazinha pra senhora, deu esse vidrinho de remédio pra ela”. Até hoje está boa, perfeita, __________o remédio foi um santo remédio. Era uma (zica ?) que ela tinha na perna. Um dia veio outro que mora na cidade, está lá na casa da _______ também. Chegou aqui: “Oh, Dona Hilda, a senhora é capaz de benzer a minha perna? Eu sei que o médico disse que é trombose que eu tenho”. Eu disse: “É? Pois se o médico diz que é trombose, eu não sei, que eu não conheço essas coisas”. “O quê que a senhora quer que eu faça?” “Então eu vou fazer isso, eu vou benzer a sua perna _______ e vou passar esse remédio que eu tenho aqui”. Aí ela assim: “Ta”. No outro dia ela veio aqui: “Dona Hilda ______não” “Isso não é trombose?” Ela disse assim: “Não senhora, o médico disse que é trombose”. Ela estava quase chorando comigo, que o médico também assusta, né?. Aí eu benzi ela, ela levou o remédio, tudo. ______, que ela tem casa aí. Aí ela _____ inteirinho, inteirinho, inteirinho, até na sexta-feira ela vinha benzer de mau-olhado, toda vez. E eu estou aqui, estou na cidade, vinha aqui benzer. Eu disse a ela: “_______” Aí eu benzi ela de mau-olhado, que ______, era olho grande que tinha. Outro dia veio outra também lá de Caxias do Sul também. Pediu pra benzer, também estava com as duas pernas muito inchadas, tinha inchado: “Eu estou com a minha perna inchada, o médico diz que é trombose”. Eu não sei o quê que ela disse que o médico disse. Aí eu disse: “Ah, então eu vou te benzer de novo”. Benzi. Ela diz que quando chegou em casa, no outro dia, a perna, o mal era uma friagem que ela tinha nas pernas, que estava arrastando, estava inchado. Ela aí chegou, a mãe disse pra ela: “Oh, filha, porque não foi mais cedo? Já devia ter ido” “Mas eu não sabia, não sabia se a Dona Hilda benzia, não sabia”. Aí uma falou assim: “Todo mundo vem aqui pra pedir pra benzer?” “Não sei benzer tudo não”. Ai faz assim: “Dona Hilda, me benze desse jeito?” “Eu não sei. Minha mãe é que sabia. Eu sei quatro só, mas tudo eu não sei não. ____________. Tem uma aqui, de vez em quando elas estão aqui. Tem uma outra que está chorando“Ah, Dona Hilda, eu estou...” “Está chorando por causa do que, Graça?” “Ah, Dona Hilda, eu estou doente, eu estou doente, não sei o que” “Mas não disse que eu te benzia, que estava tão boa, tão boa? Deixa de ser tola”. Aí eu benzi um cobreiro que ela tinha na boca, ficou boa, disenteria, e depois eu benzi ela de mau-olhado também. “Se está bom _______” “Está bom, Dona Hilda, mas eu acho que ela tem é depressão”. Mas eu benzo ela. De vez em quando ela vem aqui. _____ pequeno, _____ pequeno. Esse senhor que está aí, esse senhor depois veio pra cá e eu benzi ____. Eu não fazia nada ______ a pessoa que vinha aí eu __________________ bastante negócio e que a coisa melhore.

P – Dona Hilda, a gente vai só dar uma paradinha. Eu quero agradecer a senhora pela nossa conversinha.