Museu da Pessoa – Conte sua história
Histórias de Esperança – 29 anos do Projeto Criança Esperança
Depoimento de Josué de Sousa Lopes Cara
Entrevistado por Tereza Ruiz
São Paulo 19/09/2014
Realização Museu da Pessoa
Entrevista HECE_HV_016
Transcrito por Ana Carolina Ruiz
P/1 – Primeiro, Josué, eu vou pedir pra você falar pra gente o seu nome completo, data e o local de nascimento.
R – Certo. O meu nome é Josué de Sousa Lopes Cara. Nasci em Diadema.
P/1 – E a data?
R – Dia 5 de agosto de 1993.
P/1 – Agora o nome completo da sua mãe e do seu pai e também data e local de nascimento se você souber.
R – O nome do meu pai é Júlio César Cara. O nome da minha mãe é Valdecir Dias Lopes Cara.
P/1 – O local onde eles nasceram você sabe?
R – Eu não sei. Creio eu que é em São Paulo.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho um. Tiago de Sousa Lopes Cara. Nasceu no dia 15 de maio de 1999.
P/1 – Mais novo então.
R – É.
P/1 – Descreve um pouquinho pra gente como é que os seus pais são como pessoas. Pra quem não conhece como é que você descreveria seu pai e sua mãe?
R – A minha mãe é mais estourada. Por qualquer coisinha, ela já começa a gritar, é estressada. Ela é tranquila, mas quando, digamos, eu ou o meu irmão estressa ela, ela estoura, começa a falar, brigar. Meu pai não. Meu pai já é mais tranquilo, ele fala uma, duas, três, depois ele desce a mão sem dó. Mas é tranquilo, o meu pai também.
P/1 – O que eles fazem profissionalmente, o seu pai e sua mãe?
R – Minha mãe é dona de casa e o meu pai trabalha com perua escolar. Até ele já está querendo parar pra abrir um negocinho próprio. Está querendo sair desse ramo porque não está compensando, está sendo muito estressante pra ele. Muito trânsito sempre.
P/1 – Ele sempre trabalhou com perua escolar?
R – Sempre. Desde que eu lembro ele sempre trabalhou com perua escolar. Ele trabalha com crianças deficientes no Campo Belo.
P/1 – Mas atende alguma escola em específico, como é que é? Alguma instituição?
R – Então, ele atendia uma escola específica, tanto é que ele era registrado. Agora ele está trabalhando por conta em várias escolas.
P/1 – Em escolas que têm alunos de inclusão ou escolas específicas pra alunos com alguma deficiência?
R – Então, pelo que eu conheço, quando eu ia trabalhar com o meu pai era só crianças com deficiência mesmo. Era cadeirante, outros tipos de crianças especiais.
P/1 – Você sabe por que ele começou, quando ele começou a trabalhar com perua escolar, ele trabalha com esse público específico, com as crianças...
R – Então, não sei. Não sei te responder exatamente essa pergunta. Ele fala que é porque essas crianças são muito carinhosas, tal, respeitam mais. Lógico, sempre tem aquela que tem aquela deficiência que pode ser agressiva, às vezes não, mas fora isso ele fala que é tudo muito carinhoso.
P/1 – E você falou que ele quer parar pra abrir um negócio próprio. O que ele quer abrir de negócio próprio, você sabe?
R – Então, ele não está em mente ainda, ele só fala que quer parar com perua escolar pra abrir um próprio negócio, porque está sendo muito estressante, o trânsito. Ele já está, digamos, meio que de saco cheio, né?
P/1 – Está cansado.
R – Cansado.
P/1 – Você sabe qual é a origem da sua família? Seus avós, bisavós de onde eles vieram?
R – Meu avô por parte de mãe eu sei que ele é de Pirassununga, a minha avó não sei. Por parte de pai, pelo que pai fala, ele é descendente de italiano e a minha avó é descendente de português.
P/1 – Esses que são descendentes de italiano e português, você sabe porque os seus avós vieram pro Brasil?
R – Não sei porque não comentam. Eu só sei assim por cima que o meu avô é descendente de italiano e minha avó descendente de português. É o máximo que eu sei.
P/1 – Não sabe detalhe assim?
R – Não sei. Ninguém nunca entrou nos mínimos detalhes.
P/1 – Conta um pouquinho pra gente como é que era a casa em que você passou a infância, Josué. Descreve um pouco a casa, o bairro.
R – Eu nasci, como falei em Diadema, aí eu morei seis anos aqui em São Paulo. Eu nunca fiz pré, eu já entrei direto na escola. Aqui eu só vivi até os seis anos e...
P/1 – Você mudou depois?
R – Aí depois desses seis anos o meu irmão nasceu aí eu fui morar lá no Embu. Vivi lá aproximadamente 12 anos, que foi quando eu entrei na escola, tudo. Eu saí de lá eu estava no segundo colegial já, segundo ano. Saí na metade do segundo ano, mudei pro Clementino, terminei o segundo ano aí eu vim morar pra cá de novo. No caso do Embu vim pro Taboão, do Taboão voltei pra São Paulo. Lá no Embu a casa lá era de dois cômodos, tinha um salão embaixo. O metro quadrado era grande, em si a casa era pequena, tinha dois cômodos só. Mais pra frente meu pai pegou, construiu mais dois cômodos atrás pra ficar dois quartos, sala e cozinha no caso. E tinha a lojinha embaixo que a minha mãe vendia pipa, linha, negócio pra criança, né? Meu pai montou garagem com madeirite, montou três tipos de garagem o meu pai porque sempre... Como no caso ele fez de madeira, destruiu, a chuva, sol. A gente jogava bola na porta de casa, chutava no portão e ia empenando.
P/1 – Ele foi reformando a garagem, foi isso?
R – Foi mudando. Aí tanto é que a última ele chegou a fazer a estrutura, tudo, de cimento, colocou um portão, do outro lado não. Do outro lado ele colocou essas grades que o pessoal fecha quando está fazendo manutenção, essas laranjas. Meu pai chegou a improvisar um portãozinho daquele porque acho que ele ia mandar fazer um portão, porque era maior um lado do portão.
P/1 – Foi seu pai mesmo que construiu essa casa de vocês em Embu?
R – Não. Ele pegou com dois cômodos, aí reformou ele, meu avô por parte de mãe e se não me engano meu tio. Aí reformaram. A parte de trás eles foram fazendo aos poucos nos finais de semana quando dava.
P/1 – Essa casa no Embu era no Centro ou era mais afastada?
R – É próximo do Centro, mas não é. É no Jardim Santo Antônio, próximo ao Caipirão, tem o Posto 28, é uma subidona bem do lado do Posto 28.
P/1 – O bairro era Jardim Santo Antônio?
R – Isso.
P/1 – E como é que era o bairro na época?
R – Muito pequeno. Muito pequeno, chegaram a abrir um mercado lá perto, mas fechou o mercado, aí abriram uma padaria. Uma padaria com um mercadinho. Quando eu mudei de lá estava lá ainda. Muito morro, muito mato, muito tranquilo pra se viver lá. Muito bom.
P/1 – Mais residencial, não tinha muito comércio então?
R – Não tinha. Tinha padarias, né? Padarias, tinha uma escola só, bar como sempre em todo canto tem.
P/1 – Da sua casa em Diadema você tem alguma recordação?
R – Não que eu só nasci lá, não cheguei a morar lá em Diadema. Na verdade eu morava aqui na Vila Pirajussara, em Campo Limpo aqui. Aí minha mãe não sei o porquê foi lá pra Diadema pra eu nascer.
P/1 – E essa casa na Vila Pirajussara antes de você ir pra Embu você lembra como é que era o bairro, a casa ou você não tem muita recordação?
R – Lembro porque é nos fundos da casa da minha avó. Lá são duas casas num terreno só. São quatro cômodos, dois quartos, sala, cozinha. Tem a parte da laje, tem uma parte que é terra que é onde minha vó e meu vô plantam árvore. Tem verdura, milho, minha vó faz uma mini plantaçãozinha lá.
P/1 – Essa casa seus avós moram até hoje?
R – Moram.
P/1 – E é a casa que você está morando atualmente?
R – É. Praticamente sim porque eu não saio de lá, então... Eu fico lá praticamente todo dia. Sempre quando eu tenho tempo, quando eu não to fazendo curso eu estou lá na casa da minha vó por parte de pai.
P/1 – E você sabe por que os seus pais se mudaram da Vila Pirajussara pro Embu?
R – Não sei. Meu pai nunca chegou a comentar, mas eu acho que era porque parece que a minha mãe entrou algumas vezes em conflito com o meu avô, alguma coisa assim. Não sei exatamente o porquê que foi que mudou.
P/1 – E essa lojinha que você falou que a sua mãe tinha, uma espécie de lojinha, né? Um comércio que vendia mais coisas pra criança. Já existia no Pirajussara ou foi só no Embu?
R – Existia. Era na garagem da minha avó. Mas não tinha, digamos, uma variedade. Tinha um balcãozinho com algumas coisas penduradas em grade, essas coisas. Tinha material de escola também que a minha mãe vendia, mas nunca foi uma lojinha, lojinha na casa da minha avó. Só foi se tornar uma lojinha lá no Embu.
P/1 – E durante todo tempo que você viveu no Embu teve essa lojinha?
R – Teve. Teve uma época que deu uma recaída, tal, que aí minha mãe começou a vender as coisas tudo. Acabou ficando só com um balcão de vidro, tanto é que está lá em casa desmontado, né?
P/1 – Hoje em dia ela não tem comércio mais então?
R – Não. Ela vende roupa, que ela faz tricô na máquina lá, pinta pano de prato.
P/1 – Tinha um nome essa lojinha?
R – Não. Não tinha. Minha mãe nunca chegou a colocar nome.
P/1 – E nessa fase de infância, Josué, do que você brincava e com quem você brincava?
R – A maioria foi soltando pipa, porque a minha mãe vendia pipa. Tanto é que o meu pai vivia falando: “Não sei de quem você puxou gostar tanto de soltar pipa, que não sei o que”. Porque a minha mãe sempre vendeu pipa, se eu não tava soltando pipa, estava jogando bola com os meninos lá da rua. Principalmente nas férias era sempre essa rotina, ou era pipa, ou era bola. Quando não estava estudando era jogando bola. O único divertimento que tinha.
P/1 – Você chegou a fazer pipa? Você fazia pipa?
R – Faço. Faço até hoje ainda pro meu irmão às vezes. Às vezes até eu mesmo vou soltar pipa com o meu irmão pra se distrair também às vezes um pouco, sair um pouquinho da rotina que chega a ser maçante.
P/1 – E você falou que jogava bola também, onde vocês jogavam bola?
R – Lá no Santo Antônio tem um campo lá. Não sei se tem ainda, creio eu que tem ainda, mas eu joguei lá desde os oito anos aproximadamente, até os meus 16, 17 anos eu joguei bola lá. Aí eu mudei pra cá, hoje jogo no Arrastão.
P/1 – Você torce pra que time?
R – São Paulo.
P/1 – Você lembra quando você se tornou são-paulino e por quê?
R – Quando assim acho que foi aproximadamente aos seis anos, que o meu pai é são-paulino. Meu pai assistia jogo, eu assistia, eu perguntei: “Pai, que time você torce?” “São Paulo.” “Ah, vou ser são-paulino”. O meu primo é corintiano, ele: “Josué, que time você torce?” “São Paulo”. Aí ele vinha querendo me bater pra eu virar corintiano. Eu falei assim: “Não, não. Eu sou corintiano”. Aí ele parava de me bater. “Eu sou nada. Sou são-paulino”. Aí ele vinha de novo pra me bater, tentando me forçar a virar corintiano, né? Mas nunca conseguiu, não.
P/1 – Não deu certo.
R – Não colou essa tática dele.
P/1 – E você tem algum ídolo no futebol? Algum jogador preferido.
R – O Rogério Ceni e o Luís Fabiano, né? Porque o Rogério Ceni é um grande goleiro. Ele foi o que fez a história no São Paulo. E o Luís Fabiano porque ele é artilheiro, tal, joga bem.
P/1 – Quando você era criança você lembra o que você queria ser quando crescesse, profissionalmente?
R – Eu queria ser, não é exatamente, mas eu queria ser bombeiro, jogador de futebol. Sonho de toda criança ou é ser bombeiro ou é jogador de futebol, ou policial, né? São sempre essas três alternativas. Então o meu era ser ou bombeiro ou jogador de futebol, tanto é que eu não estou em nenhuma das duas. Eu faço um trabalho como fotógrafo.
P/1 – Mas eram essas duas coisas que você pensava quando era pequeno.
R – Era.
P/1 – Quantos anos você tinha quando você começou a frequentar a escola, Josué?
R – Seis anos.
P/1 – E quais são assim as primeiras lembranças que você tem da escola?
R – Eu lembro que teve uma época que a professora não foi, era uma eventual. Nas primeiras horas que acho que ela ia chegar atrasada, aí estava todo mundo quieto, fazendo a lição, quando ela apontou na porta todo mundo começou a gritar, bagunçar. Aí ela virava e falava: “Comigo vocês não ficam quietos. Agora só porque é ela...”. Eu não lembro o nome da... Eu lembro o nome dessa professora que era Maria, Marlene, alguma coisa assim, da eventual eu não lembro. Mas ela sempre na aula dela ninguém ficava quieto, aí quando ela faltava ou ela chegava mais tarde que era a eventual que estava na sala, todo mundo ficava são, parecendo um bando de santinho. Quando ela entrava desandava tudo. Lógico, todo mundo estudava, fazia as lições certinhas, mas sempre brincando, digamos.
P/1 – Ela era professora do que?
R – Então, ela dava aula pra criança, pra primário.
P/1 – E como é que era essa escola? Essa primeira escola que você frequentou era no Embu? Conta um pouco como é que era a escola, se era perto ou longe da sua casa, se era pequena ou grande.
E – Tinha que subir uma subidinha, uma escada com aproximadamente 150 degraus, aí tinha outra subidinha com outra escada com 150 degraus mais ou menos. Eu vivia contando a escada. Eu e o pessoal que morava na mesma rua a gente sempre ia contando os degraus. Sempre. Achando que ia aumentar ou diminuir. Sempre contava. Lá era uma escola... Agora não. Agora já mudou a escola, né? Mas antes tinha o pátio, a cantina sempre foi do lado esquerdo, entrando do lado esquerdo, aí tinha os corredores das salas, pro fundo tinha as outras salas. Tinha primeiro o corredor que tinha as salas, aí tinha outro corredorzinho e entre essas duas salas tinha outro corredor que dava pra um prédio que construíram que são novas salas, tanto é que é a biblioteca, a sala de reforço também nesse prédio, tem as outras salas em cima também. Agora não, eu estava vendo as fotos, onde era a quadra, que era depois do pátio, onde era a quadra construíram outro prédio pra construir mais salas e colocaram a quadra lá em cima. Quando eu estudava o professor já tinha comentado que iam fazer essa modificação, né? Mas a gente nunca acreditava, tanto é que cobriram a quadra, a quadra não era coberta. Depois que cobriram o pessoal estava achando: “Ah, não, não vai fazer mais isso”. Esses dias eu estava vendo as fotos, já modificaram tudo já.
P/1 – E você ia e voltava como pra escola?
R – Sempre andando. Sempre andando, era aproximadamente... Quando saía da escola eram cinco minutos eu tava em casa. Descia que descia, só via só fumaça atrás. Pra subir era aproximadamente 15 minutos.
P/1 – Alguém te acompanhava?
R – No começo sim. No começo a minha mãe me levava e me buscava, mas depois da terceira série, se não me engano, ela já parou de ir porque eu ia com um menino lá que era mais velho. Eu sempre ia e vinha com ele.
P/1 – E dessa fase assim de infância, Josué, tem alguma história que tenha sido marcante pra você? Uma coisa que você sempre lembre, um episódio?
R – Teve uma vez, nós estávamos jogando bolinha de gude na porta de casa, brincando. Eu fui brincar e joguei de costas. Eu joguei de costas, virei pra procurar a bolinha, quando eu olhei ela tava rolando em cima do fio de telefone aí caiu perto do box, que é um buraco no chão que a gente fala. Depois acabou o jogo: “Ah, não, vou tentar de novo”. Tentei, tentei, tentei, não consegui mais. Nunca mais também. Essa foi a primeira e única vez.
P/1 – Era difícil mesmo propositalmente.
R – É.
P/1 – Na sua vida escolar você falou isso que marcou dessa professora substituta que vocês ficavam quietos, igual a professora titular da sala vocês bagunçavam e tal, teve alguma outra professora ou professor durante a sua vida escolar que tenha sido marcante pra você?
R – Tem. Tem a professora do segundo ano que ela era muito nervosa. Aí ela passava alguma coisa, o nome dela era Cassilda, era ou é ainda, não sei se ela está viva, aí Cassilda. Os moleques zoando, como sempre toda sala tem, aí o pessoal: “Cassilda!”. A professora: “Oi?”. E não era com ela, os moleques estavam zoando com o nome dela e não era com ela. Tem também o professor Cláudio, professor de Educação Física. Ele entrava na sala tava aquela zona, ele entrava, ficava sentado olhando. Só ficava olhando, olhava pro diário, só ficava olhando, ficava quieto até a sala ficar em silêncio. Ele falava assim: “Enquanto vocês não ficaram quietos eu não vou começar a dar a aula. Vocês que estão perdendo a aula de vocês de Educação Física”. Como sempre a Educação Física é a que todo mundo quer porque vai sair da sala. Até todo mundo ficar em silêncio, aí já perdeu 15, 20 minutos da aula. Aí o pessoal quando fica quieto praticamente já está na hora de voltar pra sala. Tem a professora Agner de Química, ela me deu aula acho que foi na sétima, oitava série e primeiro. Foi a que fez eu gostar um pouco de Química, que eu nunca fui muito fã. Do jeito que ela dava a aula te incentivava a aprender. Lógico, aquelas brincadeiras, mas em cima da aula, fazia alguma piada, alguma coisa assim em cima da aula. Tanto é que teve uma pergunta que teve na prova que você está no meio do mato e não tem coador de café, nada. Você tem o pó de café, a água e um canudo, se não me engano. Aí tava lá: “Como que você consegue tirar só o café sem o pó?”. Aí eu coloquei lá que eu faria o café, esperava o café assentar, esperava o pó assentar e tirava só o caldo. Eu acertei. Os meninos: “Nossa, como você conseguiu acertar essa pergunta que não sei o que?”. Através de uma brincadeira que ela fiz eu entendi, digamos, aquela pergunta. Aí eu soube responder, acertei. Os meninos ficaram criticando: “Como? Que não sei o que...”.
P/1 – Você tinha uma matéria preferida? Quais eram as matérias que você gostava?
R – Era Educação Física, lógico, né? Nessa época foi quando, como eu falei, eu tava começando a gostar de Química, mas não era lá aquelas coisas, mas gostava um pouco de Química, um pouco de Matemática. Tanto é que eu não era muito bom de Matemática, não, mas eu gostava um pouco, tal. O que eu gostava mesmo, mesmo, era Educação Física, tanto é que eu estou pensando em fazer uma faculdade de Educação Física.
P/1 – E na adolescência o que você fazia pra se divertir, Josué? Você saía? Pra onde você saía? Com quem que você saía?
R – Então, eu sou mais caseiro. O máximo que eu saía, digamos, eu estudava à tarde, eu saía de casa oito horas da manhã pra ir pro campo jogar bola, dava o que? Umas nove... Nove e meia não. Umas dez horas mais ou menos eu já estava em casa. Essa era a minha rotina. Se não era isso eu tava na rua jogando bolinha de gude. Porque lá como era um canto muito tranquilo, lá no Embu, então eu ficava na rua jogando bolinha de gude com os meninos, jogando bola, sempre foi essa rotina. Então a gente tava capinando lá do lado de casa que tinha um espaço, a gente capinava, montava uma travezinha, até ir alguém e destruía. Depois a gente ia lá, colocava de novo as traves, arrumava pra gente poder ficar brincando de bola. Sempre foi isso, bola, bolinha de gude, foram raras vezes que eu brinquei de peão lá.
P/1 – E de final de semana assim você saía pra festa, bar, alguma coisa desse tipo?
R – Não. Eu sempre vinha pra casa da minha avó. Sempre. Agora nesses três, quatro anos agora que eu estou começando a sair, que eu vou pra festa de uns amigos, shopping de vez em quando.
P/1 – É mais recente então? E aí desses quatro anos pra cá o que você costuma fazer pra se divertir? Pra onde você vai?
R – Então, normalmente eu vou pra casa da minha namorada. Às vezes a gente saí, como ela trabalha de segunda a sábado, então normalmente a gente sai de sábado à noite, vai pro shopping ou vai pra casa dela, assiste filme, come pipoca. Às vezes a gente vai pra aniversário de algum amigo nosso, quando tem.
P/1 – Quanto tempo vocês estão namorando?
R – Vai fazer quatro anos já.
P/1 – É a sua primeira namorada? Como é que vocês se conheceram? Conta pra gente.
R – Foi lá no Projeto Arrastão. Foi no finalzinho de 2010 que abriram um curso de comunicação no Arrastão de tarde, aí ela entrou. Eu sempre olhei, e a vi, né? Não sei, alguma coisa me atraiu nela, eu sempre ficava olhando e nunca cheguei perto. Sempre tinha no Arrastão a dinâmica, uma roda com jovens, ou era alongamento, tinha uma professora... Cada dia na semana era um que dava, era meia hora de aula. Tinha uma que dava alongamento, outra dava dança, outra dava outros tipos de dinâmica de empresa. Sempre alguma coisa nesse sentido. Foi em 2011 no comecinho do ano. Tava eu e um amigo nosso, que ele estava compondo uma música, estava sentado, ele a conhecia. Aí ela chegou, cumprimentou-me, tal. Eu sempre brincando. Eu nunca cheguei e sentei pra conversar com ela, eu sempre brincando. Sempre passava por ela, piscava, sempre brincando, tudo sempre levando na brincadeira. Quatro de fevereiro que foi o carnaval, que no Arrastão comemora ou antes ou depois, aí foi dia 4 de fevereiro a primeira vez que eu fiquei com ela e estou com ela até hoje.
P/1 – Como é que ela chama?
R – Michele.
P/1 – Como é que você conheceu o Arrastão? Conta pra gente.
R – Tenho duas primas que sempre foram do Arrastão. Sempre assim, elas entraram foi com 11, 12 anos aproximadamente. Elas fizeram parte do Arrasta-Lata. Meu avô e minha avó por parte de mãe sempre trabalharam no Arrastão, meu avô pintava o Arrastão, minha avó fazia tricô, fez parte lá do Cardume de Mães, se não me engano, que faz tricô, essas coisas. Elas entraram, eu nem conhecia, aí eu fui uma vez num evento lá, tinha 13 anos aproximadamente, que teve um evento lá no sábado, eu fui, pra mim não gostei da primeira vez que eu vi. Aí foi 2009 que eu estava mudando pra cá pro Taboão que a minha avó: “Está abrindo curso, vagas de curso lá no Arrastão”. Tanto é que a minha mãe e a minha avó acharam que eu ia escolher qualquer um dos cursos que era Meio Ambiente, Gastronomia, Artes. Esses três cursos. Elas acharam que eu ia escolher ou Meio Ambiente ou Artes, menos Gastronomia, que foi o que eu acabei escolhendo.
P/1 – Então o curso de Gastronomia foi o primeiro curso que você fez no Arrastão?
R – Foi.
P/1 – E aí como é que foi a experiência desse curso? Quanto tempo durou? O que você achou?
R – Eu entrei 2009 em agosto, na metade do ano. Esse curso é duração de seis meses. Foi muito bom. Eu sou muito quieto, por incrível que pareça eu sou muito quieto, muito tímido. Eu cheguei no curso, fiquei na minha, sentado na minha quietinho. Aí o pessoal chegava, me cumprimentava, eu cumprimentava, mas ficava ali na minha sempre. Passaram mais ou menos umas duas, três semanas que eu fui me ajuntar mais com o grupo, conversar. Eu sempre ia anotando as receitas que o professor passava, por incrível que pareça. Eu achei que uma coisa que eu não ia querer fazer é aprender a cozinhar, que foi o que eu quis. Aí a gente foi aprendendo, tudo, eu fui me ajuntando mais com o grupo. Esse curso nunca faltava nada, equipamento, ingrediente, sempre tinha touca, porque sempre um ou outro ou rasgava, ou esquecia. Sempre tinha equipamento, sempre, nunca faltou. Lá a gente sempre faz um pouquinho a mais. Digamos, tem 15 alunos, faz uma quantidade pra 20, 25, por quê? Sempre quando acabava leva pra alguns funcionários lá do projeto pra eles degustarem, pra falar se gostou, se não gostou, a gente explica como é que foi feito, os ingredientes que foram. É uma coisa que foi muito boa pra mim. Eu gostei demais desse curso, tanto é que em 2010 eu fiz outros tipos de curso, que foi um ano que foram três tipos de curso em um ano só que foi Moda, Moda e Design, Comunicação Geral e Gastronomia que teve de novo, que era obrigatório todos os jovens fazerem, que era aproximadamente 120 jovens mais ou menos por período, de manhã e de tarde. Então essa quantidade era dividida em três grupos, três, quatro grupos.
P/1 – Você fala que era obrigatório todos os jovens fazerem, mas são jovens que estavam inscritos no Arrastão de um modo geral? Como é que é isso?
R – Sim. Tem que fazer um cadastro, tudo. Tem que levar os documentos, comprovante de residência, a foto. Tem todo um... Como se fosse uma matrícula de escola, né? Se eu não me engano tinha também que levar as notas lá pro Arrastão pra eles verem também. Lá tem o pessoal do social, psicólogo, tem todo um pessoal também que trabalha junto.
P/1 – Então você se inscreve no projeto e aí participa de todas as atividades, é isso?
R – Isso. Nesse ano foi Comunicação, Gastronomia e Moda e Design. Todos os jovens tiveram que passar por cada um desses. O que eu escolhi depois, que foi em 2011 que eu fiz, ele se dividiu em três grupos que foi o Comunicação, que é Audiovisual, Jornalismo e Computação Gráfica. Eu escolhi o Audiovisual, que foi seis meses, se eu não me engano, de curso. Aí os jovens que se destacaram eles... Que tem uma rádio interna no Arrastão, aí os que se destacaram foram pra esse, que é a Maré Alta, que cobria eventos lá do projeto, se precisasse fazer alguma entrevista ia. Lá no projeto tem o Rede Praça que, se eu não me engano, na minha época era a última quarta do mês ia pra pracinha do Campo Limpo, ia o pessoal do Arrasta-Lata tocando, dava uma volta em torno da praça. Às vezes os jovens iam lá, entrevistava um, entrevista outro, aí voltava, editava, tem a ilha de edição, tudo.
P/1 – Deixa-me voltar só um pouquinho no seu de gastronomia, você lembra por que você escolheu o Gastronomia na primeira vez em 2009?
R – Assim, eu não lembro exatamente o porquê, mas se eu não me engano foi por conta que eu não gostava muito desse negócio de meio ambiente, artes eu nunca fui muito fã. A única coisa que me interessou foi o curso de gastronomia, que foi o que eu acabei escolhendo, né?
P/1 – E no curso de gastronomia você se lembra de algum dia em especial, uma receita em especial, alguma coisa assim que tenha te marcado, que você tenha gostado mais?
R – Tem. Foi um dia que a gente fez pizza. Eu gosto de pizza, tanto é que nesse ano em 2010 que a gente fez gastronomia eu vivia enchendo o saco da professora pra gente fazer pizza, que foi um dia que foi muito produtivo esse dia em 2009. Lógico, a gente aprendeu a fazer alfajor, salgado, macarrão em panela de pressão, mas o que me chamou mais a atenção foi a pizza, que eu gosto de pizza, tanto é que o pessoal vivia brincando falando que eu ia abrir uma pizzaria de tão fã que eu sou de pizza.
P/1 – E depois desse curso de gastronomia você passou a cozinhar na sua casa ou de vez em quando pra amigos?
R – De vez em quando eu faço. Muito raro, mas teve uma vez que eu fui num evento no Parque Ibirapuera com o pessoal da igreja e inventei de fazer. Mas só que aí eu fui meio cabeção porque lá está meia colherzinha de sobremesa de sal, eu coloquei mais, ficou salgado, mais um pouquinho o pessoal ia cuspir sal, ou seja, eu não segui a risca a receita, achei que ia ficar doce a receita, coloquei um pouquinho mais de sal. Ou seja, prejudiquei o que eu aprendi, mas depois disso eu fui pra praia, eu levei esse caderno, lá não tinha o que comer, tem farinha? Tem. Tem não sei o que? Tem. Aí eu peguei, fui, fiz a massa, o pessoal saiu, foi lá e comprou os recheios, presunto, queijo, pra fazer, eu fiz, todo mundo gostou. Eu comi um pedacinho, eu achei que não ficou bom, como dizem, quem faz nunca acha que ficou bom, mas eu sei que não ficou bom. Todo mundo falou: “Ficou gostoso. Ficou gostoso”. Mas eu sei que não.
P/1 – Mas eles gostaram.
R – Eles gostaram. Pelo menos isso. Eu não.
P/1 – Lá fora você falou pra mim que você é evangélico, agora você citou esse grupo de amigos da igreja, queria que você falasse um pouquinho assim sobre a religião. Você é religioso desde pequeno? Sua família é religiosa? Como é que é essa relação?
R – Sim. Meus pais são cristãos, se eu não me engano eles têm mais de 20 anos casados. Então eu nasci, como dizem, no berço evangélico. Desde pequeno vou à igreja, tudo.
P/1 – E você frequenta bastante? Tem o hábito de frequentar? Faz parte de algum grupo na igreja?
R – Frequento. Eu vou praticamente todo dia na semana. Só não vou terça, quinta e sábado, que são os dias que eu não pra igreja. O resto eu vou sempre à noite.
P/1 – E qual que é a igreja que você frequenta?
R – Agora Igreja Pentecostal Deus das Nações, próximo ali no Cercadão ali no Campo Limpo, do lado do mercado.
P/1 – E tem alguma atividade assim de grupo de jovem que você faça parte? Alguma atividade da igreja além do culto?
R – Tinha o grupo de jovens, que era um culto nos sábados, mas só que aí o rapaz que dava aula teve que parar por um tempo por conta de começar a trabalhar, porque ele ia ter que trabalhar no sábado, aí não dava mais.
P/1 – E esse tempo todo que você estava estudando, Josué, você trabalhava também? Até terminar o ensino médio, eu digo, você trabalhava junto com o estudo ou não, você só estudava?
R – Não. Só estudava. Lá no Embu eu estudava de manhã. Aí eu mudei pro Taboão, comecei a estudar de noite que era quando tinha vaga e nunca trabalhei. Sempre fazia curso no Arrastão. Aí 2011... Não. 2010 que foi quando eu terminei o estudo eu mudei pra São Paulo, na escola que eu estudei foi de noite também, mas sempre fazendo curso no Arrastão. Nessa época eu já tava no Maré Alta, que é meio que um estágio, né? O pessoal fala que é um estágio, mas é um núcleo que foi montado por jovens.
P/1 – Que está ligado ao Arrastão?
R – Isso.
P/1 – Deixa-me só voltar um pouquinho antes da gente falar do Maré Alta, você falou desse curso do Audiovisual que foi pra onde você se direcionou, né? Como é que foi assim essa experiência? O que você aprendeu? Como é que era essa experiência com a rádio? O que você mais gostou?
R – Esse curso aí não é bem o que eu pensava. Eu pensava que era uma coisa e era outra, né? Eu achei que ia abordar um pouquinho de cada coisa também, mas não, acabou abordando só em relação a câmera, a zoom, foco, essas coisas e não era câmera fotográfica, era câmera de vídeo, filmadora. Tanto é que a gente aprendeu a tirar a mini HD, aí a gente assistia filme, desmontava o filme, achava o ruído, tudo. O pico quando acontece alguma coisa tipo alguém morre, que dá aquela subida no filme, que aí tem aquele ritmo que o filme dá pra até descobrir quem é. A gente aprendeu tudo isso nesse curso. E no Maré a gente cobria mais esses eventos do Arrastão baseado nessas desmontagens do filme. Lógico que nunca chegamos a fazer... Chegamos a fazer um vídeo, um filminho lá no projeto, mas, lógico, pensando nesse acontecido que levanta o filme que de repente ele cai pra seguir aquela linha.
P/1 – Qual que foi esse filminho que vocês fizeram?
R – Foi o... Agora não estou lembrando do nome.
P/1 – Mas foi durante o curso de audiovisual? Foi durante o curso do audiovisual. A maioria dos jovens que fizeram esse filme foram pro Maré Alta. Tanto é que estávamos pensando em fazer de novo a parte 2, que não chegou a acabar. Mas só que aí alguns foram fazer curso no Instituto Criar, outros foram trabalhar, aí acabaram não fazendo. Mas nesse curso do audiovisual teve fotonovela também, que foi feito com uma filmadora também, mas tirava foto, uma mini HD, que foi feita uma fotonovela. Fizemos nesse... Foi nesse filme? Não. Teve outra gravação que a gente fez que foi programa de televisão que foi no auditório lá do projeto, que o nome é Pior é Nada. Tudo isso, esse nome Pior é Nada foi tudo numa brincadeira. A gente brincando lá: “Ah, pior é nada”. Aí foi zoando, acabou virando meio que um tema da turma. Tanto é que lá, a gente jogando bola, colocamos o nome do time Pior é Nada. Tudo se tornou Pior é Nada. O nome desse programa foi Pior é Nada que é como se fosse um programa de auditório, que aí desse programa o rapaz chamou dois que fizeram um jornal também, quando eles se levantavam eles estavam com um shortinho, bem vestidos em cima, eles se levantaram e estavam com shortinho. Foi meio que de comédia ao mesmo tempo.
P/1 – Por que Pior é Nada? Da onde veio essa expressão?
R – Então, é que uma menina lá do curso vivia falando isso. Qualquer coisinha: “Pior é nada”. Aí acabou pegando. Tanto é que lá a gente toma café de manhã, aí o pessoal... Tinha três meninos que eram muito bagunceiros, aí ela chegou, era aquelas bisnaguinhas, ela comeu duas ou foram três, os meninos viram, começaram a zoar, falaram que era a mina dos 18 pães, falaram que ela comeu 18 pães. Esse apelido pegou nela também. É a fase de zoeira, né? Qualquer coisinha se tornava apelido, qualquer coisinha pegava.
P/1 – E esse curta que vocês fizeram era sobre o que? Esse que talvez vocês façam a parte dois.
R – Se eu não me engano foi sobre um pai preconceituoso, que o rapaz era negro, ele não aceitava, ele era racista. Tanto é que no final ele acaba aceitando, mas só que o curta acaba bem aí, quando ele vai dar a resposta se aceita ou não acaba o filme. Ou seja, tem a parte 2 que nós acabamos não fazendo, né?
P/1 – E de todos esses trabalhos que você fez enquanto estava fazendo o curso de audiovisual, teve algum que você tenha gostado mais ou tenha alguma coisa que você tenha vivido também que você sempre lembre, uma coisa mais marcante?
R – Então, o que eu sempre gostei foi desse filme e desse programa de auditório que foi o que acabou juntando alguns casaiszinhos que estão até hoje também, através de tudo, de brincadeira. Porque essa turma era muito unida. Hoje em dia não. Hoje em dia está tendo conflitos lá entre jovens lá, tudo por motivo bobo. Antes não. Antes era tudo unido.
P/1 – E aí o convite pro... Quanto tempo foi o curso de audiovisual? Quanto tempo durou, você sabe? Você lembra?
R – Foi cerca de seis meses.
P/1 – E depois esse convite pra fazer parte do Maré Alta, conta um pouco como é que foi que se formou o grupo, como é que vocês decidiram, como é que você recebeu o convite.
R – Foi assim, que todo canto ali tem uma pessoa responsável, né? Aí tinha a Franciele que ela dava aula pro pessoal de Jornalismo, ela é formada em Jornalismo, ela deu aula pro Jornalismo e o coordenador a colocou como responsável do Maré Alta. Aí pegou um, dois, três de cada turma, selecionou os que se destacaram foram chamados pra fazer esse suposto estágio, pra ficar no Maré Alta cobrindo os eventos.
P/1 – O Maré Alta é o que exatamente? Qual que é a função do grupo?
R – Ali é um núcleo de jovens que eles saem da formação pra como se fosse um trabalho dentro do projeto. Lógico, não bate ponto, tem nada disso, mas são duas turmas, uma de manhã, uma de tarde, uma cobre eventos de manhã. Vamos supor, tem uma dinâmica com as crianças, entre os jovens e as crianças, aí vem o coordenador da juventude e do infantil, vem, conversa pra gente filmar ou tirar foto pra registrar. Porque todo final de mês eles têm que fazer o relatório da aula. Aí ou chamavam a gente pra filmar a integração entre os alunos tanto pra tirar foto pros relatórios também.
P/1 – E atualmente você faz parte do Maré Alta?
R – Eu estou retornando. Porque em 2012, em agosto de 2012 eu saí pra fazer curso no Instituto Criar de TV, cinema e novas mídias, que é do Luciano Huck, uma organização não governamental. Aí eu fui lá, fiz um curso de iluminação, lá é tudo voltado no audiovisual, mas cada um tem a sua divisão específica, cenografia, produção, edição, câmera. Eu escolhi iluminação pelo fato que eu ia aprender um pouco da minha profissão que é fotografia, fotógrafo. Então pra eu ser fotógrafo eu tenho que aprender luz, saber os contrastes, tudo. Aí foi o que eu escolhi pra eu fazer, agora estou retornando pro Projeto Arrastão pra ficar responsável por edição, pelos eventos do Arrastão, cobrir eventos. Porque lá no Maré Alta eu sempre deixei tudo muito organizado, tanto é que eu montei umas prateleiras lá pra colocar uns filmes que tem lá que a gente recebe doação, pra deixar tudo arrumadinho já no jeito pra vir o educador: “Eu preciso de um filme pra passar pras crianças.” “Tá aqui”. Então sempre deixei muito organizado. Agora eu estou voltando pra deixar tudo muito organizado, pra cobrir, editar e fazer uma ajuda pro Henrique que ele trabalha com jovens também, com o pessoal de curso, de empreendedorismo e também fazer um auxílio pro coordenador da juventude que é o Chico.
P/1 – Qual que é exatamente, hoje assim que você está voltando, a sua função? Tem um nome essa função que você vai exercer?
R – Então eu estou sendo contratado como jovem aprendiz. Então eu vou estar entre o Chico e o Henrique, ajudando os dois, e tomando conta do Maré Alta. Lógico, tem uma pessoa lá que faz os relatórios que é a responsável, eu estou voltando pra ajudar a organizar, digamos, colocar ordem.
P/1 – Nessa primeira experiência que você teve com o Maré Alta, antes desse retorno agora, vocês ganhavam alguma bolsa?
R – A gente recebia uma bolsa de custo de 80 reais que era uma doação acho que era do governo que doava. Aí recebia essa doação de 80, praticamente doação, né, de 80 reais por jovem.
P/1 – Era uma ajuda de custo assim.
R – É. Ajuda de custo de 80 reais.
P/1 – Mensal?
R – Isso.
P/1 – Você usava o que? Alimentação, transporte.
R – Não. Porque eu sempre ia a pé, que é perto de casa, então sempre fui a pé. Alimentação eles dão, ou seja, esses 80 reais eram pra eu gastar com o que eu quisesse.
P/1 – E quando é que você decidiu, você disse trabalha agora como fotógrafo, em que momento que você decidiu assim que trabalharia como fotógrafo? Como é que foram as suas experiências de trabalho como fotógrafo?
R – Minha mãe ia numa outra igreja, a pastora lá sempre pedia pra eu tirar foto. Eu chegava: “Josué...”. Era uma câmera simples, mas ela sempre me dava. Eu fui começando a gostar, gostar, tanto é que agora eu tenho uma câmera profissional pra trabalhar com isso. Eu já cobri alguns eventos tirando algumas fotos.
P/1 – Desde quando você está trabalhando como fotógrafo?
R – É recente. Uns dois anos.
P/1 – E essa câmera sua como é que você comprou ou ganhou, juntou um dinheiro? Conta pra gente.
R – Eu enchi o saco do meu pai pro meu pai comprar, na verdade. Na verdade ele comprou uma semiprofissional que eu ia pro batizado da minha namorada e eu não tinha câmera. Eu enchi o saco do meu pai pra ele comprar uma semiprofissional, ele comprou. Aí eu ia entrar no curso da... Eu ia entrar no curso do Senai se eu não me engano, pra fazer fotografia, lá eles exigem, tem que ser uma câmera profissional. Aí eu enchi, enchi, enchi o saco do meu pai, o meu pai comprou essa câmera profissional que é a que eu estou trabalhando até hoje.
P/1 – Você fez o curso do Senai?
R – Eu não cheguei a fazer porque eu trabalhava, eu acabei ficando desempregado e o curso é muito alto, o valor pra pagar e eles não parcelam, parcelam só em cartão de crédito. Então como eu não trabalho com cartão era só no dinheiro, não tinha como eu pagar um curso sem estar trabalhando e sem dinheiro.
P/1 – Depois que você saiu, quando você tava na Maré Alta essa primeira vez você não trabalhava ainda, o trabalho era o Maré Alta?
R – Era o Maré Alta.
P/1 – E aí qual que é o seu primeiro trabalho, emprego assim?
R – Foi numa encadernadora, que eu era como ajudante geral.
P/1 – Quando você decidiu que precisou trabalhar e aí como é que você achou esse emprego?
R – Foi um amigo meu que trabalhava lá na época, ele falou: “Está precisando, tal, você quer?” “Eu quero. É o que tem pra agora. Estou desempregado, estou correndo atrás, ninguém chama. Se der pra me encaixar lá eu vou”. Aí me encaixou, fiquei lá uns seis meses aproximadamente, aí eu saí que aí agora eu estou como jovem aprendiz, estou fazendo quatro semanas de curso no GAP, que tem que fazer, é obrigatório, é uma lei. Depois desses quatro meses aí eu começo firme no Arrastão. Mas mesmo assim eu fico quatro dias no Arrastão e um no GAP fazendo curso.
P/1 – Nesse emprego na encadernadora que você ficou algum tempo você recebia um salário?
R – Era um salário mínimo.
P/1 – E aí como é que você usou, você lembra como é que você usou o primeiro salário que você ganhou ou se você juntou pra comprar alguma coisa que você queria?
R – Eu acabei gastando. Como sempre não pensei no que fazer. Acabei gastando o dinheiro, não juntei.
P/1 – Mas você comprou alguma coisa que você queria assim?
R – Comprei tênis, roupa, coisa que eu estava precisando naquela época.
P/1 – Você falou que você fotografou o batizado da sua namorada, foi isso?
R – Foi.
P/1 – Conta um pouco pra gente como é que foi, o que foi essa cerimônia de batizado, como é que foi o momento.
R – Foi num sítio. O pastor dá um curso durante seis meses pro pessoal que quer se batizar pra saber se é isso mesmo que eles querem, aí a gente vai pra um sítio, tem a piscina lá. Todo mundo leva pratos, refrigerante, pra poder comer, né? Tomar o café da manhã e almoçar. Depois disso tem... Não é bem cerimônia, o pessoal coloca o louvor, começa a louvar, aí tem a oração, aí começa a batizar. Depois do batismo a gente joga bola, tem as partes de diversão também nesse sítio.
P/1 – Você já tinha sido batizado?
R – Já.
P/1 – E como é que foi o batismo dela e como é que ela decidiu?
R – Ela já tava pensando em se batizar, aí ela: “Ah, não, eu vou”. Decidiu-se e acabou indo.
P/1 – Vou voltar então agora pra esse momento atual que você está como jovem aprendiz. Conta um pouco como é que está sendo essa preparação, você falou que está fazendo curso uma vez por semana. Quanto tempo faz que você foi chamado de volta?
R – Faz nem um mês. Faz três semanas.
P/1 – É bem recente, né?
R – Bem recente.
P/1 – E como é que é essa preparação que você tá fazendo agora?
R – No caso é CCI que é integração entre a empresa e o jovem. Aí no primeiro dia que foi segunda foi sobre clientes, os direitos dos clientes. Está sendo bacana. Essa primeira aula eu não gostei, mas só que aí agora eu estou começando a gostar das aulas, estão sendo melhores.
P/1 – E nesse trabalho assim agora no Arrastão que você vai começar, está começando, qual que é a sua expectativa?
R – A melhor, né? Sempre tentar fazer o melhor pra empresa. Sempre dar o seu máximo pra ela. Eu não sei como é que está o Maré Alta porque sempre quando eu passo lá nunca tem ninguém. Sempre quando eu passo. Não sei como é que está, o que eu vou fazer exatamente, o que eu sei que me passaram é que eu vou estar entre o Henrique e o Chico, eu vou estar em ligação direta com os dois, se tiver algum problema eu tenho direito, direito não, condição de chegar até os dois direto e explicar o que é, o que não é.
P/1 – Josué, você conhece o Criança Esperança, o projeto?
R – Conheço.
P/1 – Desde quando você conhece?
R – Foi assim que eu entrei no Arrastão.
P/1 – Então conta um pouco como é que foi.
R – Foi assim, eu sempre via que tinha um mural lá dos patrocinadores lá na sala de gastronomia. Eu nunca cheguei a parar pra reparar, depois que eu parei pra reparar que eu vi que tinha lá Criança Esperança, né? Nessa época nunca faltou, como eu falei anteriormente, nunca faltou nada. Agora, depois que a Criança Esperança parou de patrocinar o curso de gastronomia, era tudo sempre contadinho. Fazia três, quatro a mais pra diretora do Arrastão, pro pessoal do RH, sempre contadinho. Mas quando era Criança Esperança nunca faltava nada, sempre dava e sobrava o material pra próxima receita e utilizava sempre o mesmo ingrediente que sobrava.
P/1 – E os outros cursos que você fez também no Arrastão também tinham recurso do Criança Esperança?
R – Não sei te falar porque eu nunca fiquei sabendo. O que eu sei que era patrocinado era o curso de gastronomia porque sempre teve a folha sulfite lá impresso lá Criança Esperança, o telefone, se eu não me engano, também tinha.
P/1 – E você sabe um pouquinho sobre o projeto Criança Esperança? Qual que é a proposta? O que é a ideia do Criança Esperança?
R – Eu sei só por cima pelo que passa na televisão, porque nunca foi, que eu lembre nunca foi ninguém lá dar uma palestra, falar o que é exatamente o Criança Esperança. O que eu sei é pela televisão, que a gente faz uma doação pra ajudar pessoas deficientes, né? Isso é o que eu sei porque nunca chegou a ir uma pessoa: “Hoje vai falar sobre o Criança Esperança, o que é, porque está patrocinando”. Nunca foi ninguém. O que eu sei é que ele, o Criança Esperança, patrocinava o curso de gastronomia, mas em si assim o que é exatamente eu não sei, só sei por cima.
P/1 – E qual que você acha que é a importância que o Arrastão teve na sua vida até o momento, Josué?
R – O Arrastão meio que me encaminhou pro meu trabalho, pro que eu faço hoje. Lógico que eu, como eu falei, quero fazer uma faculdade de Educação Física, mas sempre querendo ser fotógrafo, meio que educação física vai ser meio que um hobby. O Arrastão meio que me deu um pontapé inicial pra eu decidir porque eu estava meio confuso. Eu não tinha em mente o que eu queria ser. Nunca parei pra pensar. Sempre os educadores perguntavam: “Quem quer ser médico?”. Sempre levantavam a mão, aí perguntavam: “E você, quer ser o que?” “Eu não sei ainda. Não estou decidido ainda”. Meio que o Arrastão e essa pastora que pedia pra eu tirar foto sempre que me fizeram gostar dessa área de audiovisual, de fotografia.
P/1 – Você falou que vocês estudaram um pouco sobre filme durante o curso de audiovisual, você gosta assim de televisão, cinema, de assistir eu digo?
R – Ah, eu gosto de assistir. Gosto também ainda mais agora que eu paro pra perceber as edições, principalmente novela que tem muitas edições. Eu não gosto de novela, mas como a avó da minha namorada assiste, às vezes eu sento e assisto e fico vendo certos tipos de edição que a imagem passa de cabeça pra baixo, muito bacana, as telas se dividem em várias. É uma coisa... Eu não gosto de editar, mas gosto de ver editado. Eu não sou fã de edição, eu não tenho muita paciência, mas se tiver que fazer eu faço.
P/1 – E filme você gosta?
R – Gosto.
P/1 – Que tipo de filme assim? Você tem um filme favorito?
R – Ultimamente o que eu estou gostando mais, eu sempre gostei de filme de ação, ação e comédia, o que eu gosto mais de ação ultimamente que eu to gostando é do Velozes e Furiosos. E comédia é o Jackie Chan, o filme das Branquelas também.
P/1 – E fotógrafo assim, tem algum fotógrafo que você conheça o trabalho e goste, admire assim?
R – Tem uma que faz alguns serviços pro Núcleo de Dança Pélagos, que é um núcleo lá do Arrastão, tanto é que eu fiz parte também que eu fazia o curso no Maré Alta de manhã e dança a tarde. A gente estava dançando ela sempre tava lá tirando foto pra montar o cartaz pras apresentações. Tanto é que eu cheguei a fazer um serviço uma vez com ela.
P/1 – Como que é o nome dela?
R – Fernanda, mas todo mundo a chama de Nana porque tinha outra professora que chamava Fernanda, que era a professora que dava balé, pra não confundir os nomes ela: “Pode me chamar de Nana”.
P/1 – Tá bom, Josué. Eu vou encaminhar agora pro final então da entrevista, eu vou te fazer duas perguntas pra terminar, mas antes eu queria saber se tem alguma coisa que eu não tenha perguntado que você gostaria de falar.
R – A única coisa... Eu não lembro também se esse Núcleo de Dança Pélagos foi patrocinado pelo Criança Esperança, porque tiveram muitos patrocínios. Então eu não sei exatamente se o Criança Esperança patrocinou o Núcleo de Dança Pélagos também, mas foi outro que também meio que me incentivou, não exatamente pra fotografia, mas que me jogou pra eu ir pro Instituto Criar, porque ali a gente tava parado marcando a luz onde ia ficar exatamente, eu sempre parava e ficava prestando atenção, que é uma coisa que me chamou atenção, que é a luz e fotografia, que foi o que me direcionou pro Criar. Ou seja, um foi puxando o outro, né?
P/1 – Você falou um pouco da importância que teve pra você e assim, de uma maneira geral as pessoas que você conheceu no Arrastão, que importância você acha que tem pras pessoas que participam desse projeto assim? Que importância tem na vida delas?
R – Se a pessoa se dedicar é muito importante, tanto é que eu saí de lá como jovem, agora estou voltando como um funcionário. Se a pessoa se dedicar ela consegue um rumo profissional bom. Tanto é que tem muitos jovens, como eu estou fazendo curso lá no GAP, lá eu vi muitos jovens que eram do Arrastão e estão lá fazendo curso, porque o Arrastão tem uma parceria com a Nurap, e os jovens que estão como jovens aprendizes em outras empresas estão tudo fazendo curso lá uma vez na semana agora. Ou seja, os que se dedicaram já estão encaminhados. Quem se dedicar vai caminhar também.
P/1 – Então eu vou fazer a penúltima pergunta agora que é quais são os seus sonhos.
R – O meu sonho é ser um grande fotógrafo futuramente, ou até mesmo... É. Um grande fotógrafo que é uma coisa que eu gosto, né?
P/1 – Você gosta de um tipo de fotografia específica? O que você gosta de fotografar? Ou quando você se vê como um grande fotógrafo você se imagina fotografando que tipo de coisa?
R – Eu sempre me via, não exatamente me via, uma coisa que eu gosto que quando passo assim que eu fico observando são os fotógrafos de futebol. Pelos tamanhos das lentes, tudo, isso acabou me chamando a atenção também. Mas não é exatamente pra... Eu tiro foto de qualquer coisa.
P/1 – E por último o que você achou de dar a sua entrevista aqui, de deixar o seu depoimento, sua história?
R – Eu gostei, foi muito bacana. Eu achei que era uma coisa e acabou sendo outra. Eu achei que não ia ter nada disso de câmera, ia ser só escrito pra ir pro livro, que eu fiquei sabendo que era pra ir pro livro, né? Não passou nem perto da minha cabeça.
P/1 – Está bom, Josué. Muito obrigada, viu?
R – Obrigado eu.
P/1 – A gente encerra aqui.
FINAL DA ENTREVISTA
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